Книга - Apenas os Dignos

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Apenas os Dignos
Morgan Rice


O Caminho da Robustez #1
De Morgan Rice, a autora do best-seller nº1 do O ANEL DO FEITICEIRO, chega uma nova série de fantasia fascinante. APENAS OS DIGNOS (O Caminho da Robustez – Livro nº1) narra a história épica da transição da adolescência para a vida adulta de Royce, 17, um camponês que sente que, com suas habilidades de luta especiais, é diferente de todos os outros rapazes da sua aldeia. Dentro de si, reside um poder que ele não entende e um destino oculto que ele tem medo de enfrentar. No dia em que está para casar com o seu verdadeiro amor, Genevieve, ela é levada para longe dele. Royce escolhe arriscar tudo para enfrentar os nobres que a levaram e para tentar salvar o seu amor. Ao falhar, ele é condenado à infame Ilha Negra, uma ilha árida de guerreiros conhecidos por transformar rapazes em homens. Banido da sua pátria, Royce tem de efetuar treinos que nem imagina enquanto é ensinado a sobreviver às célebres Arenas – o brutal desporto sangrento do reino. Genevieve, por sua vez, desesperada pelo regresso de Royce, é forçada a navegar pelo mundo cruel e conivente da aristocracia encontrando-se imersa num mundo que despreza. No entanto, quando os poderes de Royce se tornam mais fortes e ele fica a saber que existe um segredo por detrás da misteriosa linhagem do seu pai, ele começa a perceber que o seu destino pode ser melhor do que pensava. Ele começa a indagar-se sobre a questão mais terrível de todas: quem é ele?APENAS OS DIGNOS tece um conto épico de amigos e amantes, de cavaleiros e honra, de traição, destino e amor. Um conto de valentia, que nos leva para um mundo de fantasia pelo qual nos vamos apaixonar e que apela a todas as idades e sexos.





Morgan Rice

Apenas os Dignos (O Caminho da Robustez – Livro n 1)




Morgan Rice

Morgan Rice é a best-seller nº1 e a autora do best-selling do USA TODAY da série de fantasia épica O ANEL DO FEITICEIRO, composta por dezassete livros; do best-seller nº1 da série OS DIÁRIOS DO VAMPIRO, composta por onze livros (a continuar); do best-seller nº1 da série TRILOGIA DA SOBREVIVÊNCIA, um thriller pós-apocalíptico composto por dois livros (a continuar); e da nova série de fantasia épica REIS E FEITICEIROS, composta por três livros (a continuar). Os livros de Morgan estão disponíveis em áudio e versões impressas e as traduções estão disponíveis em mais de 25 idiomas.

Morgan adora ouvir a sua opinião, pelo que, por favor, sinta-se à vontade para visitar www.morganricebooks.com (http://www.morganricebooks.com/) e juntar-se à lista de endereços eletrónicos, receber um livro grátis, receber ofertas, fazer o download da aplicação grátis, obter as últimas notícias exclusivas, ligar-se ao Facebook e ao Twitter e manter-se em contacto!



Seleção de aclamações para Morgan Rice

"Se pensava que já não havia motivo para viver depois do fim da série O ANEL DO FEITICEIRO, estava enganado. Em A ASCENSÃO DOS DRAGÕES Morgan Rice surgiu com o que promete ser mais uma série brilhante, fazendo-nos imergir numa fantasia de trolls e dragões, de valentia, honra, coragem, magia e fé no seu destino. Morgan conseguiu mais uma vez produzir um conjunto forte de personagens que nos faz torcer por eles em todas as páginas… Recomendado para a biblioteca permanente de todos os leitores que adoram uma fantasia bem escrita."



    --Books and Movie Reviews
    Roberto Mattos

"Uma ação carregada de fantasia que irá certamente agradar aos fãs das histórias anteriores de Morgan rice, juntamente com os fãs de trabalhos tais como O CICLO DA HERANÇA de Christopher Paolini…Fãs de ficção para jovens adultos irão devorar este último trabalho de Rice e suplicar por mais."



    --The Wanderer, A Literary Journal (referente a Ascensão dos Dragões)

"Uma fantasia espirituosa que entrelaça elementos de mistério e intriga no seu enredo. A Busca de Heróis tem tudo a ver com a criação da coragem e com a compreensão do propósito da vida e como estas levam ao crescimento, maturidade e excelência… Para os que procuram aventuras de fantasia com sentido, os protagonistas, estratagemas e ações proporcionam um conjunto vigoroso de encontros que se relacionam com a evolução de Thor desde uma criança sonhadora a um jovem adulto que procura a sobrevivência apesar das dificuldades… Apenas o princípio do que promete ser uma série de literatura juvenil épica."



    --Midwest Book Review (D. Donovan, eBook Reviewer)

"O ANEL DO FEITICEIRO reúne todos os ingredientes para um sucesso instantâneo: enredos, intrigas, mistério, valentes cavaleiros e relacionamentos que florescem repletos de corações partidos, decepções e traições. O livro manterá o leitor entretido por horas e agradará a pessoas de todas as idades. Recomendado para a biblioteca permanente de todos os leitores do género de fantasia."



    --Books and Movie Reviews, Roberto Mattos.

"Neste primeiro livro cheio de ação da série de fantasia épica Anel do Feiticeiro (que conta atualmente com 14 livros), Rice introduz os leitores ao Thorgrin "Thor" McLeod de 14 anos, cujo sonho é juntar-se à Legião de Prata, aos cavaleiros de elite que servem o rei… A escrita de Rice é sólida e a premissa intrigante."



    --Publishers Weekly



Livros de Morgan Rice

O CAMINHO DA ROBUSTEZ

APENAS OS DIGNOS (Livro nº1)



DAS COROAS E GLÓRIA

ESCRAVA, GUERREIRA E RAINHA (Livro nº1)



REIS E FEITICEIROS

A ASCENSÃO DOS DRAGÕES (Livro nº1)

A ASCENSÃO DOS BRAVOS (Livro nº2)

O PESO DA HONRA (Livro nº3)

UMA FORJA DE VALENTIA (Livro nº4)

UM REINO DE SOMBRAS (Livro nº5)

A NOITE DOS CORAJOSOS (Livro nº6)



O ANEL DO FEITICEIRO

EM BUSCA DE HERÓIS (Livro nº1)

UMA MARCHA DE REIS (Livro nº2)

UM DESTINO DE DRAGÕES (Livro nº3)

UM GRITO DE HONRA (Livro nº4)

UM VOTO DE GLÓRIA (Livro nº5)

UMA CARGA DE VALOR (Livro nº6)

UM RITO DE ESPADAS (Livro nº7)

UM ESCUDO DE ARMAS (Livro nº8)

UM CÉU DE FEITIÇOS (Livro nº9)

UM MAR DE ESCUDOS (Livro nº10)

UM REINADO DE AÇO (Livro nº11)

UMA TERRA DE FOGO (Livro nº12)

UM GOVERNO DE RAINHAS (Livro nº 13)

UM JURAMENTO DE IRMÃOS (Livro nº 14)

UM SONHO DE MORTAIS (Livro nº 15)

UMA JUSTA DE CAVALEIROS (Livro nº 16)

O PRESENTE DA BATALHA (Livro nº 17)



TRILOGIA DE SOBREVIVÊNCIA

ARENA UM: TRAFICANTES DE ESCRAVOS (Livro nº 1)

ARENA DOIS (Livro nº 2)

ARENA TRÊS (Livro nº 3)



VAMPIRO, APAIXONADA

ANTES DO AMANHECER (Livro nº 1)



MEMÓRIAS DE UM VAMPIRO

TRANSFORMADA (Livro nº 1)

AMADA (Livro nº 2)

TRAÍDA (Livro nº 3)

PREDESTINADA (Livro nº 4)

DESEJADA (Livro nº 5)

COMPROMETIDA (Livro nº 6)

PROMETIDA (Livro nº 7)

ENCONTRADA (Livro nº 8)

RESSUSCITADA (Livro nº 9)

ALMEJADA (Livro nº 10)

DESTINADA (Livro nº 11)

OBCECADA (Livro nº 12)












Oiça a série O ANEL DO FEITICEIRO em formato Audiobook!


Copyright © 2016 por Morgan Rice. Todos os direitos reservados. Exceto conforme permitido pela Lei de Direitos de Autor dos EUA de 1976, nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, ou armazenada numa base de dados ou sistema de recuperação, sem a autorização prévia da autora. Este e-book é licenciado para o seu uso pessoal.  Este e-book não pode ser revendido ou cedido a outras pessoas.  Se quiser compartilhar este livro com outra pessoa, por favor, compre uma cópia adicional para cada destinatário.  Se está a ler este livro e não o comprou, ou se ele não foi comprado apenas para seu uso pessoal, por favor, devolva-o e adquira a sua própria cópia. Obrigado por respeitar o trabalho árduo desta autora. Esta é uma obra de ficção.  Nomes, personagens, empresas, organizações, lugares, eventos e incidentes são produto da imaginação da autora ou foram usados de maneira fictícia.  Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é mera coincidência. Imagem da capa Copyright Dm_Cherry, usada com autorização da Shutterstock.com.


A palavra do Senhor veio até mim, dizendo: "Antes de te formar no ventre eu conhecia-te e antes de nasceres eu santifiquei-te; nomeie-te profeta para as nações."

Mas eu disse: "Ai, meu Senhor, eu não sei falar; eu sou muito jovem."

Mas o Senhor disse-me: "Não digas: 'Eu sou muito jovem.’ Em vez disso, onde quer que eu te envie, irás; e tudo o que eu te ordenar, falarás. Não os temas, porque eu estou contigo e salvar-te-ei."

    Jeremias 1: 4-7






PARTE UM





CAPÍTULO UM


Rea sentou-se na sua simples cama, a transpirar, despertada pelos guinchos que rasgavam a noite. O seu coração batia com força e ela sentou-se no escuro, esperando que não fosse nada, que fosse apenas mais um dos pesadelos que a vinham a assolar. Ela agarrou a borda do seu barato colchão de palha e pôs-se à escuta, a rezar, desejando que a noite ficasse em silêncio.

Porém, Rea ouviu mais um guincho e encolheu-se.

Em seguida, mais outro.

Eles estavam a ficar cada vez mais frequentes – e cada vez mais próximos.

Em pânico, Rea ficou ali sentada a ouvir os guinchos a aproximarem-se. Acima do som da forte chuva ouvia também o som de cavalos, fraco no início. Depois, ouvia o som característico de espadas a serem desembainhadas. Mas nenhum daqueles sons era mais alto do que os guinchos.

E, então, um novo som surgiu, um que, se é que era possível, era ainda pior: o crepitar das chamas. Rea ficou desolada ao perceber que a sua aldeia estava a ser incendiada. Isso só poderia significar uma coisa: os nobres tinham chegado.

Rea saltou da cama, batendo com o joelho nas trempes, o seu único bem na sua simples cabana de um quarto, começando a correr para fora de casa. Ela saiu para a rua lamacenta, para a chuva quente da primavera, que a molhou instantaneamente. No entanto, ela não se importava. Ela pestanejava na escuridão, tentando ainda libertar-se do seu pesadelo. A toda à sua volta, abriam-se persianas, abriam-se portas e os seus companheiros de aldeia saiam hesitantemente das suas casas. Ali estavam todos a olhar para a única e simples estrada sinuosa na aldeia. Rea olhava juntamente com eles. Ao longe avistou um brilho. Ficou preocupada. Era uma chama que se propagava.

Viver ali, na parte mais pobre da cidade, escondida atrás dos labirintos contorcidos que golpeavam o seu caminho desde a principal praça da cidade, era, num momento como aquele, uma bênção: pelo menos ali ela estaria em segurança. Nunca ninguém ia ali, àquela parte mais pobre da cidade, àquelas casas prestes a desmoronarem-se onde só os servos viviam, onde o mau cheiro das ruas forçava as pessoas a manterem-se à distância. Tinha-se sempre parecido como um gueto de onde Rea não conseguia sair.

No entanto, enquanto observava as chamas a alumiar a noite, Rea, pela primeira vez, sentia-se aliviada por viver ali atrás, escondida. Os nobres nunca se dariam ao trabalho de tentar navegar pelas ruas labirínticas e becos traseiros que iam até lá. Não havia nada para pilhar ali, afinal.

Rea sabia que era por isso que os seus vizinhos pobres apenas estavam ali fora das suas casas, sem entrar em pânico, mas apenas assistindo. Era por isso que, também, nenhum deles tinha tentado correr em auxílio dos moradores no centro da cidade, aqueles ricos que os haviam olhado de cima para baixo durante toda a sua vida. Eles não lhes deviam nada. Os pobres ali, pelo menos, estavam a salvo e não arriscariam as suas vidas para salvar aqueles que os haviam tratado como menos do que nada.

E porém, Rea observava a noite, ficando desconcertada ao ver as chamas a aproximarem-se e a noite a ficar mais brilhante. O brilho estava claramente a espalhar-se, fazendo o seu caminho a rastejar em direção a ela. Ela pestanejou, questionando-se se os seus olhos a estariam a enganar. Não fazia qualquer sentido: os saqueadores parecia estar a caminhar na sua direção.

Os guinchos ouviam-se cada vez mais, ela tinha certeza disso. Ela estremeceu quando, de repente, a quase uma centena de pés dela, chamas irromperam, emergindo das ruas labirínticas. Ela ficou ali, atordoada: eles estavam a vir na sua direção. Mas porquê?

Assim que terminou de pensar, um cavalo de batalha a galope trovejou praça adentro, montado por um cavaleiro feroz vestido com uma armadura toda preta. A viseira estava para baixo, o elmo sinistramente em crista. Empunhando uma alabarda, ele parecia um mensageiro da morte.

Mal entrou na praça, ele baixou a alabarda na direção das costas de um velho corpulento que tentava fugir. O homem não teve sequer tempo de gritar antes de a alabarda lhe cortar a cabeça.

Os relâmpagos enchiam o céu e os trovões ressoavam, com a chuva a intensificar-se, enquanto mais uma dúzia de cavaleiros invadiu a praça. Um deles erguia um estandarte, que brilhava à luz das tochas, ainda que Rea não conseguisse identificar as insígnias.

