Книга - Comprometida

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Comprometida
Morgan Rice


Memórias de um Vampiro #6
Em COMPROMETIDA (Livro 6 de Memórias de um Vampiro) Caitlin e Caleb voltam no tempo novamente – desta vez, para Londres, em 1599. A Londres de 1599 é um lugar selvagem, repleta de paradoxos: enquanto por um lado é uma época extremamente esclarecida e sofisticada, produzindo escritores como Shakespeare, por outro lado, é também um período cruel de torturas e empalamentos. É também um período de muita superstição e muito perigo, dada à falta de saneamento e a Peste Bubônica que se espalha pelas ruas, transmitida por ratos. É neste ambiente que Caitlin e Caleb retomam a busca pelo pai dela, pela terceira chave e pelo Escudo que pode salvar toda a humanidade. A missão os leva por vários pontos medievais da arquitetura londrina, e pelos castelos mais impressionantes do interior britânico. Eles passam pelo coração de Londres, onde conhecem Shakespeare, e têm a oportunidade de assistir uma de suas peças. Eles encontram Scarlet, uma garota que pode vir a se tornar filha deles. O amor de Caitlin por Caleb se aprofunda quando finalmente ficam juntos – e Caleb pode ter a oportunidade que procura para pedi-la em casamento. Sam e Polly também viajam no tempo, e envolvidos em sua própria jornada, a relação deles se aprofunda quando eles não conseguem evitar os sentimentos que começam a tomar conta de seus corações. Mas nem tudo vai bem. Kyle também retornou, assim como seu parceiro, Sergei, e eles estão decididos a acabar com a felicidade de Caitlin. Será uma corrida até o final, à medida que Caitlin é forçada a tomar as decides mais difíceis de sua vida se quiser salvar as pessoas que lhe são importantes, salvar seu relacionamento com Caleb e – quem sabe, sobreviver.





Morgan Rice

Comprometida (livro nº.6 de Memórias de um Vampiro)




Sobre Morgan Rice

Morgan Rice é o autor bestseller Nº1 de MEMÓRIAS DE UM VAMPIRO, uma série de literatura para jovens de 14 a 21 anos composta por onze livros (e contando); da série bestseller Nº1 TRILOGIA A SOBREVIVÊNCIA, um thriller pós-apocalíptico composto por dois livros (e contando); e da série bestseller Nº1 de fantasia épica O ANEL DO FEITICEIRO, composta por treze livros (e contando).

Os livros de Morgan estão disponíveis em áudio e versões impressas, e traduções dos livros estão disponíveis em alemão, francês, italiano, espanhol, português, japonês, chinês, sueco, holandês, turco, húngaro, eslovaco (e mais línguas em breve).

Morgan gosta de ouvir sua opinião, então por favor, sinta-se à vontade em visitar www.morganricebooks.com (http://www.morganricebooks.com/) para se juntar à lista de e-mail, receber um livro grátis, receber brindes, efetuar o download do aplicativo gratuito, receber as últimas notícias exclusivas, se conectar com o Facebook e o Twitter, e manter contato!



Elogios para MEMÓRIAS DE UM VAMPIRO

“Rice consegue te prender com a história desde o começo, com grande capacidade descritiva que nos dá uma ideia da ambientação… Bem escrito e de leitura rápida.”



    --Black Lagoon Reviews (em relação à Transformada)

“Uma história ideal para jovens leitores. Morgan Rice fez um excelente trabalho dando uma virada na história… Inovador e único. A série gira em torno de uma garota…uma garota extraordinária!…Fácil de ler e muito rápido.”



    --The Romance Reviews (em relação à Transformada)

“Prendeu minha atenção desde o começo e não mudou… A história narra uma aventura incrível que tem ótimo ritmo e é recheada de ação desde o começo. Não tem nenhuma parte entediante.”



    --Paranormal Romance Guild (em relação à Transformada)

“Recheado de ação, romance, aventura e suspense. Agarre o seu e se apaixone mais uma vez.”



    --vampirebooksite.com (em relação à Transformada)

“Ótima trama, e esse livro em particular vai ser difícil largar no final da noite. O final é tão espetacular que você vai querer adquirir o próximo livro imediatamente, só para ver o que acontece.”



    --The Dallas Examiner (em relação à Amada)

TRANSFORMADA é um livro para competir com CREPÚSCULO e DIÁRIOS DO VAMPIRO, e um que vai fazer você continuar lendo até a última página! Se você gosta de aventura, romance e vampiros este livro é para você!".



    --Vampirebooksite.com (em relação à Transformada)

“Morgan Rice mais uma vez prova ser uma talentosa contadora de histórias… Esse livro tem forte apelo para variados grupos de leitores, incluindo os fãs mais jovens no gênero vampiro/fantasia. O final é inesperado e vai deixar você surpreso.”



    --The Romance Reviews (em relação à Loved)



Livros por Morgan Rice

O ANEL DO FEITICEIRO

UMA BUSCA DE HERÓIS (Livro Nº1)

A MARCHA DOS REIS (Livro Nº2)

SORTE DE DRAGÕES (Livro Nº3)

UM GRITO DE HONRA (Livro Nº4)

UM VOTO DE GLÓRIA (Livro Nº5)

UM ATO DE BRAVURA (Livro Nº6)

UM RITO DE ESPADAS (Livro Nº7)

UMA CONCESSÃO DE ARMAS (Livro Nº8)

UM CÉU DE MÁGICAS (Livro Nº9)

UM MAR DE ESCUDOS (Livro Nº10)

UM REINO DE AÇO (Livro Nº11)

UMA TERRA DE FOGO (Livro Nº12)

UMA REGRA DE RAINHAS (Livro Nº13)



TRILOGIA A SOBREVIVÊNCIA

ARENA UM: SLAVERSUNNERS (Livro Nº1)

ARENA DOIS (Livro Nº2)



MEMÓRIAS DE UM VAMPIRO

TRANSFORMADA (Livro Nº1)

AMADA (Livro Nº2)

TRAÍDA (Livro Nº3)

PREDESTINADA (Livro Nº4)

DESEJADA (Livro Nº5)

COMPROMETIDA (Livro Nº6)

PROMETIDA (Livro Nº7)

ENCONTRADA (Livro Nº8)

RESSUSCITADA (Livro Nº9)

ALMEJADA (Livro Nº10)

DESTINADA (Livro Nº11)












Ouça a série MEMÓRIAS DE UM VAMPIRO agora disponível em áudio-livro


Copyright © 2012 por Morgan Rice

Todos os direitos reservados.

Exceto conforme permitido pela Lei de Direitos Autorais dos EUA de 1976, nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, ou armazenada em um banco de dados ou sistema de recuperação, sem a autorização prévia do autor.

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Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, empresas, organizações, entidades, eventos e incidentes são produto da imaginação do autor ou foram usados de maneira fictícia. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é mera coincidência.

Jacket art ©iStock.com /© Jen Grantham

Modelo da capa: Jennifer Onvie. Fotografia: Adam Luke Studios, New York. Maquiagem: Ruthie Weems. Se tiver interesse em contatar qualquer um destes artistas, favor entrar em contato com Morgan Rice.



FATO:

Na época de Shakespeare, “rinhas de ursos” representavam uma forma comum de entretenimento em Londres. Um urso era amarrado em um poste enquanto uma matilha de cães selvagens era liberada. Apostas eram feitas para ver quem sairia ganhando. O local da rinha era próximo ao teatro de Shakespeare. Muitos dos espectadores das rinhas depois se dirigiam ao teatro para assistir uma peça de Shakespeare.

Na época de Shakespeare, o público que assistia a suas peças não era elitista ou sofisticado. Pelo contrário. A maioria das pessoas que assistiam a suas peças eram pessoas simples e rudes, plebeus que procuravam se divertir que precisavam apenas pagar um centavo para ter acesso ao teatro. Por este preço elas podiam ficar em pé na plateia durante toda a apresentação e, portanto, ficaram conhecidas como estácias.”

A Londres de Shakespeare era civilizada – mas também era considerada primitiva. Era comum testemunhar execuções e torturas públicas de criminosos nas ruas. A entrada para uma de suas construções mais famosas – a Ponte de Londres – era frequentemente decorada com estacas, sobre as quais eram expostas as cabeças de criminosos.

A Peste Bubônica (também conhecida como Morte Negra) matou milhões de pessoas na Europa, tendo atingido Londres repetidas vezes ao longo dos séculos. Ela se propagou em locais com pouco saneamento e grandes aglomerações de pessoas, e atingiu o distrito do teatro de Shakespeare profundamente. Séculos foram necessários para que descobrissem que a praga era transmitida por pulgas, hospedadas em ratos.


“Vem, gentil noite, vem noite amorosa de escuras sobrancelhas,
Restitui-me o meu Romeu, e quando, mais adiante, ele vier a morrer,
Em pedacinhos o corta como estrelas bem pequenas,
E ele a face do céu fará tão bela
Que apaixonado o mundo vai mostrar-se da noite,
Sem que o sol esplendoroso continue a cultuar.”

    --William Shakespeare,
    Romeu e Julieta






CAPÍTULO UM




Londres, Inglaterra

(Setembro, 1599)


Caleb acorda ao som de sinos.

Ele se senta e olha ao seu redor, respirando profundamente. Ele havia sonhado com Kyle, a persegui-lo, e com Caitlin, estendendo a mão para ajudar. Eles estavam em um campo repleto de morcegos, contra um sol vermelho-sangue, e tinha lhe parecido bastante real.

Agora, ao olhar ao redor do quarto, ele tenta descobrir se tudo tinha sido real, ou se ele estava realmente acordado e viajado no tempo. Após alguns segundos ouvindo sua própria respiração, sentindo a umidade fresca no ar, e ouvindo o silêncio, e seu próprio coração, ele percebe que tinha sido tudo um sonho. Ele estava realmente acordado.

Caleb percebe que ele está sentado dentro de um sarcófago aberto. Ele olha ao redor da sala cavernosa e mal iluminada vê que está repleta de sarcófagos. Há um teto arqueado e baixo e fendas estreitas no lugar das janelas, por onde entra uma quantidade mínima de luz solar. É apenas o suficiente para ele enxergar. Ele fecha os olhos por causa da luz, coloca a mão no bolso e pega o colírio, pingando-o em seus olhos. Aos poucos, a dor diminui, e ele relaxa.

Caleb pula e fica em pé em um único movimento, girando o corpo para ver ao redor da câmara, avaliando todas as direções. Ele ainda está na defensiva, não quer ser atacado ou cair em uma armadilha emboscada antes que ele tenha a chance de se orientar. Mas não há nada, e ninguém, no quarto. Apenas o silêncio. Ele nota os antigos pisos de pedra, as paredes, o pequeno altar e cruz, e percebe que ele está na cripta subterrânea de uma igreja.

Caitlin.

Caleb dá mais uma volta pelo quarto, em busca de qualquer sinal dela. Ele sente uma sensação de urgência, enquanto corre para o sarcófago mais próximo dele. Com toda a sua força, ele empurra a tampa.

Seu coração se enche de esperança de encontrá-la. Mas ele fica decepcionado ao descobrir que ele está vazio.

Caleb corre pela sala, indo de um sarcófago ao outro, empurrando todas as tampas, mas eles estão todos vazios.

Caleb sente uma sensação crescente de desespero ao empurrar a tampa do último sarcófago no quarto, com tanta força que ela cai no chão e se quebra em um milhão de pedaços. Mas ele já consegue sentir que, assim como os outros, aquele sarcófago estaria vazio – e ele está certo. Caitlin não está em lugar algum daquela sala, ele percebe, começando a suar frio. Onde ela poderia estar?

A ideia de voltar no tempo sem ela lhe dá um arrepio na espinha. Ele se importa mais com ela do que ele era capaz de dizer e, sem ela ao seu lado, sua vida, sua missão, lhe parece inútil.

Ele de repente se lembra de alguma coisa e enfia a mão no bolso, para se certificar de que ainda estava lá. Felizmente, estava; o anel de casamento de sua mãe. Ele o segura contra a luz, e admira sa afira de seis quilates, perfeitamente lapidada, montado em uma banda de diamantes e rubis. Ele ainda não tinha encontrado o momento certo para pedir a mão dela em casamento. Desta vez, ele não pretende perder a oportunidade.

Se, é claro, ela tivesse voltado no tempo desta vez.

Caleb ouve um barulho e se vira na direção da porta, pressentindo um movimento. Ele torce para que seja Caitlin.

Mas ele fica surpreso por se ver olhando para baixo enquanto observa a pessoa que se aproxima, e ainda mais surpreso ao ver que na verdade não se trata de uma pessoa; é Ruth. Caleb fica extremamente feliz de vê-la ali, de ver que ela havia sobrevivido à viagem no tempo.

Ela caminha até Caleb, balançando o rabo e com os olhos felizes ao reconhecê-lo. Quando ela chega perto, Caleb se abaixa e ela corre até seus braços. Ele gosta de Ruth, e se surpreende com o tanto que ela havia crescido: ela parece ter o dobro do tamanho, e estava se tornando um animal formidável. Ele também se sente encorajado em vê-la naquele lugar: talvez aquilo significasse que Caitlin também estava ali.

