Книга - Beco Sem Saída

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Beco Sem Saída
Blake Pierce


“Uma obra-prima de suspense e mistério. Pierce fez um trabalho magnífico criando personagens com lados psicológicos tão bem descritos que nos fazem sentir dentro de suas mentes, acompanhando seus medos e celebrando seu sucesso. Cheio de reviravoltas, este livro vai lhe manter acordado até que você chegue à última página.”--Books and Movie Reviews, Roberto Mattos (sobre SEM PISTAS)BECO SEM SAÍDA (Um mistério psicológico de Chloe Fine) é o livro 3 da nova série de suspense psicológico do autor de best-sellers Blake Pierce, cujo sucesso número 1 SEM PISTAS (baixe grátis) recebeu mais de 1.000 avaliações de cinco estrelas.A agente especial do FBI Chloe Fine, 27 anos, precisa se aprofundar em um mundo suburbano de panelinhas, fofocas e mentiras, buscando resolver o assassinato de uma mãe e esposa aparentemente perfeita, justamente na noite do encontro de 20 anos de sua turma do ensino médio.Velhos amigos da escola, agora quase com 40 anos, voltaram à mesma pequena cidade para criar seus filhos, criando as mesmas panelinhas que os dividiam vinte anos antes. A reunião de 20 anos da formatura traz de volta antigas memórias, ressentimentos, traições e segredos, trazendo todas as dores de volta, uma geração depois. Na mesma noite, a ex-rainha da turma é encontrada assassinada em sua casa.Nessa cidade bem cuidada e aparentemente perfeita, o passado caça o presente—e todos se tornam suspeitos.Poderá Chloe Fine solucionar o caso—enquanto luta contra os demônios de seu próprio passado e com a possibilidade real de ver seu próprio pai sair da cadeia?Um suspense psicológico repleto de emoção com personagens robustos, em um ambiente de cidade pequena e que acelera o coração. BECO SEM SAÍDA é o livro 3 de uma nova série fascinante, que o fará ler páginas e páginas noite adentro.O livro 4 da série CHLOE FINE estará disponível em breve.







b e c o s e m s a í d a



(um mistério psicológico de Chloe Fine—livro 3)



b l a k e p i e r c e


Blake Pierce



Blake Pierce é autor do best-seller RILEY PAGE, série de mistérios, que conta com quinze livros (e continua crescendo). Blake Pierce também é autor da série de mistérios MACKENZIE WHITE, de treze livros (que também continua crescendo); da série de mistérios AVERY BLACK, de seis livros, da série de mistérios KERI LOCKE, de cinco livros, da série de mistérios O INÍCIO DE RILEY PAIGE, de quatro livros (que continua crescendo); da série de mistérios KATE WISE, de cinco livros (que também segue crescendo); da série de suspense psicológico CHLOE FINE, de cinco livros (que segue crescendo); e da série de suspenses psicológicos JESSIE HUNT, de cinco livros, que continua crescendo.

SEM PISTAS, primeiro livro da série Riley Page, ANTES QUE ELE MATE, primeiro livro da série Mackenzie White, RAZÃO PARA MATAR, primeiro livro da série Avery Black, RASTRO DE MORTE, primeiro livro da série KERI LOCKE, e ALVOS A ABATER, primeiro livro da série O Início de Riley Paige, estão todos disponíveis para download gratuito na Google Play!

Um leitor ávido e fã de longa data dos gêneros de mistério e suspense, Blake ama ouvir opiniões. Então, por favor, sinta-se à vontade para visitar www.blakepierceauthor.com (http://www.blakepierceauthor.com) para saber mais e manter-se em contato.

Copyright © 2018 por Blake Pierce. Todos os direitos reservados. Exceto conforme permitido na Lei de Direitos Autorais dos Estados Unidos (US. Copyright Act of 1976), nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida de nenhuma forma e por motivo algum, ou colocada em um sistema de dados ou sistema de recuperação sem permissão prévia do autor. Este e-book está licenciado apenas para seu aproveitamento pessoal. Este e-book não pode ser revendido ou dado a outras pessoas. Se você gostaria de compartilhar este e-book com outra pessoa, por favor compre uma cópia adicional para cada beneficiário. Se você está lendo este e-book e não o comprou, ou ele não foi comprado apenas para uso pessoal, então por favor devolva-o e compre seu próprio exemplar. Obrigado por respeitar o trabalho árduo do autor. Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, empresas, organizações, lugares, eventos e acontecimentos são obras da imaginação do autor ou serão usadas apenas na ficção. Qualquer semelhança com pessoas de verdade, em vida ou falecidas, é totalmente coincidência. Imagem de capa: Copyright robsonphoto, usada sob licença de Shutterstock.com.


LIVROS DE BLAKE PIERCE



SÉRIE UM THRILLER PSICOLÓGICO DE JESSIE HUNT

A ESPOSA PERFEITA (Livro #1)

O PRÉDIO PERFEITO (Livro #2)

A CASA PERFEITA (Livro #3)



SÉRIE UM MISTÉRIO PSICOLÓGICO DE CHLOE FINE

A PRÓXIMA PORTA (Livro #1)

A MENTIRA MORA AO LADO (Livro #2)

BECO SEM SAÍDA (Livro #3)

VIZINHO SILENCIOSO (Livro #4)

VOLTANDO PRA CASA (Livro #5)



SÉRIE UM MISTÉRIO DE KATE WISE

SE ELA SOUBESSE (Livro #1)

SE ELA VISSE (Livro #2)

SE ELA CORRESSE (Livro #3)



SÉRIE OS PRIMÓRDIOS DE RILEY PAIGE

ALVOS A ABATER (Livro #1)

À ESPERA (Livro #2)

A CORDA DO DIABO (Livro #3)

AMEAÇA NA ESTRADA (Livro #4)



SÉRIE UM MISTÉRIO DE RILEY PAIGE

SEM PISTAS (Livro #1)

ACORRENTADAS (Livro #2)

ARREBATADAS (Livro #3)

ATRAÍDAS (Livro #4)

PERSEGUIDA (Livro #5)

A CARÍCIA DA MORTE (Livro #6)

COBIÇADAS (Livro #7)

ESQUECIDAS (Livro #8)

ABATIDOS (Livro #9)

PERDIDAS (Livro #10)

ENTERRADOS (Livro #11)

DESPEDAÇADAS (Livro #12)

SEM SAÍDA (Livro #13)

ADORMECIDO (Livro #14)



SÉRIE UM ENIGMA DE MACKENZIE WHITE

ANTES QUE ELE MATE (Livro #1)

ANTES QUE ELE VEJA (Livro #2)

ANTES QUE ELE COBICE (Livro #3)

ANTES QUE ELE LEVE (Livro #4)

ANTES QUE ELE PRECISE (Livro #5)

ANTES QUE ELE SINTA (Livro #6)

ANTES QUE ELE PEQUE (Livro #7)

ANTES QUE ELE CACE (Livro #8)



SÉRIE UM MISTÉRIO DE AVERY BLACK

RAZÃO PARA MATAR (Livro #1)

RAZÃO PARA CORRER (Livro #2)

RAZÃO PARA SE ESCONDER (Livro #3)

RAZÃO PARA TEMER (Livro #4)

RAZÃO PARA SALVAR (Livro #5)

RAZÃO PARA SE APAVORAR (Livro #6)



SÉRIE UM MISTÉRIO DE KERI LOCKE

RASTRO DE MORTE (Livro #1)

RASTRO DE UM ASSASSINO (Livro #2)

UM RASTRO DE IMORALIDADE (Livro #3)

UM RASTRO DE CRIMINALIDADE (Livro #4)

UM RASTRO DE ESPERANÇA (Livro #5)


ÍNDICE



PRÓLOGO (#uc8d6d313-fe6f-589f-9f45-90e7f061716b)

CAPÍTULO UM (#u0de7b581-cb23-5e04-a654-a97f87479c8f)

CAPÍTULO DOIS (#ud9f016a4-83b5-55ca-94f7-ade9959edf47)

CAPÍTULO TRÊS (#ue0e9dd5b-ec72-5007-93f3-4920130740de)

CAPÍTULO QUATRO (#ubf02c768-913d-5bc6-9128-d1e60abf0cb4)

CAPÍTULO CINCO (#u9a366340-38bb-54eb-9087-ab5fcdb570dc)

CAPÍTULO SEIS (#u06e1b446-147f-59e1-a4dc-8c7988a64890)

CAPÍTULO SETE (#ucbe04fce-3486-5c67-81c6-9a9058d45940)

CAPÍTULO OITO (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO NOVE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO DEZ (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO ONZE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO DOZE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO TREZE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO QUATORZE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO QUINZE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO DEZESSEIS (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO DEZESSETE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO DEZOITO (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO DEZENOVE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E UM (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E DOIS (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E TRÊS (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E QUATRO (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E CINCO (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E SEUS (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E SETE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E OITO (#litres_trial_promo)




PRÓLOGO


Jerry Hilyard estacionou sua Mercedes Benz na garagem logo após a uma hora da tarde no domingo e deu um largo sorriso. Não havia nada melhor do que ter seu próprio negócio e ser rico o suficiente para encerrar o expediente quando bem entendesse.

Jerry estava ansioso para ver o olhar surpreso de sua esposa quando ele contasse a ela que a levaria para um almoço surpresa. Ele queria ter levado sua mulher para um café da manhã, mas sabia que Lauren ainda estaria de ressaca pela noite anterior. Ela havia ficado fora de casa até tarde, por motivos que ele ainda não entendia, na reunião de vinte anos de formatura de sua turma de ensino médio. Até a hora do almoço, ela já estaria melhor—talvez até pronta para tomar um ou dois drinks com ele.

Jerry sorriu ao pensar na boa notícia que daria à esposa: estava planejando férias de duas semanas na Grécia. Apenas os dois, sem os filhos. Eles iriam no mês seguinte.

Caminhou até a porta, com sua maleta na mão, animado pela tarde que teria pela frente. Encontrou a porta trancada, algo que não era incomum. Sua esposa nunca fora das mais corajosas, mesmo morando em um bom bairro como aquele.

Ao abrir a porta, entrar na cozinha e servir a si mesmo uma taça de vinho, ele percebeu que não estava ouvindo o barulho da televisão vindo do quarto. A casa estava em silêncio, exatamente como quando ele saíra. Talvez sua esposa ainda estivesse de ressaca.

Imaginou como teria sido o encontro da noite anterior. Lauren não tinha falado sobre isso de manhã. Jerry fizera parte da mesma turma, mas odiava aquele tipo de coisa sentimental e sem noção como encontros de ensino médio. Aquilo era, para ele, somente uma desculpa para que os colegas se juntassem dez ou vinte anos depois para ver quem estava se dando melhor do que os outros. Mas as amigas de Lauren haviam a convencido de ir, e ela estivera muito animada para ver algumas de suas antigas colegas. Pelo menos parecia. A quantidade de álcool ingerida por ela na noite anterior poderia ser um indicativo de que a noite não tinha sido tão fácil.