Seguiu-se o caos. Os aldeões entraram em pânico, viraram-se e correram, gritando, alguns a correr de volta para as suas casas por algum instinto remoto, escorregando na lama, alguns a fugir pelos becos. No entanto, mesmo estes não foram muito longe antes de as lanças voadoras encontrarem um lugar nas suas costas. Ela sabia que a morte não pouparia ninguém naquela noite.

Rea não tentou fugir. Ela simplesmente chegou-se para trás calmamente, enfiou a mão para lá da porta da sua cabana e sacou de uma espada, uma espada longa que lhe tinha sido dada há muito tempo, um belo trabalho de artesanato. O som que a espada fez ao ser desembainhada fez o coração de Rea acelerar. Era uma obra-prima, uma arma que ela não tinha o direito de possuir, herdada de seu pai. Ela não sabia como é que ele próprio a havia obtido.

Rea caminhou lenta e decididamente para o centro da praça da cidade, a única dos seus aldeões com coragem suficiente para resistir, para enfrentar aqueles homens. Ela, uma frágil menina de dezassete anos de idade, e sozinha, tinha a coragem de lutar perante o medo. Ela não sabia de onde vinha a sua coragem. Ela queria fugir, mas algo profundo dentro dela a proibia de o fazer. Algo dentro dela sempre a levara a enfrentar os seus medos, fossem quais fossem as probabilidades. Não que ela não sentisse pavor; ela sentia-o. Era que outra parte dela permitia-lhe funcionar perante o medo. Desafiando-a a ser mais forte do que ele.

Rea ficou ali, com as mãos a tremer, mas obrigando-se a manter o foco. E quando o primeiro cavalo galopou na sua direção, ela ergueu a sua espada, aproximou-se, inclinou-se para baixo e cortou as pernas do cavalo.

Doía-lhe fazê-lo, mutilar aquele lindo animal; afinal ela tinha passado a maior parte da sua vida a cuidar de cavalos. Mas o homem tinha levantado a sua lança e ela sabia que estava em causa a sua sobrevivência.

O cavalo soltou um guincho horrível que ela sabia que iria ficar consigo o resto dos seus dias. Ele caiu no chão, aterrando de focinho no chão e atirando o seu cavaleiro. Os cavalos que vinham trás embateram nele, tropeçando e estatelando-se no chão num amontoado à volta dela.

Numa nuvem de poeira e caos, Rea girava e enfrentava-os a todos, pronta para morrer ali.

Um cavaleiro apenas, numa armadura toda branca, montando um cavalo branco, diferente dos outros, de repente, avançou na sua direção. Ela ergueu a espada para atacar novamente, mas aquele cavaleiro era demasiado rápido. Ele movia-se como um relâmpago. Assim que ela levantou a espada, ele oscilou em arco a sua alabarda para cima, apanhando a lâmina dela, desarmando-a. Ela sentiu-se desamparada quando a sua arma preciosa lhe foi arrancada, navegando num amplo arco através do ar pousando na lama do outro lado da praça. Poderia perfeitamente ter aterrado a um milhão de milhas de distância.

Rea ficou ali, atordoada por ficar indefesa, mas acima de tudo confusa. Aquele golpe do cavaleiro não tinha tido a intensão de a matar. Porquê?

Antes de ela terminar o pensamento, o cavaleiro, ainda montado, inclinou-se para baixo e agarrou-a; ela sentiu a sua manopla de metal cravando-se no seu peito quando ele agarrou a sua camisa com as duas mãos e num único movimento ergueu-a para cima do seu cavalo, sentando-a à sua frente. Ela gritou com o choque, aterrando bruscamente no seu cavalo em movimento, firmemente plantada na frente dele, com os braços dele à sua volta, segurando-a com firmeza. Ela mal tinha tempo para pensar, muito menos para respirar. Ele segurava-a com força. Rea contorcia-se, sacudindo-se de um lado para o outro, mas de nada valia. Ele era demasiado forte.

Ele continuou, atravessando a aldeia a galope, tecendo o seu caminho através das ruas tortuosas, afastando-se da casa dela.

Eles saíram rapidamente da aldeia para o campo e, de repente, tudo ficou calmo. Eles afastaram-se a galope para cada vez mais longe do caos, da pilhagem, dos gritos. Rea não conseguia deixar de se sentir culpada ao sentir-se momentaneamente aliviada por estar novamente num mundo em paz. Sentia que deveria ter morrido lá atrás, com o povo. No entanto, quando ele a agarrou com mais força, ela percebeu que o seu destino podia ser ainda pior.

"Por favor", ela esforçou-se por dizer, com dificuldade em saírem-lhe as palavras.

Mas ele cada vez a segurava com mais força e galopava mais rapidamente para o prado, pelas colinas acima e abaixo, à chuva, até chegarem a um lugar absolutamente silencioso. Era estranho, tão calmo e tranquilo ali, como se nada nunca estivesse estado errado no mundo.

Finalmente, ele parou num amplo planalto, debaixo de uma árvore antiga, uma árvore que ela imediatamente reconheceu. Ela se havia sentado debaixo dela muitas vezes anteriormente.

Num movimento rápido, ele desmontou, continuando a segurá-la e levando-a com ele. Eles aterraram no campo molhado, a rebolar e a tropeçar. Rea sentiu-se sem fôlego quando o peso dele aterrou ao lado dela. Ao caírem ela reparou que ele poderia ter caído em cima dela, poderia tê-la realmente magoado, mas escolheu não o fazer. Na verdade, ele caiu de uma forma que amorteceu a queda dela.

O cavaleiro rebolou por cima dela, imobilizando-a. Ela olhou para ele, desesperada para ver o seu rosto. Porém, estava tapado, com a viseira branca para baixo. Apenas via a aparecerem por detrás das ranhuras do seu elmo uns olhos ameaçadores. Ela viu novamente aquela bandeira no cavalo dele e, desta vez, ela olhou bem para a sua insígnia: duas cobras, envolvidas à volta de uma lua, um punhal no meio delas, envolto num círculo de ouro.

Rea agitava-se, batendo-lhe na armadura. Mas era inútil. Eram umas mãos frágeis e pequenas a baterem num fato de metal. Era como se ela estivesse a bater numa rocha.

"Quem és tu?", perguntou ela. "O que queres de mim?"

Não houve nenhuma resposta.

Em vez disso, ele agarrou-a com a sua manopla e, quase sem ela dar por isso, ele virou-a, com a cara voltada para o chão, puxando o seu vestido.

Rea gritou, percebendo o que estava prestes a acontecer. Ela tinha dezassete anos. Ela estava a guardar-se para o homem perfeito. Ela não queria que aquilo acontecesse daquela maneira.

"Não!", gritou. "Por favor. Tudo menos isto. Mata-me primeiro!"

Mas o cavaleiro não queria ouvir e ela sabia que não havia como pará-lo.

Rea fechou os olhos com força, tentando afastar a situação, tentando transportar-se para outro lugar, para outro momento, para qualquer lugar menos para ali. O pesadelo dela tinha voltado, aquele do qual havia estado desperta, aquele que tinha tido durante muitas luas. Ela percebeu com temor que era aquilo que ela tinha andado a ver. Esta mesma cena. Esta árvore, estas ervas, este planalto. Esta tempestade.

De alguma forma, ela havia previsto aquilo.

Rea fechou os olhos com mais força e tentou imaginar que aquilo não estava a acontecer. Ela tentava perceber se era pior no sonho ou na vida real.

Rapidamente terminou.

Ele parou de se mexer e deitou-se por cima dela, ela entorpecida demais para se mover.

Ela ouviu o som do metal a levantar-se, sentindo o peso dele, finalmente, a sair de cima de si. Ela preparou-se, esperando que ele a matasse naquele momento. Ela antecipava o golpe da sua espada. Seria um alívio muito bem-vindo.

"Vá", disse ela. "Mata-me."

No entanto, para sua surpresa não ouviu nenhum som de uma espada, mas sim o som suave de uma corrente delicada. Ela sentiu algo frio e leve a ser-lhe colocado na palma da mão. Ela olhou, confusa.

Ela pestanejou à chuva e ficou surpreendida ao ver que ele lhe tinha colocado na mão um colar de ouro, com um pingente na sua extremidade, duas cobras, à volta de uma lua, com um punhal entre elas.

Finalmente, ele falou as suas primeiras palavras.

"Quando ele nascer", ouviu-se uma voz profunda e misteriosa, uma voz de autoridade, "dá-lhe isto. E manda-o para mim."

Ela ouviu o cavaleiro montar o seu cavalo, apercebendo-se vagamente do seu som a afastar-se.

Os olhos de Rea ficaram pesados. Ela estava demasiado exausta para se mexer ali deitada à chuva. Sentindo-se destroçada, ela sentiu um doce sono a chegar-lhe e não lhe resistiu. Talvez agora, pelo menos, os pesadelos parassem.

Antes de deixar o sono aproximar-se, ela olhou fixamente para o colar, o emblema. Apertou-o, sentindo-o na mão, o ouro tão espesso, grosso o suficiente para alimentar toda a sua aldeia durante uma vida.

Porque é que ele o tinha dado a ela? Porque é que ele não a tinha matado?

A ele, ele tinha dito. Não a ela. Ele sabia que ela ficaria grávida. E ele sabia que seria um rapaz.

Como?

De repente, antes de um doce sono se apoderar dela, veio-lhe tudo à memória. A última peça do seu sonho.

Um rapaz. Ela tinha dado à luz a um menino. Um nascimento vindo da fúria. Da violência.

Um rapaz destinado a ser rei.




CAPÍTULO DOIS




Três Luas Mais tarde


Rea ficou sozinha na clareira da floresta, atordoada, perdida no seu próprio mundo. Ela não ouvia o riacho a gotejar sob os seus pés, não ouvia o chilrear dos pássaros na densa floresta ao seu redor, não reparava na luz do sol que brilhava através dos ramos, ou no grupo de veados que a observava de perto. O mundo inteiro tinha-se dissipado e ela olhava apenas para uma coisa: as veias da folha de Ukanda que ela segurava entre os seus dedos trêmulos. Ela tirou as palmas das suas mãos da ampla folha verde e, lentamente, para seu horror, a cor das veias das folhas mudaram de verde para branco.

Vê-las mudar era como uma faca no seu coração.

As folhas de Ukanda não mudavam de cor, a não ser que a pessoa que lhes tocasse estivesse grávida.

O mundo de Rea vacilou. Ela tinha perdido toda a noção de tempo e espaço enquanto ali tinha estado. O seu coração latejava nos seus ouvidos, as suas mãos tremiam e o seu pensamento voltava àquela naquela noite fatídica há três luas atrás, quando a sua aldeia tinha sido saqueada, muitos dos seus mortos por contar. Quando ele a tinha levado. Ela estendeu a mão e passou-a sobre a barriga, sentindo uma pequena protuberância, sentindo uma outra onda de náusea e, finalmente, ela entendeu o porquê. Estendeu a mão e tocou o colar de ouro que ela tinha andado a esconder à volta do pescoço, bem por dentro da roupa, é claro, para que os outros não o vissem. Ela questionava-se, pela milionésima vez, quem seria aquele cavaleiro.

Por muito que ela as tentasse bloquear, as palavras finais dele não paravam de soar na sua cabeça.

Manda-o para mim.

Subitamente Rea ouviu um ruído por trás de si e virou-se, assustada, ao ver os olhos redondos de Prudência, sua vizinha, a olhar para ela. Uma menina de catorze anos de idade, que perdeu a sua família no ataque, uma intrometida sempre muito ansiosa por bisbilhotar qualquer pessoa. Prudência era a última pessoa que Rea queria que soubesse acerca do que se passava consigo. Rea viu horrorizada os olhos de Prudência a desviaram o olhar da sua mão para a folha em transformação, arregalando-se ao se aperceber.

Com um olhar de desaprovação, Prudência deixou cair a sua cesta de lençóis, virou-se e correu. Rea sabia que ela ter saído dali a correr apenas poderia significar uma coisa: ela ia informar os aldeões.

Rea ficou apavorada e sentiu a primeira onda de medo. Os aldeões iriam exigir que ela matasse o seu bebé, é claro. Eles não queriam nenhuma recordação do ataque dos nobres. Mas porque é que isso a assustava? Será que ela queria realmente manter aquela criança, o subproduto daquele monstro?

O medo de Rea surpreendia-a e, ao pensar nisso, ela percebeu que era perigoso manter o seu bebé seguro. Isso desorientava-a. Intelectualmente, ela não queria tê-lo; fazê-lo seria uma traição à sua aldeia e a ela mesma. Isso só encorajaria os nobres que a tinham invadido. E seria tão fácil perder o bebé; ela poderia simplesmente mastigar a raiz Yukaba, e no seu próximo banho, a criança morreria.

No entanto, visceralmente, ela sentia a criança dentro dela e o seu corpo dizia-lhe algo que a sua mente não dizia: ela queria ficar com ele. Protegê-lo. Afinal, era uma criança.

Rea era uma filha única que nunca tinha conhecido os seus pais, que havia sofrido no mundo sem ninguém para amar e ninguém para amá-la. Sempre tinha desesperadamente querido alguém para amar e alguém para amá-la também. Ela estava farta de estar sozinha, de estar em quarentena na secção mais pobre da aldeia, de esfregar o chão dos outros, de fazer o trabalho árduo de manhã à noite, sem qualquer saída. Ela sabia que nunca iria encontrar um homem, dado o seu estado. Pelo menos ninguém que ela não desprezasse. E, provavelmente, nunca iria ter um filho.

Rea sentiu uma súbita onda de vontade. Podia ser a sua única hipótese, ela percebeu. E agora que ela estava grávida, ela percebeu que não sabia o quanto desejava aquela criança. Ela desejava-a mais do que qualquer coisa.

Rea começou a caminhar de volta para a sua aldeia, apreensiva, apanhada num remoinho de emoções misturadas, mal preparada para enfrentar a desaprovação que, ela sabia, estaria à sua espera. Os aldeões insistiriam para que nenhum filho dos saqueadores da sua cidade, dos homens que lhes haviam tirado tudo, sobrevivesse. Rea dificilmente poderia culpá-los; engravidar as mulheres era uma tática comum dos saqueadores para dominar e controlar as aldeias em todo o reino. Às vezes eles eram mesmo enviados para isso. E ter um filho só alimentava o seu ciclo de violência.

Ainda assim, nada disso poderia mudar a forma como ela se sentia. Uma vida vivia dentro dela. Podia senti-la a cada passo que dava. Ela sentia-se mais forte por aquela vida. Ela podia senti-la a cada batimento cardíaco, pulsando através do seu próprio.

