Книга - O Preço da Liberdade

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O Preço da Liberdade
Jack Mars


Um Thriller de Luke Stone #2
O PREÇO DA LIBERDADE é o 2º livro da série de sucesso de Luke Stone que começou com ALERTA VERMELHO: CONFRONTO LETAL (Livro #1) com download gratuito disponível. Um agente biológico é roubado de um laboratório de alta segurança. Preparado para ser usado como arma de destruição maciça, poderá matar milhões, sendo encetada uma desesperada caça por toda a América para capturar os terroristas antes que seja tarde demais. Luke Stone, responsável de um departamento de elite do FBI que vira a sua própria família numa situação de risco, prometera afastar-se, mas quando a nova Presidente lhe pede ajuda, não consegue recusar. Segue-se um cenário de devastação total que atinge a Presidente e a sua família. Com a sua força testada até ao limite, a nova Presidente dos Estados Unidos surpreende até os seus conselheiros mais próximos com a sua determinação na preservação dos valores da liberdade. O confronto torna-se pessoal quando membros do gabinete da Presidente querem Luke e a sua equipa fora de ação, obrigando-o a defender a nação à sua maneira. Mas nada dissuade Luke Stone de lutar por aquilo em que acredita. Luke compreende rapidamente que o alvo final dos terroristas é mais assustador do que ele próprio poderia imaginar. Com apenas alguns dias para evitar uma catástrofe global, o mais provável é nem Luke conseguir parar o diabólico plano gizado pelos terroristas. Um thriller político com ação desconcertante, cenários internacionais dramáticos, reviravoltas inesperadas e suspense infindável, ALERTA VERMELHO: O PREÇO DA LIBERDADE é o 2º livro da saga de Luke Stone, uma nova série explosiva que o vai manter acordado até altas horas da madrugada. O Livro #3 da série Luke Stone estará em breve disponível.







O PREÇO DA LIBERDADE



(UM THRILLER DE LUKE STONE – LIVRO 2)



JACK MARS


Jack Mars



Jack Mars é autor da série de thrillers LUKE STONE de grande sucesso que inclui os livros ALERTA VERMELHO: CONFRONTO LETAL (livro #1), ALERTA VERMELHO: O PREÇO DA LIBERDADE (livro #2) e GABINETE DE CRISE (livro #3).

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LIVROS DE JACK MARS



SÉRIE DE THRILLERS LUKE STONE

ALERTA VERMELHO: CONFRONTO LETAL (Livro #1)

ALERTA VERMELHO: O PREÇO DA LIBERDADE (Livro #2)

GABINETE DE CRISE (Livro #3)


ÍNDICE



CAPÍTULO UM (#ua9fcd803-7e17-542a-abe1-7d8292ed6a7e)

CAPÍTULO TRÊS (#ua1f5fce4-5256-5bf7-b701-a4169cfaca92)

CAPÍTULO QUATRO (#ud7e93e27-64c6-5933-873e-6dad65f0fd88)

CAPÍTULO CINCO (#u994c64db-234f-5e28-9d12-e369ccc0174a)

CAPÍTULO SEIS (#u88c54702-cd9a-523f-84dc-e82f599bbcbf)

CAPÍTULO SETE (#u0223d5f1-5c73-5191-8b5b-79ed24f9ccb6)

CAPÍTULO OITO (#ufbdfce22-a5a6-551f-880d-fdf02b7c6492)

CAPÍTULO NOVE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO DEZ (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO ONZE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO DOZE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO TREZE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO CATORZE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO QUINZE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO DEZASSEIS (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO DEZASSETE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO DEZOITO (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO DEZANOVE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E UM (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E DOIS (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E TRÊS (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E QUATRO (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E CINCO (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E SEIS (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E SETE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E OITO (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E NOVE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO TRINTA (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO TRINTA E UM (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO TRINTA E DOIS (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO TRINTA E TRÊS (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO TRINTA E CINCO (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO TRINTA E CINCO (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO TRINTA E SEIS (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO TRINTA E SETE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO TRINTA E NOVE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO QUARENTA (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO QUARENTA E UM (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO QUARENTA E DOIS (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO QUARENTA E TRÊS (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO QUARENTA E QUATRO (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO QUARENTA E CINCO (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO QUARENTA E SEIS (#litres_trial_promo)




CAPÍTULO UM


6 de Junho

15:47

Dewey Beach, Delaware



Um tremor percorria o corpo de Luke Stone. Olhou para a sua mão direita, a mão com que segurava a arma. Tremia, repousada na coxa. Não conseguia fazê-la parar.

Sentia-se nauseado, suficientemente indisposto para vomitar. O sol dirigia-se para oeste e a sua luminosidade atordoava Luke.

A hora H era dali a treze minutos.

Estava sentado no lugar do condutor de um SUV Mercedes M Series preto, a fitar a casa onde era provável que estivesse a sua família. A mulher, Rebecca e o filho, Gunner. A sua mente tentava invocar os seus rostos, mas Luke não o permitia. Podiam estar noutro lugar. Podiam estar mortos. Os seus corpos podiam estar acorrentados a blocos de cimento com pesadas correntes e a apodrecer no fundo da Baía de Chesapeake. Por momentos, viu o cabelo de Rebecca a flutuar como algas marinhas, movendo-se para a frente e para trás ao sabor da maré bem nas profundezas do rio.

Sacudiu a cabeça para afastar aquela imagem.

Becca e Gunner tinham sido raptados na noite anterior por agentes que trabalhavam para os homens que tinham derrubado o governo dos Estados Unidos. Tratara-se de um golpe de estado e os seus mentores tinham levado a família de Stone como instrumento negocial, na esperança de impedir que Luke derrubasse o novo governo.

Não tinha resultado.

“É ali,” Disse Ed Newsam.

“É mesmo?” Perguntou Luke e olhou para o seu parceiro sentado no banco do passageiro. “É mesmo certo?”.

Ed Newsam era um homem grande, negro e musculado, muito semelhante a um linebacker da NFL. Não havia qualquer suavidade naquele corpo onde sobressaíam os enormes braços cobertos de tatuagens. Usava barba cortada rente e cabelo à escovinha.

Ed tinha morto seis homens no dia anterior. Tinha sido bombardeado com rajadas de metralhadora. Um colete à prova de bala tinha-lhe salvado a vida, mas uma bala perdida tinha penetrado na bacia, partindo-a. A cadeira de rodas de Ed estava na mala do carro. Ed e Luke não dormiam há dois dias.

Ed olhou para o tablet que segurava nas mãos e encolheu os ombros.

“Sem dúvida que é aquela casa. Não sei se lá estão ou não, mas parece-me que estamos prestes a descobrir.”

Tratava-se de uma velha casa de praia com três quartos, algo desconexa, a três quarteirões de distância do Oceano Atlântico. Estava virada para a baía e tinha um pequeno cais. Era possível ali atracar um barco de nove metros, caminhar ao longo dos três metros de cais, subir alguns degraus e entrar na casa. A noite era a melhor altura para se fazer o que tinha de ser feito.

A CIA utilizara o local como esconderijo durante décadas. Dewey Beach no Verão estava de tal forma a abarrotar de veraneantes que os fantasmas podiam ali introduzir sorrateiramente Osama bin Laden sem ninguém reparar.

“Não querem que estejamos ali quando começar a operação,” Lembrou Ed. “Nós nem sequer temos uma missão. Sabes isso, não sabes?”

Luke anuiu. “Eu sei.”

O FBI era a agência que liderava este ataque, juntamente com a equipa SWAT da polícia estatal de Delaware proveniente de Wilmington. Tinham vindo a posicionar-se discretamente no bairro ao longo da última hora.

Luke já tinha assistido a situações idênticas vezes sem conta. Uma carrinha Verizon FIOS estava estacionada no fundo do quarteirão. De certeza que era do FBI. Um barco de pesca estava ancorado a noventa metros ao largo da baía. E também havia agentes federais. Dentro de alguns minutos, mais precisamente às 16:00, aquele barco faria uma súbita investida na direção do cais do esconderijo.

Um veículo blindado da SWAT desceria aquela rua a toda a velocidade em simultâneo. Outro desceria a rua de outro quarteirão para o caso de alguém querer fugir pelas traseiras. Iam agir rapidamente e em força, e não iam deixar qualquer espaço de manobra para uma retaliação.

Luke e Ed não tinham sido convidados. E porque haveriam de ser? Os polícias e agentes federais iam conduzir aquela operação como mandam as regras. E as regras diziam que Luke não tinha objetividade. Era a família dele que ali estava. Se entrasse, o mais certo era perder a cabeça e colocar-se a si próprio, à família, aos agentes envolvidos e toda a operação em risco. Ele nem devia estar naquela rua naquele momento. Não devia sequer estar nas imediações. Isso era o que as regras ditavam.

Mas Luke conhecia o género de homens que se encontravam dentro daquela casa. Provavelmente conhecia-os melhor que o FBI ou a SWAT. Naquele momento, estavam desesperados. Tinham participado numa tentativa de derrubar o governo e a conspiração falhara. Pelo menos trezentas pessoas tinham morrido na tentativa de golpe de estado, incluindo o Presidente dos Estados Unidos. A Casa Branca fora destruída com material radioativo e levaria anos até ser reconstruída.

Luke tinha estado com a nova Presidente a noite passada e nessa manhã. Susan não estava com predisposição para ser misericordiosa. A lei assim o ditava: a traição era punível com a morte. Enforcamento. Pelotão de fuzilamento. O país poderia ter que regredir um pouco durante algum tempo e, nesse caso, homens como os que se encontravam dentro daquela casa, sofreriam as consequências.

De qualquer das formas, não entrariam em pânico. Não eram vulgares criminosos. Eram homens altamente qualificados e treinados que haviam estado em combate e que tinham vencido contra todas as probabilidades. A palavra rendição não fazia parte do seu dicionário. Eram extremamente inteligentes e seria difícil retirá-los do local. Um ataque de uma equipa SWAT em número superior não seria suficiente.

Se a mulher e o filho de Luke estivessem ali, e se os homens dentro da casa conseguissem repelir o primeiro ataque… Luke nem queria pensar.

Não era uma opção.

“O que é que vais fazer?” Perguntou Ed.

Luke olhou pela janela para o céu azul. “O que é que tu farias se estivesses no meu lugar?”