Era isso o que Jerry estava pensando ao subir as escadas em direção ao quarto. Mas, perto da porta, ele parou.

Tudo estava muito quieto.

Claro, o silêncio seria normal se Lauren estivesse de fato dormindo e não estivesse assistindo uma de suas séries bobas na Netflix. Mas aquele era um silêncio diferente... uma falta total de movimento que não parecia normal. Era um silêncio que ele podia ouvir—um silêncio que ele podia literalmente sentir.

Tem algo errado, pensou.

Era um pensamento assustador, mas ainda assim, Jerry seguiu rapidamente em direção à porta. Ele precisava saber, precisava ter certeza...

Certeza do quê?

De cara, tudo o que ele viu foi o vermelho. Nos lençóis, nas paredes, um vermelho escuro e grosso, quase preto em algumas partes.

Um grito surgiu instantaneamente, vindo do pulmão e saindo por sua boca. Ele não sabia se deveria correr até ela ou descer as escadas para pegar o telefone.

Por fim, não fez nenhuma das duas coisas. Suas pernas amoleceram e, gritando, ele caiu no chão, onde deu socos fortes para tentar entender a cena terrível em sua frente.




CAPÍTULO UM


Chloe focou e forçou sua visão para mirar a arma e atirou.

O recuo foi fraco, e a luz da explosão algo quase pacífico. Ela respirou fundo e atirou novamente. Era fácil, algo natural para ela agora.

Ela não podia ver o alvo no outro lado, mas sabia que tinha dado dois bons tiros. Estava tendo boas sensações daquele tipo ultimamente. Essa era uma das razões pelas quais ela sabia que estava melhorando como agente. Estava mais confortável com a arma, e sabia exatamente o que fazer na hora de apertar o gatilho. No passado, ia ao centro de tiros apenas para estudar, para melhorar. Mas agora, ela gostava de estar ali. Havia liberdade naquilo, um alívio estranho que sentia ao atirar, mesmo em um alvo de papel.

Só Deus sabia o quanto ela andava precisando daquilo.

As duas últimas semanas vinham sendo muito paradas no trabalho, deixando Chloe sem muito o que fazer além de ajudar outros agentes com pesquisas e busca de dados. Ela quase fora chamada para ajudar uma equipe com um caso pequeno de pirataria e havia se animado muito com aquilo, o que a fez perceber o quanto as coisas andavam devagar ultimamente.

Por isso Chloe havia ido ao centro de tiros. Não era necessariamente a maneira ideal de passar o tempo, mas ela sabia que precisava praticar. Mesmo tendo estado entre os melhores de sua turma durante o período na academia, ter saído da equipe de Evidências para o Programa de Crimes Violentos a fizera perceber que ela nunca estivera entre as melhores quando se tratava de atirar.

Ao atirar várias vezes em um alvo a quase cem metros, Chloe entendeu porque aquilo atraía as pessoas. Você ficava absolutamente sozinho, apenas com sua arma e um alvo ao longe. Havia algo de “zen” naquilo, no foco e na intenção por trás dele. E então vinha o barulho do tiro no espaço aberto. A única coisa que Chloe sempre levava de suas idas ao centro de tiros era como a relação entre um corpo humano e uma arma de fogo podia ser fluida. Quando mirada, sua Glock parecia ser uma extensão de seu braço, algo que ela podia controlar com a mente, assim como controlava seus dedos ou braços. Aquele era um alerta de como a arma deveria ser utilizada apenas quando absolutamente necessário, porque quando você é treinado para usá-la, pode se tornar natural demais apertar o gatilho.

Quando terminou a sessão, Chloe recolheu seus alvos e analisou os resultados. Ela havia acertado um número surpreendente de tiros no centro do alvo, mas alguns haviam desviado, acertando a beirada do papel.

Tirou algumas fotos dos alvos com o telefone e fez algumas anotações, para que pudesse melhorar na próxima vez. Então, jogou os papeis fora e saiu. No caminho, teve outra sensação que imaginou ser comum a quem passava bons momentos no centro de tiros. A sensação de ter sentido vários recuos no punho era algo peculiar e, ao mesmo tempo, prazeroso de uma maneira que ela não conseguia descrever.

Ao chegar ao hall, viu um rosto familiar na porta. Era Kyle Moulton, o homem que fora colocado como seu parceiro, mas que ela não havia visto muito nas últimas semanas por conta da falta de trabalho. Chloe teve um momento de “pânico juvenil” quando Moulton sorriu para ela.

- Agente Fine – ele disse, em um tom quase sarcástico. Eles se conheciam bem o suficiente para ignorar o Agente e utilizar só os primeiros nomes. Na verdade, Chloe estava certa de que havia alguma tensão romântica rolando entre eles. Ela tinha sentido aquilo desde o começo, desde a primeira vez que o vira até quando eles tinham resolvido seu primeiro caso juntos, três meses antes.

- Agente Moulton – ela respondeu.

- Descarregando as energias ou só passando tempo? – Moulton perguntou.

- Um pouco dos dois – ela disse. – Só estou me sentindo meio inquieta ultimamente, sabe?

- Sei. Ficar atrás de uma mesa também não dá certo para mim. Mas... bem, eu não sabia que você frequentava o centro de tiros.

- Só estou tentando manter a forma.

- Entendi – ele disse, sorrindo.

O silêncio que se fez entre eles era algo típico, ao qual Chloe já estava se acostumando. Ela odiava sentir-se tão convencida, mas estava certa de que ele estava sentindo o mesmo que ela. Era algo evidente nos olhares que eles trocavam e no jeito que Moulton evitava olhá-la nos olhos por mais de três segundos—como agora, naquele momento, enquanto estavam parados perto da porta.

- Olha só – Moulton disse. – Pode parecer estúpido ou até ousado, mas estava pensando se você não gostaria de jantar comigo hoje. Tipo, não como parceiros de trabalho.

Chloe não conseguiu esconder o sorriso em seu rosto. Ela queria dizer algo sarcástico em resposta. Talvez um clichê como “já era hora”, ou algo do tipo.

No entanto, acabou respondendo algo muito mais seguro e sincero.

- Sim, acho que eu iria gostar.

- Sendo sincero, eu queria chamar você para sair há algum tempo, mas... bem, nunca tínhamos tempo. Mas essas últimas semanas foram bem paradas.

- Fico feliz por você finalmente ter me chamado.

O silêncio pairou entre eles novamente e, dessa vez, ele conseguiu olhar nos olhos dela. Por um momento, Chloe teve certeza de que ele iria beijá-la. Mas o momento passou e ele apontou com a cabeça em direção à porta.

- É melhor eu ir – Moulton disse. – Me ligue mais tarde para me dizer onde você gostaria de comer.

- Vou ligar.

Chloe ficou parada ali por um momento, olhando a sua volta. Assim como todo início de relacionamento, aquilo fora estranho. A sensação era a mesma de uma pré-adolescente quando descobria que um garoto bonito estava olhando para ela. Chloe sentiu-se totalmente ingênua e juvenil, e então saiu o mais rápido possível.

Já eram quase cinco da tarde e, sem nada programado, Chloe simplesmente decidiu ir para casa. Não faria sentido voltar para seu pequeno cubículo apenas para ver os últimos quinze minutos passarem. Pensando em tempo, ela se deu conta de que não teria muito tempo para se arrumar para o jantar com Moulton. Não tinha ideia de que horas ele gostaria de sair, mas imaginou que seria por volta das sete—o que lhe daria apenas um pouco mais de duas horas para decidir onde comer e o que vestir.

Chloe apressou-se pelo estacionamento e entrou em seu carro. Ali, novamente sentiu-se como uma garotinha. E se eles acabassem indo para o carro dela? Era ruim pensar que ela não o limpava desde que terminara com Steven. E ao pensar em Steven, percebeu que ele era o motivo de ter se sentido tão estranha ao flertar novamente. Ela havia tido apenas um relacionamento sério antes de Steven, e depois os dois tinham namorado por quatro anos antes do noivado. Chloe não era muito acostumada a paquerar, e para ela aquilo parecia um pouco antiquado e, na verdade, um pouco assustador.

Fez o possível para manter-se calma no caminho de quinze minutos até seu apartamento. Não tinha ideia do histórico de relacionamentos de Kyle Moulton. Ele poderia ter uma história parecida com a dela. Claro, a julgar por sua aparência, ela duvidava que fosse o caso. Na verdade, baseando-se na aparência, ela não tinha ideia do porque ele estava interessado nela.

Talvez ele goste de garotas com passados ruins e tendência a se jogar de cara no trabalho, pensou. Os caras acham isso sexy hoje em dia, né?

Ao chegar a sua rua, Chloe conseguiu acalmar-se um pouco. A ansiedade estava, aos poucos, se tornando animação. Já faziam sete meses que ela havia terminado com Steven. Já eram sete meses sem beijar um homem, sem fazer sexo, sem...

Não vamos nos apressar, disse a si mesma ao estacionar o carro no fim da rua.

Chloe saiu do carro, tentando pensar no que tinha em seu guarda-roupas que fosse bacana, mas não tanto. Ela tinha poucas ideias do que usar, e poucas ideias de lugares onde eles poderiam ir. Fazia tempo que não comia pratos japoneses, e talvez sushi fosse o ideal para aquela—

Ao chegar à entrada de seu prédio, viu um homem parado no último degrau. Ele parecia bastante entediado, com a cabeça encostada em uma das mãos enquanto mexia no celular com a outra.

Chloe caminhou um pouco mais devagar e então parou completamente. Ela conhecia aquele homem. Mas não era possível que ele estivesse ali, sentado na entrada do prédio dela.

Não pode ser...

Deu mais um passo à frente. O homem finalmente lhe viu. Eles se olharam e, então, o coração de Chloe disparou.

O homem parado ali era Aiden Fine—seu pai.




CAPÍTULO DOIS


- Ei, Chloe.

Ele estava tentando parecer normal. Estava tentando fazer daquele momento algo totalmente normal, como se não houvesse nada estranho no fato dele estar ali, parado em frente ao prédio. Ignorando o fato de que ele estivera preso por quase vinte e três anos, condenado por fazer parte do assassinato da mãe de Chloe. Claro, as descobertas recentes que ela mesmo havia encontrado mostravam que ele era basicamente inocente daquelas acusações, mas para Chloe, aquele homem seria sempre culpado.

Porém, ao mesmo tempo, ela sentiu uma pequena vontade de ir até ele. Talvez até abraçá-lo. Não havia como negar que vê-lo ali, em liberdade, fez com que ela sentisse uma tempestade de emoções.