Rea caminhou pelas ruas do centro da aldeia, de volta para a sua cabana de uma assoalhada, sentindo o seu mundo virado do avesso, querendo saber o que pensar. Grávida. Ela não sabia como estar grávida. Ela não sabia como dar à luz uma criança. Ou como criar uma. Ela mal conseguia alimentar-se a ela própria. Como é que ela poderia sustentá-la?

No entanto, de alguma forma, ela sentiu uma nova força a erguer-se dentro dela. Ela sentia-a a pulsar nas suas veias, uma força que ela só tomara vagamente consciência nestas últimas três luas, mas que agora tinha ficado perfeitamente nítida. Era uma força para além dela. A força do futuro, da esperança. Da possibilidade. De uma vida que ela nunca conseguiria escolher o destino.

Era uma força que exigia que ela fosse maior do que jamais conseguiria ser.

Ao caminhar lentamente pelas ruas de terra, ela começou a ficar vagamente consciente do que a rodeava e dos olhos dos aldeões a olhar para ela. Ela virou-se e, em ambos os lados da rua, viu os olhos curiosos e de desaprovação de mulheres novas e velhas, de homens velhos e rapazes, de sobreviventes solitários, de homens mutilados que traziam as cicatrizes daquela noite. Todos transportavam nos seus rostos grande sofrimento. E todos eles olhavam para ela, para a sua barriga, como se ela fosse de alguma forma culpada.

Entre eles, ela via mulheres da sua idade, de caras assombradas, olhando para ela sem compaixão. Muitas delas, Rea sabia, tinham também sido engravidadas e já tinham tomado a raiz. Ela conseguia ver a tristeza no seu olhar e conseguia sentir que elas queriam que ela a compartilhasse.

Rea sentiu a multidão a engrossar à sua volta e quando olhou para cima ficou surpreendida ao ver uma parede de pessoas a bloquearem-lhe o caminho. A vila inteira parecia ter saído à rua, homens e mulheres, jovens e velhos. Ela via a agonia nos seus rostos, uma agonia que ela tinha partilhado. Ela parou e olhou para eles. Ela sabia o que eles queriam. Eles queriam matar o seu filho.

Ela sentiu uma repentina onda de desafio – e resolveu naquele momento que nunca o faria.

"Rea", ouviu-se uma voz grossa.

Severn, um homem de meia-idade com cabelo escuro e barba, uma cicatriz na bochecha feita naquela noite, estava ao centro e olhou para ela, cima abaixo, como se ela fosse um pedaço de gado. Passou-lhe pela cabeça dela que ele não era muito melhor do que os nobres. Eles eram todos iguais: todos achavam que tinham o direito de controlar o seu corpo.

"Tu vais tomar a raiz", ele ordenou sombriamente. "Vais tomar a raiz e amanhã tudo isto vai ficar no teu passado."

Ao lado de Severn, uma mulher deu um passo adiante. Luca. Ela também tinha sido atacado naquela noite e tinha tomado a raiz na semana anterior. Rea tinha-a ouvido a gemer durante toda a noite, gritando de dor pelo seu filho perdido.

Luca deu-lhe um saco, com o pó amarelo a ver-se lá dentro. Rea recuou. Ela sentiu a aldeia inteira a olhar para ela, esperando que o aceitasse e levasse.

"Luca irá acompanhar-te ao rio. Ela vai ficar contigo durante a noite.", acrescentou Severn.

Rea olhava para ele, sentindo uma energia estranha a crescer dentro dela ao olhar para todos eles friamente.

Ela não disse nada.

Os rostos deles endureceram-se.

"Não nos desafies, miúda", disse outro homem, aproximando-se, segurando a sua foice com força até os seus dedos ficaram brancos. "Não desonres a memória dos homens e mulheres que perdemos naquela noite, dando vida aos seus filhos. Faz o que esperam de ti. Faz o que tens a fazer."

Rea respirou fundo e ficou surpreendida com a força da sua própria voz ao responder:

"Eu não o farei."

A sua voz soava-lhe estranha, mais profunda e madura do que nunca. Era como se ela se tivesse tornado numa mulher do dia para a noite.

Rea observou os rostos deles a enraivecerem-se, como uma nuvem de tempestade a passar num dia ensolarado. Um homem, Kavo, franziu a testa e deu um passo adiante, com um ar autoritário. Ela olhou para baixo e viu o chicote na sua mão.

"Há uma maneira fácil de fazer isto", disse ele, com uma voz dura como o aço. "E uma maneira difícil."

Rea sentiu o seu coração a bater com mais força e olhou para ele bem nos olhos. Ela lembrou-se do que o pai lhe havia dito uma vez, quando ela era uma menina: nunca recues. Perante ninguém. Luta pelo que queres, mesmo que as hipóteses estejam contra ti. Especialmente se as hipóteses estiverem contra ti. Olha sempre para o valentão maior. Ataca primeiro. Mesmo que isso signifique a tua vida.

Rea explodiu em ação. Sem pensar, ela estendeu a mão, agarrou num bastão da mão de um dos homens, aproximou-se e, com toda sua força, golpeou Kavo no seu plexo solar.

Kavo arfou ao cair de joelhos e Rea, não lhe dando outra hipótese, golpeou-o na cara. O seu nariz partiu-se e ele largou o chicote e caiu no chão, segurando o nariz e gemendo na lama.

Rea, ainda segurando firmemente o bastão, olhou para cima e viu o grupo de rostos horrorizados e em choque a olhar para ela. Todos eles pareciam um pouco menos certos.

"É o meu filho", ela cuspiu. "Eu vou tê-lo. Se vierem atrás de mim, da próxima vez não vai ser um bastão na vossa barriga, mas uma espada."

Com aquilo, ela segurou com mais força o bastão, virou-se e, lentamente, afastou-se, acotovelando a multidão para passar. Nenhum deles, ela sabia, se atreveria a segui-la. Não agora, pelo menos.

Ela afastou-se, com as mãos a tremer, com o coração a bater com força, sabendo que seriam uns longos seis meses até que o seu bebé nascesse.

E sabendo que da próxima vez que eles viessem atrás dela, viriam para matá-la.




CAPÍTULO TRÊS




Seis Luas Mais tarde


Rea estava encostada ao monte de peles junto da sua crepitante pequena fogueira, total e completamente sozinha, a gemer e a gritar em agonia quando as suas dores de parto chegavam. Lá fora, o vento do inverno uivava e os ferozes vendavais faziam com que as persianas batessem contra as paredes da casa e a neve se desintegrasse em fluxos por cima da cabana. A tempestade combinava com a sua disposição.

O rosto de Rea brilhava com suor. Ela estava ao lado da pequena fogueira, mas não conseguia aquecer, apesar das chamas furiosas, apesar de o bebé chutar e girar na sua barriga como se estivesse a tentar sair. Ela estava molhada e com frio, tremendo toda, tendo a certeza de que iria morrer naquela noite. Outra dor de parto. Ao sentir-se naquele estado, ela desejava apenas que o saqueador a tivesse matado naquele momento; teria sido mais misericordioso. Aquela longa e lenta tortura, aquela noite de pura agonia, era mil vezes pior do que qualquer coisa que ele jamais lhe pudesse ter feito.

De repente, ainda mais alto do que os seus gritos, por cima dos vendavais ouviu-se outro som – talvez o único som que ainda era capaz de lhe provocar uma sacudidela de medo pela sua espinha acima.

Era o som de uma multidão. Uma multidão enfurecida de aldeões que ela sabia que vinham para matar o seu filho.

Rea convocou todas as sua últimas forças, forças que nem ela sabia que lhe ainda lhe restavam e, agitando-se, conseguiu, de alguma forma, levantar-se do chão. A gemer e a gritar, ela caiu de joelhos, cambaleando. Agarrou-se a uma estaca de madeira na parede e, com toda a sua força, com um grande grito, levantou-se.

Ela não conseguia dizer se lhe doía mais estar deitada ou em pé. Mas ela não tinha tempo para refletir sobre isso. O barulho da multidão estava cada vez mais alto, mais perto. Ela sabia que eles iriam chegar em breve. A sua morte não iria incomodá-la. Mas a morte do seu bebé – isto era outra questão. Ela tinha que colocar aquela criança em segurança, custasse o que custasse. Era a coisa mais estranha, mas ela sentia-se mais ligada à vida do bebé do que à sua própria vida.

Rea conseguiu cambalear até a porta e chocou contra ela, usando a maçaneta para se conseguir erguer. Ela ficou ali, a respirar com dificuldade por alguns segundos, descansando na maçaneta, preparando-se. Finalmente, ela virou-a. Agarrou a forquilha que estava encostada à parede e, apoiando-se nela, abriu a porta.

Rea foi recebida por uma tempestade repentina de vento e neve, suficiente fria para lhe tirar o fôlego. Ela ouvia os gritos mais altos com o vento, ficando apavorada ao ver ao longe as tochas, serpenteando o seu caminho na sua direção como pirilampos enfurecidos na noite. Olhou para o céu e entre as nuvens vislumbrou uma enorme lua vermelho-sangue, enchendo o céu. Engasgou-se. Não era possível. Ela nunca tinha visto a lua a brilhar assim e nunca a tinha visto numa tempestade. Ela sentiu um pontapé certeiro na sua barriga e, de repente, ela percebeu, sem sombra de dúvidas, que a lua era um sinal. Era um sinal do nascimento do seu filho.

Quem é ele? ela questionava-se.

Rea segurava a barriga com as duas mãos enquanto outra pessoa se contorcia dentro dela. Ela conseguia sentir o seu poder, com dores para romper em sofrimento e sair, como se ele estivesse ansioso para lutar, ele mesmo, contra aquela multidão.

Então eles chegaram. As tochas de fogo iluminaram a noite e a multidão apareceu diante dela, saindo dos becos, dirigindo-se a si. Se ela estivesse no seu estado normal, forte, capaz, ela teria marcado uma posição. Mas ela mal conseguia andar – mal se aguentava em pé – e não os conseguia enfrentar naquele momento. Não com o seu filho prestes a nascer.

Mesmo assim, Rea sentia uma fúria primitiva a percorrê-la, juntamente com uma força primitiva que ela sabia vir do seu bebé. Ela teve, também, uma descarga de adrenalina e as suas dores de parto momentaneamente diminuíram. Por um breve instante, sentiu-se de volta a si mesma.

O primeiro dos aldeões chegou, um homem baixo, gordo, que corria para ela, segurando uma foice. Ao aproximar-se, Rea deu um passo atrás, agarrou a forquilha com ambas as mãos, deu um passo para o lado e lançou um grito primitivo, enquanto a direcionava diretamente para a sua barriga.

O homem parou em choque e, em seguida, sucumbiu aos seus pés. A multidão parou também, a olhar para ela em choque, não estando claramente à espera daquilo.

Rea não esperou. Ela sacou da forquilha num movimento rápido, girou-a por cima da sua cabeça e golpeou o aldeão que se seguiu nas maças do rosto no momento em que ele se lançou para ela com o seu taco. Ele caiu, também, na neve a seus pés.

Rea sentiu uma dor terrível de lado quando um outro homem correu e a atacou, atirando-a para o chão. Eles deslizaram pela neve. Rea gemeu de dor ao sentir o bebé a dar pontapés dentro dela. Ela lutou com o homem da neve, lutando pela sua vida e, quando ele momentaneamente aligeirou a sua força, Rea, desesperada, enfiou-lhe os dentes no seu rosto. Ele gritava enquanto ela mordia com força, tirando-lhe sangue, provando-o, não estando disposta a parar, pensando no seu bebé.

Por fim, ele saiu de cima dela, agarrando o seu rosto e Rea viu ali a sua oportunidade. Escorregando na neve, ela conseguiu pôr-se de pé, pronta a correr. Ela estava quase a conseguir quando, de repente, sentiu uma mão agarrar o seu cabelo por trás. Aquele homem quase que lhe arrancou os cabelos da cabeça ao puxá-la para o chão, arrastando-a. Ela olhou e viu Severn a olhar para ela com má cara.

"Deverias ter ouvido quanto tiveste oportunidade", ele fervia. "Agora vais ser morta, juntamente com o teu bebé."

Rea ouviu a multidão a aclamar e ela sabia que tinha chegado o seu fim. Fechou os olhos e rezou. Ela nunca tinha sido uma pessoa religiosa, mas, naquele momento, tinha encontrado Deus.

Eu rezo, com cada pedaço de quem sou, para que esta criança seja salva. Podes deixar-me morrer. Mas salva a criança.

Como se as suas orações fossem atendidas, ela, de repente, sentiu que o seu cabelo se tinha soltado, enquanto, ao mesmo tempo, ouviu um baque. Ela olhou para cima, assustada, questionando-se sobre o que poderia ter acontecido.

Ao ver quem tinha vindo para salvá-la, ficou atordoada. Era um rapaz – Nick – vários anos mais novo do que ela. O filho de um camponês pobre, como ela, que nunca tinha sido feliz, sempre atormentado pelos outros. No entanto, ela tinha sempre sido gentil com ele. Talvez ele se lembrasse.

Ela viu Nick a levantar um taco e a esmagar Severn na cabeça, de lado, fazendo com que ele a largasse.

Então, Nick enfrentou a multidão, estendendo o seu taco e bloqueando-a dos outros.

"Vai depressa!", ele gritou-lhe. "Antes que te matem!"

Rea olhou para ele com gratidão e choque. Aquela multidão iria certamente esmurrá-lo.

Ela pôs-se de pé e correu, escorregando, determinada a chegar tão longe quanto possível enquanto ainda tinha tempo. Ela escondeu-se em becos e antes de desaparecer, olhou para trás e viu Nick a fintar selvaticamente os aldeões, batendo em vários com o taco. Vários homens, porém, atacaram-no e atiraram-no ao chão. Com ele fora do caminho, eles correram atrás dela.

Rea corria. Ofegante, ela fugia pelos becos, à procura de abrigo. Levantando-se em esforço, com dores horríveis, ela não sabia quanto mais longe conseguiria ir.

Finalmente conseguiu sair para a aldeia propriamente dita, com as suas elegantes casas de pedra. Olhou para trás, aterrorizada ao ver que eles estavam a aproximar-se, quase a vinte pés de distância. Ela arfava, mais a tropeçar do que a correr. Ela sabia que o seu fim estava a chegar. Outra dor de parto.