Ed compreendera de imediato a resolução de Luke. “Entrava com toda a força e matava cada homem que me aparecesse à frente.”

Luke assentiu. “Eu também.”



*



O homem era um fantasma.

Estava num quarto do primeiro andar, nas traseiras da velha casa de praia a observar os seus prisioneiros. Uma mulher e um rapazinho, escondidos num quarto sem janelas. Estavam sentados um ao lado do outro em cadeiras desdobráveis com as mãos algemadas atrás das costas e os tornozelos também algemados. Tinham capuzes pretos na cabeça para que não pudessem ver. O homem tinha-lhes retirado as mordaças da boca para que a mulher pudesse tranquilizar o filho.

“Rebecca,” Disse o homem, “somos capazes de ter algum movimento por aqui daqui a nada. Se isso acontecer, quero que você e o Gunner fiquem calados. Não podem gritar ou chamar por alguém. Se o fizerem, terei que os matar aos dois. Entendido?”

“Sim,” Respondeu Rebecca.

“Gunner?”

Debaixo do capuz, o rapaz emitiu uma espécie de lamúria.

“Ele está demasiado assustado para falar,” Disse a mulher.

“Isso é bom,” Replicou o homem. “Ele deve ter medo. É um rapaz esperto. E um rapaz esperto não faria nada estúpido, pois não?”

A mulher não respondeu e o homem pareceu satisfeito com esse mudo assentimento.

Outrora o homem tivera um nome. Depois, com o passar do tempo, tivera dez nomes. Agora já não se importava com nomes. Apresentou-se como “Brown”, se é que tais delicadezas faziam sentido. Sr. Brown. Soava-lhe bem. Lembrava-lhe coisas mortas. Folhas mortas no Outono. Florestas nuas e queimadas, meses depois de um fogo ter destruído tudo.

Brown tinha quarenta de cinco anos. Era grande e ainda era forte. Era um soldado de elite e assim sempre se mantivera. Há muitos anos, aprendera a suportar a dor e a exaustão na Escola Naval dos SEAL. Aprendera a matar e a não ser morto em várias zonas de conflito por todo o mundo. Aprendera a torturar na Escola das Américas. Tinha colocado em prática o que aprendera na Guatemala e em El Salvador, e mais tarde, na Base da Força Aérea de Bagram e na Baía de Guantánamo.

Brown já não trabalhava para a CIA. Não sabia para quem trabalhava e estava-se nas tintas para isso. Era um freelancer e era pago ao trabalho.

O dinheiro, e era muito dinheiro, era-lhe entregue em notas. Sacos de lona cheios de notas de cem dólares novinhas em folha, deixadas na bagageira de um Sedan alugado no Aeroporto Nacional Reagan. Uma mala de cabedal com meio milhão de dólares em notas de dez, vinte e cinquenta das séries de 1974 e 1977, colocada num cacifo de um ginásio nos subúrbios de Baltimore. Eram notas velhas, mas nunca tinham sido utilizadas e eram tão boas como as novas emitidas em 2013.

Há dois dias, Brown recebera uma mensagem para vir a esta casa. A casa era sua até aviso em contrário e a sua função era geri-la. Se aparecesse alguém, ele era o responsável. Tudo bem. Brown era bom em muitas coisas e um dos seus maiores talentos era chefiar.

No dia anterior de manhã, alguém rebentara com a Casa Branca. O Presidente e a Vice-Presidente fugiram para o bunker de Mount Weather, juntamente com cerca de metade do governo civil. À noite, alguém destruira Mount Weather com toda aquela gente lá dentro. Algumas horas depois, uma nova Presidente entrou em palco, a antiga Vice-Presidente. Muito bom.

Uma reviravolta total, liberais e conservadores a tomarem conta do poder, e tudo num só dia. É claro que o público precisava de culpar alguém e os novos responsáveis apontaram o dedo ao Irão.

Brown ansiava pelos próximos desenvolvimentos.

Já a noite ia avançada, quando quatro tipos atracaram um barco a motor no cais. Os tipos traziam esta mulher e esta criança. Os prisioneiros eram a família de alguém chamado Luke Stone. Pelos vistos, as pessoas partiram do princípio que Stone seria um problema. Naquela manhã, tornara-se clara a magnitude do problema que Stone constituía.

Em pouco tempo, o golpe tinha sido desmascarado e lá estava Luke Stone, de pé em cima dos destroços.

Mas Brown ainda tinha a mulher e o filho de Stone, e não fazia a mínima ideia do que fazer com eles. Não havia comunicações. Possivelmente deveria tê-los morto e abandonado a casa, mas em vez disso, esperou por ordens que nunca surgiram. Agora via uma carrinha Verizon FIOS à frente da casa e um desinteressante barco de pesca na água.

Pensariam que ele era parvo? Por favor. Topava-os à légua.

Dirigiu-se à entrada onde se encontravam dois homens trintões, com cabelo desgrenhado e barbas compridas – uma vida como agentes das operações especiais. Brown reconhecia-lhes o aspeto. Também lhes reconhecia o olhar e não era medo o que transmitiam.

Era excitação.

“Qual é o problema?” Questionou Brown.

“Caso ainda não tenhas reparado, estamos prestes a ser atacados.”

Brown assentiu. “Eu sei.”

“Não posso ir parar à prisão,” Disse o barba #1.

O barba #2 concordou. “Eu também não.”

Brown estava no mesmo barco que eles. Mesmo antes disto, se o FBI descobrisse a sua identidade real, esperavam-no várias condenações a prisão perpétua. Agora? Não valia a pena pensar nisso. Poderia demorar meses até o identificarem e entretanto, permaneceria numa cadeia municipal algures, rodeado de criminosos de terceira. Agora, pelo andar da carruagem, não podia contar com um milagre para o salvar.

Ainda assim, sentia-se calmo. “Este sítio é mais complicado do que parece.”

“Pois, mas não há saída,” Disse o barba #1.

E era bem verdade.

“Então afastamo-los e vemos se conseguimos negociar. Temos reféns.” Mal as palavras lhe saíram da boca, Brown compreendeu a impossibilidade do que dissera. Negociar o quê, passagem segura? Passagem segura para onde?

“Eles não vão negociar connosco,” Atirou o barba #1. “Vão mentir-nos até um atirador dar um tiro certeiro.”

“Ok,” Disse Brown. “Então o que é que querem fazer?”

“Lutar,” Respondeu o barba #2. “E se formos rechaçados, quero ter tempo de vir cá acima para enfiar uma bala nas cabeças dos nossos convidados antes de me enfiarem uma a mim.”

Brown aquiesceu. Já tinha estado em vários locais complicados e sempre tinha encontrado uma saída. Podia ser que ainda houvesse uma forma de se safar desta. Assim pensou, mas não lhes disse isso. Só alguns ratos conseguiam escapar de um navio a afundar-se.

“Parece-me bem,” Concordou. “É o que faremos. Agora, vão para as vossas posições.”



*



Luke vestiu o seu pesado colete à prova de bala. O peso ajustou-se ao seu corpo. Prendeu a cintura do colete, retirando algum peso de cima dos ombros. As suas calças cargo estavam protegidas com uma armadura Pele de Dragão super leve. Aos seus pés, no chão, encontrava-se um capacete de combate.

Ele e Ed estavam atrás da porta traseira aberta do Mercedes. O vidro esfumado da porta traseira ocultava-os das janelas da casa. Ed apoiou-se no carro. Luke tirou a cadeira de rodas de Ed, abriu-a e colocou-a no chão.

“Ótimo,” Disse Ed, abanando a cabeça. “Já tenho a minha carruagem, estou pronto para a batalha.” E libertou um suspiro.

“Então é assim,” Começou Luke. “Nós os dois não estamos aqui para brincadeiras. Quando a SWAT entrar, o mais provável é colocarem armas na porta do alpendre virada para o cais e forçarem a entrada. Não me parece que vá resultar. Quase aposto que a porta das traseiras é de aço duplo e não cede, e no alpendre vai ser uma tempestade dos diabos. Temos fantasmas lá dentro e eles não vão proteger a porta? Nem pensar. Penso que os nossos vão ser repelidos dali para fora. Esperemos que ninguém seja atingido.”

“Ámen,” Rematou Ed.

“Vou aparecer por trás da ação incial. Com isto.” Luke retirou uma submetralhadora Uzi da bagageira.

“E isto.” E sacou de uma shotgun Remington 870.

Sentiu o peso de ambas as armas. O peso era tranquilizador.

“Se os polícias entrarem e garantirem a segurança da casa, ótimo. Se não conseguirem entrar, não temos tempo a perder. A Uzi tem munições russas perfurantes. Deverão penetrar em qualquer proteção que aqueles tipos estejam a usar. Tenho meia dúzia de depósitos carregados, não vá precisar deles. Se der por mim numa luta na entrada, passo para a shotgun. Depois é despedaçar pernas, braços, pescoços e cabeças.”

“Sim, mas como planeias entrar lá dentro?” Questionou Ed. “Se os polícias não estiverem lá dentro, como é que entras?”

Luke dirigiu-se ao SUV e retirou de lá um lança-granadas M79. Parecia uma enorme shotgun serrada com uma coronha de madeira. Passou-a a Ed.

“Tu vais-me colocar lá dentro.”

Ed agarrou a arma com as suas mãos enormes. “Lindo.”

Luke agarrou em duas caixas de granadas M406, quatro em cada caixa.

“Quero que subas o quarteirão atrás dos carros estacionados do outro lado da rua. Antes de eu chegar lá, abre-me um belo buraco na parede. Aqueles tipos vão estar concentrados nas portas à espera que os polícias tentem arrombá-las. Em vez disso, vamos colocar uma granada nos seus colos.”

“Fixe,” Respondeu Ed.

“Depois da primeira, dá-lhes com mais uma. Depois agacha-te e fica fora do alcance deles.”

Ed passou a mão pelo cano do lança-granadas. “Achas que é seguro fazê-lo desta forma? Quero dizer… os teus estão lá dentro.”

Luke olhou fixamente para a casa. “Não sei. Mas na maior parte dos casos de que tomei conhecimento, os prisioneiros estão ou na parte superior da casa ou na cave. Estamos na praia e o lençol freático não permite a existência de uma cave. Por isso, penso que se estão nesta casa, encontram-se lá em cima, naquele canto superior direito, o que não tem janelas.”