Mas Chloe não ousou dar um passo à frente. Ela não confiava nele e, pior do que isso, não confiava totalmente em si mesma.

- O que você está fazendo aqui? – ela perguntou.

- Só quis passar para te visitar – Aiden respondeu, levantando-se.

Um milhão de perguntas passaram por sua cabeça. A principal delas era como ele tinha descoberto onde ela morava. Mas Chloe sabia que qualquer pessoa determinada e com conexão à internet poderia descobrir. Então, tentou ser educada, sem parecer convidativa.

- Há quanto tempo você saiu? – ela perguntou.

- Uma semana e meia. Tive que preparar meus nervos para vir te ver.

Chloe lembrou-se da ligação que havia feito para o Diretor Johnson, quando descobrira a última evidência, dois meses antes—evidência que aparentemente tinha sido mais do que suficiente para livrar seu pai. E agora ele estava ali. Por causa do esforço dela. Chloe perguntou-se se ele sabia o que ela tinha feito por ele.

- É exatamente por isso que eu esperei – ele disse. – Esse... esse silêncio entre nós. É estranho, injusto e...

- Injusto? Pai, você ficou preso na maior parte da minha vida... por um crime que agora eu sei que você não era culpado, mas que você não se importou de assumir. Sim, vai ser estranho. E pelo motivo da sua prisão e pela nossa última conversa, espero que você entenda se eu não for até você dançando e jogando pétalas de rosa.

- Eu entendo perfeitamente. Mas... nós perdemos muita coisa. Você pode não sentir isso ainda, sendo tão jovem. Mas esses anos que eu perdi na prisão, sabendo tudo o que sacrifiquei... momentos com você e Danielle... minha própria vida...

- Você sacrificou isso tudo por Ruthanne Carwile – Chloe disse. – Foi escolha sua.

- Foi. E esse é um arrependimento com o qual eu tive que viver pelos últimos vinte e três anos.

- Então, o que você quer? – Chloe perguntou.

Chloe caminhou e passou por Aiden, em direção à porta. Precisou de mais força de vontade do que imaginou para passar tão perto dele.

- Eu esperava que pudéssemos jantar.

- Simples assim?

- Temos que começar de algum jeito, Chloe.

- Não, na verdade não. – ela abriu a porta e virou-se, olhando nos olhos dele pela primeira vez. Seu estômago estava cheio de nós e ela fez o possível para não chorar na frente dele. – Preciso que você vá embora. E, por favor, não volte.

Aiden parecia realmente triste, mas seus olhos não desviaram dos dela.

- Você quer isso mesmo?

Chloe queria dizer sim, mas o que saiu da sua boca foi:

- Não sei.

- Me diga se você mudar de ideia. Estou morando em—

- Não quero saber – ela interrompeu. – Se eu quiser falar com você, vou te encontrar.

Aiden sorriu discretamente, mas havia dor em sua expressão.

- Ah, tudo bem. Você trabalha no FBI agora.

E o que aconteceu com você e minha mãe foi o que me levou por esse caminho, ela pensou.

- Tchau, pai – Chloe disse, e entrou pela porta.

Lá dentro, com a porta já fechada, ela não se importou em olhar para trás. Seguiu para o elevador o mais rápido possível sem parecer que estava com pressa. Quando as portas do elevador se fecharam e ele começou a subir, Chloe colocou as mãos no rosto e começou a chorar.



***



Chloe entrou em seu closet, pensamento seriamente em ligar para Moulton e dizer a ele que não poderia sair para jantar. Ela não contaria a ele os reais motivos—que seu pai tinha saído da prisão depois de passar vinte e três anos lá e que de repente havia aparecido em sua casa. Ele não entenderia muito bem, certo?

Mas ela decidiu que não deixaria seu pai estragar sua vida. A sombra dele já havia lhe perseguido demais. E mesmo algo pequeno como cancelar um encontro por conta da visita seria dar muita importância a ele.

Chloe ligou para Moulton e, ao ouvir a caixa de mensagens, sugeriu um lugar para a janta. Depois, tomou um banho rápido e se arrumou. Ao colocar suas calças, o telefone tocou. Ela viu o nome de Moulton na tela e sua mente logo pensou nos piores cenários.

Ele mudou de ideia. Está ligando para cancelar.

Acreditou nessa possibilidade até o momento em que atendeu.

- Alô?

- Então, japonês é uma boa – Moulton disse. – Mas eu não faço isso sempre, e faltaram alguns detalhes que eu não sei resolver sozinho. Não sei se te busco, se nos encontramos lá ou...

- Me busque, se você puder – ela disse, novamente pensando em seu carro sujo. – Tem um restaurante bem bom perto daqui.

- Tudo bem – ele disse. – Até logo então.

...Eu não faço isso sempre. Mesmo com ele admitindo, Chloe ainda achou difícil acreditar.

Ela terminou de se arrumar, mexeu um pouco no cabelo e esperou pela batida na porta.

Talvez vai ser seu pai de novo, disse a si mesma. Ainda que, sendo honesta consigo mesma, ela sabia que não era sua própria voz quem estava falando. Era a voz de Danielle, condescendente e confiante.

Será que ela sabe que ele está livre? Chloe pensou. Meu Deus, ela vai ficar muito furiosa.

Mas ela não tinha tempo para pensar naquilo agora. Logo depois, escutou uma batida na porta. Por um momento paralisante, teve certeza de que seria seu pai. O pensamento a fez congelar por um segundo, sem querer atender. Mas então, lembrou-se do quão desconfortável – assim como ela – Moulton estivera no centro de tiros, e deu-se conta do quanto queria vê-lo—especialmente depois de tudo o que acontecera nas últimas horas.

Ela atendeu a porta, com seu melhor sorriso. Moulton também sorria. Talvez fosse porque eles quase nunca se viam fora do trabalho, mas Chloe achou o sorriso dele muito sensual. Também ajudou o fato de que a roupa escolhida por ele—uma camisa de botão e uma bela calça jeans—o deixava incrivelmente bonito.

- Pronta? – Moulton disse.

- Claro – ela respondeu.

Chloe fechou a porta e eles seguiram pelo corredor. Mais uma vez, houve um silêncio perfeito entre eles, aquele mesmo que fazia ela querer ir adiante. Mesmo que fosse algo simples e inocente como ele segurando na mão dela... Chloe precisava de algo.

E foi justamente aquela necessidade por um simples contato humano que mostrou a Chloe o quanto ela estava mexida com a aparição de seu pai.

Só vai piorar agora que ele saiu da cadeia, ela pensou quando os dois pegaram o elevador.

Mas ela não deixaria seu pai arruinar seu encontro.

Eliminou todos os pensamentos sobre ele de sua mente quando ela e Moulton sentiram o ar quente da noite. E, para sua surpresa, a tentativa deu certo.

Por um tempo.




CAPÍTULO TRÊS


O restaurante japonês que Chloe escolhera era do estilo hibachi, com grandes fogões abertos, que permitiam que as pessoas sentassem em volta e assistissem aos cozinheiros fazendo sua arte. Chloe e Moulton escolheram uma mesa em uma área mais quieta e privada do restaurante. Quando eles se sentaram, ela ficou feliz ao perceber que estava se sentindo bem ao lado dele. Além da atração física, ela tinha gostado de Moulton desde o primeiro momento em que o conhecera. Ele fora uma luz em sua vida no dia que ela fora trocada da Equipe de Evidências para o Programa de Crimes Violentos. E agora ele estava ali, ainda tornando melhores momentos difíceis de sua vida.

Chloe não queria estragar a noite com aquele tipo de conversa, mas sabia que se não tirasse aquilo do peito, seria uma distração desnecessária.

- Então – Moulton disse, abrindo seu cardápio. – Não foi estranho eu ter te chamado para sair?

- Depende para quem você perguntar – ela respondeu. – O Diretor Johnson pode achar que essa não é a melhor ideia. Mas, sendo sincera – ela disse, - eu estava esperando você me convidar.

- Ah, então você é tradicionalista? Você não me chamaria? Teria que esperar eu te chamar?

- Não é ser tradicionalista, é só estar assustada com as relações passadas. À propósito, acho que é melhor eu te contar. Até uns sete meses atrás, eu estava noiva.

O susto na expressão de Moulton foi apenas momentâneo. Felizmente, Chloe não encontrou medo ou estranheza nele. Antes que ele pudesse responder, a garçonete apareceu para anotar os pedidos de bebidas. Os dois pediram Sapporo rapidamente, para não deixar a conversa esfriar.

- Posso perguntar por que não deu certo? – Moulton perguntou.

- É uma longa história. A versão resumida é que o cara era mimado e não conseguia se separar da sombra da família dele—da mãe dele, principalmente. E quando eu vi uma carreira no FBI na minha frente, me esperando, ele não deu muito apoio. Ele também não me dava apoio com meus problemas familiares...

Chloe então se deu conta de que Moulton provavelmente sabia algo sobre seu histórico familiar. Quando ela fora a fundo na história no fim de seu treinamento, soube muito bem que a história havia corrido pelos corredores da Academia.

- Sim, eu ouvi alguma coisa por aí...

Ele não disse mais nada. Chloe entendeu que, se quisesse falar mais sobre aquilo, ele escutaria. Mas se ela não quisesse falar, ele também entenderia. E naquele momento, com tantas coisas na mente, ela percebeu que seria agora ou nunca. Não faz sentido esperar, pensou.

- Eu acho que devo deixar os detalhes para outro dia, mas devo te dize que vi meu pai hoje.

- Então ele está em liberdade?

- Sim. E acho que principalmente por conta de descobertas que eu tive sobre a morte da minha mãe nos últimos meses.

Moulton levou um momento para pensar no que iria dizer. Ele, como Chloe, tomou um gole de sua cerveja como método para ganhar tempo. Ao largar o copo, respondeu da melhor maneira possível.

- Você está bem?

- Acho que sim. Mas foi totalmente inesperado.

- Chloe, nós não precisávamos sair hoje. Eu teria entendido se você tivesse cancelado.

- Eu quase cancelei. Mas não vi motivo para deixar ele controlar mais uma parte da minha vida.

Moulton assentiu e os dois ficaram em silêncio enquanto olhavam o cardápio. O silêncio seguiu até que a garçonete voltasse para anotar os pedidos. Quando ela terminou, Moulton inclinou-se levemente na mesa e perguntou:

- Você quer falar sobre isso ou devemos ignorar o assunto?

- Sabe, eu acho que devemos ignorar por enquanto. Só quero que você saiba que pode ter alguns momentos da noite que eu vou estar um pouco distraída.

Ele sorriu e levantou-se da cadeira.

- Tudo bem. Mas deixe-me tentar algo, se você quiser.

