Книга - Uma Jóia Para Realezas

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Uma Jóia Para Realezas
Morgan Rice


Um Trono para Irmãs #5
“A imaginação de Morgan Rice não tem limites. Em mais uma série que promete ser tão cativante como as anteriores, UM TRONO PARA IRMÃS apresenta-nos o conto de duas irmãs (Sophia e Kate), órfãs, que lutam para sobreviver no mundo cruel e exigente de um orfanato. Um sucesso imediato. Mal posso esperar para por as mãos no segundo e no terceiro livro!”

–– Books and Movie Reviews, Roberto Mattos

De Morgan Rice, Bestseller #1, chega uma nova série inesquecível de fantasia.



Em UMA JÓIA PARA REALEZAS (Um Trono para Irmãs—Livro Cinco), Sophia, 17, ouve dizer que Sebastian, seu amor, está preso e em preparação para ser executado. Irá ela arriscar tudo por amor?



Sua irmã Kate, de 15 anos, luta para escapar do poder da bruxa – mas o poder pode ser demasiado forte. Kate pode ser forçada a pagar o preço do acordo que fez – e viver uma vida que não quer.



A rainha está furiosa com Lady D'Angélica por ela não conseguir conquistar seu filho, Sebastian. Ela está preparada para a sentenciar à máscara de chumbo. Mas Lady D'Angélica tem seus próprios planos, e não vai desistir tão facilmente.



Cora e Emeline chegam finalmente a Stonehome – e o que elas lá encontram surpreende-as.



O mais surpreendente de tudo, porém, é o irmão de Sophia e Kate, um homem que mudará seus destinos para sempre. Que segredos é que ele guarda sobre seus pais há muito desaparecidos?



UMA JÓIA PARA REALEZAS (Um Trono para Irmãs—Livro Cinco) é o quinto livro de uma deslumbrante nova série de fantasia repleta de amor, desgosto, tragédia, ação, aventura, magia, espadas, feitiçaria, dragões, destino e suspense de tirar o fôlego. Um livro que não se quer parar de ler. Está cheio de personagens que vão fazer com que você se apaixone, e com um mundo que você nunca vai esquecer.



O livro #6 da série será publicado em breve.



“[Um Trono para Irmãs] é um começo poderoso de uma série [que] irá produzir uma combinação de protagonistas corajosos e circunstâncias desafiantes para envolver completamente não apenas jovens adultos, mas também fãs de fantasia adulta que procuram histórias épicas alimentadas por amizades e adversários poderosos”

–-Midwest Book Review (Diane Donovan)





Morgan Rice

UMA JÓIA PARA REALEZAS




UMA JÓIA PARA REALEZAS




(UM TRONO PARA IRMÃS – LIVRO 5)




MORGAN RICE



Morgan Rice

Morgan Rice é a best-seller nº1 e a autora do best-selling do USA TODAY da série de fantasia épica ANEL DO FEITICEIRO, composta por dezassete livros; do best-seller nº1 da série MEMÓRIAS DE UM VAMPIRO, composta por doze livros; do best-seller nº1 da série TRILOGIA DA SOBREVIVÊNCIA, um thriller pós-apocalíptico composto por três livros; da série de fantasia épica REIS E FEITICEIROS, composta por seis livros; e da nova série de fantasia épica DE COROAS E GLÓRIA. Os livros de Morgan estão disponíveis em edições áudio e impressas e as traduções estão disponíveis em mais de 25 idiomas.



Morgan adora ouvir a sua opinião, pelo que, por favor, sinta-se à vontade para visitar www.morganricebooks.com e juntar-se à lista de endereços eletrónicos, receber um livro grátis, receber ofertas, fazer o download da aplicação grátis, obter as últimas notícias exclusivas, ligar-se ao Facebook e ao Twitter e manter-se em contacto!



Elogios à Morgan Rice

“Se você achou que não tinha mais razões para viver depois do fim da série O ANEL DO FEITICEIRO, você estava errado. Em A ASCENSÃO DOS DRAGÕES Morgan Rice criou o que promete ser outra série brilhante, nos submergindo em uma fantasia de duendes e dragões, de valor, honra, coragem, mágica e fé em seu destino. Morgan conseguiu novamente produzir um conjunto de personagens fortes que nos fazem torcer por eles a cada página… Recomendado para a biblioteca permanente de todos os leitores que amam um livro de fantasia bem escrito.”



    --Books and Movie Reviews, Roberto Mattos

“Um livro de fantasia cheio de ação que com certeza agradará os fãs dos livros anteriores de Morgan Rice, assim como fãs de obras como CICLO A HERANÇA de Christopher Paolini… Fãs do gênero de Ficção para Jovens Adultos vão devorar esta última obra de Rice e implorar por mais.”



    --The Wanderer,A Literary Journal (em referência à Ascensão dos Dragões)

“Um livro de fantasia espirituoso que tece em sua história elementos de mistério e intriga. Em Busca de Heróis é sobre criar coragem e descobrir um propósito de vida que leva ao crescimento, maturidade, e excelência… Para aqueles que procuram aventuras de fantasia com sentido, os protagonistas, recursos, e ações proporcionam um conjunto de encontros vigorosos que focam na evolução de Thor de uma criança sonhadora à um jovem adulto enfrentando probabilidades impossíveis de sobrevivência… É só o começo do que promete ser uma série jovem adulta épica”



    --Midwest Book Review (D. Donovan, Revisor de eBook)

“O ANEL DO FEITICEIRO tem todos os ingredientes para um sucesso imediato: tramas, contra tramas, mistério, corajosos cavaleiros, e relacionamentos florescentes repletos de corações partidos, decepções e traições. Te manterá entretido por horas, e vai agradar todas as idades. Recomendado para a biblioteca permanente de todos os leitores de fantasia.”



    --Books and Movie Reviews, Roberto Mattos

“Neste livro repleto de ação, primeiro da série épica de fantasia O Anel do Feiticeiro (que atualmente conta com 14 livros), Rice introduz aos leitores Thorgrin “Thor” McLeod de 14 anos, cujo sonho é se unir à Legião de Prata, os cavaleiros de elite que servem ao rei… A escrita de Rice é consistente e a premissa, intrigante.”



    --Publishers Weekly



Livros de Morgan Rice




OLIVER BLUE E A ESCOLA DE VIDENTES

A FÁBRICA MÁGICA (Livro 1)

O ORBE DE KANDRA (Livro 2)


AS CRÔNICAS DA INVASÃO

TRANSMISSÃO (Livro 1)

CHEGADA (Livro 2)

ASCENSÃO (Livro 3)


O CAMINHO DA ROBUSTEZ

APENAS OS DIGNOS (Livro n.º 1)


UM TRONO PARA IRMÃS

UM TRONO PARA IRMÃS (Livro n.º 1)

UMA CORTE PARA LADRAS (Livro n.º 2)

UMA CANÇÃO PARA ÓRFÃS (Livro n.º 3)

UMA NÊNIA PARA PRÍNCIPES (Livro n.º 4)

UMA JÓIA PARA REALEZAS (Livro n.º 5)


DE COROAS E GLÓRIA

ESCRAVA, GUERREIRA, RAINHA (Livro n.º 1)

VADIA, PRISIONEIRA, PRINCESA (Livro n.º 2)

CAVALEIRO, HERDEIRO, PRÍNCIPE (Livro n.º 3)

REBELDE, PEÃO, REI (Livro n.º 4)

SOLDADO, IRMÃO, FEITICEIRO (Livro n.º 5)

HEROÍNA, TRAIDORA, FILHA (Livro n.º 6)

GOVERNANTE, RIVAL, EXILADA (Livro n.º 7)

VENCEDORA, DERROTADA, FILHO (Livro n.º 8)


REIS E FEITICEIROS

A ASCENSÃO DOS DRAGÕES (Livro n.º 1)

A ASCENSÃO DOS BRAVOS (Livro n.º 2)

O PESO DA HONRA (Livro n.º 3)

UMA FORJA DE VALENTIA (Livro n.º 4)

UM REINO DE SOMBRAS (Livro n.º 5)

A NOITE DOS CORAJOSOS (Livro n.º 6)


O ANEL DO FEITICEIRO

EM BUSCA DE HERÓIS (Livro n.º 1)

UMA MARCHA DE REIS (Livro n.º 2)

UM DESTINO DE DRAGÕES (Livro n.º 3)

UM GRITO DE HONRA (Livro n.º 4)

UM VOTO DE GLÓRIA (Livro n.º 5)

UMA CARGA DE VALOR (Livro n.º 6)

UM RITO DE ESPADAS (Livro n.º 7)

UM ESCUDO DE ARMAS (Livro n.º 8)

UM CÉU DE FEITIÇOS (Livro n.º 9)

UM MAR DE ESCUDOS (Livro n.º 10)

UM REINADO DE AÇO (Livro n.º 11)

UMA TERRA DE FOGO (Livro n.º 12)

UM REINADO DE RAINHAS (Livro n.º 13)

UM JURAMENTO DE IRMÃOS (Livro n.º 14)

UM SONHO DE MORTAIS (Livro n.º 15)

UMA JUSTA DE CAVALEIROS (Livro n.º 16)

O DOM DA BATALHA (Livro n.º 17)


TRILOGIA DE SOBREVIVÊNCIA

ARENA UM: TRAFICANTES DE ESCRAVOS (Livro nº1)

ARENA DOIS (Livro n.º 2)

ARENA TRÊS (Livro n.º 3)


MEMÓRIAS DE UM VAMPIRO

TRANSFORMADA (Livro n.º 1)

AMADA (Livro n.º 2)

TRAÍDA (Livro n.º 3)

DESTINADA (Livro n.º 4)

DESEJADA (Livro n.º 5)

COMPROMETIDA (Livro n.º 6)

PROMETIDA (Livro n.º 7)

ENCONTRADA (Livro n.º 8)

RESSUSCITADA (Livro n.º 9)

COBIÇADA (Livro n.º 10)

PREDESTINADA (Livro n.º 11)

OBCECADA (Livro n.º 12)


Você sabia que eu já escrevi várias séries? Se você ainda não leu todas, clique na imagem abaixo e faça o download do começo de cada série!








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Copyright © 2018 por Morgan Rice. Todos os direitos reservados. Exceto conforme permitido pela Lei de Direitos Autorais dos EUA de 1976, nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, ou armazenada numa base de dados ou sistema de recuperação, sem a autorização prévia da autora. Este e-book está licenciado para seu uso pessoal. Este e-book não pode ser revendido ou cedido a outras pessoas. Se quiser compartilhar este livro com outra pessoa, por favor, compre uma cópia adicional para cada destinatário. Se está lendo este livro e não o comprou, ou se ele não foi comprado apenas para seu uso pessoal, por favor, devolva-o e adquira sua própria cópia. Obrigado por respeitar o trabalho árduo desta autora. Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, empresas, organizações, lugares, eventos e incidentes são produto da imaginação da autora ou foram usados de maneira fictícia. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é mera coincidência.




CAPÍTULO UM


Sophia observava o rapaz à sua frente, e mesmo sabendo que ela deveria estar lhe fazendo várias perguntas, isso não significava que ela duvidava quem ele era, nem por um instante. O toque de sua mente com a dela era muito parecido com o toque de Kate. Seu semblante ali sob a luz do sol era muito parecido.

Ele era seu irmão. Não tinha como ser nada mais. Só tinha um problema com isso…

“Como”? Perguntou Sophia. “Como é que você é meu irmão? Eu não… eu não lembro de um irmão. Eu nem sei seu nome.”

“Eu sou o Lucas”, ele disse. Ele deu um pequeno passo até o cais onde ela e Jan esperavam. Ele se movia com a suavidade de um dançarino, as ripas de madeira aparentemente cedendo embaixo de seus pés. “E você é a Sophia”.

Sophia assentiu. E o abraçou. Parecia tão natural abraça-lo, tão óbvio. Ela o abraçou fortemente, como se ele fosse desaparecer quando ela o soltasse. Ainda assim, ela o soltou, pelo menos para que pudessem respirar.

