Книга - Uma Justa de Cavaleiros

a
A

Uma Justa de Cavaleiros
Morgan Rice


Anel Do Feiticeiro #16
O ANEL DO FEITICEIRO tem todos os ingredientes para um sucesso instantâneo: intrigas, conspirações, mistério, cavaleiros e relacionamentos repletos de corações partidos, traições e desilusões. Ele vai deixar você entretido por horas,e vai satisfazer públicos de todas as idades. Recomendado para a biblioteca permanente de todos os leitores do gênero de fantasia. – Books and Movie Reviews, Roberto Mattos (em relação a Em Busca de Heróis) [Uma] fantasia épica envolvente. – Kirkus Reviews (em relação a Em Busca de Heróis) O começo de algo extraordinário. – San Francisco Book Review (em relação a Em Busca de Heróis) Em UMA JUSTA DE CAVALEIROS, Thorgrin e seus irmãos seguem o rastro de Guwayne no mar, procurando por ele na Ilha da Luz. Mas ao chegarem até a ilha destruída e encontrarem Ragon prestes a morrer, pode ser que seja tarde demais. Darius é levado até a Capital do Império e para a maior arena de todas. Ele é treinado por um homem misterioso que está determinado a transformá-lo em um guerreiro e a ajudá-lo a sobreviver ao impossível. Mas a arena da capital é diferente de tudo que Darius já tinha visto e seus inimigos podem ser intensos demais até mesmo para alguém como ele. Gwendolyn se envolve com a dinâmica familiar na corte do Cume quando o rei e a rainha lhe pedem o um favor. Em uma busca para revelar os segredos que podem mudar o futuro do Cume e salvar Thorgrin e Guwayne, Gwen fica chocada com suas descobertas ao investigar as coisas mais a fundo. A relação de Erec e Alistair se intensifica à medida que eles navegam rio acima, rumo ao coração do Império, determinados a encontrar Volúsia e salvar Gwendolyn enquanto Godfrey e sua turma criam confusões em Volúsia, determinados a buscar vingança. Volúsia aprende o real significado de governar o Império ao ver sua capital cercada por todos os lados. Com uma ambientação e construção de personagens sofisticada, UMA JUSTA DE CAVALEIROS é um conto épico de amizades e amantes, rivais e pretendentes, cavaleiros e dragões, intrigas e maquinações políticas, do processo de tornar-se adulto, de corações partidos, de enganos, ambições e traições. É um conto de honra e coragem, de destino e magia. É uma fantasia que nos leva até um mundo que jamais esqueceremos, e que atrai leitores de todas as idades e gêneros. Uma fantasia espirituosa.. Apenas o começo do que promete ser uma série épica para jovens adultos. – Midwest Book Review (em relação a Em Busca de Heróis) De leitura fácil e rápida.. Você precisa ler o que acontece na sequência e não será capaz de largar o livro. – FantasyOnline. net (em relação a Em Busca de Heróis) Recheado de ação.. A escrita de Rice é solida e a premissa é intrigante. – Publishers Weekly (em relação a Em Busca de Heróis)





Morgan Rice

Uma Justa de Cavaleiros (Livro N 16 Da Série O Anel Do Feiticeiro)




Sobre Morgan Rice

Morgan Rice é a autora bestseller nº1 do USA Today da série de fantasia épica O ANEL DO FEITICEIRO, composta por dezessete livros; da série bestseller nº1 DIÁRIOS DE UM VAMPIRO, composta por onze livros (em progresso); da série bestseller nº1 TRILOGIA DE SOBREVIVÊNCIA, um thriller pós-apocalíptico composto por dois livros (em progresso); e da nova série de fantasia épica REIS E FEITICEIROS, composta por seis livros. Os livros de Morgan estão disponíveis em áudio e versões impressas, e traduções dos livros estão disponíveis em 25 idiomas.

Morgan gosta de ouvir sua opinião, então sinta-se à vontade para visitar www.morganricebooks.com (http://www.morganricebooks.com/) e fazer parte da lista de correspondência, receber um livro gratuito, ganhar brindes, fazer o download do aplicativo gratuito, receber notícias exclusivas, conectar-se através do Facebook e Twitter e manter contato!



Críticas aos Livros de Morgan Rice

"O ANEL DO FEITICEIRO tem todos os ingredientes para um sucesso instantâneo: intrigas, conspirações, mistério, cavaleiros e relacionamentos repletos de corações partidos, traições e desilusões. Ele vai deixar você entretido por horas e vai satisfazer públicos de todas as idades. Recomendado para a biblioteca permanente de todos os leitores do gênero de fantasia."



    --Books and Movie Reviews, Roberto Mattos

“[Uma] fantasia épica envolvente.”



    —Kirkus Reviews

“Esse é o começo de algo extraordinário.”



    --San Francisco Book Review

“Recheado de ação… A escrita de Rice é solida e a premissa é intrigante."



    --Publishers Weekly

“Uma fantasia espirituosa… Apenas o começo do que promete ser uma série épica para jovens adultos.”



    --Midwest Book Review



Livros de Morgan Rice

DAS COROAS E GLÓRIA

ESCRAVA, GUERREIRA E RAINHA (Livro nº1)



REIS E FEITICEIROS

A ASCENSÃO DOS DRAGÕES (Livro nº1)

A ASCENSÃO DOS BRAVOS (Livro nº2)

O PESO DA HONRA (Livro nº3)

UMA FORJA DE VALENTIA (Livro nº4)

UM REINO DE SOMBRAS (Livro nº5)

A NOITE DOS CORAJOSOS (Livro nº6)



O ANEL DO FEITICEIRO

EM BUSCA DE HERÓIS (Livro nº1)

UMA MARCHA DE REIS (Livro nº2)

UM DESTINO DE DRAGÕES (Livro nº3)

UM GRITO DE HONRA (Livro nº4)

UM VOTO DE GLÓRIA (Livro nº5)

UMA CARGA DE VALOR (Livro nº6)

UM RITO DE ESPADAS (Livro nº7)

UM ESCUDO DE ARMAS (Livro nº8)

UM CÉU DE FEITIÇOS (Livro nº9)

UM MAR DE ESCUDOS (Livro nº10)

UM REINADO DE AÇO (Livro nº11)

UMA TERRA DE FOGO (Livro nº12)

UM GOVERNO DE RAINHAS (Livro nº 13)

UM JURAMENTO DE IRMÃOS (Livro nº 14)

UM SONHO DE MORTAIS (Livro nº 15)

UMA JUSTA DE CAVALEIROS (Livro nº 16)

O PRESENTE DA BATALHA (Livro nº 17)



TRILOGIA DE SOBREVIVÊNCIA

ARENA UM: TRAFICANTES DE ESCRAVOS (Livro nº 1)

ARENA DOIS (Livro nº 2)



MEMÓRIAS DE UM VAMPIRO

TRANSFORMADA (Livro nº 1)

AMADA (Livro nº 2)

TRAÍDA (Livro nº 3)

PREDESTINADA (Livro nº 4)

DESEJADA (Livro nº 5)

COMPROMETIDA (Livro nº 6)

PROMETIDA (Livro nº 7)

ENCONTRADA (Livro nº 8)

RESSUSCITADA (Livro nº 9)

ALMEJADA (Livro nº 10)

DESTINADA (Livro nº 11)

OBCECADA (Livro nº 12)












Ouça a série O ANEL DO FEITICEIRO em formato de áudio livro!


Copyright © 2014 por Morgan Rice

Todos os direitos reservados. Todos os direitos reservados. Exceto conforme permitido pela Lei de Direitos Autorais dos EUA de 1976, nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, ou armazenada em um banco de dados ou sistema de recuperação, sem a autorização prévia da autora.

Este e-book é licenciado apenas para o seu uso pessoal. Este e-book não pode ser revendido ou cedido a outras pessoas. Se você gostaria de compartilhar este livro com outra pessoa, por favor, compre uma cópia adicional para cada destinatário. Se você estiver lendo este livro sem tê-lo comprado, ou se ele não foi comprado apenas para seu uso pessoal, por favor, devolva-o e adquira sua própria cópia. Obrigado por respeitar o trabalho da autora.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, empresas, organizações, entidades, eventos e incidentes são produto da imaginação do autor ou foram usados de maneira fictícia. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é mera coincidência.

Direitos autorais da imagem de capa de propriedade de Razumovskaya Marina Nikolaevna, usada com autorização de Shutterstock.com.









CAPÍTULO UM


Thorgrin fica em pé na proa do elegante navio, segurando na grade enquanto o vento assopra os seus cabelos, e observa o horizonte com uma crescente sensação de mau agouro. O navio, capturado das mãos dos piratas, navega o mais rápido possível com Elden, O'Connor, Matus, Reece, Indra e Selese manejando as velas, e Thorgrin, com Angel ao seu lado, sabe que não é possível ir mais rápido, por mais que ele queira. Ainda assim, ele anseia por isso. Depois de todo aquele tempo, Thor finalmente tem certeza de que Guwayne está próximo, além do horizonte, na Ilha da Luz. E com igual certeza, ele sente que Guwayne está em perigo.

Thor não compreende como aquilo é possível. Afinal, quando ele os tinha deixado para trás, Guwayne havia se encontrado na segurança da Ilha da Luz, sob a proteção de Ragon, um feiticeiro tão poderoso quanto o seu irmão. Argon é o feiticeiro mais poderoso que ele jamais havia conhecido, tendo até mesmo protegido todo o Anel, e Thor não consegue entender como qualquer mal poderia acontecer a Guwayne enquanto ele se encontra sob a proteção de Ragon.

A não ser que exista algum poder do qual Thorgrin jamais havia ouvido falar, o poder de um feiticeiro do mal que possa superar as forças de Ragon. É possível que exista algum reino, alguma força maligna oculta ou um feiticeiro do mal que ele desconheça?

Mas por que eles iriam atrás de seu filho?

Thor relembra o dia em que havia deixado a Ilha da Luz às pressas, sob o feitiço de seu sonho, determinado a abandonar aquele lugar ao amanhecer. Em retrospecto, Thor percebe que tinha sido enganado por alguma força maligna interessada em separá-lo de seu filho. Mas graças a Lycoples, que ainda está sobrevoando o seu navio, guinchando, desaparecendo no horizonte e voltando para perto deles novamente, Thor havia decidido retornar para Ilha, finalmente avançando na direção certa. Os sinais, Thor percebe, haviam estado diante de seu nariz durante todo aquele tempo. Como ele tinha sido capaz de ignorá-los? Que força maligna pode estar atuando para desencaminhá-lo?

Thor se lembra do preço que havia sido forçado a pagar: os demônios libertados do inferno, a maldição do Senhor das Trevas de que cada um daqueles demônios seria a sua ruína. Ele sabe que mais desafios e obstáculos estão diante dele e percebe que aquilo tinha sido apenas um deles. Que outros testes, ele se pergunta, podem estar esperando por ele? Ele conseguirá recuperar o seu filho?

"Não se preocupe," diz uma voz doce.

Thor se vira e vê Angel puxando um pedaço de sua camisa.

"Tudo vai ficar bem," ela completa com um sorriso.

Thor sorri para ela, colocando a mão sobre sua cabeça, tranquilizado pela presença dela como sempre. Ele havia aprendido a amar Angel como sua própria filha, a filha que ele nunca havia tido. A presença dela o conforta.

"E se tudo não ficar bem," ela continua com um sorriso nos lábios, "Eu darei um jeito!"

Ela ergue o pequeno arco que O'Connor havia feito para ela com orgulho e mostra para Thor suas habilidades com a arma. Thor sorri, divertindo-se, quando ela ergue o arco na altura de seu peito, prepara uma pequena flecha com as mãos trêmulas e começa a puxar a corda. Ela atira e sua pequena flecha de madeira atravessa o ar, incerta, caindo dentro do mar.

"Eu matei um peixe?" ela pergunta com excitação, correndo alegremente até a grade lateral do navio para olhar dentro da água.

Thor fica ali parado, observando a espuma do mar, e não tem tanta certeza disso. Mesmo assim, ele sorri.

"Tenho certeza que sim," ele responde de maneira encorajadora. "Talvez até mesmo um tubarão."

Thor ouve um guincho distante e imediatamente levanta a sua guarda. Todo o seu corpo fica paralisado ao mesmo tempo em que ele segura o punho de sua espada e observa o oceano, estudando o horizonte.

As grandes nuvens escuras se partem e, naquele exato instante, o horizonte é revelado, partindo o coração de Thor: na distância, nuvens de fumaça escura preenchem o céu. Quando mais nuvens se partem, Thor pode ver que a fumaça está vindo de uma ilha distante – não uma ilha qualquer, mas uma ilha com penhascos íngremes que se erguem na direção do céu, culminando em um imenso platô. Aquela é uma ilha inconfundível.