De repente, ouviu um rangido aguçado. Rea olhou para cima e viu uma antiga porta de carvalho diante de si a abrir-se. Ela ficou surpreendida ao ver Fioth, o antigo boticário, a espreitar para fora do seu pequeno forte de pedra, de olhos arregalados, chamando-a para entrar rapidamente. Fioth estendeu a mão e puxou-a com uma força surpreendente para a sua idade avançada. Rea tropeçou pela porta da luxuosa torre de menagem.

Ele bateu com a porta e aferrolhou-a assim que ela entrou.

Um momento depois ouviram bater. As mãos e as foices de dezenas de aldeões irados tentavam derrubar a porta. No entanto, a porta aguentava-se, para grande alívio de Rea. Tinha um pé de espessura e era séculos mais velho do que ela. Os pesados ferrolhos de ferro nem sequer dobravam.

Rea respirou fundo. O seu bebé estava em segurança.

Fioth inclinou-se e examinou-a em compaixão. Ver o seu olhar gentil ajudou-a mais do que qualquer outra coisa. Naquela aldeia, ninguém olhava para ela com bondade há meses.

Ele retirou-lhe as peles e ela arfou com outra dor do parto. Era um local tranquilo, a tempestade de neve que passava pelo telhado estava sem som, e muito quente.

Fioth levou-a para ao pé da fogueira e deitou-a sobre um monte de peles. Foi então que tudo se abateu sobre ela: a fuga, a luta, a dor. Ela desfaleceu. Mesmo que estivessem mil homens a tentar derrubar a porta, ela sabia que não se podia mexer outra vez.

Ela gritou quando uma dor de parto aguda a percorreu.

"Eu não consigo correr", Rea arfava, começando a chorar. "Eu já não consigo correr."

Ele colocou-lhe um pano frio e húmido na testa.

"Não precisas de correr mais", disse ele, com a sua voz antiga, tranquilizando-a, como se já tivesse visto aquilo antes. "Agora, eu estou aqui."

Ela gritou e gemeu quando outra dor a percorreu. Ela sentia-se como se estivesse a ser dividida em duas.

"Encosta-te!", disse-lhe ele.

Ela fez o que lhe foi dito e um segundo depois, ela sentiu. Uma enorme pressão entre as suas pernas.

De repente, ouviu um som que a estarreceu.

Um gemido.

O choro de um bebé.

Ela quase desmaiou de dor.

Ela observava as mãos experientes do boticário, enquanto entrava e saia do seu estado de consciência, puxando a criança, cortando o cordão umbilical com algo afiado. Ela viu-o a limpar o bebé com um pano, a limpar-lhe os pulmões, nariz e garganta.

Os gemidos e o choro ficaram ainda mais altos.

Rea desatou a chorar. Era um alívio ouvir o som, penetrando no seu coração, mais alto mesmo do que os aldeões a bater na porta. Uma criança.

O filho dela.

Ele estava vivo. Contra todas as probabilidades, ele tinha nascido.

Rea apercebeu-se vagamente do boticário a envolvê-lo num cobertor e, depois, sentiu o calor quando ele o colocou nos seus braços. Ela sentiu o peso dele sobre o seu peito e segurou-o com força enquanto ele gritava e gemia. Ela nunca tinha estado tão feliz. As lágrimas corriam-lhe pelo rosto.

De repente, ouviu-se um novo som: cavalos a galope. O barulho da armadura. E, em seguida, gritos. Já não era o som da multidão a gritar para matá-la – mas sim, da multidão, ela própria, a ser morta.

Rea ouvia, perplexa, tentando entender. Então ela sentiu uma onda de alívio. Claro. O nobre tinha voltado para salvá-la. Para salvar o seu filho.

"Graças a Deus", disse ela. "Os cavaleiros vieram em meu auxílio."

Rea sentiu uma súbita onda de otimismo. Talvez ele a levasse para longe de tudo aquilo. Talvez ela tivesse uma oportunidade de começar a vida novamente. O seu filho iria crescer num castelo, tornar-se-ia num grande lorde e, talvez, ela também. O seu bebé teria uma vida boa. Ela teria uma boa vida.

Rea sentiu uma onda de alívio e lágrimas de alegria inundaram-lhe as maças do rosto.

"Não", o boticário corrigiu com uma voz pesarosa. "Eles não vieram para salvar o teu bebé."

Ela olhou para ele, confusa. "Então porque é que eles vieram?"

Ele olhou para ela sombriamente.

"Para matá-lo."

Ela olhou para ele, horrorizada, sentindo um pavor frio a percorrê-la.

"Eles não confiaram o trabalho a uma multidão de aldeões", acrescentou. "Eles queriam ter a certeza de que era feito como devia, pelas suas próprias mãos."

Rea sentiu como se fosse gelo a correr-lhe nas veias.

"Mas …", ela balbuciou, tentando entender, "… o meu bebé pertence ao cavaleiro. O comandante deles. Porquê? Porque é que eles haviam de o quer matar?"

Fioth abanou a cabeça tristemente.

"O teu cavaleiro, o pai do bebé, foi assassinado", explicou. "Muitas luas atrás. Aqueles homens que ouves não são os dele. São os seus rivais. Eles querem o bebé dele morto. Eles querem-te morta."

Ele olhava para ela em pânico e com pressa. Ela sabia, aterrorizada, que ele falava a verdade.

"Devem ambos fugir deste lugar!", ele insistiu. "Agora!"

Assim que ele terminou de proferir aquelas palavras ouviu-se um poste de ferro a embater contra a porta. Desta vez, não era uma mera foice de fazendeiro – era um aríete profissional de um cavaleiro. Ao embater, a porta dobrou-se.

Fioth virou-se para ela, com os olhos arregalados em pânico.

"VAI!", ele gritou.

Rea olhou para ele, atingida pelo terror, perguntando-se, se na sua condição, conseguiria simplesmente ficar de pé.

Ele agarrou-a, porém, ajudando-a a levantar-se. Ela gritou de dor, o movimento era uma pura agonia.

"Por favor!", ela chorava. "Dói-me muito! Deixa-me morrer!"

"Olha para os teus braços!", gritava-lhe ele. "Queres que ele morra?"

Rea olhava para o rapaz a gritar nos seus braços e, ao ouvir mais um embate contra a porta, percebeu que ele estava certo. Ela não podia deixá-lo morrer ali.

"E tu?", afligiu-se ela, apercebendo-se. "Eles também te vão matar."

Ele assentiu com resignação.

"Eu já vivi muitos ciclos de sol", respondeu ele. "Se conseguir atrasá-los para não te encontrarem, se conseguir dar-te uma hipótese de ficares em segurança, desistirei com agrado do que resta da minha vida. Agora vai! Vai para o rio! Encontra um barco e foge daqui! Rapidamente!"

Ele puxou-a antes de ela ter sequer oportunidade de pensar e, antes de ela dar por isso, ele levou-a para a entrada traseira do seu forte. Ele afastou uma tapeçaria, revelando uma porta escondida esculpida na pedra. Inclinou-se contra ela com toda a sua força e ela abriu-se, arranhando, libertando o ar antigo. Uma rajada de ar frio entrou para o forte.

Mal a porta se abriu, ele empurrou-a, a ela mais ao seu bebé, para fora.

Rea deu por si imersa na tempestade de neve, cambaleando pela margem íngreme e cheia de neve do rio, segurando o seu bebé. Ela escorregava e deslizava, sentindo que o mundo estava a desmoronar-se debaixo dela, mal capaz de se mover. Ao correr, um raio atingiu uma árvore imensa perto dela, iluminando a noite e fazendo-a cair muito perto dela. O bebé chorou. Ela estava horrorizada: ela nunca acreditaria que um raio poderia atacar numa tempestade de neve. Aquela era realmente uma noite de presságios.

O terreno ficou mais íngreme e Rea escorregou novamente. Daquela vez, ela caiu sobre o seu traseiro. A gritar, ela escorregou pelo declive abaixo até à margem do rio.

Ela respirou aliviada ao alcançá-la e percebeu que se não tivesse escorregado por ali abaixo, provavelmente não teria conseguido fugir. Olhou para trás, para cima, chocada com o quão longe tinha chegado e viu apavorada que os cavaleiros tinham invadido e incendiado o forte de Fioth. O fogo ardia violentamente, mesmo na neve. Ela sentiu uma enorme onda de culpa, sabendo que o velho tinha morrido por causa dela.

Um momento depois, os cavaleiros rebentaram a porta de trás. Mais cavalos começaram a galopar na sua direção. Ela conseguiu ver que eles a tinham visto e, sem pararem, correram para ela.

Rea virou-se e tentou correr, mas não havia nenhum lugar para onde ir. E ela também não estava em condições de correr. Tudo o que conseguiu fazer foi cair de joelhos diante da margem do rio. Ela sabia que iria morrer ali. Ela tinha chegado ao fim.

Porém, a esperança permanecia pelo seu bebé. Olhou à volta e viu um emaranhado de paus, talvez um ninho de castor, tão espesso que se assemelhava a uma cesta. Impulsionada pelo amor de uma mãe, pensou rapidamente. Estendeu a mão, agarrou-a e rapidamente colocou lá dentro o seu bebé. Testou-a e, para seu alívio, ela flutuava.

Rea preparou-se para empurrar a cesta pelas águas do calmo rio. Se a corrente a apanhasse, flutuaria para longe dali. Algures pelo rio abaixo. Quão longe e por quanto tempo, ela não sabia. Mas algumas hipóteses de vida eram melhores do que nenhumas.

Rea, a chorar, baixou-se e beijou a testa do seu bebé. Ergue-se para trás e gritou de dor. Com as mãos a tremer, ela retirou o colar do pescoço e colocou-o à volta do pescoço do seu bebé.

Ela pôs as mãos em cima das mãos dele.

"Amo-te", ela disse, entre soluços. "Nunca me esqueças."

O bebé chorava a gritar como se entendesse, um choro lancinante, que se ouvia ainda mais do que o estrondo dos novos trovões e relâmpagos, mais ainda do que o som dos cavalos que se aproximavam.

Rea sabia que não podia esperar mais. Ela deu um impulso à cesta e, em pouco tempo, a corrente apanhou-a. Ela observava-a, soluçando, enquanto ela desaparecia na escuridão.

Assim que ela a perdeu de vista, o barulho das armaduras aproximou-se por detrás dela – e ela virou-se e viu vários cavaleiros a descerem dos seus cavalos a poucos pés de distância.

"Onde está a criança?", um exigiu saber, com a viseira para baixo e a sua voz cortando a tempestade. Não era nada como a viseira do homem que a tinha possuído. Aquele homem usava uma armadura vermelha com um formato diferente e não havia bondade na sua voz.

"Eu …", ela começou.

Então ela sentiu uma fúria dentro de si – a fúria de uma mulher que sabia que estava prestes a morrer. Que não tinha nada a perder.

"Ele foi-se embora", ela cuspiu, desafiante. Ela sorriu. "E tu nunca o vais ter. Nunca."

O homem grunhiu de raiva e aproximou-se, puxando de uma espada e esfaqueando-a.

Rea sentiu a terrível agonia do aço no seu peito e arfou, sem fôlego. Ela sentiu o seu mundo a ficar mais claro, sentiu-se imersa numa luz branca. Ela sabia que aquilo era a morte.

No entanto, ela não sentiu medo. Na verdade, ela sentiu satisfação. O seu bebé estava seguro.

E, ao cair de cara no rio, com as águas a ficarem vermelhas, ela sabia que era o fim. A sua dura e curta vida tinha terminado.

Mas o seu filho viveria para sempre.


*

Mithka, uma mulher camponesa, estava ajoelhada na margem do rio, com o seu marido ao lado, os dois freneticamente recitando as suas orações, sentindo não ter nenhum outro recurso durante aquela estranha tempestade. Era como se o fim do mundo estivesse sobre eles. A lua cor de vermelho-sangue era um presságio terrível em si – mas aparecendo juntamente com uma tempestade como aquela, bem, era mais do que estranho. Era inédito. Algo importante, ela sabia, estava a acontecer.

Eles estavam ali juntos, ajoelhados, com a tempestade de vento e neve a bater-lhe nos rostos. Ela rezou pedindo proteção para a sua família. Misericórdia. Perdão por qualquer coisa que pudesse ter feito mal.

Uma mulher piedosa, Mithka tinha vivido muitos ciclos do sol, tinha vários filhos e tinha uma boa vida. Uma vida pobre, mas boa. Ela era uma mulher decente. Não se metia na vida dos outros, tinha cuidado dos outros e nunca tinha feito mal a ninguém. Ela rezava para que Deus protegesse os seus filhos, a sua casa e os seus, apesar dos seus parcos pertences. Ela inclinou-se e colocou as palmas das mãos na neve, fechou os olhos curvando-se, tocando, seguidamente, com a cabeça no chão. Ela rezou a Deus para lhe mostrar-lhe um sinal.

Lentamente, levantou a cabeça. Ao fazê-lo, os seus olhos arregalaram-se e o seu coração bateu com o que viu diante de si.

"Murka!", sibilou.

O marido virou-se e olhou, também. Ambos ficaram ali ajoelhados, imobilizados, olhando com perplexidade.

Não podia ser possível. Ela pestanejou várias vezes. Porém, ainda lá estava. Diante deles, trazida pela corrente de água, estava uma cesta flutuante.

E nessa cesta estava um bebé.

Um rapaz.

O seu choro perfurava a noite, ainda mais alto do que a tempestade, mais alto do que os estrondos dos trovões e relâmpagos. Cada grito do seu choro perfurava o seu coração.

Ela saltou para o rio caminhando pelas gélidas águas que pareciam facas na sua pele, apanhou a cesta e, lutando contra a corrente, voltou para a margem. Olhou para baixo e viu que o bebé estava meticulosamente enrolado num cobertor e que estava milagrosamente seco.

Ela observou-o mais de perto e ficou perplexa ao ver um pingente de ouro à volta do seu pescoço, com duas cobras circundando uma lua e um punhal entre elas. Ela suspirou; era um pendente que ela reconheceu imediatamente.

Virou-se para o seu marido.

"Quem faria uma coisa dessas?", perguntou ela, horrorizada, segurando-o com força contra o seu peito.

Ele só conseguia abanar a cabeça, atónito.

"Temos de ficar com ele," ela decidiu.

O marido franziu a testa e abanou a cabeça.