- O que?

Moulton deu um passo em direção a Chloe, abaixou-se, e a beijou. Ela recuou a princípio, sem saber o que estava acontecendo. Mas quando percebeu o que ele queria, deixou acontecer. Não só isso, retribuiu o beijo. Foi leve, mas suficiente para que ela soubesse que ele estava pensando naquilo há tanto tempo quanto ela.

Moulton parou o beijo antes que os dois ficassem desconfortáveis. Afinal de contas, eles estavam em um restaurante, rodeados por outras pessoas. E Chloe nunca fora do tipo que gostava de demonstrações públicas de afeto.

- Não é uma reclamação – ela disse, - mas o que foi isso?

- Duas coisas. Foi eu sendo corajoso... algo que eu raramente consigo ser com uma mulher. E também foi eu te dando outra distração... espero que possa ajudar você a se distrair da situação com seu pai.

Com sua cabeça viajando um pouco e o calor irradiando por seu corpo inteiro, Chloe suspirou.

- É, acho que ajudou sim.

- Que bom – ele disse. – Além disso, acho que isso também acaba com aquela besteira de será que nós vamos nos beijar no fim do encontro.

- Ah, depois disso, acho que vamos – ela respondeu.

E, como Moulton esperava, os pensamentos sobre seu pai de repente ficaram muito distantes.



***



O jantar foi muito melhor do que Chloe estava esperando. Depois de falarem sobre a visita de seu pai e do beijo inesperado de Moulton, tudo correu muito bem. Eles conversaram sobre o aprendizado no FBI, música, filmes, habilidades e contaram histórias do período na Academia, além de seus interesses e hobbies. Tudo foi muito natural, de uma maneira que Chloe não esperava.

Tristemente, aquilo a fez desejar ter se separado de Steven antes. Se aquilo era o que ela tinha perdido por ficar tanto tempo insistindo com ele, ela tinha perdido muita coisa.

Eles terminaram de comer, mas ficaram ali para tomar mais alguns drinks. Moulton mais uma vez mostrou cuidado e afeto ao parar no segundo drink, enquanto Chloe pediu o terceiro. Ele inclusive perguntou se ela se sentiria mais confortável pedindo um táxi do que andando com ele ao volante.

Moulton a levou de volta para o apartamento, deixando-a na calçada depois da dez. Chloe não estava bêbada, mas tinha bebido o suficiente para imaginar outras formas de se entreter com ele.

- Foi uma noite ótima – Moulton disse. – Quero repetir logo se você não achar que isso vai nos atrapalhar no trabalho.

- Eu também. Obrigada por me convidar.

- Obrigado por aceitar.

Mesmo sabendo que não era uma mestre na arte da sedução, Chloe inclinou-se e o beijou. Assim como o beijo no restaurante, esse começou devagar, mas depois esquentou. A mão dele repente estava no rosto dela, correndo por sua nuca e a puxando para perto. O apoio de braço do banco estava entre eles, e ela mexeu-se para fazer com que sua mão encontrasse o peito de Moulton.

Ela não sabia quanto o beijo tinha durado. Foi devagar e romântico. Quando se separaram, Chloe encontrou-se quase sem ar.

- Então, já falamos que eu não tive muitos encontros na vida – ela disse. – Então, se eu fizer algo errado na próxima parte, você vai ter que me desculpar.

- Que parte?

Chloe hesitou por um momento, mas os três drinks ajudaram.

- Quero te chamar pra entrar. Eu poderia dizer que seria para um café ou mais um drink, mas seria mentira.

Moulton pareceu verdadeiramente surpreso. Foi um olhar que a fez imaginar se ele tinha entendido bem.

- Tem certeza? – ele perguntou.

- Não falei direito – ela disse, envergonhada. – O que eu quis dizer é que... eu gostaria de beijar você sem esse apoio de banco atrapalhando. Mas eu não... não vou dormir com você.

Mesmo com pouca luz, ela pode ver o rosto dele ficando vermelho.

- Eu jamais esperaria isso de você.

Ela assentiu, um pouco envergonhada.

- Então... você quer entrar?

- Quero, quero muito.

Então, ele a beijou. Dessa vez, de um jeito mais brincalhão. Durante o beijo, ele bateu no apoio de braço com o cotovelo.

Ela interrompeu o beijo e abriu a porta. Enquanto caminhavam até o prédio, Chloe não conseguiu se lembrar da última vez em que se sentira tão... tão nas nuvens.

Nas nuvens, ela pensou, sorrindo. Era uma expressão que Danielle usara certa vez para explicar a sensação física de um orgasmo. A lembrança fez com que Chloe de repente se sentisse quente, pegando nas mãos de Moulton quando eles entraram no prédio.

Eles tomaram o elevador e, quando as portas se fecharam, Chloe surpreendeu a si mesma pressionando-o contra as paredes do elevador e o beijando. Agora conseguindo colocar as mãos nele, ela o segurou pela cintura e o puxou para perto dela. O beijo seguinte foi muito mais apaixonado, dando uma dica do que ela gostaria de fazer com ele naquela hora.

Ele estava ansioso, e suas mãos encontraram as costas dela. Quando Moulton a pressionou para mais perto dele e os corpos se encontraram, Chloe ofegou. Ela se sentiu um pouco envergonhada.

O elevador parou e Chloe se afastou. Ela podia imaginar o olhar das pessoas do prédio se flagrassem os dois se beijando no elevador. Ficou aliviada ao ver que Moulton também parecia em êxtase e estava respirando fundo.

Ela o levou pelo corredor, passando por quatro portas até seu apartamento. Então, deu-se conta de que, além de Danielle, Moulton seria a primeira pessoa a visitar sua casa.

Que pena que eu não pretendo perder tempo mostrando o apartamento, pensou.

Aquele pensamento também a fez sentir-se um pouco envergonhada. Ela nunca tinha sentido uma necessidade física parecida com um homem. Depois de um tempo, sexo havia se tornado algo protocolar com Steven. E, sendo sincera consigo mesma, Chloe sabia que poucas vezes se satisfazia com ele. Por conta disso, ela não tinha muito desejo de ter momento íntimos com ele.

Ela destrancou a porta e entrou. Acendeu a luz da cozinha e largou sua bolsa em uma das banquetas.

- Quanto tempo você mora aqui? – Moulton perguntou.

- Seis meses, por aí. Não costumo ter muita companhia.

Moulton aproximou-se de Chloe e colocou uma mão na cintura dela. Eles se beijaram devagar. Alguns momentos depois, ele gentilmente a pressionou contra o balcão e o beijo ficou mais quente. Chloe sentiu o ar indo embora novamente, sentindo um desejo que não sentia desde seus primeiros momentos de intimidade com um garoto, ainda no ensino médio.

Ela interrompeu o beijo e o levou para o sofá, onde eles se sentaram um ao lado do outro para então continuar. Era bom estar com um homem daquela maneira, especialmente com alguém que a fazia se sentir muito bem. Se contasse a parte de sua relação com Steven onde a intimidade já havia praticamente desaparecido, Chloe já não era beijada e tocada por um homem daquele jeito há mais de um ano e meio.

De repente, depois do que pareceram meros segundos, mas na verdade foram mais de cinco minutos, Chloe inclinou-se em direção a Moulton, que foi obrigado a se deitar. Chloe subiu nele e, então, uma das mãos de Moulton encontrou suas contas. Aquela sensação de pele na pele levou Chloe a um outro patamar. Ela suspirou e ele respondeu correndo suas mãos pelas costas dela até encontrar o sutiã.

Chloe sentou-se em cima dele e sorriu. Ela parecia estar nas nuvens e cada músculo do seu corpo queria mais.

- Eu falei a verdade – ela disse, quase que se desculpando. – Não posso dormir com você. Não tão cedo. Eu sei que pode parecer coisa de velho...

- Chloe, tudo bem. Me diga quando quiser parar e tudo certo. Me diga quando eu passar do limite.

Ela sorriu para ele. Aquela resposta quase a fez mudar de ideia. Mas Chloe tinha uma forte sensação de que não deveria se apressar. Estar sentada em cima dele no sofá já estava a levando aos limites.

- Vai ser difícil pedir para parar – ela disse. – Eu seria muito idiota se te pedisse para ficar? Sem sexo, mas tipo... de fato dormir aqui?

A pergunta pareceu surpreendê-lo. Chloe se deu conta de que de fato era uma proposta estranha.

E você sabe por que está pedindo isso? Era a voz de Danielle em sua mente, sempre falsa, mas ajudando ao mesmo tempo. É porque o pai apareceu hoje e estragou seu mundo. Você quer Moulton aqui para não ficar sozinha hoje.

- Desculpe – ela disse. – Eu sei que é estranho, idiota e—

- Não, tudo bem – Moulton disse. – Tudo bem por mim, mas eu tenho uma condição.

- Qual?

- Mais beijos, por favor – ele disse, sorrindo.

Chloe retribuiu o sorriso e fez o que Moulton pediu.



***

Chloe acordou algum tempo depois para deixar Moulton sair do sofá. Ela levantou um braço. Tinha tirado a camisa durante os beijos, mas isso fora o máximo. Fora estranho dormir no sofá de calças, mas Chloe estava estranhamente orgulhosa por não ter passado dos limites. Ela olhou para o relógio e viu que eram 5:10 da manhã.

- Tudo bem com você? – ela perguntou.

- Sim – Moulton respondeu. – Eu só... me senti estranho dormindo aqui. Não queria que fosse estranho de manhã. Acho que é melhor eu ir. Mas pelo menos não tem aquela sensação estranha de depois do sexo.

- Talvez esse fosse meu plano o tempo todo – ela brincou.

- Devo sair correndo e fingir que nada aconteceu? – Moulton perguntou.

- Eu gostaria que você ficasse. Vou fazer café.

- É?

- Sim. Eu gostaria bastante, na verdade.

Chloe vestiu sua camisa e seguiu para a cozinha. Ela começou a preparar o café enquanto Moulton vestia sua camisa.

- Então, é quinta – ele disse. – Não sei porque, mas parece sábado.

- Talvez porque o que nós fizemos ontem geralmente acontece na sexta? Um jeito de começar o fim de semana?

- Não sei – ele disse. – Não tenho feito essas coisas ultimamente.

- Uhun, sei – ela disse, ao ligar a cafeteira.

- É verdade. Desde o primeiro ano do ensino médio, acho. Foi um bom ano para mim em termos de pegação sem sexo.

- Bom, pelo jeito você não desaprendeu. Ontem à noite foi... bom, muito mais do que eu estava esperando quando você me buscou.

- Para mim também.

- Mas estou feliz por ter acontecido – Chloe acrescentou. – Tudo.

- Que bom. Talvez possamos repetir. Fim de semana, quem sabe?