A Ilha da Luz.

Thor é invadido por uma dor intensa ao ver o céu repleto de criaturas malignas, parecidas com gárgulas, sobrevoando o que resta da ilha como abutres e preenchendo o ar com seus guinchos. Há um exército daquelas criaturas e, abaixo delas, toda a ilha está em chamas. Nenhum canto da ilha havia sido poupado.

"MAIS RÁPIDO!" Thor ordena, gritando contra o vento ao mesmo tempo em que sabe que aquilo é inútil. Aquela é maior sensação de desamparo que ele já havia sentindo em toda a sua vida.

Mas não há nada que ele possa fazer. Ele observa as chamas, a fumaça e os monstros, ouve Lycoples guinchando acima deles e sabe que é tarde demais. Nada poderia ter sobrevivido àquilo. Todas as pessoas daquela ilha, Ragon, Guwayne e todos os outros, certamente estão mortos.

"NÃO!" grita Thorgrin, amaldiçoando todos os deuses enquanto avança, tarde demais, na direção da ilha da morte.




CAPÍTULO DOIS


Sozinha no castelo de sua mãe, de volta no Anel, Gwendolyn observa os seus arredores e percebe que há algo de errado. O castelo está abandonado, todos os móveis e objetos tinham sido levados, as janelas removidas, todos os belíssimos vitrais que um dia haviam decorado o lugar levados para sempre, deixando apenas aberturas nas paredes de pedra por onde passa a suave luz do sol. Poeira paira no ar e o castelo parece estar desabitado há milhares de anos.

Gwen observa a paisagem do Anel, um lugar que ela havia conhecido e amado com todo o seu coração, agora vazio, distorcido e grotesco. Como se nada de bom tivesse restado no mundo.

"Minha filha," diz uma voz.

Gwendolyn se vira e fica chocada ao ver sua mãe parada ali, olhando para ela com uma expressão severa e doentia, em nada parecida com a mãe que ela havia conhecido e da qual se recorda. Aquela é a figura que ela se lembra de ter visto no leito de morte de sua mãe, uma pessoa que parece ter envelhecido demais em uma única vida.

Gwen sente um nó na garganta e percebe que apesar de tudo o que havia acontecido entre elas, ela ainda sente falta de sua mãe. Ela não sabe se sente falta da mãe ou de ver a sua família, algo familiar, e o Anel. Ela daria qualquer coisa para estar de volta em casa, para ter as coisas como antigamente.

"Mãe," responde Gwen, quase sem conseguir acreditar no que está vendo diante de si.

Gwen estica os braços e, ao fazer isso, de repente se vê em outro lugar, diante de um precipício em pé em uma ilha que tinha acabado de ser incendiada. O forte cheiro de fumaça e enxofre perdura no ar, queimando suas narinas. Ela observa seus arredores e, quando as cinzas são levadas pelo vento, vê um pequeno berço feito de ouro, o único objeto naquele lugar repleto de brasas e cinzas.

Ao dar um passo adiante, o coração de Gwen bate acelerado de ansiedade para saber se seu filho está ali e se está tudo bem com ele. Uma parte dela está exultante em se aproximar para segurá-lo em seus braços e nunca mais se afastar dele. Mas outra parte dela teme que ele possa não estar ali ou, ainda pior, que esteja morto.

Gwen se apressa e, abaixando-se, olha dentro do berço e tem seu coração partido ao perceber que ele está vazio.

“GUWAYNE!” Ela grita em desespero.

Gwen ouve um guincho tão alto quanto o seu no céu acima dela e, ao olhar para cima, vê um exército de criaturas negras, parecidas com gárgulas, voando para longe. Seu coração se parte ao ver um bebê pendurado nas garras da última criatura, chorando. Ele está sendo levado na direção de uma escuridão melancólica, içado por um exército maligno.

"NÃO!" grita Gwendolyn.

Gwen acorda chorando. Ela se senta na cama, procurando Guwayne por toda parte, esticando os braços para salvá-lo e para segurá-lo junto ao peito.

Mas ele não está em parte alguma.

Gwendolyn continua sentada na cama, respirando com dificuldade e tentando descobrir onde ela está. A luz clara do amanhecer invade as janelas e Gwen precisa de alguns instantes para perceber onde se encontra: no Cume. No castelo do Rei.

Gwen sente algo nas palmas de suas mãos e, ao olhar para baixo, vê Krohn lambendo a sua mão e descansando a cabeça em seu colo. Ela acaricia a cabeça dele ao se sentar na beirada da cama, sem fôlego e lentamente organizando os seus pensamentos enquanto o seu pesadelo ainda povoa a sua mente.

Guwayne, ela pensa. O sonho havia parecido tão real. Ela sabe que aquilo tinha sido mais do que apenas um sonho – aquilo tinha sido uma premonição. Guwayne, onde quer que ele esteja, está em perigo. Ele está sendo raptado por alguma força maligna oculta. Ela pode sentir isso.

Gwendolyn fica em pé, sentindo-se agitada. Mais do que nunca, ela sente urgência em encontrar seu filho e seu marido. Não há nada que ela queira mais do que voltar a vê-lo e segurá-lo em seus braços. Mas ela sabe que isso é impossível.

Enxugando as lágrimas que escorrem pelo seu rosto, Gwen coloca seu roupão de seda, atravessa o chão frio de pedras de seu quarto e para diante da grande janela arqueada. Ela empurra o painel de vidro e, quando ela faz isso, deixa entrar a suave luz do amanhecer enquanto o dia amanhece lá fora, iluminando a paisagem com tons escarlate. A visão é de tirar o fôlego. Gwen olha para fora, apreciando o Cume, a impecável capital e os imensos campos, colinas e vinhedos que a cercam; aquele é o lugar mais abundante que ela já tinha visto. Além da capital, o azul do lago está iluminado pelo sol da manhã e, além dele, Gwen vê os picos do Cume cobertos de névoa, formando um círculo perfeito que protege o lugar. Aquele lugar parece inatingível.

Gwen pensa em Thorgrin e em Guwayne, perdidos em algum lugar além daqueles picos. Onde eles podem estar? Ela voltará a vê-los algum dia?

Gwen vai até a cisterna, lava o rosto e rapidamente se veste. Ela sabe que não encontrará Thorgrin e Guwayne sentada ali naquele quarto e, mais do que nunca, sente que é isso que ela deve fazer. Se há alguém que pode ajudá-la, essa pessoa é o Rei. Ele deve saber o que fazer.

Gwen recorda a conversa que tinha tido com ele ao caminharem pelo Cume para assistir a partida de Kendrick e se lembra dos segredos que ele havia revelado. Sua morte. A morte do Cume. Há mais segredos, mais informações que ele havia pretendido revelar-lhe, mas eles tinham sido interrompidos. Seus conselheiros o tinham levado para tratar de assuntos urgentes e, ao se afastar, o Rei havia prometido contar-lhe mais coisas e pedir-lhe um favor. O que pode ser esse favor? Ela se pergunta. O que ele quer que ela faça?

O Rei havia pedido que ela se encontrasse com ele na sala do trono ao amanhecer e Gwen se apressa em vestir-se, sabendo que já está um pouco atrasada. Seus sonhos a tinham deixado grogue.

Ao atravessar o quarto, Gwen sente uma pontada de fome, ainda afetada pela travessia do Grande Deserto, olha para a mesa de iguarias que haviam sido servidas para ela – pães, frutas, queijos e pudins – e rapidamente pega algumas coisas, comendo enquanto caminha. Ela pega mais do que realmente precisa e, enquanto avança, estica o braço e oferece metade de sua comida para Krohn, que geme ao seu lado, pegando a comida das mãos dela, ansioso para acompanhá-la. Ela se sente grata por toda aquela comida, abrigo e conforto, tendo a sensação de estar de volta ao Anel, no castelo da Corte do Rei onde havia passado a sua infância.

Guardas ficam a postos quando Gwen sai dos seus aposentos, empurrando a pesada porta de carvalho. Ela passa por eles, caminhando pelos corredores de pedra do castelo, ainda iluminados pelas tochas que tinham sido acesas na noite anterior.

Ela alcança o final do corredor e sobe uma escada em espiral feita de pedras, seguida por Krohn, até chegar ao andar superior, onde fica a sala do trono do Rei, já se sentindo familiarizada com o lugar. Ela atravessa outro corredor e está prestes a passar por uma abertura na parede pedras quando sente um movimento pelo canto do olho. Gwen se assusta, surpresa ao ver uma pessoa parada no meio das sombras.

"Gwendolyn?" ele diz com uma voz suave e forçada, emergindo das sombras com um sorriso presunçoso nos lábios.

Gwendolyn, surpresa, pisca os olhos e precisa de um tempo para reconhecê-lo. Ela havia conhecido tantas pessoas nos últimos dias, que suas lembranças estão confusas.

Mas aquele é um rosto que ela não teria sido capaz de esquecer. Afinal, ele é o filho do rei, o outro gêmeo, que havia se pronunciado contra ela durante o banquete.

"Você é o filho do Rei," ela diz, pensando em voz alta. "O terceiro mais velho."

Ele sorri, uma expressão astuta da qual Gwen não gosta, e dá um passo adiante.

"O segundo mais velho, na verdade," ele a corrige. "Somos gêmeos, mas eu nasci primeiro."

Gwen o observa quando ele dá mais um passo adiante e percebe que ele está impecável, com a barba feita, os cabelos penteados, usando perfumes e óleos e vestindo as roupas mais finas que ela já tinha visto. Ele exibe uma expressão presunçosa, exalando arrogância e vaidade.

"Eu prefiro não ser considerado apenas um dos gêmeos," ele continua. "Sou um homem independente. Meu nome é Mardig. Ter um irmão gêmeo é apenas um detalhe do destino, algo que eu não pude controlar. O destino, diga-se de passagem, da coroa," ele conclui filosoficamente.

Gwen não gosta de estar na presença dele, ainda afetada pelo tratamento que havia recebido dele na noite anterior, e sente Krohn tenso ao seu lado quando os pelos do pescoço dele ficam eriçados. Ela está impaciente para saber o que ele deseja.

"Você tem o costume de se esconder nas sombras desses corredores?" ela pergunta.

Mardig sorri ao dar mais um passo adiante, chegando perto demais dela.

"Esse é o meu castelo, afinal," ele responde territorialmente. "Costumo andar por aí."

“Seu castelo?” Ela pergunta. "E não o castelo do seu pai?"

Sua expressão se torna mais sombria.

"Tudo no seu devido tempo," ele responde enigmaticamente, dando mais um passo adiante.

Involuntariamente, Gwendolyn dá um passo para trás, incomodada com a presença dele. Krohn começa a rosnar.

Mardig olha para Krohn com desdém.

"Você sabia que animais não dormem em nosso castelo?" ele comenta.

Gwen faz uma careta, sentindo-se irritada.

"Seu pai não me pareceu incomodado."

"Meu pai não faz cumprir as regras," ele responde. "Eu faço questão disso. E a guarda noturna está sob o meu comando."

Gwen fica frustrada.

"É por isso que você está aqui?" ela pergunta. "Para fazer o controle de animais?"

Ele também faz uma careta, percebendo, talvez, que havia encontrado alguém a sua altura. Ele a encara, olhando dentro dos olhos dela como se a estivesse avaliando.

"Não há uma única mulher em todo o Cume que não me deseje," ele declara. "Entretanto, não vejo paixão em seu olhar."

Gwen fica boquiaberta e horrorizada, finalmente percebendo o motivo de tudo aquilo.

“Paixão?” Ela repete, estupefata. "E por que eu sentiria isso? Sou casada e o amor da minha vida voltará em breve para o meu lado."

Mardig cai na gargalhada.

"É mesmo?" ele pergunta. "Pelo que ouvi, ele já morreu há muito tempo. Ou está tão perdido, que jamais conseguirá voltar até você."

O rosto de Gwendolyn se contorce à medida que sua raiva se acumula.

"E mesmo que ele jamais retorne," ela fala, "eu jamais amarei outra pessoa. E muito menos você."

Sua expressão se torna mais sombria.

Ela se vira para partir, mas ele estica o braço e a segura. Krohn rosna.

"Eu não costumo pedir pelo que eu quero," ele diz. "Eu simplesmente pego. Você está em um reino estranho, à mercê do seu anfitrião. Seria inteligente de sua parte fazer a vontade de seus captores. Afinal, sem a nossa hospitalidade, você será enviada de volta ao deserto. Muitas coisas terríveis podem acontecer acidentalmente com os nossos hóspedes, mesmo com anfitriões cuidadosos e bem intencionados."

