Книга - Um Reinado De Aço

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Um Reinado De Aço
Morgan Rice


Anel Do Feiticeiro #11
Em UM REINADO DE AÇO (LIVRO N º11 DA SÉRIE O ANEL DO FEITICEIRO), Gwendolyn deve proteger o seu povo ao ver seu reino dominado. Ela luta para evacuar o Anel – mas há um problema: seu povo se recusa a partir. Quando uma batalha de vontades se segue, Gwen vê seu reinado colocado à prova pela primeira vez – enquanto a maior ameaça ao Anel se aproxima. Além dos McCloud existe a ameaça de Romulus e seus dragões que, com o Escudo destruído, começam uma invasão catastrófica que não deixa nada entre eles e a destruição completa do Anel. Romulus, com o apoio de Luanda, está invencível até o final do ciclo da lua, e Gwen deve lutar pela sobrevivência – sua, de seu filho e de todos os seus súditos – em meio a uma batalha épica entre homens e dragões. Kendrick lidera os Prata em uma batalha corajosa, e recebe a ajuda de Elden e dos novos recrutas da Legião juntamente com seu irmão Godfrey, que surpreende a todos, incluindo ele mesmo, com seus atos de bravura. Mas, mesmo assim, tudo isso pode não ser o suficiente. Enquanto isso, Thor embarca na viagem de sua vida na Terra dos Druidas, atravessando uma região assustadora e mágica, diferente de todas as outras e regida por suas próprias leis. Atravessar aquela terra exigirá todas as habilidades e experiência de Thor, forçando-o a buscar dentro de si a força para se tornar o guerreiro – e druida – que ele está destinado a ser. Ao encontrar monstros e desafios maiores do que nunca, Thor terá que colocar sua vida em risco para encontrar sua mãe. Erec e Alistair viajam para as Ilhas do Sul, onde são recebidos pelos conterrâneos dele, incluindo seu competitivo irmão e sua irmã invejosa. Erec tem um dramático último encontro com seu pai, e a ilha se prepara para levá-lo ao trono. Mas, nas Ilhas do Sul, deve-se lutar pelo direito ao trono, e Erec é coloca à prova como nunca antes. Em uma reviravolta dramática, descobrimos que existe traição também no mundo dos nobres guerreiros. Reece, cercado nas Ilhas Superiores, deve lutar por sua vida após sua vingança contra Tirus. Desesperado, ele se vê unido a Stara, ambos mutuamente receosos, embora unidos na luta pela sobrevivência – uma luta que terminará com uma batalha naval épica que colocará toda a ilha em risco. Gwen conseguirá atravessar o mar em segurança? Será que Romulus conseguirá destruir o Anel? Reece e Stara ficarão juntos? Erec será coroado Rei? E Thor, será que ele vai encontrar sua mãe? O quê acontecerá com Guwayne? Alguém sobreviverá à tudo isso? Com um enredo e caracterização sofisticados, UM REINADO DE AÇO é uma estória épica de amigos e amantes, rivais e interesses românticos, cavaleiros e dragões, intrigas e manipulações políticas e da mudança para a vida adulta, de corações partidos, decepções, ambição e traição. Uma estória de honra e coragem, de destino e magia. Uma fantasia que nos leva a um mundo inesquecível, e que atrai leitores de todas as idades e gêneros. Livros Nº 12 – 15 também estão disponíveis!





Morgan Rice

Um Reinado De Aço (Livro N º11 Da Série O Anel Do Feiticeiro)




Sobre Morgan Rice

Morgan Rice é a autora do bestseller Nº1 de DIÁRIOS DE UM VAMPIRO, uma série destinada a jovens adultos composta por onze livros (em progresso); da série bestseller Nº1 TRILOGIA DE SOBREVIVÊNCIA, um thriller pós-apocalíptico composto por dois livros (em progresso); e da série bestseller Nº1 de fantasia épica O ANEL DO FEITICEIRO, composta por treze livros (e contando).

Os livros de Morgan estão disponíveis em áudio e versões impressas, e traduções dos livros estão disponíveis em alemão, francês, italiano, espanhol, português, japonês, chinês, sueco, holandês, turco, húngaro, eslovaco (e mais idiomas em breve).

TRANSFORMADA (Livro Nº1 da série Diários de um Vampiro), ARENA UM (Livro Nº1  da série Trilogia de Sobrevivência), EM BUSCA DE HERÓIS (Livro Nº 1 da série O Anel Do Feiticeiro)  e A ASCENSÃO DOS DRAGÕES (Livro Nº 1 da série Reis e Feiticeiros) estão disponíveis gratuitamente!

Morgan gosta de ouvir sua opinião, então por favor, sinta-se à vontade em visitar www.morganricebooks.com para se juntar à lista de correspondência, receber um livro grátis, receber brindes, efetuar o download do aplicativo gratuito, receber as últimas notícias exclusivas, se conectar com o Facebook e o Twitter, e manter contato!



Críticas aos livros de Morgan Rice

“Uma fantasia espirituosa que inclui elementos de mistérios e intriga em sua trama. Em Busca de Heróis mostra onde nasce a coragem e como a busca por um propósito leva ao crescimento, amadurecimento e excelência… Para aqueles que buscam aventuras, os protagonistas, acontecimentos e ação oferecem uma série de acontecimentos relacionados à evolução de Thor de uma criança sonhadora a um jovem adulto e sua busca pela sobrevivência apesar de todas as dificuldades… Este é apenas o começo de uma série de literatura juvenil épica.”



    Midwest Book Review (D. Donovan, Crítica de E-livros)

“O ANEL DO FEITICEIRO reúne todos os ingredientes para um sucesso instantâneo: tramas, intrigas, mistério, bravos cavaleiros e relacionamentos repletos de corações partidos, decepções e traições. O livro manterá o leitor entretido por horas e agradará a pessoas de todas as idades. Recomendado para fazer parte da biblioteca permanente de todos os leitores do gênero de fantasia.”



    --Books and Movie Reviews, Roberto Mattos.

“A fantasia épica de Rice [O ANEL DO FEITICEIRO] inclui as características clássicas do gênero – um lugar marcante, altamente inspirado pela antiga Escócia e sua história, e uma boa medida de intriga da corte.”



    —Kirkus Reviews

“Adorei como Morgan Rice construiu o personagem de Thor e o mundo em que ele vive. A paisagem e as criaturas que vivem no lugar são bem descritas… Eu gostei de trama, curta e doce… A quantidade ideal de personagens secundários me ajudou a não ficar confusa. Há bastante aventura e momentos angustiantes, mas a ação contida no livro não é excessivamente violenta. O livro é ideal para leitores adolescentes… Há indícios de algo realmente marcante no primeiro livro da série…"



    --San Francisco Book Review

“Neste livro recheado de ação, o primeiro da série de fantasia O Anel do Feiticeiro (que atualmente conta com 14 livros), Rice introduz os leitores ao garoto de 14 anos Thorgrin "Thor" McLeod, cujo sonho é juntar-se ao Exército Prata, os cavaleiros de elite do rei… A narrativa de Rice é sólida e intrigante.”



    --Publishers Weekly

“[EM BUSCA DE HERÓIS] é de leitura rápida e fácil. Os finais dos capítulos fazem com que você queira ler mais e é impossível deixar o livro de lado. Há alguns erros ortográficos no livro e alguns nomes estão trocados, mas isso não interfere no andamento da história. O final do livro fez com que eu adquirisse o livro seguinte imediatamente. Todos os livros disponíveis da série O Anel do Feiticeiro podem atualmente ser adquiridos na loja da Kindle e Em Busca de Heróis está disponível gratuitamente para que você comece a ler! Se estiver à procura de algo rápido e divertido para ler nas férias, este é o livro ideal.”



    --FantasyOnline.net



Livros de Morgan Rice

REIS E FEITICEIROS

A ASCENSÃO DOS DRAGÕES (Livro nº1)



O ANEL DO FEITICEIRO

EM BUSCA DE HERÓIS (Livro nº1)

UMA MARCHA DE REIS (Livro nº2)

UM DESTINO DE DRAGÕES (Livro nº3)

UM GRITO DE HONRA (Livro nº4)

UM VOTO DE GLÓRIA (Livro nº5)

UMA CARGA DE VALOR (Livro nº6)

UM RITO DE ESPADAS (Livro nº7)

UM ESCUDO DE ARMAS (Livro nº8)

UM CÉU DE FEITIÇOS (Livro nº9)

UM MAR DE ESCUDOS (Livro nº10)

UM REINADO DE AÇO (Livro nº11)

UMA TERRA DE FOGO (Livro nº12)

UM GOVERNO DE RAINHAS (Livro nº 13)

UM JURAMENTO DE IRMÃOS (Livro nº 14)

UM SONHO DE MORTAIS (Livro nº 15)

UM TORNEIO DE CAVALEIROS (Livro nº 16)

O PRESENTE DA BATALHA (Livro nº 17)



TRILOGIA DE SOBREVIVÊNCIA

ARENA UM: TRAFICANTES DE ESCRAVOS (Livro nº 1)

ARENA DOIS (Livro nº 2)



MEMÓRIAS DE UM VAMPIRO

TRANSFORMADA (Livro nº 1)

AMADA (Livro nº 2)

TRAÍDA (Livro nº 3)

PREDESTINADA (Livro nº 4)

DESEJADA (Livro nº 5)

COMPROMETIDA (Livro nº 6)

PROMETIDA (Livro nº 7)

ENCONTRADA (Livro nº 8)

RESSUSCITADA (Livro nº 9)

ALMEJADA (Livro nº 10)

DESTINADA (Livro nº 11)












Ouça a série O ANEL DO FEITICEIRO em áudio livro!


Copyright © 2014 por Morgan Rice

Todos os direitos reservados. Exceto conforme permitido pela Lei de Direitos Autorais dos EUA de 1976, nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, ou armazenada em um banco de dados ou sistema de recuperação, sem a autorização prévia da autora.

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Esta é uma obra de ficção.  Nomes, personagens, empresas, organizações, entidades, eventos e incidentes são produto da imaginação do autor ou foram usados de maneira fictícia.  Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é mera coincidência.

Imagem da capa copyright Slava Gerj, usada com autorização da Shutterstock.com


“Quanto à terra, dela procede o pão, mas por baixo é revolvida como por fogo. As suas pedras são o lugar de safiras, e têm pó de ouro.”

“O cavalo ri do medo, nada o assusta; não recua diante da espada. Impaciente, ele não fica parado quando soam as trombetas. Ao sinal do clarim, diz: ‘Vamos!’”

    --O Livro de Jó






CAPÍTULO UM


Reece se levanta ainda segurando o punhal empalado no peito de Tirus, paralisado em um momento de choque. Todo o seu mundo parece se mover em câmera lenta, e sua visão está turva. Ele tinha acabado de matar seu pior inimigo, o homem responsável pela morte de Selese. Em função disso, Reece sente uma tremenda sensação de satisfação, de vingança e dever cumprido. Finalmente, um grande erro tinha sido consertado.

Mas, ao mesmo tempo, Reece se sente entorpecido pela estranha sensação de preparação para saudar a morte, preparando-se para o fim que certamente se seguiria. A sala está cheia dos homens de Tirus, todos parados, também paralisados pelo choque, tendo testemunhando o evento que acabara de acontecer. Reece se prepara para enfrentar a morte e, no entanto, ele não sente qualquer pesar. Ele se sente grato por ter tido a oportunidade de matar aquele homem, que tinha ousado acreditar que Reece realmente pretendia pedir desculpas a ele.

Reece sabe que sua morte seria inevitável; ele está em grande desvantagem naquela sala, e as únicas pessoas naquele grande salão que estão a seu lado são Matus e Srog. Srog, ferido, está amarrado com cordas, em cativeiro, e Matus está em pé ao lado dele, sob o olhar atento dos soldados de seu pai. Eles seriam de pouca ajuda contra aquele exército dos habitantes das Ilhas Superiores, todos  soldados leais a Tirus.

Mas antes que Reece morra, ele quer completar sua vingança, e tirar o maior número de vidas dos habitantes das Ilhas Superior que ele conseguir.

O corpo de Tirus cai aos pés de Reece, morto, e Reece não hesita: ele extrai a adaga do peito dele e imediatamente gira e corta a garganta do general de Tirus, em pé ao lado dele; com o mesmo movimento, Reece gira o corpo mais uma vez e esfaqueia outro general no coração.

Quando as pessoas no salão começam a reagir, Reece se move rapidamente. Ele pega duas espadas das bainhas dos dois homens que havia matado, e parte para cima do grupo de soldados que começa a se aproximar dele, matando quatro deles antes que ele tivessem a chance de reagir.

Centenas de guerreiros finalmente entram em ação, se aproximando de Reece por todos os lados. Reece invoca todo o seu treinamento na Legião, todas as vezes que ele tinha sido forçado a lutar contra grupos inteiros de homens, e à medida que eles o rodeiam, ele ergue a espada com as duas mãos. Ele não está preso pelo peso de uma armadura – como aqueles outros homens, ou por um cinto cheio de armas, ou um escudo; ele está mais leve e mais rápido do que todos eles e, furioso e encurralado, ele luta por sua vida.

Reece luta bravamente, mais rápido do que todos eles, lembrando todas as vezes que ele tinha lutado contra Thor, o maior guerreiro que ele já tinha enfrentado, lembrando o quanto suas habilidades tinha sido afiadas. Ele leva ao chão um homem após o outro, desferindo golpes de sua espada contra inúmeros outros,  à medida que faíscas voam enquanto ele luta com os adversários que o atacam em todas as direções. Ele dá voltas e mais voltas até que seus braços ficam pesados, cortando uma dúzia de homens antes que eles pudessem piscar.