Olhou para o relógio. 16:01.

Tal como planeado, um carro azul blindado surgiu a acelerar na esquina. Luke e Ed viram-no passar. Era um Lenco BearCat com blindagem de aço, ameias, refletores e demais adereços.

Luke sentiu o roçagar de algo no peito. Era medo. Era pavor. Tinha passado as últimas vinte e quatro horas a fingir que não sentia nada em relação ao facto de assassinos contratados terem a sua mulher e filho reféns. Ocasionalmente, os seus verdadeiros sentimentos em relação à situação ameaçavam eclodir, mas ele reprimia-os outra vez.

Não havia tempo para sentimentos.

Olhou para Ed, sentado na sua cadeira de rodas com um lança-granadas no colo. O rosto de Ed endurecera. Os olhos faiscavam a frieza do aço. Ed era um homem que vivia de acordo com os seus valores e Luke sabia-o. Esses valores incluíam lealdade, honra, coragem e a aplicação de uma força avassaladora em benefício do que era bom e justo. Ed não era um monstro. Mas naquele momento, podia muito bem ser.

“Estás pronto?” Perguntou Luke.

O rosto de Ed permaneceu imutável. “Eu nasci pronto, homem branco. E tu, estás pronto?”

Luke carregou as suas armas. Agarrou no capacete. “Estou pronto.”

Enfiou o suave capacete preto na cabeça e Ed fez o mesmo com o seu. Luke baixou a máscara. “Intercomunicadores ligados,” Disse.

“Ligados,” Corroborou Ed. Parecia que Ed estava dentro da cabeça de Luke. “Ouço-te perfeitamente. Agora, vamos a isto.” E Ed deslocou-se para o outro lado da rua.

“Ed!” Chamou Luke. “Preciso de um grande buraco naquela parede. Uma abertura que me permita passar.”

Ed ergueu uma mão e continuou o seu caminho. Poucos momentos depois já se encontrava atrás dos carros estacionados do outro lado da rua, não visível a olhares indiscretos.

Luke deixou a porta da bagageira aberta e agachou-se atrás dela. Tocou em todas as suas armas. Tinha uma Uzi, uma shotgun, uma arma de mão e duas facas, em caso de necessidade. Respirou fundo e olhou para o céu azul. Ele e Deus não estavam propriamente de boas relações. Era bom se um dia tivessem a mesma opinião em relação a algumas coisas. Se era verdade que Luke nunca precisara de Deus, também era verdade que precisava Dele agora.

Uma nuvem volumosa e lenta flutuava no horizonte.

“Por favor,” Suplicou Luke à nuvem.

Momentos depois, o tiroteio começava.


CAPÍTULO DOIS



Brown encontrava-se na pequena sala de controlo logo à saída da cozinha.

Na mesa atrás dele repousava uma espingarda M16 e uma Beretta semiautomática de nove milímetros, ambas carregadas. Havia ainda três granadas de mão, uma máscara de proteção e um walkie-talkie Motorola preto.

Na parede acima da mesa estava montado um circuito fechado de TV com seis pequenos ecrãs. As imagens surgiam-lhe a preto e branco. Através de cada ecrã, Brown tinha acesso a imagens em tempo real a partir das câmaras colocadas em pontos estratégicos à volta da casa.

Dali conseguia ver o exterior das portas deslizantes de vidro, bem como do topo da rampa que dava acesso ao cais; do próprio cais e da abordagem ao mesmo por água; do exterior da porta de aço duplamente reforçado na parte lateral da casa; do saguão na parte de dentro daquela porta; do corredor superior e da sua janela virada para a rua; e por último, da sala sem janelas do piso superior onde a mulher e o filho de Luke Stone estavam silenciosamente amarrados às suas cadeiras com capuzes a cobrirem-lhes as cabeças.

Não havia maneira de assaltar esta casa de surpresa. Com o teclado na mesa, assumiu o controlo manual da câmara situada no cais. Ergueu-a ligeiramente até o barco de pesca na baía estar centrado e depois aumentou o zoom. Viu três polícias envergando coletes anti estilhaços no exterior do trincaniz. Levantavam âncora. Dentro de um minuto, aquele barco estaria próximo da casa.

Brown visualizava agora a imagem do alpendre situada nas traseiras da casa. Virou a câmara, direcionando-a para a parte lateral da casa. Só conseguia vislumbrar a grelha dianteira da carrinha estacionada do outro lado da rua. Não importava. Tinha um homem na janela do piso superior com a mira apontada à carrinha.

Brown suspirou. Pensou que o melhor que tinha a fazer era comunicar com aqueles polícias via rádio e dizer-lhes que sabia o que estavam a fazer. Podia trazer a mulher e o rapaz para baixo, e colocá-los à frente da porta de vidro para que todos tivessem a noção do que estava em jogo.

Antes de começar um tiroteio que resultaria num banho de sangue, podia passar logo às negociações infrutíferas. Até poderia poupar algumas vidas ao fazê-lo.

Sorriu. Mas ia estragar toda aquela diversão, não é verdade?

Verificou a imagem do saguão. Tinha três homens lá em baixo, os dois de barbas e um homem em quem ele pensava como sendo o Australiano. Um homem cobria a porta de aço e dois homens cobriam a porta deslizante de vidro das traseiras. Aquela porta de vidro e o alpendre no exterior eram os pontos mais vulneráveis. Mas era altamente improvável que os polícias conseguissem chegar tão longe.

Pegou no walkie-talkie.

“Sr. Smith?” Interpelou o homem agachado junto à janela aberta lá em cima.

“Sr. Brown?” Respondeu uma voz sarcasticamente. Smith ainda era suficientemente jovem para pensar que as alcunhas eram engraçadas. No ecrã de TV surgiu a mão de Smith.

“O que é que a carrinha está a fazer?”

“A divertir-se à grande. Aquilo quase parece uma orgia.”

“Ok. Fica atento. Não… Dê por onde der… Não deixes ninguém chegar ao alpendre. Não preciso de ouvir nada da tua parte. Tens autorização para intervir. Entendido?”

“Entendido,” Confirmou Smith. “Disparar à descrição, meu.”

“Bom homem,” Disse Brown. “Talvez nos encontremos no inferno.”

Naquele exato momento, a casa foi invadida pelo som de um veículo pesado a circular na rua. Brown abaixou-se, rastejou até à cozinha e acocorou-se junto à janela. No exterior, um carro blindado parou em frente à casa. A pesada porta traseira escancarou-se e de lá saíram vários homens corpulentos, revestidos de proteção corporal.

Um segundo passou. Dois segundos. Três. Reunidos na rua já estavam oito homens.

Smith abriu fogo lá de cima.

Duh-duh-duh-duh-duh-duh.

A força dos tiros fez o assoalho vibrar.

Dois dos polícias caíram por terra de imediato. Os outros abaixaram-se de volta ao interior do veículo ou atrás dele. Atrás do carro blindado, três homens saíram de repente da carrinha da TV por cabo. Smith topou-os. Apanhado por uma chuva de balas, um dos homens executava uma dança desesperada no meio da rua.

“Excelente, Sr. Smith,” Transmitiu Brown pelo Motorola.

Um dos polícias foi alvejado no meio da rua e agora rastejava em direção ao passeio, talvez na esperança de alcançar os arbustos situados em frente da casa. Usava proteção corporal. Fora provavelmente atingido nos pontos não protegidos, mas ainda podia constituir uma ameaça.

“Temos no chão um que ainda mexe! Quero-o arrumado.”

Quase de imediato, uma saraivada de balas atingiu o homem cujo corpo se torceu e estremeceu. Brown viu o tiro certeiro em câmara lenta. Atingira o homem no intervalo da proteção na nuca, entre a parte superior da proteção e a parte inferior do capacete. Um esguicho de sangue libertou-se do corpo do homem que não mais se mexeu.

“Boa pontaria, Sr. Smith. Fantástica pontaria. Agora mantém todos inoperacionais.”

Entretanto, Brown regressou à sala de controlo. O barco de pesca aproximava-se. Antes mesmo de chegar ao cais, uma equipa de homens com proteções pretas e capacetes, já saltava para a margem.

“Aí em baixo, ponham as máscaras!” Gritou Brown. “Vêm na direção dessa porta deslizante. Preparem-se para ripostar.”

“Afirmativo,” Respondeu alguém.

Os invasores posicionaram-se no cais. Transportavam escudos balísticos blindados e abaixavam-se atrás deles. Entretanto, apareceu um homem erguendo uma arma de gás lacrimogéneo. Brown alcançou a sua própria máscara e observou o projétil a voar na direção da casa. Atingiu a porta de vidro e penetrou na sala principal.

Um outro homem surgiu e disparou outro projétil. Depois, um terceiro homem disparou outro ainda. Todos os projéteis de gás lacrimogéneo atravessaram o vidro, invadindo a casa. A porta de vidro já não existia. No ecrã de Brown, era visível que a área próxima do saguão estava repleta de fumo.

“Aí em baixo, como estão as coisas?” Interrogou Brown. Alguns segundos sem resposta.

“Como estão as coisas!”

“Não te preocupes, amigo,” Respondeu o Australiano. “Qual é o problema de um bocado de fumo? Temos as nossas máscaras postas.”

“Disparem quando os tiverem na mira,” Ordenou Brown.

Observou os homens junto à porta deslizante a dispararem na direção do cais. Os invasores estavam cercados. Não conseguiam sair detrás dos seus escudos balísticos. E os homens de Brown tinham montes de munições prontas a disparar.

“Boa pontaria, rapazes,” Transmitiu Brown pelo walkie-talkie. “E já agora, afundem-lhes o barco.”

Brown sorriu cinicamente para si próprio. Podiam aguentar-se ali durante dias.



*



Era uma debandada. Havia homens caídos por toda a parte.

Luke caminhou cuidadosa e furtivamente na direção da casa. O homem na janela do piso superior estava com a mão quente. Fazia o que queria daqueles polícias. Luke estava próximo da parte lateral da casa. Do local onde se encontrava não tinha ângulo para disparar, mas o mais certo era o homem lá em cima também não o ver.

Luke viu o mau da fita a liquidar um polícia com um tiro certeiro na nuca.

“Ed, consegues ver bem o atirador do andar de cima?”