- Quem sabe – ela disse. – Mas meus limites já estão se enfraquecendo.

- Talvez esse fosse o meu plano o tempo todo – Moulton disse, sorrindo.

Chloe ficou vermelha e desviou o olhar. Ela estava um pouco surpresa pelo quanto estava gostando da companhia dele.

- Olha – ela disse, - preciso tomar um banho. Você pode pegar qualquer coisa na geladeira se quiser tomar um café da manhã. Mas não tenho muita coisa.

- Obrigado – Moulton disse, sem conseguir tirar os olhos dela.

Chloe o deixou na cozinha e seguiu para o quarto, que conectava-se com o grande banheiro. Ela tirou a roupa, ligou a água e entrou no chuveiro. Riu ao lembrar-se de como tinha sido a noite. Havia se sentido como uma adolescente, gostando de ter Moulton ali e sentindo-se confortável o suficiente, sabendo que ele não se apressaria querendo sexo. Fora uma noite romântica de um jeito estranho, com dois momentos em que ela quase desistira da ideia de não dormir com ele. Sorrindo de um jeito que não estava acostumada, Chloe secretamente desejou que Moulton entrasse no banheiro e se juntasse a ela no banho.

Se ele fizer isso, vou jogar minhas restrições pela janela, pensou.

Ela estava quase saindo do banho quando de fato escutou Moulton entrando no banheiro.

Antes tarde do que nunca, pensou. Seu corpo inteiro ficou tenso de excitação, e ela mal podia esperar para que ele entrasse no banho.

- Ei, Chloe?

- Sim? – ela respondeu, querendo provocar.

- Seu telefone acabou de tocar. Talvez eu tenha sido intrometido, mas... eu olhei. Era do FBI.

- Sério? Será que aconteceu algo?

Então, ela ouviu o toque de outro celular. Esse estava mais perto, provavelmente nas mãos de Moulton. Chloe colocou a cabeça para fora do box, puxando levemente a cortina. Eles se olharam antes que Moulton atendesse.

- Moulton falando – ele disse, ao dar um passo atrás para sair do banheiro e entrar no quarto.

Então, Chloe desligou a água. Ela pegou uma toalha e saiu, sorrindo ironicamente ao perceber que ele a viu rapidamente jogando a toalha em volta do corpo. O fato deles terem se beijado muito pela última hora e meia não significava que ela gostaria que ele a visse totalmente nua.

Não houve muita conversa para ouvir. Chloe só conseguiu escutar Moulton dizendo “tudo bem, sim senhor” algumas vezes.

Enrolada na toalha que cobria todas suas partes secretas, Chloe perguntou:

- Quem era?

- Era o Diretor Assistente Garcia. Ele disse que tentou te ligar, mas você deveria estar dormindo. – Moulton sorriu e então continuou. – Ele disse que eu deveria te ligar ou passar na sua casa para te acordar. Tem um caso nos esperando.

Chloe riu ao sair do banheiro e entrar no quarto.

- Você acha que a noite passada vai mudar a forma como trabalhamos juntos?

- Pode fazer com que eu invada seu quarto de hotel depois do trabalho. Mas além disso... não sei. Vamos ver.

- Você faria um café para mim? Preciso me vestir.

- Eu queria saber se posso usar seu banheiro.

- Claro. Acho que seria melhor se você tivesse pedido dez minutos atrás, quando eu ainda estava lá.

- Vou fazer melhor da próxima vez – ele disse.

Quando Moulton foi para o banho, Chloe começou a se vestir e deu-se conta de que estava feliz. Muito feliz, na verdade. Um novo caso tinha aparecido depois de tudo o que acontecera na noite anterior... pelo jeito a aparição surpreendente de seu pai não havia lhe atrapalhado em nada.

Mas se a vida em uma família com uma história tão estranha tinha lhe ensinado algo, era que você nunca consegue se livrar completamente. Em algum momento, os fantasmas vão voltar a lhe atormentar.




CAPÍTULO QUATRO


Praticamente no mesmo momento em que Chloe estava se lembrando como era se perder nos braços de um homem, sua irmã estava em meio a um pesadelo.

Danielle Fine estava sonhando com sua mãe novamente. Era um sonho recorrente, que ela tinha desde os doze anos—e que parecia ter diferentes significados em cada fase de sua vida. O sonho era sempre o mesmo, sem mudanças nos detalhes ou na história.

Nesse sonho, sua mãe a perseguia por um longo corredor. Mas era a versão de sua mãe que Danielle e Chloe haviam visto naquele dia trágico, quando crianças. Sangrando, com os olhos arregalados, sem vida. Por algum motivo, no sonho ela sempre tinha quebrado uma perna na queda (ainda que nenhum relatório oficial mostrasse nada disso). Então, a versão de sua mãe no sonho arrastava-se no chão atrás de sua filha.

Mesmo com a perna quebrada, sua mãe morta estava sempre de salto alto, a apenas alguns metros de segurar o tornozelo de Danielle e puxá-la para o chão. Ela corria com medo, com os olhos fitando o fim do corredor. E lá, parado na porta que parecia estar a um universo de distância, estava seu pai.

Ele sempre estava ajoelhado, com os braços abertos e um sorriso enorme no rosto. Mas havia sangue pingando das mãos dele e, no momento de pânico do sonho que sempre a acordava, Danielle parava de correr, sem saída entre sua mãe morta e seu pai maníaco, sem saber qual direção era a mais segura.

Não foi diferente daquela vez. O sonho terminou sem conclusão, acordando Danielle. Ela sentou na cama devagar, acostumada com o sonho a ponto de já saber do que se tratava antes mesmo de acordar completamente. Ainda grogue, olhou o relógio e viu que eram apenas 11:30. Ela tinha pegado no sono apenas uma hora antes do sonho começar.

Voltou a se deitar, sabendo que demoraria para conseguir dormir novamente. Espantou o sonho, da maneira que havia aprendido muitos anos antes, lembrando a si mesma de que não poderia ter feito nada para salvar sua mãe da morte. Mesmo se tivesse falado sobre todos os pequenos segredos de coisas que tinha visto e experimentado com relação à personalidade tóxica de seu pai, nada do que ela dissesse teria deixado sua mãe viva.

Danielle virou-se e olhou para o criado-mudo. Quase pegou seu celular para ligar para Chloe. Fazia três semanas que elas não se falavam. A última conversa fora tensa e estranha, por culpa dela. Danielle sabia que vinha projetando muita negatividade para Chloe, principalmente porque sua irmã não odiava seu pai com a mesma angústia que ela. Danielle era quem havia telefonado três semanas antes, percebendo que Chloe estava esperando por uma atitude da irmã, já que a última conversa não tinha sido nada boa—Danielle havia praticamente dito a irmã que não a procurasse.

Mas ela não conhecia a rotina de Chloe. Não tinha ideia se 11:30 era muito tarde. Na verdade, Danielle vinha tendo problemas para dormir antes da duas da manhã ultimamente. Aquela era uma rara noite em que ela não precisava estar no lounge e também não precisaria assinar e nem aprovar nada no bar que seu namorado havia comprado para ela.

Rapidamente, Danielle espantou os pensamentos sobre trabalho da mente para tentar dormir. Se começasse a pensar em trabalho e em tudo o que estava acontecendo, jamais conseguiria voltar a pegar no sono.

Mais uma vez, pensou em Chloe. Imaginou que tipo de sonhos e pesadelos sua irmã tinha com seus pais. Perguntou-se se ela ainda estava insistindo na ideia de conseguir a liberdade de seu pai e, se sim, se ela havia feito algo sobre aquilo.

Eventualmente, pegou novamente no sono. O último pensamento de Danielle foi sobre sua irmã. Pensou em Chloe e perguntou-se se finalmente era hora de perdoar e esquecer—de fazer com que as memórias de seu pai parassem de impedir uma relação saudável com a irmã.

Ficou feliz ao perceber o quão feliz aquele pensamento lhe fez... tão feliz que, ao pegar no sono novamente, havia traços de um sorriso tímido em seu rosto.



***



A jovem bartender que fora contratada em seu lugar fez sucesso rapidamente. Ela tinha vinte anos, era linda e especialista em ler homens bêbados. Já que a nova funcionária estava indo tão bem, Danielle podia encontrar seu namorado e os contratantes no local que seria seu próprio pub e restaurante em cerca de um mês e meio.

Naquele dia, havia pessoas mexendo na ventilação do local, assim como outras colocando painéis na sala dos fundos, que serviria como uma sala reservada para festas maiores. Quando chegou ao lugar, Danielle viu que seu namorado estava discutindo um contrato com um eletricista. Eles estavam sentados em uma das mesas que haviam chegado recentemente—uma entre as três que Danielle precisaria escolher para ter em seu restaurante.

Seu namorado a viu entrando. Ele rapidamente disse algo ao eletricista e veio na direção dela. O nome dele era Sam Dekker, e mesmo não sendo necessariamente o homem mais honesto ou inteligente, ele compensava com uma aparência interessante e um belo faro para negócios. Ele era cerca de 20 centímetros mais alto que Danielle e, para beijá-la, precisava se abaixar um pouco.

- Pronta para trabalhar – ela disse. – O que eu posso fazer hoje?

Sam encolheu os ombros, olhando em volta pelo local com uma expressão quase teatral.

- Sinceramente, acho que não tem muita coisa para você fazer. Está tudo começando a se ajeitar. Eu sei que pode parecer bobo, mas talvez você possa começar a olhar o catálogo de bebidas e ver quais marcas você vai querer servir. Veja também onde você vai querer colocar as caixas de som, coisas assim. Esse tipo de coisa acaba ficando para trás e depois aparece como urgência na última hora.

- Posso fazer isso – Danielle disse, um pouco decepcionada.

Havia dias em que ela ia até a reforma e sentia que Sam estava na verdade somente a entretendo—dando a ela tarefas bobas enquanto ele cuidava das coisas importantes. Ela se sentia diminuída às vezes, mas precisava lembrar a si mesma que Sam sabia o que estava fazendo. Ele já tinha aberto três bares que estavam indo muito bem, sendo que um deles tinha sido vendido para uma grande empresa nacional no ano anterior, por mais de dez milhões de dólares.

E agora ele tinha decidido ajudá-la em seu próprio empreendimento. Ele havia precisado convencê-la do negócio. Insistira que ela tinha o que era preciso para gerenciar um lugar como aquele, mas apenas depois que tudo já estivesse no lugar.

A maioria das garotas que namoram caras semirricos ganham joias e carros, ela pensou ao caminhar para a área onde seria o lounge. Eu... ganhei um bar. Nada mal, eu acho.