Mas mais e mais homens entram no salão, há simplesmente muitos deles. Para cada seis que caem, mais uma dúzia aparece, e a multidão se torna mais espessa quando eles se reúnem e pressionam sobre ele de todos os lados. Reece está respirando com dificuldade quando sente uma espada cortar seu braço e ele grita, com sangue saindo de seu bíceps. Ele se vira esfaqueia o homem nas costelas, mas o estrago já tinha sido feito. Ele agora está ferido, e ainda mais homens aparecem de todos os lados. Ele sabe que sua hora havia chegado.

Pelo menos, ele percebe – grato, ele seria capaz cair em um ato de coragem.

"REECE!"

Um grito de repente atravessa o ar, uma voz que Reece reconhece imediatamente.

A voz de uma mulher.

O corpo de Reece fica dormente quando ele percebe que quem é aquela voz. É a voz da única mulher no mundo que ainda era capaz de chamar a sua atenção, mesmo no meio daquela grande batalha, mesmo no meio de seus momentos finais:

Stara.

Reece olha para cima e a vê em pé no alto das arquibancadas de madeira que cobrem os lados da sala. Ela está muito acima da multidão, sua expressão feroz, com veias salientes em sua garganta quando ela grita para ele. Ele vê que ela empunha um arco e flecha, e percebe quando ela aponta para o alto, para um objeto no centro da sala.

Reece segue seu olhar e percebe qual é o plano dela: uma corda grossa, com vinte metros de comprimento, ancorando um imenso lustre de metal com 10 metros de diâmetro, recaindo sobre um gancho de ferro no chão de pedra. O equipamento é tão grosso quanto o tronco de uma árvore, e carrega várias centenas de velas flamejantes.

Reece percebe: Stara planeja arrebentar a corda com uma flecha. Se ela acertar,  derrubaria o lustre no chão e esmagaria metade dos homens daquele lugar. E quando Reece olha para cima, ele se dá conta de que está bem debaixo dele.

Ela o está advertindo para que ele se mova.

O coração de Reece bate acelerado pelo pânico ao mesmo tempo em que ele se vira, baixando sua espada,  e corre descontroladamente na direção do grupo de atacantes, correndo para sair dali antes que o lustre despenque. Ele chuta e dá uma cotovelada atrás da outra, usando a cabeça para tirar alguns soldados para fora do seu caminho à medida que ele corre pelo meio do grupo. Reece se lembra de como Stara costumava ser uma boa atiradora enquanto criança – sempre superando os meninos, e ele sabe ela acertaria seu alvo. Mesmo enquanto ele corre com as costas expostas para os homens que o perseguem, ele confia nela, sabendo que ela não o desapontaria agora.

Um momento depois, Reece ouve o som de uma flecha atravessando o ar, o barulho quando ela acerta a corda e, finalmente, o estrondo quando a peça de ferro maciço cai no chão depois de despencar do teto a toda velocidade. Há um tremendo choque que faz toda a sala tremer, e a vibração também derruba Reece. Reece sente um vento em suas costas, e o lustre por poucos centímetros não o acerta quando ela cai no chão de pedra, apoiando-se em suas mãos e joelhos.

Reece ouve os gritos dos homens atrás dele, e ao olhar por cima do ombro ele vê o estrago que Stara tinha feito: dezenas deles jazem esmagados sob o lustre, há sangue por toda parte e os gritos dos homens presos preenche o ar. Ela havia salvado sua vida.

Reece fica em pé, olhando para Stara, e vê que ela está em perigo agora. Vários homens se aproximam dela e, enquanto ela mira com seu arco e flecha, ele sabe é praticamente impossível que ela possa dar conta de todos eles.

Ela se vira e olha ansiosamente para a porta, claramente pensando que eles poderiam escapar dessa maneira. Mas quando Reece acompanha seu olhar, seu coração cai ao ver dezenas dos homens de Tirus avançar e bloqueá-la, barrando as duas enormes portas duplas com uma viga de madeira grossa.

Eles estão presos – todas as saídas bloqueadas, e Reece sabe que é apenas uma questão de tempo até que eles morram.

Reece observa Stara procurar pelo salão, frenética, até que seus olhos repousam sobre a fila superior das arquibancadas de madeira ao longo da parede traseira.

Ela faz um gesto para Reece enquanto corre naquela direção, e ele não faz ideia do que ela tem em mente. Ele não vê qualquer saída ali, mas Stara conhece aquele castelo melhor do que ele, e talvez tenha uma rota de fuga em mente que ele ainda não consegue ver.

Reece se vira e corre, lutando pelo caminho enquanto os homens começam a se reagrupar e voltam a atacá-lo. À medida que passa no meio da multidão, ele tenta não se engajar em uma luta direta, focado apenas em abrir caminho através deles para poder chegar ao outro lado da sala.

Enquanto corre, Reece olha para Srog e Matus – determinado a ajudá-los também, e tem a feliz surpresa de ver que Matus tinha agarrado as espadas de seus captores e esfaqueado os dois; e observa quando ele rapidamente corta as cordas que mantém Srog preso, libertando-o. Srog não perde tempo; pega uma espada e mata vários soldados que se aproximam dele.

"Matus!" Reece grita.

Matus se vira, olha para ele e, vendo Stara ao longo da parede oposta, percebem para onde Reece está correndo. Matus agarra Srog e, juntos, eles se viram e se dirigem até Reece, todos finalmente correndo na mesma direção.

À medida que Reece abre caminho através da sala, ela começa a se abrir; não há tantos soldados ali naquele canto mais distante da sala, longe da saída barrada onde todos os soldados pareciam se concentrar. Reece espera apenas que Stara saiba o que está fazendo.

Stara corre ao longo das arquibancadas de madeira, saltando cada vez mais alto sobre as fileira, chutando homens no rosto quando eles tentam agarrá-la. Enquanto Reece a observa, tentando alcançá-la, ele ainda não sabe exatamente onde ela está indo, ou qual poderia ser seu plano.

Reece chega até o canto e pula para a arquibancada, saltando para a primeira fileira e então para a próxima, subindo cada vez mais até ficar uns bons cinco metros acima da multidão, na fileira mais alta da arquibancada de madeira, encostada contra a parede. Ele se junta a Stara, e eles caminham rente à parede seguidos de Matus e Srog. Eles têm uma boa vantagem sobre os outros soldados, com exceção de um, que se aproxima de Stara por trás. Reece salta para a frente e o apunhala no coração instantes antes que ele enfiasse um punhal nas costas de Stara.

Stara ergue o arco e atira nos dois soldados que se aproximam por trás das costas de Reece segurando espadas, matando os dois com destreza.

Os quatro se levantam, de costas para a parede no canto mais distante da sala, na parte mais alta da arquibancada, e Reece olha para fora e vê centenas de homens avançando pela sala, cercando-os rapidamente. Eles agora estão encurralados, sem ter para onde ir.

Reece não entende por que Stara os tinha levado até ali, e sem conseguir ver qualquer meio de fuga, ele tem certeza que em breve todos estariam mortos.

"Qual é o seu plano?" Ele grita para ela quando eles ficam lado a lado, lutando contra os homens. "Não há qualquer saída aqui!"

"Olhe para cima," ela responde.

Reece estica o pescoço e vê, acima deles, outro lustre de ferro com uma longa corda conduzindo todo o caminho de volta até o chão.

Reece franze testa, confuso.

"Eu não entendo," ele diz.

"A corda," ela explica. "Agarrem-na, todos vocês, e segurem firme. "

Eles fazem como ela pede, agarrando a corda com ambas as mãos e segurando com toda suas forças. De repente, Reece percebe o que Stara está prestes a fazer.

"Tem certeza que isso é uma boa idéia?" ele grita.

Mas já é tarde demais.

Quando uma dúzia de soldados se aproxima deles, Stara pega a espada de Reece, pula nos braços dele, e corta a corda que segura o lustre.

Reece de repente sente um frio no estômago quando todos eles, agarrando a corda e uns aos outros, disparam para o alto atravessando o ar a uma velocidade vertiginosa, rezando por suas vidas à medida que o lustre de ferro despenca até o chão. O lustre esmaga os homens abaixo deles e os impulsiona para o alto, pendurados na corda.

A corda finalmente para, e os quatro ficam pendurados ali, balançando no ar, uns vinte metros pés acima do salão.

Reece olha para baixo, suando, quase sem conseguir se segurar por muito mais tempo.

"Ali!" Stara grita.

Reece se vira, vê o enorme vitral diante deles, e percebe qual era o seu plano. A corda grossa corta as mãos de Reece, e ele começa a escorregar com o suor. Ele não sabe mais por quanto tempo ele poderia se segurar.

"Eu estou perdendo a força!" Srog grita, tentando o seu melhor para se segurar apesar de seus ferimentos.

"Nós precisamos balançar!" Stara grita. "Precisamos de impulso! Chutem a parede!"

Reece segue o exemplo dela, inclinando-se para a frente e colocando sua bota contra a parede para que, juntos, eles possam usar a parede para ganhar impulso, e a corda balança cada vez mais descontroladamente. Eles empurram várias vezes até que, com um pontapé final, eles balançam todo o caminho de volta, como um pêndulo. Em seguida, gritando, eles se preparam para o impacto contra a e enorme janela com vitrais coloridos.

O vidro se estilhaça, caindo em torno deles, e os quatro se soltam, caindo na plataforma de pedra na base da janela.

Empoleirados vinte e cinco metros acima da sala, com o ar frio soprando atrás dele, Reece olha para baixo e de um lado, ele vê o interior do salão onde centenas de soldados olham para eles perguntando-se como fazer para alcançá-los e, do outro, o lado de fora do forte. Está chovendo lá fora, um vento forte castiga o forte, e a queda de quase quinze metros é suficiente para quebrar uma perna. Mas Reece, pelo menos, vê vários arbustos altos abaixo, e também nota que o chão está molhado e coberto por uma lama macia. Seria uma longa e dura queda, mas talvez tudo aquilo amortecesse um pouco o impacto.

De repente, Reece grita ao sentir um metal perfurando sua carne. Ele olha para baixo e, agarrando seu braço, percebe que uma flecha o tinha atingido, arrancando um pouco de sangue. É um ferimento pequeno, mas dolorido.

Reece olha para baixo e vê que dezenas dos homens de Tirus estão apontando arcos e disparando, e flechas agora passam voando por eles vindas de todas as direções.

Reece sabe que não há mais tempo a perder. Ele vê Stara em de um lado dele, Matus e Srog por outro, todos com os olhos arregalados de medo pela queda diante deles. Ele agarra a mão de Stara, sabendo que seria agora ou nunca.



Sem dizer uma palavra, todos sabendo o que precisa ser feito, eles pulam juntos, gritando enquanto atravessam o ar sob a chuva e vento ofuscantes, debatendo-se enquanto caem. Reece não consegue deixar de se perguntar se eles teriam escapado de uma morte certa apenas para enfrentar outra.





CAPÍTULO DOIS


Godfrey levanta seu arco com mãos trêmulas, inclina-se sobre a borda do parapeito, e mira. Ele tinha a intenção de escolher um alvo e disparar imediatamente, mas quando vê a paisagem abaixo, ele se ajoelha ali, completamente chocado. Abaixo dele milhares de soldados McCloud avançam, um exército bem treinado inundando a paisagem, todos indo direto para os portões da Corte do Rei. Dezenas deles correm para a frente com um aríete, batendo-o na grade de ferro várias vezes, sacudindo as paredes e o chão sob os pés de Godfrey.

Godfrey perde o equilíbrio e dispara, e a flecha navega inofensivamente através do ar. Ele pega outra flecha e se prepara para atirar com o coração batendo forte, sabendo com certeza que ele morreria ali hoje. Ele se inclina sobre a borda, mas antes que possa disparar, uma pedra arremessada por um estilingue voa e bate em seu capacete de ferro.

Há um ruído alto, e Godfrey cai para trás, disparando sua flecha para cima no ar. Ele tira o capacete e coça a cabeça dolorida. Ele nunca havia imaginado que uma pedrinha pudesse machucar tanto; o ferro parece reverberar dentro de seu próprio crânio.

Godfrey se pergunta aonde ele tinha se metido. É verdade que ele tinha sido um heróis, e havia ajudado ao alertar toda a cidade sobre a chegada dos McCloud, ganhando-lhes um precioso tempo. Talvez ele tivesse até mesmo salvado algumas vidas com seu gesto, e certamente havia salvado sua irmã.

No entanto, ali estava ele agora, junto com algumas dezenas de soldados que tinham sido deixados ali, nenhum deles um Prata, nenhum deles cavaleiros, defendendo aquela cidade evacuada contra todo um exército McCloud.  Aquela vida de soldado certamente não era para ele.

Há um tremendo estrondo, e Godfrey tropeça novamente quando a ponte levadiça é esmagada.

Pelos portões abertos da cidade milhares de homens avançam animados, claramente em busca de sangue. Sentado no parapeito, Godfrey sabe que é apenas uma questão de tempo até eles cheguem ali, até o momento em que ele teria que lutar até a morte. É isso o que significava ser um soldado? É isso que significava ser corajoso e destemido? Morrer, para que outros pudessem viver? Agora que ele está prestes a encarar a face da morte, ele não está tão certo de que aquele tinha sido uma boa ideia. Ser um soldado, ser um herói,  é realmente ótimo; mas fica vivo é ainda melhor.

Na mesma hora em que Godfrey pensa em desistir, em correr para tentar se esconder em algum lugar, de repente, vários McCloud invadem os parapeitos, correndo em fila única.Godfrey observa enquanto um de seus companheiros soldados é esfaqueado e cai de joelhos, gemendo de dor.

E então, mais uma vez, algo acontece. Apesar de todo o seu pensamento racional, de toda seu senso comum contrário a ser um soldado, algo que ele não pode controlar estala dentro de Godfrey. Algo dentro dele não pode suportar a ideia de deixar que outras pessoas sofram. Por si mesmo, ele não consegue reunir a coragem; mas quando vê seu companheiro em apuros, algo toma conta dele – uma certa imprudência, algo que poderia até ser chamado de bravura.