“Consigo enfiar-lhe uma bala pela garganta abaixo. Tenho a certeza que não me vê daqui.”

Luke anuiu. “Vamos a isso então. Isto está uma confusão por estas bandas.”

“Tens a certeza?” Perguntou Ed.

Luke analisou a parte superior da casa. O quarto sem janelas estava no extremo mais distante da casa a partir do ninho do atirador.

“Quase que aposto que eles estão naquele quarto sem janelas,” Disse Luke.

Por favor.

“Basta dizeres a palavra mágica,” Declarou Ed.

“Força.”

E Luke ouviu distintamente o som oco do lança-granadas.

Doonk!

Um míssil voou por detrás da linha de carros do outro lado da rua. Sem arco – apenas uma linha plana aproximando-se na diagonal. Embateu precisamente na janela. Passado um milésimo de segundo:

BANG.

A parte lateral da casa explodiu para o exterior soltando pedaços de madeira, vidro, aço e fibra de vidro. A arma na janela silenciou-se.

“Ótimo, Ed. Fantástico. Agora quero aquele buraco na parede.”

“E o que é que se diz?” Gracejou Ed.

“Se faz favor.”

Luke afastou-se e agachou-se atrás de um carro.

Doonk!

Outra linha plana se aproximou, três metros acima do solo. Atingiu a parte lateral da casa com um impacto brutal e abriu uma imensa ferida naquela parede. Uma bola de fogo irrompeu no interior, cuspindo fumo e escombros.

Luke quase saltou com a colisão.

“Espera,” Informou Ed. “Mais uma a caminho.”

Ed disparou novamente e desta vez penetrou ainda mais fundo na casa. Línguas de fogo vermelhas e laranja agitavam-se no buraco. O chão tremeu. Tudo bem. Chegara o momento.

Luke levantou-se e começou a correr.



*



A primeira explosão eclodira mesmo acima da sua cabeça. Toda a casa estremeceu. Brown relanceou a entrada do piso superior através do ecrã.

A extremidade mais distante tinha simplesmente desaparecido. O lugar onde se encontrava Smith já não existia. Apenas se via um buraco irregular onde pouco antes haviam estado a janela e o Sr. Smith.

“Sr. Smith?” Chamou Brown. “Estás aí, Sr. Smith?”

Silêncio absoluto.

“Alguém viu de onde veio?”

“Tu é que és os olhos, Ianque,” Declarou uma voz.

Estavam em sarilhos.

Alguns segundos mais tarde, um foguete atingiu a parte fronteira da casa. A onda de choque derrubou Brown. As paredes estavam a ruir. Subitamente, o teto da cozinha cedeu. Brown estava deitado no chão entre destroços. As coisas não estavam a correr como ele tinha previsto. Os polícias derrubavam portas, não dispavam foguetes por paredes adentro.

Outro foguete atingiu a casa, desta feita penetrando ainda mais fundo. Brown cobriu a cabeça. Tudo tremia. A casa parecia prestes a desabar.

Passou um momento. Agora alguém gritava. Não fosse isso e haveria silêncio. Brown ergueu-se e correu na direção das escadas. Quando se encaminhava para fora do compartimento, agarrou na sua arma e numa granada.

Atravessou a sala principal. Era uma carnificina, um autêntico matadouro. A divisão estava em chamas. Um dos homens de barbas estava morto, aliás, mais que morto – pedaços do que fora o seu corpo, avistavam-se por toda a parte. O Australiano tinha entrado em pânico e tirara a máscara. Tinha o rosto coberto de sangue negro, mas Brown não conseguia descortinar onde tinha sido atingido.

“Não vejo!” Gritava o homem. “Não vejo!”

Tinha os olhos bem abertos.

Um homem envergando uma proteção corporal e capacete atravessou calmamente a parede destruída. Silenciou o Australiano com o ensurdecedor disparo de uma arma automática. A cabeça do Australiano rebentou como um tomate. Ainda permaneceu de pé sem cabeça durante um ou dois segundos, depois caiu desamparado no chão.

O outro homem de barbas estava deitado no chão junto à porta das traseiras, a porta reforçada com aço duplo com que Brown se deliciara há apenas alguns momentos atrás. Os polícias nunca conseguiriam atravessar aquela porta. O barba #2 ficara ferido na explosão, mas ainda estava operacional. Arrastou-se até à parede, endireitou-se e alcançou a arma presa ao ombro.

O intruso abateu o barba #2 com um tiro à queima-roupa no rosto. Sangue, osso e uma substância cinzenta espalharam-se na parede.

Brown voltou-se e desatou a correr pelas escadas acima.



*



O ar estava repleto de fumo, mas ainda assim Luke conseguiu ver o homem a correr para as escadas. Olhou em seu redor e constatou que estavam todos mortos.

Satisfeito, correu para as escadas. O som da sua própria respiração retumbava-lhe nos ouvidos.

Ali estava vulnerável. As escadas eram tão estreitas que se alguém decidisse atirar sobre ele, seria difícil resistir. Mas ninguém o fez.

Na parte superior da casa, o ar já era respirável. À esquerda avistava a janela e parede destruídas onde o atirador se instalara. Num relance, viu as pernas do homem no chão. As botas apontavam em direções divergentes. O resto do corpo eclipsara-se.

Luke virou à direita. De forma instintiva, correu para o compartimento situado na extremidade da entrada. Largou a Uzi no corredor. Retirou a shotgun do ombro e largou-a também. Retirou a Glock do coldre.

Virou à esquerda na direção do quarto.

Becca e Gunner estavam amarrados em duas cadeiras desdobráveis com os braços atrás das costas. Tinham os cabelos desgrenhados como se alguém lhos tivessem divertidamente afagado. E de facto, ali estava um homem atrás deles. Deixou cair dois capuzes negros no chão e colocou o cano da arma encostado à nuca de Becca. Estava agachado numa posição muito baixa utilizando Becca à sua frente como escudo humano.

Os olhos de Becca estavam muito abertos e os de Gunner fechados. Chorava de forma incontrolável e todo o corpo estremecia com silenciosos soluços. Tinha molhado as calças.

Valeria a pena?

Vê-los daquela forma, indefesos, aterrorizados, valera a pena? Luke ajudara a travar um golpe de estado na noite anterior. Salvara a nova Presidente de morte quase certa, mas tinha valido a pena?

“Luke?” Articulou Becca como se não o reconhecesse.

Claro que não o reconhecia. Retirou o capacete.

“Luke,” Repetiu. Arquejou, talvez aliviada. Luke não conseguira decifrar. Era normal as pessoas emitirem ruídos em momentos extremos e não tinham necessariamente que ter um significado.

Luke ergueu a arma, apontando-a diretamente para o espaço entre as cabeças de Becca e Gunner. O homem sabia o que estava a fazer. Não havia nada que Luke pudesse atingir. Mas mesmo assim, Luke deixou a arma apontada àquele local. Observou pacientemente. O homem não seria sempre eficaz. Ninguém o era de forma permanente.

Naquele momento, Luke não sentia nada a não ser uma… Calma… De morte.

Não sentiu qualquer alívio a apoderar-se do seu corpo. Isto ainda não tinha terminado.

“Luke Stone?” Perguntou o homem. Luke assentiu. “Fantástico. Tem estado em toda a parte nestes últimos dias. É mesmo o Luke?”

Luke conseguira visualizar o rosto do homem antes de se agachar atrás de Becca. Tinha uma cicatriz vincada na bochecha esquerda. Cabelo à escovinha. As caraterísticas bem distintivas de alguém que passara toda a vida no exército.

“Quem quer saber?” Desafiou Luke.

“Chamam-me Brown.”

Um nome que não era um nome. O nome de um fantasma. “Bem, Brown, como queres fazer isto?”

Luke conseguia ouvir a polícia a invadir a casa logo abaixo deles.

“Que opções temos?” Redarguiu Brown.

Luke não se mexia, a arma à espera do momento certo para disparar. “Parece-me que temos duas opções. Podes morrer neste preciso momento ou, se tiveres sorte, na prisão daqui a muitos anos.”

“Ou podia estoirar os adoráveis miolos da tua mulher para cima de ti.”

Luke não respondeu. Limitava-se a apontar a arma. O braço não sentia cansaço. Nunca se cansaria. Mas os polícias iriam irromper pelas escadas acima a qualquer momento e isso ia alterar as coisas.

“E tu estarás morto um segundo depois.”

“Verdade,” Concedeu Brown. “Ou podia fazer isto.”

A mão livre colocou uma granada no colo de Becca.

Quando Brown se afastou, Luke largou a arma e mergulhou. Numa sequência de movimentos, agarrou na granada, atirou-a para a parede mais distante da divisão, derrubou as duas cadeiras e atirou Becca e Gunner para o chão.

Becca gritou.

Luke juntou-os com brusquidão, não era momento para delicadezas. Juntou-os mais e mais, posicionou-se em cima deles, cobriu-os com o seu corpo e com a sua proteção. Tentou torná-los invisíveis.

Durante um momento, nada aconteceu. Talvez fosse um ardil. A granada seria uma réplica e agora o homem chamado Brown tinha a vantagem do lado dele, matando-os a todos.

BOOOOOOOM!

E foi então que a explosão ocorreu, ensurdecendo quem se encontrava naquele compartimento. Luke juntou ainda mais a família. O chão trepidou. Pedaços de metal caíram sobre ele. Baixou ainda mais a cabeça. A pele desprotegida do seu pescoço ficara esfacelada. Continuou a cobri-los e a segurá-los.

A sua família tremia debaixo dele, estarrecida com o choque e o medo, mas viva.

Agora chegara o momento de matar aquele sacana. A Glock de Luke estava no chão ao seu lado. Pegou nela e levantou-se. Virou-se.

Um enorme buraco irregular tinha sido aberto no fundo do compartimento. Para lá dele, Luke conseguia ver a luz do dia e o céu azul. Conseguia ver a água verde escura da baía. E também conseguia ver que o homem chamado Brown tinha desaparecido.

Luke aproximou-se do buraco, utilizando os escombros da parede para se proteger. As bordas eram uma mistura de retalhos de madeira, placas de reboco partidas e isolamento de fibra de vidro destruído. Luke esperava ver um corpo estendido no chão, talvez desfeito em vários pedaços sangrentos. Mas não. Não havia qualquer corpo.