“Eu só descobri seu nome, e o de Kate, pouco tempo atrás”, ele disse. Para a surpresa de Sophia, Sienne, o gato da floresta, roçava-se contra as pernas dele, entrelaçando-se em Lucas antes de voltar para Sophia. “Meus mentores me contaram quando eu atingi a maioridade. Quando recebi sua mensagem, vim o mais rápido que pude. Amigos em Silk Lands me emprestaram um barco.”

Parecia que seu irmão tinha amigos poderosos. Isso ainda não respondia sua maior pergunta.

“Como é que posso ter um irmão?” ela perguntou. “Eu não me lembro de você. Eu nunca vi foto sua em nenhum lugar em Monthys”.

“Eu estava… escondido,” disse Lucas. “Nossos pais sabiam que a paz com a Viúva era frágil, e não aguentaria a existência de um filho. Eles espalharam a história de que eu tinha morrido.”

Sophia cambaleou um pouco. Ela sentiu a mão de Jan em seu braço, o toque de seu primo a firmando.

“Você está bem?” ele perguntou. “A criança…”

Você está grávida? Novamente parecia diferente de quando alguém com o dom tocava sua mente. Parecia familiar. Parecia certo, de alguma forma. Ela se sentiu em casa.

Eu estou, Sophia mandou de volta com um sorriso. “Mas nós devemos conversar em voz alta por enquanto.”

Ela não tinha certeza se Jan já sabia que seu irmão tinha poderes parecidos com os seus, mas agora saberia. Era justo avisá-lo, e dar-lhe uma chance de proteger seus pensamentos.

“Precisamos saber de algumas coisas”, disse Jan. Ele parecia desconfiado de um jeito que Sophia não estava, talvez porque ele não havia sentido o toque da mente. “Como podemos ter certeza de que você é quem diz ser?”

“Você é Jan Skyddar, filho de Lars Skyddar?” disse Lucas. “Meus mentores me contaram tudo sobre você, mas eles me avisaram para não te contatar enquanto eu não estivesse pronto. Eles disseram que seria perigoso. Que você não me aceitaria. Talvez eles estivessem certos.”

“Ele é meu irmão, Jan,” disse Sophia. Ela entrelaçou o braço que Jan não segurava no braço de Lucas. “Eu sinto seus poderes, e… bem, olhasó pra ele.”

“Mas não existe nenhum registro dele” insistiu Jan. “Oli teria mencionado se existisse um filho Danse. Ele sempre mencionou você e a Kate.”

“Parte do processo de me esconder foi ocultar qualquer traço meu,” disse Lucas. “Eu imagino que eles tenham dito que eu morri quando bebê. Eu não te culpo por não acreditar em mim.”

Sophia culpava Jan, sim, apesar de entender. Ela queria que isso tudo fosse real. Ela queria que todos simplesmente aceitassem seu irmão.

“Nós o levaremos ao castelo,” disse Sophia. “Se alguém sabe alguma coisa disso, é meu tio.”

Jan pareceu aceitar, e eles começaram a voltar por Ishjemme, passando pelas casas de madeira e as árvores que brotavam entre elas. Para Sophia, a presença de Lucas parecia natural de alguma maneira, como se um fragmento de sua vida, que ela não sabia estar perdido, tivesse aparecido por algum motivo.

“Quantos anos você tem?” perguntou Sophia.

“Dezesseis,” disse ele. Isso o colocava entre ela e Kate em idade, não o mais velho, mas o menino mais velho. Sophia entendia como isso teria sido perigoso no Reino da Viúva. Mas o desaparecimento de Lucas não as tinha protegido, não é?

“E você tem vivido em Silk Lands?” perguntou Jan. A pergunta tinha um tom interrogatório.

“Lá, e em alguns outros lugares nas ilhas distantes,” respondeu Lucas. Ele enviou uma imagem para Sophia de uma casa que era grandiosa, mas plana, os cômodos divididos por pedaços de seda ao invés de paredes sólidas. “Eu pensei que era normal crescer criado por mentores. Foi assim para você?”

“Na verdade, não.” Sophia hesitou por um momento, e então enviou-lhe uma imagem da Casa dos Não Reclamados. Ela viu Lucas, seu irmão, cerrar os dentes.

“Eu vou mata-los,” ele prometeu, e aparentemente a intensidade dessa declaração o tornou mais aceitável a Jan, pois seu primo balançava a cabeça concordando.

“A Kate foi mais rápida que você,” Sophia o assegurou. “Você vai gostar dela.”

“Pelo jeito que as coisas estão indo, eu espero que ela goste de mim,” respondeu ele.

Sophia não tinha dúvida disso. Lucas era o irmão delas, e Kate perceberia isso tão claramente quanto Sophia. E parecia que os dois combinavam também. Eles não eram os polos opostos que Kate e Sophia frequentemente pareciam ser.

“Se você foi criada… lá,” disse Lucas, “como conseguir chegar até aqui, Sophia?”

“É uma história longa e complicada”, assegurou Sophia.

Seu irmão deu de ombros. “Bem, parece uma longa caminhada de volta ao castelo, e eu gostaria de saber. Eu sinto que já perdi muito do que aconteceu na sua vida.”

Sophia fez seu melhor, contando sua história aos poucos, fugindo da Casa dos Não Reclamados, se infiltrando no palácio, se apaixonando por Sebastian, tendo que partir, sendo recapturada…

“Parece que você passou por muita coisa,” disse Lucas. “E você nem começou a me contar como que tudo isso te trouxe aqui.”

“Havia uma artista: Laurette van Klett.”

“A que fez um retrato de você, inclusive com a marca do orfanato?” disse Lucas. Parecia que ele já a tinha colocado junto aos outros que a tinham atormentado, e Sophia não queria isso.

“Ela pinta o que vê,” defendeu Sophia. Essa era uma das pessoas de sua jornada em relação à qual ela não tinha ressentimento. “E ela viu a semelhança em uma pintura entre mim e minha mãe. Se não fosse por isso, eu nem saberia por onde começar a procurar.”

“Então todos devemos nossa gratidão a ela,” disse Jan. “E você, Lucas? Você mencionou mentores antes. O que eles te ensinaram? O que eles te ensinaram a ser?”.

Novamente, Sophia sentiu que seu primo a tentava proteger de seu irmão.

“Eles me ensinaram idiomas e política, como lutar, e pelo menos o início de como usar os talentos que todos nós temos,” explicou Lucas.

“Eles te ensinaram como ser um rei na linha de sucessão?” perguntou Jan.

Agora Sophia compreendia um pouco de sua preocupação. Ele pensava que Lucas estava lá para tentar tomar seu lugar. Porém, honestamente, ela suspeitava que seu primo estava mais preocupado do que ela mesma. Não era como se ela tivesse pedido para ser chamada de herdeira do trono do Reino da Viúva.

“Você acha que estou aqui para reivindicar o trono?” perguntou Lucas. Ele balançou a cabeça. “Eles me ensinaram a ser nobre, do melhor jeito que podiam. Eles também me ensinaram que não há nada mais importante que família. Nada. Foi por isso que vim.”

Sophia podia sentir sua sinceridade mesmo que Jan não pudesse. Era suficiente para ela—mais do que suficiente. Isso a ajudou a sentir-se… segura. Ela e Kate tinham dependido uma da outra por tanto tempo. Agora, ela tinha sua família estendida, seus primos, seu tio… e um irmão. Sophia mal sabia dizer o quanto isso a fazia sentir como se seu mundo tivesse se expandido.

A única coisa que poderia melhorar a situação era se Sebastian estivesse ali. Sua ausência era como um buraco no mundo que não podia ser preenchido.

“Então,” disse Lucas. “O pai de sua criança é o filho da mulher que mandou matar nossos pais?”

“Você acha que isso deixa tudo muito complicado?” perguntou Sophia.

Lucas meio que deu de ombros. “Complicado, sim. Muito complicado? Isso você que me diz. Por que ele não está aqui?”

“Eu não sei,” admitiu Sophia. “Eu queria que ele estivesse.”

Finalmente, eles chegaram ao castelo, atravessando-o até o saguão. As notícias da chegada de Lucas devem ter se espalhado à frente deles, pois todos os primos estavam lá, até Rika, que tinha um curativo cobrindo a ferida em seu rosto de quando defendeu Sophia. Sophia foi até ela primeiro, pegando em suas mãos.

“Você está bem?” ela perguntou.

“Você está?” Rika respondeu de volta. “O bebê está?”

“Está tudo bem,” Sophia a assegurou. Ela olhou à sua volta. “A Kate está aqui?”

Ulf balançou a cabeça. “Frig e eu ainda não a vimos hoje.”

Hans tossiu. “Nós não podemos esperar. Precisamos entrar. O pai está esperando.”

Ele soava muito sério, mas Sophia ainda se lembrava de como havia sido quando ela chegou, e como as pessoas tinham sido cautelosas com ela. Em Ishjemme, eles eram cuidadosos quando alguém afirmava ser um deles. Sophia sentiu-se quase tão nervosa enquanto esperava as portas se abrirem como se sentiu pela primeira vez, quando era ela reivindicando sua herança.

Lars Skyddar estava parado em frente ao trono ducal, aguardando-os com uma expressão séria como se pronto para receber um embaixador. Sophia segurava as mãos de seu irmão enquanto andavam, apesar disso parecer gerar um olhar de confusão em seu tio.

“Tio,” disse Sophia, “esse é Lucas. Ele é um dos que chegaram de Silk Lands. Ele é meu irmão.”

“Eu lhe disse que isso não é possível,” disse Jan. “Que—”

Seu tio levantou uma mão. “Havia um menino. Eu pensei… eles me disseram, até a mim, que ele havia morrido.”

Lucas deu um passo à frente. “Eu não morri. Eu estava escondido.”

“Em Silk Lands?”

“Com o Oficial Ko,” disse Lucas.

O nome parecia ser suficiente para o tio de Sophia. Ele se aproximou e deu em Lucas o mesmo abraço esmagador e acolhedor que ele havia dado em Sophia quando a havia reconhecido.

“Eu pensei ter sido abençoado suficiente com a volta de minhas sobrinhas,” ele disse. “Eu não pensei que eu poderia ter um sobrinho também. Precisamos celebrar!”

Pareceu óbvio que deveriam realizar um banquete, assim como era óbvio que eles não tinham tempo para preparar um, então quase que imediatamente haviam servos correndo em quase todas as direções, tentando preparar as coisas. Sophia e Lucas praticamente se tornaram um ponto imóvel no âmago de tudo, parados ali enquanto seus primos corriam de um lado pro outro tentando preparar tudo.

As coisas são sempre caóticas assim? Perguntou Lucas, enquanto meia dúzia de criados passavam correndo com pratos.

Só quando chega um membro novo da família, eu acho, Sophia enviou de volta. Ela ficou ali parada, se perguntando se deveria fazer a próxima pergunta.

“O que quer que seja, pergunte,” disse Lucas. “Eu sei que devem ter muitas coisas que você precisa saber.”

“Você disse antes que foi criado por mentores,” disse Sophia. “Isso significa que… os meus, os nossos pais não estão em Silk Lands?”

Lucas balançou a cabeça. “Ao menos não que eu tenha encontrado. Eu tenho procurado desde que atingi a maioridade.”

“Você os tem procurado também? Seus mentores não sabiam onde eles estavam?” perguntou Sophia. Ela suspirou. “Me desculpe. Parece que eu não estou feliz de ter ganho um irmão. Eu estou. Eu estou muito feliz que você está aqui.”

“Mas seria perfeito se estivéssemos todos aqui?” Lucas adivinhou. “Eu entendo, Sophia. Eu ganhei duas irmãs, e primos…, mas eu sou ganancioso o suficiente para querer pais também.”

“Eu não acho que isso conta como ganância,” disse Sophia com um sorriso.

“Talvez sim, talvez não. O Oficial Ko disse que as coisas são como são, e desejar que sejam diferentes só gera dor. Para ser sincero, ele geralmente dizia isso enquanto bebia vinho e era massageado com os óleos mais finos.”

“Você sabe alguma coisa sobre nossos pais e para aonde foram?” perguntou Sophia.