Danielle sentia-se um pouco deslocada sempre que pensava no que viria pela frente. Ela seria de fato responsável por um estabelecimento. Controlaria tudo e tomaria decisões. Havia uma responsabilidade grande nisso. Ela sentia que a oportunidade fora dada a ela apenas porque tinha começado a namorar um cara que sabia como abrir negócios. Por conta disso, estava ciente de que precisaria sacrificar muitas coisas e simplesmente deixar Sam fazer outras. Ela nunca questionava as noites em que ele chegava tarde, sempre dizendo que estava em reuniões com contratantes, negociando com eles. Ela havia participado de algumas daquelas reuniões, então sabia que ele falava a verdade—na maioria das vezes.

Ela também sentia que precisava mostrar sua gratidão sempre que possível. Isso significava não importunar quando ficava dias sem vê-lo. Significava não reclamar tanto quando ele queria algumas coisas na cama. Significava não se irritar por, apesar dele ter comprado um bar e confiado nela para dirigi-lo, nunca ter mencionado a palavra casamento. Danielle tinha certeza de que Sam não tinha intenção de se casar. E, por ora, ela estava de bem com a ideia, então não tinha motivos para reclamar.

Além disso... do que ela poderia reclamar? Finalmente, tinha conhecido um cara que a tratava com dignidade—quando estava por perto—e estava no caminho para facilmente chegar ao sucesso.

É porque a maioria das coisas que parecem boa demais para ser verdade, geralmente são, pensou.

Ao chegar à sala onde seria o lounge, Danielle pôs sua digital no celular. Ela fez anotações de onde as caixas de som poderiam ficar e anotou também que seria bom colocar uma janela na parede dos fundos. Era fazendo coisas assim que ela via o sonho se tornando realidade. De alguma maneira, aquilo tudo estava acontecendo para ela.

- Ei...

Ela virou-se e viu Sam parado na porta. Ele estava sorrindo e olhando para ela com uma expressão que geralmente significava que ele estava com vontade de algo a mais.

- Ei, você – Danielle respondeu.

- Eu sei que isso pode te decepcionar – ele disse. – Mas sério... nas próximas semanas, tudo o que vou precisar de você vão ser algumas assinaturas.

- Você está me fazendo trabalhar muito – ela brincou.

- Eu sinceramente esperava que o treinamento com a nova funcionária do bar demorasse mais. Não é minha culpa que nós acabamos contratando um gênio na arte de ser bartender. – Sam aproximou-se de Danielle e a segurou pela cintura. Ela olhou para cima, nos olhos dele, e como sempre, sentiu-se segura por um motivo estranho: aquilo a fazia sentir que ele estaria sempre olhando por ela.

- Vamos almoçar mais tarde – Sam disse. – Algo simples. Pizza e cerveja.

- Pode ser.

- E amanhã... o que você acha de irmos a algum lugar. Uma praia... South Carolina ou algo assim.

- Sério? Parece algo espontâneo e exagerado com todo esse trabalho que temos por aqui. Em outras palavras.. foi você mesmo que disse isso?

- Eu sei. Mas eu ando tão focado nesse projeto... Percebi que ando dando pouca atenção para você. Então quero me desculpar.

- Sam, você está me dando meu próprio negócio. É mais do que suficiente.

- Tudo bem. Vou ser egoísta nisso então. Quero fugir de tudo isso aqui e ficar pelado e sozinho com você perto do mar. Melhor?

- Na verdade, sim.

- Que bom. Então vá até o bar, veja como anda a novata. Vou te buscar para o almoço perto do meio dia.

Danielle deu um beijo em Sam e, mesmo vendo que ele estava com pressa, tudo o que ele acabara de dizer mexeu com ela. Ela sabia que, para ele, era difícil ser emotivo e sincero. Raramente Danielle via aquele lado do namorado e por isso, quando ele demonstrava algo, ela preferia não questionar.

Ela caminhou pelos espaços quase todos abertos do prédio antigo que logo seria seu bar-restaurante-lounge. Era difícil ver o local como sendo dela, apesar de ser, de fato.

Quando saiu, Danielle viu que o sol estava mais forte do que quando entrara. Ela sorriu, tentando entender tudo o que sua vida havia se tornado. Pensou novamente em Chloe e decidiu ligar para a irmã nos próximos dias. Todo o resto de sua vida estava indo bem, então seria bom tentar ajustar sua relação tensa entre as duas.

Ela entrou no carro e seguiu para o outro bar de Sam—o bar que havia a contratado para trabalhar lá, seis meses antes. Estava tão distraída com a ideia de viajar com ele no final de semana que não percebeu o carro parado no lado da rua aproximando-se atrás dela.

Se tivesse percebido, poderia ter reconhecido o motorista, mesmo estando há muito tempo sem vê-lo.

Ainda assim, uma filha nunca esqueceria o rosto de um pai.




CAPÍTULO CINCO


Quando Chloe e Moulton chegaram no escritório de Garcia, o Diretor Johnson já estava lá, esperando por eles. Parecia que ele e Garcia estavam olhando os arquivos do caso. Garcia tinha alguns abertos na tela de seu computador, enquanto Johnson tinha uma pequena pilha de impressões nas mãos.

- Obrigado por virem tão rápido – Johnson disse. – Temos um caso em Virginia—numa cidade pequena do outro lado de Fredericksburg, num bairro rico. E eu devo começar dizendo que a família da vítima tem amigos políticos muito poderosos. Por isso fomos chamados. Bom, por isso e pela natureza grotesca da morte.

Ao sentar-se à pequena mesa nos fundos do escritório de Garcia, Chloe fez o possível para não parecer óbvio que estava tentando criar uma distância entre ela e Moulton. Ela sabia que provavelmente estava radiante, sem conseguir esconder a alegria pelo que havia acontecido na noite anterior. Não sabia como Johnson reagiria a qualquer tipo de relação entre os dois, e não gostaria de fazer o teste.

- Qual é o caso? – Chloe perguntou.

- Quatro dias atrás, um marido chegou em casa do trabalho e encontrou a esposa morta – Garcia disse. – Mas é mais do que isso. Ela não foi simplesmente morta, mas sim brutalmente. Tinha muitas facadas, dezesseis pelas contas do legista. A cena do crime estava uma bagunça, sangue por tudo. Diferente de tudo que a polícia local já viu.

Ele entregou uma pasta para Chloe com um olhar de preocupação. Chloe segurou-a e abriu devagar. Viu uma foto do crime e, então, fechou a pasta rapidamente. Pela rápida olhada na foto, a cena parecia mais um matadouro do que um assassinato.

- A família da vítima é amiga de quem? – Moulton perguntou. – Você disse que de algum político, certo?

- Eu prefiro não dar essa informação – Johnson disse. – Não queremos que pareça que o FBI tem favoritos quando se trata de bipartidarismo.

- Qual o nível de envolvimento da polícia local? – Chloe perguntou.

- Eles estão atrás do assassino na região toda e chamaram a polícia do Estado – Garcia disse. – Mas estão pedindo que eles trabalhem quietos. A polícia local está irritada, e eu entendo, porque eles acham que nós vamos atrapalhar em um caso que já está fora da zona de conforto deles. Então preciso que você vá lá o mais rápido possível. E além disso... escute bem: eu pensei em vocês dois para esse caso porque vocês já trabalharam bem juntos antes. Mas se o caso e essas fotos do crime fizerem você se sentirem desconfortáveis—se for muito para vocês nessa altura da carreira—me digam agora. Eu não vou julgar vocês, nem vou contar isso como algo negativo no futuro.

Chloe e Moulton olharam-se e ela pode ver que ele estava tão ansioso quanto ela para assumir o caso. Mesmo assim, sem conseguir se conter, Moulton olhou o que havia dentro da pasta. Ele fez uma cara feia ao ver as fotos do crime e leu rapidamente o relatório na última página. Depois, olhou para Chloe e assentiu.

- Tudo bem por mim – Chloe disse.

- Por mim também – Moulton disse. – E eu agradeço a oportunidade.

- Que bom – Johnson respondeu, levantando-se. - Estou animado para ver o que vocês dois podem fazer. Agora... vão. Vocês precisam pegar a estrada.



***



Moulton estava dirigindo o carro do FBI, saindo do rodoanel em direção à Virginia. Barnes Point ficava a apenas uma hora e vinte de distância, mas o rodoanel fazia com que qualquer lugar parecesse ficar do outro lado do planeta.

- Você tem certeza? – ele perguntou.

- Sobre o que?

- Trabalhar juntos em um caso assim. Digo... nós estávamos nos pegando como dois adolescentes com tesão dez horas atrás. Você vai conseguir deixar as mãos longe de mim durante o trabalho?

- Não me entenda mal – Chloe disse, - mas depois do que eu vi naquela pasta, fazer aquilo de novo é a última coisa na minha cabeça.

Moulton assentiu, concordando. Ele pegou a rampa seguinte, entrou na rodovia e pisou no acelerador.

- Brincadeiras a parte... Eu gostei da noite passada. Mesmo antes do seu apartamento. E eu gostaria de repetir. Mas no trabalho...

- Nós devemos ser totalmente profissionais – Chloe finalizou.

- Exatamente. E, falando nisso – ele disse, pegando seu iPad no console central, - eu baixei os arquivos do caso enquanto você pegava suas coisas.

- Você não pegou as suas?

- Você viu minha mochila. Sim, eu peguei. Mas sou rápido nisso. – ele sorriu levemente ao dizer isso, indicando que talvez ela tivesse levado mais tempo do que ele esperava. – Mas ainda não tive a chance de olhar os arquivos.

- Ah, relatórios, nada de mais – Chloe disse.

Os dois riram, Chloe começou a ler os arquivos e, quando Moulton colocou sua mão nos joelhos dela, não teve certeza se conseguiria manter tudo no âmbito profissional.

Ela olhou os arquivos, lendo as partes importantes em voz alta. Eles viram que Garcia e Johnson haviam resumido o caso muito bem. O relatório da polícia era bem detalhado, assim como as fotos. Ainda não era fácil olhar para elas, e Chloe não culpava a polícia local. Ela percebeu que qualquer departamento de polícia local ficaria um pouco perdido com tanta violência e sangue.

Eles discutiram algumas teorias e, quando passaram por uma placa indicando que Barnes Point estava a apenas vinte quilômetros, Chloe tinha mudado de ideia. Ela percebeu que seria capaz de ser profissional ao lado de Moulton. Ela tinha passado as últimas semanas tão focada em sua atração física por ele que quase esquecera o quão esperto e intuitivo ele poderia ser no trabalho.

Ela imaginou que, se eles conseguissem trabalhar juntos, poderia ter o que toda mulher no mundo desejava: um homem que a respeitava com igualdade no trabalho, mas também na cama.