Por um momento, Luke pensou ter visto um chapinhar. Um homem poderia ter mergulhado na baía e desaparecido. Luke piscou os olhos e olhou novamente. Não conseguia ter a certeza.

De qualquer das formas, não havia sinal do homem chamado Brown.




CAPÍTULO TRÊS


21:03

Centro Médico da Marinha de Bethesda – Bethesda, Maryland



A luz do portátil cintilava na semi-escuridão do quarto privado do hospital. Luke estava sentado numa desconfortável cadeira de braços, a olhar para o monitor com um par de fones que se estendiam do computador até aos seus ouvidos.

Estava quase sem fôlego de gratidão e alívio. Doía-lhe o peito graças à dificuldade em respirar que experimentara nas últimas quatro ou cinco horas. Apetecera-lhe chorar, mas ainda não chegara a esse ponto. Talvez mais tarde.

O quarto tinha duas camas. Luke puxara uns cordelinhos e Becca e Gunner dormiam profundamente naquelas camas. Estavam sedados, mas não importava. Nenhum dos dois tinha dormido desde o momento em que haviam sido raptados.

Tinham passado dezoito horas de puro terror. Agora estavam a dormir. E assim ficariam durante muito tempo.

Nenhum se magoara. É verdade que ficariam com marcas psicológicas, mas fisicamente estavam bem. Os maus da fita não tinham conseguido levar a sua avante. Talvez ali estivesse estado a mão de Don Morris a protegê-los.

Pensou um pouco em Don. Agora que tudo tinha acabado, fazia sentido pensar nele. Don tinha sido o maior mentor de Luke. Desde que Luke se juntara à Força Delta aos vinte e sete anos até àquela manhã, vinte anos mais tarde, Don tinha sido uma presença constante na vida de Luke. Quando o Don criou a Special Response Team do FBI, reservara logo um lugar para Luke. Mais do que isso – recrutara Luke, convençara-o, conquistara-o e roubara-o aos Delta.

Mas Don mudara a dada altura e Luke não se apercebera. Don estava entre os conspiradores que tentaram derrubar o governo. Talvez um dia Luke compreendesse as motivações de Don, mas não hoje.

No monitor à sua frente, passavam imagens em direto da sala de imprensa repleta de gente a partir do que agora denominavam de “a Nova Casa Branca”. A sala tinha quase cem lugares sentados. Tinha uma inclinação gradual, como uma espécie de cinema. Todos os lugares estavam ocupados. Todo o espaço ao longo da parede do fundo estava ocupado. Uma multidão de pessoas estava nas laterais do palco.

Imagens da própria casa iam surgindo a espaços no ecrã. Era a bela mansão dos anos 50 do século XIX em estilo Queen Anne, torreada e com espigões, situada nos terrenos do Observatório Naval em Washington, D.C.. E de facto, era maioritariamente branca.

Luke sabia algumas coisas a seu respeito. Durante décadas havia sido a residência oficial do Vice-Presidente dos Estados Unidos. Agora, e no futuro próximo, seria a casa e gabinete da Presidente.

No ecrã via-se novamente a sala de imprensa quando a Presidente subiu ao palanque: Susan Hopkins, a antiga Vice-Presidente que tomara posse nessa mesma manhã. Era a primeira vez que se dirigia ao povo Americano como Presidente. Vestia um fato azul-escuro e o cabelo louro num penteado bob. O fato parecia algo volumoso o que significava que usava material à prova de bala debaixo dele.

Os olhos de Susan Hopkins apresentavam um misto de austeridade e suavidade. O mais provável era os assessores de imprensa a terem instruído no sentido de aparentar raiva, coragem e esperança, tudo em simultâneo. Um caracterizador de topo tinha conseguido esconder as queimaduras do seu rosto. A não ser que se soubesse onde estavam, não se conseguiria vê-las. Tal como tinha acontecido durante toda a sua vida, Susan era a mulher mais bela da sala.

O seu currículo era impressionante. Já tinha sido uma supermodelo adolescente, jovem esposa de um bilionário do setor tecnológico, mãe, Senadora pela Califórnia, Vice-Presidente e agora, de forma inesperada, Presidente. O anterior Presidente, Thomas Hayes, morrera num terrível incêndio subterrâneo e a própria Susan tivera muita sorte em sobreviver.

Luke salvara a sua vida duas vezes no dia anterior.

Retirou o computador do modo silêncio.

Susan estava rodeada de painéis de vidro à prova de bala. Dez agentes dos Serviços Secretos encontravam-se no palco com ela. A multidão de jornalistas na sala, ovacionava-a de pé. Os locutores da TV falavam em tom baixo. A câmara moveu-se, descobrindo o marido de Susan, Pierre e as suas duas filhas.

De volta à Presidente: erguera as mãos pedindo silêncio. Apesar disso, lançou um sorriso rasgado à plateia. E a multidão irrompeu novamente em aplausos. Aquela era a Susan Hopkins que conheciam: a rainha do entusiasmo nos talk shows diurnos, das cerimónias de inauguração e dos comícios políticos. Agora, as suas pequenas mãos convertiam-se em punhos que ela levantava acima da cabeça, quase como um árbitro a indicar um touchdown. A multidão manifestava-se, interminavelmente ruidosa.

A câmara deslocou-se. Rígidos jornalistas de Washington, D.C. e de outros pontos do país, jornalistas que integravam uma das mais desiludidas classes profissionais, perfilavam-se com lágrimas nos olhos. Alguns choravam abertamente. Luke vislumbrou Ed Newsam envergando um fato de listas escuro, apoiado às muletas. Luke também tinha sido convidado, mas preferira permanecer no hospital. Aliás, nem colocara a hipótese de estar noutro local.

Susan aproximou-se do microfone. A plateia silenciou-se gradualmente, o suficiente para que todos a ouvissem. Colocou as mãos com firmeza no palanque.

“Ainda aqui estamos,” Afirmou com a voz a tremer.

A multidão explodiu de júbilo.

“E sabem que mais? Não vamos a lado nenhum!”

Um som atroador penetrou nos fones de Luke, obrigando-o a diminuir o volume.

“Eu quero…” Disse Susan, e depois parou novamente. Aguardou. A ovação não dava sinais de terminar. Aguardou mais um pouco. Afastou-se do microfone, sorriu e disse algo ao agente muito alto dos Serviços Secretos que se encontrava a seu lado. Luke conhecia-o. Chamava-se Charles Berg. Também ele tinha salvo a vida de Susan no dia anterior. Ao longo de dezoito horas, a vida daquela mulher tinha estado constantemente em risco.

Quando os entusiásticos aplausos da multidão começaram a diminuir, Susan regressou ao palanque.

“Antes de falarmos, queria que me acompanhassem numa coisa,” Pediu. “Acompanham-me? Quero cantar ‘Deus Abençoe a América’. Sempre foi uma das minhas músicas preferidas.” Disse com um fio de voz. “E quero cantá-la esta noite. Cantam-na comigo?”

E a multidão assentiu num rugido, em uníssono.

E então, ela cantou. Sozinha, na sua voz trémula e sem treino, cantou. Não havia qualquer celebridade a cantar com ela. Não havia músicos de classe mundial a acompanhá-la. Ela cantou, sozinha, numa sala repleta de pessoas e com milhões a verem-na por todo o mundo.

“’Deus Abençoe a América,”’ Começou. Parecia uma menina a cantar. “’Terra que eu amo.”’

Era quase como ver alguém a caminhar num arame colocado entre dois edifícios. Era um ato de fé. Luke sentiu um nó na garganta.

O público não a deixou ali sozinha. De imediato, começaram a inundar a emotiva cena com vozes fortes a unirem-se à sua. E ela conduziu-os.

No exterior do quarto sem luz, algures ao fundo do corredor, no silêncio de um hospital adormecido, quem estava de serviço começou também a cantar.

Na cama ao lado de Luke, Becca mexeu-se. Abriu os olhos e respirou com dificuldade. A cabeça movimentou-se para a esquerda e para a direita. Parecia pronta para saltar da cama. Viu Luke a seu lado, mas parecia não o reconhecer.

Luke tirou os fones dos ouvidos. “Becca,” Murmurou.

“Luke?”

“Sim.”

“Podes abraçar-me?”

“Sim.”

Fechou a tampa do portátil. Deslizou para a cama ao lado. O corpo de Becca estava quente. Luke olhou para o seu rosto tão belo como o de qualquer supermodelo. Ela encostou-se firmemente ao corpo de Luke e ele tomou-a nos seus braços fortes. Abraçou-a com tanta força que quase parecia que se queria fundir nela.

Isto era bem melhor do que ver a Presidente.

Ao fundod o corredor e por toda a parte no país, em bares, restaurantes, casas, carros, o povo cantava.




CAPÍTULO QUATRO


7 de Junho

20:51

Laboratório Nacional de Galveston, campus do Departamento Médico da Universidade do Texas – Galveston, Texas



“A trabalhar até tarde outra vez, Aabha?” Soou uma voz vinda do Céu.

A mulher exótica e de cabelo negro tinha uma beleza quase etérea. E na verdade, o seu nome em Hindi significava belo.

Sobressaltou-se com a voz e o corpo estremeceu involuntariamente. Levantou-se envergando um fato de proteção hermético branco, nas instalações de nível 4 de biossegurança do Laboratório Nacional de Galveston. O fato que a protegia fazia-a parecer um astronauta na lua. Nunca gostara de usar aquele fato. Sentia-se presa dentro dele. Mas o trabalho assim o exigia.

O fato estava ligado a um tubo amarelo que descia do teto. O tubo bombeava continuamente ar puro do exterior das instalações para o interior do fato de proteção. Mesmo que o fato se danificasse, a pressão positiva do tubo garantia que o ar do laboratório não penetrava no seu interior.

Os laboratórios BSL-4 eram os laboratórios com mais elevados níveis de segurança do mundo. Neles, os cientistas estudavam organismos mortais e altamente infeciosos que constituíam elevada ameaça para a saúde e segurança públicas. Naquele momento, na sua mão envolta numa luva azul, Aabha segurava um tubo selado com o mais perigoso vírus conhecido pelo homem.

“Sabes como sou,” Respondeu. O fato tinha um microfone incorporado que a fazia ouvir-se pelo guarda que a observava pelo circuito fechado de televisão. “Uma autêntica notívaga.”