Godfrey reage sem pensar. Ele se vê agarrando uma longa lança e correndo para a linha de McCloud que se apressa pelas escadas, correndo em fila única ao longo dos parapeitos. Ele solta um grande grito e, segurando firme a lança, bate no primeiro homem. A enorme lâmina de metal entra no peito do homem, e Godfrey corre, usando seu peso, até a sua barriga de cerveja, para empurrá-los de volta para trás.

Para sua própria surpresa, Godfrey consegue dirigir a fileira de homens de volta para baixo da escada de pedra em espiral, de volta para longe dos parapeitos, sozinho, adiando a invasão da cidade pelos soldados McCloud.

Quando ele termina, Godfrey deixa a lança cair no chão, espantado com ele mesmo, sem saber direito o que tinha acontecido. Seus companheiros soldados também parecem espantados, como se não acreditassem que ele fosse capaz daquilo.

Enquanto Godfrey se pergunta o que fazer a seguir, a decisão é tomada por ele quando ele detecta um movimento pelo canto dos olhos. Ele se vira e vê mais uma dúzia de McCloud prestes a atacar, subindo pelo outro lado dos parapeitos.

Antes que Godfrey possa armar uma defesa, o primeiro soldado chega até ele, empunhando um enorme martelo de batalha, mirando em sua cabeça. Godfrey percebe que o golpe esmagaria seu crânio.

Godfrey desvia para longe do perigo, saindo do caminho – uma das poucas coisas que ele sabia fazer bem, e o martelo passa por cima de sua cabeça. Godfrey então abaixa o ombro e parte para cima do soldado, empurrando-o para trás.

Godfrey o empurra cada vez mais para trás, até que eles passam a lutar ao longo da borda do parapeito, agarrando a garganta um do outro. O homem é forte, mas Godfrey também tem força, um dos poucos dons com que ele tinha sido agraciado em sua vida.

Os dois homens se enfrentam, empurrando-se mutuamente até que de repente, ambos caem sobre a borda.

Os homens despencam no ar, segurando-se um no outro enquanto caem uns bons dez metros até o chão duro. Godfrey gira no ar, na esperança de pousar no topo daquele soldado, em vez do contrário. Ele sabe que o peso do homem, e de toda a sua armadura, certamente o esmagariam.

Godfrey vira no último segundo, caindo em cima do homem, e o soldado geme sob o peso de Godfrey – que o esmaga, nocauteando-o.

Mas a queda tem seus efeitos sobre Godfrey, que fica sem fôlego; ele havia batido com a cabeça, e ao rolar para fora do homem, sentindo cada osso de seu corpo dolorido, Godfrey fica parado por um segundo antes que seu mundo comece a girar e ele, deitado ao lado de seu inimigo, desmaia ao seu lado. A última coisa que ele vê ao olhar para cima, é um exército de soldados McCloud invadindo a Corte do rei e tomando-a sob seu domínio.


*

Elden está nos campos de treinamento da Legião com as mãos nos quadris acompanhado de Conven e O'Connor, supervisionando os novos recrutas que Thorgrin havia deixado sob seus cuidados. Elden observa tudo com um olhar de especialista enquanto os garotos galopam de um lado ao outro do campo, tentando saltar sobre valas e lançar lanças nos alvos suspensos. Alguns meninos não conseguem saltar, caindo com seus cavalos; outros saltam com sucesso, mas erram os alvos.

Elden balança a cabeça, tentando lembrar como ele era quando havia começado seu treinamento na Legião, e tentando tirar encorajamento no fato de que nos últimos dias aqueles garotos já haviam demonstrado sinais de melhora. No entanto, aqueles meninos ainda estão longe dos guerreiros endurecidos ele precisa que eles sejam antes que ele possa aceitá-los como recrutas. Ele tem grandes expectativas, especialmente porque ele tem a grande responsabilidade de deixar Thorgrin e todos os outros orgulhosos; Conven e O'Connor, também, não aceitariam nada menos que a excelência.

"Senhor, trago notícias."

Elden vê um dos recrutas, Merek, o ex-ladrão, correndo até ele com os olhos arregalados. Interrompida de seus pensamentos, Elden estava agitado.

"Rapaz, eu já lhe disse para nunca mais me interrom…"

"Mas senhor, você não entende! Você deve…"

"Não, VOCÊ não entende," Elden rebate. "Quando os recrutas estão treinando, você não…"

"OLHE!" Merek grita, agarrando-o e apontando.

Elden, em um acesso de raiva, está prestes a pegar Merek e jogá-lo no chão, quando olha para o horizonte e fica paralisado. Ele não consegue entender a visão diante dele. Ali, no horizonte,  há nuvens de fumaça negra cobrindo o céu, vindo da direção da Corte do Rei.

Elden pisca, sem conseguir compreender. A Corte do Rei poderia estar pegando fogo? Como?

Gritos surgem no horizonte, os gritos de um exército, juntamente com o som de uma ponte levadiça sendo destruída. O coração de Elden se aperta; os portões da Corte do Rei tinham sido invadidos. Ele sabe que aquilo só poderia significar uma coisa: um exército profissional tinha feito aquilo. Hoje, de todos os dias, no dia de peregrinação, a Corte do Rei estava sendo invadida.

Conven e O'Connor partem para a ação, gritando para os recrutas pararem o que estavam fazendo, e se reunirem.

Os recrutas se apressam, e Elden se aproxima de Conven e O'Connor enquanto todos se acalmam e ficam em posição de sentido, à espera de ordens.

"Homens," Elden anuncia. "A Corte do Rei foi atacada!"

Há um murmúrio surpreso e agitado no meio da multidão de meninos.

"Vocês ainda não estão na Legião, e certamente não são guerreiros da Prata ou guerreiros endurecidos necessários para enfrentar um exército profissional. Aqueles homens que agora invadem a Corte do Rei estão preparados para matar, e se vocês os enfrentarem é bem possível que percam as suas vidas. Conven, O'Connor, e eu temos o dever de proteger a nossa cidade, e temos de ir agora para a guerra. Eu não espero que nenhum de vocês se junte a nós; na verdade, eu até os desencorajaria. No entanto, se algum de vocês assim o quiser, dê um passo à frente agora, sabendo que você pode muito bem morrer no campo de batalha hoje."

Há alguns momentos de silêncio e, então, de repente, todos os meninos em pé diante deles se adianta, todos corajosos e nobres. O coração de Elden se enche de orgulho com a cena.

"Vocês todos se tornaram homens hoje."

Elden monta em seu cavalo e os outros o seguem, deixando escapar um grande grito ao avançarem como um só, como homens de verdade, prontos para arriscar suas vidas pelo seu povo.


*

Elden, Conven, e O'Connor lideram o caminho, com cem recrutas atrás deles, todos galopando com armas em punho, enquanto correm em direção a Corte do Rei. Ao se aproximarem, Elden olha para fora e fica chocado ao ver vários milhares de soldados McCloud invadindo seus portões, um exército bem coordenado com a clara claramente vantagem de atacar no Dia Peregrinação para emboscar a Corte do Rei. Eles estão em bem menor número, na proporção de  dez inimigos para cada um deles.

Conven sorri, andando na frente.

"Justamente o tipo de probabilidades que eu gosto!" Ele grita, dando um grande grito e avançando na frente dos demais, querendo ser o primeiro a atacar. Conven ergue seu machado de guerra no alto, e Elden assiste com admiração e preocupação quando Conven, de forma imprudente, ataca a retaguarda do exército McCloud sozinho.

Os McCloud têm pouco tempo para reagir quando Conven golpeia com seu machado como um louco, matando dois deles de cada vez. Avançando para o meio dos soldados, ele então salta de seu cavalo e sai voando pelo ar, caindo sobre três soldados e derrubando-os de seus cavalos.

Elden e os outros estão bem atrás dele. Eles entram em confronto com o resto dos McCloud, que são muito lentos para reagir, sem esperar um ataque contra seu flanco. Elden empunha sua espada com ira e destreza, mostrando aos recrutas da Legião como aquilo deveria ser feito e usando seu grande poder para derrubar um soldado após o outro.

A batalha se intensifica e se transforma em uma luta corpo a corpo quando seu pequeno grupo força os soldados McCloud a mudarem de direção para se defender. Todos os recrutas da Legião entram na briga, galopando sem medo para a batalha e enfrentado os McCloud. Elden observa os meninos que lutam com o canto dos olhos, e fica orgulhoso ao ver quando nenhum deles hesita. Eles estão todos envolvidos na batalha, lutando como homens de verdade, em grande desvantagem numérica, e nenhum deles parece se importar.  Homens McCloud caem à esquerda e à direita, completamente desprevenidos.

Mas eles logo perdem a vantagem, quando a maior parte dos homens McCloud se organiza, e a Legião encontra soldados profissionais. Alguns da Legião começam a cair. Merek e Ario levam golpes de uma espada, mas mantém-se em seus cavalos, lutando defendendo-se e abatendo seus adversários. Mas então eles são atingidos por manguais, e caem de seus cavalos. O'Connor, cavalgando ao lado Merek, dá vários tiros com seu arco, matando vários soldados ao redor deles, antes de ser atingido com um escudo e cair de seu cavalo. Elden, completamente cercado, finalmente perde o elemento de surpresa, e leva um forte golpe de martelo nas costelas, e é ferido no antebraço pelo golpe de uma espada. Ele se vira e derruba os homens de seus cavalos – mas ao mesmo tempo, quatro outros homens aparecem. Conven, no chão, luta desesperadamente, balançando seu machado descontroladamente contra cavalos e homens que o atacam -até finalmente ser atingido por trás por um martelo e cair de cara na lama.

Mais reforços McCloud chegam, abandonando o portão para enfrentá-los. Elden vê menos de seus próprios homens, e sabe que em breve todos estariam aniquilados. Mas ele não se importa; a Corte do Rei está sob ataque, e ele desistiria de sua vida para defendê-la, para defender os garotos da Legião com quem ele tem tanto orgulho de lutar. Se eles são meninos ou homens já não importava mais – eles estão derramando seu sangue ao lado dele, e naquele dia, vivos ou mortos, todos são seus irmãos.


*

Kendrick galopa para baixo da montanha de peregrinação, lidando mil soldados da Prata, todos galopando mais rápido do que nunca, correndo em direção à fumaça negra no horizonte. Kendrick se repreende enquanto cavalga, desejando que ele tivesse deixado os portões mais protegidos, sem esperar tal ataque em um dia como aquele e, acima de tudo, vindo dos McCloud, que ele acreditava terem sido pacificados sob o governo de Gwen. Ele faria com que todos eles pagassem pela invasão de sua cidade, por terem tirado proveito daquele dia santo.

Ao redor dele, todos os seus irmãos avançam, um grupo de mil soldados com toda a ira dos Prata, renunciando sua peregrinação sagrada, determinados a mostrar para os McCloud do que os Prata eram capazes, a fazer com que os soldados McCloud paguem de uma vez por todas. Kendrick promete a si mesmo que no momento em que eles tivessem terminado, nenhum McCloud seria deixado vivo. O lado McCloud das Highlands nunca mais se recuperaria.

Quando Kendrick se aproxima, ele olha pra frente e vê a Legião de recrutas lutando bravamente, junto com Elden e O'Connor e Conven, todos terrivelmente em menor número, e nenhum deles recuando diante dos McCloud. Seu coração se enche de orgulho, mas ele percebe que estão todos prestes a serem derrotados.

Kendrick grita e chuta seu cavalo com ainda mais força, liderando seus homens, e todos eles avançam rapidamente pelo trecho final. Ele pega uma lança longa e quando chega perto o suficiente, ele a atira; um dos generais McCloud vira bem a tempo de ver a lança atravessar o ar e perfurar seu peito, golpe forte o suficiente para penetrar sua armadura.

Os mil cavaleiros atrás de Kendrick soltam um grande grito: a Prata havia chegado.

Os McCloud se viram e, vendo-os pela primeira vez, eles demonstram um medo real em seus olhos. Mil brilhante cavaleiros da Prata, todos montados em perfeita harmonia, descendo a montanha como uma tempestade, todos com armas em punho, todos assassinos endurecidos, e nenhum deles com qualquer sinal de hesitação em seus olhos. Os McCloud se viram para enfrentá-los, mas com evidente trepidação.

Os Prata partem para cima deles, rumo à sua cidade natal, com Kendrick liderando o ataque. Ele empunha seu machado, golpeando com destreza e derrubando vários soldados de seus cavalos; Kendrick então segura uma espada com a outra mão, e cavalgando para o meio da multidão, esfaqueia vários soldados em todos os pontos vulneráveis de suas armaduras.

Os Prata atravessam a massa de soldados como uma onda de destruição, como era o seu costume, nenhum deles à vontade até que estivessem completamente cercados por uma batalha. Para um membro da Prata, esse era o verdadeiro significado de estar em casa. Eles cortam e esfaqueiam todos os soldados McCloud em torno deles, que eram como amadores em comparação a eles, e os gritos se tornam cada vez mais altos à medida que os Prata derrubam soldados McCloud por todos os lados.

Ninguém pode vencê-los; os soldados da Prata são muito rápidos, elegantes, fortes e especialistas em suas técnicas, lutando como uma unidade, como tinham sido treinado para fazer desde que aprenderam a andar. A sua dinâmica e habilidade aterroriza os McCloud, que são como soldados comuns ao lado daqueles cavaleiros treinados à exaustão. Elden, Conven, O'Connor e o restante da Legião, resgatados pelos reforços, voltam a ficam em pé, embora feridos, e se juntam à luta, ajudando ainda mais o ataque dos Prata.

Dentro de instantes, centenas de McCloud jazem mortos, e aqueles que ainda permanecem em pé são tomados pelo pânico. Um por um, eles começam a virar e fugir, e soldados McCloud saem pelos portões da cidade, tentando fugir da Corte do Rei.