Lucas assentiu. “Eu não sei aonde foram,” ele disse. “Mas eu sei como encontra-los”.




CAPÍTULO DOIS


Kate abriu os olhos enquanto a luz ofuscante diminuia, tentando entender onde estava e o que havia acontecido. A última memória que tinha era dela lutando para chegar até uma imagem da fonte de Siobhan, fincando sua espada na esfera de energia que a havia acorrentado à bruxa como aprendiz. Ela havia partido o elo. Ela havia ganho.

Agora, parecia que ela estava do lado de fora, à céu aberto, sem sinal da cabana de Haxa ou das cavernas que por trás desta. A paisagem parecia um pouco como parted de Ishjemme que ela já havia visto, mas os prados planos e pedaços de florestas poderiam estar ali. Kate esperava que sim. A alternativa era que a mágica a tinha transportado para algum canto do mundo que ela desconhecia.

Apesar de ser estranho estar num lugar desconhecido, Kate se sentiu livre pela primeira vez em muito tempo. Ela tinha conseguido. Ela havia lutado contra tudo que Siobhan, e sua própria mente, tinham colocado em seu caminho, e ela tinha se libertado do domínio da bruxa. Comparado a isso, encontrar o caminho de volta ao castelo de Ishjemme parecia algo fácil.

Kate escolheu uma direção aleatória e partiu, andando com propósito.

Ela marchou adiante, tentando pensar no que faria com sua recém encontrada liberdade. Ela protegeria Sophia, obviamente. Isso nem era necessário mencionar. Ela ajudaria a criar sua sobrinha ou sobrinho quando viesse ao mundo. Talvez, ela conseguisse buscar o Will, apesar de que com a guerra isso poderia ser difícil. E ela encontraria seus pais. Sim, isso parecia uma coisa boa a fazer. Sophia não iria poder sair pelo mundo a procura deles conforme sua gravidez progredisse, mas Kate poderia.

“Primeiro de tudo, devo descobrir onde estou,” disse ela. Ela olhou em sua volta, sem reconhecer ainda qualquer ponto de referência. Havia, entretanto, uma mulher trabalhando um pouco a frente em um campo, debruçada sobre um rastelo roçando o mato. Talvez ela pudesse ajudar.

“Olá!” exclamou Kate.

A mulher olhou para ela. Ela era idosa, sua face marcada por muitas estações trabalhando no campo. Para ela, Kate provavelmente parecia uma ladra ou bandida, já que estava armada. Mesmo assim, ela sorriu quando Kate se aproximou. As pessoas eram amigáveis em Ishjemme.

“Olá, querida,” ela disse. “Você me diria seu nome?”

“Sou a Kate.” E, porque isso não parecia suficiente, e porque ela podia reivindicar agora, “Kate Danse, filha de Alfred e Christina Danse.”

“Um bom nome,” disse a mulher. “O que te traz por aqui?”

“Eu… não sei,” admitiu Kate. “Estou um tanto quanto perdida. Esperava que você pudesse me ajudar a achar meu caminho.”

“É claro,” disse a mulher. “É uma honra que você tenha colocado seu caminho em minhas mãos. Você está fazendo isso afinal, não é?”

Parecia um jeito estranho de falar, mas Kate não fazia ideia de onde estava. Talvez fosse só o jeito que as pessoas falassem por aqui.

“Sim, suponho que sim,” ela disse. “Estou tentando achar meu caminho de volta para Ishjemme.”

“É claro,” disse a mulher. “Eu sei a direção para toda parte. Porém, eu acredito que uma mão lava a outra.” Ela puxou o rastelo. “Eu não tenho muita força de sobra esses dias. Você me daria sua força, Kate?”

Se era isso que ela tinha que fazer para conseguir voltar, Kate trabalharia em dúzias de campos. Não poderia ser mais difícil do que as tarefas da Casa dos Não Reclamados, ou do que o trabalho mais agradável na ferraria de Thomas.

“Sim,” disse Kate, segurando a mão para pegar o rastelo.

A outra mulher riu e deu um passo pra trás, puxando o manto que vestia. O manto caiu, e conforme o fez, tudo sobre a mulher pareceu mudar. Siobhan estava agora a sua frente, e toda a paisagem em torno delas mudou, se tornando algo muito familiar.

Ela ainda estava na zona de sonho do ritual.

Kate se jogou para frente, sabendo que sua única chance agora era matar Siobhan, mas a mulher da fonte foi mais rápida. Ela sacudiu seu manto, e de alguma foram se tornou uma bolha de puro poder, cujas paredes agarravam Kate tão firmemente como uma cela.

“Você não pode fazer isso,” exclamou Kate. “Você não tem mais poder sobre mim!”

“Eu não tinha poder,” disse Siobhan. “Mas você acabou de me dar seu caminho, seu nome, e sua força. Aqui, neste lugar, estas coisas significam algo.”

Kate socou a parede da bolha. A parede não cedeu.

“Te garanto que você não quer enfraquecer essa bolha, querida Kate,” disse Siobhan. “Você está muito longe do caminho prateado agora.”

“Você não pode me forçar a ser sua aprendiz de novo,” disse Kate. “Você não vai me forçar a matar por você.”

“Ah, já passamos dessa fase,” disse Siobhan. “Se eu soubesse que você me daria tanto trabalho, nunca teria te tornado minha aprendiz em primeiro lugar, mas algumas coisas não conseguem ser previstas, até mesmo por mim.”

“Se eu dou tanto trabalho assim, porque não me soltar?” tentou Kate. Mesmo enquanto dizia, ela sabia que não funcionaria assim. Orgulho, se nada mais, levaria Siobhan a fazer mais.

“Te soltar?” disse Siobhan. “Você sabe o que fez, quando fincou a espada forjada com meu próprio feitiço na minha fonte? Quando você partiu nossa ligação, sem se preocupar com as consequências?”

“Você não me deu escolha,” disse Kate. “Você—”

“Você destruiu o cerne do meu poder,” disse Siobhan. “Tanto poder, aniquilado em um instante. Eu mal tive forças para me agarrar a vida. Mas eu tenho meu conhecimento, e meios de sobreviver.”

Ela gesticulou, e a cena por trás da bolha se transformou. Agora Kate reconhecia o interior da cabana de Haxa, toda esculpida com feitiços e figuras. A bruxa feiticeira estava sentada em uma cadeira, observando o corpo imóvel de Kate. Ela claramente havia arrastado ou carregado Kate da área de ritual no fundo da caverna.

“Minha fonte me sustentou,” disse Siobhan. “Agora eu preciso de um recipiente para fazer o mesmo. E por acaso tem um convenientemente vazio aqui.”

“Não!” exclamou Kate, socando a bolha novamente.

“Ah, não se preocupe,” disse Siobhan. “Eu não vou ficar lá muito tempo. Só o tempo suficiente para matar sua irmã, eu acho.”

Kate arrepiou só de pensar. “Por quê? Por que você quer a Sophia morta? Só para me machucar? Me mate ao invés. Por favor.”

Siobhan ponderou. “Você realmente daria sua vida por ela, não é? Você mataria por ela. Você morreria por ela. E agora nada disso é suficiente.”

“Por favor, Siobhan, estou te implorando!” clamou Kate.

“Se você não queria fazer isso, deveria ter feito o que eu mandei,” disse Siobhan. “Com sua ajuda, eu poderia ter colocado as coisas em ordem de modo que minha casa estaria segura para sempre. E eu teria poder. Agora, você tomou isso de mim, e eu preciso viver.”

Kate ainda não entendia por que isso significava que Sophia tinha que morrer.

“Viva em meu corpo então,” disse ela. “Mas não machuque Sophia. Você não tem motivo para machucá-la.”

“Eu tenho todos os motivos,” disse Siobhan. “Você acha que me disfarçar como a irmã mais nova de uma governante é suficiente? Você acha que morrer em uma única existência humana é suficiente? Sua irmã carrega uma criança. Uma criança que governará. Eu vou moldá-la antes de nascer. Eu vou mata-la e arrancar a criança de dentro dela. Eu vou toma-la e crescer com ela. Eu vou me tornar tudo o que eu preciso ser.”

“Não,” disse Kate quando percebeu quão horroroso era esse plano. “Não.”

Siobhan riu de um jeito cruel. “Eles matarão seu corpo quando eu matar Sophia,” ela disse. “E você ficará largada lá, entre mundos. Eu espero que você aproveite sua liberdade, aprendiz.”

Ela murmurou algumas palavras e por um momento pareceu que ela tinha desvanecido. Porém, a imagem da cabana de Haxa não desapareceu, e Kate gritou quando viu seu próprio corpo tomar fôlego e acordar.

“Haxa, não, não sou eu!” ela gritou, e tentou enviar a mesma mensagem com seu poder. Nada aconteceu.

Porém, do outro lado daquela fina divisa, muito acontecia. Siobhan suspirou com seu pulmão, abriu seus olhos, e sentou-se com o seu corpo.

“Calma, Kate,” disse Haxa, não se levantando. “Você passou por muita coisa.”

Kate assistiu seu corpo tatear à sua volta hesitante, como se tentando descobrir onde estava. Para Haxa, deve ter parecido como se Kate ainda estivesse desorientada pela sua experiência, mas Kate podia ver que Siobhan estava testando seus braços e pernas, descobrindo o que eles conseguiam fazer.

Ela finalmente se levantou, instavelmente. Seu primeiro passo foi cambaleante, mas seu segundo foi mais confiante. Ela desembainhou a espada de Kate, abanando-a pelo ar como se testando seu equilíbrio. Haxa parecia um pouco preocupada com isso, mas não se retraiu. Ela pensou que era provavelmente algo que Kate faria para testar seu equilíbrio e coordenação.

“Você sabe onde está?” perguntou Haxa.

Siobhan a encarou através dos olhos de Kate. “Sim, eu sei.”

“E você sabe quem eu sou?”

“Você é aquela que se chama de Haxa para esconder seu nome. Você é a guardiã dos feitiços, e não era minha inimiga até você decidir ajudar minha aprendiz.”

De onde ela estava presa, Kate viu a expressão de Haxa mudar para uma de terror.

“Você não é a Kate.”

“Não,” disse Siobhan, “Eu não sou.”

Ela se moveu então, com toda a velocidade e força do corpo de Kate, atacando com sua espada de modo que em um piscar de olhos ela atravessou o peito de Haxa. A espada projetou-se para o outro lado, atravessando-a.

“O problema com nomes,” disse Siobhan, “é que eles só funcionam quando você tem fôlego para usá-los. Você não deveria ter ficado contra mim, bruxa feiticeira”.

Ela deixou Haxa cair, e então olhou para cima, como se soubesse de onde era o ponto de vista da Kate.

“Ela morreu por sua causa. Sophia morrerá por sua causa. Sua criança, e esse reino, serão meus por sua causa. Eu quero que você pense nisso, Kate. Pense nisso quando a bolha murchar e seus medos te encontrarem.”

Ela balançou uma mão, e a imagem desapareceu. Kate se jogou contra a bolha, tentando chegar até ela, tentando sair dali e encontrar um jeito de impedir Siobhan.

Ela parou quando viu que as coisas em torno dela se transformaram em uma paisagem acinzentada agora que Siobhan não estava mais moldando-a para enganá-la. Havia um brilho fraco prateado à distância que poderia ser o caminho seguro, mas que estava tão longe que poderia muito bem nem estar lá.

Figuras começaram a aparecer pela névoa. Kate reconheceu as faces de pessoas que ela havia matado; freiras e soldados, o mestre de treino do Lorde Cranston e os homens do Mestre dos Corvos. Ela sabia que eram só imagens em vez de fantasmas, mas isso não fez nada para diminuir o medo dentro dela, fazendo sua mão tremer e a espada que carregava parecer inútil.

Gertrude Illiard estava lá novamente, segurando um travesseiro.

“Eu vou ser a primeira,” ela prometeu. “Eu vou te sufocar como você me sufocou, mas você não vai morrer. Não aqui. Não importa o que nós façamos com você, você não morrerá, mesmo se você implorar por isso.”