Ela o encara, tendo visto muitas ameaças reais em sua vida para temer aqueles avisos insignificantes.

"Captores?" ela exclama. "É isso que você se considera? Eu sou uma mulher livre, caso você ainda não tenha notado. Posso ir embora agora mesmo, se assim decidir."

Ele cai na risada.

"E para onde você iria? De volta para o Grande Deserto?"

Ele sorri e balança a cabeça.

"Tecnicamente, você pode ser livre para partir," continua ele. "Mas deixe-me perguntar-lhe: quando o mundo é um lugar hostil, o que lhe resta?"

Krohn rosna agressivamente e Gwen sente que ele está prestes a atacar. Ela afasta a mão de Mardig de seu braço sentindo-se indignada e coloca a mão sobre a cabeça de Krohn, impedindo-o de atacar. Então, ao encarar Mardig novamente, ela de repente faz uma constatação.

"Diga-me, Mardig," ela diz com a voz fria e dura. "Por que você não está lá fora, lutando com o seu irmão no deserto? Por que você é a única pessoa que ficou para trás? O medo tomou conta de você?"

Ele sorri, mas atrás daquele sorriso Gwen é capaz de sentir sua covardia.

"O cavalheirismo é para os tolos," ele responde. "Tolos convenientes, que abrem caminho para que nós tenhamos o que quisermos. Use a palavra 'cavalheirismo' e eles podem ser usados como marionetes. Eu não me permito ser usada com tanta facilidade."

Ela olha para ele, sentindo-se enojada.

"Meu marido e os cavaleiros da Prata ririam de um homem como você," ela diz. "Você não sobreviveria por dois minutos no Anel."

Gwen olha para a saída que ele está bloqueando.

"Você tem duas opções," ela diz. "Você pode sair do caminho agora ou meu amigo Krohn fará a refeição que tanto deseja. Acho que você tem o tamanho ideal para ele."

Ele olha para Krohn e Gwen vê seus lábios tremendo. Ele dá um passo ao lado.

Mas ela não desiste com facilidade. Em vez disso, ela dá um passo adiante, aproximando-se dele para dar-lhe um recado.

"Você pode estar no comando deste castelo," ela dispara, "mas não esqueça que você está falando com uma Rainha. Uma rainha livre. Eu nunca seguirei o seu comando ou qualquer outro enquanto eu estiver viva. Já passei dessa fase. E isso me torna muito perigosa, muito mais perigosa do que você."

O Príncipe a encara e, para sua surpresa, sorri.

"Eu gosto de você, Rainha Gwendolyn," ele responde. "Mais do que eu pensava."

Gwendolyn, com o coração aos pulos, o observa se afastar, voltando para as sombras e desaparecendo pelo corredor. À medida que os passos dele ecoam pelas paredes do lugar, Gwen se pergunta que tipos de perigo aguardam por ela naquela corte.




CAPÍTULO TRÊS


Kendrick avança através da paisagem árida do deserto com Brandt e Atme ao seu lado e meia dúzia dos cavaleiros da Prata, tudo o que resta da irmandade do Anel, cavalgando juntos como antigamente. Enquanto eles avançam, aventurando-se cada vez mais fundo no Grande Deserto, Kendrick é invadido pela nostalgia e pela tristeza; aquilo o faz pensar nos tempos áureos do Anel, quando ele vivia cercado pelos seus companheiros da Prata, dirigindo-se para mais uma batalha com milhares de seus homens. Ele havia lutado ao lado dos melhores cavaleiros do reino, todos eles guerreiros habilidosos, e por onde ele havia passado, trombetas haviam soado enquanto os habitantes do lugar se aproximavam para saudá-los. Ele e seus homens tinham sido bem recebidos em todos os lugares e costumavam ficar acordados até tarde, recontando histórias de batalhas, coragem e confrontos com monstros que viviam no Canyon ou, ainda pior, nas terras selvagens.

Kendrick pisca para tirar a poeira dos olhos e sai de seu devaneio. Aquilo tudo faz parte de seu passado e ele agora está em um lugar diferente. Ele olha para o lado e vê os homens da Prata, esperando ver milhares de outros homens atrás deles. Mas a realidade lentamente toma conta de Kendrick quando ele se dá conta de que aquilo é o resta da Prata, percebendo o quanto tudo havia mudado. Aqueles tempos de glória seriam restaurados?

A definição de um guerreiro havia mudado ao longo dos anos para Kendrick e, agora, ele sente que não é a habilidade ou a honra que fazem de um homem um guerreiro e sim a sua perseverança. A sua capacidade de seguir em frente. A vida nos impõe muitos obstáculos, calamidades, tragédias, perdas e, acima de tudo, mudanças; ele havia perdido mais amigos do que é capaz de dizer e o Rei a quem ele havia dedicado a sua vida já não está vivo. Até mesmo sua terra natal havia desaparecido. E, ainda assim, ele continua, mesmo sem saber por qual motivo. Kendrick sabe que está em busca dessa resposta. E é essa habilidade de continuar, apesar das circunstâncias, que faz um verdadeiro guerreiro, forçando um homem a resistir ao teste do tempo quando tantos outros haviam ficado pelo caminho. É isso o que separa os verdadeiros guerreiros dos soldados passageiros.

"PAREDE DE AREIA ADIANTE!" grita uma voz.

Aquela é uma voz estranha, uma voz com a qual Kendrick ainda está se acostumando, e, ao olhar para o lado, ele vê Koldo, o filho mais velho do rei. Sua pele escura se destaca entre os outros membros do grupo enquanto ele lidera o pequeno exército para longe do Cume. Durante o pouco tempo desde que Kendrick o tinha conhecido, Koldo já havia conquistado o seu respeito pela maneira como ele lidera os seus homens e pela forma como eles o admiram. Kendrick tem orgulho em cavalgar ao lado daquele cavaleiro.

Koldo aponta para o horizonte e, ao olhar naquela direção, Kendrick ouve o que ele está tentando mostrar antes de conseguir ver qualquer coisa. Ao ouvir um assobio estridente como uma tempestade de vento, Kendrick pensa no tempo que havia passado no Grande Deserto e se lembra de ter atravessado aquilo quase inconsciente. Ele se lembra das areias revoltas, girando como um tornado que nunca termina e formando uma parede sólida que se ergue em direção ao céu. Aquilo havia lhe parecido intransponível como uma parede de verdade, ajudando a esconder o Cume do restante do Império.

À medida que o assobio se torna mais intenso, Kendrick começa a temer ter que passar por aquilo de novo.

“CACHECÓIS!” Grita uma voz.

Kendrick vê Ludvig, o mais velho dos gêmeos do Rei, esticar um longo tecido branco e enrolá-lo em torno de seu rosto. Todos os outros soldados seguem o seu exemplo, fazendo o mesmo.

O soldado que havia se apresentado como Naten e por quem Kendrick havia sentido antipatia imediata se aproxima dele. O soldado não havia demonstrado respeito pela posição de comando de Kendrick e havia lhe faltado com respeito.

Naten olha com desdém para Kendrick e seus homens ao mesmo tempo em que se aproxima.

"Você acha que está liderando essa missão," ele diz, "apenas porque o Rei assim ordenou. Mas não sabe que deve proteger os seus homens da Parede de Areia."

Kendrick o observa com a mesma intensidade, vendo em seus olhos que o homem nutre um ódio inexplicável por ele. A princípio, Kendrick havia pensado que ele estivesse apenas se sentindo ameaçado por ele, uma pessoa estranha, mas agora ele percebe que aquele homem simplesmente aprecia a sensação de ódio.

"Entregue os cachecóis para ele!" Koldo grita para Naten de maneira impaciente.

Quando algum tempo se passa e eles se aproximam ainda mais da parede, Naten finalmente estende o braço e arremessa o saco de cachecóis para Kendrick, acertando o seu peito com força.

"Distribua isso entre os seus homens," ele diz, "ou então, vocês serão cortados pela parede. A escolha é sua, eu realmente não me importo."

Naten se afasta, voltando para junto de seus homens, e Kendrick rapidamente distribui os cachecóis para os seus companheiros, aproximando-se de cada um deles. Então, Kendrick enrola seu próprio cachecol em torno de sua cabeça e de seu rosto, como ele tinha visto os habitantes do Cume fazendo, dando várias voltas até sentir-se seguro e ainda capaz de respirar. Ele mal consegue enxergar através do pano, vendo um mundo desfocado e escuro.

Kendrick se prepara ao se aproximar ainda mais da parede, cercado pelo som ensurdecedor das areias. A cinquenta metros de distância, o ar já está pesado e preenchido pelo som de milhares de grãos de areia batendo contra as armaduras. Um momento depois, ele começa a senti-los.

Kendrick entra na Parede de Areia e tem a sensação de estar perdido em um mar de areia revolto. O barulho é tão intenso que ele mal consegue ouvir o som de seu próprio coração batendo em seus ouvidos quando a areia envolve cada centímetro de seu corpo, lutando para parti-lo em pedaços. A parede de areia é tão intensa que ele não consegue ver Brandt ou Atme, que estão a apenas alguns metros dele.

"CONTINUEM EM FRENTE!" Kendrick grita para os seus homens, se perguntando se alguém é capaz de ouvi-lo ao mesmo tempo em que tenta confortá-los. Os cavalos relincham como loucos, diminuindo o ritmo e agindo de maneira estranha, e, ao olhar para baixo, Kendrick vê que a areia está entrando nos olhos deles. Ele chuta o seu cavalo, torcendo para que ele não pare de andar.

Kendrick continua avançando, pensando que aquilo não terá fim até que, finalmente, eles chegam ao outro lado. Ele continua correndo, seguido pelos seus homens, de volta ao Grande Deserto, que o espera com o céu aberto e uma grande imensidão vazia. A Parede de Areia gradualmente se acalma e, à medida que eles continuam cavalgando e a paz volta a se instaurar, Kendrick nota os habitantes do Cume olhando para ele e para os seus homens com surpresa.

"Vocês não acharam que sobreviveríamos?" Kendrick pergunta para Naten, que o encara.

Naten dá de ombros.

"De qualquer forma, pouco me importo," ele diz, afastando-se com seus homens.

Kendrick troca um olhar com Brandt e Atme, voltando a se perguntar sobre as intenções daquele povo do Cume. Kendrick sente que tem um grande caminho pela frente até conquistar a confiança daqueles homens. Afinal, ele e seus companheiros são pessoas estranhas, tendo sido responsáveis por aquele rastro que havia causado tanta confusão.

"Ali!" grita Koldo.

Kendrick olha para a frente e vê, no meio do deserto, a trilha deixada por ele e pelos outros sobreviventes do Anel. Ele vê todas as pegadas que eles haviam deixado, agora endurecidas no chão de areia, seguindo até o horizonte.

Koldo para diante das últimas pegadas e, com seus cavalos ofegantes, todos eles fazem o mesmo. Eles olham para o chão, analisando as pegadas.

"Eu pensei que o deserto as tivesse apagado," diz Kendrick com surpresa.

Naten faz uma careta.

"Esse deserto não apaga nada. Nunca chova aqui e o deserto se lembra de tudo. Essas pegadas que vocês deixaram teriam levado o Império até nós, resultando na destruição do Cume."

"Pare de provocá-lo," Koldo fala para Naten com agressividade, sua voz cheia de autoridade.

Kendrick, virando-se, vê Koldo por perto e é invadido por uma onda de gratidão.

"E por que eu deveria?" retruca Naten. "Essas pessoas criaram esse problema. Eu poderia estar em casa, em segurança no Cume."

"Continue assim," diz Koldo, "e eu o mandarei de volta agora mesmo. Você será expulso de nossa missão e terá que explicar ao Rei a forma desrespeitosa como você tratou o comandante dele."

Naten, finalmente humilhado, olha para o chão e se dirige ao outro lado do grupo.

Koldo olha para Kendrick, fando um gesto de respeito com a cabeça, de um comandante para o outro.

"Peço desculpas pela insubordinação dos meus homens," ele fala. "Como você sabe, um comandante nem sempre fala por todos os homens sob o seu comando."

Kendrick assente com respeito, admirando Koldo mais do que nunca.

"É esse o rastro do seu povo?" Koldo pergunta, olhando para o chão.

Kendrick assente.

"Aparentemente."

Koldo suspira e começa a seguir a trilha.

"Vamos segui-la até o final," ele diz. "Quando alcançarmos o fim, voltaremos apagando tudo."

Kendrick se mostra surpreso.

"Mas isso não deixará uma nova trilha quando voltarmos?"