Kendrick está determinado a impedi-los. Ele se dirige para os portões da cidade, seguido pelos seus homens, e faz questão de bloquear o caminho de todos aqueles que tentam recuar. Em um efeito de funil, os McCloud são abatidos à medida que chegam ao gargalo dos portões da cidade – os mesmos portões que haviam invadido apenas algumas horas antes.



Enquanto Kendrick empunha suas duas espadas, matando homens de ambos os lados, ele sabe que em breve, todos os McCloud estariam mortos, e a Corte do Rei seria deles mais uma vez. Ao arriscar sua vida para salvar sua terra natal, ele sabe que é esse o significado de estar vivo.





CAPÍTULO TRÊS


As mãos de Luanda tremem enquanto ela caminha, um passo de cada vez, atravessando o vasto Canyon. A cada passo, ela sente sua vida chegando ao fim, sentindo-se deixar um mundo para trás e prestes a entrar em outro. Poucos passos antes de chegar ao outro lado, ela tem a sensação de que aqueles são seus últimos passos na terra.

Romulus está apenas alguns passos de distância dela e atrás dele, há centenas de milhares dos soldados do Império. Voando alto acima deles, com um grunhido sobrenatural, há dezenas de dragões, criaturas ferozes que Luanda nunca tinha visto antes, batendo suas asas contra a parede invisível do Escudo. Luanda sabe que, com apenas mais alguns passos, assim que ela deixasse o Anel, o Escudo seria desativado.

Luanda analisa o destino que a aguarda, considerando a morte certa que enfrentaria nas mãos de Romulus e seus homens brutos. Mas desta vez, ela não se importa mais. Tudo o que ela amava já lhe tinha sido tirado – seu marido Bronson, o homem que ela mais amava no mundo, tinha sido morto por culpa de Gwendolyn. Ela culpa Gwendolyn por tudo de mal que lhe tinha acontecido e, agora, finalmente, a hora de sua vingança havia chegado.

Luanda para diante de Romulus e os dois se encaram, olhando um para o outro sobre a linha invisível. Ele é um homem grotesco, duas vezes maior que qualquer homem jamais deveria ser, puro músculo – músculos tão fortes que seus ombros e seu pescoço mal podem ser vistos. Seu rosto tem uma mandíbula forte e olhos negros grandes como bolas de gude, e sua cabeça parece ser grande demais para seu corpo. Ele olha para ela como um dragão olhando para a sua presa, e ela não tem dúvida de que ele pretende parti-la em pedaços.

Eles se encaram em meio ao silêncio, e um sorriso cruel se forma no rosto de Romulus, assim como um olhar de surpresa.

"Eu nunca achei que a veria novamente," ele diz. Sua voz é profunda e gutural, e ecoa naquele lugar horrível.

Luanda fecha os olhos e tenta fazer Romulus desaparecer, ao mesmo tempo em que tenta desesperadamente desaparecer ela mesma.

Mas quando ela abre os olhos, ele ainda está ali.

"Minha irmã me traiu," ela responde suavemente. "E agora é minha vez de traí-la."

Luanda fecha os olhos e dá um último passo, saindo da ponte e chegando ao outro lado do Canyon.

Assim que ela faz isso, um barulho estrondoso soa atrás dela; uma névoa de repente sobe girando a partir do fundo do Canyon, como uma grande onda crescente, e com a mesma velocidade volta a descer novamente. Há um outro som, como se a terra estivesse se partindo, e Luanda sabe com certeza que o Escudo foi desativado. Agora, nada resta entre o exército de Romulus e o Reino do Anel. O Escudo havia sido destruído para sempre.

Romulus olha para Luanda, que corajosamente o encara, inflexível, olhando para ele desafiadoramente. Ela sente medo, mas se esforça para não demonstrá-lo, sem querer dar a Romulus essa satisfação. Ela gostaria que ele a matasse enquanto ela olha dentro dos olhos dele. Pelo menos isso lhe daria alguma satisfação, e ela quer apenas que ele acabe logo com isso.

Em vez disso, o sorriso de Romulus se amplia, e ele continua a olhar diretamente para ela em vez de olhar para a ponte, como ela esperava que ele faria.

"Você tem o que você queria," ela fala, intrigada. "O Escudo foi desativado. O Anel é seu. Você não vai me matar agora?"

Ele balança a cabeça.

"Você não é o que eu esperava," ele finalmente dize, analisando-a. "Pode ser que eu a deixe viver. E pode ser que eu decida torná-la minha esposa."

Luanda se revolta por dentro com essa possibilidade; esta não é a reação que ela esperava.

Ela se inclina para trás e cospe no rosto dele, esperando despertar sua ira.

Romulus estende o braço e enxuga o rosto com as costas da mão, e Luanda se prepara para o golpe por vir, esperando que ele fosse lhe dar um soco como antes, que  quebrasse sua mandíbula – qualquer coisa menos ser gentil com ela. Em vez disso, ele dá um passo à frente, agarra os cabelos dela pela nuca e a puxa para ele, beijando-a com força.

Ela sente seus lábios grotescos, rachados – lábios como os de uma cobra, enquanto ele a beija com cada vez mais força, tanta força que ela mal consegue respirar.

Finalmente, ele se afasta – ao mesmo tempo em que lhe dá um tapa, tão forte que a pele de Luanda arde de dor.

Ela olha para ele, horrorizada, cheia de desgosto, sem conseguir compreendê-lo.

"Amarrem-na e a mantenham perto de mim," ele ordena. Ele mal termina de proferir as palavras quando seus homens se adiantam e amarram os braços de Luanda para trás.

Os olhos de Romulus se arregalam de prazer quando ele dá um passo à frente diante de seus homens e, preparando-se, pisa pela primeira vez na ponte.

Não há um Escudo para detê-lo, e Romulus fica ali parado, são e salvo.

Ele abre um largo sorriso e, em seguida, começa a rir segurando seus braços musculosos abertos ao mesmo tempo em que joga a cabeça para trás, caindo na gargalhada, com o triunfo, e o som ecoa por todo o Canyon.

"Ele é meu," ele grita. "Todo meu!"

Sua voz ecoa várias vezes.

"Homens," ele acrescenta. "Invadam!"

Suas tropas de repente passam correndo por ele, deixando escapar um grande grito, acompanhado pelo bater de asas do grupo de dragões que voa acima deles. Eles entram gritando, um som tão alto que preenche todo o céu e deixa bem claro que a partir de então o Reino do Anel nunca mais seria o mesmo.




CAPÍTULO QUATRO


Alistair está nos braços de Erec na proa do enorme navio, que balança suavemente para cima e para baixo quando passam pelas enormes ondas do mar. Ela olha para cima, hipnotizada pelos milhares de estrelas vermelhas que cobrem o céu aquela noite, brilhando na distância; brisas quentes sopram ao redor dela, acariciando-a, embalando-a para dormir. Ela se sente completa. Só de estar ali, junto com Erec, todo o seu mundo se sente em paz; ali, naquela parte do mundo, no meio daquele vasto oceano, ela sente como se todos os seus problemas tivessem simplesmente desaparecido. Obstáculos intermináveis haviam mantido os dois separados e agora, finalmente, seus sonhos estavam se tornando realidade. Eles estavam juntos, e não havia ninguém e nada entre eles. Eles já haviam zarpado, já estavam a caminho de suas ilhas, de sua terra natal, e quando eles chegassem, ela se casaria com ele. Não há nada que ela mais queria no mundo.

Erec a abraça com força, e ela se inclina para mais perto dele ao mesmo tempo em que ambos olham para fora, observando o universo e apreciando a névoa suave sobre eles, e os olhos de Alistair começam a ficar pesados à medida que a noite tranquila avança.

Quando ela olha para o céu aberto, ela considera a imensidão do mundo; ela pensa em seu irmão, Thorgrin, lá fora em algum lugar, e se pergunta onde ele estaria naquele momento. Ela sabe que ele está a caminho de ver sua mãe. Será que ele vai encontrá-la? Como será que ela é? Será que ela realmente ainda está viva?

Uma parte de Alistair gostaria de se juntar a ele na viagem, para conhecer sua mãe, também; e outra parte dela já sente falta do Anel, e gostaria de estar de volta em casa em terreno familiar. Mas a maior parte dela está animada; ela está feliz com a ideia de começar uma nova vida com Erec, em um lugar novo, uma nova parte do mundo. Ela está ansiosa para conhecer o seu povo, para ver como é a terra natal dele. Quem vive nas Ilhas do Sul? ela se pergunta. Como são as pessoas de lá? Será que sua família o aceitaria? Será que eles ficariam felizes em conhecê-la, ou se sentiriam ameaçados por ela? Será que eles receberiam bem a notícia de seu casamento? Ou talvez tivessem outra pessoa em mente para Erec?

Acima de tudo, ela se preocupa com a forma como reagiriam se descobrissem seus poderes. O que eles pensariam quando descobrissem que ela é uma druida? Será que eles a considerariam uma aberração, uma pessoa estranha, como todos os outros?

"Conte-me mais uma vez sobre seu povo," Alistair pede para Erec.

Ele olha para ela, e então volta a olhar para o céu.

"O que você gostaria de saber?"

"Conte-me sobre sua família," ela diz.

Erec reflete em silêncio durante um longo tempo. Finalmente, ele fala:

"Meu pai é um grande homem. Ele é o rei de nosso povo desde que ele tinha a minha idade. Sua morte iminente vai mudar a nossa ilha para sempre."

"E tem mais alguém em sua família?"

Erec hesita por um longo tempo e, finalmente, assente com a cabeça.

"Sim. Eu tenho uma irmã… e um irmão." Ele faz uma pausa. "Minha irmã e eu éramos muito próximos quando crianças. Mas devo avisá-la, ela é muito possessiva e bastante ciumenta. Ela tem receio de estranhos, e não gosta muito de novas pessoas em nossa família. E meu irmão…" Erec fica em silêncio.

Alistair fica curiosa.

"O que tem ele?"

"Você nunca irá conhecer um lutador melhor do que ele. Mas ele é meu irmão mais novo, e ele viveu em competição comigo. Eu sempre o via como um irmão, e ele sempre me viu como sua concorrência, como alguém que está em seu caminho. Não sei por que, mas ele sempre foi assim. Eu gostaria que pudéssemos ser mais próximos."

Alistair olha para ele, surpresa. Ela não consegue entender como alguém poderia olhar para Erec com nada exceto amor.

"E ainda é assim?" ela pergunta.

Erec dá de ombros.

"Eu não os vejo desde que eu era uma criança. É a primeira vez que retorno à minha terra natal; quase trinta ciclos de sol se passaram. Eu não sei o que esperar. Eu sou mais um produto do Anel agora. E ainda assim, se meu pai morrer… Eu sou o mais velho. Meu povo espera que eu os governe."

Alistair pensa sobre aquilo, curiosa mas sem querer se intrometer.

"E você vai fazer isso?"

Erec dá de ombros.

"Não é algo que eu procure. Mas se meu pai assim o quiser… Eu não posso dizer não."

Alistair o estuda.

"Você o ama muito."

Erec acena com a cabeça, e ela pode ver os olhos dele brilhando à luz das estrelas.

"Eu só rezo para que nosso navio chegue antes de sua morte."

Alistair considera suas palavras.

"E o que dizer de sua mãe?" pergunta ela. "Será que ela vai gostar de mim?"

Erec sorri largamente.

"Como uma filha," ele responde. "Por que ela verá o quanto eu a amo."

Eles se beijam, e Alistair se inclina para trás e olha para o céu, esticando o braço e segurando a mão de Erec.

"Basta que se lembre disso, minha senhora. Eu a amo. Você acima de tudo. Isso é tudo o que importa. Meu povo deve nos dar o maior casamento que as Ilhas do Sul já vi; eles nos cobrirão com várias festividades. E você vai ser amada e aceita por todos eles."

Alistair estuda as estrelas, segurando a mão de Erec apertado, e ela se pergunta. Ela não tem nenhuma dúvida do amor dele por ela, mas se pergunta sobre o seu povo, pessoas que ele mesmo mal conhecia. Será que eles a aceitariam como ele pensava que seria? Ela não tem tanta certeza.

De repente, Alistair ouve passos pesados. Ela olha para trás e vê um dos tripulantes do navio caminhar até a borda da grade, içar um grande peixe morto sobre a sua cabeça, e jogá-lo ao mar. Há um barulho suave abaixo, e logo um barulho maior, quando outro peixe salta para comê-lo.

Um som horrível se segue, parecido com um gemido ou grito, seguido por outro respingo.

Alistair olha para o marinheiro, uma pessoa desagradável, com a barba por fazer, vestido com trapos e quase sem dentes, quando ele se inclina sobre a borda, sorrindo como um idiota. Ele se vira e olha diretamente para ela com seu rosto grotesco sob à luz das estrelas. Alistair tem uma sensação terrível quando ele faz isso.

"O que você jogou fora?" Pergunta Erec.

"As entranhas de um peixe Simka," ele fala.

"Mas por quê?"

"É veneno," responde ele, sorrindo. "Qualquer peixe que comê-las morre na hora."

Alistair olha para ele, horrorizada.

"Mas por que você faria uma coisa dessas?"

O homem sorri abertamente.

"Eu gosto de vê-los morrer. Eu gosto de ouvi-los gritar, e eu queria vê-los flutuar, de barriga para cima. É divertido."

O homem se vira e caminha lentamente de volta para junto do resto de sua tripulação, e enquanto Alistair o observa, toda sua pele se arrepia.

"O que foi?" pergunta Erec.

Alistair desvia o olhar e balança a cabeça, tentando chacoalhar a sensação. Mas ela não consegue; tinha sido uma premonição horrível, ela só não tem certeza do que.

"Nada, meu senhor," responde ela.

Ela se acomoda em seus braços, tentando se convencer de que tudo estava bem. Mas no fundo, ela sabe que está muito longe disso.