“Eu sei. Já te vi por cá bem mais tarde.”

Aabha imaginou o homem a olhar por ela. Chamava-se Tom. Tinha peso a mais, meia-idade, divorciado. Só ela e ele, sozinhos dentro daquele enorme edifício vazio à noite, e ele pouco mais tinha que fazer do que observá-la. Era assustador pensar demasiado nisso.

Acabara de retirar o tubo da câmara frigorífica. Movimentando-se cuidadosamente, aproximou-se da cabina de biossegurança onde, em circunstâncias normais, ela abriria o tubo e analisaria o conteúdo.

Mas esta era uma noite tudo menos normal. Esta noite era o ponto culminante de anos de preparação. Esta noite era aquilo a que os Americanos chamavam de Grande Jogo.

Os colegas de trabalho no laboratório, incluindo Tom, o guarda-noturno, pensavam que aquela bela jovem se chamava Aabha Rushdie.

Mas não era esse o seu nome.

Pensavam que nascera no seio de uma família abastada na grande cidade de Deli no norte da Índia e que a sua família se mudara para Londres quando ela era criança. Era risível. Nada daquilo fazia parte da sua biografia real.

Pensavam que obtivera o doutoramento em microbiologia e ampla formação em BSL-4 no King’s College, em Londres. Tal também não correspondia à verdade, mas até poderia bem ser. Ela era tão versada a manusear bactérias e vírus como qualquer candidato a doutoramento, se não mais.

O tubo que segurava continha uma amostra liofilizada do vírus Ébola que tinha provocado o caos em África há alguns anos. Se se tratasse de uma amostra do vírus Ébola retirada de um macaco, um morcego ou até de uma vítima humana… Só isso o tornaria muito, muito perigoso de manusear. Mas era muito mais do que isso.

Aabha olhou para o relógio digital na parede. 20:54. Mais um minuto. Apenas precisava de mais um momento.

“Tom?” Chamou.

“Sim?” Perguntou a voz do outro lado.

“Assistiu ao discurso da Presidente na TV a noite passada?”

“Assisti.”

Aabha sorriu. “O que lhe pareceu?”

“Parecer? Bem, penso que temos problemas.”

“A sério? Eu gosto muito dela. Penso que é uma grande senhora. No meu país…”

De repente, as luzes no laboratório desligaram-se. Sem qualquer sinal – sem cintilações, ruído, nada. Durante alguns segundos, Aabha permaneceu numa escuridão total. O som dos ventiladores de convecção e equipamento elétrico, que constituíam um ruído de fundo constante no laboratório, abrandaram até parar completamente. Depois, seguiu-se o silêncio total.

Aabha imprimiu o tom certo de alarme à sua voz.

“Tom? Tom!”

“Está tudo bem, Aabha, está tudo bem. Espere um pouco. Estou a tentar… O que se passa aí? As minhas câmaras estão em baixo.”

“Não sei. Eu só…”

Uma fileira de luzes de emergência amarelas surgiu e os ventiladores começaram a funcionar novamente. A fraca luminosidade transformou o laboratório deserto num mundo assustador e inquietante. Tudo era sombrio, à exceção das luzes vermelho vivo de SAÍDA que brilhavam na semi-escuridão.

“Uau,” Exclamou ela. “Isto foi assustador. Por um minuto, o meu tubo de ar deixou de funcionar. Mas já está operacional.”

“Não sei o que aconteceu,” Declarou Tom. “Estamos a funcionar com reservas de energia em todo o edifício. Temos geradores de reserva de energia que deveriam ter ligado, mas não dispararam. Acho que isto nunca tinha acontecido. Ainda não tenho as minhas câmaras disponíveis. A Aabha está bem? Consegue sair daí?”

“Estou bem,” Disse. “Um pouco assustada, mas bem. As luzes de saída estão ligadas. Posso segui-las?”

“Pode. Mas deve seguir todos os protocolos de segurança, mesmo no escuro. Chuveiro químico para o fato, chuveiro normal para si – tudo isso. Caso contrário, se sentir que não consegue seguir o protocolo, terá que aguardar até enviar alguém até si ou até se restabelecer a energia.”

A voz tremeu-lhe ligeiramente. “Tom, o meu tubo de ar desligou-se. Se se desligar outra vez… Digamos que não quero estar aqui sem o meu tubo de ar. Sou capaz de seguir os protocolos de olhos fechados. Mas preciso de sair daqui.”

“Tudo bem. Mas não se esqueça: todos os procedimentos à risca. Eu confio em si. Mas não tenho luzes. Parece que vai estar escuro em toda a parte, durante todo o caminho. A câmara de vácuo esteve desligada por um minuto, mas já está operacional. O melhor é tirá-la daí o quanto antes. Assim que passar a câmara de vácuo, não terá dificuldades. Diga-me quando passar, ok? Quero desligá-la novamente para poupar energia.”

“Digo,” Replicou Aabha.

Movimentou-se lentamente na escuridão em direção à porta de saída para a câmara de vácuo com o tubo de Ébola ainda agarrado à mão direita enluvada. Demoraria cerca de vinte ou trinta minutos a seguir todos os procedimentos de saída. Mas isso não iria acontecer. Ela planeava atalhar a saída. Seria a saída de laboratório mais célere que já haviam visto.

Tom ainda falava com ela. “E tenha em atenção a segurança de todos os materiais e equipamento antes de sair. Não queremos que nada de perigoso circule por aí.”

Aabha abriu a primeira porta e esgueirou-se nela. Mesmo antes de a fechar, ouviu a voz de Tom pela última vez.

“Aabha?” Perguntou.



*



Aabha conduziu o BMW Z4 descapotável com a capota aberta.

A noite estava quente e ela ansiava por sentir o vento nos cabelos. Era a sua última noite em Galveston. Era a sua última noite como Aabha. Tinha cumprido a sua missão e após cinco longos anos infiltrada, esta página da sua vida estava definitivamente virada.

Despir uma identidade como se uma roupa se tratasse era uma sensação fantástica. Era liberdade, era alegria. Sentia-se quase como a protagonista de um anúncio de televisão.

Há muito que se tinha cansado da estudiosa e séria Aabha. Em quem se transformaria de seguida? Era uma pergunta deliciosa.

A distância até à marina era curta, apenas alguns quilómetros. Saiu da autoestrada e desceu a rampa até ao parque de estacionamento. Tirou a mala e a carteira da bagageira e deixou a chave no porta-luvas. Dali a uma hora, uma mulher que ela nunca vira, mas que teria caraterísticas semelhantes a Aabha, entraria no carro e arrancaria. De manhã, o carro já estaria a duzentos quilómetros de distância.

E isso entristeceu-a um pouco porque adorava aquele carro.

Mas o que era um carro? Nada mais do que uma infinidade de peças individuais, soldadas e aparafusadas e ligadas. Na verdade, nada mais do que uma abstração.

Caminhou nos seus saltos altos que ecoavam no chão pavimentado da marina. Passou pela piscina, encerrada àquela hora da noite, mas cuja sobrenatural luz azul de proveniência incerta, iluminava a água. As coberturas de palha dos pequenos abrigos de piquenique que protegiam do sol, resfolegavam ao som da brisa. Desceu uma rampa rumo ao primeiro cais.

Dali, podia ver o grande barco a iluminar a noite a partir da água, para lá do confim mais remoto de um labirinto Bizantino de cais interligados. O barco, um iate transoceânico de quase 230 metros era demasiado grande para atracar na marina. Era um hotel flutuante com discoteca, piscina e hidromassagem, ginásio e helicóptero pessoal com capacidade para quatro pessoas e heliporto. Era um castelo móvel, próprio para um rei moderno.

Um pequeno barco a motor esperava por ela ali no cais. Um homem ofereceu-lhe a mão, ajudando-a a deslocar-se do cais ao trincaniz e depois até ao cockpit. Sentou-se na parte de trás do barco ao mesmo tempo que o homem deslaçou as amarras, empurrou o barco da margem e o piloto iniciou marcha.

Aproximarem-se do iate naquele barco era como pilotar uma minúscula cápsula espacial que atracaria na nave-mãe mais gigantesca do universo. Nem sequer atracaram. O pequeno barco parou atrás do iate e um outro homem ajudou-a a trepar uma escada de cinco degraus até ao convés. O homem era Ismail, o conhecido assistente.

“Tem o agente?” Perguntou ele quando ela subiu a bordo.

Ela sorriu com arrogância. “Olá Aabha, como está?” Disse ela. “Que bom vê-la. Estou feliz por ter escapado incólume.”

Ele fez um movimento com a mão como se uma roda estivesse a girar. Vamos, vamos. “Olá Aabha. E mais o que quer que tenha dito. Tem o agente?”

Foi à bolsa e retirou de lá o tubo com o vírus Ébola. Por um milésimo de segundo, sobreveio-lhe uma vontade divertida de atirá-lo para o oceano. Em vez disso, segurou-o para ele o inspecionar. Ismail fixou o tubo.

“Que recipiente tão pequeno,” Disse. “Incrível.”

“Estão cinco anos da minha vida neste recipiente,” Atalhou Aabha.

Ismail sorriu. “Sim, mas daqui a cem anos as pessoas ainda cantarão canções sobre uma heroína chamada Aabha.”

Ele estendeu a mão como se Aabha fosse depositar o tubo na sua palma.

“Dou-lho a ele,” Disse ela.

Ismail encolheu os ombros. “Como queira.”

Aabha trepou umas escadas iluminadas com luzes verdes e entrou na cabina principal através de uma porta de vidro. A cabina gigante tinha um bar encostado a uma das paredes, várias mesas ao longo das paredes e uma pista de dança no meio. O chefe usava aquele espaço para se divertir. Aabha tinha estado naquele compartimento quando se aparentava a um clube em Berlim – sem lugares sentados, música a tocar tão alto que as paredes pareciam pulsar ao som da mesma, luzes estroboscópicas, corpos compactados uns contra os outros na pista de dança. Agora a divisão estava silenciosa e vazia.

Caminhou ao longo de uma entrada atapetada de vermelho com meia dúzia de vigias em cada lado e depois trepou outro lanço de escadas. No topo das escadas, outro corredor. Agora estava bem no centro do barco e a penetrar cada vez mais no seu interior. A maior parte dos convidados nunca ia tão longe. Chegou ao fim do corredor e bateu nas amplas portas duplas que ali encontrou.