Ruth de repente se vira e corre para fora da sala, desaparecendo pelo corredor. Caleb fica confuso com o comportamento dela, e corre atrás de Ruth para ver onde ela estava indo.

Ele entra em outra câmara abobadada, também repleta de sarcófagos antigos. Ele percebe imediatamente que todos já tinham sido abertos, e que estão vazios.

Ruth continua farejando e gemendo, e sai correndo daquela câmara. Caleb começa a se perguntar se Ruth estaria tentando guiá-lo até algum lugar, e se apressa para segui-la. Depois de atravessar mais alguns quartos, Ruth finalmente para diante de uma alcova no final do corredor mal iluminado pela luz de uma única tocha. Dentro dela, há um único sarcófago de mármore, esculpido detalhadamente.

Caleb se aproxima devagar, prendendo a respiração e torcendo – pressentindo – que Caitlin poderia estar lá dentro.

Ruth senta ao lado do sarcófago e encara Caleb, gemendo freneticamente.

Caleb se abaixa e tenta empurrar a tampa de pedra, mas aquela tampa é muito mais pesada que as outras, e ele mal consegue movê-la.

Ajoelhado, ele tenha empurrar com mais força, usando toda sua força até que, finalmente, ela começa a mexer. Ele continua empurrando, e poucos instantes depois, a tampa é removida completamente.

Caleb fica aliviado ao encontrar Caitlin deitada ali, completamente imóvel, com as mãos dobradas sobre o peito. Mas seu alívio se transforma em preocupação quando ele a olha mais de perto e vê que ela está mais pálida do que ele já havia visto. Não há cor alguma em seu rosto, e os olhos dela não reagem a luz da tocha. Ele a observa mais de perto e percebe que ela parece não estar respirando.

Ele se afasta, horrorizado; Caitlin parece estar morta.

Ruth geme ainda mais alto: agora ele entende.

Caleb se aproxima e, colocando as duas mãos firmemente sobre os ombros dela, sacode o corpo dela gentilmente.

“Caitlin?” ele diz, ouvindo a preocupação em sua própria voz. “CAITLIN!?” ele chama mais alto, sacudindo o corpo dela com um pouco mais força.

Mas ela não reage, e o corpo de Caleb estremece ao considerar como seria sua vida sem ela. Ele sabia que havia um risco ao viajar no tempo, e que nem todos os vampiros sobreviviam à viagem. Mas ele nunca havia contemplado a possibilidade de morrer ao fazer a viagem de volta. Ele teria cometido um erro ao insistir para que ela continuasse sua busca e completasse sua missão? Ele deveria ter permitido que ela desistisse e ficado com ela no último lugar e época em que haviam estado?

O que seria dele se tivesse perdido tudo?

Ruth salta sobre o sarcófago, ficando com as quatro patas em cima do peito de Caitlin, e começa a lamber seu rosto. Alguns minutos se passam, e Ruth não para de lamber, gemendo o tempo todo.

Quando Caleb se aproxima, pronto para tirar Ruth de cima dela, ele fica paralisado e se surpreende ao ver que Caitlin está começando a abrir um dos olhos.

Ruth uiva, excitada, enquanto salta de cima de Caitlin e começa a correr em círculos. Caleb de inclina sobre Caitlin, igualmente feliz, e ela finalmente abre os dois olhos e começa a olhar ao redor.

Ele se apressa para pegar uma das mãos delas, frias como o gelo, para aquecê-la entre as suas.

“Caitlin? Você consegue me ouvir? Sou eu, Caleb.”

Lentamente, ela começa a se sentar, e Caleb a ajuda, esticando o braço e colocando a mão gentilmente nas costas dela. Ele fica extremamente feliz em vê-la piscar os olhos e percebe que ela está desorientada, como se estivesse despertando de um sono profundo.

“Caitlin?” ele pergunta mais uma vez, suavemente.

Ela olha para ele com o rosto sem expressão. Caleb olha dentro dos lindos olhos castanhos dela, mas ele sabe – consegue sentir – que há algo errado. Caitlin ainda não sorriu e, ao piscar os olhos mais uma vez, olha para ele como se estivesse vendo um estranho.

“Caitlin?” ele pergunta de novo, preocupado desta vez.

Ela olha além dele, com os olhos arregalados, e ele se dá conta, finalmente, que ela não o está reconhecendo.

“Quem é você?” ela pergunta.

O coração de Caleb se parte. Como era possível? A viagem tinha apagado a memória dela? Ela tinha realmente esquecido dele?

“Caitlin,” ele insiste, “sou eu, Caleb.”

Ele sorri, torcendo para que talvez isso a faça se lembrar dele.

Mas ela não lhe devolve o sorriso, e apenas o encara com o olhar vago, piscando repetidas vezes.

“Sinto muito,” ela diz finalmente, “mas não faço a mínima ideia quem você é.”




CAPÍTULO DOIS


Sam acorda ao som da revoada de pássaros. Ele abre os olhos e vê, alto no céu, vários abutres circulando o céu. Deve haver uma dúzia deles, circulando cada vez mais baixo, parecendo estar bem acima dele, como se o observassem – como se estivessem esperando.

Ele de repente percebe que os pássaros devem pensar que ele está morto, e que estão apenas esperando pela oportunidade para avançar e comê-lo.

Sam fica em pé e, ao fazer isso, os pássaros se afastam repentinamente como se tivessem ficado surpresos que um morto pudesse se levantar novamente.

Ele olha a sua volta, tentando se localizar. Ele está em um campo, no meio das colinas. Até onde ele consegue enxergar, há mais colinas, cobertas de grama e estranhos arbustos. A temperatura está perfeita, e não há uma nuvem sequer no céu. O lugar é pitoresco, e Sam não consegue ver nenhum prédio; é como se ele estivesse no meio do nada.

Sam tenta descobrir onde está, em que época e como ele havia chegado até ali. Ele tenta desesperadamente se lembrar do que tinha acontecido antes dele viajar no tempo.

Lentamente, ele se recorda: Ele estava em Notre Dame, na Paris de 1789. Ele havia enfrentado Kyle, Kendra, Sergei e seus homens, tentando retardá-los para que Caitlin e Caleb pudessem fugir. Aquilo tinha sido o mínimo que ele poderia fazer, e devia isso a ela, especialmente depois de tê-la colocado em perigo por causa de seu romance imprudente com Kendra.

Em número terrivelmente inferior, ele tinha usado seu poder de transmutação, e conseguido confundi-los o bastante para causar danos consideráveis, matando vários homens de Kyle, incapacitando outros tantos, até que finalmente havia conseguido escapar com Polly.

Polly.

Ela tinha ficado ao lado dele durante todo o tempo e lutado com bravura, e os dois tinham formado uma dupla considerável. Eles haviam escapado pelo teto da catedral de Notre Dame e partado em busca de Caitlin e Caleb pela noite. Sim, as lembranças estão começando a aflorar…

Sam havia descoberto que sua irmã tinha voltado no tempo e, soube no mesmo instante, que tinha que ir atrás dela. Ele precisava acertar as coisas entre eles, encontrar Caitlin, pedir desculpas e protegê-la. Ele sabe que ela não faz questão disso: é uma guerreira agora, e tem Caleb ao seu lado. Mas ela é sua irmã, afinal, e o impulso de protegê-la não é algo que ele possa simplesmente desligar.

Polly havia insistido em voltar no tempo com ele. Ela também estava decidida a rever Caitlin, e a lhe dar algumas explicações; Sam não tinha oferecido resistência, e os dois haviam viajado no tempo juntos.

Sam olha ao seu redor mais uma vez, observando os campos ao longe e pensando.

“Polly?” ele chama timidamente.

Não há resposta.

Ele caminha até a beira de uma colina, curioso para ver a paisagem.

“Polly!?” ele exclama mais uma vez um pouco mais firme.

“Finalmente!” diz uma voz.

Quando Sam olha adiante, Polly surge no horizonte, caminhando na direção dele. Ela está com os braços repletos de morangos e, enquanto come um deles, fala com ele de boca cheia. “Estou esperando você durante toda a manhã toda! Nossa! Você realmente gosta de dormir, não é mesmo!?”

Sam está feliz em vê-la. Olhando para ela, ele percebe o quanto tinha se sentido sozinho ao acordar, e o quanto está feliz em ter companhia. Ele também percebe que, apesar das circunstâncias, tinha aprendido a gostar dela. Especialmente depois do desastre de seu relacionamento com Kendra, ele estava gostando de ficar perto de uma garota normal, e gosta mais de Polly do que ela pode imaginar. E quando ela se aproxima, e o sol ilumina seus cabelos castanho-claros, seus olhos azuis e pela branca translúcida, Sam é surpreendido pela beleza natural dela.

Ele está prestes a responder mas, como de costume, ela não lhe dá a chance de dizer uma palavra.

“Eu acordei a apenas alguns metros de você,” ela continua, se aproximando e comendo outro morando, “e eu chacoalhei você sem parar, mas você simplesmente não acordava! Então eu fui dar uma volta, e procurar algumas coisas. Não vejo a hora de sair deste lugar, mas pensei em salvar você dos abutres antes de ir. Temos que encontrar Caitlin. Como vamos saber onde ela está? Ela pode estar precisando de nossa ajuda nesse exato momento e tudo o que você faz é dormir! Pode me dizer por que viajamos no tempo se não vamos sair daqui e—”

“Por favor!” Sam grita, caindo na risada. “Você não deixa que eu responda!”

Polly para e o observa, parecendo surpresa, como se não fizesse a menor ideia de que estava falando sem parar.

“Pois muito bem,” ela diz, “fale!”

Sam a encara, distraído pelo tom de azul dos olhos dela sob a luz da manhã; quando tem a oportunidade de falar, ele fica paralisado e esquece o que havia pensado em dizer.

“Eu…” ele começa.

Polly joga as mãos para o alto.

“Garotos!” ela exclama. “Ele nunca querem que você fale – mas também nunca têm nada a dizer! Bem, eu não quero mais ficar aqui!” ela diz, se afastando pelas colinas enquanto come outro morango.

“Espere!” Sam grita, se apressando para alcançá-la. “Para onde você está indo?”

“Procurar a Caitlin, é claro!”

“E você por acaso sabe onde ela está?” ele pergunta.

“Não,” Polly responde, “mas eu já sei onde ela não está – e ela não está nesse campo! Precisamos sair daqui, encontrar a cidade mais próxima – ou prédios, ou qualquer coisa – e descobrir em que período nós estamos. Precisamos começar em algum lugar, e esse com certeza não é ele!”

“Mas, você não acha que eu também queira encontrar minha irmã!?” Sam grita irritado.

Finalmente, ela para e se vira, olhando para ele.

“O que eu quero dizer é, você não quer companhia?” Sam pergunta, percebendo ao pronunciar as palavras, o quanto ele gostaria de procurar por Caitlin junto a Polly. “Você não acha melhor procurarmos juntos?”

Polly olha para Sam com seus grandes olhos azuis, como se o estivesse analisando. Ele sente que está sendo examinado, e pode perceber a incerteza dela. Ele só não consegue entender por quê.

“Eu não sei,” ela diz finalmente. “Quero dizer, você conseguiu se virar bem em Paris – tenho que admitir. Mas…”

Ela pausa.

“O que foi?” ele enfim pergunta.

Polly limpa a garganta.

“Bem, se quer mesmo saber, o ultimo – hmm – garoto – com que estive – Sergei – acabou sendo um mentiroso e vigarista, que me enganou e me usou. E eu fui idiota demais para perceber. Mas nunca mais vou cair em outra armadilha desse tipo. E não estou pronta para confiar em qualquer pessoa do sexo masculino – nem mesmo você. Eu simplesmente não quero passar meu tempo ao lado de garotos agora. Não que eu e você – eu não estou dizendo que nós – não é que eu pense em você dessa forma – como algo além de meu amigo – de um conhecido-”

Polly começa a gaguejar e, percebendo o quanto ela está nervosa, Sam não consegue evitar um leve sorriso.

“—mas é que, independente de tudo isso, estou cansada de garotos. Sem querer te ofender.”

Sam abre um largo sorriso. Ele gosta da sinceridade dela, e de sua coragem.

“Não estou ofendido,” ele responde. “Para dizer a verdade,” ele completa, “também estou farto de garotas.”

Os olhos de Polly se abrem de surpresa; obviamente não é esta a resposta que ela estava esperando.

“Ocorre que temos mais chances de encontrar minha irmã se procurarmos juntos. Quero dizer – só -” Sam limpa a garganta, “—profissionalmente falando.”

Agora é a vez de Polly abrir um sorriso.

“Profissionalmente falando,” ela repete.

Sam estende a mão, formalmente.

“Eu prometo, seremos apenas amigos – nada além disso,” ele diz. “Eu desisti de garotas para sempre. Aconteça o que acontecer.”

“E eu desisti dos garotos, não importa o que aconteça,” Polly diz, ainda examinando a mão dele, que permanece estendida para ela.

Sam continua com o braço esticado, esperando pacientemente.

“Apenas amigos?” ela pergunta. “Nada além disso?”

“Apenas amigos,” Sam lhe garante.

Ela finalmente ergue o braço e aperta a mão dele.