Não faz nem um dia que vocês estão juntos, uma voz disse em sua mente. Era Danielle novamente. Você vai mesmo ser boba e começar a sonhar com isso já? Senhor, você se pegou com ele algumas horas, vocês sem fizeram sexo ainda. Você mal conhecer ele e—

Mas Chloe escolheu espantar aqueles pensamentos.

Ela tornou então sua atenção para o relatório do legista. O arquivo contava a mesma história que Johnson havia dito, mas com mais detalhes. E foi nos detalhes que Chloe focou. O sangue, a violência, a possível motivação política. Ela leu tudo, estudando cada detalhe.

- Acho que isso não tem motivação política – ela disse. – Não acho que o assassino estava tão preocupado com a força política que os amigos dos Hilyard podem ter.

- Senti confiança nas suas palavras – Moulton disse. – Me explique, por favor.

- Lauren Hilyard levou dezesseis facadas. E todos os ferimentos estão no centro da região abdominal, sendo que um só acertou o peito esquerdo dela. O legista relata que os ferimentos foram feitos quase um em cima do outro, indicando que alguém deu as facadas uma atrás da outra. A anotação aqui no relatório diz: como se estivesse cegamente com raiva. Se isso fosse coisa de alguém com motivação política, provavelmente haveria algum tipo de mensagem ou outro indicativo.

- Tudo bem – Moulton disse. – Concordo. Não teve motivação política.

- Essa foi fácil.

Ele encolheu os ombros e disse:

- Estou começando a entender que as pessoas em Washington acham que tudo tem motivação política. E daí se os Hilyard talvez conhecem alguém com um cargo importante na política? Nem todo mundo liga para isso.

- Gosto do jeito que você pensa – Chloe disse. – Mas eu não descartaria essa hipótese totalmente ainda.

Eles já estavam perto de Barnes Point, e o fato de estarem envolvidos em um caso com potenciais amarras políticas deixava tudo mais interessante. Era uma oportunidade incrível para os dois, e Chloe precisava estar totalmente focada o tempo todo. Naquele momento, nada era mais importante do que aquele caso—nem seu pai aparecendo de repente, nem a voz teimosa de sua irmã... nem um potencial romance com o homem sentado ao lado dela.

Naquele momento, só o que importava era o caso. E isso já era mais do que suficiente.




CAPÍTULO SEIS


Barnes Point era uma cidade calma e muito bonita, com população de cerca de nove mil pessoas. A residência dos Hilyard ficava às margens da cidade, em uma região chamada de Farmington Acres. O marido da vítima, Jerry Hilyard, ainda não tinha conseguido voltar para casa desde que descobrira o corpo sem vida da esposa. Sem parentes diretos vivendo por perto, ele havia sido convidado para passar alguns dias na vizinhança, com amigos próximos.

- Acho que eu teria ido para mais longe de casa – Moulton disse. – Digo, você consegue imaginar por tudo o que esse cara está passando?

- Mas ele pode querer ficar perto de casa – Chloe respondeu. – Perto do lugar onde ele e a mulher dividiram uma vida.

Moulton pareceu considerar a ideia ao levar o carro pela região, em direção ao endereço que a polícia do estado havia lhes enviado durante o caminho até lá. Aquele tinha sido mais um exemplo de como Chloe estava começando a entender e respeitar a fluidez com a qual o FBI trabalhava. Era difícil imaginar que quase qualquer informação necessária—endereços, números de telefone, registros de trabalhos, históricos criminais—estaria disponível imediatamente, a apenas uma ligação ou e-mail de distância. Chloe imaginou que os agentes em algum momentos se acostumavam com aquilo, mas até o momento, ela ainda se sentia muito privilegiada por fazer parte de tal sistema.

Eles chegaram ao endereço e caminharam até a porta. A caixa de correio dizia Lovingston e a casa em si era praticamente uma cópia de todas as casas da vizinhança. Era o tipo de bairro onde as casas ficavam coladas umas nas outras, mas o ambiente era calmo—um bom local para crianças aprenderem a andar de bicicleta e provavelmente se divertirem muito no Halloween e no Natal.

Chloe bateu na porta e foi atendida imediatamente por uma mulher com um bebê no colo.

- Você é a senhora Lovingston? – Chloe perguntou.

- Sou. E vocês devem ser os agentes do FBI. Recebemos uma ligação da polícia um tempo atrás dizendo que vocês estavam vindo.

- Jerry Hilyard está hospedado aqui? – Moulton perguntou.

Um homem apareceu atrás da mulher, vindo da sala à esquerda.

- Sim, ainda estou aqui – ele disse. Ele juntou-se à senhora Lovingston na porta e encostou-se na entrada da casa. Ele parecia totalmente exausto, aparentemente sem estar dormindo bem desde que perdera sua esposa de um jeito tão brutal.

A senhora Lovingston virou-se para ele e olhou-o de maneira que fez com que Chloe pensasse que o bebê nos braços dela receberia muitos olhares assustadores no futuro.

- Você tem certeza que está pronto para isso? – ela perguntou.

- Estou bem, Claire – ele disse. – Obrigado.

A mulher assentiu, segurou o bebê com mais força no peito e voltou para dentro da casa.

- Entrem – Jerry disse.

Ele levou-os até a mesma sala de onde tinha vindo. Era uma sala decorada com livros e duas cadeiras elegantes. Jerry sentou-se em uma das cadeiras como se seus ossos não pudessem mais sustentá-lo.

- Eu sei que Claire pode estar um pouco hesitante sobre a presença de vocês aqui – Jerry disse. – Mas... ela e Lauren eram muito amigas. Ela acha que eu tenho que estar de luto... e eu estou. Mas é que...

Ele ficou parado e Chloe pode vê-lo lutando contra uma onda de emoções, tentando conseguir conversar sem desabar na frente deles.

- Senhor Hilyard, sou a Agente Fine e esse é meu parceiro, Agente Moulton. Estive pensando se você poderia nos falar sobre alguns laços políticos que sua família possa ter.

- Senhor – ele suspirou. – Isso é um exagero. A polícia local fez um estardalhaço sobre isso. Tenho certeza que foi por isso que vocês foram chamados, né?

- Esses laços políticos existem? – Moulton perguntou, complementando a questão.

- O pai de Lauren era um amigão de golfe do Secretário da Defesa. Eles cresceram juntos, jogando futebol juntos, tudo isso. Eles ainda se encontram às vezes—para caçar patos, pescar, coisas assim.

- Lauren chegou a conversar com o Secretário algum dia? – Chloe perguntou.

- Não enquanto estivemos casados, pelo menos. Ele veio ao nosso casamento. Ganhamos um cartão de Natal da família dele. Mas foi só.

- Então você não acha que o que aconteceu pode ter ligação com essa relação? – Moulton perguntou.

- Se tiver, não tenho ideia do motivo. Lauren não era nenhum pouco envolvida com política. Acho que é só o jeito do pai dela de achar que é importante. Alguém matou a garotinha dele então só pode ser porque ele conhece gente importante. Ele é babaca desse tipo.

- E o que você pode nos dizer sobre os últimos dias da Lauren? – Chloe perguntou.

- Eu já disse tudo o que podia para a polícia.

- Nós sabemos – Moulton disse, - e temos cópias de todos os relatórios. Mas para que possamos entender perfeitamente, temos algumas perguntas que podem ser repetidas para você.

- Tudo bem – Jerry disse.

Chloe imaginou que o homem talvez não estivesse totalmente ciente do que estava acontecendo. Ele parecia incrivelmente perdido. Se Chloe não soubesse da situação traumática pela qual Jerry estava passando, ela imaginaria que ele estava usando drogas.

- A primeira pergunta pode parecer boba levando em conta o que aconteceu – Chloe disse, - mas você consegue pensar em alguém que pudesse ter motivos para estar com raiva da sua mulher?

Ele fungou o nariz e balançou a cabeça. Quando falou, sua voz tremia.

- Não. Lauren andava bem quieta ultimamente. Introvertida. E isso vinha piorando ultimamente, sabe?

- Você tem ideia do motivo?

- Ela tinha um passado difícil. Confusão com os pais e tudo. Ela fazia bullying na escola. Acho que chamariam de bullying hoje em dia. Ou quem sabe era só uma garota maldosa. Ela vinha reconhecendo esses erros ultimamente. Acho que tudo piorou quando ela recebeu aquele maldito e-mail convidando para o encontro da turma do ensino médio.

- Ela estava ansiosa pelo encontro? – Chloe perguntou.

- Não tenho certeza. Ela ficou triste, eu acho... em pensar nas pessoas com quem que ela tinha sido maldosa.

- Vocês dois se formaram juntos? – Moulton perguntou.

- Sim.

- E você foi com ela ao encontro?

- Senhor, não. Eu odeio esse tipo de coisa. Ter que fingir que gosto de pessoas, sendo que eu odiava a maioria na escola. Não, não fui.

- Você disse que ela era introvertida – Chloe disse. – Ela não tinha muitos amigos?

- Ah, ela tinha alguns. Claire era uma delas. E os amigos que ela tinha eram como família para ela. Elas eram muito próximas.

- Você conversou com eles desde que tudo aconteceu? – Moulton perguntou.

- Só com uma. Ela ligou logo depois de ficar sabendo e perguntou se eu precisava de algo.

- Essas amigas estavam na reunião com ela?

- Sim. Claire também foi. Mas ela também é meio introvertida. Acho que ela só foi por curiosidade.

- Você e Lauren têm filhos? – Chloe perguntou. – Em um bairro como esse, achei que encontraria pelo menos uma criança em cada casa.

- Temos dois. A mais velha, Victoria, tem dezoito anos. Acabou de entrar na faculdade. Ela... bem, ela escolheu passar esses momentos difíceis com os avós. E por ela ter ido para lá, o mais novo—Carter—quis ir também. Nunca tive a melhor relação do mundo com meus sogros, mas meus filhos estarem com eles agora é uma benção. Eu me sinto um pai terrível, mas se meus filhos estivessem aqui, eu acho que não aguentaria.

- Tem algum problema em seus filhos estarem com os avós agora? – Moulton perguntou.

- Eu queria eles aqui comigo... para vê-los. Mas sou um desastre. E até tudo se ajeitar, é lá que eles precisam estar.

- Você disse que a mais velha escolheu ficar lá nessa hora – Moulton disse. – Por quê?

- Ela queria sair da nossa casa logo. A relação dela com Lauren foi tensa nos últimos anos. Coisas de mãe e filha. Nossa filha... andava saindo com uns caras, fugindo de casa à noite. Fazia isso desde os treze anos. Teve a primeira suspeita de gravidez aos quinze. E se você fizer as contas... Lauren tinha trinta e sete anos. Tivemos nossa filha quando nós dois tínhamos dezenove.