"Como?", retrucou. "Não nos podemos dar ao luxo de alimentá-lo. Mal nos podemos dar ao luxo de nos alimentar. Já temos três rapazes – para que é que precisamos de um quarto? O nosso tempo de criar crianças já acabou."

Mithka, pensando rapidamente, apanhou o espesso pingente de ouro e colocou-o na palma da mão do seu marido, sabendo, depois de todos aqueles anos, o que o iria impressionar. Ele sentiu o peso do ouro na mão, parecendo claramente impressionado.

"Aqui", ela retrucou, em repulsa. "Aqui está o teu ouro. Ouro suficiente para alimentar a nossa família até sermos velhos e morrermos", disse ela com firmeza. "Eu vou salvar este bebé – quer gostes quer não. Eu não vou deixá-lo morrer."

Ele continuava a fazer má cara, embora menos certo, quando se ouviu outro relâmpago. Ele observou o céu com medo.

"E achas que é uma coincidência?", perguntou. "Numa noite como esta, um bebé como este vir a este mundo? Tens alguma ideia de quem estás a segurar?"

Ele olhou para a criança com medo. E então levantou-se e afastou-se, virando as costas, por fim, indo-se embora, segurando o pingente, claramente desagradado.

Mas Mithka não cederia. Ela sorriu para o bebé e embalou-o contra o seu peito, aquecendo o seu rosto frio. Lentamente, o seu choro acalmou-se.

"Uma criança diferente de qualquer um de nós", ela respondeu a ninguém, segurando-o com força. "Uma criança que irá mudar o mundo. E uma a quem eu vou dar o nome: Royce."




PARTE DOIS





CAPÍTULO QUATRO




17 Ciclos Solares mais tarde


Royce estava no topo da colina, debaixo da única árvore de carvalho que existia naqueles campos de cereais. Uma coisa antiga cujos galhos pareciam chegar ao céu. Olhava profundamente para os olhos de Genevieve, profundamente apaixonado. Eles deram as mãos e ela sorriu-lhe. Aproximaram-se e beijaram-se. Ele sentia reverência e gratidão por estar de coração tão cheio. O dia amanheceu por cima dos campos de cereais e Royce desejava conseguir congelar aquele momento para sempre.

Royce inclinou-se para trás e olhou para ela. Genevieve era maravilhosa. Aos dezassete anos, tal com ele, ela era alta, magra, com cabelos loiros e olhos verdes inteligentes, com um punhado de sardas nos seus traços delicados. Ela tinha um sorriso que o fazia sentir-se feliz por estar vivo e um riso que o punha à vontade. Mais do que isso, ela tinha uma graciosidade, uma nobreza que superava, de longe, o seu estado de pobre camponês.

Royce viu o seu reflexo nos olhos dela e ficou maravilhado por parecer que se podia identificar com ela. Ele era muito maior, claro, alto mesmo para a sua idade, com ombros mais largos do que até mesmo os seus irmãos mais velhos, com um queixo forte, um nariz nobre, uma testa altiva, uma abundância de músculo que ondulava por debaixo da sua túnica desgastada, e feições ligeiras, como as dela. O seu cabelo loiro comprido caia pouco acima dos olhos e os seus olhos cor de avelã-esverdeados davam com os dela, embora um tom mais escuro. Ele tinha sido abençoado com uma força e com uma habilidade com a espada que combinava com a dos seus irmãos, embora ele fosse o mais novo dos quatro. O seu pai estava sempre a brincar dizendo que ele tinha caído do céu e Royce entendia: ele não compartilhava os traços escuros dos seus irmãos ou a estatura. Ele era como um estranho na sua própria família.

Eles abraçaram-se. Sabia tão bem ser abraçado com tanta força, ter alguém que o amava tanto quanto ele a amava a ela. Os dois eram, de facto, inseparáveis desde crianças, haviam crescido juntos a brincar naqueles campos, haviam jurado, mesmo naquela época, que no solstício de verão do seu décimo sétimo ano, se casariam. Enquanto crianças, tinha sido uma promessa verdadeiramente séria.

À medida que foram crescendo, ano após ano, não se foram afastando, como a maioria das crianças, mas sim aproximando-se mais. Contra todas as probabilidades, o seu voto passou de uma coisa infantil para algo mais forte, solene, inquebrável, ano após ano após ano. As suas vidas, ao que parece, nunca tinham estado destinadas a separarem-se.

Agora, por fim, incrivelmente, o dia tinha chegado. Ambos tinham dezassete anos, o solstício de verão havia chegado. Agora eles eram adultos, livres para escolher por si mesmo e, ali, debaixo daquela árvore, a ver o sol nascer, cada um deles sabia, com um entusiasmo vertiginoso, o que isso significava.

"A tua mãe está animada?", perguntou ela.

Royce sorriu.

"Acho que ela ama-te mais do que eu, se é que isso é possível", ele riu-se.

O riso de Genevieve atingiu a sua alma.

"E os teus pais?", perguntou ele.

O seu rosto ficou sombrio, só por um momento, e ele ficou desconsolado.

"Sou eu?", perguntou ele.

Ela abanou a cabeça.

"Eles amam-te", ela respondeu. "Eles só …", suspirou. "Nós ainda não somos casados. Para eles, nunca seria cedo de mais. Eles temem por mim."

Royce compreendeu. Os pais dela temiam os nobres. Camponeses solteiros como Royce e Genevieve não tinham direitos; se os nobres quisessem, poderiam vir e levar as mulheres deles, reclamá-las para si. Isto é, até eles serem casados. Depois, ficariam em segurança.

"Brevemente", disse Genevieve, com o seu sorriso a começar a brilhar.

"Eles estão aliviados porque sou eu, ou porque, uma vez casada, vais ficar a salvo dos nobres?"

Ela riu-se e bateu-lhe a brincar.

"Eles amam-te como o filho que nunca tiveram!", disse ela.

Ele agarrou-a pelos braços e beijou-a.

"Royce!", gritou uma voz.

Royce virou-se e viu os seus três irmãos a caminhar pela colina acima, num grande grupo, com as irmãs e primas de Genevieve juntamente com eles. Todos tinham foices e forquilhas, todos eles prontos para o trabalho do dia. Royce respirou fundo, sabendo que o tempo para as despedidas havia chegado. Eles eram camponeses e, afinal de contas, não se podiam dar ao luxo de tirar um dia inteiro de folga. O casamento teria de esperar pelo pôr-do-sol.

Royce não estava incomodado por trabalhar naquele dia, mas sentia-se mal por Genevieve. Ele desejava poder dar-lhe mais.

"Eu gostava que pudesses tirar o dia de folga", disse Royce.

Ela sorriu e depois riu-se.

"Trabalhar faz-me feliz. Distrai-me, especialmente, de ter de esperar tanto tempo para te ver novamente hoje", disse ela, inclinando-se e beijando o seu nariz.

Eles beijaram-se. Ela virou-se com um risinho e abraçou-se às suas irmãs e primas e, em pouco tempo, estava a saltar com elas pelos campos fora, todas tontas de felicidade neste dia de verão espetacular.

Os irmãos de Royce apareceram por detrás dele, tocando-lhe nos ombros. Os quatro foram para o outro lado da colina.

"Vamos pinga-amor!", disse Raymond, o filho mais velho, que era como um pai para Royce. "Podes esperar até logo à noite!"

Os seus outros dois irmãos riram-se.

"Ele está completamente apanhado por ela", Lofen acrescentou, o irmão do meio, mais baixo do que os outros, mas mais encorpado.

"Não há esperança para ti", Garet entrou na conversa. O mais jovem dos três, apenas alguns anos mais velho do que Royce, era o seu irmão mais próximo, no entanto, era também o que mais rivalizava com ele. "Ainda nem sequer casou e já está perdido."

Os três riram-se, provocando-o. Royce sorriu com eles e seguiram todos para os campos. Ele olhou uma última vez para trás para Genevieve e desapareceu colina abaixo, ficando aliviado quando ela olhou, também, para trás uma última vez e sorriu para ele de longe. O sorriso tinha-lhe restaurado a alma.

Esta  noite, meu amor, pensou. Esta noite.


*

Genevieve trabalhava os campos, levantando e balançando a sua foice, cercada pelas suas irmãs e primas, uma dúzia delas, todas a rirem-se alto naquele dia auspicioso, enquanto trabalhava frouxamente. Genevieve parava a cada poucos cortes, encostava-se à longa haste, olhava para os céus azuis e gloriosos campos de trigo amarelo e pensava em Royce. Ao fazê-lo, o seu coração batia mais rápido. Este era o dia com que ela sempre tinha sonhado, desde criança. Era o dia mais importante da sua vida. Depois daquele dia, ela e Royce viveriam juntos para o resto dos seus dias; depois daquele dia, eles teriam a sua própria cabana, uma simples habitação de uma assoalhada junto ao campo, um lugar humilde que lhe fora legado pelos pais deles. Seria um novo começo, um lugar para começar uma nova vida como marido e mulher.

Genevieve sorria só de pensar. Não havia nada que ela mais quisesse do que estar com Royce. Ele tinha estado sempre ali, ao seu lado, desde criança, e ela nunca tinha tido olhos para mais ninguém. Embora ele fosse o mais novo dos seus quatro irmãos, ela sempre sentiu que havia algo de especial acerca de Royce, algo de diferente nele. Ele era diferente de todos ao seu redor, de qualquer pessoa que já conhecera. Ela não sabia exatamente o quê e suspeitava que ele também não. Mas ela via algo nele, algo maior do que aquela aldeia, do que aquele campo. Era como se o destino dele estivesse noutro lugar.

"E os irmãos dele?", perguntou uma voz.

Genevieve despertou para a realidade. Ela virou-se e viu Sheila, a sua irmã mais velha, com risinhos, com duas das suas primas atrás dela.

"Afinal de contas, ele tem três! Não podes ficar com todos para ti! ", ela acrescentou, rindo-se.

"Sim, do que é que estás à espera?", a sua prima entrou na conversa. "Temos estado à espera que nos apresentes."

Genevieve riu-se.

"Eu já te apresentei", respondeu ela. "Muitas vezes."

"Não o suficiente!", respondeu Sheila enquanto as outras se riam.

"Afinal, não deve a tua irmã casar-se com o irmão dele?"

Genevieve sorriu.

"Não havia nada que eu gostasse mais", respondeu ela. "Mas eu não posso falar por eles. Só conheço o coração de Royce."

"Convence-os!", insistiu a sua outra prima.

Genevieve riu-se novamente. "Vou fazer o meu melhor."

"E o que é que vais vestir?", a prima dela interrompeu. "Ainda não decidiste qual o vestido que…"

Um ruído repentino cortou o ar, um que imediatamente amedrontou Genevieve e a fez largar a sua foice e voltar-se para o horizonte. Ela percebeu, mesmo antes de o ouvir completamente, que era um som sinistro, um som que trazia problemas.

Ela virou-se e observou o horizonte e, ao fazê-lo, os seus piores medos foram confirmados. O som do galope tornou-se audível e, sobre o monte, apareceu um séquito de cavalos. Ela ficou apavorada ao ver que os seus cavaleiros estavam vestidos com as melhores sedas e ao ver a sua bandeira, verde e dourada, com um urso ao centro, anunciando a casa de Nors.

Os nobres estavam a chegar.

Genevieve ficou irada com o que via. Aqueles homens gananciosos tinham o dízimo após dízimo da sua família, das famílias de todos os camponeses. Eles tinham tirado tudo a todas as pessoas, até à última gota, e viviam como reis. E ainda assim, não era o suficiente.

Genevieve observava-os a galopar e rezava intensamente para que eles estivessem apenas de passagem, para que não virassem para o seu lado. Afinal, ela não os via naqueles campos há muitos ciclos solares.

No entanto, Genevieve viu com desespero que eles, de repente, se viraram e se dirigiram diretamente para ela.

Não, desejou ela silenciosamente. Agora não. Não aqui. Hoje não.

No entanto, eles continuaram a cavalgar, aproximando-se cada vez mais, claramente indo na direção dela. A notícia do dia do seu casamento provavelmente ter-se-ia espalhado, o que os deixava sempre ansiosos para apanharem o que conseguissem, antes que fosse tarde demais.

As outras miúdas reuniram-se em torno dela, instintivamente, aproximando-se. Sheila virou-se para ela e agarrou-lhe o braço freneticamente.

"CORRE!", ordenou, empurrando-a.

Genevieve virou-se e viu uma área aberta que se estendia por milhas. Ela sabia o quão tolo seria – ela não iria longe. Ela seria ainda assim levada – mas sem dignidade.

"Não", ela respondeu, com frieza, calma.

Em vez disso, ela agarrou com força a sua foice e segurou-a diante dela.

"Vou enfrentá-los de cabeça erguida."

Elas olharam para ela, claramente perplexas.

"Com a tua foice?", perguntou a sua prima em dúvida.

"Talvez eles não venham com maldade", entrou na conversa a sua outra prima.

Mas Genevieve via-os a chegar. Lentamente, abanou a cabeça.

"Eles vêm", ela respondeu.

Ela viu-os perto, esperando que abrandassem – contudo, para sua surpresa, eles não o fizeram. Ao centro cavalgava Manfor, um nobre privilegiado de vinte anos de idade, a quem ela desprezava, o duque do reino, um menino com lábios grandes, olhos claros, cabelos cacheados dourados e um sorriso permanente. Parecia que estava constantemente a olhar para o mundo de cima para baixo.

Quando ele se aproximou, Genevieve viu que ele tinha um sorriso cruel no rosto, enquanto olhava para o seu corpo como se ela fosse um pedaço de carne. A menos de vinte jardas de distância, Genevieve levantou a foice e deu um passo para a frente.

"Eles não me levarão", disse ela resignada, pensando em Royce. Mais do que qualquer coisa, ela desejava que ele estivesse ao seu lado agora.

"Genevieve, não!", exclamou Sheila.

Genevieve correu em direção a eles com a foice erguida, sentindo a adrenalina a percorrer-lhe o corpo. Ela não sabia como tinha convocado a coragem, mas fê-lo. Avançou, levantou a foice e golpeou o primeiro nobre que se aproximou dela.

Mas eles eram demasiado rápidos. Cavalgavam como trovões e, enquanto ela dava balanço, um simplesmente ergueu o seu taco, girou ao redor e arrancou-lhe a foice da mão. Ela sentiu uma vibração terrível através das suas mãos e viu, sem esperança, a sua arma a voar e a cair nas espigas nas proximidades.