“Entre,” Proferiu uma voz de homem.

Ela abriu a porta esquerda e entrou. Aquele compartimento nunca deixava de a surpreender. Era o quarto principal situado logo abaixo da cabina do piloto. Do outro lado do quarto, admirou uma janela de 180° curvada do chão ao teto que permitia vislumbrar aquilo de que o barco se aproximava, assim como o que estava à sua direita e à sua esquerda. A maior parte das vezes, a vista panorâmica era a de um vasto oceano aberto.

No lado esquerdo do quarto encontrava-se uma área de estar com um grande sofá transversal transformado num fosso de festa. Havia também duas cadeiras, uma mesa de jantar com quatro lugares e uma enorme televisão plana na parede com um sistema de som montado logo abaixo. Uma garrafeira alta e envidraçada estava a um canto, próximo da parede.

À direita de Aabha estava a cama em tamanho double-king com um espelho logo acima dela. O dono deste iate gostava de se divertir e aquela cama podia facilmente acomodar quatro pessoas, às vezes cinco.

De pé, em frente da cama, estava o dono de tudo aquilo. Usava um par de calças de cordão de seda branca, calçava sandálias e nada mais. Era alto e escuro. Teria talvez quarenta anos, o cabelo já estava salpicado de cinzento e a sua barba curta começava a ficar branca. Era muito bem-parecido e tinha uns olhos castanhos profundos.

O seu corpo era enxuto, musculado e perfeitamente proporcionado em forma de triângulo invertido – ombros largos e peito esculpido em abdominais bem definidos, terminando numa cintura estreita e pernas musculados logo abaixo. O lado esquerdo do peito era preenchido por uma tatuagem de um gigantesco cavalo negro, um puro-sangue árabe. O homem era dono de vários puros-sangue e assumia-os como o seu símbolo pessoal. Eram fortes, viris, majestosos, tal como ele.

Parecia em forma, saudável e repousado, tal como se esperaria de um homem muito rico com fácil acesso a dotados treinadores pessoais, à melhor alimentação e a médicos dispostos a administrar os tratamentos hormonais indicados para atrasar o processo de envelhecimento. Numa palavra, ele era belo.

“Aabha, minha adorável, adorável jovem. Quem vais ser depois desta noite?”

“Omar,” Disse. “Trouxe-te um presente.”

Ele sorriu. “Nunca duvidei que conseguisses. Nem por um momento.”

Ele acenou na sua direção e ela aproximou-se. Ela entregou-lhe o tubo mas ele colocou-o na mesa ao lado da cama quase sem olhar para ele.

“Mais tarde,” Disse ele. “Podemos pensar nisso mais tarde.”

Puxou-a para junto de si e ela sentiu o seu abraço forte. Aabha pressionou o rosto contra o seu pescoço sentindo o seu aroma, o odor subtil do seu perfume e um outro mais profundo e terreno, caraterístico dele. Este homem queria ser cheirado e isso era excitante para ela. Para ela, tudo nele era excitante.

Ele virou-se e deitou-a de barriga para baixo na cama. Ela deixou-se levar, ávida. Dali a um momento, já ela se contorcia enquanto ele lhe tirava a roupa e percorria o seu corpo. A voz profunda de Omar sussurrava-lhe palavras que em circunstâncias normais a chocariam. Mas ali, naquele quarto, fizeram-na gemer de prazer animal.



*



Quando Omar acordou já estava sozinho.

Isso era bom. Aabha conhecia as suas preferências. Enquanto dormia não gostava de ser perturbado pelos movimentos agitados e ruídos de outros. Dormir era descansar, não uma luta de wrestling.

O barco movimentava-se. Haviam abandonado Galveston, exatamente à hora marcada e agora atravessavam o Golfo do México em direção à Flórida. No dia seguinte atracariam próximos de Tampa e o pequeno tubo que Aabha lhe tinha trazido faria uma viagem a terra firme.

Pegou no tubo que colocara em cima da mesa-de-cabeceira. Apenas um pequeno tubo, feito de plástico espesso e resistente, com uma tampa vermelha no topo. O conteúdo era impercetível. Aparentava ser pouco mais do um monte de pó.

Ainda assim…

Tirava-lhe o fôlego! Segurar na mão aquele poder, o poder da vida e da morte. E não apenas o poder da vida e da morte sobre uma pessoa - o poder de matar muitas, muitas pessoas. O poder de aniquilar completamente uma população. O poder de manter nações reféns. O poder da guerra total. O poder da vingança.

Fechou os olhos e respirou fundo em busca de calma. Tinha sido um risco deslocar-se pessoalmente até Galveston, um risco desnecessário. Mas ele queria estar presente no momento em que tal arma lhe fosse entregue. Ele queria segurar a arma e sentir o poder que detinha na sua mão.

Colocou novamente o tubo na mesa, vestiu as calças e saiu da cama. Vestiu uma camisola do Manchester United e dirigiu-se ao convés onde estava Aabha recostada numa cadeira reclinável a olhar para a noite, para as estrelas e para a vastidão da água negra que os rodeava.

Um guarda-costas permanecia imóvel junto à porta.

Omar fez um gesto ao homem e este dirigiu-se à balaustrada.

“Aabha,” Chamou Omar. Ela virou-se e ele viu como ela estava sonolenta.

Ela sorriu e ele também. “Fizeste uma coisa maravilhosa,” Disse. “Tenho muito orgulho em ti. Talvez tenha chegado o momento de dormires.”

Ela assentiu. “Estou tão cansada.”

Omar inclinou-se e os seus lábios encontraram-se. Beijou-a profundamente, saboreou-a e guardou a memória das curvas do seu corpo, dos seus movimentos, dos seus sons.

“Mereces todo o descanso, minha querida.”

Omar olhou para o guarda-costas. Era um homem alto e forte. O guarda retirou um saco de plástico do bolso do seu casaco, aproximou-se atrás dela e num movimento silencioso enfiou o saco sobre a sua cabeça, apertando-o com força.

Imediatamente o seu corpo se tornou elétrico. Tentou arranhar e ferir o seu agressor. Os seus pés levantavam-na da cadeira. Ela lutou, mas era impossível. O homem era demasiado forte. Os seus pulsos e antebraços eram tensos, preenchidos por veias e músculos a fazer o seu trabalho.

Através do saco translúcido, podia ver-se o rosto de Aabha transformado numa máscara de terror e desespero. A sua boca era um O enorme, uma lua cheia, tentando encontrar ar e não o encontrando. Sugava plástico em vez de oxigénio.

O seu corpo ficou tenso e tornou-se rígido. Era como se fosse a escultura em madeira de uma mulher, o corpo inclinado, ligeiramente dobrado para trás a meio. Gradualmente, deixou de reagir. Enfraqueceu, apaziguou-se e depois, simplesmente deixou de resistir. O guarda-costas deixou-a afundar-se lentamente recostada na cadeira. Afundou-se com ela, guiando o seu corpo sem vida. Agora que estava morta, tratava-a com carinho.

O homem respirou fundo e olhou para Omar.

“O que faço com ela?”

Omar contemplou o negrume da noite.

Era uma pena matar uma jovem como Aabha, mas ela estava contaminada. Em breve, os Americanos ficariam a saber que o vírus desaparecera. Pouco depois, descobririam que Aabha fora a última pessoa a estar presente no laboratório onde a energia falhara.

Perceberiam que a falha de energia era o resultado do corte deliberado de um cabo subterrâneo e que a falha nos geradores de reserva era o resultado de uma cuidadosa sabotagem levada a cabo várias semanas antes. Fariam uma busca desesperada por Aabha, uma busca dura e feroz e não a poderiam encontrar nunca.

“Pede ajuda ao Abdul. Ele esvaziou baldes e cimento de secagem rápida no armário de equipamento na casa das máquinas. Leva-a para lá. Façam peso com um balde de cimento à volta dos pés e pernas, e larguem-na na parte mais profunda do oceano. A mais de mil pés de profundidade, se faz favor. Percebido, certo?”

O homem anuiu com a cabeça. “Sim, senhor.”

“Perfeito. Depois de tratarem disso, lavem todos os meus lençóis, almofadas e cobertores. Temos que ser cautelosos e destruir todas as provas. Na remota possibilidade dos Americanos revistarem este iate, não quero o ADN da mulher nas minhas coisas.”

O homem assentiu. “Claro.”

“Muito bem,” Terminou Omar.

Deixou o guarda-costas com o cadáver e regressou ao quarto principal. Era tempo de tomar um banho quente.




CAPÍTULO CINCO


10 de Junho

11:15

Condado Queen Anne, Maryland – Eastern Shore da Baía de Chesapeake



“Bem, talvez devamos simplesmente vender a casa,” Disse Luke.

Luke falava da velha casa de campo, a vinte minutos de distância do local onde agora se encontravam. Luke e Becca tinham alugado uma casa diferente, mais espaçosa e moderna para passarem as próximas duas semanas. Luke gostava mais desta nova casa, mas só lá estavam porque Becca se recusava a regressar a casa.

Ele compreendia a sua relutância. Claro que compreendia. Há quatro noites atrás, Becca e Gunner haviam sido raptados daquela casa. Luke não estava lá para os proteger. Podiam ter sido mortos. Tudo podia ter acontecido.

Olhou pela enorme e luminosa janela da cozinha. Gunner estava lá fora vestido com calças de ganga e uma t-shirt, a jogar algum jogo imaginário, como as crianças de nove anos costumam brincar. Dali a minutos, Gunner e Luke iriam partir do esquife e pescar.

A visão do filho encheu Luke de uma sensação de terror.

E se Gunner tivesse sido morto? E se ambos tivessem simplesmente desaparecido e nunca mais encontrados? E se dali a dois anos, Gunner já não brincasse jogos imaginários? Na cabeça de Luke só reinava confusão.

Sim, era horrível. Sim, nunca devia ter acontecido. Mas havia questões mais amplas em jogo. Luke, Ed Newsam e um grupo de pessoas tinham derrubado uma tentativa de golpe de estado e tinham reposto o que restava do democraticamente eleito governo dos Estados Unidos. Era possível que até tivessem salvo a própria democracia Americana.