Koldo faz um gesto e, quando Kendrick segue a direção de seus olhos, vê alguns objetos parecidos com ancinhos amarrados nas traseiras de seus cavalos.

"Varredores," explica Ludvig, aproximando-se de Koldo. "Eles irão apagar o nosso rastro enquanto avançamos."

Koldo sorri.

"Isso é o que mantém o Cume invisível para os nossos inimigos há tantos séculos."

Kendrick admira os objetos engenhosos e ouve um grito quando os homens chutam os seus cavalos e começam a seguir a trilha, galopando pelo deserto em direção ao horizonte vazio. Apesar de si mesmo, Kendrick olha para trás, dá uma última olhada na Parede de Areia e, por alguma razão, é invadido pela sensação de que eles jamais voltarão para aquele lugar.




CAPÍTULO QUATRO


Erec fica na proa do navio acompanhado de Alistair e Strom enquanto observa com preocupação o estreitamento do rio. Sua pequena frota, tudo o que resta dos navios que haviam deixados as Ilhas do Sul, o seguem de perto, abrindo caminho por aquele rio sem fim à medida que entram cada vez mais fundo no território do Império. Em alguns pontos, o rio de águas límpidas tinha sido tão largo quanto o oceano e não tinha sido possível ver suas margens, mas agora, Erec observa o horizonte e vê que o rio está mais estreito, com apenas vinte metros de largura, e que suas águas estão ficando turvas.

O soldado profissional que existe dentro de Erec fica em alerta máximo. Ele não gosta de ficar em espaços confinados ao liderar seus homens e sabe que o estreitamento do rio deixará sua frota ainda mais suscetível a ataques inesperados. Erec olha para trás e não vê qualquer sinal da enorme frota do Império da qual eles haviam escapado em alto mar, mas isso não significa que eles não estejam lá fora em algum lugar. Ele sabe que o Império não irá desistir daquela perseguição até que eles sejam encontrados.

Com as mãos nos quadris, Erec olha para trás, analisando o território do Império estendendo-se interminavelmente em ambos os lados do rio, um solo de areia seca e rochas, sem árvores ou qualquer sinal de civilização. Erec vasculha as margens do rio e fica feliz, ao menos, em não ver qualquer tipo de forte ou batalhões do Império posicionados ao longo do rio. Ele quer avançar com sua frota até Volúsia o mais rápido possível, encontrar Gwen e os outros, libertá-los e sair daquele lugar. Ele pretende levá-los para a segurança das Ilhas do Sul, onde será capaz de protegê-los. Erec não quer encontrar qualquer distração pelo caminho.

Mas, por outro lado, o silêncio sinistro e aquela paisagem desolada também o preocupam: O Império estaria se escondendo em algum lugar, preparando-se para atacá-los?

Erec sabe que existe um perigo ainda maior do que um ataque inimigo diante deles: a fome. Essa é uma preocupação ainda mais urgente. Eles estão atravessando o que é essencialmente um deserto vazio e todas as suas provisões estão praticamente esgotadas. Enquanto Erec fica ali, ele pode sentir um barulho em seu estômago, tendo imposto uma única refeição diária para si mesmo e para os seus homens há muito tempo. Ele sabe que se não encontrar algo em breve, eles terão um problema ainda mais sério em suas mãos. Aquele rio por acaso tem fim? Erec se pergunta. E se eles nunca encontrarem Volúsia?

Ou pior: e se Gwendolyn e os outros não estiverem mais lá? Ou se já estiverem mortos?

"Mais um!" Strom dispara.

Erec olha para trás e vê um de seus homens puxando uma linha de pesca e um grande peixe amarelo se debatendo no convés do navio. O marujo pisa no peixe e Erec e os outros se aproximam, olhando para baixo. Ele balança a cabeça, sentindo-se desapontado: duas cabeças. Aquele é mais um dos peixes venenosos que parecem existir em abundância naquele rio.

"Esse rio é amaldiçoado," declara o homem, preparando sua vara mais uma vez.

Erec caminha até a grade lateral do navio e olha para a água com frustração. Ele sente uma presença e vê Strom se aproximando dele.

"E se esse rio não nos levar até Volúsia?" pergunta Strom.

Erec consegue ver a preocupação na expressão de seu irmão, um sentimento que ele compartilha.

"Ele vai nos levar para algum lugar," Erec responde. "E nos levará para o norte. Se não chegarmos até Volúsia, atravessaremos a pé e seguiremos lutando."

"Então vamos abandonar nossos navios? E como vamos sair desse lugar? Como voltaremos para as Ilhas do Sul?"

Erec lentamente balança a cabeça, suspirando.

"Pode ser que não voltemos," ele responde com sinceridade. "Nenhuma missão honrada é segura. Isso alguma vez nos impediu de agir?"

Strom olha para ele e sorri.

"Vivemos por situações como essa," ele responde.

Erec sorri e vê Alistair se aproximar dele, segurar a grade e começar a observar o rio que está ficando cada vez mais estreito. Seus olhos estão embaçados e ela tem um olhar distante; Erec percebe que ela está perdida em outro mundo. Ele também percebe outra coisa de diferente em Alistair, mas não sabe com certeza o que é, como se algum segredo a estivesse mantendo distante. Ele está morrendo de vontade de questioná-la, mas não quer se intrometer.

Um coral de alarmes soa e Erec, surpreso, se vira e olha para trás. Seu coração se parte ao ver o que se aproxima.

"APROXIMANDO-SE RÁPIDO!" grita um marujo de cima do mastro, apontando freneticamente. "FROTA DO IMPÉRIO!"

Erec, acompanhado de Strom, atravessa o convés de volta para a popa, correndo pelos seus homens, que se preparam para o confronto, pegando suas espadas e arcos e se preparando mentalmente para a batalha.

Erec chega até a popa, segura na grade e olha para fora, percebendo que é verdade: ali, apenas a cem metros de distância, na curva do rio, há uma fileira de navios do Império, exibindo suas velas pretas e douradas.

"Eles devem ter encontrado a nossa trilha," diz Strom ao seu lado.

Erec balança a cabeça.

"Eles estiveram nos seguindo durante todo esse tempo," ele fala, finalmente percebendo tudo. "Estavam apenas esperando pelo momento certo."

"Esperando pelo quê?" pergunta Strom.

Erec se vira e olha por cima do ombro, em direção ao rio diante deles.

“Por aquilo,” ele responde.

Strom se vira e analisa o estreitamento do rio.

"Eles esperaram até chegarmos ao ponto mais estreito do rio," explica Erec. "Até que estivéssemos navegando em fila única e fosse tarde demais para voltar. Eles nos têm exatamente onde queriam."

Erec olha para a frota e, enquanto fica ali parado, é invadido por uma sensação de extrema concentração, como costuma acontecer quando ele está liderando os seus homens em tempos de crise. Ele sente outra sensação invadir o seu corpo e, como sempre acontece em momentos como aquele, uma ideia começa a se formar em sua mente.

Erec olha para o seu irmão.

"Vá para o navio ao lado," ele ordena. "Fique na retaguarda de nossa frota. Tire todos os homens de cima do navio e os envie para o navio ao lado. Está me ouvindo? Esvazie aquele navio. Quando o navio estiver vazio, você será o último a abandoná-lo."

Strom olha para ele, sentindo-se confuso.

"Quando o navio estiver vazio?" ele repete. "Eu não estou entendendo!"

"Eu planejo naufragá-lo."

"Naufragar o seu próprio navio?" pergunta Strom estupefato.

Erec assente.

"No ponto mais estreito, onde as margens do rio se encontram, você vai virar o navio de lado e abandoná-lo. Isso irá criar um bloqueio, a barragem da qual precisamos. Ninguém será capaz de nos seguir. Agora vá!" Erec grita.

Strom parte para a ação, seguindo as ordens de seu irmão mesmo que ele não concorde totalmente com elas. Erec leva o seu navio para perto dos outros e Strom salta. Ao aterrissar no outro navio, ele começa a disparar ordens e os homens partem para a ação, saltando para o navio de Erec um de cada vez.

Erec fica preocupado ao ver os navios começando a se afastar.

"Segurem as cordas!" Erec grita para os seus homens. "Usem os ganchos e segurem os navios juntos!"

Seus homens seguem o seu comando, correndo para a lateral do navio, arremessando os ganchos no ar e prendendo-os no navio ao lado. Então, eles começam a puxar as cordas com todas as forças até que os navios param de se separar. Isso acelera o processo e dezenas de homens saltam de um barco para o outro, correndo para pegar suas armas com a mesma rapidez com que haviam abandonado o navio.

Strom supervisiona tudo, disparando ordens, se certificando de que todos os homens abandonem o navio e cercando-os até que não resta ninguém a bordo.

Strom olha para Erec, que o observa com satisfação.

"E o que eu faço com as provisões do navio?" Strom grita por cima do barulho. "E com as armas excedentes?"

Erec balança a cabeça.

"Esqueça tudo isso," Erec grita de volta. "Siga-nos e destrua o navio."

Erec se vira e corre até a proa, liderando a sua frota quando eles se aproximam do estreitamento.

"FILA ÚNICA!"

Todos os seus navios formam uma fila atrás dele quando eles alcançam o ponto mais estreito do rio. Erec continua avançando com sua frota e, ao fazer isso, ele olha para trás e vê a frota do Império se aproximando rápido, agora a apenas algumas centenas de metros de distância. Ele vê quando centenas de soldados do Império pegam seus arcos e se preparam para arremessar flechas, incendiando-as. Ele sabe que seus navios estão ao alcance do Império, não há tempo a perder.

"AGORA!" Erec grita para Strom assim que seu navio, o último da frota, entra no ponto mais estreito do rio.

Strom, observando e esperando, ergue sua espada e corta as cordas que prendem seu navio ao de Erec ao mesmo tempo em que salta para o navio de seu irmão. Ele corta as cordas no mesmo instante em que o navio abandonado alcança o estreitamento, navegando sem rumo.

"VIREM O NAVIO DE LADO!" Erec ordena.

Seus homens esticam os braços, agarram as cordas que ainda estão penduradas na lateral do navio e puxam com todas as forças até que navio, rangendo, lentamente se vira se lado contra a corrente. Finalmente, levado pela correnteza, o navio se prende firmemente às rochas e fica preso entre as duas margens do rio, rangendo à medida que a madeira começa a se partir.

"PUXEM COM MAIS FORÇA!" Erec grita.

Eles continuam puxando e Erec se junta a eles, gemendo ao puxar o navio com toda a sua força. Lentamente, eles conseguem virar o navio, segurando firme à medida que ele fica cada vez mais preso nas rochas.

Quando o navio para de se mover, alojado firmemente no lugar, Erec finalmente se sente satisfeito.

"CORTEM AS CORDAS!" ele grita, sabendo que aquele é o momento decisivo e sentindo o seu próprio navio começando a ceder.

Os homens de Erec cortam as cordas restantes, soltando o seu navio no momento certo.

O navio abandonado começa a se partir e seus destroços bloqueiam o rio. Um momento depois, o céu se escurece quando uma saraivada de flechas incendiadas do Império atravessa o ar na direção da frota de Erec.

Erec consegue tirar os seus homens do caminho bem a tempo: as flechas acertam o navio abandonado, caindo a apenas seis metros da frota de Erec e incendiando o navio, o que apenas cria mais um obstáculo entre eles e o Império. Agora, o rio está intransponível.

"Vamos em frente!" Erec grita.

Sua frota navega com agilidade, utilizando o vento para distanciar-se do bloqueio à medida que eles avançam mais ao norte, longe do alcance das flechas do Império. Mais flechas são arremessada, caindo na água e chiando ao serem apagadas pelo rio.

Erec fica na proa do navio à medida que eles continuam avançando e assiste com satisfação quando a frota do Império é impedida de continuar pelo navio em chamas. Um dos navios do Império tenta atravessar mesmo assim, mas consegue apenas incendiar-se; centenas de soldados do Império agonizam, envoltos pelas chamas, e saltam para dentro do rio, deixando que seu navio crie um obstáculo ainda maior. Olhando para aquilo tudo, Erec deduz que o Império não será capaz de segui-los por muitos dias.

Erec sente uma mão forte em seu ombro e vê Strom sorrindo ao seu lado.

"Essa foi uma das suas estratégias mais inspiradoras," ele fala.

Erec sorri de volta.

"Você agiu muito bem," ele responde.

Erec volta a olhar para o rio, para as águas que o cercam por todos os lados, e ainda não se sente aliviado. Eles haviam vencido aquela batalha, mas quem sabe quais obstáculos eles ainda têm pela frente?