Logo a seguir, Manfor passou a galopar, inclinou-se e golpeou-a na cara com as costas da mão com a sua manopla de metal.

Genevieve gritou, girou com a força do movimento e caiu de cara nas espigas com uma dor lancinante.

Os cavalos pararam abruptamente e, enquanto os cavaleiros à sua volta desmontavam, Genevieve sentiu umas mãos ásperas sobre ela. Foi posta de pé com um puxão, arrebatada pelo golpe.

Ela ficou ali a cambalear. Olhou para cima e viu Manfor de pé diante dela. Ele riu com desdenho, levantando o elmo e removendo-o.

"Larga-me!", ela sibilou. "Eu não sou tua propriedade!"

Ela ouviu gritos. Olhou e viu a sua irmã e primas a correrem até ela, tentando salvá-la – e ela viu horrorizada os cavaleiros a darem-lhe com as costas das mãos, atirando-as ao chão.

Genevieve ouviu o riso horrível de Manfor quando ele a agarrou e a atirou para as costas do seu cavalo, amarrando-lhe os punhos um ao outro. Um momento depois, ele montou-se atrás dela, esporeou o cavalo e partiu, com as miúdas a gritarem atrás dela enquanto ela se distanciava cada vez mais. Ela tentava lutar, mas era escusado reagir já que ele a segurava como se ela estivesse presa num torno.

"Como estás errada, jovem", respondeu ele, rindo enquanto cavalgava. "Tu és minha."




CAPÍTULO CINCO


Royce estava no meio dos campos de trigo, a talhar com a sua foice, alegre ao pensar na sua noiva. Ele mal podia acreditar que o dia do seu casamento tinha chegado. Ele amava Genevieve desde sempre. E este dia seria um dia que não rivalizaria com nenhum outro. Amanhã, ele iria acordar com ela ao seu lado, numa nova cabana só deles, com uma nova vida pela frente. Ele conseguia sentir a excitação no seu estômago. Não havia nada que ele desejasse mais.

Enquanto dava balanço à sua foice, Royce pensava nos treinos com os seus irmãos todas as noites, com os quatro a lutar incessantemente com espadas de madeira e às vezes com espadas verdadeiras, com pesos duplos, quase impossíveis de levantar, para torná-los mais fortes, mais rápidos. Embora ele fosse mais jovem do que os seus três irmãos, Royce percebia que já era um melhor lutador do que todos eles, mais ágil com a espada, mais rápido a atacar e a defender. Era como se ele fosse cortado de um pano diferente. Ele era diferente, ele sabia disso. No entanto, não sabia porquê. E isso incomodava-o.

De onde vinha o seu talento para o combate? ele perguntava-se. Porque é que ele era tão diferente? Não fazia muito sentido. Eram todos irmãos, todos do mesmo sangue, da mesma família. No entanto, ao mesmo tempo os quatro eram inseparáveis, fazendo tudo juntos, quer fosse lutar ou trabalhar nos campos. Isso, na verdade, era a sua única apreensão acerca daquele alegre dia: seria a sua saída de casa o início do afastamento deles? Ele prometeu, em silêncio, que não iria permitir que isso acontecesse.

Os pensamentos de Royce foram subitamente interrompidos por um som no limite do campo, um som incomum para aquele momento do dia, um som que ele não queria ouvir num dia perfeito como aquele. Cavalos. Galopando com pressa.

Royce virou-se e olhou, instantaneamente alarmado, e seus irmãos fizeram o mesmo. A sua preocupação aprofundou-se ao vislumbrar as irmãs e primas de Genevieve a cavalgarem até ele. Mesmo dali Royce conseguia ver as suas expressões de pânico, em urgência.

Royce tentava desesperadamente compreender o que estava a ver. Onde estava Genevieve? Porque é que eles estavam todos a cavalgar para ele?

E então, ele ficou verdadeiramente preocupado ao perceber que algo terrível tinha acontecido.

Ele largou a foice, assim como os seus irmãos e a outra dúzia da sua aldeia, correndo ao encontro deles. A primeira a chegar ao pé dele foi Sheila, a irmã de Genevieve, que desmontou do cavalo mesmo antes de ele parar, agarrando-se aos ombros de Royce.

"O que é que passa?", Royce gritou. Ele agarrou-lhe os ombros. Ele conseguia senti-la a tremer.

Ela mal conseguia pronunciar as palavras por entre as suas lágrimas.

"Genevieve!", ela gritou, com uma voz aterrorizada. "Eles levaram-na!"

Royce sentiu o seu mundo a desabar ao ouvir as palavras dela, ocorrendo-lhe os piores cenários.

"Quem?", ele perguntou, enquanto os seus irmãos corriam até ele.

"Manfor!", chorava ela. "Da casa de Nors!"

Royce ficou apavorado e a indignação percorreu-lhe o corpo. A sua noiva. Levada pelos nobres, como se ela fosse propriedade deles. O rosto dele encolerizou-se.

"Quando!?", ele exigiu saber, apertando o braço de Sheila com mais força do que pretendia.

"Mesmo agora!", respondeu ela. "Arranjámos estes cavalos para te vir dizer assim que conseguimos!"

As outras desmontaram atrás dela e, ao fazê-lo, entregaram as rédeas a Royce e aos seus irmãos. Royce não hesitou. Num movimento rápido ele montou o cavalo dela, esporeou e foi a romper pelos campos.

Atrás dele, ele ouvia os seus irmãos a cavalgar, também, sem perderem o ritmo, todos através das espigas e na direção do distante forte.

O seu irmão mais velho, Raymond, cavalgava ao seu lado.

"Sabes que a lei está do lado dele", ele gritou. "Ele é um nobre e ela é solteira – pelo menos por agora."

Royce acenou de volta.

"Se invadirmos o forte e pedirmos para eles a deixarem voltar, eles vão recusar", Raymond acrescentou. "Não temos base legal para exigir que a devolvam."

Royce rangeu os dentes.

"Eu não vou pedir para eles a deixarem voltar", ele respondeu. "Eu vou tirá-la de lá."

Loren abanava a cabeça enquanto cavalgava ao lado deles.

"Nunca vais conseguir passar por aquelas portas", ele gritou. "Um exército profissional espera por ti. Cavaleiros. Armamento. Portões". Ele abanou a cabeça novamente. "E mesmo que conseguisses, de alguma forma, passar por eles, mesmo que conseguisses resgatá-la, eles não a iriam libertar. Eles vão perseguir-te e matar-te."

"Eu sei", respondeu-lhe Royce.

"Meu irmão," disse Garet. "Eu adoro-te. E adoro Genevieve. Mas isto vai significar a tua morte. A morte de todos nós. Deixa-a ir. Não há nada que possas fazer."

Royce conseguia ouvir o quanto os seus irmãos se importavam com ele, o que agradecia – mas ele não podia permitir-se a ouvir aquilo. Aquela era a sua noiva e, independentemente do que estivesse em jogo, ele não tinha escolha. Ele não podia abandoná-la, mesmo que isso significasse a sua morte. Era assim que ele era.

Royce esporeou o seu cavalo com mais força, não querendo ouvir mais, galopando mais rapidamente pelos campos, em direção ao horizonte, em direção à extensa cidade, onde estava o forte de Manfor. Na direção do que certamente iria ser a sua morte.

Genevieve, pensou Royce. Eu vou salvar-te.


*

Royce cavalgou com toda a sua veemência pelos campos, com os seus três irmãos ao seu lado, subindo a última colina e, depois, avançando para a extensa cidade que ficava lá em baixo. No seu centro havia um enorme forte, a casa da Câmara dos Nors, os nobres que governavam a sua terra com um punho de ferro, que haviam tirado tudo à sua família, exigindo dízimo após dízimo de tudo o que eles cultivavam. Eles tinham conseguido manter os camponeses pobres durante gerações. Eles tinham dezenas de cavaleiros à sua disposição, de armadura completa, com armas reais e cavalos reais; eles tinham grossas paredes de pedra, um fosso, uma ponte e eles vigiavam a cidade como uma mulher ciumenta, sob o pretexto de manter a lei e a ordem – mas na verdade apenas para lhes sacarem tudo.

Eles faziam a lei. Eles aplicavam as cruéis leis que lhes eram passadas por todos os nobres de todo o território, leis que só os beneficiavam a eles. Eles funcionavam sob o disfarce de oferecer proteção, mas todos os camponeses sabiam que apenas precisavam de ser protegidos dos próprios nobres. O reino de Sevania, afinal de contas, era um reino seguro, isolado de outros territórios por água dos três lados, no extremo norte do continente Alufen. Um forte oceano, rios e montanhas eram as suas grossas paredes de segurança. O território não era invadido há séculos.

O único perigo e tirania vinha lá de dentro, da aristocracia nobre e do que eles sugavam dos pobres. De pessoas como Royce. Já nem os bens eram suficientes, eles tinham de ter as suas esposas também.

O pensamento trouxe cor às bochechas de Royce. Ele baixou a cabeça e preparou-se ao agarrar com mais força a sua espada.

"A ponte está para baixo!", Raymond gritou. "A grade de ferro do forte está aberta!"

Royce reparou nisso ele próprio e considerou isso um sinal encorajador.

"Claro que está!", Lofen respondeu. "Achas realmente que eles estão à espera de um ataque? Ainda por cima nosso?"

Royce cavalgou mais rápido, grato pela companhia dos seus irmãos, sabendo que todos os seus irmãos tinham um sentimento tão forte por Genevieve quanto ele. Ela era como uma irmã para eles e uma afronta a Royce era uma afronta a todos eles. Ele olhou em frente e sobre a ponte levadiça viu alguns dos cavaleiros do castelo, sem entusiasmo a olharem para os pastos e campos que rodeavam a cidade. Eles não estavam preparados. Eles não eram atacados há séculos e não tinham nenhum motivo para esperar serem naquele momento.

Royce puxou da espada com um toque diferenciado, baixou a cabeça e ergueu a espada. O som das espadas ecoou no ar quando os seus irmãos puxaram das suas, também. Royce saiu primeiro para a frente para assumir a liderança, querendo ser o primeiro na batalha. O seu coração batia com a excitação e medo, não medo por ele mesmo, mas por Genevieve.

"Vou entrar, encontrá-la e sair!", Royce gritou para os seus irmãos, formulando um plano. "Vocês ficam todos fora do perímetro. Esta é a minha luta."

"Não vamos deixar que entres sozinho!", Garet respondeu.

Royce sacudiu a cabeça, inflexível.

"Se algo correr mal, não quero que vocês paguem o preço", ele gritou. "Fiquem aqui e distraiam aqueles guardas. Isso é o que eu mais preciso."

Ele apontou com a sua espada para uma dúzia de cavaleiros que estavam na guarita ao lado do fosso. Royce sabia que, assim que ele cavalgasse por cima da ponte, eles iriam reagir; mas se os seus irmãos os distraíssem, talvez desse para os manter alheios apenas o tempo suficiente para Royce entrar e encontrá-la. Ele calculava que apenas precisava era de uns minutos. Se ele conseguisse encontrá-la depressa, poderia agarrar nela rapidamente, fugir e ver-se livre daquele lugar. Ele não queria matar ninguém se o conseguisse evitar; ele nem sequer queria magoá-los. Ele só queria a sua noiva de volta.

Royce baixou a cabeça, galopando tão rápido quanto conseguia, tão rápido que ele mal conseguia respirar, com o vento a bater-lhe no seu cabelo e rosto. Ele aproximou-se da ponte, a trinta, a vinte, a dez jardas de distância, ouvindo o som do seu cavalo e o seu batimento cardíaco. Sentia-se inquieto ao cavalgar, percebendo o quão louco aquilo era. Ele estava prestes a fazer o que a classe camponesa nunca sonhara fazer: atacar a aristocracia. Era uma guerra que possivelmente não conseguiria ganhar e uma maneira certa de ser morto. Mas, no entanto, a sua noiva estava por detrás daquelas portas e isso era o suficiente para ele.

Royce estava tão perto agora, a apenas a algumas jardas de alcançar a ponte. Olhou para cima e viu os olhos dos cavaleiros arregalarem-se de surpresa e a ficarem atrapalhados com as armas, apanhados de surpresa, claramente não estando à espera de nada daquilo.

A sua reação tardia era exatamente o que Royce precisava. Ele correu para a frente e, quando eles levantaram as suas alabardas, baixou a espada e, apontando para os fustes, cortou-os ao meio. Ele golpeava de um lado para o outro, destruindo as armas dos cavaleiros que estavam em ambos os lados da ponte, com cuidado para não os magoar se tal não fosse necessário. Ele só queria desarmá-los e não propriamente envolver-se num combate.

Royce ganhou velocidade, incitando o seu cavalo. Cavalgava cada vez mais rápido, usando o seu cavalo como uma arma, embatendo nos restantes guardas com força suficiente para atirá-los para o ar, na sua armadura pesada, por cima da ponte estreita e fazendo-os cair no fosso de água abaixo. Seria preciso algum tempo para que eles conseguissem de lá sair, Royce apercebeu-se. E esse era todo o tempo que ele precisava.

Atrás dele, Royce ouvia os seus irmãos ajudando à sua causa; do outro lado da ponte eles cavalgaram para a guarita, golpeando os guardas, desarmando-os antes de eles terem qualquer hipótese de se reagruparem. Eles conseguiram bloquear e barrar a guarita, mantendo os desconcertados cavaleiros desprevenidos e dando a Royce a cobertura de que precisava.

Royce baixou a cabeça e avançou para a grade de ferro, que estava aberta, cavalgando mais rápido e vendo que ela começava a baixar. Ele baixou a cabeça e conseguiu passar rapidamente pelo arco aberto exatamente antes de a grade se fechar de uma vez por todas.

Royce entrou no pátio interno, com o coração aos pulos. Fez um balanço, olhando ao redor. Ele nunca tinha estado lá dentro e estava desorientado, encontrando-se cercado por grossas paredes de pedra por todos os lados, com vários andares de altura. Servos e pessoas comuns movimentavam-se de um lado para o outro, carregando baldes de água e outros produtos. Felizmente, nenhum cavaleiro o aguardava. Claro, eles não tinham nenhum motivo para esperar um ataque.

Royce examinou as paredes, desesperado por qualquer sinal da sua noiva.

No entanto, ele não encontrou nenhum. Ele entrou em pânico. E se eles a tivessem levado para outro lugar?