*

Erec acorda no meio da noite, sentindo o navio se movendo lentamente para cima e para baixo, e sabe imediatamente que algo está errado. É o guerreiro dentro dele, a parte dele que sempre o tinha avisado um instante antes que algo de ruim acontecesse. Ele sempre havia tido essa sensação, desde quando ainda era um menino.

Ele rapidamente se senta na cama, alerta, e olha à sua volta. Ele se vira e vê Alistair dormindo profundamente ao lado dele. Ainda está escuro, o barco ainda balança sobre as ondas, mas mesmo assim ele sabe que algo está errado. Ele olha ao redor, mas não vê nenhum sinal de algo errado.

Que perigo poderia haver, ele se pergunta, ali fora no meio do nada? Teria sido apenas um sonho?

Erec, confiando em seus instintos, se abaixa para pegar sua espada. Mas antes que sua mão agarre o punho, de repente ele sente uma rede pesada cobrindo seu corpo, envolvendo-o completamente. A rede parece ser feita da corda mais pesada que ele já tinha visto, quase forte o suficiente para esmagar um homem, e ela cai em cima dele de uma vez, apertando-o com força.

Antes que ele possa reagir, ele se vê sendo içado para o alto, levado pela rede como um animal, suas cordas tão apertadas em torno dele que ele não pode sequer se mover, seus ombros e braços e pulsos e pés comprimidos, todos apertados juntos. Ele é içado cada vez mais, até que ele se encontra uns bons dez metros acima do convés, oscilando como um animal preso em uma armadilha.

O coração de Erec bate em seu peito enquanto ele tenta entender o que está acontecendo. Ele olha para baixo e vê Alistair abaixo dele, acordando.

"Alistair!" Erec chama.

Lá embaixo, ela procura em todos os lugares por ele, e quando ela finalmente olha para cima e o vê, seu rosto se transforma.

"EREC!" Ela grita, confusa.

Erec observa quando vários membros da tripulação, carregando tochas, se aproximam dela. Todos carregam sorrisos grotescos, e o mal é evidente em seus olhos ao se aproximarem dela.

"Esta mais do que na hora de dividir ela conosco," diz um deles.

"Eu vou ensinar esta princesa o que significa viver com um marinheiro!" diz outro

O grupo cai na gargalhada.

"Depois de mim," fala outro.

"Não antes que eu tenha a minha vez," outro homem completa.

Erec luta para se libertar com todas as forças que tem, enquanto eles continuam a cercá-la. Mas seus esforços são em vão, seus ombros e braços estão presos com tanta força, que ele não pode sequer movê-los.

"ALISTAIR!" Ele grita, desesperado.

Ele é incapaz de fazer qualquer coisa, exceto assistir tudo enquanto balança ali em cima.

Três marinheiros de repente se lançam sobre Alistair por trás; Alistair grita quando eles a puxam para que ela fique em pé, rasgam sua camisa e puxam seus braços para trás. Eles a seguram firme enquanto vários outros marinheiros se aproximam.

Erec procura pelo navio por qualquer sinal do capitão; e então o vê no convés superior, olhando para baixo, observando tudo.

"Capitão!" Grita Erec. "Este é o seu navio. Faça alguma coisa!"

O capitão olha para ele e, em seguida, vira lentamente as costas para toda a cena, como se não quisesse vê-la.

Erec assiste, desesperado, quando um marinheiro puxa uma faca e a segura contra a garganta de Alistair, que grita.

"NÃO!" grita Erec.

É como assistir a um pesadelo se desenrolar diante dele e, pior de tudo, não poder fazer nada a respeito.




CAPÍTULO CINCO


Thorgrin enfrenta Andronicus, os dois sozinhos no campo de batalha cercados pelos corpos dos soldados mortos ao redor deles. Ele levanta sua espada e desfere um golpe no peito de Andronicus; quando ele faz isso, Andronicus deixa suas armas caírem no chão, sorrindo abertamente, e estendeu a mão para abraçá-lo.

Meu filho.

Thor tenta interromper o golpe de sua espada, mas já é tarde demais. A espada atravessa o corpo de seu pai, e à medida que Andronicus é cortado em dois, Thor é tomado pela dor.

Thor pisca e se vê andando em um corredor infinitamente longo, segurando a mão de Gwen. Ele percebe que aquele é o seu cortejo de casamento. Eles caminham em direção a um sol vermelho-sangue, e quando Thor olha para ambos os lados, ele vê que todos os assentos estão vazios. Ele se vira para olhar para Gwen, e quando ela olha de volta para ele, ele fica apavorado quando sua pele se seca e ela se transforma em um esqueleto, desmanchando-se em pó bem ao alcance de suas mãos. Ela cai em uma pilha de cinzas aos seus pés.

Thor se encontra em pé diante do castelo de sua mãe. Ele tinha de alguma forma atravessado a passarela, e está diante das imensas portas duplas de ouro brilhante, três  vezes mais altas do que ele. Não há uma maçaneta, e ele estende os braços e bate as palmas das mãos nelas, até que começa a sangrar. O som ecoa à sua volta, mas ninguém vem atender.

Thor joga a cabeça para trás.

"Mãe!" ele grita.

Thor cai de joelhos, e quando faz isso, a terra se transforma em lama, e Thor desliza para baixo de um penhasco, caindo sem parar, debatendo-se no ar enquanto despenca dezenas de metros até um oceano em fúria abaixo dele. Ele estende os braços para o céu, vê o castelo de sua mãe desaparecer de vista, e grita.

Thor abre os olhos, sem fôlego, o vento soprando em seu rosto, e ele olha ao redor, tentando descobrir onde está. Ele olha para baixo e vê um oceano passando por baixo dele a uma velocidade vertiginosa. Ele olha para a frente, vê que está segurando algo áspero, e ao ouvir o grande bater de asas, percebe que está segurando nas escamas de Mycoples, com as mãos frias pelo ar gélido da noite, com o rosto dormente pelas rajadas de vento do mar. Mycoples voa com grande velocidade, as asas batendo sem parar, e quando Thor olha para a frente, percebe que tinha caído no sono em cima dela. Eles ainda estão voando, como faziam há dias, atravessando o céu noturno debaixo de um milhão de cintilantes estrelas vermelhas.

Thor suspira e passa as mãos na parte de trás de sua cabeça, que está coberta de suor. Ele havia prometido ficar alerta, mas sua jornada já durava tantos dias, voando, à procura da Terra dos Druidas. Felizmente Mycoples, conhecendo-o tão bem, sabia que ele estava dormindo e tinha voado de forma constante, certificando-se de que ele não caísse. Os dois já tinham viajado tanto juntos, que haviam se tornado como um só. Por mais que Thor sentisse falta do Anel, ele pelo menos se sente animado por estar de volta com sua velha amiga novamente, apenas os dois, viajando pelo mundo; ele poderia dizer que ela, também, estava feliz por estar com ele, ronronando de satisfação. Ele sabe que Mycoples nunca deixaria nada de ruim acontecer com ele, e sentia o mesmo por ela.

Thor olha para baixo e examina a espuma nas águas verde-luminescentes do mar; aquele é um mar estranho e exótico, que ele nunca tinha visto antes, um dos muitos que já tinha passado em sua busca. Eles continuam voando para o norte, sempre ao norte, seguindo a seta da relíquia que tinha encontrado em sua cidade natal.Thor sente que eles estão chegando mais perto de sua mãe, de sua terra, a Terra dos Druidas. Ele pode sentir isso com cada poro de seu corpo.

Thor torce para que a seta seja precisa. No fundo, ele sente que é, e pode sentir em cada fibra do seu ser que ela os está levando mais perto de sua mãe, para o seu destino.

Thor esfrega os olhos, determinado a ficar acordado. Ele acreditava que eles já teriam encontrado a Terra dos Druidas; é como se eles já tivessem atravessado metade do mundo. Por instante ele se preocupa: e se aquilo tudo fosse apenas uma fantasia? E se sua mãe não existisse? E se a Terra dos Druidas não existisse? E se ele estivesse condenado a nunca encontrá-la?

Ele tenta sacudir esses pensamentos de sua mente ao mesmo tempo em que comanda que Mycoples siga adiante.

Mais rápido, Thor pensa.

Mycoples ronrona e bate as asas com mais força, e quando ela coloca a cabeça para baixo, os dois mergulham na névoa, rumo a algum ponto no horizonte que, Thor sabe, poderia não existir.


*

O dia amanhece como Thor nunca tinha visto antes, o céu não com dois, mas com três sóis – todos subindo juntos em diferentes pontos do horizonte, um vermelho, um verde e um roxo. Eles voam um pouco acima das nuvens, que estão espalhadas abaixo dele – tão perto que Thor poderia tocá-las, como um cobertor de cor. Thor se deleita com o nascer do sol mais bonito que ele já tinha visto, com as cores diferentes dos sóis atravessando as nuvens, os raios atravessando o caminho de Thor, sob ele e acima dele. Ele sente como se estivesse voando para o local de nascimento do mundo.

Thor guia Mycoples para baixo, e sente a umidade ao atravessarem as nuvens; momentaneamente, seu mundo é inundado por cores diferentes, e então ele fica cego pela luz. Ao sair das nuvens, Thor esperava ver ainda outro oceano, mais uma extensão infinita repleta de nada.

Mas desta vez, há algo mais.

O coração de Thor se acelera quando ele vê debaixo deles uma visão que ele sonhava em ver, uma visão que ocupava seus sonhos. Ali, muito abaixo deles, uma terra vem à tona. É uma ilha, envolta pela névoa nomeio daquele oceano incrível, ampla e profunda. Sua relíquia vibra, e ele olha para ela e vê a seta piscando, apontando diretamente para baixo. Mas ele nem sequer precisa olhar para saber. Ele sente, em cada fibra do seu ser que ela estava aqui – sua mãe. A mágica Terra dos Druidas existia, e ele havia chegado.

Para baixo, meu amigo, Thor pensa.

Mycoples vira para baixo, e quando eles se aproximam, a ilha fica cada vez mais à vista. Thor vê intermináveis campos de flores, muito semelhantes aos campos que ele tinha visto na Corte do Rei. Ele não consegue entender. A ilha lhe parece familiar, quase como se ele tivesse chegado de volta em casa. Ele esperava que a terra seria mais exótica. É estranha a sensação de familiaridade de tudo. Como aquilo poderia ser possível?

A ilha é cercada por uma vasta praia de areia vermelha brilhante, e ondas batem constantemente contra sua costa. Ao se aproximarem, Thor vê algo que o surpreende: parece haver uma entrada para a ilha; dois pilares maciços erguendo-se até o céu – os pilares mais altos que ele já tinha visto – e desaparecendo em meio às nuvens. Uma parede, com cerca de dez metros de altura, cerca toda a ilha, e passar por aqueles pilares parece ser a única maneira de entrar a pé.

Já que ele estava com Mycoples, Thor decide que não tem necessidade de atravessar dos pilares. Ele simplesmente voaria por cima do muro e aterrissaria na ilha no lugar que quisesse, afinal de contas, ele não estava à pé.

Thor guia Mycoples para voar por cima do muro, mas quando ela chega mais perto, de repente, ela o surpreende. Ela grita e se afasta bruscamente, levantando suas garras no ar até ficar quase na vertical. Ela para de repente, como se tivesse batido em um escudo invisível, e Thor se segura para salvar sua preciosa vida. Thor pede que ela continue voando, mas ela se recusa a avançar.

É então que Thor percebe: a ilha é toda cercada por uma espécie de escudo de energia, tão poderoso que até mesmo Mycoples não é capaz de atravessar. Ninguém seria capaz de voar por cima do muro; seria preciso passar através dos pilares, a pé.

Thor guia Mycoples, e eles mergulham até a praia vermelha. Eles desembarcam diante das colunas, e Thor tenta levar Mycoples a voar entre elas, através das vastas portas, para entrar com ele na Terra dos Druidas.

Mas, novamente, Mycoples recua, levantando suas garras.

Eu não posso entrar.

Thor sente os pensamentos de Mycoples em sua mente. Ele olha para ela, vê quando ela fecha seus enormes olhos brilhantes, piscando, e ele entende.

Ela está lhe dizendo que ele teria que entrar na Terra dos Druidas sozinho.

Thor desmonta na areia vermelha e para diante das colunas, examinando-as.

"Eu não posso deixá-la aqui, minha amiga," diz Thor. "É muito perigoso para você. Se eu devo ir sozinho, então que assim seja. Retorne para a segurança de nosso lar. Espere por mim lá."

Mycoples balança a cabeça e a abaixa até o chão, deitando ali e recusando-se a partir.

Eu vou esperar por você até o final dos tempos.

Thor pode ver que ela está determinada a ficar. Ele sabe que ela é teimosa, e que ela não iria embora.

Thor se inclina para frente, acaricia as escamas de Mycoples em seu longo focinho, e se inclina para beijá-la. Ela ronrona, levantando a cabeça, e a descansa em seu peito.

"Eu vou voltar para buscar você, minha amiga," diz Thor.

Thor se vira e encara os pilares de ouro maciço, brilhando sob sol e quase cegando-o, e então ele dá o primeiro passo. Ele se sente vivo de uma maneira que nunca havia pensado ser possível ao passar pelos portões e, finalmente, entrar na Terra dos Druidas.




CAPÍTULO SEIS


Gwendolyn segue na parte de trás da carruagem, chacoalhando ao longo da estrada, enquanto guia seus súditos lentamente rumo ao oeste, afastando-se da Corte do Rei. Gwendolyn está satisfeito com a evacuação, que tinha sido bastante organizada até então, e satisfeita com o progresso que seu povo tinha feito. Ela odeia ter que deixar cidade para trás, mas está confiante que, pelo menos, tinha ganhado uma distância suficiente para o seu povo estar seguro, adiantados no caminho de sua última missão: fazer a Travessia Ocidental do Canyon, para embarcar em sua frota de navios nas margens do Tartuvian, e atravessar o grande oceano até as Ilhas Superiores. Aquela seria a única maneira, ela sabe, de manter seu povo seguro.