CAPÍTULO CINCO


Volúsia, vestindo seu manto dourado, fica em pé em seu trono, observando as centenas de degraus de ouro que ela havia construído como uma homenagem para si mesma, estica os braços e aproveita o momento. As ruas da cidade estão repletas de pessoas, cidadãos do Império, seus soldados e todos os seus novos devotos até onde seus olhos são capazes de enxergar; todos eles fazem saudações, encostando suas cabeças no chão ao amanhecer do dia. Eles estão cantando, emitindo um som suave e persistente enquanto participam da cerimônia matutina que ela havia criado e seguindo as ordens dos comandantes e ministros de Volúsia, que haviam ordenado que eles optassem entre venerá-la ou morrer. Ela sabe que eles a estão admirando pois não têm outra escolha, mas aquilo em breve se tornará parte de suas rotinas.

"Volúsia, Volúsia, Volúsia," eles entoam sem parar. "Deusa do Sol e deusa das estrelas. Mãe dos oceanos e mensageira solar."

Volúsia olha para a frente e admira a sua nova cidade. Há estátuas douradas, erguidas em sua homenagem, espalhadas por toda a cidade, exatamente como ela havia ordenado. Todos os cantos da capital têm uma estátua de Volúsia feita de ouro e, não importa para onde os habitantes olhem, não há escolha a não ser vê-la e admirá-la.

Finalmente, ela está satisfeita. Finalmente, Volúsia é a Deusa que ela sempre soube ser.

Os cânticos preenchem o ar, assim como os incensos acesos em cada uma dos altares erguidos para ela. Homens, mulheres e crianças preenchem as ruas lotadas para saudá-la e Volúsia se sente merecedora de toda aquela admiração. Ela havia passado por muitas coisas para chegar até ali, mas Volúsia havia conseguido marchar até a capital, assumir seu controle e destruir todos os exércitos que haviam ousada opor-se a ela. Agora, finalmente, a capital lhe pertence.

O Império é seu.

Obviamente, seus conselheiros não pensam dessa forma, mas Volúsia não se importa com as opiniões deles. Ela sabe que é invencível, estando em algum lugar entre o céu e a terra, e nenhuma força do mundo é capaz de destruí-la. Volúsia não sente medo e sabe que aquilo tudo é apenas o começo. Ela quer conquistar ainda mais poder. Ela planeja visitar cada canto do Império e destruir todos aqueles que não concordam com ela e que se recusam a aceitar seu controle absoluto do Império. Ela pretende reunir um exército cada vez mais forte, até que todo o Império esteja sob o seu comando.

Pronta para começar o dia, Volúsia desce do trono, pisando em um degrau de cada vez. Ela estica os braços e, quando a população dá um passo adiante, suas mãos se encostam, uma multidão de adoradores que a aceitam como uma deusa encarnada. Algumas pessoas, chorando, caem no chão à medida que Volúsia passa diante delas enquanto centenas de outros habitantes da cidade formam uma ponte humana, ansiosos para que Volúsia caminhe sobre eles. Ela faz a vontade deles, pisando em suas costas macias.

Finalmente, ela tem um grupo de fieis seguidores. Agora, é chegada a hora de ir para a guerra.


*

Volúsia observa o céu do deserto a partir dos parapeitos que cercam a capital com uma sensação de intensa realização. Ela não vê nada exceto os corpos de todos os homens que ela havia matado e um céu repleto de abutres, que sobrevoam a área dando voos rasantes para alimentar-se dos cadáveres. Uma brisa suave sopra do lado de fora da cidade e Volúsia já consegue sentir o cheiro dos corpos em decomposição carregado pelo vento. Ela abre um largo sorriso ao ver aquela carnificina. Aqueles homens haviam ousado enfrentá-la, tendo pagado o preço por sua insubordinação.

"Não devemos enterrar os mortos, minha Deusa?" pergunta uma voz.

Volúsia vê Rory, o comandante de suas forças armadas, um humano alto, de ombros largos e boa aparência, parado ao seu lado. Ela o tinha escolhido, promovendo-o acima de seus outros generais, por sua boa aparência e, também, por sua habilidade como comandante e sua disposição para ganhar a qualquer custo, assim como ela.

"Não," ela responde sem olhar para ele. "Quero que eles apodreçam sob o sol e que os animais se alimentem de seus corpos. Quero que todos saibam o que acontece com aqueles que ousam desafiar a Deusa Volúsia."

Ele olha para os corpos, recuando.

"Como quiser, minha Deusa," ele responde.

Volúsia vasculha o horizonte e, quando ela faz isso, Koolian, seu feiticeiro, vestindo um manto preto com capuz, com os olhos verdes brilhantes e seu rosto coberto de verrugas, a criatura que a tinha ajudado a assassinar sua própria mãe e um dos únicos membros de seu círculo mais íntimo em quem ela ainda confia, se aproxima, pondo-se a observar o horizonte junto com ela.

"Você sabe que eles estão em algum lugar lá fora," ele diz. "Que eles estão vindo atrás de você. Posso senti-los nesse exato momento."

Ela o ignora e continua olhando para a frente.

"Eu também," ela finalmente comenta.

"Os Cavaleiros dos Sete são muito poderosos, Deusa," Koolian fala. "Eles viajam com um exército de feiticeiros, um exército que nem mesmo você é capaz de enfrentar."

"E não se esqueça dos homens de Romulus," completa Rory. "Há relatos de que eles estão próximos de nossa costa, tendo finalmente retornado do Anel."

Volúsia não se move e um longo silêncio paira no ar, interrompido apenas pelo uivo do vento.

Por fim, Rory diz:

"Não é possível manter o controle desse lugar. Ficar aqui resultará na morte de todos nós. Quais são as suas ordens, Deusa? Devemos abandonar a capital? Devemos nos render?”

Volúsia finalmente se vira na direção dele e sorri.

"Temos que comemorar," ela responde.

"Comemorar?" ele pergunta com surpresa.

"Sim, vamos comemorar," ela responde. "Faremos isso até o fim. Reforcem os portões da cidade e abram a grande arena. É meu desejo que os cem próximos dias sejam passados com comemorações e jogos. Podemos morrer," ela conclui com um sorriso, "mas faremos isso sorrindo."




CAPÍTULO SEIS


Godfrey corre pelas ruas de Volúsia acompanhado de Ario, Merek, Akorth e Fulton, ansioso para alcançar os portões da cidade antes que seja tarde demais. Ele ainda está exultante por ter tido sucesso ao sabotar a arena, envenenando o elefante, encontrando Dray e soltando-o no estádio no momento em que Darius mais havia precisado dele. Graças a ajuda de Godfrey e de Silis, a mulher Finiana, Darius havia vencido; ele tinha salvado a vida de seu amigo, o que o deixa um pouco aliviado da culpa que carrega por ter deixado que Darius caísse em uma armadilha; Obviamente, o papel de Godfrey havia sido executado nos bastidores, onde ele é capaz de dar o seu melhor, e Darius não teria sido o vencedor sem sua própria coragem e habilidade. Ainda assim, Godfrey o tinha ajudado.

Mas agora, tudo está saindo errado. Após o duelo, Godfrey havia pensado que encontraria Darius no portão da arena quando ele estivesse sendo levado e que poderia libertá-lo. Ele não tinha previsto que Darius seria escoltado pela saída traseira da arena para desfilar pela cidade. Após a vitória de Darius, toda a multidão do Império havia começado a gritar o seu nome e os capatazes do Império haviam se sentido ameaçados por aquela popularidade inesperada. Inadvertidamente, eles haviam criado um herói e, então, decidem levá-lo para fora da cidade antes que uma revolução comece.

Agora, Godfrey corre com os outros para alcançar Darius antes que ele saia pelos portões da cidade e seja tarde demais. A estrada que leva até a capital é comprida e bem protegida, atravessando o Grande Deserto; quando Darius deixar a cidade, eles não terão como ajudá-lo. Godfrey precisa salvá-lo ou seus esforços terão sido inúteis.

Respirando com dificuldade, ele corre pelas ruas da cidade seguido por Merek a Ario, que ajudam Akorth e Fulton com suas grandes barrigas abrindo caminho.

"Não pare de andar!" Merek encoraja Fulton ao mesmo tempo em que o puxa pelo braço. Ario simplesmente dá cotoveladas nas costas de Akorth, fazendo-o gemer e forçando-o a se apressar quando ele diminui o ritmo.

Godfrey sente o suor escorrendo por seu pescoço enquanto corre e se culpa, mais uma vez, por ter bebido tanta cerveja. Ele pensa em Darius e força suas pernas cansadas a continuarem se movendo, atravessando uma rua após a outra até que, finalmente, eles passam embaixo de um longo arco de pedras e entram na praça central da cidade. Assim que eles fazem isso, os portões da cidade surgem a cem metros deles. Quando Godfrey olha para a frente, seu coração se parte ao ver que os portões estão sendo abertos.

"NÃO!" ele grita involuntariamente.

Godfrey entra em pânico ao ver a carroça de Darius, levada por cavalos, protegida por soldados do Império e cercada por barras de ferro como uma jaula sobre rodas, atravessando os portões.

Ele corre ainda mais rápido, mais veloz do que ele havia pensado ser capaz, desesperado para alcançá-lo.

"Nós não vamos conseguir," diz Merek, a voz da razão, colocando uma mão no braço dele.

Mas Godfrey se livra da mão de Merek e continua correndo. Ele sabe que aquela é uma causa perdida, a carroça está longe demais e protegida por muitos guardas, mas ele continua correndo até não ter mais forças para continuar.

Ele fica ali parado, no meio da praça e segurado por Merek, e coloca as mãos nos joelhos enquanto tenta recuperar o fôlego.

"Não podemos permitir que ele vá embora!" grita Godfrey.

Ario balança a cabeça, aproximando-se dele.

"Ele já se foi," ele fala. "Salve-se. Temos que sobreviver para lutar outro dia."

"Vamos conseguir salvá-lo de outra forma," completa Merek.

"Como!?" pergunta Godfrey, em desespero.

Ninguém sabe a resposta para aquela pergunta enquanto observam os portões de ferro se fechando atrás de Darius.

Godfrey pode ver a carroça de Darius através das grades dos portões, já bem afastado, dirigindo-se para o deserto e distanciando-se cada vez mais de Volúsia. A nuvem de poeira atrás deles fica cada vez mais intensa, obscurecendo-os, e Godfrey sente seu coração se partir ao pensar que havia decepcionado todas as pessoas que ele conhece e perdido sua última chance de redenção.

O silêncio que se segue é interrompido pelo latido de um cão selvagem e Godfrey fica surpreso ao ver Dray surgir a partir de um dos becos da cidade, latindo e rosnando como um louco ao mesmo tempo em que corre atrás de seu mestre. Ele também está desesperado para salvar Darius e, ao alcançar os enormes portões da cidade, Dray salta e se joga contra eles, tentando inutilmente abrir caminho com suas presas.

Godfrey, horrorizado, observa quando os soldados do Império responsáveis pela guarda dos portões veem Dray e fazem um sinal. Um deles saca sua espada e se aproxima do cachorro, claramente se preparando para matá-lo.

Godfrey não sabe o que acontece em seguida, mas algo de repente toma conta dele. Aquilo tudo é muita injustiça para ele. Se ele não puder salvar Darius, ele deve, ao menos, salvar seu amado cão.

Godfrey ouve seu próprio grito e sente que está correndo, mas tudo aquilo lhe parece uma experiência extracorpórea. Com uma sensação surreal, ele se vê sacando a sua pequena espada e correndo para cima do guarda desavisado. Quando o homem finalmente se vira, Godfrey se vê enfiando a sua arma no coração do guarda.

O grande soldado do Império, incrédulo, olha para Godfrey com os olhos arregalados e fica parado no lugar por um instante. Em seguida, ele cai no chão, morto.

Godfrey ouve um grito e vê os outros dois guardas do Império partindo para cima dele. Eles carregam armas assustadoras e Godfrey sabe que não é páreo para eles. Ele irá morrer ali, diante daqueles portões, mas ao menos morrerá após seu gesto nobre.

Um rosnado corta o ar e Godfrey vê, pelo canto do olhos, quando Dray se vira e salta em cima do guarda que se aproxima de Godfrey. Ele enfia suas presas no pescoço do homem, prendendo-o no chão e mordendo-o até que o guarda para de se mover.

Ao mesmo tempo, Merek e Ario se aproximam e usam suas espadas curtas para golpear o guarda que está atrás de Godfrey, matando-o antes que ele possa fazer qualquer mal.

Todos eles ficam ali parados em silêncio enquanto Godfrey olha para aquela carnificina, espantado com o que tinha acabado de fazer e surpreso por ter aquele tipo de coragem. Dray se aproxima e lambe as costas das mãos de Godfrey.