Ao fazer isso, Sam não consegue evitar a sensação de que ela segurou sua mão apenas um instante a mais que o necessário.




CAPÍTULO TRÊS


Caitlin se senta dentro do sarcófago, e encara o homem em pé diante dela. Ela sabe que o reconhece de algum lugar, mas não consegue se lembrar exatamente de onde. Ela olha dentro dos olhos castanhos preocupados dele, para seu rosto perfeitamente esculpido, a pele perfeita e os cabelos ondulados. Ele é maravilhoso, e ela pode perceber o quanto ele se importa com ela. Ela sente dentro de seu coração que aquela pessoa é importante para ela, mas por mais que se esforce, não consegue se lembrar de quem ele é.

Caitlin sente algo molhado na mão, e quando olha para baixo vê um lobo sentado ao seu lado, lambendo-lhe a mão. Ela se surpreende pelo carinho do animal com ela, como se o lobo a conhecesse há muito tempo. O pelo do animal é lindo, inteiramente branco com uma faixa cinza atravessando sua cabeça e suas costas. Caitlin sente que conhece este animal também, e que em algum momento de sua vida havia tido uma ligação muito próxima com ele.

Mas por mais que se esforce ela não consegue se lembrar de nada.

Ela olha ao seu redor na sala, tentando absorver o lugar, torcendo para que algo desperte sua memória. O quarto lentamente entra em foco. O lugar é mal iluminado por apenas uma tocha e, à distância, ela vê outros quartos repletos de sarcófagos. O teto é baixo e arqueado, e as pedras parecem ser bem antigas; parece uma cripta. Ela se pergunta como teria chegado até ali – e quem seriam aquelas pessoas. Ela sente como se tivesse acordado de um sonho que parece não terminar.

Caitlin fecha os olhos por um instante, respirando profundamente, e quando faz isso, algumas cenas aleatórias passam por sua cabeça. Ela se vê parada no Coliseu de Roma, lutando contra diversos soldados no chão empoeirado e quente; e se vê sobrevoando uma ilha no rio Hudson, olhando um magnífico castelo; e se vê em paris, caminhando ao longo de um rio com um homem que ela reconhece estar diante dela naquele momento. Ela tenta se concentrar naquela imagem, prender-se a ela. Talvez isso a ajude a lembrar.

Ela se vê junto a ele novamente, desta vez em um castelo no interior da França. Ela vê os dois cavalgando a beira mar, e então um falcão, circulando o céu acima deles e entregando uma carta.

Ela tenta se concentrar no rosto dele, tenta lembrar qual o nome dele. Ela tem a sensação de que está conseguindo lembrar, que está quase lá. Mas as imagens continuam mudando, e é difícil se prender a uma delas. Vidas inteiras se passam diante de seus olhos, em uma coleção infinita de cenas. É como se a mente dela estivesse carregando todas aquelas informações.

"Caleb," diz uma voz.

Caitlin abre os olhos. Ele está parado bem próximo a ela, com o braço estendido e a mão sobre seu ombro.

"Meu nome é Caleb. Do coven White. Você não se lembra?"

Caitlin fecha os olhos mais uma vez, e sua memória é afetada por aquelas palavras, pela voz dele. Caleb. O nome lhe soa familiar, e Caitlin sente que aquele é um nome importante para ela.

Coven White. Isso também lhe soa familiar. Ela de repente se vê em uma cidade que ela sabe ser Nova Iorque, em um claustro no norte da ilha. Ela se vê parada em um grande terraço, olhando ao longe. E se vê discutindo com uma mulher chamada Sera.

"Caitlin," diz a voz mais uma vez, com um pouco mais de firmeza. "Você não se lembra?"

Caitlin. Sim. Esse é nome dela. Ela tem certeza agora.

E Caleb. Sim. Ele é importante para ela. Ele é seu… namorado? Ele parece ser mais importante que isso. Noivo? Marido?

Ela abre os olhos e o encara, e as lembranças começam a surgir. Ela se enche de esperança e, lentamente, começa a se recordar de tudo.

"Caleb," ela diz suavemente.

Os olhos dele se enchem de lágrimas, esperançosos. O lobo geme ao lado dela, lambendo-lhe o rosto, encorajado. Ela olha para o animal, e de repente se lembra do nome dela.

"Rose,” ela diz, e então percebe que está enganada. “Não. Ruth. Seu nome é Ruth."

Ruth se aproxima, lambendo-lhe ainda mais. Caitlin não consegue evitar o riso, e acaricia a cabeça de Ruth. Caleb abre um sorriso de alívio.

"Sim. Ruth. E eu sou Caleb. E você é Caitlin. Consegue se lembrar agora?”

Ela confirma. "Estou começando a me lembrar," ela responde. "Você é meu… marido?"

Ela observa enquanto o rosto dele se enrubesce como se estivesse constrangido ou envergonhado. E naquele momento, ela se lembra. Não, eles não eram casados.

"Não estamos casados," ele diz, em tom de desculpas, "mas estamos juntos."

Ela também fica constrangida ao começar a se lembrar de tudo, à medida que as lembranças começam a aflorar.

Ela de repente se lembra das chaves – as chaves de seu pai. Ela estica o braço, colocando a mão no bolso e se certificando que elas ainda estavam ali. Ela coloca a mão no outro bolso e sente seu diário, confortada pela sua presença. Caitlin fica aliviada.

Caleb estica o braço.

Ela segura na mão dele e deixa que ele a ajude a sair do sarcófago.

É muito bom estar em pé, alongando os músculos.

Caleb estica a mão e tira o cabelo da frente do rosto dela. Ela gosta da sensação dos dedos dele acariciando suas têmporas.

"Estou tão feliz que esteja viva," ele fala.

Ele a envolve em seus braços, abraçando-a com força. Ela também o abraça, e ao fazer isso mais lembranças surgem em sua cabeça. Sim, este é o homem que ela ama. Ele é o homem com quem, um dia, sonha em se casar. Ela pode sentir o amor dele atravessando seu corpo, e se lembra de que tinham viajado no tempo juntos. Paris é o último lugar em que haviam estado juntos, e onde ela tinha encontrado a segunda chave antes que fossem enviados mais uma vez ao passado. Ela havia rezado para que acordassem juntos desta vez. E ao abraça-lo com força, ela percebe que suas preces tinham sido atendidas.

Finalmente, desta vez, eles estão juntos.




CAPÍTULO QUATRO


"Vejo que vocês dois se reencontraram," diz uma voz.

Caitlin e Caleb, no meio de um abraço, se viram surpresos ao ouvir a voz. Caitlin fica surpresa que alguém tenha conseguido se aproximar deles tão rápido, especialmente considerando seus sentidos vampiros apurados.

Mas ao olhar para a mulher parada diante deles, ela percebe o motive: essa mulher também é uma vampira. Vestida completamente de branco e com um capuz na cabeça, a mulher ergue lentamente o rosto e os encara com olhos azuis penetrantes. Caitlin pode sentir a energia pacífica e serena emanando dela, e baixa sua guarda. Ela sente quando Caleb faz o mesmo.

A mulher então abre um largo sorriso.

"Estamos esperando você há bastante tempo," ela diz, em tom gentil.

"Onde estamos?" Caitlin pergunta. “Que ano é esse?"

A mulher apenas sorri.

"Por favor, me acompanhem," ela pede, virando-se, e começa a se afastar, passando pela porta arqueada.

Caitlin e Caleb entreolham-se, e então a seguem pela porta, seguidos por Ruth.

Eles caminham por um corredor de pedras sinuoso, que os leva até um lance de escadas estreitas, iluminado pela luz de uma única tocha. Eles estão logo atrás da mulher, que continua andando, certa de que eles a seguem.

Caitlin sente vontade de fazer mais perguntas, pressioná-la para saber onde estavam; mas ao chegarem ao topo da escada, ela consegue ter uma visão magnífica que lhe tira o fôlego, e ela percebe que estão dentro de uma igreja enorme. Pelo menos esta parte da pergunta tinha sido respondida.

Caitlin mais uma vez se arrepende de não ter prestado mais atenção à aula de história e arquitetura, por não poder identificar em que igreja eles estavam naquele momento. Ela se lembra de todas as outras igrejas que havia visitado – a Notre Dame em Paris, o Duomo em Florença – e não consegue evitar a sensação de que está igreja é parecida com as outras.

A nave central da igreja se estende por dezenas de metros, o chão é de lajotas de mármore e as paredes estão decoradas com dezenas de estátuas esculpidas em pedra. O teto da igreja é altíssimo, alcançando dezenas de metros. No alto, há fileiras intermináveis de vitrais, que permitem a entrada da luz do sol que se reflete suavemente em inúmeras cores. Na parede do final da nave, um vitral Redondo enorme filtra a luz que recai sobre o altar dourado. Espalhadas diante do altar há centenas de pequenas cadeiras de madeira para os fiéis.

Mas agora a igreja está vazia. É como se o lugar tivesse sido reservado para eles.

Eles atravessam o salão principal, seguindo a vampire, e seus passos ecoam, reverberando pelo enorme corredor vazio.

“Que igreja é essa?" pergunta por fim.

"É a Abadia de Westminster," responde a mulher, enquanto continua a caminhar. "O lugar onde Rainhas e Reis são coroados há centenas de anos."

Abadia de Westminster, Caitlin pensa. Ela sabe que está igreja fica na Inglaterra. Na verdade, ela fica exatamente na cidade de Londres.

Londres.

Caitlin fica um pouco atordoada com a ideia de estar ali. Ela nunca havia estado na cidade antes, e havia sonhado em conhecê-la um dia. Ela tinha amigos que já haviam feito a viagem, e ela já tinha visto muitas fotos online. Fazia sentido para ela estar ali, dada a história medieval da do lugar. A igreja tinha centenas de anos – e ela sabe que há muitas outras igrejas como aquela na cidade. Mas ela ainda não sabe em que ano estão.

"E em que ano estamos?" Caitlin pergunta nervosa.

Mas o guia deles anda tão rápido que já está do outro lado da capela, atravessando outra porta arqueada e forçando Caitlin e Caleb a se apressarem para alcançá-la.

Ao entrarem, Caitlin se surpreende ao perceber que estão dentro de um claustro. Há um longo corretor de pedras, com paredes de pedra e estátuas ao longo de um lado e, do outro, arcos abertos. Os arcos são expostos aos elementos, e através deles ela pode ver um pequeno pátio interno. O lugar a faz pensar em todos os outros claustros onde já havia estado; ela começa a reconhecer algum padrão na simplicidade das construções, das paredes arqueadas, das colunas e pátios bem cuidados. Todos parecem oferecer um refúgio do mundo, como um lugar ideal para o silêncio e a reflexão.

A vampira finalmente para e se vira para eles. Ela encara Caitlin com seus grandes olhos compassivos, e parece transcendental.

"Estamos às vésperas da virada do século," ela diz.

Caitlin pensa por um instante. "Que século?" pergunta ela.

"O século XVI, é claro. Estamos no ano de 1599.”

É 1599, pensa Caitlin. A constatação a assusta; mais uma vez, ela gostaria de ter lido seus livros de história com mais atenção. Das outras vezes, ela tinha ido de 1791 para 1789. Mas agora, eles estavam em 1599 – um salto de quase 200 anos.

Ela ainda consegue se lembrar de como as coisas pareciam primitivas mesmo em 1789 – a falta de encanamentos, as estradas de terra, a ausência de banho. Ela não consegue imaginar como as coisas seriam duzentos anos antes daquilo. Certamente, as coisas seriam ainda menos familiares que em qualquer outra época. Até mesmo a cidade de Londres dificilmente seria reconhecida. Isso a faz sentir-se isolada, sozinha, em um mundo completamente diferente do dela. Se não fosse pela presença de Caleb, ao seu lado, ela teria se sentido absolutamente sozinha.

Mas ao mesmo tempo, a arquitetura, a igreja e os claustros – tudo aquilo lhe parece familiar e reconhecível. Afinal, eles estão caminhando na mesma Abadia de Westminster que existia no século XXI. E não apenas isso, o prédio, mesmo no ano de 1599, já parece antigo, já estava ali há muitos séculos. Isso lhe fornece um estranho consolo.

Mas por que ela tinha sido enviada para aquele período? E para aquele lugar? Obviamente, o lugar tem alguma importância para sua missão.

Londres. 1599.

É nessa época que Shakespeare havia vivido? Ela se pergunta, com o coração de repente acelerado, ao imaginar que talvez tivesse a chance de vê-lo pessoalmente.

Eles caminham silenciosamente por vários corredores.

"A Londres de 1599 não é tão primitivo quanto você pensa," a guia informa, olhando para Caitlin com um sorriso.

Caitlin se sente envergonhada ao perceber que ela tinha lido seus pensamentos. Como sempre, ela sabe, deveria ser mais cuidadosa em escondê-los, e espera que não tenha ofendido a vampira.

"Não é ofensa alguma," ela responde, lendo os pensamentos de Caitlin mais uma vez. "A época em que vivemos pode ser primitiva em relação a algumas tecnologias com que você está acostumada. Mas, de certa forma, somos mais sofisticados que as pessoas dos tempos modernos. Somos extremamente experientes e estudados, os livros nos governam. Um povo de meios primitivos, talvez, mas com um intelecto bastante apurado.”