Chloe imaginou que a relação tumultuada da família piorava ainda mais a situação de Jerry Hilyard. Ela não achava que havia algo no qual valesse a pena se aprofundar, ainda que talvez fosse interessante conversar com a filha do casal.

- Senhor Hilyard, você se importaria se nós olhássemos sua casa? – ela perguntou.

- Tudo bem. O comandante e alguns tiras já foram lá algumas vezes. O código para entrar é dois-dois-dois-oito.

- Obrigado, senhor Hilyard – Moulton disse. – Por favor entre em contato conosco se você pensar em algo mais. Por enquanto, acho que vamos falar com a senhora Lovingston para ver se ela tem algo a mais para dividir conosco.

- Ela já disse tudo o que sabe para a polícia. Está começando a ficar irritada, eu acho.

- E o marido dela? Ele conhecia bem sua esposa? Vocês quatro costumavam sair juntos?

- Não. O marido de Claire trabalha bastante fora da cidade. Eu falei com ele no FaceTime para ter certeza de que ele não se importava por eu ficar aqui. Mas enfim, era mais apenas Claire e Lauren. Elas tinham um encontro semanal para tomar vinho na varanda, revezando as casas toda semana.

Claire entrou na sala devagar, aparentemente tendo colocado o bebê para dormir.

- E nós fazíamos coisas que todas as mulheres fazem. Falar sobre os maridos, lembrar do passado. Eu falava para ela dos prós e contras de ter um bebê. E mais recentemente, nós falávamos sobre o que ela estava passando com a filha.

- O que você pode nos dizer sobre Lauren e o que pode ter levado alguém a fazer algo assim com ela? – Chloe perguntou.

- Lauren tomou algumas decisões durante o ensino médio que os pais dela não concordaram muito – Claire respondeu. – Quando ela terminou o segundo grau e teve a filha... bom, a faculdade ficou fora dos planos.

- Eles ficaram envergonhados – Jerry acrescentou. – Eles ficaram bravos e se mudaram para New Hampshire. Eles contam mentiras severas sobre Lauren para a nossa filha sempre que podem.

- Eles tentam se compensar pelos erros e pela distância na criação da Lauren – Claire disse. – É um casal de verdadeiros babacas.

Sentindo que a conversa estava indo para um caminho ruim, Chloe disse:

- Senhora Lovingston, você talvez consiga pensar em quaisquer inimigos ou relações difíceis que Lauren tinha?

- Não além da família dela. E mesmo eles sendo dois idiotas, com certeza eles não fariam isso. É... terrível.

Moulton colocou a mão no bolso e puxou um cartão de visitas. Colocou-o na mesa de café e deu um passo atrás.

- Por favor... se um de vocês pensar em algo a mais, não deixem de entrar em contato.

Claire e Jerry assentiram levemente. A conversa havia sido curta, mas pesada. Chloe e Moulton saíram em um silêncio incômodo.

Do lado de fora, no caminho para o carro, Chloe parou na calçada por um momento. Ela olhou pela rua, na direção da casa dos Hilyard, mas não pode a enxergar. Ainda assim, estava começando a concordar com Moulton. Talvez fosse muito perto. E se o quarto ainda se parecesse pelo menos um pouco com as fotos que ela havia visto, parecia quase mórbido que Jerry estivesse dormindo ali tão perto.

- Pronto para ver a casa? – Chloe perguntou.

- Não mesmo – Moulton disse, com as imagens do crime claras em sua mente. – Mas precisamos começar de alguma maneira.

Os dois voltaram para o carro e seguiram pelo caminho que tinham feito na ida. Chloe seguiu dizendo a si mesma que a cena não poderia ser tão feia quanto parecia nas fotos—com toda aquela vermelhidão entre os lençóis brancos.



***



Chloe e Moulton levaram vinte segundos para chegar à casa dos Hilyard. O fato de que a residência parecia muito com a casa dos Lovingston—e com quase todas as casas da quadra—era horripilante demais para Chloe. Eles passaram pela porta da frente com o código que Jerry Hilyard havia passado e entraram na casa, completamente silenciosa.

Sabendo exatamente porque estavam ali, não perderam tempo e foram diretamente para o segundo andar. A suíte principal foi fácil de encontrar, ao final do corredor. Pela porta aberta, Chloe logo pode ver as manchas vermelhas no carpete e nos lençóis.

Ela ficou aliviada, no entanto, ao perceber que a cena não era tão feia quanto parecia nas fotos que o Diretor Johnson havia mostrado. Primeiro, e mais importante, o corpo já tinha sido removido. Depois, as manchas de sangue já estavam muito mais claras.

Os dois caminharam até a cama, com cuidado para não pisar em nenhuma mancha de sangue no carpete. Chloe pode ver as áreas com sangue onde o legista e os primeiros investigadores tinham pisado sem querer. Ela olhou para o outro lado do quarto, com direção a um closet onde uma pequena TV estava pendurada na parede. Ela provavelmente estava assistindo TV quando tudo aconteceu, talvez relembrando as memórias do encontro da turma...

Chloe desceu as escadas e olhou em volta. Não enxergou sinais de entradas forçadas, nem indicações que mostrassem que algo tivesse sido roubado. Olhou pela sala, cozinha e no quarto de visitas. Analisou inclusive um deck, nos fundos. Havia uma pequena mesa no canto, com um cinzeiro em cima, sob a sombra de um guarda-sol.

Chloe resmungou ao ver o conteúdo do cinzeiro. Não havia restos de cigarro ali, mas sim outro tipo de cinzas e papel. Ela inclinou-se com direção ao cinzeiro e pegou uma lanterna. O aroma de maconha era inegável. Tentou pensar em algumas coisas, tentando imaginar se aquilo poderia ser de alguma forma relevante.

Levou um susto quando seu telefone tocou. Moulton, vindo dos fundos da casa para encontrá-la, viu sua expressão assustada e sorriu. Ela virou os olhos e atendeu a ligação, sem reconhecer o número.

- Agente Fine falando – disse.

- Aqui é Claire Lovingston. Achei que você gostaria de saber que acabei de receber uma ligação de uma de minhas amigas, Tabby North. Ela era uma das amigas próximas que Jerry lhe falou. Ela perguntou se alguém mais da polícia tinha vindo falar comigo. Eu disse que o FBI tinha acabou de me visitar e ela gostaria de falar com vocês.

- Ela tem informações para nós?

- Sinceramente, eu não sei. Provavelmente não. Mas essa comunidade aqui é pequena. Acho que eles querem ir até o fim. Tenho certeza que eles só querem ajudar.

- Ótimo. Me envie o número depois dessa ligação.

Chloe encerrou a ligação e explicou para Moulton:

- Era Claire. Ela disse que uma outra amiga de Lauren ligou para ela para perguntar se havia novidades. Ela gostaria de falar conosco.

- Bom. Não vou mentir... não tenho mais nada para fazer aqui. O quarto está me dando arrepios.

As palavras dele faziam sentido. Chloe ainda estava com as fotos na cabeça, e ver a cena sem o corpo era como olhar para um lugar abandonado que ela não deveria ver.

Ainda assim, os dois voltaram ao quarto e olharam pela casa inteira, procurando no banheiro, no closet, e até debaixo da cama. Sem encontrar nada interessante, saíram da casa e, momentos depois, da região de Farmington Acres. Chloe novamente pensou naquela área—um bairro perfeito para começar uma família e pensar no futuro.

Isso se você não se importasse em saber que, às vezes, poderia acontecer um assassinato por ali.




CAPÍTULO SETE


Tabby North era uma ruiva com um corpo que, Chloe imaginou, frequentava a academia pelo menos quatro vezes por semana. Era também um corpo que, na humilde opinião de Chloe, não precisava ser tão magro. Ela era obviamente linda, mas a julgar por sua aparência, um vento forte poderia derrubá-la.

Chloe e Moulton encontraram Tabby na casa dela e descobriram que ela havia convidado outra amiga próxima, uma mulher que aparentemente frequentava a mesma academia que ela. Essa mulher era Kaitlin St. John, e estava chorando quando Chloe e Moulton chegaram. Eles reuniram-se no quintal de Tabby, onde a dona da casa serviu uma jarra de limonada. Chloe não pode deixar de pensar em quanta exibição havia naquilo—naquelas mulheres de quase quarenta anos com cinturas finas bebendo drinks saudáveis.

Esse pensamento com certeza não é o motivo de Johnson ter decidido que você era a Agente certa para um caso em um bairro pequeno assim, Chloe disse a si mesma.

Para ser educada, ela deu um gole na limonada. Mesmo com seus pensamentos maldosos, o suco estava de fato uma delícia.

- Imagino que vocês já tenham falado com a polícia – Chloe perguntou.

- Sim – Tabby disse. – E mesmo sabendo que eles estão fazendo o possível, ficou claro que eles não têm ideia do que estão fazendo.

- Eles estavam assustados – Kaitlin disse.





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“Uma obra-prima de suspense e mistério. Pierce fez um trabalho magnífico criando personagens com lados psicológicos tão bem descritos que nos fazem sentir dentro de suas mentes, acompanhando seus medos e celebrando seu sucesso. Cheio de reviravoltas, este livro vai lhe manter acordado até que você chegue à última página.”–Books and Movie Reviews, Roberto Mattos (sobre SEM PISTAS)BECO SEM SAÍDA (Um mistério psicológico de Chloe Fine) é o livro 3 da nova série de suspense psicológico do autor de best-sellers Blake Pierce, cujo sucesso número 1 SEM PISTAS (baixe grátis) recebeu mais de 1.000 avaliações de cinco estrelas.A agente especial do FBI Chloe Fine, 27 anos, precisa se aprofundar em um mundo suburbano de panelinhas, fofocas e mentiras, buscando resolver o assassinato de uma mãe e esposa aparentemente perfeita, justamente na noite do encontro de 20 anos de sua turma do ensino médio.Velhos amigos da escola, agora quase com 40 anos, voltaram à mesma pequena cidade para criar seus filhos, criando as mesmas panelinhas que os dividiam vinte anos antes. A reunião de 20 anos da formatura traz de volta antigas memórias, ressentimentos, traições e segredos, trazendo todas as dores de volta, uma geração depois. Na mesma noite, a ex-rainha da turma é encontrada assassinada em sua casa.Nessa cidade bem cuidada e aparentemente perfeita, o passado caça o presente—e todos se tornam suspeitos.Poderá Chloe Fine solucionar o caso—enquanto luta contra os demônios de seu próprio passado e com a possibilidade real de ver seu próprio pai sair da cadeia?Um suspense psicológico repleto de emoção com personagens robustos, em um ambiente de cidade pequena e que acelera o coração. BECO SEM SAÍDA é o livro 3 de uma nova série fascinante, que o fará ler páginas e páginas noite adentro.O livro 4 da série CHLOE FINE estará disponível em breve.

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