"GENEVIEVE!", gritou ele.

Royce olhava para todos os lados, freneticamente a girar no seu cavalo que relinchava. Ele não fazia a mínima ideia para onde olhar e não tinha nenhum plano. Ele não tinha sequer pensado que conseguiria chegar tão longe.

Royce atormentava o seu cérebro, precisando pensar novamente. Os nobres provavelmente viviam lá em cima, ele imaginou, longe do mau cheiro, das multidões, onde o vento e a luz do sol eram fortes. Naturalmente, seria para ai que eles levariam Genevieve.

Aquele pensamento enraiveceu-o.

Forçando-se a controlar as suas emoções, Royce esporeou o seu cavalo e galopou pelo pátio, passando por servos em choque que paravam e olhavam, largando o trabalho à sua passagem. Ele viu uma grande escadaria de pedra, em espiral, do outro lado e cavalgou até lá, desmontando do cavalo ainda antes de ele parar, correndo a grande velocidade pelas escadas acima. Ele correu espiral acima sem parar, subindo lance após lance. Ele não tinha ideia para onde estava a ir, mas imaginava ter quando chegasse ao topo.

Royce finalmente saiu da escadaria no patamar mais alto, respirando com dificuldade.

"Genevieve!", ele gritou, esperando, rezando por uma resposta.

Não havia nenhuma. O seu pavor aprofundava-se.

Ele escolheu um corredor e correu por ele fora, rezando para que aquele fosse o caminho certo. Ao passar a correr, um homem, de repente, abriu uma porta e espreitou. Era um nobre, um homem baixo e gordo, com um nariz largo e cabelo fino.

Ele fez má cara para Royce, claramente por ver o seu traje de camponês; ele torceu o nariz como se algo desagradável o tivesse invadido.

"Ei!", gritou. "O que é que estás a fazer no nosso…"

Royce não hesitou. Quando o indignado nobre se lançou para ele, Royce deu-lhe um soco na cara, derrubando-o de costas no chão.

Royce, rapidamente, espreitou pela porta aberta, esperando vislumbrá-la. Mas não estava lá.

Ele continuou a correr.

"GENEVIEVE!", gritava Royce.

De repente, ele ouviu um grito, ao longe, em resposta.

Ele ficou ali quieto e alerta a ouvir, perguntando-se de onde tinha vindo. Ciente de que o seu tempo era limitado, que um exército inteiro estaria em breve atrás dele, ele continuou a correr, com o coração bater com força, chamando por ela repetidas vezes.

Mais uma vez, ouviu um grito abafado. Royce sabia que era ela. Ficou inquieto. Ela estava aqui em cima. E ele estava a aproximar-se.

Royce chegou finalmente ao fim do corredor e, ao fazê-lo, por trás da última porta à esquerda, ele ouviu um grito. Ele não hesitou. Baixou o ombro e embateu contra a porta de carvalho antigo.

A porta partiu-se e Royce entrou de rompante. Ele estava numa opulenta câmara, trinta pés por trinta pés, com tetos altos, janelas esculpidas nas paredes de pedra, uma enorme fogueira e, no centro, uma enorme e luxuosa cama de dossel, diferente de tudo o que já havia visto. Ele sentiu uma onda de alívio quando viu ali, numa pilha de peles, o seu amor, Genevieve.

Ele ficou aliviado ao ver que ela estava completamente vestida, ainda a agitar-se, pontapeando, enquanto Manfor tentava agarrá-la por trás. Royce encolerizou-se. Ali estava ele, agarrando a sua noiva, tentando tirar-lhe as roupas. Royce estava aliviado por ter chegado a tempo.

Genevieve contorcia-se, tentando corajosamente tirá-lo de cima de si, mas Manfor era demasiado forte para ela.

Sem hesitar um momento, Royce explodiu em ação. Ele correu e atirou-se a ele, exatamente quando Manfor se virou para olhar. Os seus olhos arregalaram-se em choque. Royce agarrou-o pela camisa e atirou-o.

Manfor foi atirado do quarto a voar, estatelando-se com força no chão, a gemer.

"Royce!", gritou Genevieve, com uma voz de alívio ao vê-lo quando se virou.

Royce sabia que não podia dar a Manfor a hipótese de se recuperar. Quando ele se tentou levantar, Royce saltou-lhe para cima, prendendo-o para baixo. Cheio de raiva pelo que ele tinha feito à sua esposa, Royce chegou o seu punho atrás e deu-lhe um muro com força no maxilar.

Manfor foi projetado para trás. Porém, sentou-se e alcançou um punhal. Mas Royce arrancou-o da sua mão e bateu-lhe sem parar. Manfor caiu para trás e Royce atirou o punhal para longe, fazendo-o deslizar pelo chão.

Ele imobilizou Manfor que sorria sarcasticamente para ele, sempre desafiante e superior.

"A lei está do meu lado", Manfor fervilhava. "Eu posso ficar com quem eu quiser. Ela é minha."

Royce olhava para ele com má cara.

"Tu não podes ficar com a minha noiva."

"Estás louco", Manfor contrapôs. "Louco. Vais ser morto de qualquer das formas. Não há lugar onde te possas esconder. Não sabes isso? Nós possuímos este país."

Royce abanou a cabeça.

"O que tu não entendes", disse ele, "é que eu não quero saber."

Manfor franziu a testa.

"Não te vais safar desta", disse Manfor. "Eu vou tratar disso."

Royce agarrou os pulsos de Manfor ainda com mais força.

"Não vais fazer nada do género. Genevieve e eu vamo-nos embora daqui hoje. Se vieres atrás dela novamente, eu mato-te."

Para surpresa de Royce, Manfor sorriu maleficamente, com sangue a escorrer-lhe da boca.

"Eu nunca a vou deixar", Manfor respondeu. "Nunca. Vou atormentá-la para o resto da sua vida. E vou perseguir-te como um cão com todos os homens do meu pai. Vou levá-la e ela será minha. E tu serás pendurado na forca. Portanto, foge agora e lembra-te da cara dela – dentro em breve, ela será minha."

Royce sentiu uma quente onda de raiva. O pior daquelas palavras cruéis era que ele sabia que elas eram verdadeiras. Não havia para onde fugir; os nobres eram donos do território. Ele não podia lutar contra um exército. E Manfor, de facto, nunca iria desistir. Por puro desporto – por mais nenhuma razão. Ele tinha tanto e, ainda assim, não conseguia evitar privar as pessoas que não tinham nada.

Royce olhou para os olhos daquele nobre cruel. Ele sabia que Genevieve seria possuída por aquele homem um dia. E ele sabia que não podia deixar que isso acontecesse. Ele queria ir-se embora, ele realmente queria. Mas não podia. Fazer isso significaria a morte de Genevieve.

Royce, de repente, agarrou Manfor e atirou-o ao chão. Ele encarou-o e sacou da sua espada.

"Saca da tua espada!", Royce ordenou-lhe, dando-lhe uma hipótese de lutar com honra.

Manfor olhou para ele, claramente surpreendido por lhe estar a ser dada aquela oportunidade. De seguida, ele sacou da espada.

Manfor atacou, dando balanço com força e Royce ergueu a sua espada e bloqueou-a. Voaram faíscas. Royce, sentindo que era mais forte, ergueu a sua espada, empurrando Manfor para trás. Depois girou com o cotovelo e bateu-lhe no rosto com o punho da espada.

Royce partiu o nariz de Manfor, ouvindo-se um estalido. Manfor cambaleou para trás e olhou, claramente atordoado enquanto agarrava o seu nariz. Royce poderia ter aproveitado o momento para matá-lo, mas, novamente, deu-lhe mais uma hipótese.

"Desiste", Royce propôs, "e eu deixo-te viver."

Manfor, no entanto, soltou um gemido de fúria. Ergueu a sua espada e atacou novamente.

Royce bloqueava-a, enquanto Manfor balançava furiosamente, cada um deles a golpear para a frente e para trás, com as espadas a ressoar quando as faíscas voavam. Os dois andavam de um lado para o outro por todo o quarto. Manfor podia ser um nobre, criado com todos os benefícios da classe real, porém, Royce tinha um talento superior para o combate.

Durante a luta, ouviram-se cornetas ao longe e o som de um exército a aproximar-se do castelo, com os cascos dos cavalos a baterem calçada abaixo. Royce ficou preocupado. Ele sabia que o seu tempo estava a acabar. Algo tinha de ser feito rapidamente.

Finalmente, Royce fez girar acentuadamente a espada de Manfor e desarmou-o, atirando-a pelo ar para o outro lado da sala. Royce encostou a ponta da sua espada à garganta de Manfor.

"Recua, agora", Royce ordenou.

Manfor afastou-se lentamente, de braços para cima. No entanto, quando chegou a uma pequena mesa de madeira, ele, de repente, girou, apanhou algo e atirou-a para os olhos de Royce.

Royce gritou ao ficar, de repente, cego. Os olhos ardiam-lhe e o seu mundo ficou preto. Ele percebeu, tarde demais, ao tatear os seus olhos, que era tinta. Tinha sido uma jogada suja, um movimento impróprio de um nobre ou de qualquer lutador. Mas, mais uma vez, Royce sabia que não deveria ficar surpreendido.

Antes de conseguir recuperar a sua visão, Royce, de repente, sentiu um pontapé forte no estômago. Desequilibrou-se, caindo para o chão, sem fôlego, e, ao olhar para cima, recuperou apenas a visão suficiente para ver Manfor a sorrir enquanto extraia um punhal escondido na sua capa – e ergueu-o na direção das costas de Royce.

"ROYCE!", Genevieve gritou.

No momento em que o punhal desceu na direção das suas costas, Royce conseguiu recompor-se, apoiando-se num joelho, levantando o braço e agarrando o pulso de Manfor. Royce lentamente ficou de pé, com os braços tremendo e, enquanto Manfor baixava o punhal, ele, de repente, esquivou-se para o lado e girou o braço dele ao redor, usando a sua força contra ele. Manfor continuou a mover-se, não disposto a parar, mas, desta vez, quando Royce se desviou, ele mergulhou o punhal no seu próprio estômago.

Manfor arfava. Ele estava ali, a olhar para Royce, com os olhos arregalados, com o sangue a escorrer-lhe da boca. Ele estava a morrer.

Royce sentiu a solenidade do momento. Ele havia matado um homem. Pela primeira vez na sua vida, ele havia matado um homem. E não um homem qualquer mas sim um nobre.

O último gesto de Manfor foi um sorriso cruel, com o sangue a escorrer-lhe da boca.

"Recuperaste a tua noiva", ele ofegou, "à custa da tua vida. Vais juntar-te a mim em breve."

Dito isso, Manfor sucumbiu e caiu no chão com um baque.

Morto.

Royce virou-se e olhou para Genevieve, que estava sentada na cama, atordoada. Ele conseguia ver o alívio e gratidão no seu rosto. Ela saltou da cama, correu pelo quarto, diretamente para os seus braços. Ele abraçou-a com força. Era tão bom. Tudo fazia sentido no mundo outra vez.

"Oh, Royce", disse ela ao seu ouvido. E isso era tudo o que ela precisava de dizer. Ele entendeu.

"Vamos, temos de ir", disse Royce. "O nosso tempo é curto."

Ele pegou-lhe na mão e os dois saíram a correr pela porta do quarto para os corredores.

Royce correu pelo corredor com Genevieve ao seu lado. O coração dele batia com força ao ouvir soar as cornetas reais, uma e outra vez. Ele sabia que era o som do alarme – e sabia que era por causa dele.

Ao ouvir o barulho da armadura abaixo, Royce sabia que o forte estava fechado e que ele estava cercado. Os seus irmãos tinham feito um bom trabalho ao conseguir mantê-los fora, mas a incursão de Royce tinha demorado muito tempo. Enquanto corriam, ele olhou para baixo para o pátio e ficou aterrorizado ao ver dezenas de cavaleiros já a passar pelos portões.

Royce sabia que não havia saída. Não só ele havia invadido a casa deles, como também tinha matado um deles, um nobre, um membro da família real. Ele sabia que eles não o iam deixar viver. Hoje seria o dia em que sua vida mudaria para sempre. Que ironia, pensou; esta manhã, ele tinha acordado tão cheio de alegria, antecipando o dia. Agora, antes do sol se pôr naquele mesmo dia, ele provavelmente estaria, ao invés, enfrentando a forca.

Royce e Genevieve correram sem parar, aproximando-se do fim do corredor e da entrada para a escada em espiral, quando de repente uma meia dúzia de cavaleiros apareceu, emergindo das escadas, bloqueando o seu caminho.

Royce e Genevieve pararam imediatamente, viraram-se e correram para o outro lado, enquanto os cavaleiros os perseguiam. Royce ouvia a armadura deles a ressoar atrás dele e sabia que a sua única vantagem era a sua falta de armadura, o que lhe dava a velocidade suficiente para se manter à frente deles.

Eles corriam sem parar, percorrendo os corredores. Royce esperava desesperadamente encontrar uma escada traseira, outra saída – quando, de repente, ao viraram noutro corredor, deram por eles diante de uma parede de pedra. Royce ficou desesperado ao chegarem ao fim.

Um beco sem saída.

Royce voltou-se e sacou da espada ao mesmo tempo que colocou Genevieve atrás dele, preparado para marcar uma posição contra os cavaleiros, embora ele soubesse que seria a última.

De repente, ele sentiu Genevieve a agarrar-lhe o braço freneticamente, gritando: "Royce"

Ele voltou-se e viu para onde ela estava a olhar: uma grande janela ao lado deles. Ele olhou para baixo e ficou apavorado. Era uma longa queda, demasiado longa para sobreviver.

Porém, ele viu que ela estava a apontar para uma carroça cheia de feno que passava devagar por baixo deles.

"Nós podemos saltar!", gritou ela.

Ela agarrou na mão dele e, juntos, aproximaram-se da janela. Ele virou-se e olhou para trás, viu os cavaleiros a aproximarem-se, e, de repente, antes de ter tempo para pensar o quão louco aquilo era, sentiu a sua mão a ser puxada – e foram transportados pelo ar.

Genevieve era ainda mais valente do que ele. Ela tinha sempre sido, até mesmo em criança, ele lembrou-se.

Eles saltaram, caindo uns bons trinta pés pelo do ar, com Royce apavorado e Genevieve a gritar, visando o vagão. Royce preparava-se para morrer e estava grato por, pelo menos, não ir morrer nas mãos dos nobres – e com o seu amor ao seu lado.