Kate olhou à sua volta, e cada um deles tinha um tipo de instrumento, quer fosse uma faca ou um chicote, uma espada ou corda para estrangular. Cada um deles parecia ansiar com a necessidade de machuca-la, e Kate sabia que eles cairiam em cima dela sem piedade assim que pudessem.

Ela podia ver o campo desaparecendo agora, se tornando mais translúcido. Kate agarrou firmemente sua espada e se preparou para o que estava por vir.




CAPÍTULO TRÊS


Emeline seguiu Asha, Vincente, e os outros através do pântano além de Strand, segurando o braço de Cora para que não se perdessem na névoa que subia do pântano.

“Nós conseguimos”, disse Emeline. “Encontramos Stonehome”.

“Eu acho que Stonehome nos encontrou,” Cora observou.

Esse era um bom ponto, levando em consideração que os habitantes deste lugar haviam resgatado-as da execução. Emeline ainda se lembrava do calor ardente das piras quando fechava os olhos, o fedor pungente da fumaça. Ela não queria se lembrar.

“Mas também,” disse Cora, “Eu acho que, para encontrar um lugar, você deve conseguir enxergá-lo.”

Eu gosto desse seu animal de estimação, Asha enviou a Emeline. Ela sempre fala tanto assim?

A mulher que parecia ser um dos líderes de Stonehome continuou andando, seu casaco longo arrastando, seu largo chapéu evitando a umidade.

Ela não é meu animal de estimação, Emeline enviou para ela. Ela pensou em dizer isso em voz alta, pela Cora, mas foi por ela que não o fez.

Por que alguém ficaria com uma Normal? Perguntou Asha.

“Ignore a Asha,” disse Vincente, em voz alta. Ele era alto o suficiente para ver tudo por cima delas, mas apesar disso, e do cutelo que carregava, ele parecia o mais amigável dos dois. “Ela tem dificuldade em acreditar que aqueles sem nosso dom possam fazer parte da nossa comunidade. Felizmente, não são todos nós que pensamos assim. Quanto à névoa, é uma de nossas proteções. Aqueles que procuram Stonehome para prejudica-la vagueiam sem acha-la. Eles se perdem.”

“E nós podemos caçar aqueles que vêm para nos machucar,” disse Asha, com um sorriso não muito reconfortante. “Mas, estamos quase lá. A névoa se levantará logo.”

Se levantou, e foi como pisar em uma ilha rodeada pela névoa, a terra se elevando pra além dela em uma grande área que era facilmente maior do que Ashton foi um dia. Não que fosse cheio de casas, como a cidade era. Pelo contrário, a maior parte parecia terras de pastagem, ou terrenos onde as pessoas estavam trabalhando para plantar vegetais. Dentro desse perímetro de terra fértil tinha uma muralha de pedras da altura do ombro de uma pessoa, situada em frente à uma vala de modo que parecia uma estrutura de defesa em vez de somente um marco. Emeline sentiu uma fraca faísca de poder e imaginou se talvez a muralha representasse mais do que parecia.

No interior, havia uma série de casas de pedra e turfa: pequenos chalés com telhados de turfa e relva, casas redondas que pareciam estar lá desde sempre. No centro de tudo havia um círculo de pedras, parecido com os outros na planície, exceto que esse era maior, e cheia de pessoas.

Eles haviam encontrado Stonehome finalmente.

“Venham,” disse Asha, andando rapidamente em direção à Stonehome. “Nós te mostraremos tudo. Eu vou garantir que ninguém confunda vocês com invasores e vos matem.”

Emeline a encarou, e depois olhou para Vincente.

“Ela é sempre assim?” ela perguntou.

“Geralmente ela é pior,” disse Vincente. “Mas ela ajuda a nos proteger. Vamos, vocês duas precisam ver sua nova casa.”

Eles desceram em direção à vila de pedra, os outros seguindo atrás, ou se afastando, correndo aos campos para falar com seus amigos.

“Esse lugar parece muito bonito,” disse Cora. Emeline ficou feliz que Cora pareceu gostar. Ela não tinha certeza do que faria se sua amiga decidisse que Stonehome não era o santuário que ela esperava.

“É mesmo,” concordou Vincente. “Eu não tenho certeza quem o descobriu, mas ele se tornou rapidamente um lugar para pessoas como nós.”

“Aqueles com poderes,” disse Emeline.

Vincente deu de ombros. “Isso é o que a Asha diz. Pessoalmente, eu prefiro pensar que é um lugar para todos os rejeitados. Vocês duas são bem-vindas aqui.”

“Simples assim?” perguntou Cora.

Emeline imaginou que sua suspeita tinha muito a ver com as coisas que elas haviam visto no caminho. Parecia que praticamente toda pessoa que elas haviam encontrado estava determinada a rouba-las, escraviza-las, ou pior. Ela tinha de admitir que talvez ela tenha compartilhado desses desejos, porém as pessoas aqui eram de tantas maneiras parecida com ela. Ela queria poder confiar neles.

“Os poderes de sua amiga fazem dela uma de nós, porém você… você foi uma das contratadas?”

Cora assentiu.

“Eu sei como era,” disse Vincente. “Eu cresci em um lugar onde me diziam que eu deveria pagar pela minha liberdade. A Asha também. Ela pagou por isso com sangue. É por isso que ela é tão cautelosa em relação a quem ela confia.”

Ao ouvir isso, Emeline se pegou pensando em Kate. Ela imaginou o que havia acontecido com a irmã de Sophia. Teria ela conseguido achar Sophia? Estaria ela a caminho de Stonehome também, ou tentando achar Ishjemme para estar com sua irmã? Não tinha como saber, mas Emeline tinha esperança.

Elas desceram até a vila, seguindo Vincente. À primeira vista, parecia uma vila normal, mas conforme ela chegava perto, Emeline conseguia ver as diferenças. Ela conseguia ver as marcas dos feitiços e encantos cravados nas pedras e nas madeiras, ela sentia a pressão de dúzias de pessoas com o dom pra magia no mesmo lugar.

“É tão quieto aqui,” disse Cora.

Podia parecer silencioso para ela, mas para Emeline, o ar parecia vivo com as conversas de pessoas se comunicando de mente a mente. Parecia ser tão comum quanto falar em voz alta aqui, talvez mais ainda.

Haviam outras coisas também. Ela já havia visto o que o curandeiro, Tabor, podia fazer, mas haviam outros usando outros talentos. Um garoto parecia estar brincando com uma bola sem tocar em nada. Um homem estava acendendo fogo, mas parecia não haver qualquer chama. Havia até um ferreiro trabalhando sem fogo, o metal parecendo responder ao seu toque como uma coisa viva.

“Todos temos nossos dons,” disse Vincente. “Nós buscamos informações para podermos ajudar aqueles com poderes a expressa-los o máximo que puderem.”

“Você teria gostado da nossa amiga Sophia,” disse Cora. “Ela parecia ter todo tipo de poder.”

“Indivíduos verdadeiramente poderosos são raros,” disse Vincente. “Os que parecem mais fortes frequentemente são os mais limitados.”

“E mesmo assim você conseguiu mobilizar uma névoa que se espalhou por vários quilômetros,” Emeline ressaltou. Ela sabia que era necessário mais do que um estoque de poder. Muito mais.

“Nós fazemos isso juntos,” disse Vincente. “Se você ficar, você provavelmente contribuirá para isso, Emeline.”

Ele apontou para o círculo no centro da vila, onde algumas pessoas estavam sentadas em pedras. Emeline podia sentir o mover dos poderes lá, mesmo que parecesse que eles não estavam fazendo nada mais extenuante do que ficar encarando. Enquanto ela observava, um deles se levantou, com uma aparência exausta, e outro se moveu para pegar o lugar deste.

Emeline não havia pensado nisso. O mais poderoso deles obteve seu poder canalizando energia de outros lugares. Ela já havia ouvido falar de bruxas que roubavam vidas de outros, e Sophia parecia obter poder da própria terra. Isso até que fazia sentido, considerando quem ela era. Porém, isto… isto era uma vila inteira de pessoas com poderes canalizando-os juntos para se tornarem mais do que a soma das partes. Quanto poder eles conseguiam criar fazendo isso?

“Olha, Cora,” ela disse, apontando. “Eles estão protegendo a vila inteira.”

Cora observou. “Isso… qualquer um consegue fazer isso?”

“Qualquer um com uma faísca de poder,” disse Vincente. “Se alguém normal fosse tentar, ou nada aconteceria, ou…”

“Ou?” perguntou Emeline.

“Sua vida seria sugada. Não é seguro tentar.”

Emeline podia ver o desconforto de Cora ouvindo isso, mas não pareceu durar. Ela estava ocupada observando a vila a sua volta, como se tentando entender como tudo funcionava.

“Venham,” disse Vincente. “Há uma casa vazia por aqui.”

Ele mostrou o caminho até um chalé de pedra que não era muito grande, mas parecia grande o suficiente para as duas. A porta rangeu quando Vincente a abriu, mas Emeline acreditava que isso poderia ser consertado. Se ela conseguia aprender a guiar um barco ou um vagão, ela conseguia aprender a consertar uma porta.

“O que nós faremos aqui?” perguntou Cora.

Vincente sorriu. “Vocês vão viver aqui. Nossas fazendas produzem comida suficiente, e nós dividimos com qualquer um que ajude com o trabalho da vila. As pessoas contribuem com o que elas podem. Aqueles que conseguem trabalhar com metal ou madeira o fazem para construir ou vender. Aqueles que conseguem lutar, trabalham protegendo a vila, ou caçam. Nós achamos uso para qualquer talento.”

“Eu passei minha vida passando maquiagem em nobres enquanto eles se preparavam para festas,” disse Cora.

Vincente deu de ombros. “Bom, tenho certeza que você encontrará alguma coisa. E temos celebrações aqui também. Você encontrará um jeito de se encaixar aqui”.

“E se a gente quiser partir?” perguntou Cora.

Emeline olhou à sua volta. “Por que alguém iria querer partir? Você não quer, não é?”

Ela fez o impensável então, e mergulhou na mente de sua amiga sem pedir permissão. Ela conseguia sentir suas dúvidas lá, mas também a esperança de que ficaria tudo bem. Cora queria conseguir ficar. Ela só não queria se sentir como um animal engaiolado. Ela não queria estar presa novamente. Emeline conseguia entender isso, e relaxou. Cora iria ficar.

“Eu não,” disse Cora, “mas… eu preciso saber que isso tudo não é um truque, ou um tipo de prisão. Eu preciso saber que eu não sou uma contratada de novo, mesmo que não me chamem disso.

“Você não é,” disse Vincente. “Nós esperamos que você fique, mas se você decidir partir, nós só pedimos que mantenha nossos segredos. Esses segredos protegem Stonehome, mais do que a névoa, mais do que nossos guerreiros. Agora, vou deixa-las se familiarizarem. Quando estiverem prontas, venham para a casa redonda no centro da vila. Flora cuida da cantina lá, e teremos comida para vocês.”

Ele partiu, e agora Emeline e Cora podiam checar sua casa nova.

“É pequena,” disse Emeline. “Eu sei que você costumava morar em um palácio.”

“Eu costumava morar em qualquer canto de um palácio que eu pudesse encontrar para dormir,” respondeu Cora. “Comparado com uma dispensa ou qualquer canto vazio, isso é enorme. Apesar de que precisa de uns consertos.”

“Nós podemos consertar,” disse Emeline, já olhando a sua volta para as possibilidades. “Nós atravessamos metade do reino. Nós podemos fazer um chalé melhor para morarmos.”

“Você acha que Kate ou Sophia algum dia virão pra cá?” perguntou Cora.

Emeline estava se perguntando a mesma coisa. “Eu acho que Sophia estará ocupada em Ishjemme,” ela disse. “Com sorte, ela realmente encontrou sua família.”

“E você encontrou a sua, mais ou menos,” disse Cora.

Isso era verdade. As pessoas lá fora talvez não fossem seus familiares de verdade, mas pareciam ser. Eles haviam sentido o mesmo ódio do mundo, a mesma necessidade de esconder-se. E agora, eles estavam lá um para o outro. Era o mais próximo de uma família que Emeline havia encontrado.