“E mais importante, este é um período crucial para a raça vampire. Estamos em um momento decisivo. Você chegou na virada do século por uma razão.”

"Por quê?" Caleb pergunta.

A mulher lança um sorriso pra eles antes de entrar em outro corredor.

"A resposta para esta pergunta você terá que encontrar sozinho.”

Eles chegam à outra sala magnífica – com teto alto, vitrais coloridos e o chão de mármore – decorado com enormes velas e estátuas esculpidas à imagem de reis e santos. Mas esta sala é diferente das outras; há sarcófagos e efígies colocadas cuidadosamente ao redor da sala e, no centro, um enorme túmulo com dezenas de metros de altura, coberto por ouro.

A guia caminha até o túmulo, e eles a segue. Ela para diante dele e se vira para eles.

Caitlin olha para o túmulo: ele é grande e imponente; uma verdadeira obra de arte, banhado a ouro e adornado com gravuras belíssimas. Ela também pode sentir uma energia emanando do túmulo, como se ele tivesse alguma importância oculta.

"O túmulo do Santo Eduardo o Confessor," a vampira diz. "É um lugar sagrado, destino de peregrinação da nossa espécie por centenas de anos. Dizem que ao rezar ao lado dele, é possível receber curas milagrosas para aqueles que estão doentes. Olhe a pedra, aos seus pés: ela está gasta por todas as pessoas que já se ajoelharam aqui ao longo dos anos.”

Caitlin olha para baixo e vê que, de fato, a plataforma de mármore está um pouco gasta nas bordas. Ela se espanta ao pensar em quantas pessoas já tinham se ajoelhado ali ao longo dos séculos.

“Mas no seu caso," continua ela, "ele é ainda mais importante.”

Ela se vira e olha diretamente para Caitlin.

"Sua chave," ela fala para Caitlin.

Caitlin fica perplexa. A que chave ela estava se referindo? Ela coloca a mão no bolso e sente as duas chaves que tinha encontrado até então. Ela não sabe ao certo qual delas a mulher quer.

Ela balança a cabeça. "Não. Sua outra chave.”

Caitlin pensa, confusa. Ela tinha esquecido alguma chave?

Então, ao olhar para baixo, ela percebe. Seu colar.

Caitlin leva a mão ao pescoço, surpresa por ele ainda estar lá. Ela remove o colar com cautela, e segura a antiga cruz de prata na palma da mão.

A vampire balança a cabeça novamente.

“Apenas você pode usá-la.”

Ela estica o braço e gentilmente segura a mão de Caitlin, guiando-a até uma pequena fechadura na base do pedestal.

Caitlin fica espantada, pois nunca teria notado a existência daquela fechadura de outra forma. Ela insere a chave e gira, ouvindo um leve clique.

Ela olha para cima, e vê que um pequeno compartimento havia surgido na lateral do túmulo. Ela olha para a vampira, que assente solenemente.

Caitlin ergue o braço e remore o compartimento estreito e comprido. Dentro dele, ela se surpreende ao encontrar um longo cetro dourado, com a ponta incrustada de rubis e esmeraldas.

Ela tentativamente remove o centro da caixa, e fica surpresa com o peso dele, e da maciez do ouro contra suas mãos. O cetro tem aproximadamente um metro de comprimento, e é feito inteiramente de ouro.

"O cetro sagrado," a freira vampira diz. "Pertenceu ao seu pai um dia.”

Caitlin olha para o cetro com um novo senso de reverência e respeito. Ele se sente energizada ao segurá-lo, e se sente mais próxima de seu pai do que jamais havia estado.

"Isso me levará até meu pai?” ela indaga.

A guia simplesmente lhes dá as costas e sai da câmara. "Por aqui," ela diz.

Caitlin e Caleb a seguem por outra porta e diversos outros corredores, atravessando o pátio de outro claustro. Enquanto caminham, Caitlin pode ver vários outros vampiros vestindo túnicas brancas e capuzes, que também andam pelos corredores. A maioria mantém a cabeça abaixada, como se concentrados em suas orações; alguns balançam incensários. Os poucos que cruzam o seu caminho acenam com a cabeça, e continuam caminhando em silêncio.

Caitlin se pergunta quantos vampiros vivem ali, e se fazem parte do coven de seu pai. Ela nunca havia se dado conta que a Abadia de Westminster era um convento, além de igreja – ou que era o último lugar de descanso para sua espécie.

Eles finalmente entram em outra sala, está menor que as outras, mas com tetos altos e iluminado pela luz natural. O chão da sala é feito de pedras resistentes, e no centro há algo extraordinário: um trono. Colocado sobre um pedestal com no mínimo cinco metros de altura, o trono é feito de madeira, uma cadeira espaçosa com braços que se inclinam para cima e um encosto que termina em um triângulo com uma ponto no centro. Embaixo, nos cantos da cadeira, há dois leões dourados esculpidos de forma a dar a ideia de que estão segurando o trono.

Caitlin examina o trono admirada.

"O trono do Rei Eduardo," diz a vampira. “O trono da coroação de reis e rainhas por milhares de anos. Um item muito especial – não apenas por seu papel na história, mas por que guarda uma das chaves da nossa espécie.”

Ela se vira na direção de Caitlin. "Estamos guardando este trono há milhares de anos. Agora que você está aqui, e agora que liberou o cetro, é chegada a hora de assumir o seu lugar de direito.”

Ela sinaliza para que Caitlin suba ao trono.

Caitlin olha para ela em choque. Que direito tinha ela, uma simples garota, de subir ao trono real – um trono que tinha sido usado por reis e rainhas por milhares de anos? Ela não se sente à vontade para se aproximar dele, e muito menos para subir no pedestal e sentar no trono.

"Por favor," insiste a vampira. "Você tem o direito. Você é a Escolhida.”

Caleb assente com a cabeça, e Caitlin devagar e relutantemente sobe no enorme pedestal, segurando o cetro. Ao chega ao topo, ela se vira e delicadamente senta no trono.

Ele é feito de madeira maciça, e não encostar-se e repousar os braços sobre o apoio, Caitlin pode sentir o poder do trono. Ela consegue sentir as centenas de membros da realeza que tinham recebido suas coroas naquele exato local, e se sente completamente energizada.

Ao olhar para a sala, cinco metros acima de todos os outros, ela sente como se estivesse acima de tudo, – no topo do mundo. A sensação é inspiradora.

"O cetro," diz a vampira.

Caitlin olha para ela, confusa, incerta sobre o que a vampira quer que ela faça com ele.

"No braço do trono, você vai encontrar um pequeno orifício. Ele é feito para segurar o cetro.”

Caitlin olha para baixo, atentamente, e desta vez localiza um pequeno buraco, com o diâmetro exato do cetro. Ela ergue o braço e lentamente encaixa o cetro no orifício.

Ele afunda até o fim de modo que apenas o topo fique para fora do braço.

De repente, ouve-se um leve clique.

Caitlin olha para o chão e fica surpresa ao ver um compartimento minúsculo se abrir na base da cabeça dos leões. Dentro dele, há um pequeno anel de ouro. Ela estiva o braço e o retira do compartimento.

Ela ergue o anel e o oberva.

"O anel do destino," informa a vampira, "pertence apenas a você. É um presente de seu pai.”

Caitlin o encara encantada, segurando-o contra a luz e assistindo as pedras brilharem ao movimentá-lo.

"Coloque o anel no dedo anelar de sua mão direita.”

Caitlin faz isso, e ao sentir o metal frio, uma vibração percorre todo o seu corpo. Ela sente o poder que emana do anel.

"Ele irá lhe mostrar o caminho.”

Caitlin o examina. "Mas como?" ela pergunta.

"Você só precisa inspecioná-lo," explica a vampira.

A princípio, Caitlin fica confusa, mas então examina o anel com mais atenção. Quando o faz, ela percebe uma pequena gravação em volta do anel. Seu coração bate mais forte ao ler a mensagem. Ela sabe imediatamente que se trata de uma mensagem de seu pai.


Across the Bridge, Beyond the Bear,


With the Winds or the sun, we bypass London

Caitlin lê a charada mais uma vez, e então a lê em voz alta, para que Caleb possa escutar.

"O que isso significa?" ela pergunta.

A guia apenas sorri.

"Tenho permissão para trazer você apenas até aqui. O restante da jornada você terá que descobrir." E então ela se aproxima. “Estamos contando com você. O que quer que faça, não nos decepcione.”




CAPÍTULO CINCO


Caitlin e Caleb saem pelas enormes portas da Abadia de Westminster sob a luz da manhã, seguidos por Ruth. Eles instintivamente fecham os olhos e levam as mãos aos olhos, e Caitlin se sente grata que Caleb lhe tenha dado o colírio antes de saírem. Eles precisam de alguns instantes para que seus olhos se acostumem. Lentamente, a Londres de 1599 surge diante deles.

Caitlin fica espantada. A Paris de 1789 não tinha sido tão diferente da Veneza de 1791. Mas a cidade de Londres em 1599 é um mundo completamente novo. Ela fica espantada pela diferença que 190 podem fazer.

Diante dela, a cidade de Londres se revela. Mas não se trata de uma cidade metropolitana movimentada. Pelo contrário, ela tem a sensação de que está em uma grande cidade rural, com muitos terrenos ainda em desenvolvimento. Não há ruas pavimentadas – há sujeira por toda parte – e enquanto há muitos prédios, é possível ver árvores em bem maior número. Escondidas entre as árvores em quarteirões mal formados há fileiras de casas, algumas um pouco tortas. As casas são todas feitas de madeira, com grandes telhados de palha. Ela logo percebe que a cidade é altamente inflamável; quase completamente feita de madeira, e com toda aquela palha em cima das casas, Caitlin vê o quanto Londres é suscetível ao fogo.

Ela imediatamente se dá conta que as ruas de terra tornam a passagem complicada. Andar a cavalo parece ser o meio de transporte ideal, e ocasionalmente eles cruzam com um cavalo ou carroça. Mas estas são exceções; a maioria das pessoas caminha – ou melhor, tropeça. As pessoas caminhando pelas ruas enlameadas parecem lutar pra manter-se em pé.

Ela identifica excrementos ao longo das ruas e fica enojada com o cheio, mesmo à distância. As eventuais vacas passeando pelas ruas também não ajudam. Se ela tivesse pensado em voltar no tempo para recuperar o romantismo, esse lugar certamente não seria o melhor destino.

Além disso, ela não tinha visto pessoas passeando bem vestidas, carregando sombrinhas e exibindo as últimas tendências da moda, como tinha sido em Veneza e Paris. Ao invés disso, elas se vestem com simplicidade e com roupas ultrapassadas; os homens vestem roupas da fazenda, que parecem trapos, e alguns vestem calças brancas e túnicas curtas que parecem saias. As mulheres, por sua vez, ainda estão tão cobertas que têm dificuldades para andar pelas ruas segurando as barras das saias o mais alto que conseguem – não apenas para mantê-las longe da lama e dos excrementos, mas também dos ratos, que Caitlin se surpreende ao ver correndo pelas ruas abertamente.

Ainda assim, apesar de tudo, o modo de vida da época é certamente único – e, pelo menos, bastante descontraído. Ela tem a impressão de que está em uma grande vila rural, bem diferente do ritmo frenético do século XXI. Não há carros nas ruas; nenhum som de construções, ou buzinas, ônibus, caminhões e máquinas. Até mesmo o som dos cavalos parece abafado, com suas patas se afundando na lama. De fato, o único som que pode ser ouvido além dos gritos dos vendedores, é o som dos sinos de igrejas, como um coral de bombas, soando por toda a cidade. Londres é obviamente dominada pelas igrejas.

As únicas coisas sinalizando o futuro que está por vir, por incrível que pareça, são as igrejas – erguendo-se acima da arquitetura simples e dominando a paisagem da cidade com suas torres incrivelmente altas. Na verdade, o prédio de onde acabam de sair, a Abadia de Westminster, se ergue acima de todos os outros prédios a vista. Ela pressente que seu campanário é a referência para que toda a cidade se oriente.

Ela olha para Caleb, e vê que ele está avaliando a cena, igualmente assombrado. Ela estica o braço e fica feliz quando ele segura em sua mão. É agradável sentir seu toque novamente.

Ele se vira para ela e Caitlin pode ver o amor nos olhos dele.

"Bem," ele diz, limpando a garganta, "isso não é nada parecido com a Paris do século XVIII."

Ela sorri para ela. "Não, de forma alguma.”

"Mas estamos juntos, e é isso que importa," completa ele.

Ela sente o amor de Caleb, quando ele olha dentro dos olhos dela e, por um momento, ela se esquece de sua missão.

"Sinto muito por tudo que aconteceu na França," ele diz. "Com Sera. Eu nunca tive a intenção de magoar você, espero que saiba disso."

Ao olhar para ele, Caitlin sabe que ele está sendo sincero. E para sua surpresa, ela sente que pode perdoá-lo facilmente. A antiga Caitlin teria guardado rancor, mas ela se sente mais forte do que nunca, e realmente acha que pode esquecer tudo. Especialmente porque ele havia voltado para ela, e especialmente porque está claro que ele não tem mais qualquer sentimento por Sera.