Enquanto avançam, com milhares das pessoas de seu reino pé ao seu redor e milhares de outras pessoas se acotovelando em suas carroças, o som dos cascos dos cavalos, o som do movimento constante de carros e da humanidade enche os ouvidos de Gwen. Gwen se vê distraída pela monotonia da caminhada, segurando Guwayne ao peito e balançando-o. Ao seu lado estão Steffen e Illepra, acompanhando-a durante todo o trajeto.

Gwendolyn olha para a estrada à sua frente e tenta se imaginar em qualquer outro lugar, exceto ali. Ela tinha trabalhado duro para reconstruir aquele reino, e agora ali estava ela, fugindo dele. Ela estava executando seu plano de evacuação em massa por causa da invasão McCloud, mas mais importante ainda, por causa de todas as antigas profecias, das dicas de Argon e por causa de seus próprios sonhos e sentimentos de perigo iminente. Mas e se ela estivesse errada? E se tudo aquilo tivesse sido apenas um sonho, apenas um devaneio noturno? E se fosse ficar bem no Anel? E se isso aquilo estivesse sendo uma reação exagerada, uma evacuação desnecessária? Afinal, ela poderia evacuar seu povo para outra cidade dentro do Anel, como a Silésia. Ela não precisava levá-los para o outro lado do oceano.

Ela gostaria de evitar isso, a menos que houvesse uma previsão concreta da destruição total e definitiva do Anel. No entanto, baseada em tudo que ela tinha lido, ouvido e sentido, essa destruição é apenas uma questão de tempo, e a evacuação seria sua única saída, ela se assegura.

Quando Gwen olha para o horizonte, ela anseia pela presença de Thor ali, ao seu lado. Ela olha para cima e vasculha os céus, se perguntando onde ele estaria agora. Ele já teria encontrado a Terra dos Druidas? Já teria encontrado sua mãe? Será que ele voltaria para ela?

E será que eles algum dia se casariam?

Gwen olha nos olhos de Guwayne e vê Thor olhando de volta para ela, vê os olhos cinzentos de Thor, e segura seu filho mais apertado junto ao peito. Ela tenta não pensar no sacrifício que teve que fazer no Submundo. Será que tudo se tornaria realidade? Será que o destino seria tão cruel?

"Minha senhora?"

Gwen se assusta ao ouvir a voz; ela se vira e vê Steffen, virando o corpo e apontando para o céu. Ela nota que todos ao seu redor, todo o seu povo, começa a parar e de repente, sua própria carruagem para de se movimentar. Ela fica intrigada com o motivos que fariam seu cocheiro parar sem uma ordem sua.

Gwen segue o dedo de Steffen e ao longe, no horizonte, ela se surpreende ao ver três flechas incendiadas disparadas para o alto no ar, para em seguida, caírem como estrelas cadentes. Ela fica chocada: três flechas em chamas só poderia significar uma coisa: um sinal dos MacGil. As garras do falcão, usada para sinalizar uma vitória. Aquele era um sinal usado por seu pai e seu pai antes dele, um sinal usado somente pelos MacGil. Não havia dúvidas: os MacGil haviam vencido, haviam tomado de volta a Corte do Rei.

Mas como aquilo poderia ser possível? ela se pergunta. Quando eles saíram, não havia nenhuma esperança de vitória, muito menos de sobrevivência, e sua preciosa cidade estava fadada a ser invadida pelos McCloud, com ninguém para ficar de guarda.

Gwen identifica, no horizonte distante, uma bandeira sendo levantada cada vez mais alto. Ela aperta os olhos e, então tem certeza: é uma bandeira com o brasão de sua família, o que só poderia significar que Corte do Rei agora estava de volta nas mãos dos MacGil.

Por um lado, Gwen se sente eufórica, e quer voltar imediatamente. Por outro lado, quando ela olha para a estrada por onde tinham viajado, ela pensa nas previsões de Argon, nos pergaminhos que tinha lido e em suas próprias premonições. Ela sente que, no fundo, seu povo ainda precisa de ser evacuado. Talvez os MacGil tivessem retomado a Corte do Rei; mas isso não significava que o Anel estava seguro. Gwendolyn ainda tem certeza de que algo muito pior está por vir, e que ela ainda precisa levar seu povo para longe dali, para a segurança.

"Parece que nós ganhamos," diz Steffen.

"Um motivo de celebração!" Aberthol grita, aproximando-se de sua carruagem.

"A Corte do Rei é nossa de novo!" Grita um plebeu.

Um grande grito de celebração irrompe entre seu povo.

"Temos que voltar imediatamente!" Grita outro.

Outro murmúrio de aprovação é ouvido, mas Gwen balança a cabeça com firmeza. Ela se levanta e encara seu povo, e todos os olhos se voltam para ela.

"Não vamos voltar!" Ela informa o seu povo. "Nós começamos a evacuação, e devemos cumpri-la. Eu sei que um grande perigo está diante do Anel. Devo levá-los para a segurança enquanto ainda temos tempo, enquanto ainda há uma chance."

Seu povo geme, insatisfeito, e vários plebeus se adiantam, apontando para o horizonte.

"Eu não sei sobre o resto de vocês," um deles grita, "mas a Corte do Rei é a minha casa! É tudo o que tenho e amo em minha vida! Eu não estou disposto a atravessar o mar até uma ilha estranha, enquanto a nossa cidade está intacta e nas mãos dos MacGil! Eu estou voltando para a Corte do Rei!"

Um grande grito irrompe, e quando ele parte, caminhando de volta, centenas de pessoas o seguem, virando suas carroças e se dirigindo de volta pela estrada na direção da Corte do Rei.

"Minha senhora, eu devo impedi-los?" Pergunta Steffen, em pânico, leal a ela até o fim.

"Você está ouvindo a voz do povo, minha senhora," interrompe Aberthol, chegando ao seu lado. "Seria tolice impedi-los. Além disso, você não pode, essa é a casa deles, é tudo o que eles têm. Não lute contra o seu próprio povo. Não os enfrente sem uma boa razão."

"Mas eu tenho uma boa razão," responde Gwen. "Eu sei que a destruição está chegando."

Aberthol balança a cabeça.

"E ainda assim eles não sabem disso," ele responde. "Eu não duvido de você, mas rainhas planejam com antecedência, enquanto as massas agem por instinto. E uma rainha é tão poderosa quanto as massas lhe permite ser."

Gwen fica ali, ardendo de frustração enquanto observa seu povo desafiar seu comando, migrando de volta à Corte do Rei. Aquele é a primeira vez que eles se rebelavam abertamente, desafiando um comando seu. Ela não gosta da sensação – seria um sinal de coisas ainda por vir? Seus dias como rainha estariam contados?

"Minha senhora, devo ordenar que nossos soldados os detenham?" pergunta Steffen.

Ela sente como se ele fosse o único que ainda era leal a ela. Uma parte dela gostaria de dizer que sim.

Mas enquanto ela os observa partir, Gwen sabe que seria inútil.

"Não," ela responde baixinho, com a voz quebrada, sentindo como se seu próprio filho tivesse lhe dado as costas. O que mais lhe dói é saber que aquela decisão só lhes traria sofrimento, e não poder fazer nada para detê-los. "Eu não posso impedir o que o destino reserva para eles."


*

Gwendolyn, triste ao acompanhar seu povo no retorno à Corte do Rei, atravessa os portões traseiros da cidade e já pode ouvir os gritos distantes de celebração vindos do outro lado. Seu povo está eufórico, dançando e aplaudindo, jogando seus chapéus no ar à medida que atravessam os portões, retornando para os pátios da cidade que conheciam e amavam, a cidade que chamavam de lar. Todos correm para parabenizar a Legião, Kendrick, e os soldados vitoriosos da Prata.

Mas Gwendolyn continua com um vazio em seu estômago, dilacerada por sentimentos contraditórios. Por um lado, ela está, naturalmente, feliz por retornar e estar de volta ao seu lar – eufórica por terem vencido os McCloud, exultante ao ver que Kendrick e os outros estavam a salvo. Ela sente orgulho em ver os corpos do soldados McCloud espalhados por todo o lugar, e muito satisfeita ao ver que seu irmão Godfrey tinha conseguido sobreviver e está sentado um pouco distante cuidado de suas feridas com a cabeça apoiada em uma das mãos.

Mas, ao mesmo tempo, Gwendolyn não consegue se livrar da constante sensação de mau presságio, uma certeza de que alguma outra calamidade terrível estava chegando que afetaria todos eles, e que a melhor coisa que seu povo poderia fazer seria evacuar antes que fosse tarde demais.

Mas todo seu povo está contaminado pela sensação da vitória. Eles se recusam em ouvir a voz da razão enquanto ela é conduzida, com milhares de outros, pela cidade que ela conhecia tão bem. Quando eles entram, Gwen fica aliviado ao ver que, pelo menos, os McCloud tinha sido mortos rapidamente, antes que tivessem a chance de fazer qualquer dano real em toda a sua cuidadosa reconstrução.

"Gwendolyn!"

Gwendolyn se vira e vê Kendrick desmontar, correr para a frente, e abraçá-la. Ela o abraça de volta, sua armadura dura e fria, ao mesmo tempo em que entrega Guwayne para Illepra, que está ao lado dela.

"Meu irmão," ela diz, olhando para ele, cujos olhos brilham animados pela vitória. "Eu estou orgulhosa de você. Você fez mais do que salvar a nossa cidade, você derrotou nossos atacantes. Você e seus companheiros da Prata. Você é a definição do nosso código de honra. Papai ficaria orgulhoso."

Kendrick sorri e abaixa a cabeça em uma saudação.

"Sou grato pelas suas palavras, irmã. Eu não estava disposto a permitir que a sua cidade, nossa cidade, a cidade de nosso pai, fosse destruída por aqueles pagãos. Eu não estava sozinho; você deve saber que nosso irmão Godfrey foi o primeiro a oferecer resistência. Ele e um pequeno grupo de soldados, e até mesmo da Legião, todos ajudaram a conter os atacantes."

Gwen se vira e vê Godfrey caminhar até eles com um sorriso estampado em seu rosto e uma mão na lateral da cabeça, coberto de sangue ressecado.

"Você se tornou um homem hoje, meu irmão," ela fala para ele em tom sério, colocando uma mão em seu ombro. "Papai ficaria orgulhoso."

Godfrey sorri timidamente.

"Eu só queria avisá-la," comenta ele.

Ela sorri.

"Você fez muito mais do que isso."

Junto com ele vêm Elden, O'Connor, Conven, e dezenas de membros da Legião.

"Minha senhora," diz Elden. "Nossos homens lutaram bravamente hoje. No entanto, fico triste em dizer, perdemos muitos deles."

Gwen olha além dele e vê os corpos dos mortos espalhados por toda a Corte do Rei. Milhares de McCloud – mas também dezenas dos recrutas da Legião. Até mesmo um punhado de membros da Prata estão mortos. Isso traz de volta memórias dolorosas da última vez em que sua cidade tinha sido invadida. É difícil para Gwen testemunhar a cena.

Ela se vira e vê uma dúzia de soldados McCloud, cativos, ainda vivo, de cabeça baixa e com as mãos presas atrás das costas.

"E quem são estes?" Ela pergunta.

"Os generais McCloud," Kendrick responde. "Nós os deixamos vivos – eles são tudo o que resta de seu exército. O que você ordena que façamos com eles?"

Gwendolyn os observa lentamente, olhando nos olhos deles ao fazê-lo. Todos eles também olham para ela, orgulhosos, desafiadores. Seus olhares são duros, típicos McCloud, recusando-se a mostrar remorso.

Gwen suspira. Houve um tempo em que ela acreditava que a paz fosse a resposta para tudo e que, se ao menos ela pudesse ser gentil e amável com seus vizinhos, se ela mostrasse boa vontade o suficiente, eles também seriam gentis com ela e seu povo.

Mas quanto mais tempo ela governava, mais ela via que os outros só interpretavam propostas de paz como um sinal de fraqueza, como uma oportunidade para tirar vantagem dela. Todos os seus esforços de paz tinham culminado com aquilo: um ataque surpresa, e ainda no Dia da Peregrinação – o dia mais sagrado do ano.

Gwendolyn se sente endurecer dentro. Ela não tem a mesma ingenuidade, a mesma fé no homem, que costumava ter. Cada vez mais, ela acredita em apenas uma coisa: um reinado de aço.

Com Kendrick e todos os outros olhando para ela, Gwendolyn levanta a voz:

"Matem todos eles," ela ordena.

Os olhos deles se arregalam de surpresa – e respeito. Eles claramente não esperavam isso de sua rainha, que sempre se havia se esforçado para manter a paz.

"Eu ouvi corretamente, minha senhora?" Pergunta Kendrick, o choque evidente em sua voz.

Gwendolyn acena com a cabeça.

"Sim, você me ouviu," ela responde. "Quando tiverem terminado, recolham os cadáveres, e expulse-os de nossas terras."

Gwendolyn se vira e se afasta pelo pátio da Corte do Rei, e quando ela o faz, ela ouve atrás dela os gritos dos generais McCloud – e apesar de sua determinação, ela vacila.

Gwen caminha através de uma cidade repleta de cadáveres e ainda movida pelos gritos de animação, música e dança, milhares de pessoas voltando para suas casas, repovoando a cidade como se nada de ruim tivesse acontecido. Enquanto ela os observa, seu coração se enche de medo.

"A cidade é nossa novamente," Kendrick fala, chegando a seu lado.

Gwendolyn balança a cabeça.

"Apenas por pouco tempo."

Ele olha para ela com surpresa.

"O que você quer dizer?"

Ela para e olha para ele.

"Eu vi as profecias," ela diz. "Os antigos manuscritos. Eu falei com Argon, e também tive um sonho. Um ataque está vindo em nossa direção -foi um erro voltarmos pra cá.Nós todos devemos evacuar imediatamente."

Kendrick olha para ela com o rosto pálido, e Gwen suspira enquanto observa seu povo.