Isso fazia de Cora família também. Emeline não queria que ela se esquecesse disso.

Emeline a abraçou. “Essa pode ser uma família para nós duas, eu acredito. É um lugar em que nós duas seremos livres. É um lugar em que nós duas estaremos seguras.”

“Eu gosto da ideia de estar segura,” disse Cora.

“Eu gosto da ideia de não ter mais que atravessar o reino inteiro procurando esse lugar,” respondeu Emeline. Ela estava farta de viajar a essa altura. Ela olhou para cima. “Nós temos um teto.”

Depois de tanto tempo viajando, até isso parecia um luxo.

“Nós temos um teto,” concordou Cora. “E uma família.”

Parecia estranho poder dizer isso depois de tanto tempo. Era suficiente. Mais do que suficiente.




CAPÍTULO QUATRO


A Viúva Rainha Maria da Casa de Flamberg estava sentada no seu saguão de entrada, tentando com dificuldade conter a fúria que ameaçava consumi-la. Fúria pela vergonha dos últimos dias, fúria pelo modo que seu corpo a traía, tossindo sangue em um lenço de renda. Acima de tudo, fúria por filhos que não faziam o que ela havia ordenado.

“Príncipe Rupert, sua majestade,” anunciou um criado, enquanto seu filho mais velho adentrava o saguão de entrada, olhando para todos como se esperando elogios por tudo que havia feito.

“Parabenizando-me pela minha vitória, Mãe?” perguntou Rupert.

A Viúva adotou seu tom de voz mais seco. Era a única coisa que a impedia de gritar nesse momento. “É costumeiro curvar-se em reverência.”

Isso foi o suficiente para que Rupert parasse de repente, encarando-a com um misto de surpresa e raiva antes de tentar uma breve reverência. Bom, que ele se lembre quem é que manda aqui. Ele parecia ter se esquecido completamente nos últimos dias.

“Então, você quer que eu o parabenize, é isso?” perguntou a Viúva.

“Eu ganhei!” insistiu Rupert. “Eu fiz o ataque recuar. Eu salvei o reino.”

Ele fez parecer como se fosse um cavaleiro voltando de uma grande missão dos velhos tempos. Bem, aqueles tempos já haviam se passado.

“Seguindo o seu próprio plano irresponsável ao invés do que havíamos combinado,” disse a Viúva.

“Funcionou!”

A Viúva esforçou-se para conter seu humor, pelo menos por enquanto. Embora estivesse cada vez mais difícil.

“E você acha que a estratégia que eu havia escolhido não teria funcionado?” ela reivindicou. “Você acha que eles não teriam se rompido contra nossas defesas? Você acha que eu deveria estar orgulhosa do massacre que você causou?”

“Um massacre dos inimigos, e daqueles que não queria lutar,” argumentou Rupert. “Você acha que eu não ouvi histórias sobre as coisas que você já fez, Mãe? Histórias sobre as matanças dos nobres que apoiavam os Danses? Do seu acordo que permitia que a Igreja da Deusa Mascarada matasse qualquer um que eles julgassem maus?”

Ela não deixaria seu filho comparar essas coisas. Ela não discutiria sobre as duras necessidades do passado com um garoto que não havia sido mais que um bebê de colo durante a mais recente delas.

“Era diferente,” ela disse. “Nós não tínhamos opções melhores.”

“Nós não tínhamos opções melhores aqui,” retrucou Rupert.

“Nós tínhamos uma opção que não envolvia o massacre do nosso povo,” revidou a Viúva, com a mesma exaltação em seu tom. “Que não envolvia a destruição das terras férteis mais valiosas do reino. Você fez o Novo Exército recuar, mas o nosso plano poderia tê-los destruído.”

“O plano de Sebastian era tolo, como você teria visto se não fosse tão cega a seus defeitos.”

O que levou a Viúva à segunda razão para sua raiva. A maior delas, e a que ela estava segurando só porque ela não confiava em si mesma para não explodir de raiva.

“Onde está seu irmão, Rupert?” ela perguntou.

Ele tentou bancar o inocente. Ele deveria saber a esse ponto que isso não funcionaria com ela.

“Como eu poderia saber, Mãe?”

“Rupert, Sebastian foi visto pela última vez nas docas, tentando pegar um barco para Ishjemme. Você chegou pessoalmente para busca-lo. Você acha que eu não tenho espiões?”

Ela o observou tentando decidir o que responder. Ele fazia isso desde que era menino, tentava achar a fórmula de palavras que o permitiria trapacear o mundo do jeito que ele queria.

“Sebastian está em um lugar seguro,” disse Rupert.

“O que significa que você o emprisionou, seu próprio irmão. Você não tem o direito de fazer isso, Rupert.” Um ataque de tosse roubou um pouco do ímpeto de suas palavras. Ela ignorou o sangue fresco.

“Eu imaginaria que você teria ficado feliz, Mãe,” disse ele. “Ele estava, afinal, tentando fugir do reino depois de acabar com o casamento que você arranjou.”

Isso era verdade, mas não mudava nada. “Se eu quisesse impedir Sebastian, eu teria ordenado,” disse ela. “Você o soltará imediatamente.”

“Como você diz, Mãe,” disse Rupert, e novamente a Viúva sentiu que ele não estava sendo nada sincero.

“Rupert, deixa eu ser bem clara. Suas ações hoje colocaram todos nós em grande perigo. Dando ordens ao exército conforme a sua vontade? Emprisionando o herdeiro ao trono sem autoridade? Como você acha que isso vai parecer na Assembleia dos Nobres?”

“Que se danem eles!” disse Rupert, as palavras explodindo. “Eu tenho nobres suficientes para isso.”

“Você não pode arcar com isso,” disse a Viúva. “As guerras civis nos ensinaram isso. Nós precisamos trabalhar com eles. E o fato de você falar como se fosse dono de uma porção deles me preocupa, Rupert. Você precisa aprender seu lugar.”

Ela conseguia ver sua raiva agora, não mais disfarçada como antes.

“Meu lugar é como seu herdeiro,” ele disse.

“O lugar de Sebastian é como meu herdeiro,” a Viúva respondeu de volta. “O seu… o território das montanhas precisa de um governador para limitar seus assaltos ao sul. Talvez a vida com pastores e fazendeiros te ensine humildade. Ou talvez não, e pelo menos você estará longe o suficiente daqui para que eu esqueça da minha raiva por você.”

“Você não pode—”

“Eu posso,” a Viúva retrucou. “E só por discutir, não será o território das montanhas, e você não será um governador. Você irá para as Colônias Próximas, onde você será um assistente do meu emissário lá. Ele me enviará relatórios constantes sobre você, e você não retornará enquanto eu não o julgar pronto.”

“Mãe…” começou a falar Rupert.

A Viúva o colocou em seu lugar com um olhar. Ela ainda conseguia fazer isso, mesmo se seu corpo estivesse desfalecendo.

“Fale novamente, e você será um empregado nas Colônias Longínquas,” ela estourou. “Agora saia daqui, e eu espero ver Sebastian aqui até o fim do dia. Ele é meu herdeiro, Rupert. Não se esqueça disso.”

“Confia em mim, Mãe,” Rupert disse enquanto saía. “Eu não esqueci.”

A Viúva esperou até que ele estivesse saído, e estalou os dedos chamando o criado mais próximo.

“Há ainda um incômodo para lidar. Traga-me a lady D’Angelica, e depois saia.”


***

Angelica ainda vestia seu vestido de casamento quando o guarda veio busca-la, a convocando para falar com a rainha. Ele não lhe deu tempo para se trocar, mas apenas a escoltou bruscamente até o saguão de entrada.

Para Angelica, a velha mulher parecia desgastada. Talvez ela morresse logo. Ao pensar nisso, Angelica torceu para que Sebastian fosse encontrado logo, e forçado a ir adiante com o casamento. Havia muito em jogo para isso não acontecer, apesar da traição que ela sentia por ele ter fugido.

Ela curvou-se em reverência, e então ajoelhou-se ao sentir o peso do olhar da Viúva sobre ela. A velha mulher se levantou de seu assento instavelmente, reforçando a diferença entre suas posições.

“Explique para mim,” disse a Viúva, “por que eu não estou parabenizando-a pelo seu casamento com meu filho?”

Angelica ousou olhar para ela. “Sebastian fugiu. Como eu poderia saber que ele fugiria?”

“Por que você não deveria ser estúpida,” replicou a Viúva.

Angelica sentiu-se estremecer de raiva por isso. Essa velha mulher amava brincar com ela, testar o quão longe ela podia pressionar. Porém, logo ela estaria em uma posição onde ela não precisaria da aprovação da velha mulher.

“Eu tomei toda medida possível,” disse Angelica. “Eu seduzi Sebastian.”

“Não completamente, não o suficiente!” gritou a Viúva, dando um passo à frente para dar um tapa em Angelica.

Angelica começou a se levantou, e então sentiu mãos fortes a empurrando para baixo novamente. O guarda havia permanecido de pé atrás dela, um lembrete de sua impotência. Pela primeira vez ali, Angelica sentiu medo.

“Se você tivesse seduzido meu filho completamente, ele não estaria tentando sair daqui, para Ishjemme” disse a Viúva em um tom mais calmo. “O que tem em Ishjemme, Angelica?”

Angelica engoliu seco, respondendo como por um reflexo. “Tem a Sophia.”

Isso só alimentou a raiva da outra mulher.

“Então meu filho estava fazendo exatamente o que eu te disse para impedir que ele fizesse,” disse a Viúva. “Eu te disse que o único objetivo da sua existência era prevenir que ele se casasse com aquela garota.”

“Você não me disse que ela era a filha mais velha dos Danses,” disse Angelica, “ou que eles estão a reivindicando como a legítima governante desse reino.”

Angelica se manteve firme quando a Viúva lhe deu um tapa. Ela seria forte. Ela encontraria um jeito de sair dessa. Ela encontraria um jeito de colocar a velha mulher de joelhos antes disso tudo terminar.

“Eu sou a governante legítima desse reino,” disse a Viúva. “E meu filho será depois de mim. Mas se ele se casar com ela, isso trará o tipo deles pela porta dos fundos. Isso devolverá o reino ao que era, um lugar dominado por mágica.”

Isso era algo com que Angelica podia concordar. Ela não tinha afeição por aqueles que podiam olhar dentro de mentes. Se a Viúva conseguisse ver dentro da dela, sem dúvidas a teria apunhalado simplesmente por autopreservação.

“Estou intrigada em como você sabe de tudo isso,” disse a Viúva.

“Eu tenho um espião em Ishjemme,” disse Angelica, determinada a mostrar sua utilidade. Se ela conseguisse mostrar que ainda é útil, isso poderia ser usado em sua vantagem. “Um nobre lá. Eu tenho estado em contato com ele por algum tempo,”

“Então você conspira com um poder estrangeiro?” perguntou a Viúva. “Com uma família que não tem amor por mim?”

“Não isso,” disse Angelica. “Eu busco informações. E… talvez eu já tenha resolvido o problema com Sophia.”

A Viúva não respondeu a isso, ao invés deixando um silêncio que Angelica sentia que deveria preencher com palavras antes que a tomasse.

“Endi enviou um assassino para mata-la,” disse Angelica. “E eu contratei um dos meus, caso isso falhe. Mesmo se ele chegar até lá, Sebastian não encontrará Sophia o esperando.”

“Ele não chegará lá,” disse a Viúva. “Rupert o emprisionou.”

“Emprisionou?” disse Angelica. “Você deve—”

“Não me diga o que eu devo fazer!”

A Viúva a olhou do alto, e Angelica sentiu medo de verdade.

“Você tem sido uma cobra desde o início,” disse a Viúva. “Você tentou forçar o meu filho a se casar usando truques. Você buscou progredir às custas da minha família. Você é uma mulher que contrata assassinos e espiões, que mata aqueles que ficam contra você. Enquanto eu achava que você pudesse manter meu filho longe da sua ligação iludida a essa garota, eu podia suportar tudo isso. Não mais.”