E acima de tudo, ela agora, pela primeira vez, reconhece seus próprios erros do passado, sua tendência a julgar rápido demais, a não confiar nele, e não lhe dar o devido espaço.

“Eu também sinto muito,” ela diz. "Esta é uma nova vida, e estamos juntos agora. Nada mais importa.”

Ele aperta a mão dela, e quando faz isso, Caitlin é tomada pela emoção.

Ele se inclina e a beija. Ela fica surpresa, e excitada ao mesmo tempo. Ela sente a eletricidade atravessando seu corpo, e retribui o beijo.

Ruth começa a gemer aos pés deles.

Eles se afastam, olham para baixo e caem na risada.

"Ela está com fome," Caleb diz.

"Eu também.”

"Vamos conhecer Londres?" ele convida com um sorriso. "Podemos voar," ele completa, “isso é, se você estiver preparada.”

Ela alonga os ombros e sente a presença de suas asas, e tem certeza de que está de fato pronta. Caitlin já se sente recuperada da última viagem no tempo, e pensa que talvez esteja, afinal, se acostumando com o procedimento.

"Estou," ela diz, "mas prefiro ir andando. Gostaria de conhecer a cidade, pela primeira vez, como as outras pessoas o fazem.”

E também porque é bem mais romântico, ela pensa, mas não diz nada.

Mas ele olha para ela e sorri, e ela se pergunta se ele teria lido seus pensamentos.

Ele estende o braço, sorrindo, ela segura na mão dele e os dois começam a descer as escadas.


*

Ao saírem da igreja, Caitlin localiza um rio a distância, e uma rua larga a uns cinquenta metros dele, com uma placa esculpida grosseiramente com os dizeres “Estrada do Rei.” Eles teriam que escolher entre virar à direita ou à esquerda. A cidade parece mais desenvolvida à esquerda.

Eles viram para a esquerda, na direção norte, seguindo a Estrada do Rei paralela ao rio. Enquanto andam, Caitlin fica encantada com a paisagem e os sons, absorvendo tudo que vê pela frente. A direita deles há uma série de grandiosas casas de madeira ao estilo Tudor, com os exteriores em estuque branco e bordas marrons que terminam em telhados de palha. A esquerda, ela fica surpresa ao ver pequenas fazendas com eventuais casas simples e algumas vacas e ovelhas pontuando a paisagem. A cidade de Londres em 1599 a fascina. Um lado da rua é cosmopolita e abastado, enquanto o outro ainda é povoado por fazendeiros.

A rua em si já é motivo de espanto. Seus pés se prendem à lama enquanto eles andam, a terra está ainda mais fofa e macia devido ao trânsito de pedestres e cavalos. Isso seria aceitável, mas em meio à lama há excrementos das matilhas de cães selvagens que vagam pelas ruas, ou fezes humanas arremessadas pelas janelas. Na verdade, enquanto avançam, algumas janelas se abrem ocasionalmente, e baldes aparecem, com mulheres idosas despejando os excrementos das casas pelas janelas. O cheiro no ar é bem pior do que o que ela tinha sentido em Veneza, Florença ou Paris. Ela quase passal mal em diversas ocasiões, e gostaria de ter uma daquelas bolsinhas perfumadas para levar ao nariz. Por sorte, ela ainda está calçando os sapatos de treinamento que Aiden tinha lhe dados em Versalhes. Ela não quer nem pensar em como seria ter que andar naquelas ruas com saltos.

Mesmo assim, em meio à estranha mistura de áreas rurais com grandes propriedades, ocasionalmente eles encontram alguns feitos arquitetônicos. Caitlin se encanta ao perceber, espalhados pelo caminho, algumas construções que ela reconhece de fotos do século XXI, igrejas belíssimas e ocasionalmente alguns palacetes.

A estrada chega abruptamente ao fim em diante de um grande portão, com vários guardas uniformizados parados em frente dele, empunhando lanças. Mas o portão está aberto, e eles simplesmente passam por ele.

Uma placa presa na coluna de pedra diz “Palácio Whitehall,” e eles continuam caminhando por um pátio comprido e estreito, passando por outro portão e chegarem ao outro lado, de volta à estrada. Eles logo chegam a uma pequena rotatória onde há outra placa com os dizeres “Charing Cross,” e um grande monumento vertical no meio. A rua se divide para a direita e para a esquerda.

"Para que lado?" ela pergunta.

Caleb parece tão confuso quanto ela. Finalmente, ele diz, “Meus instintos dizem que devemos permanecer próximos ao rio, e seguirmos pela direita.”

Ela fecha os olhos e tenta se concentrar também. "Eu concordo," ela diz, e completa, "Você faz alguma ideia do que é que estamos procurando, exatamente?"

Ele balança a cabeça negativamente. "Seu palpite é tão bom quanto o meu.”

Ela olha para o anel e lê a charada mais uma vez.


Across the Bridge, Beyond the Bear,


With the Winds or the sun, we bypass London

A charada não a ajuda, e parece não surtir qualquer efeito sob Caleb também.

"Bem, ela menciona Londres," diz ela, "então acredito que estamos no caminho certo. Meu instinto me diz que devemos continuar avançando, entrar na cidade, e que saberemos quando encontrarmos.”

Ele concorda, e Caitlin pega em sua mão e os dois viram para a direita, caminhando paralelamente ao rio seguindo uma placa que diz “A Strand.”

Enquanto andam por esta rua, Caitlin percebe que a área está ficando cada vez mais populosa, – com casas construídas mais próximas umas das outras, em ambos os lados da rua. Ela tem a sensação de que estão cada vez mais próximos do centro da cidade, pois as ruas também estão mais movimentadas. O clima está perfeito – Caitlin sente que está no começo do outono, e o sol brilha incessantemente. Ela se pergunta por um instante em que mês estariam, e fica surpresa com a facilidade em que perde a noção do tempo.

Pelo menos não está muito quente. Mas à medida que as ruas se enchem de gente, ela começa a sentir claustrofóbica. Eles definitivamente estão se aproximando de alguma cidade metropolitana, mesmo sem a sofisticação dos tempos modernos. Ela fica espantada: sempre tinha imaginado que nos tempos antigos houvesse menos pessoas, que tudo fosse menos lotado. Mas na verdade, é bem o contrário: enquanto as ruas parecem ficar cada vez mais lotadas, ela não consegue acreditar que tantas pessoas vivam ali. A cena a faz lembrar quando ainda morava em Nova Iorque no século XXI. As pessoas se empurram e acotovelam sem ao menos se desculparem. E ainda por cima, fedem.

Além disso, há vendedores parados em todas as esquinas, tentando vender seus produtos agressivamente. Por onde anda, ela ouve pessoas gritando com sotaques britânicos engraçados.

E quando as vozes dos vendedores se calam, outras dominam o ambiente: os gritos dos pregadores. Por toda parte, Caitlin pode ver algumas plataformas, palcos e púlpitos improvisados, sobre os quais os pregadores declamam os seus sermões, gritando para serem ouvidos.

"Jesus diz ARREPENDAM-SE!" diz um pastor, parado com um chapéu engraçado e um olhar severo. "Eu digo que TODOS OS TEATROS devem ser fechados! Todo o tempo ocioso deve ser PROIBIDO! Voltem para os seus templos de oração!”

A cena faz Caitlin pensar nas pessoas que pregam nas esquinas de Nova Iorque. Algumas coisas não haviam mudado.

Eles chegam a outro portão, bem no meio da rua, com um sinal que diz “Temple Bar, Portão da Cidade”, e Caitlin acha graça que cidades tenham portões. O enorme portão está aberto, permitindo que as pessoas passem livremente, e Caitlin se pergunta se alguém o fecha durante a noite. Há guardas em pé em ambos os lados do portão.

Mas este portão é diferente: parece ser também um local de encontros. Um grande grupo se amontoa ao redor dele e, de cima de uma plataforma, o guarda segura um chicote. Caitlin olha para cima e fica admirada ao perceber um homem, acorrentado e praticamente nu, está amarrado ao pelourinho. O guarda ergue o braço e o chicoteia repetidas vezes, e o grupo inteiro reage à cena.

Caitlin analisa as expresses da multidão, e não consegue acreditar na indiferença deles, como se este acontecimento fosse corriqueiro, como se aquilo tudo representasse alguma forma de entretenimento popular. Ela sente a raiva se acumular dentro dela em resposta à barbárie daquela sociedade, e cutuca Caleb. Ele está absorto pelo que vê, e ela pega na mão dele e se apressa para atravessar o portão com ele, esforçando-se para não ver o que está acontecendo. Ela teme que se pensar muito a respeito, será incapaz de se segurar, e irá atacar os guardas.

“Este lugar é mesmo primitivo,” ela diz, ao ganharem distância da cena macabra e quando o barulho do chicote mal pode ser ouvido.

“Terrível,” ele concorda.

Ao continuarem a caminhada, Caitlin tenta tirar a imagem da cabeça, se esforçando para concentrar suas atenções em qualquer outra coisa. Ao olhar para uma placa na rua, ela vê que o nome da rua em que estão andando havia mudado para “Fleet Street.” Enquanto caminham, as ruas se tornam mais cheias de gente, mais apertadas, e os prédios e fileiras de casas parecem ser construídos ainda mais próximos uns dos outros. Esta rua também possui diversas lojas; uma das placas informa: “Barba por um centavo.” Diante de outra loja há a placa de um ferreiro, com uma ferradura pendurada na frente dela. Outra placa diz, em letras garrafais, “Selaria.”

"Está precisando de ferraduras novas, senhorita?" um vendedor local pergunta a Caitlin ao vê-la.

Ele a pega um pouco desprevenida. "Hmm… não, obrigada," ela diz.

"E que tal você, senhor?" insiste o homem. "Quer fazer a barba? Tenho as lâminas mais limpas de toda Fleet Street.”

Caleb sorri para o homem. "Muito obrigada, mas estou bem."

Caitlin olha para Caleb, e percebe que ele está sempre de barba feita, o tempo todo. Seu rosto é tão macio, que a faz pensar em uma porcelana.

Ao continuarem avançando pela Fleet Street, Caitlin não consegue deixar de notar como a aparência da multidão parece ter mudado. O ambiente ali é mais puído, com várias pessoas bebendo abertamente de frascos e garrafas de vidro, vagando pelas ruas, rindo em tom alto e importunando as mulheres.

"GIM AQUI! GIM AQUI!” grita um garoto, que deve ter uns dez anos, enquanto segura um engradado repleto de pequenas garrafas verdes com gim. “PEGUEM SUAS GARRAFAS! DOIS TOSTÕES! PEGUEM SUAS GARRAFAS!”

Caitlin é empurrada mais uma vez, à medida que a multidão se torna mais densa. Ela olha para o lado e vê um grupo de mulheres, maquiadas em excesso, vestindo roupas pesadas com quilos de tecido e com decotes que deixam a maior parte de seus seios à mostra. .

"Quer se divertir um pouco?" grita uma das mulheres, obviamente bêbada, quase sem conseguir ficar em pé. Ela se aproxima de um transeunte, que a empurra bruscamente.

Caitlin se surpreende com o quanto aquela parte da cidade é perigosa. Ela sente Caleb se aproximar instintivamente dela, colocando a mão ao redor de sua cintura, e sente que ele a protege. Eles apressam o passo e continuam a atravessar a multidão; Caitlin olha para baixo e vê que Ruth ainda os acompanha.

A rua termina em uma pequena ponte de pedestres e, ao atravessarem, Caitlin olha para baixo. Ela vê uma placa enorme que diz “Fosso de Fleet,” e se espanta; abaixo deles, em um pequeno canal de uns três metros de largura, completamente cheio de água suja. Em meio a água, lixos e dejetos de todos os tipos flutuam na superfície. Quando olha para cima, Caitlin vê que algumas pessoas urina no canal, enquanto outras despejam baldes de excrementos, ossos de frango, lixo doméstico e todos os tipos de detritos. O lugar é um imenso esgoto a céu aberto, e as águas carregam todo o lixo da cidade canal abaixo.

Ela tenta identificar para onde flui o rio e vê que, à distância, o canal termina em um rio. Ela vira o rosto devido ao odor; aquele é provavelmente o pior cheiro que ela já sentiu em toda sua vida. A água libera gases tóxicos que fazem o cheiro horrível das ruas da cidade se parecer com rosas em comparação.

Eles correm para atravessar a ponte.

Ao atravessarem até o outro lado da Fleet Street, Caitlin fica aliviada ao perceber que a rua se torna mais larga, e um pouco menos lotada. O odor também é mais sutil; depois da terrível experiência com o cheiro do Fosso de Fleet, os cheiros cotidianos das ruas não a incomodam mais. Ela se dá conta que é assim que as pessoas vivem satisfeitas naquelas condições: está tudo relacionado ao que se consegue acostumar, no contexto em que se vive.

Ao continuarem a caminhar, a vizinhança se torna mais agradável. Eles passam em frente a uma enorme igreja à esquerda, e podem ver preso à parede do edifício de pedra, em uma caligrafia cuidadosa, as palavras: “Igreja de São Paulo.” A igreja é enorme, com uma fachada rebuscada com torres altíssimas que se erguem acima de todos os demais prédios da região. Caitlin se encanta com a arquitetura da igreja, e que um prédio como aquele ainda se encaixe perfeitamente à arquitetura do século XXI. Ela parece estar fora do lugar, mais alta que todas as construções de madeira ao seu redor. Caitlin está começando a perceber como as igrejas comandam a paisagem urbana da época, e o quanto são importantes para as pessoas do local. As igrejas são literalmente onipresentes e seus sinos, altíssimos, estão sempre soando.