"Eu não achei que você fosse capaz disso," diz Merek em tom de admiração.

Godfrey fica imóvel, ainda atordoado.

"Eu ainda não tenho certeza do que fiz," ele responde com sinceridade. Ele não tinha tido a intenção de fazer aquilo, tendo simplesmente agido por impulso. Aquilo ainda faz dele um herói? Ele se pergunta.

Akorth e Fulton olham em todas as direções, absolutamente assustados, procurando por qualquer sinal dos soldados do Império.

"Temos que sair daqui!" Akorth grita. "Agora!"

Godfrey sente braços em torno de seu corpo e se vê sendo levado embora. Acompanhado por Dray, ele se vira e corre com os outros, deixando a cidade e correndo na direção do que o destino lhes reserva.




CAPÍTULO SETE


Darius, com os punhos algemados aos seus calcanhares por uma longa corrente e coberto de hematomas e ferimentos, encosta suas costas nas barras de ferro da carroça, sentindo-se sobrecarregado. Enquanto eles avançam, sacudindo pela estrada esburacada, ele olha para fora e observa o céu do deserto entre as barras de sua jaula com uma sensação de absoluto desamparo. Sua carroça passa diante de uma paisagem estéril que parece não ter fim; não há nada, exceto a desolação, até onde seus olhos são capazes de enxergar. É como se o mundo tivesse acabado.

A carroça de Darius é coberta, mas raios de sol atravessam as barras de sua jaula e ele sente o calor intenso do deserto atingindo-o em ondas, fazendo com que ele transpire até mesmo na sombra e aumentando o seu desconforto.

Mas Darius não se importa. Seu corpo está doendo dos pés à cabeça, coberto de hematomas, ele tem dificuldade para mover seus membros e está completamente exausto após os intermináveis dias de luta na arena. Incapaz de cair no sono, ele fecha os olhos e tenta apagar as lembranças de sua mente, mas todas as vezes que ele faz isso, as imagens das mortes de seus amigos Desmond, Raj, Luzi e Kaz voltam a assombrá-lo. Todos eles haviam morrido para que ele sobrevivesse.

Ele é o campeão, tendo conseguido fazer o impossível, mas isso não lhe importa agora. Ele sabe que a morte se aproxima; sua recompensa, afinal, é ser enviado para a capital do Império, tornando-se um espetáculo para a grande arena e enfrentando inimigos ainda piores. A recompensa por tudo aquilo, por todos os seus atos de bravura, é a morte.

Darius prefere morrer agora a ter que passar por tudo aquilo novamente. Mas não é ele quem decide isso; ele continua algemado ali, completamente indefeso. Por quanto tempo mais ele terá que suportar aquela tortura? Ele será obrigado a testemunhar a morte de todas as pessoas que ele ama antes de encontrar o seu próprio fim?

Darius fecha os olhos mais uma vez, tentando desesperadamente bloquear as suas lembranças; ao fazer isso, uma lembrança de sua infância invade os seus pensamentos. Ele está brincando diante da cabana de seu avô com um cajado nas mãos. Ele acerta uma árvore várias vezes até que seu avô se aproxima e tira a arma de suas mãos.

"Não brinque com isso," seu avô o adverte. "Você quer chamar a atenção do Império? Quer que eles pensem que você é um guerreiro?"

Seu avô havia partido o cajado ao meio e Darius tinha sido consumido pela raiva. Aquilo havia sido mais do que um simples pedaço de madeira: aquele era seu poderoso cajado, a única arma que ele tinha. Aquele cajado significava tudo para ele.

Sim, quero que pensem que eu sou um guerreiro. Não há nada que eu queira mais nessa vida, Darius pensa.

Mas quando seu avô havia lhe dado as costas e começado a se afastar, Darius não tinha tido coragem de dizer aquilo em voz alta.

Ele havia simplesmente pegado os dois pedaços de madeira no chão, segurando-os nas mãos enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto. Ele havia jurado vingar-se de todos eles por causa de sua vida, de sua vila, de sua situação, do Império e por todas as outras coisas que ele não podia controlar.

Ele acabaria com todos eles. E seria conhecido apenas como um grande guerreiro.


*

Darius não sabe ao certo quanto tempo havia se passado quando ele finalmente desperta, mas percebe imediatamente que o brilho forte do sol manhã havia mudado para tons alaranjados, indicando que a tarde está chegando ao fim. O ar também está bem mais fresco e seus ferimentos haviam começado a cicatrizar, dificultando sua movimentação e impedindo-o de mudar de posição naquela carroça desconfortável. Os cavalos continuam avançando sem parar pelo chão duro do deserto e o barulho contínuo de sua cabeça batendo contra as grades faz Darius sentir que seu crânio está prestes a se partir. Ele esfrega os olhos, removendo a poeira de seus cílios, e se pergunta quanto tempo falta para que eles cheguem até a capital. Ele tem a sensação de estar viajando para o fim do mundo.

Darius pisca algumas vezes e olha para fora da carroça, esperando ver, como sempre, o horizonte vazio e a vastidão do deserto. Mas desta vez, ao olhar para a paisagem, ele se surpreende ao ver outra coisa. Ele ajusta sua postura pela primeira vez.

A carroça começa a diminuir o ritmo, os cavalos se acalmam, a qualidade da estrada melhora e, ao analisar a nova paisagem, Darius vê algo que ele nunca será capaz de apagar de sua mente: erguendo-se a partir do deserto como uma civilização perdida, os muros de uma cidade se estendem até onde seus olhos são capazes de enxergar. O muro apresenta enormes portões dourados e, ao ver os parapeitos repletos de soldados do Império, Darius imediatamente percebe que eles haviam chegado à capital.

Darius nota que a carroça está fazendo um barulho diferente e, ao olhar para baixo, vê que eles estão passando em cima de uma ponte levadiça. Eles passam diante de centenas de soldados do Império, alinhados ao longo da ponte, que entram em atenção ao vê-los se aproximando.

Um barulho corta o ar e Darius vê os grandes portões dourados se abrindo completamente como se para recebê-lo de braços abertos. Ele vê o brilho da cidade mais magnífica que ele já havia conhecido e sabe, sem sombra de dúvidas, que aquele é um lugar de onde ele jamais será capaz de escapar. Como se para confirmar seus pensamentos, Darius ouve um rugido distante que ele reconhece imediatamente: aquele é o barulho de uma nova arena, de homens com sede de sangue; o som do lugar que certamente será o local de seu último suspiro. Ele não tem medo e apenas reza para que Deus lhe permita morrer em pé, com uma espada nas mãos, em um último ato de bravura.




CAPÍTULO OITO


Thorgrin, com as mãos trêmulas e transpirando, puxa a corda dourada uma última vez com Angel em suas costas, finalmente atingindo o topo do penhasco, e coloca seus joelhos em terra firme ao mesmo tempo em que tenta recuperar o fôlego. Ele olha para baixo, vê seu navio dezenas de metros abaixo deles, na base do penhasco, parecendo pequeno enquanto é balançado pelas ondas, e se surpreende com a distância que ele havia escalado. Ele ouve gemidos ao seu redor e, ao se virar, vê Reece, Selese, Elden, Indra, O'Connor e Matus terminando a subida e finalmente chegando à Ilha da Luz.

Thor permanece de joelhos, seus músculos exaustos e observa a Ilha da Luz que se estende diante de seus olhos enquanto seu coração é invadido mais uma vez por uma nova onda de apreensão. Antes mesmo de ver a cena terrível, Thorgrin é capaz de sentir o cheiro das brasas e da forte nuvem de fumaça que perdura no ar. Ele também sente o calor das chamas latentes e pode ver os danos causados ao restante da ilha após o ataque das criaturas desconhecidas que haviam destruído o lugar. A ilha está completamente preta, queimada e destruída; tudo o que havia existido naquele lugar idílico e que havia lhe parecido invencível, agora tinha sido reduzido a cinzas.

Thorgrin fica em pé e não perde tempo. Ele começa a aventurar-se pela ilha, com o coração aos pulos enquanto procura Guwayne por todas as partes. Ao observar a condição em que a ilha se encontra, ele evita pensar no que pode vir a descobrir naquele lugar.

“GUWAYNE!” Thorgrin grita enquanto corre pelas colinas incendiadas, usando as mãos para proteger sua boca e nariz.

Sua voz ecoa através das colinas, como se estivesse zombando dele. E então, não há nada exceto o silêncio.

Um guincho solitário atravessa o céu bem acima deles e, ao olhar para cima, Thor vê que Lycoples continua voando em círculos. Lycoples guincha mais uma vez, mergulha baixo no céu e então voa na direção do centro da ilha. Thor imediatamente sente que ela o está levando até o local onde seu filho se encontra.

Ele começa a correr junto com os outros, atravessando a paisagem desolada e procurando seu filho por todos os lados.

“GUWAYNE!” Ele grita mais uma vez. "RAGON!"

Ao assimilar toda a devastação da paisagem carbonizada, ele tem cada vez mais certeza de que nada poderia ter sobrevivido ali. Aquelas colinas que um dia já tinham sido cobertas por árvores e gramados verdejantes agora não passam de cinzas. Thor se pergunta que tipos de criaturas, além dos dragões, podem ter causado tanta destruição e, acima de tudo, quem está no controle delas e por que elas tinham sido enviadas até ali. Por que o seu filho é tão importante que alguém teria se dado ao trabalho de enviar um exército atrás dele?

Thor observa o horizonte, procurando algum sinal deles, mas seu coração se parte ao não ver coisa alguma. Em vez disso, ele vê apenas as chamas fracas das colinas em brasa.

Ele quer acreditar que Guwayne tenha sobrevivido de alguma forma. Mas ele não vê como isso teria sido possível. Se um feiticeiro poderoso como Ragon não tinha sido capaz de enfrentar as forças ocultas que haviam estado ali, como ele poderia ter salvado o seu filho?

Pela primeira vez desde que havia partido naquela missão, Thor está começando a perder as esperanças.

Eles correm sem parar, subindo e descendo as colinas, e, à medida que eles alcançam o topo de uma pequena montanha O'Connor, à frente do grupo, de repente começa a apontar para a frente com animação.

"Ali!" ele grita.

O'Connor aponta para os restos de uma árvore antiga, agora carbonizada e com os galhos retorcidos. Ao observar mais de perto, Thor vê um corpo imóvel deitado perto da árvore.

Thor imediatamente sente que aquele é Ragon. E ele não vê qualquer sinal de seu filho.

Thor, cheio de angústia, corre para a frente e, ao alcançá-lo, cai de joelhos ao lado do corpo, ainda à procura de Guwayne. Ele havia esperado encontrar Guwayne enrolado no manto de Ragon ou em algum lugar perto dele, talvez escondido atrás de uma rocha.

Mas seu coração se parte ao ver que Guwayne não está em parte alguma.

Thor estica o braço e lentamente vira o corpo de Ragon, seu manto carbonizado, rezando para que ele não esteja morto. Ao virá-lo, Thor sente uma ponta de esperança ao ver as pálpebras dele se movendo. Thor estica os braços e segura os ombros ainda quentes de Ragon, remove seu capuz e fica horrorizado ao ver seu rosto queimado e desfigurado pelas chamas.

Ragon engasga e começa a tossir e Thor pode ver que ele está lutando pela sua própria vida. Thor é invadido pela tristeza ao presenciar aquilo, vendo aquele homem que havia sido tão bondoso com eles naquelas condições por ter defendido a ilha na tentativa de proteger seu filho. Thor não consegue evitar a sensação de culpa que toma conta dele.

"Ragon," diz Thorgrin com a voz embargada. "Perdoe-me."

"Sou eu que devo lhe pedir desculpas," Ragon responde com a voz áspera, quase incapaz de pronunciar as palavras. Ele tosse por um tempo e, então, finalmente continua. "Guwayne…" ele começa a dizer, mas então se silencia.

O coração de Thor bate acelerado dentro de seu peito, sem querer ouvir a notícia e temendo o pior. Como ele conseguirá encarar Gwendolyn outra vez?

"Conte-me tudo," pede Thor, ainda segurando os ombros de Ragon. "Ele está vivo?"

Ragon arqueka por um longo tempo, tentando recuperar o fôlego, e Thor gesticula para O'Connor, que se aproxima e lhe entrega um pouco de água. Thor derrama o líquido sobre os lábios de Ragon, que bebe ao mesmo tempo em que continua tossindo.

Finalmente, Ragon balança a cabeça.

"Pior," ele diz, sua voz apenas um sussurro. "A morte teria sido sua salvação."