“Não é pior do que você já fez,” insistiu Angelica. Ela sabia assim que disse que era a coisa errada a dizer.

Um sinal da Viúva, e o guarda estava forçando Angelica brutamente a ficar de pé.

“Eu só agi como precisava para preservar minha família,” disse a Viúva. “Cada morte, cada acordo, era para que meus filhos não fossem mortos por alguém interessado em tomar nosso poder. Alguém como você. Você age só por você mesma, e você morrerá por isso.”

“Não,” disse Angelica, como se essa única palavra tivesse o poder de parar isso. “Por favor, eu posso consertar isso.”

“Você teve suas chances,” disse a Viúva. “Se meu filho não se casará com você voluntariamente, eu não vou força-lo a deitar-se com uma aranha como você.”

“A Assembleia dos Nobres… minha família…”

“Ah, eu provavelmente não poderei faze-la usar a máscara de ferro por suas ações,” disse a Viúva, “mas existem outros meios. Seu noivo acabou de abandona-la. Sua rainha acabou de falar severamente com você. Em retrospectiva, eu devia ter percebido o quão chateada você estava, quão frágil…”

“Não,” disse Angelica novamente.

A Viúva olhou para além dela, para o guarda. “Leve-a ao telhado e a jogue. Faça parecer como se ela tivesse pulado pelo sofrimento de ter perdido Sebastian. Certifique-se de não ser visto.”

Angelica tentou implorar, tentou lutar para se livrar, mas aquelas mãos fortes já a puxavam para trás. Ela fez a única coisa que podia, e gritou.




CAPÍTULO CINCO


Rupert ficava cada vez mais nervoso enquanto andava pelas ruas de Ashton, em direção às docas. Ele deveria estar caminhando seguido por clamores afetuosos do povo, celebrando sua vitória. Ele deveria ter o povo aplaudindo seu nome e jogando flores. Deveriam haver mulheres ao longo da sua rota ardentes por ele, se atirando, e jovens invejosos por não serem como ele.

Ao invés disso, só haviam ruas molhadas e pessoas ocupadas com qualquer que sejam os afazeres que ocupam aldeões quando eles não estão celebrando seus superiores.

“Sua alteza, está tudo certo?” perguntou o Senhor Quentin Mires. Ele andava entre a dúzia de soldados que foram escolhidos para acompanha-lo, provavelmente para assegurarem que ele embarcaria sem sumir. Provavelmente com ordens para obter a localização de Sebastian antes que ele partisse. Não era nem próximo da mesma coisa. Não era nem o suficiente para ser considerado uma escolta de honra de verdade.

“Não, Sr. Quentin,” disse Rupert. “Não está nada certo.”

Ele deveria ser o herói do momento. Ele sozinho havia detido a invasão, enquanto sua mãe e irmão tinham sido muito covardes para fazer o necessário. Ele havia sido o príncipe que o reino precisava naquele momento, e o que ele estava recebendo em troca?

“Como é que é exatamente nas Colônias Próximas?” ele exigiu.

“Me disseram que suas ilhas variam, sua alteza,” disse o Sr. Quentin. “Algumas são rochosas, algumas arenosas, outras tem pântanos.”

“Pântanos,” repetiu Rupert. “Minha mãe me enviou para governar pântanos.”

“Me disseram que há grande variedade de vida selvagem lá,” disse o Sr. Quentin. “Alguns dos homens do reino que estudam ciências naturais passam anos lá na esperança de fazerem descobertas.”

“Então, pântanos infestados?” disse Rupert. “Você sabe que não está ajudando, Sr. Quentin?” Ele decidiu fazer as perguntas importantes, enumerando com os dedos. “Existem bons ringues de apostas lá? Cortesãs famosas? Drinks locais dignos de nota?”

“Me disseram que o vinho é—”

“Que se dane o vinho!” Rupert exclamou em resposta, não conseguindo se segurar. Geralmente, ele fazia melhor o papel de príncipe de ouro que as pessoas esperavam. “Desculpe-me, Sr. Quentin, mas a qualidade do vinho ou a abundância da vida selvagem não compensam o fato de eu estar sendo praticamente exilado.”

O outro homem baixou a cabeça. “Não, sua alteza, claro que não. Você merece coisa melhor.”

Essa era uma declaração tão óbvia quanto inútil. Mas é claro que ele merecia coisa melhor. Ele era o mais velho dos príncipes e o herdeiro legítimo ao trono. Ele merecia tudo que seu reino tinha a oferecer.

“Estou quase tentado a dizer à minha mãe que eu não vou,” disse Rupert. Ele olhou à sua volta para Ashton. Ele nunca achou que sentiria falta de uma cidade fedida e suja como essa.

“Isso seria… imprudente, sua alteza,” disse o Sr. Quentin, usando aquela voz especial que ele tinha que significava que ele estava evitando chamar Rupert de idiota. Ele provavelmente achou que Rupert não notasse. As pessoas geralmente achavam que ele era burro, até ser tarde demais.

“Eu sei, eu sei,” disse Rupert. “Se eu ficar, corro o risco de ser executado. Você realmente acha que minha mãe mandaria me executar?”

A pausa foi longa enquanto o Sr. Quentin procurava pelas palavras certas.

“Você acha. Você realmente acha que minha mãe mandaria executar seu próprio filho.”

“Ela tem uma certa reputação de… crueldade,” o cortesão assinalou. Sinceramente, era assim que homens com conexões na Assembleia dos Nobres falavam o tempo todo? “E mesmo se ela não fosse adiante com sua execução, aqueles à sua volta poderiam estar… vulneráveis.”

“Ah, então é com sua própria pele que você está preocupado,” disse Rupert. Isso fazia mais sentido para ele. Ele aprendeu que na maioria das vezes as pessoas se preocupam somente com seus próprios interesses. Era uma lição que ele havia entendido cedo. “Eu imaginaria que seus contatos na Assembleia te manteriam seguro, principalmente depois de uma vitória dessas.”

O Sr. Quentin deu de ombros. “Por um mês ou dois, talvez. Nós temos o apoio agora. Mas por enquanto, eles ainda estão falando sobre o abuso do poder real, sobre você agindo sem o consentimento deles. No tempo que demora para eles mudarem de ideia, um homem pode perder sua cabeça.”

Pode ser que o Sr. Quentin perca a sua de qualquer forma, se ele estava sugerindo que Rupert de alguma maneira precisava de permissão para fazer o que quisesse. Ele era o homem que se tornaria rei!

“E claro, mesmo que eles não te executem, sua alteza, sua mãe pode te prender, ou te mandar para um lugar pior com guardas assegurando sua chegada segura.”

Rupert gesticulou apontando os homens que o cercavam, marchando lado a lado com ele e o Sr. Quentin.

“Eu achei que isto já estava acontecendo hoje?”

O Sr. Quentin balançou a cabeça. “Esses homens estão entre os que lutaram ao seu lado contra o Novo Exército. Eles respeitam a ousadia da sua decisão, e quiseram garantir que você não partisse sozinho, sem a honra de uma escolta.”

Então, era uma escolta de honra. Rupert não tinha certeza se podia ser chamada assim. Mesmo assim, agora que ele olhou com cuidado à sua volta, ele viu que a maioria dos homens eram oficiais em vez de soldados comuns, e que a maioria parecia feliz de estar lhe acompanhando. Era próximo da adoração que Rupert queria, porém ainda não era suficiente para compensar a estupidez do que sua mãe fez com ele.

Era uma humilhação e, conhecendo sua mãe, uma humilhação calculada.

Eles chegaram às docas. Rupert estava esperando que houvesse um grande navio de batalha o aguardando, canhões disparando em saudação a ele e reconhecimento do seu status, no mínimo.

Mas, não havia nada.

“Onde está o navio?” exigiu Rupert, olhando a sua volta. Pelo que ele conseguia ver, as docas estavam simplesmente movimentadas com a seleção habitual de navios, comerciantes voltando aos seus negócios após o recuo do Novo Exército. Ele havia pensando que eles, pelo menos, o agradeceriam por seus esforços, mas eles pareciam ocupados demais tentando ganhar a vida.

“Eu acredito que o barco esteja aqui, sua alteza,” disse o Sr. Quentin, apontando.

“Não,” disse Rupert, seguindo com os olhos para onde apontava o Sr. Quentin. “Não.”

O barco era uma banheira, apropriado para a viagem de um comerciante, talvez, e já carregado em parte com produtos para a viagem de volta às Colônias Próximas. Não era adequado para levar um príncipe.

“Não é muito grandioso,” disse o Sr. Quentin. “Mas eu acredito que Sua Majestade pensou que viajar sem chamar a atenção diminuiria as chances de perigo durante o caminho.”

Rupert duvidava que sua mãe estivesse pensando em piratas. Ela estava pensando no que o deixaria menos confortável, e ela havia feito um bom trabalho escolhendo este.

“Ainda assim,” disse o Sr. Quentin com um suspiro, “pelo menos você não estará sozinho nessa.”

Rupert parou ao ouvir isso, e encarou o outro homem.

“Perdoe-me, Sr. Quentin,” disse Rupert, apertando a base do nariz para evitar uma dor de cabeça, “mas por que exatamente você está aqui?”

O Sr. Quentin se virou para ele. “Desculpe-me, sua alteza, eu devia ter dito. Minha própria posição se tornou… um tanto quanto precária no momento.”

“Ou seja você está com medo da raiva da minha mãe sem mim por perto?” disse Rupert.

“Você não estaria?” perguntou o Sr. Quentin, abandonando por um momento as frases cuidadosamente analisadas de um político. “Pelo que vejo, eu posso esperar por aqui até ela encontrar uma desculpa para me executar, ou eu posso cuidar dos interesses comerciais da minha família nas Colônias Próximas por um tempo.”

Ele fez parecer tão simples: ir até as Colônias Próximas, soltar Sebastian, esperar a fúria baixar, e voltar de novo tendo sido disciplinado suficientemente. O problema com isso era simples: Rupert não conseguia se forçar a faze-lo.

Ele não poderia fingir se arrepender de algo que foi claramente a decisão certa. Ele não podia soltar seu irmão para reivindicar algo que era seu. Seu irmão não merecia estar livre quando ele tinha feito de tudo contra Rupert, usando algum feitiço ou truque com sua mãe para persuadi-la a entregar-lhe o trono.

“Eu não posso fazer isso,” disse Rupert. “Eu não vou fazer isso.”

“Sua alteza,” disse o Sr. Quentin usando aquele tom de voz estupidamente sensato que ele tinha. “Sua mãe com certeza avisou o governador das Colônias Próximas. Ele estará aguardando sua chegada, e enviará uma mensagem de volta caso você não esteja lá. Mesmo se você fugir, sua mãe enviará soldados, sobretudo para descobrir onde está o príncipe Sebastian.”

Rupert mal, mal, conseguiu evitar bater no outro homem. Não era uma boa ideia golpear seus aliados, pelo menos enquanto ainda lhe fossem úteis.

E Rupert havia pensado em uma maneira em que o Sr. Quentin poderia ser muito útil. Ele olhou à sua volta para o grupo de oficiais o acompanhando até que ele achou um com cabelo loiro que parecia ser do tamanho certo.

“Você, qual o seu nome?”

“Aubry Chomley, sua alteza,” disse o homem. Seu uniforme tinha uma insígnia de capitão.

“Bem, Chomley,” disse Rupert, “quão leal é você?”

“Completamente,” disse o outro homem. “Eu vi o que você fez contra o Novo Exército. Você salvou nosso reino, e você é o herdeiro legítimo ao trono.”

“Homem bom,” disse Rupert. “Sua lealdade te dá mérito, mas agora, eu tenho um teste para essa lealdade.”

“É só dizer,” disse o outro homem.

“Eu preciso que você troque de roupas comigo.”

“Sua alteza?” O soldado e o Sr. Quentin conseguiram falar quase que ao mesmo tempo.

Rupert tentou não demonstrar sua impaciência. “É simples. Chomley aqui irá com você no barco. Ele fingirá ser eu, e irá para as Colônias Próximas em meu lugar.”

O soldado parecia nervoso como se Rupert tivesse comandado um ataque à uma multidão de inimigos.