Caitlin para diante da igreja, contemplando a arquitetura antiga, e não consegue deixar de pensar que talvez haja alguma pista ali dentro.

"Será que devemos entrar?" Caleb pergunta, lendo os pensamentos dela.

Ela estuda a gravação em seu anel mais uma vez.

Atravessando a Ponte, Além do Urso.

"A mensagem fala sobre uma ponte," ela diz, pensando em voz alta.

“Acabamos de atravessar uma ponte," Caleb responde.

Caitlin balança a cabeça. Algo não está certo.

"Aquela era apenas uma ponte para pedestres. Meus instintos me dizem que não é este o lugar. Onde quer que tenhamos que ir, eu sinto que não é aqui.”

Caleb fica parado e fecha os olhos, concentrando-se. Quando finalmente abre os olhos, ele diz, "Também acho que não, vamos continuar.”

"Vamos chegar mais perto do rio," Caitlin diz. “Se temos que encontrar uma ponte, presumo que ela seja no ri. E também não me incomodaria em respirar um pouco de ar fresco.”

Ela encontra uma rua lateral que leva até a beira do rio, com uma placa improvisa que informa "Colina de Santo André.” Ela segura na mão de Caleb e se dirige até lá.

Eles descem a colina ligeiramente inclinada, e ela consegue ver um rio ao longe, movimentado com o trânsito de barcos.

Este deve ser o famoso Rio Tamisa de Londres, ela pensa. Só pode ser ele; é uma das poucas coisas de que se lembra de suas aulas básicas de geografia.

Esta rua termina em um prédio, sem acesso direto até o rio, então eles viram para a esquerda em uma rua que corre paralela a ele, a apenas uns quinze metros e apropriadamente chamada "Thames Street.”

A Thames Street é ainda mais distinta, um mundo completamente diferente da Fleet Street. As casas são mais bonitas naquela região, e à direita deles, ao longo do rio, há mais propriedades grandiosas, com terrenos enormes em frente ao rio. A arquitetura ali também é mais elaborada e bela. Obviamente, aquela parte da cidade é reservada para o mais abastados.

É um bairro singular, e eles passam por muitas ruas e travessas com nomes engraçados como “Alameda Windgoose” e “Alameda Old Swan” e “Colina Garlick” e “Colina Bread Street.” Na verdade, o cheiro de comida está presente no ar, e Caitlin sente seu estômago roncando. Ruth também geme, e Caitlin sabe que ela está com fome, mas ela não vê nenhuma comida à venda.

"Eu sei, Ruth," Caitlin simpatiza. “Vou encontrar algo para comermos, eu prometo.”

Eles continuam caminhando sem parar. Caitlin não sabe exatamente o que procura, e Caleb também não. Eles têm a impressão que a charada poderia levá-los a qualquer lugar, e ainda não tinham encontrado nenhuma pista concreta. Eles estão chegando cada vez mais perto do coração da cidade, e ela ainda não sabe ao certo que direção tomar.

Quando Caitlin está começando a se sentir cansada, com fome e mal humorada, eles chegam a um grande cruzamento. Ela para, olha para cima e lê a placa que diz “Gracechurch Street.” O cheiro de peixe domina o ar do local.

Irritada, ela para e encara Caleb.

"Nem sabemos o que estamos procurando," ela diz. "A mensagem fala em uma ponte, mas não vi nenhuma ponte em lugar algum. Será que estamos perdendo tempo aqui? Não deveríamos pensar de outra forma?”

Caleb de repente a cutuca no ombro, apontando.

Ela se vira lentamente, e fica surpresa com o que vê.

A Gracechurch Street dá acesso a uma ponte enorme, uma das maiores pontes que Caitlin já tinha visto. Seu coração se enche de esperança novamente; ela vê uma placa que diz “Ponte de Londres” e ele bate ainda mais acelerado. Esta rua é mais larga, uma via principal, e pessoas, cavalos, carroças e todo tipo de transporte parecem se dirigir até a ponte.

Se uma ponte é o que estavam procurando, eles obviamente a tinham encontrado.


*

Caleb pega na mão dela e a leva até a ponte, misturando-se ao tráfego. Ela olha para cima e fica espantada; aquela ponte é diferente de todas as pontes que ela já tinha visto. A entrada da ponte é protegida por um enorme portão, com guardas de ambos os lados. No topo dela há inúmeras lanças, com cabeças empaladas escorrendo sangue. A cena é macabra, e Caitlin vira o rosto.

"Eu me lembro disso," suspira Caleb. “De séculos atrás; é assim que eles costumavam decorar as pontes: com as cabeças dos prisioneiros. Eles fazem isso como um alerta para os outros criminosos.”

"É horrível," diz Caitlin, abaixando a cabeça, enquanto eles rapidamente sobem na ponte.

Na base dela, cabines e comerciantes vendem peixe, e ao olhar para o rio Caitlin pode ver barcos se aproximando, com homens carregando peixes e escorregando na ribanceira enlameada. A entrada da ponte cheira a peixe, um odor tão forte que Caitlin tampa o nariz. Peixes de todos os tipos, alguns ainda se movimentando, estão dispostos em pequenas mesas improvisadas.

“Ciobas, três centavos o quilo!" alguém grita.

Caitlin anda rápido, tentando se afastar do cheiro.

Ao continuarem avançando, a ponte surpreende Caitlin mais uma vez, quando ela descobre que a ponte está repleta de lojas. Pequenas cabines e vendedores estão dispostos ao longo de ambos os lados da ponte, e pedestres, gado, cavalos e carroças se apertam no meio. A cena é caótica, com pessoas gritando por todos os lados, tentando vender seus produtos.

"Curtume aqui!" grita uma pessoa.

"Retiramos a pele de seu animal!" grita outro.

“Cera de vela aqui! Cera da melhor qualidade!”

“Arrumamos telhados!”

“Compre lenha conosco!”

“Penas novas! Penas e pergaminhos!”

Enquanto caminham, as lojas se tornam mais refinadas, algumas vendendo joias. Caitlin não consegue deixar de pensar na ponte dourada em Florença, em seu tempo com Blake e no bracelete que ele havia lhe dado.

Momentaneamente tomada pela emoção, ela se afasta um pouco, indo para a lateral da ponte e segurando no gradil para olhar a paisagem. Ela pensa em todas as vidas que já tinha vivido e nos lugares por onde já havia passado, e se sente um pouco oprimida. Tudo aquilo era mesmo verdade? Como uma única pessoa poderia ter vivido tantas coisas? Ou será que um dia ela acordaria de volta em Nova Iorque, e descobriria que tudo aquilo tinha sido um sonho maluco e comprido?

"Está tudo bem?" Caleb pergunta, se aproximando dela. "O que aconteceu?”

Caitlin rapidamente enxuga uma lágrima. Ela se belisca, e percebe que não está sonhando. Aquilo tudo é real, e isso a deixa ainda mais espantada.

“Nada," ela diz, com um sorriso forçado nos lábios. Ela espera que ele não tenha lido seus pensamentos.

Caleb fica em pé ao lado dela e, juntos, eles observam o rio Tamisa. O rio é largo e completamente movimentado; barcos a vela de todos os tamanhos navegam por suas águas, dividindo espaço com barcos a remo, de pesca e todos os tipos de embarcações. É um rio interessante, e Caitlin se encanta com o tamanho dos diferentes barcos e velas, alguns com dezenas de metros de altura. As águas do rio são calmas, mesmo com tantas embarcações, e não há sons de motores. Tudo o que se ouve é o som das velas balançando ao vento, e o som a faz relaxar. O ar ali, com a presença constante da brisa, é mais fresco e finalmente livre de odores desagradáveis.

Ela se vira na direção de Caleb e eles continuam a atravessar a ponte, seguidos por Ruth. Ruth começa a gemer novamente, e Caitlin percebe que ela está com fome, e quer parar. Mas por onde olha, Caitlin não consegue encontrar qualquer alimento, e também está sentido mais fome.

Ao chegarem ao meio da ponte, Caitlin mais uma vez se surpreende. Ela não achava ainda houvesse algo que pudesse surpreendê-la depois de ver as cabeças empaladas, mas não esperava por isso.

Bem ali, no meio da ponte, três prisioneiros estão em pé sobre um tablado, com cordas ao redor do pescoço e vendas nos olhos; quase nus e ainda vivos. O carrasco está atrás deles, vestindo um capuz preto com buracos para os olhos.

"O próximo enforcamento será às treze horas!” ele grita. Um grupo enorme se amontoa ao redor do tablado, aparentemente esperando.

"O que eles fizeram?" Caitlin pergunta para um dos expectadores.

"Eles foram pegos roubando, senhorita," ele responde, sem se incomodar em olhar para ela.

“E um deles foi pego falando mal da Rainha!” uma velha informa.

Caleb afasta Caitlin da cena macabra.

“Assistir a execuções parece ser o esporte favorito aqui na região," Caleb comenta.

“É cruel," Caitlin diz. Ela se espanta com as diferenças entre aquela sociedade e a sociedade moderna, e com a tolerância que o povo demonstra diante da crueldade e violência. E aquela é Londres, uma dos lugares mais civilizados de 1599. Ela não quer nem imaginar como as coisas são longe de uma cidade civilizada como aquela. Ela acha curioso como a sociedade, e suas regras, tinham mudado.

Eles finalmente terminam de atravessar a ponte e, enquanto estão parados do outro lado, Caitlin olha para Caleb. Ela pega o anel, e lê a mensagem de novo.


Across the Bridge, Beyond the Bear,


With the Winds or the sun, we bypass London

"Bem, se estamos interpretando isso corretamente, acabamos de ‘atravessar a ponte.’ O próximo passo seria ‘Além do urso.’” Caitlin olha para ele. “O que isso quer dizer?"

“Também gostaria de saber," ele responde.

"Sinto que meu pai está por perto," Caitlin diz.

Ela fecha os olhos, e se esforça para pensar em alguma pista.

Naquele instante, um garoto, carregando uma pilha enorme de panfletos, passa rapidamente por eles, gritando enquanto anda. "RINHAS DE URSOS! Cinco centavos! Por aqui! RINHAS DE URSOS! Cinco centavos! Por aqui!”

Ele estica o braço e enfia um panfleto nas mãos de Caitlin. Ela olha para o papel e vê, em letras enormes, as palavras “Rinha de Urso,” com um desenho mal feito de um estádio.

Ela olha para Caleb, e ele olha para ela ao mesmo tempo. Os dois observam o garoto que se começa a se afastar.

“Rinhas de Urso?" Caitlin pergunta. “O que é isso?”

“Estou me lembrando,” Caleb diz. “Costumava ser um esporte popular, na época. Eles colocam um urso no meio de uma roda, e o amarram a um poste, usando-o como isca para cães selvagens. Então eles fazem apostas para ver quem ganha: o urso ou os cães.”

"Isso é doentio," Caitlin fala.

"A charada,” ele diz. “‘Atravessando a ponte, e Além do urso. Você acha que pode ser isso?”

Juntos, eles se viram e começam a seguir o garoto, agora um pouco adiante deles e ainda gritando.

Eles viram à direita na base da ponte e caminham ao longo do rio, agora do outro lado do Tamisa, andando por uma rua chamada "Clink Street." Este lado do rio,Caitlin pode perceber, é bem diferente do outro. Ele é menos desenvolvido, e há menos gente. As casas também são mais baixas, mais simples; este lado do rio é bem mais negligenciado. Certamente há menos lojas, grupos menores de pessoas.

Eles logo chegam até uma estrutura enorme, e Caitlin percebem pelas barras nas janelas e guardas diante da porta, que se trata de uma prisão.

Clink Street, Caitlin pensa; que nome apropriado.

O prédio é gigantesco e ao passarem diante dele, Caitlin vê as mãos e os rostos de alguns prisioneiros pelas grades, observando-a enquanto ela anda. Há centenas de prisioneiros presos lá dentro, provocando e insultando os transeuntes.

Ruth rosna para eles, e Caleb se aproxima dela.

Eles continuam caminhando, e passam por uma rua com uma placa que diz “Lugar do Homem Morto.” Caitlin olha para o lado e vê outro tablado, com outra execução sendo preparada. Um prisioneiro, tremendo, está em pé na plataforma com os olhos vendados e a corda ao redor do pescoço.

Caitlin está tão distraída que quase perde o garoto de vista, e sente quando Caleb segura na sua mão para continuarem descendo a Clink Street.

Ao retomarem o caminho, Caitlin de repente escuta um grito à distância, e então um bramido. Ela vê o garoto, um pouco à frente, virar em uma rua e depois ouve outro grito. Ela fica surpresa ao sentir o chão tremer sob seus pés; não sentia nada assim desde aquele dia no Coliseu. Ela percebe que deve haver algum estádio virando a rua.