"Mas meu povo não vai me ouvir."

Kendrick balança a cabeça.

"E se você estiver enganada?" ele pergunta. "E se você estiver dando valor demais às profecias? Temos o melhor exército de combate do mundo. Nada pode atingir nossos portões. Os McCloud estão mortos, e não nos restam outros inimigos no Anel. O Escudo está ativo e forte. E também temos Ralibar, onde quer que ele esteja. Você não tem nada a temer –  nós não temos nada a temer."

Gwendolyn balança a cabeça.

"Esse é precisamente o momento em que temos mais a temer," ela responde.

Kendrick suspira.

"Minha senhora, este foi apenas um ataque anormal," ele fala. "Eles nos surpreenderam no Dia de Peregrinação. Nós nunca mais deixaremos a Corte do Rei desprotegida. Esta cidade é uma fortaleza, e resiste há milhares de anos. Não há ninguém para nos derrubar."

"Você está enganado," afirma ela.

"Bem, mesmo que eu esteja, você vê que o povo pretende partir. Minha irmã," diz Kendrick com a voz suave, implorando, "eu a amo, mas falo como seu comandante – como um comandante da Prata. Se você tentar forçar seu povo a evacuar, a fazer o que eles não querem fazer, você terá uma revolta em suas mãos. Eles não vêem qualquer perigo, e para ser honesto, eu também não."

Gwendolyn olha para o seu povo, e sabe que Kendrick está certo. Eles não iriam ouvi-la. -até mesmo seu próprio irmão não acreditava nela.

E isso parte seu coração.


*

Gwendolyn fica sozinha nos parapeitos superiores do seu castelo, segurando Guwayne apertado e olhando para o pôr do sol, os dois sóis baixos no céu. Lá embaixo, ela ouve os gritos e comemorações distante de seu povo, todos se preparando para uma grande noite de celebração. Ao longe, ela vê as paisagens ondulantes das terras ao redor da Corte do Rei, um reino em seu auge. Por toda parte, é possível ver a abundância do verão, campos infinitos de campos verdes, uma terra exuberante, rica e generosa. A terra parece satisfeita, reconstruída depois de tanta tragédia, e ela vê um mundo em paz consigo mesmo.

Gwendolyn franze a testa, perguntando-se como qualquer tipo de escuridão jamais poderia chegar até ali. Talvez a escuridão que ela tinha imaginado já tinha vindo sob a forma do ataque dos McCloud. Talvez o perigo já tivesse sido evitado, graças a Kendrick e aos outros. Talvez Kendrick tivesse razão, talvez ela tivesse se tornado cautelosa demais, pois ela havia se tornado rainha e tinha visto muita tragédia. Talvez ela estivesse, como Kendrick havia dito, analisando muito profundamente as coisas.

Afinal de contas, evacuar todo seu povo de suas casas, e levá-los através do Canyon, até as voláteis Ilhas Superiores, fosse um movimento drástico, uma medida melhor reservada para um momento da maior calamidade. E se ela fizesse isso, e nenhuma tragédia se abatesse sobre o Anel? Ela seria conhecida como a Rainha que entrou em pânico sem qualquer perigo à vista.

Gwendolyn suspira, embalando Guwayne enquanto ele se contorce em seus braços, e se pergunta se ela estaria perdendo a cabeça. Ela olha para cima e vasculha o céu por qualquer sinal de Thorgrin, esperando e rezando. Ao menos, ela gostaria de encontrar algum sinal de Ralibar, onde quer que ele estivesse. Mas ele também não tinha retornado.

Gwen observa um céu vazio, mais uma vez decepcionada. Mais uma vez, ela teria que confiar em si mesma. Mesmo o seu povo, que sempre a tinha apoiado, que a via como um deus, agora parecia desconfiar dela. Seu pai nunca a tinha preparado para isso. Sem o apoio de seu povo, que tipo de rainha ela seria? Uma rainha impotente.

Gwen gostaria desesperadamente de recorrer a alguém que lhe desse conforto, de quem pudesse obter respostas. Mas Thorgrin havia partido; sua mãe estava morta; aparentemente todos que ela conhecia e amava já não estavam com ela. Ela se vê em uma encruzilhada, e nunca havia se sentido tão confusa.

Gwen fecha os olhos e reza para que Deus a ajude. Ela não costumava orar muito, mas sua fé era forte, e ela tem certeza de que ele existia.

Por favor, Deus. Estou tão confusa. Mostre-me como melhor proteger o meu povo. Mostre-me como melhor proteger Guwayne. Mostre-me como ser uma grande governante.

"As orações são uma coisa poderosa," diz uma voz.

Gwen imediatamente se vira, aliviada instantaneamente ao ouvir aquela voz. Diante dela, a alguns metros de distância, está Argon. Ele está vestido com seu manto e capuz brancos, segurando seu cajado e olhando para o horizonte em vez de olhar para ela.

"Argon, eu preciso de respostas. Por favor, ajude-me."

"Estamos sempre em busca de respostas," ele declara. "E ainda assim elas não vêm com tanta frequência. Nossas vidas são destinadas a serem vividas. O futuro nem sempre pode nos ser revelado."

"Mas pode ser insinuado," diz Gwendolyn. "Todas as profecias que eu li, todos os pergaminhos, a história do Anel – ainda indicam que uma grande escuridão está por vir. Você tem que me dizer. Isso vai mesmo acontecer?"

Argon se vira e olha para ela com os olhos cheios de fogo, mais escuros e mais assustadores do que ela já tinha visto.

"Sim," ele responde.

A certeza de sua resposta a assusta mais do que qualquer coisa. Ele, Argon, que sempre falava em enigmas.

Gwen estremece por dentro.

"Será que ela chegara até aqui, na Corte do Rei?"

"Sim," afirma ele.

Gwen sente sua sensação de pavor se aprofundar. Ela também se sente segura em sua convicção de que tinha estado certa o tempo todo.

"E o Anel será destruído?" Ela pergunta.

Argon olha para ela e balança a cabeça lentamente.

"Há apenas mais algumas coisas que eu posso lhe dizer," ele fala. "Se você quiser, esta pode ser uma delas."

Gwen considera aquilo. Ela sabe que a sabedoria de Argon era uma coisa preciosa. No entanto, aquilo é algo que ela realmente precisa saber.

"Diga-me," ela pede.

Argon respira fundo ao se virar e examinar o horizonte pelo que parece uma eternidade.

"O Anel será destruído. Tudo o que você conhece e ama será destruído. O lugar onde você está agora não será nada, exceto brasas e cinzas flamejantes. Todo o Anel será reduzida a cinzas.Sua nação deixará de existir. A escuridão está chegando. Uma escuridão maior do que qualquer escuridão em nossa história."

Gwendolyn sente a verdade de suas palavras ecoar dentro dela, sente o profundo timbre de sua voz ressoar na essência de seu ser. Ela sabe que cada palavra que ele diz é verdade.

"O meu povo não acredita nisso," ela fala com a voz trêmula.

Argon dá de ombros.

"Você é a rainha. Às vezes, o poder deve ser utilizado com vigor, e não somente contra nossos inimigos, mas também com nosso povo. Faça o que precisa ser feito, e deixe de buscar a aprovação constante de seu povo. A aprovação é uma coisa ardilosa. Às vezes, quando as pessoas mais te odeiam, significa que você está fazendo a melhor coisa para eles. Seu pai foi abençoado com um reino em paz. Mas você, Gwendolyn, você terá um teste muito maior: você terá um reinado de aço."

Quando Argon começa a partir, Gwendolyn se adianta e estende a mão para ele.

"Argon," ela chama.

Ele para, mas não se vira.

"Diga-me apenas mais uma coisa, eu lhe imploro. Verei Thorgrin novamente?"

Ele faz uma pausa, um silêncio longo e pesado. Nesse silêncio sombrio, ela sente seu coração se partir em dois, esperando e rezando para que ele lhe dê apenas mais uma resposta.

"Sim," ele responde.

Ela fica ali, com o coração batendo acelerado, desejando saber mais.

"Você pode me dizer algo mais?"

Ele se vira e olha para ela com tristeza em seus olhos.

"Lembre-se da escolha que você fez. Nem todo amor é feito para durar para sempre."

Acima deles, Gwen ouve o grito de um falcão e olha para o céu, pensando.

Então ela volta a olhar para trás, procurando Argon, mas ele já havia partido.

Ela segura Guwayne apertado e olha para seu reino, um último olhar – desejando lembrar dele assim, enquanto ele ainda é um reino vibrante, vivo, antes que tudo se transformasse em cinzas. Ela se pergunta com medo que grande perigo poderia estar à espreita por trás da aparente beleza. Ela estremece ao saber, sem sombra de dúvida, que todos descobririam em breve.




CAPÍTULO SETE


Stara grita enquanto despenca pelo ar, se debatendo com Reece ao lado dela, e Matus e Srog ao lado dele, os quatro caindo do castelo em meio ao vento e chuva ofuscantes, mergulhando em direção ao chão. Ela se prepara quando vê os grandes arbustos aproximando-se deles rapidamente, e constata que a única forma de sobreviver à queda seria graças à eles.

Um momento depois, Stara sente como se todos os ossos do seu corpo estivessem quebrando ao se chocar contra um arbusto – que mal amortece sua queda – e continuar caindo até bater no chão. Ela fica sem fôlego com o impacto, e tem certeza de que quebrou um costela. Mas ao mesmo tempo, ela percebe que está afundada no solo, e que a terra está mais enlameada do que ela pensava, e havia amortecido o impacto.

Os outros também caem ao seu lado, e todos começam a escorregar quando a lama cede. Stara não havia antecipado que eles cairiam em uma encosta íngreme, e antes que ela possa evitar, ela começa a deslizar com os outros, correndo ladeira abaixo, todos misturados à lama.

Eles rolam e deslizam, e logo as corredeira os levam deslizando para baixo da montanha em velocidade máxima. Enquanto ela desliza, Stara olha por cima do ombro e vê o castelo de seu pai desaparecendo rapidamente de sua vista, e percebe que, pelo menos, eles estão sendo levados para longe de seus atacantes.

Stara olha para baixo e se esquiva tentando desviar das rochas em seu caminho, indo tão rápido que mal consegue recuperar o fôlego. A lama está incrivelmente lisa, e a chuva cai com  mais força, seu mundo girando na velocidade da luz. Ela tenta diminuir a velocidade, agarrando-se à lama, mas é impossível.

Ao mesmo tempo em que Stara se pergunta se a queda um dia terminaria, ela é inundada pelo pânico ao se lembrar onde aquela encosta terminava: diretamente em um penhasco. Se eles não conseguissem parar logo, ela percebe, em breve todos estariam mortos.

Stara vê que nenhum dos outros consegue parar de escorregar, e todos estão se debatendo, gemendo, tentando o máximo que podem, porém  completamente impotentes. Stara olha para frente e vê, com horror, que o penhasco se aproxima rapidamente. Com nenhuma maneira de parar por si mesmos, eles estão prestes a despencar para suas mortes.

De repente Stara vê Srog e Matus virando à esquerda, para uma pequena caverna na borda do precipício. Eles de alguma forma conseguem bater com os pés nas rochas, chegando a uma parada antes de caírem do penhasco.

Stara tenta enfiar seus saltos na lama, mas nada funciona; ela simplesmente gira e continua escorregando, e vendo o precipício se aproximando dela, ela grita, sabendo que ela chegaria ao fim em menos de um segundo.

De repente, Stara sente uma mão áspera agarrar a parte de trás de sua camisa, diminuindo sua velocidade e, em seguida, ajudando-a a parar. Ela olha para trás e vê Reece. Ele está se agarrando a uma árvore frágil, com um braço em torno dela, na beira do precipício, e o outro braço a segurando enquanto a água e a lama continuam a jorrar, empurrando-a para longe dele. Ela está perdendo terreno, quase pendurada sobre a borda do penhasco – ele havia interrompido sua queda, mas ela estava prestes a cair.

Reece não poderia continuar naquela posição, e ela sabe que se ele não a soltasse, em breve ambos morreriam juntos.

"Deixe-me ir!" Ela grita para ele.

Mas ele balança a cabeça com firmeza.

"Nunca!" Ele grita de volta com o rosto molhado pela chuva.

Reece de repente solta a árvore para poder segurar Stara com as duas mãos; ao mesmo tempo, ele envolve as pernas ao redor da árvore, segurando-se por trás. Ele a puxa para ele com toda força, suas pernas a única coisa que mantém os dois no lugar.

Com um movimento final, ele dá um grito e consegue afastar os dois da correnteza, movendo-se para o lado e empurrando Stara na direção da caverna com os outros. Reece então vai atrás dela, rolando para o lado e a ajudando a percorrer o restante do caminho.

Quando eles chegam à segurança da caverna, Stara desaba com a cara na lama, exausta, e muito grata por estar viva.

Enquanto ela fica ali, respirando com dificuldade, toda molhada, ela não se pergunta o quão perto havia chegado a morte, mas sim se Reece ainda a amava. Ela percebe que se preocupa mais com isso do que com sua própria vida.


*

Stara se senta em torno da pequena fogueira dentro da caverna, com os outros por perto, finalmente começando a secar. Ela olha em volta e percebe que os quatro parecem sobreviventes de uma guerra, com rostos amaciados, observando as chamas os braços estendidos, tentando se proteger do frio constante. Eles ouvem o vento e a chuva – os sempre presentes elementos das Ilhas Superiores, do lado de fora da caverna, e têm a sensação de aquilo não terminaria nunca.

É noite, e eles tinham esperado durante todo o dia para acenderem aquele fogo por medo de serem vistos. Finalmente, todos tinham ficado com tanto frio, cansados e infelizes, que haviam decido arriscar. Stara sente que tempo suficiente havia passado desde sua fuga e, além disso, não havia nenhuma maneira que aqueles homens se atreveriam a arriscar todo o caminho até aquele penhasco. O trajeto era muito íngreme e molhado, e se o fizessem, eles provavelmente morreriam tentando.