“Não… as pessoas não notarão?” disse o homem. “O governador não notará?”

“Por que ele notaria?” perguntou Rupert. “Eu nunca conheci o homem e o Sr. Quentin aqui vai testemunhar por você. Não vai, Sr. Quentin?”

O Sr. Quentin olhou para Rupert e para o soldado, claramente tentando calcular o plano de ação com mais probabilidade de manter sua cabeça.

Dessa vez, Rupert realmente perdeu a paciência. “Olha, é simples. Você vai para as Colônias Próximas. Você confirma que Chomley sou eu. Como eu ainda estou aqui, isso nos dará a chance de reunir o apoio que precisamos. Apoio que poderá te trazer de volta muito mais rápido do que se você for esperar que minha mãe esqueça um insulto.”

Essa parte pareceu chamar a atenção do outro homem. Ele assentiu. “Muito bem,” disse o Sr. Quentin. “Eu farei.”

“E você, Capitão?” perguntou Rupert. “Ou devo dizer General?”

Demorou um pouco para cair a ficha. Ele viu Chomley engolindo seco.

“O que você precisar, sua alteza,” disse o homem.

Demorou alguns minutos para acharem um edifício vazio entre os armazéns e galpões de barcos para que o capitão trocasse de roupa de modo que agora Chomley parecia… bom, honestamente, nada como um príncipe da realeza, mas com a recomendação do Sr. Quentin deveria ser suficiente.

“Vão,” comandou Rupert, e eles foram acompanhados de cerca de metade dos soldados para parecer mais autêntico. Ele olhou a sua volta para os outros, ponderando o que fazer agora.

Não haviam dúvidas que ele deveria sair de Ashton, mas ele teria de se mover cuidadosamente até estar pronto. Sebastian estava seguro o suficiente por enquanto. O palácio era grande o suficiente para se manter longe de sua mãe, pelo menos por um tempo. Ele sabia que tinha apoio. Era hora de descobrir o quanto, e quanto poder este apoio poderia comprar.

“Vamos,” ele disse aos outros. “Está na hora de decidir como tomar o que deveria ser meu.”




CAPÍTULO SEIS


“Eu sou a Lady Emmeline Constance Ysalt D’Angelica, Marquesa de Sowerd e Lady da Ordem dos Sash!” bradou Angelica, na esperança que alguém a ouvisse. Na esperança que seu nome completo chamasse atenção, se nada mais. “Eu estou sendo levada para ser morta contra minha vontade!”

O guarda a arrastando não parecia preocupado com isso, o que dizia a Angelica que não haviam chances de alguém a escutar. Ninguém que poderia ajudar, pelo menos. Em um lugar com tantas crueldades como este palácio, os criados já estavam há tempos acostumados a ignorar pedidos de ajuda, a serem cegos e surdos a menos que seus superiores ordenassem que não o fossem.

“Eu não vou deixa-lo fazer isso,” disse Angelica, tentando cravar o calcanhar no chão e permanecer onde estava. O guarda simplesmente a puxou de qualquer modo, a diferença de tamanho muito grande. Ela tentou ataca-lo em vez disso, e o tapa fez sua mão arder de dor. Por um momento o guarda relaxou, e Angelica tentou se virou para correr.

O guarda a agarrou de novo em um instante, batendo até a cabeça de Angelica girar.

“Você não pode… você não pode me bater,” ela disse. “As pessoas saberão. Você quer fazer com que isso pareça um acidente!”

Ele bateu nela novamente, e Angelica tinha a sensação de que ele o fez simplesmente pra provar que podia.

“Depois de você ter caído de um edifício, ninguém notará um hematoma,” ele disse. Ele a carregou então, a levantando sobre os ombros tão facilmente quanto como se ela fosse uma criança rebelde. Angelica nunca havia se sentido tão desamparada como naquele momento.

“Grite de novo,” avisou ele, “e eu te baterei de novo.”

Angelica não gritou, mesmo porque não parecia fazer qualquer diferença. Ela não havia visto ninguém pelo caminho até aqui, seja porque todos ainda estavam ocupados com o casamento que não aconteceu ou porque a Viúva havia cuidadosamente mantido todos longe em preparação para isso. Angelica não duvidava de que ela era capaz disso. A velha mulher planejava tão pacientemente e cruelmente quanto um gato esperando fora da toca do rato.

“Você não precisa fazer isso,” disse Angelica.

O guarda respondeu com um dar de ombros que a sacudiu. Eles subiram pelo palácio, por escadas em espiral que se estreitavam mais conforme eles subiam. A uma certa altura, o guarda teve que colocar Angelica no chão só para conseguir passar, mas ele manteve uma garra cruel em seus cabelos, a arrastando junto com uma intensidade que fez Angelica chorar de dor.

“Você poderia simplesmente me deixar ir,” disse Angelica. “Ninguém ficaria sabendo.”

O guarda bufou em resposta. “Ninguém notaria quando você surgisse de novo na corte, ou na casa da sua família? Os espiões da Viúva não saberiam que você está viva?”

“Eu poderia partir,” tentou Angelica. A verdade era que ela provavelmente teria que partir se ela fosse sobreviver. A Viúva não pararia de atentar contra a vida dela. “Minha família tem negócios tão longe do outro lado do mar que vocês raramente teriam notícias deles. Eu poderia desaparecer.”

O guarda não parecia mais impressionado com essa ideia do que com a última. “E quando um espião te mencionar? Não, eu acho que farei meu dever.”

“Eu poderia te dar dinheiro,” disse Angelica. Eles estavam cada vez mais no alto agora. Tão alto que, olhando para fora pelas janelas, ela podia ver a cidade abaixo arranjada como um brinquedo de criança. Talvez era assim que a Viúva visse a cidade: como um brinquedo a ser organizado para sua diversão.

Isso significava que eles deviam estar quase no telhado, também.

“Você não quer dinheiro?” exigiu Angelica. “Um homem como você não deve ganhar muito. Eu poderia te dar uma fortuna tão grande que te tornaria rico.”

“Você não pode me dar nada se estiver morta,” respondeu o guarda. “E eu não posso gastar nada se eu estiver.”

Havia uma pequena porta à frente, com liga de ferro e uma simples trava. Angelica pensou que o caminho para sua morte deveria ter mais drama, de alguma forma. Mesmo assim, só a visão da porta fez com que o medo aumentasse de novo, a fazendo recuar enquanto o guarda a puxava para frente.

Se Angelica tivesse uma adaga, ela a teria usado enquanto ele destravava e abria a porta deixando o vento frio de fora entrar contra eles. Se ela tivesse ao menos uma faca afiada de comer, ela teria tentado cortar a garganta do guarda, mas ela não tinha. Em seu vestido de casamento, ela não tinha. O máximo que ela tinha era alguns pós para retocar sua maquiagem, um sedativo em pó que estava lá para acalmar qualquer ameaça de nervosismo e… e era só isso. Isso era tudo que ela tinha.

“Por favor,” ela implorou, e ela não precisou fingir muito para parecer desesperada, “se dinheiro não serve, então que tal dignidade? Eu sou só uma jovem mulher, envolvida em um jogo que eu não queria. Por favor me ajude.”

O guarda a puxou para fora para o telhado. Era plano, com crenulados que não tinham nada a ver com uma defesa de verdade. O vento batia contra o cabelo de Angelica.

“Você espera que eu acredite em alguma dessas coisas?” perguntou o guarda. “Que você é só uma coisinha inocente? Você conhece as histórias que eles contam sobre você pelo palácio, minha lady?”

Angelica conhecia a maioria delas. Ela fazia questão de saber o que as pessoas falavam sobre ela para poder vingar-se delas mais tarde.

“Eles dizem que você é vaidosa e que você é cruel. Que você destruiu pessoas só por terem falado com você usando o tom de voz errado, e providenciou que seus rivais fossem despachados com a marca do orfanato tatuada neles onde não existia marca antes. Você acha que merece misericórdia?”

“Essas são mentiras,” disse Angelica. “Elas são—”

“Eu não ligo muito de qualquer forma.” Ele a puxou até o parapeito. “A Viúva me deu ordens.”

“E o que ela fará depois de você tê-las cumprido?” exigiu Angelica. “Você acha que ela te deixará viver? Se a Assembleia descobrir que ela assassinou uma mulher nobre, ela será deposta.”

O homem grande deu de ombros. “Eu já matei por ela antes.”

Ele disse isso como se fosse nada, e Angelica sabia que iria morrer. O que quer que ela dissesse, o que quer que ela tentasse, esse homem a iria matar. Ao que parecia, ele iria gostar também.

Ele empurrou Angelica para trás em direção à beira, e ela sabia que seriam poucos momentos antes dela cair. Inexplicavelmente, ela se pegou pensando em Sebastian e os pensamentos não eram cheios de ódio como deveriam ser, considerando que ele a havia abandonado. Angelica não conseguia entender por que, quando ele não era nada além do homem que ela tinha escolhido como marido para poder avançar de posição, um homem que ela estava preparada a atrair à cama usando um pó sedativo…

Uma ideia surgiu. Era uma ideia desesperada, mas naquele momento, tudo era desesperado.

“Eu posso te oferecer algo mais valioso que dinheiro,” disse Angelica. “Algo melhor.”

O guarda riu, mas ainda assim, ele parou. “O quê?”

Angelica estendeu a mão até seu cinto, tirando a pequena caixa de rapé de sedativo, erguendo-a como se fosse a coisa mais preciosa do mundo. O guarda permitiu, encarando fascinado enquanto ele tentava descobrir o que era. Muito delicadamente, Angelica abriu a caixa.

“O que é isso?” exigiu o guarda. “Isso parece—”

Angelica soprou fortemente, dispersando o pó na cara do guarda levando-o a engasgar. Ela desviou para a esquerda enquanto ele tentava agarra-la, na esperança de se esquivar enquanto ele ainda lidava com o pó em seus olhos. Uma grande mão pegou no seu braço, e os dois caíram contra a beirada do telhado do palácio.

Angelica não sabia qual efeito o sedativo teria. Tinha funcionado rapidamente toda vez que ela tinha usado, mas normalmente era coisa de pequenas doses e efeitos leves. O que uma dose tão grande faria com um homem daquele tamanho, e teria ela tempo suficiente para fugir antes que isso acontecesse? Angelica já sentia a beira do telhado contra suas costas, o céu visível enquanto o grande homem a pressionava.

“Eu vou te matar!” o guarda urrou, e no máximo Angelica podia dizer que suas palavras soavam um pouco enroladas. Estaria ele enfraquecendo? Estaria ele a empurrando um pouco menos?

Ela estava tão para trás agora que podia ver o chão abaixo dela, e alguns criados e nobres espalhados. Mais um segundo, e ela estaria caindo, para colidir com as pedras do pátio e arrebentar-se tão certamente como uma taça derrubada.

Naquele segundo, Angelica sentiu a garra do guarda enfraquecer. Não muito, mas o suficiente para ela conseguir se virar e escapar dele, o colocando com suas costas para o céu.

“Você deveria ter aceitado o dinheiro,” ela disse, e se inclinou para frente, empurrando-o com toda sua força. O guarda balançou na beira por um segundo, então tombou para trás, seus braços se debatendo contra o ar.

Não só o ar. Com um braço ele conseguiu agarra-la, e Angelica se encontrou empurrada para frente, sobre o parapeito. Ela gritou, se agarrando em qualquer coisa que conseguisse. Seus dedos encontraram pedaços de pedras, perderam o apoio, e depois o encontraram novamente enquanto o guarda continuou a cair abaixo dela. Angelica olhou para baixo apenas o tempo necessário para seguir sua queda até o chão. Ela sentiu um breve momento de satisfação quando ele atingiu o chão, rapidamente substituída pelo terror por estar dependurada na parede do castelo.

Angelica arranhava a parede, tentando encontrar um apoio, algo a mais para se segurar. Seus pés pairaram no ar por um momento, e então conseguiram achar apoio no lado áspero de um escudo heráldico forjado em pedra. Angelica notou com ironia que era o brasão real, e não pode deixar de sentir alívio por encontra-lo. Sem ele, ela sem dúvidas agora estaria tão morta quando a Viúva desejava que ela estivesse.