Ao dobrarem a esquina, ela fica espantada com a cena. O estádio é uma estrutura circular enorme, parecida com uma miniatura do Coliseu. A construção tem vários andares e é fechada, mas há portas de acesso em todas as direções. É possível ouvir os gritos, mais altos agora, vindos de dentro do estádio.

Centenas de pessoas esperam ao redor do prédio, algumas das pessoas mais mal cuidadas que Caitlin já tinha visto. Alguns estão quase despidos, com barrigas enormes aparecendo, com a barba por fazer e sem tomar banho. Cães selvagens vagam pela multidão e Ruth rosna; os pelos de suas costas se arrepiam, ela está claramente incomodada.

Vendedores empurram seus carrinhos pela lama, alguns deles vendendo quartilhos de gim. Pelo visto, a maior parte da multidão havia aproveitado a oferta; pessoas se empurram bruscamente, muitos deles claramente bêbados. Outro grito é ouvido, e ao olhar para cima, Caitlin localiza uma placa pendurada diante do estádio: “Rinhas de Ursos.”

Ela se sente mal ao ver a placa. As pessoas daquela sociedade eram mesmo tão cruéis?

O pequeno estádio parece fazer parte de um complexo. À distância, há outro pequeno estádio, com uma placa enorme onde se lê: “Rinhas de Touros”. Um pouco adiante, separada destes dois estádios, há outra estrutura circular – embora esta seja um pouco diferente das demais, com um pouco mais de classe.

"Venham conferir a nova peça de Will Shakespeare no Teatro Globe!" grita um garoto, enquanto passa carregando uma pilha de panfletos. Ele se aproxima de Caitlin e lhe envia um panfleto nas nãos. Ela olha para o papel, onde está escrito: “a nova peça de William Shakespeare: A tragédia de Romeu e Julieta.”

"Você irá comparecer, senhorita?" o garoto questiona. "É uma peça nova, e será apresentada pela primeira vez no teatro recém-inaugurado: o Globe.”

Caitlin olha para o panfleto, sentindo-se animada. Aquilo era sério? Estava mesmo acontecendo?

“Onde é o teatro?" ela pergunta.

O garoto ri, se vira e aponta. "Bem, fica por ali, senhorita.”

Caitlin olha para a direção que ele indica, e vê uma estrutura circular ao longe, com paredes de estuque e a borda de madeira ao estilo Tudor. O Globe. O Teatro Globe de Shakespeare- é incrível; ela realmente está ali.

Milhares de pessoas perambulam diante do teatro, vindas de todas as direções. E a plateia parece ser tão mal encarada quanto o grupo que se dirige às rinhas de urso e touro, o que a deixa surpresa. Ela sempre havia imaginado que os frequentadores do teatro de Shakespeare fossem mais civilizados e sofisticados. Ela nunca tinha realmente considerado que se tratava de um entretenimento para as massas – e o pior tipo de gente. O teatro parece ser tão apreciado quanto as rinhas de ursos.

Sim, ela adoraria assistir a nova peça de Shakespeare, adoraria conhecer o Globe. Mas ela está determinada a completar sua missão primeiro, e a resolver a charada.

Um novo grito irrompe no estádio das rinhas de ursos, e ela se vira e concentra suas atenções novamente no local. Ela se pergunta se a resposta de sua charada estaria além daquelas portas.

Caitlin se dirige a Caleb.

"O que você acha?" ela pergunta. “Devemos ir até lá ver do que se trata?”

Caleb parece hesitar.

“A charada realmente fala em uma ponte,” ele diz, “e em um urso. Mas meus sentidos estão me dizendo outra coisa. Não tenho tanta certeza—”

De repente, Ruth rosna e sai em disparada.

"Ruth!" Caitlin grita.

Mas ela se foi; nem ao menos vira para escutar, e continua correndo com tudo que tem.

Caitlin fica chocada. Ela nunca tinha visto Ruth se comportar assim antes, mesmo quando estava completamente faminta. O que teria a atraído dessa forma? Ruth não costumava ignorá-la.

Caitlin e Caleb começam a correr atrás dela, ao mesmo tempo.

Mas mesmo com sua velocidade vampire, é difícil atravessar toda aquela lama, e Ruth é mais rápida do que eles. Eles veem quando ela vira e atravessa a multidão, e eles precisam empurrar para não perdê-la de vista. Caitlin consegue ver, adiante, quando Ruth vira em uma rua e corre na direção de um beco estreito. Ela aumenta o ritmo, assim como Caleb, empurrando um homem para fora do caminho e entrando no beco atrás dela.

O que será que ela está procurando? Caitlin pensa. Ela se pergunta se seria algum cachorro perdido, ou talvez tivesse chegado ao limite da fome e partido em busca de algo para comer. Ela é um lobo, afinal. Caitlin precisa se lembrar disso; deveria ter se esforçado mais para encontrar algum alimento para ela, e deveria ter feito isso antes.

Mas ao virar a rua e entrar no beco, Caitlin percebe, espantada, o que Ruth havia encontrado.

Uma garotinha de aproximadamente oito anos está sentada no fim do beco, em meio à sujeira, chorando e tremendo. Um homem enorme, bem maior que a garota, sem camisa e com a barriga exposta para fora da calça, barbudo e com os ombros e o peito cobertos de pelos, está parado perto dela. Ele tem o rosto contorcido pela raiva, e vários dentes faltando; o homem ergue o braço segurando um cinto de couro, e bate nas costas da pobre garota, repetidas vezes.

"É isso que você merece por não ter me escutado!" o homem grita com uma voz assustadora, ao erguer o cinto mais uma vez.

Caitlin está estarrecida e, sem pensar, se prepara para defender a garota.

Mas Ruth chega até ela primeiro. Ruth tinha dado o primeiro passo, e quando o homem ergue o braço mais uma vez, ela dispara e salta no ar, abrindo a boca.

Ela morde o antebraço do homem, enfiando suas presas até o fim. O sangue do homem espirra para todos os lados, enquanto ele solta um grito sobrenatural.

Ruth está furiosa, e não se dá por satisfeita. Ela rosna e balança a cabeça para os lados, perfurando ainda mais o braço do homem, sem soltá-lo.

O homem chacoalha Ruth, conseguindo fazer isso apenas devido ao seu tamanho considerável e ao fato de que Ruth ainda não era o lobo adulto. Ela continua rosnando, e o som é assustador o suficiente para fazer os cabelos de Caitlin se arrepiarem.

Mas este homem está obviamente acostumado à violência, e ele gira o ombro e consegue bater Ruth contra a parede. Então, ele estica o outro braço e bate nas costas de Ruth com o cinto.

Ruth dá um latido e geme, soltando finalmente o braço do homem ao cair no chão.

O homem, com ódio no olhar, levanta os dois braços prestes a chicotear Ruth com todas suas forças.

Caitlin reage rápido e, antes que o homem possa acertar Ruth, ela parte para cima dele esticando o braço direito e agarrando o pescoço dele com a mão. Ele o empurra pelo pescoço, ergue o homem e bate o corpo dele contra a parede, derrubando alguns tijolos.

Ela continua segurando o homem pelo pescoço, enforcando-o, e o rosto dele começa a ficar azul. Caitlin é bem menor que o homem, mas ele não tem a menor chance diante de seu punho de ferro.

Finalmente, ela o liberta. Ele se levanta, tentado alcançar o cinto, e Caitlin lhe dá um chute forte no rosto, quebrando seu nariz.

Então ela dá outro chute no peito dele, tão forte que arremessa o homem vários metros pra trás. Ele bate na parede com tanta força que deixa uma marca na parede, caindo finalmente desacordado.

Mas Caitlin ainda pode sentir o ódio percorrendo suas veias. Ela pensa na garotinha inocente, em Ruth, e é tomada por um sentimento de raiva que não sentia há muito tempo. Ela não consegue se controlar e, caminhando até onde ele está, arranca o cinto de sua mão e lhe dá uma cintada forte na barriga.

O homem se senta, levando as mãos à barriga.

Então Caitlin o chuta com força, bem no rosto. Ela acerta o queixo dele, arremessando-o para trás, e o homem bate a parte de trás de sua cabeça no chão. Finalmente ele cai, inconsciente.

Mas Caitlin ainda não está satisfeita. Ela não tinha muitas oportunidades para liberar sua raiva ultimamente, e agora, ela não consegue parar.

Ela dá um passo adiante, coloca um pé sobre a garganta dele, e se prepara para matá-lo sem medir as consequências.

"Caitlin!" diz uma voz aguda.

Ela se vira, ainda descontrolada pela raiva, e vê Caleb em pé ao lado dela. Ele balança a cabeça lentamente, com um olhar de reprimenda.

"Você já fez causou bastante estrago. Deixe-o ir. "

Algo na voz de Caleb a faz escutar.

Em contragosto, ela tira o pé de cima do pescoço do homem.

Ao longe, ela vê uma enorme banheira cheia de dejetos humanos. Ela pode ver o líquido escuro e espesso que transborda da banheiras, e consegue sentir o cheiro de longe.

Perfeito.

Ela estende a mão, içando o homem acima de sua cabeça, apesar de seu peso que facilmente supera os 120 quilos, e o leva até o outro lado da rua. Ela o joga, de cabeça, para dentro do tanque de esgoto.

Ele cai, espirrando o líquido para todos os lados. Ela vê que ele está submerso até o pescoço, rodeado de excremento. Quando o homem acordar, e perceber onde está, terá uma desagradável surpresa e, finalmente, Caitlin se sente satisfeita.

Bom, ela pensa. Éesse o lugar que você merece.

Caitlin imediatamente pensa em Ruth. Ela corre até ela, e examina a marca de cinto em suas costas; ela está assustada, e recuperando lentamente a confiança. Caleb também se aproxima para examiná-la, e Ruth coloca o focinho no colo da Caitlin, choramingando. Caitlin a beija na testa.

Ruth de repente se afasta deles e dispara para o outro lado do beco, na direção da menina.

Caitlin se vira e de repente se lembra, e também começa a correr na direção dela.

Ruth corre até a garota e começa a lamber seu rosto. A menina, que chorava histericamente, lentamente se silencia, distraída com a língua de Ruth. Ela se senta na lama, com seu vestido sujo, coberta de marcas de cinto nas costas, com sangue umidecendo o tecido, e olha para Ruth, surpresa.

Seus olhos marejados se abrem de surpresa enquanto Ruth continua a lamber seu rosto. Finalmente, ela ergue a mão lentamente e, hesitante, começa a acariciar. Então ela a abraça, e Ruth reage, aproximando-se um pouco mais.

É incrível, pensa Caitlin; Ruth tinha encontrado está garota quando ainda estavam a quarteirões de distância. É como se as duas já se conhecessem há anos.

Caitlin se aproxima e se ajoelha ao lado da garota, estendendo o braço para ajudá-la a se sentar.

"Está tudo bem?" Caitlin pergunta.

A garota olha para ela surpresa, e então olha na direção de Caleb. Ela pisca algumas vezes, como se estivesse se perguntando quem seriam aquelas pessoas.

Finalmente, lentamente, ela assente com a cabeça. Seus olhos se abrem surpresos, e ela parece assustada demais para falar.

Caitlin estende a mão e gentilmente acaricia a cabeça da garota, retirando o cabelo da frente de seu rosto. “Está tudo bem," Caitlin diz. "Ela não vai mais lhe causar nenhum mal.”

A garota parece prestes a começar a chorar novamente.

"Eu sou Caitlin," ela diz, "e esse é Caleb.”

A garota olha para eles, ainda sem falar nada.

"Qual é o seu nome?" Caitlin pergunta.

Depois de alguns segundos, a garota finalmente responde: “Scarlet."

Caitlin sorri. “Scarlet," ela repete. "Que nome bonito. Onde estão seus pais?"

Ela balança a cabeça. "Eu não tenho pais. Ele é meu tutor, e eu o odeio. Ele me bate todos os dias, sem motivo algum. Eu o odeio, por favor, não me façam voltar para casa; eu não tenho mais ninguém.”

Caitlin olha para Caleb, e vê que ele olha para ela, ambos pensando a mesma coisa ao mesmo tempo.

"Você está em segurança agora,” Caitlin diz. “Você não precisa se preocupar mais, pode vir conosco.”

Os olhos de Scarlet se abrem de surpresa e felicidade, e ela quase esboça um sorriso.

"Sério?" ela pergunta.

Caitlin retribui o sorriso, estendendo a mão para Scarlet, e ajudando-a a ficar em pé. Ela vê os ferimentos nas costas da garota, ainda escorrendo sangue, e de algum lugar dentro de seu ser, Caitlin sente surgir um poder inexplicável. Ela pensa em tudo que Aiden a tinha ensinado, no poder de se unir ao universo, e de seu íntimo, ela sente um poder incomparável ao que já havia experimentado. Ela sempre havia encontrado forças em sua raiva, mas nada comparado a isso. Este poder é diferente, – algo novo, que surge em seus pés e sobe lentamente pelo seu corpo, passando pelos seus braços até chegar às pontas de seus dedos.

É o poder da cura.

Caitlin fecha os olhos e estende os braços, colocando as mãos gentilmente sobre as costas de Scarlet, em cima das cicatrizes. Ela respira profundamente, e invoca o poder do universo, e todas as coisas que Aiden tinha ensinado – concentrando-se em enviar energia da cura para a garota. Ela sente quando suas mãos ficam quentes e uma energia incrível atravessando seu corpo.