Ragon fica em silêncio e Thor sofre por antecipação, desejando que ele continue.

"Eles o levaram embora," Ragon finalmente fala. "Eles o arrancaram dos meus braços. Todos eles vieram aqui em busca de Guwayne."

O coração de Thor se sobressalta ao imaginar seu precioso filho sendo sequestrado por aquelas criaturas horríveis.

"Mas quem?" Thor pergunta "Quem está por trás disso? Quem é mais poderoso do que você e capaz de fazer isso? Eu pensei que o seu poder, assim como o de Argon, fosse superior ao de todas as criaturas desse mundo."

Ragon assente.

"Todas as criaturas desse mundo, sim," ele afirma. "Mas essas criaturas não são desse mundo. Elas também não são criaturas do inferno, mas de um lugar ainda pior: a Terra de Sangue."

"Terra de Sangue?" Pergunta Thor, surpreso. "Já fui ao inferno e voltei," continua Thor. "Que lugar pode ser ainda pior?"

Ragon balança a cabeça.

"A Terra de Sangue é mais do que um lugar. É um estado. É um mal ainda mais obscuro e poderoso do que você pode imaginar. Aquele lugar pertence ao Lorde do Sangue e tem se tornado mais poderoso ao longo das gerações. Há uma guerra entre os Reinos. Uma batalha antiga entre o bem e o mal. Uma disputa entre as parte para conquistar o controle de tudo. Receio que Guwayne seja a chave: quem tiver controle sobre ele é capaz de ganhar e obter o domínio sobre o mundo. Para sempre. Isso é o que Argon nunca lhe contou. O que ele ainda não poderia ter lhe contado. Você ainda não estava pronto. É para isso que ele o estava preparando: para uma guerra pior do que você é capaz de imaginar."

Thor suspira, tentando compreender.

"Eu não entendo," ele fala. "Eles não pegaram Guwayne para matá-lo?"

Ele balança a cabeça.

"É muito pior. Eles o levaram para criá-lo como um deles, para fazer dele o demônio do qual precisam para realizar a profecia e destruir tudo o que o universo tem de bom."

Thor, estupefato, tenta processar tudo aquilo com o coração acelerado.

"Então, eu o buscarei," Thor diz, invadido por uma forte determinação, especialmente ao ouvir Lycoples, desejando vingança tanto quanto ele, voando e guinchando acima deles.

Ragon estica o braço e segura o pulso de Thor com força surpreendente para um homem prestes a morrer. Ele olha dentro dos olhos de Thor com uma intensidade que o assusta.

"Você não pode fazer isso," ele diz com firmeza. "A Terra de Sangue é muito poderosa para que qualquer humano possa sobreviver. O preço para entrar naquele lugar é alto demais. Marque minhas palavras, mesmo com todos os seus poderes você certamente morrerá se for até lá. Todos vocês morrerão. Você ainda não é forte o suficiente. Você precisa de mais treinamento. É preciso nutrir os seus poderes antes. Ir até lá agora será uma insensatez. Você não conseguirá resgatar o seu filho e todos vocês serão destruídos."

Mas o coração de Thor está decidido.

"Eu já encarei a escuridão e as forças mais poderosas do mundo," Thorgrin diz. "Incluindo meu próprio pai. Eu nunca recuei diante do medo. Vou enfrentar esse Lorde do mal, sejam quais forem os seus poderes; entrarei na Terra de Sangue, seja qual for o preço. Estamos falando do meu filho. Vou salvá-lo ou morrerei tentando."

Ragon balança a cabeça, tossindo.

"Você ainda não está pronto," ele diz com a voz fraca. "Não… pronto… Você precisa… de poderes… Você precisa… do… anel," ele fala, começando a tossir sangue.

Thor o encara, desesperado para saber o que ele quer dizer antes que ele morra.

"Que anel?" Thor pergunta "A nossa terra natal?"

Um longo silêncio se segue, pontuado apenas pela respiração laboriosa de Ragon, até que ele finalmente abre um pouco os olhos.

"O… anel sagrado."

Thor segura os ombros de Ragon, torcendo para que ele responda, mas de repente, ele sente o corpo de Ragon enrijecendo em suas mãos. Seus olhos param de se mover, um suspiro profundo se segue e, pouco depois, ele para de respirar e fica perfeitamente imóvel.

Morto.

Thor é invadido por uma onda de agonia.

"NÃO!" Ele joga a cabeça para trás e chora. Thor soluça descontroladamente e abraça Ragon, aquele homem generoso que havia se sacrificado na tentativa de salvar seu filho. Ele é tomado pela sensação de tristeza e culpa ao mesmo tempo em que seu corpo é invadido por uma nova determinação.

Ele olha para o céu e sabe o que precisa fazer.

“LYCOPLES!” Thor grita, o grito angustiado de uma pai desesperado, cheio de fúria e sem mais nada a perder.

Lycoples ouve o seu chamado: ela guincha, voando alto no céu, sua fúria se igualando à de Thor, e começa a voar mais baixo até aterrissar a alguns metros deles.

Sem hesitar, Thor corre até ela, salta sobre suas costas e segura firme em seu pescoço. Ele se sente energizado por estar nas costas de um dragão mais uma vez.

"Espere!" O'Connor grita, correndo até eles junto com os outros. "Onde você está indo?"

Thor olha dentro dos olhos deles.

"Para a Terra de Sangue," ele responde, sentindo-se mais decidido do que nunca antes em toda a sua vida. "Salvarei meu filho. Seja qual for o custo."

"Você será derrotado," diz Reece com preocupação, dando um passo adiante.

"Então serei derrotado com honra," Thor responde.

Thor olha para cima, observando o horizonte, vê a trilha das gárgulas desaparecendo no céu e sabe que é para lá que ele deve ir.

"Então você não irá sozinho," retruca Reece, "Seguiremos a sua trilha pelo mar e nos encontraremos lá."

Thor assente, aperta suas pernas em torno de Lycoples e, de repente, é invadido pela sensação familiar de voar sobre as costas de um dragão.

"Não, Thorgrin," grita uma voz angustiada atrás dele.

Ele sabe que aquela é a voz de Angel e sente uma pontada de dor ao se afastar dela.

Mas ele não pode voltar atrás. Seu filho continua perdido e, mesmo diante da possibilidade da morte, Thor está decidido a encontrá-lo e a matar todas aquelas criaturas.




CAPÍTULO NOVE


Gwendolyn, acompanhada por Krohn, atravessa as grandes portas arqueadas da sala do trono, abertas por vários atendentes, e fica impressionada com a visão diante dela. Ali, sentado sozinho no trono do lado oposto da sala, está o Rei. Ela se aproxima, caminhando pelo corredor de pedras portuguesas sob a luz do sol que invade o lugar através dos vitrais e que ilumina a sala do trono, repleta de imagens de cavaleiros antigos em cenas de batalha. Aquele lugar é sereno e assustador ao mesmo tempo, inspirador e assombrado pelos fantasmas do passado do Rei. Ela pode sentir a forte presença deles no ar, fazendo com que ela se lembre, de muitas formas, da Corte do Rei. De repente, Gwen é invadida por uma profunda tristeza à medida que o lugar a faz sentir ainda mais falta de seu pai.

O Rei MacGil continua sentado em seu trono com uma expressão séria, perdido em pensamentos e Gwen pressente que ele está sendo atormentado pelo peso das responsabilidades de governar o seu reino. O rei lhe parece um homem solitário, prisioneiro daquele lugar, como se o peso do reino estivesse sobre os seus ombros. Ela compreende aquela sensação muito bem.

"Ah, Gwendolyn," ele diz, ficando mais animado ao vê-la.

Ela espera que ele permaneça em seu trono, mas ele imediatamente se levanta e se apressa em descer os degraus de marfim com um sorriso humilde e caloroso nos lábios, sem a pretensão comum aos reis e ansioso para cumprimentá-la. A humildade do rei deixa Gwendolyn aliviada, sobretudo após o encontro dela com seu filho, que a tinha deixado extremamente abalada. Ela se pergunta se deve contar tudo ao rei, mas, pelo menos por enquanto, acaba decidindo permanecer em silêncio e ver o que acontecerá em seguida. Gwen não quer parecer ingrata ou começar aquele encontro de modo negativo.

"Não consigo pensar em outra coisa desde a nossa conversa de ontem," ele fala, aproximando-se para abraçá-la calorosamente, Krohn, ao lado dela, geme e encosta o focinho na mão do Rei, que olha para baixo e sorri. "E quem é esse?" ele pergunta.

"Krohn," ela responde, aliviada que o Rei aparente gostar dele. "Meu leopardo ou, para ser mais exata, o leopardo do meu marido. Embora eu suponha que ele agora seja tão meu quanto dele."

Para seu alívio, o rei se ajoelha, segura a cabeça de Krohn em suas mãos e acaricia a sua pelagem, beijando-o sem demonstrar medo. Krohn retribui o gesto, lambendo o seu rosto.

"Um belo animal," ele diz. "Uma grande mudança, comparado aos cachorros comuns que temos por aqui."

Gwen olha para ele com surpresa ao recordar as palavras de Mardig.

"Então animais como Krohn não têm permissão para viver aqui?" ela pergunta.

O rei joga a cabeça para trás e ri.

"É claro que sim," ele responde. "E por que não teriam? Alguém por acaso lhe disse o contrário?"

Gwen pondera se deve contar ao rei sobre seu encontro e decide permanecer calada; ela não quer se vista como uma fofoqueira e tem interesse em descobrir mais sobre aquele povo e aquela família antes de chegar a qualquer conclusão e se envolver com todo aquele drama familiar. É melhor, ela pensa, ficar em silêncio por enquanto.

"Você queria me ver, meu Rei?" ela pergunta, mudando de assunto.

A expressão no rosto do Rei imediatamente se torna séria.

"Sim," ele responde. "Nossa conversa foi interrompida ontem e ainda há muito a discutir."

Ele se vira e faz um gesto para que ela o siga; ambos caminham juntos e seus passos ecoam pela sala à medida que eles a atravessam em silêncio. Gwen olha para cima e, enquanto eles avançam, admira os tetos abobadados e o brasão, troféus, armas e armaduras pendurados nas paredes. Gwen admira a ordem daquele lugar e o orgulho com o qual aqueles cavaleiros enfrentam suas batalhas. Aquele lugar a faz pensar em tudo que havia existido no Anel.

Eles atravessam a sala e, ao alcançarem o lado oposto e passarem por outro conjunto de portas duplas feitas de madeira espessa, eles chegam até uma sacada enorme, adjacente à sala do trono, com vinte metros de largura e profundidade e cercada por uma balaustrada de mármore.

Ela segue o Rei até a beirada e, apoiando as mãos no mármore macio, e põe-se a observar a paisagem. A cidade do Cume se desdobra diante dela, pontuada pelos telhados angulosos das antigas casas construídas em diferentes formatos, próximas umas das outras. Aquela é certamente uma cidade que havia crescido ao longo dos anos, aconchegante, íntima e marcada pelo tempo. Com seus picos e pináculos, o lugar parece uma cidade de contos de fadas, sobretudo por causa das águas azuis que brilham sob o sol e, atrás delas, os cumes altíssimos da serra, erguendo-se em círculos em torno da cidade como uma grande barreira de proteção.

Protegida do mundo exterior, Gwen não é consegue imaginar qualquer mal capaz de atingir aquela cidade.

O Rei suspira.

"É difícil imaginar que este lugar esteja morrendo," ele fala. Gwen percebe que eles estão pensando na mesma coisa.

“É difícil imaginar,” ele continua, “que eu esteja morrendo.”

Gwen vira na direção do rei e percebe que seus olhos azuis estão cheios de tristeza. Ela sente uma onda de preocupação.

"Qual é o problema, meu senhor?” ela pergunta. "Certamente, seja o que for, há algo que seus curandeiros possam fazer?”

Lentamente, ele balança a cabeça.

"Já me consultei com todos eles," o rei responde. "Os melhores do reino, é claro. Eles não têm uma cura. O câncer está se espalhando pelo meu corpo."

Ele suspira, olhando para o horizonte, e Gwen é invadida por uma onda de tristeza por causa do rei. Por que será, ela se pergunta, que as pessoas do bem são frequentemente afetadas por uma tragédia, enquanto as pessoas do mal, de alguma forma, conseguem prosperar?

"Eu não sinto pena de mim mesmo," continua o Rei. "Aceito o meu próprio destino. O que me preocupa não é o meu bem-estar, mas o meu legado. Meus filhos. O meu reino. É só isso que me importa agora. Não posso planejar o meu próprio futuro, mas posso planejar o deles."

Ele olha para ela.

"E é por isso que a chamei até aqui."