A escalada de volta ao telhado pareceu demorar uma eternidade, os músculos de Angelica queimando com o esforço inesperado. Lá embaixo, ela podia ouvir gritos agora, enquanto pessoas começavam a reunir-se em torno do guarda caído. Sem dúvidas, alguns deles estariam olhando para cima, a observando voltar ao telhado, cair e ficar ali deitada, respirando ofegante.

“Levante-se,” ela disse a si mesma. “Você estará morta se ficar aqui. Levante-se.”

Ela se forçou a levantar, tentando pensar. A Viúva tinha tentado mata-la. A coisa óbvia a se fazer era correr, por que quem poderia se levantar contra a Viúva? Ela tinha que encontrar uma saída do palácio, talvez chegar até as docas e partir para as terras de sua família no exterior. Isso ou escapar através de um dos atalhos da cidade, evitando qualquer vigia que tivesse sido colocado a posto e saindo do país. Sua família era poderosa, com o tipo de amizades que poderiam fazer perguntas sobre isso na Assembleia dos Nobres, que iriam—

“Eles farão o que a Viúva mandar,” Angelica disse a si mesma. Mesmo se eles agissem, seria tão devagar que ela sem dúvidas seria assassinada no meio tempo. O melhor que ela poderia fazer era correr e continuar correndo, nunca estando segura, nunca estando no centro das coisas novamente. Era uma solução inaceitável para tudo isso.

O que a trouxe de volta à sua pergunta anterior: quem poderia se levantar contra a Viúva?

Angelica se espanou cuidadosamente, arrumando seu cabelo do modo mais perfeito possível enquanto ela falava consigo mesma. Esse plano era… perigoso, sim. Desagradável, quase com certeza. Mas era a melhor chance que ela tinha.

Enquanto as pessoas lá embaixo berravam, ela começou a correr de volta para o palácio.




CAPÍTULO SETE


Os olhos de Sebastian estavam começando a se acostumar à quase escuridão de sua cela, a umidade, e até o fedor dela. Ele estava começando a se adaptar ao leve gargarejo de água em algum lugar à distância e o som de pessoas indo e vindo de longe. Este era provavelmente um mau sinal. Haviam lugares com os quais ninguém deveria se acostumar.

A cela era pequena, só alguns metros em cada lado, com uma frente de grades de ferro, trancada por uma fechadura maciça. Essa não era qualquer prisão confortável em uma torre, onde a família de um homem poderia pagar para mantê-lo com estilo até que finalmente chegasse a hora de perder a cabeça. Esse era o tipo de lugar que um homem era jogado para que o mundo se esquecesse dele.

“E se eu for esquecido,” sussurrou Sebastian, “Rupert fica com a coroa.”

Isso tinha que ser o porquê disso. Sebastian não tinha dúvidas quanto a isso. Se seu irmão o fizesse desaparecer, se ele fizesse parecer como se Sebastian tivesse fugido para nunca mais voltar, então Rupert se tornaria o herdeiro do trono por definição. O fato de ele não ter matado Sebastian ainda sugeria que isso era suficiente para ele; que ele poderia soltar Sebastian uma vez que conseguisse o que queria.

“Ou só quer dizer que ele quer me matar com calma,” disse Sebastian.

Ele não conseguia ouvir outras vozes na quase escuridão do momento, embora de tempo em tempo elas eram carregadas de longe. Sebastian suspeitava que haviam outras celas aqui embaixo, talvez outros prisioneiros. Onde quer que aqui fosse. Essa era na verdade uma questão que merecia ser considerada. Se eles estavam embaixo do palácio em algum lugar, então havia uma chance de Sebastian conseguir atrair atenção suficiente para conseguir ajuda. Se eles estavam em qualquer outro lugar na cidade… bem, dependeria de onde, mas Sebastian acharia um jeito de conseguir ajuda.

Ele tentou pensar no caminho que fizeram para chegar até lá, mas era impossível dizer com certeza. Não era o palácio, ele supôs agora. Nem Rupert seria arrogante o suficiente para jogar Sebastian ali. Seu irmão, sua família, tinham tanto dinheiro que ele podia ter comprado outra propriedade na cidade. Uma casa extra mantida para contatos ou negócios obscuros.

“Provavelmente os dois, conhecendo Rupert,” disse Sebastian.

“Cala a boca, você,” disse uma voz. Uma silhueta surgiu da escuridão: um homem indefinível que servia como um de seus carcereiros. O homem só descia algumas vezes ao dia, trazendo água salobra e pão velho. Agora, ele sacudia um bastão de madeira contra as barras da cela de Sebastian, fazendo-o assustar com o barulho repentino depois de tanto tempo no silêncio.

“Você sabe quem eu sou,” disse Sebastian. “Eu sou o irmão de Rupert, o filho mais novo da Viúva.” Ele agarrou as barras. “Ela vai matar qualquer um envolvido em machucar seus filhos. Você sabe disso, você não é um idiota. Sua única chance de sobrevivência nesse momento é ser aquele que me liberta.”

Sebastian não gostava de fazer essa ameaça. Era o tipo de coisa que seu irmão faria, mas também não era nada mais do que a verdade. Sua mãe iria revirar Ashton o procurando se ela acreditasse que ele tivesse sido preso, e quando ela o encontrasse, qualquer um que o tivesse machucado morreria por isso. Quando se tratava de sua família, sua mãe era cada centímetro a monarca cruel e implacável que as pessoas acreditavam ser.

“Isso só importa se ela descobrir,” disse o guarda, golpeando as mãos de Sebastian quase que casualmente com o bastão. Sebastian franziu com a dor, mas conseguiu segurar o bastão, puxando o homem para perto de si, suas mãos indo de encontro ao cinto.

Não era uma boa estratégia, afinal o outro homem estava armado, e Sebastian estava preso numa cela confinada, sem a capacidade de desviar, ou evita-lo. O guarda o golpeou com a mão livre, e então o socou na barriga com seu bastão. Sebastian sentiu o fôlego saindo de si. Ele caiu de joelhos.

“Nobres arrogantes,” o homem exclamou, cuspindo no chão ao lado de Sebastian. “Pensam que tudo vai dar certo para eles, independente do que tentem. Bem, não vai. Sua mãe não vai vir por você, você não vai sair daqui, e eu estarei lá quando o seu irmão decidir começar a cortar partes suas.”

Ele golpeou Sebastian novamente com o bastão, e então se recuou na escuridão. Sebastian ouviu o barulho de uma tranca.

Ele não ligava para a dor nessa altura, embora atravessasse seu corpo como fogo. Ele não ligava para si mesmo, ou para o que Rupert pudesse fazer, ou o que pudesse estar acontecendo nesse momento lá fora. Mesmo nessa situação, Sebastian se pegou pensando em Sophia, e Ishjemme, e sua criança.

Quão avançada estaria a gravidez a essa altura? Avançada o suficiente para ser visível; tão avançada que não iria demorar até a criança deles nascer. Sebastian não conseguia suportar pensar que ele perderia este momento, perderia ouvir os primeiros choros da sua criança pelo ar frio do ducado. Ele não conseguia suportar pensar que ele não estava com Sophia agora, ao seu lado, a protegendo de qualquer mal que o mundo tentasse jogar sobre ela. Ele não tinha dúvidas que, uma vez que eles descobrissem que ela vive, quem quer que tenha tentado mata-la tentaria novamente. Sebastian precisava estar lá para impedir isso, a qualquer custo.

“E é por isso que,” ele disse, tirando uma chave que ele havia arrancado do cinto do guarda, “eu preciso escapar.”

Sebastian movia-se devagar e cuidadosamente, sem querer fazer mais barulho do que o necessário. Ele encaixou a chave na fechadura e conseguir girá-la, o ranger irritante do metal parecendo excessivamente alto. O chiado da porta da cela foi mais alto ainda, como se fosse invocar os guardas a qualquer momento.

Ainda assim, Sebastian continuou. Ele se moveu da cela para o corredor além dela. Era um corredor curto, apertado e escuro que, em vez de uma porta ao final, tinha barris, empilhados como se para esconder a entrada. Haviam outras celas também, alinhadas, apesar de que, pelo menos nesse momento, elas estavam vazias. Sebastian era grato por isso. Ele não tinha certeza que ele podia escapar sem tentar levar os outros com ele.

Sebastian foi tentar mover os barris e descobriu que alguns deles já estavam em um pequeno carrinho com rodas, fácil de ser movido. Não era exatamente uma porta secreta, mas servia quase ao mesmo propósito. Sebastian o empurrou de lado, e agora ele podia ver que o corredor onde estava sua cela era um recuo de uma ampla adega abobadada, iluminada com velas. Até a luz destas era suficiente para fazer arder seus olhos depois da escuridão.

Ele se moveu pelo lugar cuidadosamente, observando onde galões de vinho e barris de cerveja estavam guardados ao lado de pedaços de carne de vaca, carne de veado, e outros suprimentos. Um pedaço de carne seca dura estava lá esperando para ser consumida, e Sebastian arrancou uma parte, mastigando com a falta de elegância de um homem faminto. Ele olhou a sua volta, esperando encontrar, não uma espada, porque quem manteria uma em uma adega, mas pelo menos uma faca de trinchar ou um gancho para talho. Alguma coisa que ele pudesse usar em seu escape.

Não havia nada, e não havia tempo para procurar mais. Sebastian não sabia com que frequência as pessoas passavam por esse lugar, e ele precisava desaparecer antes de qualquer um dos guardas voltar. Ele correu para onde um lance de escada levava a uma porta, sugerindo uma saída. Sebastian subiu os degraus apressado, ignorando a dor que vinha com cada movimento, e chegou até o topo.





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“A imaginação de Morgan Rice não tem limites. Em mais uma série que promete ser tão cativante como as anteriores, UM TRONO PARA IRMÃS apresenta-nos o conto de duas irmãs (Sophia e Kate), órfãs, que lutam para sobreviver no mundo cruel e exigente de um orfanato. Um sucesso imediato. Mal posso esperar para por as mãos no segundo e no terceiro livro!”

– Books and Movie Reviews, Roberto Mattos<p><p>De Morgan Rice, Bestseller #1, chega uma nova série inesquecível de fantasia.

Em UMA JÓIA PARA REALEZAS (Um Trono para Irmãs—Livro Cinco), Sophia, 17, ouve dizer que Sebastian, seu amor, está preso e em preparação para ser executado. Irá ela arriscar tudo por amor?

Sua irmã Kate, de 15 anos, luta para escapar do poder da bruxa – mas o poder pode ser demasiado forte. Kate pode ser forçada a pagar o preço do acordo que fez – e viver uma vida que não quer.

A rainha está furiosa com Lady D'Angélica por ela não conseguir conquistar seu filho, Sebastian. Ela está preparada para a sentenciar à máscara de chumbo. Mas Lady D'Angélica tem seus próprios planos, e não vai desistir tão facilmente.

Cora e Emeline chegam finalmente a Stonehome – e o que elas lá encontram surpreende-as.

O mais surpreendente de tudo, porém, é o irmão de Sophia e Kate, um homem que mudará seus destinos para sempre. Que segredos é que ele guarda sobre seus pais há muito desaparecidos?

UMA JÓIA PARA REALEZAS (Um Trono para Irmãs—Livro Cinco) é o quinto livro de uma deslumbrante nova série de fantasia repleta de amor, desgosto, tragédia, ação, aventura, magia, espadas, feitiçaria, dragões, destino e suspense de tirar o fôlego. Um livro que não se quer parar de ler. Está cheio de personagens que vão fazer com que você se apaixone, e com um mundo que você nunca vai esquecer.

O livro #6 da série será publicado em breve.

“[Um Trono para Irmãs] é um começo poderoso de uma série [que] irá produzir uma combinação de protagonistas corajosos e circunstâncias desafiantes para envolver completamente não apenas jovens adultos, mas também fãs de fantasia adulta que procuram histórias épicas alimentadas por amizades e adversários poderosos”

–Midwest Book Review (Diane Donovan)

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