Para grande alívio de Royce eles caíram na pilha de feno, provocando uma enorme nuvem à volta deles. Apesar de estar sem fôlego e magoado com a queda, para sua surpresa, ele não tinha partido nada. Sentou-se imediatamente e olhou para ver se Genevieve estava bem; ali estava ela, atordoada, mas sentou-se, também, e, ao escovar o feno, viu com imenso alívio que não se tinha ferido.

Sem dizer uma palavra, ambos, ao mesmo tempo, lembraram-se da sua difícil situação e saltaram do carro, com Royce a agarrar-lhe a mão. Royce correu para o seu cavalo, que ainda o aguardava no pátio, montou, agarrou Genevieve e ajudou-a a subir para trás dele. Com um pontapé, os dois partiram a galope, com Royce a apontar para o portão aberto para o castelo, enquanto os cavaleiros continuavam a entrar, passando a correr por eles, sem sequer se aperceberem que eram eles.

Eles aproximaram-se do portão aberto. O coração de Royce batia com força; eles estavam tão perto. Tudo o que tinham a fazer era transpô-lo e, com alguns passos largos eles estariam fora, no campo. Lá eles poderiam reunir-se com os irmãos dele, os seus primos e homens, e, juntos, podiam todos fugir daquele lugar, e começar uma nova vida algures. Ou melhor ainda, eles poderiam juntar o seu próprio exército e lutar contra aqueles nobres de uma vez por todas. Por um glorioso momento, o tempo parou e Royce sentia-se à beira de mudança, da vitória, da mudança de paradigma. O dia para a revolta tinha chegado. O dia para as suas vidas nunca mais voltarem a ser as mesmas.

Ao aproximar-se do portão, Royce ficou congelado de medo quando viu a grade de ferro, que estava aberta novamente para deixar os cavaleiros entrar, de repente, a baixar e a fechar-se diante dele. O seu cavalo empinou-se e eles pararam mesmo a tempo.

Royce virou-se, olhando para trás para o pátio. Lá ele viu cinquenta cavaleiros, que agora percebiam quem eles eram, a aproximarem-se. Royce preparava-se para cavalgar para a frente e encontrá-los no campo de batalha, por muito imprudente que isso fosse, quando, de repente, sentiu uma corda a cair sobre ele, vinda de trás, ouvindo Genevieve a gritar.

As cordas apertaram-se ao redor da sua cintura e, com uma sacudidela, Royce sentiu-se a ser atirado para trás do seu cavalo. Ele caiu com força no chão, sem fôlego, atado por trás. Ele olhou e viu Genevieve atada com cordas e puxada para o chão, também.

Royce rebolava e tropeçava, tentando freneticamente libertar-se, com as cordas apertadas à volta dos seus braços e ombros. Ele alcançou a sua cintura, agarrou no punhal e, com um empurrão, conseguiu soltá-las.

Livre, ele desviou-se a rebolar de um taco que vinha na direção da sua cabeça. Agarrou a espada do seu atacante, virando-se e depois, ficou de pé no centro do pátio, cercado por aquilo que era naquele momento quase uma centena de cavaleiros. Eles cercaram-no de todos os lados.

Eles atacaram. Royce levantou a sua espada e lutou também, defendendo-se à medida que eles golpeavam, golpeando também, sentindo-se invencível, mais forte e mais rápido do que todos eles. Ainda assim, eles cercavam-no cada vez mais, com as suas fileiras a crescerem.

Royce ergueu a sua espada e bloqueou um golpe apontado para a sua cabeça; então ele girou e golpeou outra espada apontada para as suas costas, arrancando a espada das mãos do seu atacante. Ele então inclinou-se para trás e pontapeou outro cavaleiro no peito quando ele se aproximou, forçando-o a largar o seu taco.

Royce lutava como um homem possuído, golpeando e defendendo-se, conseguindo manter dezenas deles afastados, à medida que as espadas soavam e as faíscas choviam à sua volta. Ele respirava com dificuldade, mal capaz de ver por causa do suor que lhe fazia arder os olhos. E durante todo aquele tempo, ele pensava apenas numa coisa: Genevieve. Ele morreria aqui por ela.

As fileiras estavam cada vez maiores. Era demasiado até mesmo para ele. Os braços e os ombros de Royce doíam-lhe, a sua respiração estava pesada. A multidão era tanta, tão próxima, que ele mal conseguia mexer-se para dar balanço. Ao erguer a sua espada uma última vez para golpear, de repente, sentiu uma terrível dor na parte de trás da cabeça.

Caiu no chão, vagamente consciente de que tinha sido atingido por um taco. Ele só deu por estar deitado de lado no chão, incapaz de se mover, quando dezenas de cavaleiros se lançaram sobre ele. Era um muro de metal a prendê-lo ao chão, dobrando-lhe os braços, com os joelhos nas suas costas e com os braços na sua cabeça.

Era o fim, ele percebeu.

Ele tinha perdido.




CAPÍTULO SEIS


Royce acordou, sobressaltado, sentindo água gelada no rosto e ouvindo gritos e vaias. Ele pestanejou com a luz. Apercebeu-se de imediato que um de seus olhos estava fechado e o outro quase fechado, apenas o suficiente para ele conseguir ver. A sua cabeça cambaleava por causa da dor, o seu estava corpo rígido, coberto de inchaços e contusões. Sentia-se como se tivesse rebolado por uma montanha abaixo. Olhou para o mundo diante de si e desejou não o ter feito.

Uma multidão agitada rodeava-o, alguns a gritar e a vaiar, outros a protestar, aparentemente em seu nome. Era como se aquelas pessoas tivessem irrompido numa guerra civil, com ele no centro. Ele esforçava-se por perceber o sentido do que via. Seria um sonho? ele questionava-se.

A dor era demasiado intensa para que fosse um sonho; a dor de cabeça dos golpes e as cordas grossas a apertarem os pulsos. Ele lutava com as cordas que lhe atavam os pulsos e tornozelos, sem sucesso, e, ao olhar para baixo, percebeu que estava amarrado a uma estaca. O seu coração bateu com mais força ao ver uma pilha de madeira debaixo dele, como se estivesse pronta para ser acesa. O medo apoderou-se de si ao perceber que estava amarrado no pátio do castelo.

Royce olhou e viu centenas de aldeões a multiplicavam no pátio e dezenas de cavaleiros e guardas de pé ao longo dos muros; ele viu um palco de madeira improvisado, talvez a cinquenta pés de distância e, nele, juízes do tribunal, todos eles nobres. Ao centro estava um homem que ele reconheceu: Lorde Nors. O chefe da família dos nobres. O pai de Manfor. Ele era o juiz presidente do território. Ele estava ao meio a olhar para Royce com um ódio que Royce jamais havia visto.

Não era um bom presságio.

Voltou tudo à memória de Royce. Genevieve. A invasão ao forte. O resgate dela. Matar Manfor. Saltar. Lutar contra aqueles cavaleiros. E depois…

Ouviu-se várias vezes o bater de um martelo na madeira e a multidão sossegou. O Lorde Nors estava de pé, olhando taciturnamente para todos. Estava ainda mais feroz, mais imponente, de pé. Fixou o seu olhar cheio de fúria sobre Royce que percebeu que estava a ser levado a julgamento. Ele tinha visto vários julgamentos e nenhum tinha corrido bem para os prisioneiros.

Royce observava os rostos, desesperado por ver Genevieve, rezando para que ela estivesse em segurança, longe de tudo aquilo.

No entanto, ele não via nada. Isso era o que o preocupava mais do que tudo. Teria ela sido presa? Morta?

Ele tentava bloquear da sua mente vários cenários de pesadelo.

"És aqui acusado do assassinato de Manfor da Casa de Nors, filho do Lorde Nors, governante do Sul e das Florestas de Segall", fez soar o Lorde Nors. A multidão ficou completamente imóvel. "Qual é a tua alegação?"

Royce abriu a boca, esforçando-se para falar – mas os seus lábios e garganta estavam ressequidos. A sua voz ficou aquém e ele tentou novamente.

"Ele roubou a minha noiva", Royce finalmente conseguiu responder.

Ouviu-se um coro de aplausos de apoio. Royce olhou e viu milhares de aldeões, seus compatriotas, a aparecerem, empunhando tacos, foices e forquilhas. Ele ficou esperançado e grato ao perceber que todos os do seu povo tinham vindo para apoiá-lo. Eles estavam todos fartos.

Royce olhou para o Lorde Nors e viu-o perder a sua convicção, apenas um bocadinho. Um olhar nervoso espalhou-se pelo seu rosto. Ele virou-se e olhou para seus colegas juízes e eles olharam para os cavaleiros. Parecia que estavam a começar a aperceber-se que podiam, se condenassem Royce à morte, ter uma revolução nas suas mãos.

Finalmente, o Lorde Nors bateu com o martelo e a multidão sossegou.

"No entanto", ele bombardeou, "a lei é clara: qualquer mulher camponesa é propriedade de qualquer nobre até ela se casar."

Ouviu-se um grande coro de vaias e assobios da multidão que avançou. Uma pessoa anónima atirou um tomate em direção ao palco e a multidão aclamou, pois, por pouco não acertou no Lorde Nors.

Ouviu-se um sussurrar horrorizado entre os nobres e, quando o Lorde Nors assentiu, os cavaleiros começaram a empurrar a multidão, ansiosos por encontrar o agressor. No entanto, eles logo pararam, pensando melhor no assunto, ao serem cercados por mais centenas de aldeões que se movimentavam para a praça, tornando a passagem impossível. Um cavaleiro tentou passar em frente dando cotoveladas, mas em pouco tempo ficou submerso pelas massas, empurrado de um lado para o outro e, entre gritos zangados e aclamações, ele recuou.

A multidão aplaudiu. Finalmente, eles estavam a defender-se a si mesmos.

Royce sentiu uma onda de optimismo. Um ponto de viragem tinha chegado. Os camponeses, tal como ele, estavam fartos. Já ninguém queria que as suas mulheres fossem levadas. Ninguém queria ser considerado como propriedade. Todos se aperceberam que poderiam estar na posição de Royce.

Royce observou a multidão, ainda desesperado para encontrar Genevieve – de repente, ele viu-a ao fim do pátio, amarrada em cordas. Ao pé estavam os seus três irmãos, eles, também, amarrados. Ele ficou aliviado ao ver que, pelo menos, estavam vivos e ilesos. Mas preocupado ao ver que estavam amarrados. Ele perguntava-se o que é que lhes iria acontecer. Ele desejava mais do que qualquer coisa poder ser castigado em vez deles.

À medida que a multidão se avolumava, os magistrados pareciam cada vez mais nervosos e olhavam para o Lorde Nors com olhares de incerteza.

"É a tua lei!", Royce gritou, recuperando a sua voz, encorajado. "Não a nossa!"

A multidão soltou um enorme rugido de aprovação, avançando perigosamente, com forquilhas e foices erguidas no ar.

Lorde Nors, olhando taciturnamente para baixo na direção de Royce, ergueu as mãos e, finalmente, a multidão sossegou-se.

"Hoje o meu filho está morto", ressoou ele, com uma voz pesada de tristeza. "E se eu fosse fazer cumprir a lei, tu serias morto, também."

A multidão vaiou e aglomerou-se ameaçadoramente.

"E, no entanto", ecoou Lorde Nors, levantando as mãos, "dada a situação dos nossos tempos, matar-te não seria no melhor interesse da coroa. E assim", disse ele, voltando-se e olhando para os seus companheiros magistrados, "decidi conceder-lhe misericórdia!"

A multidão aclamou calorosamente, agitando-se. Royce sentiu uma onda de alívio. O Lorde Nors ergueu as mãos.

"Os teus irmãos não mataram nenhum dos nossos homens no vosso ataque e, portanto, eles não vão mortos, tampouco."

A multidão aclamou

"Eles serão presos!", ressoou ele.

A multidão vaiou.

"No entanto, a tua noiva nunca será tua", disse o Lorde Nors numa voz crescente. "Ela será propriedade de um dos nossos nobres."

A multidão vaiou e assobiou, mas antes que se intensifica-se, Lorde Nors terminou, apontando para Royce com toda a sua ira:

"E tu, Royce, serás condenado à Arena!"

A multidão vaiou e correu para a frente e, em pouco tempo, uma briga irrompeu nas ruas.

Royce não conseguiu vê-la a crescer. De repente, as cordas foram cortadas dos seus pulsos e dos seus tornozelos e ele caiu no chão, mole. Ele sentiu uns braços ao seu redor e manoplas de metal a agarrarem-no, arrastando-o para longe através do caos.





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De Morgan Rice, a autora do best-seller nº1 do O ANEL DO FEITICEIRO, chega uma nova série de fantasia fascinante. APENAS OS DIGNOS (O Caminho da Robustez – Livro nº1) narra a história épica da transição da adolescência para a vida adulta de Royce, 17, um camponês que sente que, com suas habilidades de luta especiais, é diferente de todos os outros rapazes da sua aldeia. Dentro de si, reside um poder que ele não entende e um destino oculto que ele tem medo de enfrentar. No dia em que está para casar com o seu verdadeiro amor, Genevieve, ela é levada para longe dele. Royce escolhe arriscar tudo para enfrentar os nobres que a levaram e para tentar salvar o seu amor. Ao falhar, ele é condenado à infame Ilha Negra, uma ilha árida de guerreiros conhecidos por transformar rapazes em homens. Banido da sua pátria, Royce tem de efetuar treinos que nem imagina enquanto é ensinado a sobreviver às célebres Arenas – o brutal desporto sangrento do reino. Genevieve, por sua vez, desesperada pelo regresso de Royce, é forçada a navegar pelo mundo cruel e conivente da aristocracia encontrando-se imersa num mundo que despreza. No entanto, quando os poderes de Royce se tornam mais fortes e ele fica a saber que existe um segredo por detrás da misteriosa linhagem do seu pai, ele começa a perceber que o seu destino pode ser melhor do que pensava. Ele começa a indagar-se sobre a questão mais terrível de todas: quem é ele?APENAS OS DIGNOS tece um conto épico de amigos e amantes, de cavaleiros e honra, de traição, destino e amor. Um conto de valentia, que nos leva para um mundo de fantasia pelo qual nos vamos apaixonar e que apela a todas as idades e sexos.

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