Ainda assim, os quatro estavam presos ali, como prisioneiros. Se eles pisassem do lado de fora da caverna, eventualmente, um exército de habitantes das Ilhas Superiores os encontraria e mataria todos eles sem pensar duas vezes. Seu irmão não teria piedade dela – essa não era uma possibilidade.

Ela se senta perto de um Reece distante e chocado, e pondera sobre os acontecimentos do dia. Ela havia salvado a vida de Reece na fortaleza, mas ele a tinha salvado da queda no penhasco. Ele ainda se importava com ela da mesma forma que antes? Da mesma maneira que ela ainda se importava com ele? Ou ele se sentia ressentido pelo que havia acontecido com Selese? Será que ele a culpava? Será que ele um dia a perdoaria?

Stara não pode imaginar a dor que ele estava sentindo enquanto ele fica sentado ali, a cabeça entre as mãos, olhando para o fogo como um homem que desolado. Ela se pergunta o que estaria passando pela mente dele. Ele parece um homem com nada a perder, um homem levado ao limite do sofrimento e que ainda não tinha retornado. Um homem atormentado pela culpa. Ele não se parece com o homem que ela conhecia, um homem cheio de amor e alegria, de sorriso rápido, que a tinha coberto de amor e carinho. Agora, em vez disso, é como se algo tivesse morrido dentro dele.

Stara olha pra frente, com medo de encontrar os olhos de Reece, mas com necessidade de ver seu rosto. Ela espera secretamente que ele estivesse olhando para ela, pensando nela. No entanto, quando ela olha para ele, seu coração se parte ao ver que ele não está olhando para ela. Em vez disso, ele apenas encara as chamas, com o olhar mais solitário e triste que ela já tinha visto.

Stara não pode deixar de se perguntar pela milionésima vez se o que existia entre eles tinha sido arruinado pela morte de Selese. Pela milionésima vez, ela amaldiçoa seus irmãos – e seu pai – por colocar em ação um enredo tão tortuoso. Ela sempre quis Reece para si mesma, é claro; mas ela nunca teria aprovado o plano que levou à sua morte. Ela nunca quis que Selese morresse, ou até mesmo que se machucasse. Ela esperava que Reece lhe desse a notícia de uma forma suave e que, embora chateada, ela fosse entender – e ela certamente não esperava que ela fosse tirar a própria vida – ou destruir a de Reece.

Agora todos os planos de Stara, todo o seu futuro, havia desmoronado diante de seus olhos, graças à sua horrível família. Matus é o único membro racional que resta em sua linhagem. No entanto, Stara se pergunta o que aconteceria com ele, com todos eles. Será que eles apodreceriam e morreriam ali naquela caverna? Eventualmente, eles teriam que deixar aquele lugar. E os homens de seu irmão, ela sabe, são implacáveis. Eles não desistiriam até que tivessem  matado todos eles, especialmente depois que Reece havia matado seu pai.

Stara sabe que deveria sentir algum remorso por seu pai estar morto, mas ela não sente coisa alguma. Ela sempre havia odiado seu pai, e se qualquer coisa, ela se sente aliviada – até mesmo grata a Reece pode tê-lo matado. Ele tinha sido um guerreiro e um mentiroso e sem qualquer honra durante toda a sua vida, e jamais tinha sido um pai para ela.

Stara olha para aqueles três guerreiros, todos sentados ao redor da fogueira parecendo distraídos. Eles estavam em silêncio há horas, e ela se pergunta se algum deles tinha um plano. Srog estava gravemente ferido, e Matus e Reece tinham sido feridos também, embora seus ferimentos fossem menores. Todos parecem congelados até os ossos, abatidos pelo clima daquele lugar, pelas chances de sobrevivência diante deles.

"Então, vamos todos ficar sentados nessa caverna para sempre, para morrermos aqui?" Pergunta Stara, quebrando o silêncio, incapaz de suportar a monotonia e o clima pesado.

Lentamente, Srog e Matus olham para ela. Mas Reece ainda não olha para cima para encontrar seus olhar.

"E onde você gostaria de ir?" Perguntou Srog na defensiva. "Toda a ilha está cheia dos homens do seu irmão. Que chance temos contra eles? Especialmente agora que estão enfurecidos com a nossa fuga e pela morte de seu pai."

"Você nos meteu em uma enrascada, meu primo," diz Matus, sorrindo, colocando a mão no ombro de Reece. "Isso foi um ato corajoso de sua parte. Possivelmente, o ato mais ousado que já vi em minha vida."

Reece dá de ombros.

"Ele roubou minha noiva. Ele merecia morrer."

Stara se irrita com a palavra noiva . Isso parte seu coração. Sua escolha de palavras lhe diz tudo – claramente, Reece ainda estava apaixonada por Selese. Ele nem sequer encontra os olhos de Stara. Ela sente vontade de chorar.

"Não se preocupe, primo," Matus declara. "Alegro-me que meu pai esteja morto, e estou contente que você tenha sido o responsável.  Eu não o culpo, chego até a admirá-lo. Mesmo que você tenha quase nos matado no processo."

Reece assente com a cabeça, claramente grato pelas palavras de Matus.

"Mas ninguém me respondeu," continua Stara. "Qual é o plano? Morremos juntos aqui?"

"Qual é o seu plano?" Reece dispara de volta para ela.

"Não tenho nenhum plano," ela responde. "Eu fiz a minha parte. Resgatei todos nós daquele lugar."

"Sim, você fez isso," Reece admite, ainda olhando para as chamas, em vez de olhar para ela. "Eu lhe devo minha vida."

Stara sente um vislumbre de esperança com as palavras de Reece, mesmo que ele ainda não tenha encontrado seus olhos. Ela se pergunta se talvez ele não a odeie tanto.

"E você salvou a minha," ela responde. "Você impediu que eu caísse do precipício -estamos quites."

Reece ainda olha fixamente para as chamas.

Ela esperava que ele dissesse alguma coisa, que dissesse que a amava – qualquer coisa. Mas ele não diz nada. Stara sente-se enrubescer.

"É isso, então?" ela fala. "Já não temos mais nada a dizer um ao outro? Está tudo acabado entre nós?"

Reece levanta a cabeça, encontrando seus olhos pela primeira vez com uma expressão confusa.

Stara não aguenta mais. Ela fica em pé e se afasta dos outros, ficando em pé na borda da caverna, de costas para todos eles. Ela observa a noite, a chuva, o vento, e se pergunta: estaria tudo acabado entre ela e Reece? Caso estivesse, ela não acha que tenha qualquer razão para continuar vivendo.

"Nós podemos fugir para os navios," Reece diz finalmente, depois de um silêncio interminável, suas palavras cortando a noite.

Stara se vira e olha para ele.

"Fugir para os navios?" Ela pergunta.

Reece assente.

"Nossos homens estão lá em baixo, no porto. Temos que ir até eles – é o último território MacGil neste lugar."

Stara balança a cabeça.

"Um plano imprudente," afirma ela. "Os navios estarão cercados, se eles já tiverem sido destruídos. Nós teríamos que passar por todos os homens de meu irmão para chegar lá. É melhor nos escondermos em outro lugar na ilha."

Reece balança a cabeça, determinado.

"Não," ele diz. "Aqueles são os nossos homens. Temos que ir até eles, qualquer que seja o custo. Se eles estiverem sendo atacados, morremos lutando com eles."

"Você parece não entender," ela responde, igualmente determinada. "Assim que o sol nascer, milhares dos homens de meu irmão descerão até as costas. Não há como passar por eles."

Reece se levanta com um brilho nos olhos.

"Então, não vamos esperar pela luz do dia," ele dispara. "Iremos agora, antes do nascer do sol."

Matus lentamente se levanta, e Reece olha para Srog.

"Srog?" Pergunta Matus. "Você pode fazer isso?"

Srog faz uma careta ao ficar em pé, apoiando-se em Matus.

"Eu apenas retardaria seus planos", diz Srog. "Sigam sem mim, eu vou ficar aqui nesta caverna."

"Você vai morrer aqui nesta caverna," declara Matus.

"Bem, então vocês não morrerão comigo," responde ele.

Reece balança a cabeça.

" Nenhum homem será deixado para trás," ele afirma. "Você vai se juntar a nós, não importa o que aconteça."

Reece, Matus, e Srog caminham até Stara na entrada da caverna, olhando para o vento e chuva que ainda castigam a ilha. Stara olha para os três homens, se perguntando se eles eram loucos.

"Você queria um plano," diz Reece, voltando-se para ela. "Bem, agora nós temos um."

Ela balança a cabeça lentamente.

"Imprudente," ela afirma. "Essa é a maneira dos homens. Nós provavelmente morreremos a caminho dos navios."

Reece dá de ombros.

"Todos nós morreremos um dia de qualquer maneira."

Enquanto eles continuam ali, observando os elementos, esperando pelo momento perfeito, Stara espera que Reece faça alguma coisa, qualquer coisa, que pegue a mão dela, para mostrar a ela, por menor que seja o gesto, que ele ainda gosta dela.

Mas ele não faz nada. Ele deixa suas mãos onde estão e Stara sente-se endurecer, arrasada por dentro. Ela se prepara para embarcar, sem se importar com o que o destino havia reservado para ela. Quando eles dão o primeiro passo rumo à escuridão, ela percebe, sem o amor de Reece, ela não tem mais nada a perder.




CAPÍTULO OITO


Alistair continua no navio, aterrorizada e com seus braços ainda amarrados para trás, enquanto seu coração bate acelerado à medida que dezenas de marinheiros se aproximam dela por todos os lados com um olhar de luxúria e morte em seus olhos. Ela percebe que todos aqueles homens pretendem estuprá-la e torturá-la até a morte, e que teriam enorme prazer em fazê-lo. Ela se admira que tamanho mal exista no mundo, e por um momento se esforça para compreender a humanidade.

Durante toda a sua vida, ela sempre tinha sido conhecida, onde quer que fosse, como a garota mais bonita e, mais de uma vez, isso a tinha colocado em apuros. Ela quer apenas ser deixada em paz, e gostaria de ter uma aparência normal, como todo mundo. Ela nunca quis chamar a atenção, e certamente não queria atrair problemas.

Erec, preso na rede acima dela, grita – impotente e enfurecido.

"ALISTAIR!" Ele grita sem parar, tentando desesperadamente escapar.

Os marinheiros abaixo riem, tendo grande prazer em sua captura, e em seu desamparo.

Alistair olha para eles e sente raiva; se obrigando a ser corajosa e destemida.

"Por que vocês querem me machucar?" Ela pergunta, sua voz cheia de compaixão. "Vocês não vêem que seu comportamento só irá prejudicá-los? Somos todos parte do mesmo planeta."

Os homens dão risada na cara dela.





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Em UM REINADO DE AÇO (LIVRO N º11 DA SÉRIE O ANEL DO FEITICEIRO), Gwendolyn deve proteger o seu povo ao ver seu reino dominado. Ela luta para evacuar o Anel – mas há um problema: seu povo se recusa a partir. Quando uma batalha de vontades se segue, Gwen vê seu reinado colocado à prova pela primeira vez – enquanto a maior ameaça ao Anel se aproxima. Além dos McCloud existe a ameaça de Romulus e seus dragões que, com o Escudo destruído, começam uma invasão catastrófica que não deixa nada entre eles e a destruição completa do Anel. Romulus, com o apoio de Luanda, está invencível até o final do ciclo da lua, e Gwen deve lutar pela sobrevivência – sua, de seu filho e de todos os seus súditos – em meio a uma batalha épica entre homens e dragões. Kendrick lidera os Prata em uma batalha corajosa, e recebe a ajuda de Elden e dos novos recrutas da Legião juntamente com seu irmão Godfrey, que surpreende a todos, incluindo ele mesmo, com seus atos de bravura. Mas, mesmo assim, tudo isso pode não ser o suficiente. Enquanto isso, Thor embarca na viagem de sua vida na Terra dos Druidas, atravessando uma região assustadora e mágica, diferente de todas as outras e regida por suas próprias leis. Atravessar aquela terra exigirá todas as habilidades e experiência de Thor, forçando-o a buscar dentro de si a força para se tornar o guerreiro – e druida – que ele está destinado a ser. Ao encontrar monstros e desafios maiores do que nunca, Thor terá que colocar sua vida em risco para encontrar sua mãe. Erec e Alistair viajam para as Ilhas do Sul, onde são recebidos pelos conterrâneos dele, incluindo seu competitivo irmão e sua irmã invejosa. Erec tem um dramático último encontro com seu pai, e a ilha se prepara para levá-lo ao trono. Mas, nas Ilhas do Sul, deve-se lutar pelo direito ao trono, e Erec é coloca à prova como nunca antes. Em uma reviravolta dramática, descobrimos que existe traição também no mundo dos nobres guerreiros. Reece, cercado nas Ilhas Superiores, deve lutar por sua vida após sua vingança contra Tirus. Desesperado, ele se vê unido a Stara, ambos mutuamente receosos, embora unidos na luta pela sobrevivência – uma luta que terminará com uma batalha naval épica que colocará toda a ilha em risco. Gwen conseguirá atravessar o mar em segurança? Será que Romulus conseguirá destruir o Anel? Reece e Stara ficarão juntos? Erec será coroado Rei? E Thor, será que ele vai encontrar sua mãe? O quê acontecerá com Guwayne? Alguém sobreviverá à tudo isso? Com um enredo e caracterização sofisticados, UM REINADO DE AÇO é uma estória épica de amigos e amantes, rivais e interesses românticos, cavaleiros e dragões, intrigas e manipulações políticas e da mudança para a vida adulta, de corações partidos, decepções, ambição e traição. Uma estória de honra e coragem, de destino e magia. Uma fantasia que nos leva a um mundo inesquecível, e que atrai leitores de todas as idades e gêneros. Livros Nº 12 – 15 também estão disponíveis!

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