Caitlin não sabe ao certo quanto tempo havia passado quando abre os olhos mais uma vez. Ela olha para cima, abrindo-os lentamente, e vê que Scarlet a encara, completamente espantada. Caleb também a encara, com igual surpresa.

Caitlin olha para Scarlet, e vê que suas feridas estão completamente cicatrizadas.

"Você é uma feiticeira?" Scarlet pergunta.

Caitlin abre um largo sorriso. "Mais ou menos."




CAPÍTULO SEIS


Sam sobrevoa o interior britânico, com Polly ao seu lado, mantendo certa distância. Suas asas estão completamente abertas e muito próximas, mas não se encostam, pois ambos querem um pouco de espaço entre si. Sam prefere que as coisas sejam assim, e presume que ela também. Ele gosta de Polly de verdade, mas depois de seu problema com Kendra, Sam não se sente pronto para se aproximar de qualquer pessoa do sexo oposto por um bom tempo. Seria preciso algum tempo até que conseguisse confiar em outra pessoa novamente, mesmo em alguém que tinha sido amiga de sua irmã, como Polly parecia ser.

Eles já estavam voando há horas; Sam olha para terra sob a luz da manhã, e vê intermináveis plantações, e algumas casas de fazenda com fumaça saindo pela chaminé, mesmo em um dia agradável como aquele. Às vezes ele pode ver um humano andando pelo jardim, cuidando das roupas, pendurando lençóis no varal. Mas não há muitas casas, a área parece ser inteiramente rural, e ele começa a se perguntar se havia cidades no período em que estavam – seja lá qual fosse.

Sam não faz ideia par aonde ir, e Polly não havia ajudado. Ambos tinham usado seus sentidos vampiros para tentar localizar Caitlin, tentando usar a proximidade com ela para tentar determinar onde ela estava. Eles tinham concordado que ela estava em algum lugar naquela direção, e estavam voando desde então. Mas mesmo depois de horas, eles não tinham encontrado mais nenhuma prova ou pista concreta. Os instintos de Sam lhe diziam que ela estava em uma cidade grande, mas eles não tinham passado por nada remotamente parecido com uma cidade desde que tinham começado a voar.

Justo quando Sam estava começando a se perguntar se estavam voando na direção certa, eles fazem uma curva e, assim que o fazem, Sam fica surpreso com o que vê a distância. No horizonte ao longe, uma cidade enorme se estende diante de seus olhos. Ele não consegue identificar qual cidade é aquela, e não tem certeza se poderia reconhecê-la mesmo se estivesse mais perto. Ele nunca tinha sido bom de geografia, e de história era ainda pior. Isso era o resultado de muitas mudanças de escola, das amizades erradas e da falta de atenção durante as aulas. Ele sempre tinha sido um aluno mediando, embora soubesse de seu potencial para ser um dos melhores. Mas com sua criação, havia sido difícil para ele encontrar um motivo para tentar, ou se importar – e agora ele se arrependia.

"É Londres!" Polly grita, alegre e surpresa. "Ai meu Deus! Londres! Mal posso acreditar. Estamos aqui! Realmente estamos aqui! Que lugar incrível para estarmos!" ela grita, excitada.

Ainda bem que Polly está aqui, pensa Sam, sentindo-se mais burro do que nunca, e percebendo o quanto pode aprender com ela.

Quando se aproximam e conseguem ver os prédios, ele fica se espanta com a arquitetura. Mesmo à distância, ele pode ver os campanários das igrejas erguendo-se até o céu, e pontuando a cidade como um campo de lanças. Ao se aproximarem ainda mais, ele vê a real magnitude das igrejas – e fica surpreso que já pareçam tão antigas. Ao lado delas, o resto da cidade parece apenas uma miniatura.

Quando começam a absorver tudo, ele sente a forte presença de Caitlin na cidade, e começa a se sentir entusiasmado.

"Caitlin está aqui!" ele grita. "Posso senti-la.”

Polly sorri para ele. "Eu também!" ela grita.

Pela primeira vez desde que havia chegado naquele tempo e lugar, Sam finalmente se sente em casa, com um forte senso de direção e propósito. Finalmente, ele sente que está no caminho certo.

Ele tenta se concentrar para ver se ela está em perigo, mas por mais que ele tente, não consegue ver nada. Ele pensa na última vez que tinha visto Caitlin, logo antes de sua fuga de Notre Dame. Ela estava na companhia daquele garoto – Caleb – e ele se pergunta se os dois ainda estariam juntos. Ele tinha visto Caleb apenas uma ou duas vezes, mas gostava bastante dele. Ele espera que Caitlin esteja com ele, e que Caleb esteja cuidando bem dela. A ideia dos dois juntos lhe parece certa.

Polly de repente mergulha sem avisar, aproximando-se dos telhados. Talvez ela não faça questão que Sam a siga, ou talvez presuma que ele o faça. Isso irrita Sam, ele gostaria que ela o tivesse avisado, ou que pelo menos se importasse com ele o suficiente para dar algum sinal de que estava prestes a voar mais baixo. Ainda assim, uma parte dele sente que ela se importa. Ela estaria apenas se fazendo de difícil?

E por que ele se importava tanto? Ele não havia acabado de dizer que não estava interessado em garotas naquele momento?

Sam mergulha, se aproximando dela, e eles voam alguns metros acima da cidade. Mas ele faz questão de voar um pouco mais para a esquerda, de modo que fiquem ainda mais longe um do outro. Tome isso, pensa Sam.

Ao se aproximarem do centro da cidade, Sam não consegue acreditar no que vê. Aquilo é tão diferente de tudo que ela já tinha visto e vivenciado em toda sua vida. Ele está tão perto dos telhados, que sente que se estendesse o braço poderia tocá-los. A maioria das construções é baixa, com apenas alguns andares, e eram construídas com telhados inclinados cobertos por algo que se parece com feno ou palha. Muitos dos prédios são pintados de branco, alguns com bordas de madeira escura. As igrejas – enormes , de mármore ou calcário, – erguem-se acima da cidade, dominando quarteirões inteiros, e aqui e ali algumas outras grandes estruturas parecendo palácios pontuam a paisagem. Ele imagina que sejam residências da realeza.

Eles agora sobrevoam um grande rio, que divide a cidade. O rio é bastante movimentado pelo tráfego de barcos de todos os formatos e tamanhos e, ao olhar paras as ruas, Sam vê que elas também estão repletas de gente. Na verdade, ele mal consegue acreditar no movimento que vê nas ruas; há pessoas andando para todos os lados, e ele não consegue imagina pra quê tanta pressa. Não é como se tivessem internet, e-mails, faxes ou até mesmo telefones.

Ainda assim, outras partes da cidade parecem relativamente calmas. As ruas de terra, o rio, e todos os barcos transmitem uma sensação de tranquilidade. Não há carros em alta velocidade, ônibus, caminhões, ou motos costurando o trânsito. Tudo é relativamente calmo.

Isto é, até que ouvem o grito de uma multidão.

Sam olha na direção do barulho, e Polly faz o mesmo.

Afastado, à direita deles, eles veem um grande estádio, construído como um círculo perfeito e com diversos andares. O prédio o faz pensar no Coliseu de Roma, embora seja bem menor.

De onde está, ele vê o que parece ser um animal de grande porte no centro do estádio, correndo em círculos com vários outros animais menores correndo em volta dele. Ele não consegue entender exatamente o que está acontecendo, mas pode ver que o estádio está repleto de espectadores, todos em pé, aplaudindo e gritando.

Seu corpo começa a formigar de repente, não por que ele percebe o que está acontecendo, mas por que sente a presença certa de Caitlin naquele lugar.

"Minha irmã!" ele grita na direção de Polly. "Ela está lá dentro," ele diz, apontando. “Tenho certeza.”

Polly olha para baixo, franzindo o cenho.

"Não tenho tanta certeza," ela diz. "Não sinto nada."

Ela vira o rosto na outra direção, e aponta para uma ponte que surge diante deles. "Sinto que ela está ali."

Sam olha, e vê uma grande ponte sobre o rio. Ele fica surpreso ao perceber que há várias lojas em cima dela, e mais ainda ao ver, enquanto sobrevoam a ponte, que há diversos prisioneiros em pé sobre um tablado, com cordas ao redor do pescoço e capuzes sobre as cabeças. É evidente que eles estão prestes a serem executados, e um grupo de espectadores se amontoa ao redor deles.

"Certo," Sam diz, e de repente mergulha na direção da ponte. Ele tenta repetir o gesto dela, e ser o primeiro a tomar uma atitude desta vez.

Sam aterrissa na ponte, sem olhar para trás, e instantes depois sente quando Polly aterrissa alguns metros atrás dele. Ela o alcança, e os dois caminham lado a lado, mantendo a distância, ele sem olhar para ela, e ela sem olhar para ele. Ele está feliz que estejam conseguindo manter a relação entre eles puramente profissional. Não há nada entre eles nem remotamente parecido com intimidade, que é obviamente o que ambos desejam.

Sam fica espantado com o que vê na ponte, com tantos estímulos vindos de todas as direções.

"Quer curtir o seu couro, meu bom rapaz?” um homem pergunta, encostando um pedaço de pele de vaca em seu rosto. O homem tem mau hálito, e Sam desvia dele.

"Pra onde?" Sam pergunta para Polly.

Ela observa a ponte, procurando Caitlin, e Sam faz o mesmo. Mas não há qualquer sinal dela.

Polly finalmente ergue os ombros. “Eu não sei,” ela diz. “Eu havia sentido a presença dela aqui antes, mas agora… não tenho tanta certeza.”

Sam se vira e olha para trás, na direção do estádio.

“Senti a presença dela lá atrás,” ele fala. “Dentro daquele estádio que sobrevoamos.”

"Certo,” Polly diz, “vamos para lá. Mas vamos andando – caso ela esteja na ponte."

Enquanto andam pela ponte, passando pelos vários vendedores, Polly parece se animar mais uma vez, e lentamente volta a ser como era. "Veja o costume destas pessoas!" ela exclama. "Quero dizer, olhe para o que vestem! É incrível, não é mesmo? Acho que não vestiria algo assim nem se estivesse morta, mas posso entender a praticidade dessas roupas. Como será que a moda surge? Quero dizer,como será que as coisas mudam de geração em geração? Estava pensando, se eu vivesse aqui, se fosse uma dessas pessoas, que cor eu usaria…"

Sam suspira. Polly tinha começado a falar de novo, e ele sabe que não há meio de interrompê-la agora. Secretamente, ele deixa de escutá-la.

Enquanto caminham, Sam observa os rostos de todas as pessoas na ponte, procurando por algum sinal de Caitlin. Ele acredita tê-la encontrado algumas vezes, mas então vê que não se trata dela. Em uma ocasião, ele vê uma garota por trás, e coloca a mão em seu ombro.

“Caitlin!” ele exclama.

Mas a garota se vira, e ele fica envergonhado ao perceber que não é ela; a garota lhe dá um olhar estranho, e se afasta.

Logo eles chegam ao final da ponte, e Sam vê uma placa enorme que diz “Southwark.” Ele vira para a direita, na direção do estádio.

Eles andam por uma rua chamada “Clink Street,” e passam diante de uma prisão. Ele ouve outro grito da multidão, e Sam tem certeza que Caitlin está lá – sua irmã, a alguns quarteirões de distância.





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Em COMPROMETIDA (Livro 6 de Memórias de um Vampiro) Caitlin e Caleb voltam no tempo novamente – desta vez, para Londres, em 1599. A Londres de 1599 é um lugar selvagem, repleta de paradoxos: enquanto por um lado é uma época extremamente esclarecida e sofisticada, produzindo escritores como Shakespeare, por outro lado, é também um período cruel de torturas e empalamentos. É também um período de muita superstição e muito perigo, dada à falta de saneamento e a Peste Bubônica que se espalha pelas ruas, transmitida por ratos. É neste ambiente que Caitlin e Caleb retomam a busca pelo pai dela, pela terceira chave e pelo Escudo que pode salvar toda a humanidade. A missão os leva por vários pontos medievais da arquitetura londrina, e pelos castelos mais impressionantes do interior britânico. Eles passam pelo coração de Londres, onde conhecem Shakespeare, e têm a oportunidade de assistir uma de suas peças. Eles encontram Scarlet, uma garota que pode vir a se tornar filha deles. O amor de Caitlin por Caleb se aprofunda quando finalmente ficam juntos – e Caleb pode ter a oportunidade que procura para pedi-la em casamento. Sam e Polly também viajam no tempo, e envolvidos em sua própria jornada, a relação deles se aprofunda quando eles não conseguem evitar os sentimentos que começam a tomar conta de seus corações. Mas nem tudo vai bem. Kyle também retornou, assim como seu parceiro, Sergei, e eles estão decididos a acabar com a felicidade de Caitlin. Será uma corrida até o final, à medida que Caitlin é forçada a tomar as decides mais difíceis de sua vida se quiser salvar as pessoas que lhe são importantes, salvar seu relacionamento com Caleb e – quem sabe, sobreviver.

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