Gwendolyn sente por ele e sabe que fará qualquer coisa para ajudá-lo.

"Por mais que eu esteja disposta," ela responde, "não sei o que posso fazer para ajudá-lo. Você tem o reino inteiro ao seu dispor. O que eu posso lhe oferecer que os outros também não possam?”

Ele suspira.

"Compartilhamos os mesmos ideais," ele fala. "Você quer ver o Império destruído, assim como eu. Você sonha com o futuro de sua família e do seu povo, anseia por um lugar seguro, longe das garras do Império, assim como eu. Temos um lugar assim aqui, na proteção do Cume. Mas esse não é um lugar de verdade. Pessoas livres podem ir para onde bem quiserem e isso não é possível aqui. Não estamos vivendo em liberdade aqui, estamos simplesmente nos escondendo. Há uma diferença importante entre essas duas coisas."

Ele suspira.

"Obviamente, vivemos em um mundo imperfeito e é possível que este seja o melhor que o nosso mundo tem a oferecer. Mas eu acredito que não."

Ele fica em silêncio por um longo tempo e Gwen começa a se perguntar onde ele pretende chegar com tudo aquilo.

"Vivemos nossas vidas com medo, assim como meu pai fez antes de mim," ele finalmente continua, "medo de sermos descobertos, medo que o Império nos encontre aqui no Cume, medo que eles cheguem até aqui e tragam a guerra até nossos lares. E guerreiros não devem viver com medo. Há uma linha tênue entre proteger o seu castelo e ter medo de andar livremente. Um grande guerreiro é capaz de fortificar seus portões e proteger o seu castelo, mas um guerreiro ainda maior pode deixá-los abertos e enfrentar qualquer pessoa que se aproxime."

Ele olha para ela e Gwen percebe a determinação em seu olhos, sentindo a força que emana dele. Naquele momento, ela percebe por que ele é o Rei.

"É melhor morrer enfrentando o inimigo com coragem do que esperar em segurança que ele se aproxime de nossos portões."

Gwen fica atônita.

"Então você pretende," ela diz, "atacar o Império?”

Ele a encara e Gwen ainda não consegue compreender sua expressão e o que está passando pela cabeça dele.

"Sim," ele responde. "Mas essa não é uma decisão muito popular. Da mesma forma que não foi uma decisão popular no tempo dos meus ancestrais, o que explica por que eles nunca agiram. Você vê, a segurança e a abundância costumam acalmar as pessoas, deixando-as relutantes em abrir mão do que possuem. Se eu tivesse começado uma guerra, teria tido o apoio de muitos bravos cavaleiros, mas também teria enfrentado a relutância de muitos cidadãos. E, talvez, até mesmo uma revolução."

Gwen observa os picos do Cume, cobrindo todo o horizonte, com os olhos de uma Rainha, da estrategista profissional que ela havia se tornado.

"Parece praticamente impossível que o Império seja capaz de atacá-los," ela responde, "mesmo que eles consigam de alguma forma encontrá-lo. Como eles conseguirão escalar aquelas paredes? Atravessar o lago?”

Ele coloca as mãos nos quadris e estuda o horizonte ao lado dela.

"Nós certamente teríamos uma vantagem," ele responde. "Poderíamos matar cem soldados do Império para cada um dos nossos homens. O problema é que eles têm milhões em seu exército e nós temos apenas alguns milhares de homens. Eventualmente, eles venceriam."

"Você acredita que eles sacrificariam milhões de pessoas para conquistar um canto pequeno do Império?” ela pergunta, sabendo a resposta antes mesmo de terminar de pronunciar as palavras. Afinal, ela havia testemunhado em primeira mão o que eles tinham feito para atacar o Anel.

"Eles são absolutamente implacáveis quando a questão é a conquista," ele diz. "Eles são capazes de sacrificar qualquer coisa. É assim que eles agem. Eles nunca desistirão. Sei disso com absoluta certeza."

"Mas como eu posso ajudá-lo, meu Rei?" ela pergunta.

Ele suspira, observando a paisagem em silêncio por um longo tempo.

"Eu preciso que você me ajuda a salvar o Cume," ele finalmente responde, olhando para ela com uma expressão de seriedade nos olhos.

"Mas como?” ela pergunta confusa.

"Nossas profecias falam da chegada de um forasteiro," ele fala. "De uma mulher. Uma mulher de outro reino, vinda do outro lado do oceano. As profecias dizem que ela salvará o Cume, liderando o seu povo através do deserto. Eu nunca soube o que isso queria dizer até você chegar. Eu acredito que essa mulher seja você."

Gwen sente um calafrio ao ouvir aquelas palavras; seu coração ainda está sofrendo por causa do exílio do seu povo, da destruição do Anel e da falta de Thor e Guwayne. Ela não consegue suportar a ideia de ser forçada a assumir outro posto de liderança.

"O Cume está morrendo," ele continua enquanto ela permanece ali em silêncio. "A cada dia, a nossa costa, fonte de nossa água, seca um pouco mais. Quando meus filhos estiverem velhos, as águas terão sido substituídas pela seca e a fonte de nossos alimentos terá sido destruída. Devo pensar no futuro, já que meus ancestrais recusaram-se a fazê-lo. Tomar uma atitude agora não é mais uma opção, é uma necessidade."

"Mas o que você planeja fazer?” ela pergunta.

Ele suspira, observando o horizonte.

"Há uma maneira de salvar o Cume," ele fala. "Dizem que ela está escrita nos livros antigos, protegidos pelos Seguidores da Luz."

Ela o encara, incapaz de compreender.

"Seguidores da Luz?” pergunta Gwen.

"Você vê, meu reino também está infectado por um câncer," explica ele. "Por mais perfeito que tudo possa lhe parecer ao caminhar pelas nossas ruas, tudo aqui está longe da perfeição. Uma veia cresce entre o meu povo, que estão sendo guiados pela crença. Uma religião. Um culto. Os Seguidores da Luz. Eles ganham mais seguidores a cada dia e já se espalharam por todos os cantos da minha capital. Isso tudo já afetou o coração da minha própria família. Você é capaz de imaginar isso? Até mesmo a família real?”

Ela tenta processar tudo aquilo, mas não consegue acompanhar a história do rei.

“Eldof. Esse é o nome do líder, um humano como nós, que acredita ser um Deus. Ele prega a sua falsa religião para todos os seus falsos profetas e eles fazem tudo o que ele ordena. Temo que ele tenha mais pessoas dispostas a seguir os seus comandos do que eu."

Ele a encara com uma expressão de preocupação em seu rosto marcado pelo tempo.

"Estou em uma posição delicada aqui," ele completa. "Todos nós estamos. E não apenas por causa do que nos espera além do Cume."

Muitas perguntas invadem a mente de Gwen, mas ela não quer parecer curiosa; em vez disso, ela lhe dá tempo para pensar em tudo aquilo e lhe dizer o que deseja dela.





Конец ознакомительного фрагмента. Получить полную версию книги.


Текст предоставлен ООО «ЛитРес».

Прочитайте эту книгу целиком, купив полную легальную версию (https://www.litres.ru/pages/biblio_book/?art=43696543) на ЛитРес.

Безопасно оплатить книгу можно банковской картой Visa, MasterCard, Maestro, со счета мобильного телефона, с платежного терминала, в салоне МТС или Связной, через PayPal, WebMoney, Яндекс.Деньги, QIWI Кошелек, бонусными картами или другим удобным Вам способом.



O ANEL DO FEITICEIRO tem todos os ingredientes para um sucesso instantâneo: intrigas, conspirações, mistério, cavaleiros e relacionamentos repletos de corações partidos, traições e desilusões. Ele vai deixar você entretido por horas,e vai satisfazer públicos de todas as idades. Recomendado para a biblioteca permanente de todos os leitores do gênero de fantasia. – Books and Movie Reviews, Roberto Mattos (em relação a Em Busca de Heróis) [Uma] fantasia épica envolvente. – Kirkus Reviews (em relação a Em Busca de Heróis) O começo de algo extraordinário. – San Francisco Book Review (em relação a Em Busca de Heróis) Em UMA JUSTA DE CAVALEIROS, Thorgrin e seus irmãos seguem o rastro de Guwayne no mar, procurando por ele na Ilha da Luz. Mas ao chegarem até a ilha destruída e encontrarem Ragon prestes a morrer, pode ser que seja tarde demais. Darius é levado até a Capital do Império e para a maior arena de todas. Ele é treinado por um homem misterioso que está determinado a transformá-lo em um guerreiro e a ajudá-lo a sobreviver ao impossível. Mas a arena da capital é diferente de tudo que Darius já tinha visto e seus inimigos podem ser intensos demais até mesmo para alguém como ele. Gwendolyn se envolve com a dinâmica familiar na corte do Cume quando o rei e a rainha lhe pedem o um favor. Em uma busca para revelar os segredos que podem mudar o futuro do Cume e salvar Thorgrin e Guwayne, Gwen fica chocada com suas descobertas ao investigar as coisas mais a fundo. A relação de Erec e Alistair se intensifica à medida que eles navegam rio acima, rumo ao coração do Império, determinados a encontrar Volúsia e salvar Gwendolyn enquanto Godfrey e sua turma criam confusões em Volúsia, determinados a buscar vingança. Volúsia aprende o real significado de governar o Império ao ver sua capital cercada por todos os lados. Com uma ambientação e construção de personagens sofisticada, UMA JUSTA DE CAVALEIROS é um conto épico de amizades e amantes, rivais e pretendentes, cavaleiros e dragões, intrigas e maquinações políticas, do processo de tornar-se adulto, de corações partidos, de enganos, ambições e traições. É um conto de honra e coragem, de destino e magia. É uma fantasia que nos leva até um mundo que jamais esqueceremos, e que atrai leitores de todas as idades e gêneros. Uma fantasia espirituosa.. Apenas o começo do que promete ser uma série épica para jovens adultos. – Midwest Book Review (em relação a Em Busca de Heróis) De leitura fácil e rápida.. Você precisa ler o que acontece na sequência e não será capaz de largar o livro. – FantasyOnline. net (em relação a Em Busca de Heróis) Recheado de ação.. A escrita de Rice é solida e a premissa é intrigante. – Publishers Weekly (em relação a Em Busca de Heróis)

Как скачать книгу - "Uma Justa de Cavaleiros" в fb2, ePub, txt и других форматах?

  1. Нажмите на кнопку "полная версия" справа от обложки книги на версии сайта для ПК или под обложкой на мобюильной версии сайта
    Полная версия книги
  2. Купите книгу на литресе по кнопке со скриншота
    Пример кнопки для покупки книги
    Если книга "Uma Justa de Cavaleiros" доступна в бесплатно то будет вот такая кнопка
    Пример кнопки, если книга бесплатная
  3. Выполните вход в личный кабинет на сайте ЛитРес с вашим логином и паролем.
  4. В правом верхнем углу сайта нажмите «Мои книги» и перейдите в подраздел «Мои».
  5. Нажмите на обложку книги -"Uma Justa de Cavaleiros", чтобы скачать книгу для телефона или на ПК.
    Аудиокнига - «Uma Justa de Cavaleiros»
  6. В разделе «Скачать в виде файла» нажмите на нужный вам формат файла:

    Для чтения на телефоне подойдут следующие форматы (при клике на формат вы можете сразу скачать бесплатно фрагмент книги "Uma Justa de Cavaleiros" для ознакомления):

    • FB2 - Для телефонов, планшетов на Android, электронных книг (кроме Kindle) и других программ
    • EPUB - подходит для устройств на ios (iPhone, iPad, Mac) и большинства приложений для чтения

    Для чтения на компьютере подходят форматы:

    • TXT - можно открыть на любом компьютере в текстовом редакторе
    • RTF - также можно открыть на любом ПК
    • A4 PDF - открывается в программе Adobe Reader

    Другие форматы:

    • MOBI - подходит для электронных книг Kindle и Android-приложений
    • IOS.EPUB - идеально подойдет для iPhone и iPad
    • A6 PDF - оптимизирован и подойдет для смартфонов
    • FB3 - более развитый формат FB2

  7. Сохраните файл на свой компьютер или телефоне.

Видео по теме - Torneio no Reino Unido apresenta  cavaleiros medievais

Книги серии

Книги автора

Аудиокниги серии

Аудиокниги автора

Рекомендуем

Последние отзывы
Оставьте отзыв к любой книге и его увидят десятки тысяч людей!
  • константин александрович обрезанов:
    3★
    21.08.2023
  • константин александрович обрезанов:
    3.1★
    11.08.2023
  • Добавить комментарий

    Ваш e-mail не будет опубликован. Обязательные поля помечены *