Era tudo muito bonito, mas Becca não estava propriamente interessada em questões mais latas naquele momento.

Estava sentada à mesa da cozinha com um robe azul, a beber a sua segunda caneca de café. “É fácil para ti falar. Aquela casa está na minha família há centenas de anos.”

O cabelo de Rebecca era longo, escorrendo-lhe sobre os ombros. Os olhos eram azuis, emoldurados com pestanas espessas. A Luke, o seu belo rosto parecia finamente desenhado. Sentiu-se mal com isso. Na verdade, sentia-se mal com tudo o que tinha acontecido, mas não lhe ocorria nada para dizer que pudesse tornar tudo melhor.

Uma lágrima rolou na face de Becca. “O meu jardim está ali, Luke.”

“Eu sei.”

“Não posso trabalhar no meu jardim porque tenho medo. Tenho medo da minha própria casa, uma casa que conheço desde que nasci.”

Luke emudecera.

“E o Sr. e a Sra. Thompson… Estão mortos. Sabes isso, não sabes? Aqueles homens mataram-nos.” Olhou bruscamente para Luke. Os olhos acesos e furiosos. Becca manifestava uma tendência para se zangar com ele, às vezes por questões menores. Esquecera-se de lavar a loiça ou levar o lixo à rua. Quando isso acontecia, o seu olhar era muito semelhante ao que mostrava naquele momento. Luke pensava naquele olhar como o Olhar de Culpa. E naquele momento, o Olhar de Culpa para Luke era demasiado difícil de suportar.

Na sua mente desenhou-se uma breve imagem dos seus vizinhos, o Sr. e a Sra. Thompson. Se Hollywood procurasse um simpático casal idoso para interpretar uns quaisquer vizinhos do lado, os Thompson dariam uma ótima primeira escolha. Ele gostava dos Thompson e jamais quereria que as suas vidas tivessem terminado daquela forma. Mas muitas pessoas tinham morrido naquele dia.

“Becca, eu não matei os Thompson, ok? Lamento que tenham morrido e lamento que tu e o Gunner tenham sido raptados – vou lamentar isso o resto da minha vida e vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para vos compensar. Mas eu não o fiz. Eu não matei os Thompson. Eu não enviei pessoas para vos raptarem. Pareces estar a deturpar estas coisas na tua mente e não vou aceitar isso.”

Parou de falar. Era o momento ideal para parar, mas Luke não conseguia. As palavras jorravam-lhe em torrente.

“Tudo o que fiz foi sobreviver a uma saraivada de tiros e bombas. Estavam a tentar matar-me todo o dia e toda a noite. Fui alvejado, detonado, abalroado. E salvei a Presidente dos Estados Unidos, a tua Presidente, de uma morte quase certa. Isto foi o que eu fiz.”

Luke respirou com dificuldade como se tivesse acabado de fazer um sprint.

Lamentava tudo. Essa é que era a verdade. Magoava-o pensar que o seu trabalho lhe tinha causado sofrimento, magoava-o muito mais do que ela podia imaginar. Tinha deixado aquele trabalho no ano anterior por essa razão, mas fora chamado de volta por uma noite – uma noite que se transformara em noite, dia e outra inacreditavelmente longa noite. Uma noite durante a qual pensou ter perdido a sua família para sempre.

Becca já não confiava nele. Sentia isso muito nitidamente. A presença de Luke assustava-a. Ele era a causa do que tinha acontecido. Ele era imprudente, fanático e ia fazer com que ela e o único filho de ambos morressem.

Lágrimas correram silenciosamente do seu rosto. Um longo minuto decorreu.

“E isso interessa?” Disse Becca, quebrando o silêncio.

“O que é que interessa?”

“Interessa quem é o Presidente? Se eu e o Gunner tivéssemos morrido, interessava-te quem era o Presidente?”

“Mas vocês estão vivos,” Exclamou Luke. “Não estão mortos. Estão vivos e de saúde. Há uma grande diferença.”

“Ok,” Respondeu Becca. “Estamos vivos.” Era uma concordância que não era concordância.

“Quero dizer-te uma coisa,” Recomeçou Luke. “Vou retirar-me. Não quero continuar nesta vida. Sou capaz de ter algumas reuniões nos próximos dias, mas não vou aceitar mais missões. Fiz o que me competia. Agora acabou.”

Becca abanou suavemente a cabeça. Parecia já não ter sequer energia para se mexer. “Já disseste isso noutras ocasiões.”

“Eu sei, mas desta vez é a sério.”



*



“Tens que manter o barco sempre equilibrado.”

“Ok,” Disse Gunner.

Ele e o pai tinham carregado o barco com equipamento. Gunner vestia calças de ganga, uma t-shirt e um grande chapéu de pesca para o proteger do sol. Também tinha posto um par de óculos da Oakley que o pai lhe tinha oferecido. Luke tinha um par exatamente igual.

A t-shirt que vestia era do filme 28 Days Later, um fantástico filme de zombies. O único problema da t-shirt era que não mostrava nenhum zombie. Só tinha um símbolo de perigo biológico vermelho sob um fundo negro. Até fazia sentido que assim fosse. Os zombies do filme não eram bem os mortos-vivos. Eles eram pessoas que tinham sido infetadas por um vírus.

“Desliza esse refrigerador transversalmente,” Advertiu o pai.

O pai usava todas aquelas palavras estranhas quando estavam a pescar. Às vezes fazia Gunner rir. “Tranversalmente!” Gritou. “É para já, meu Capitão.”

O pai fez um movimento com a mão para lhe mostrar a posição que queria; pelo meio, de lado, não junto ao corrimão negro onde Gunner o tinha originalmente colocado. Gunner deslizou o grande refrigerador azul no local pretendido.

Estavam de pé virados um para o outro. O pai fez-lhe uma cara divertida. “Como está a correr, filho?”

Gunner hesitou. Sabia que estavam preocupados com ele. Tinha-os ouvido a sussurrar o seu nome durante a noite. Mas ele estava bem. Estava mesmo. Tinha tido medo e ainda tinha um pouco. Até tinha chorado, o que não era mau. Às vezes temos que chorar. Não devemos conter as lágrimas.

“Gunner?”

Bem, mais valia falar sobre o assunto.

“Pai, às vezes matas pessoas, não matas?”

O pai disse que sim com a cabeça. “Às vezes tem que ser. Faz parte do meu trabalho. Mas só mato homens maus.”

“Como consegues distinguir?”

“Às vezes não é fácil. E às vezes é. Os homens maus fazem mal às pessoas mais fracas que eles ou a pessoas inocentes que só querem saber das suas vidas. O meu trabalho é impedir que façam isso.”

“Como os homens que mataram o Presidente?”

O pai anuiu.

“Mataste-os?”

“Matei alguns.”

“E os homens que me levaram a mim e à mãe? Também os mataste, não foi?”

“Sim.”

“Ainda bem que o fizeste, pai.”

“Também acho, monstro. Eram aquele tipo de homens que têm de ser mortos.”

“És o melhor assassino do mundo?”

O pai abanou a cabeça e sorriu. “Não sei miúdo. Acho que não existem tabelas com os melhores assassinos. Não é como um desporto. Não existe um campeão do mundo de mortes. De qualquer das formas, vou deixar essa vida. Quero passar mais tempo contigo e com mãe.”

Gunner ficou a pensar. No dia anterior tinha visto o pai num programa de informação na TV. A referência fora breve, mas vira a foto e o nome do pai, e imagens de vídeo do pai mais novo no Exército. Luke Stone, o operacional da Força Delta. Luke Stone da Special Response Team do FBI. Luke Stone e a sua equipa tinham salvo o governo dos Estados Unidos.

“Tenho orgulho em ti, pai. Mesmo que nunca chegues a campeão do mundo.”

O pai riu-se. Apontou na direção do cais. “Então, pronto?”

Gunner assentiu.

“Afastamo-nos, ancoramos e vemos se conseguimos encontrar robalos riscados a alimentarem-se na maré baixa.”

Gunner concordou. Afastaram-se do cais e avançaram lentamente ao longo da zona de baixa velocidade. Segurou-se bem quando o barco ganhou mais velocidade.

Gunner olhou para o horizonte à frente deles. Ele era o batedor e tinha que se manter atento. Tinham pescado juntos três vezes na última primavera, mas não tinham apanhado nada. Quando se ia pescar e não se apanhava nada, o pai dizia que tínhamos ficado a ver navios. Naquele momento, estavam mesmo a ver navios.

Dali a pouco tempo, Gunner observou alguns salpicos a meia distância a estibordo. Algumas andorinhas-do-mar brancas estavam a mergulhar, a cair na água que nem bombas.

“Olha!”

O pai sorriu.

“Robalos riscados?”

O pai abanou a cabeça. “Anchovas.” Depois disse, “Espera.”

Ligou o motor e dali a instantes escumavam, rolavam, ainda a ganhar velocidade com o barco a apressar-se e Gunner lançado para trás. Um minuto mais tarde, diminuíram velocidade até à espuma branca e acomodaram-se ao sabor da ondulação.

Gunner agarrou em duas longas canas de pesca com anzóis com isco. Entregou uma das canas ao pai e depois lançou a sua linha sem demoras. Quase de imediato, sentiu um puxão pesado. A cana rejubilava com uma vivacidade selvagem, vibrando de vida. Uma força invisível quase lhe arrancava a cana de pesca das mãos. A linha partiu-se e afrouxou. A anchova tinha-a quebrado. Virou-se para dizer ao pai, mas também ele estava em dificuldades com a cana dobrada em dois.

Gunner agarrou numa rede e preparou-se. Uma muito zangada anchova prateada, azul, verde e branca, foi içada da água para o cockpit.

“Belo peixe.”

“E forte!”

A anchova caiu no convés, apanhada pela malha verde da rede de mão.

“Vamos levá-lo?”

“Não. Estamos aqui para apanhar os riscados. Estes são empolgantes, mas os robalos riscados são maiores e também são mais saborosos.”

Libertaram o peixe – Gunner viu o pai a remover o anzol da anchova combativa com os dedos a pouca distância dos seus dentes ávidos. O pai largou o peixe de lado e com uma rápida chicotada da cauda, rumou às profundezas.

Mal o peixe desapareceu, o telefone do pai começou a tocar. O pai sorriu e olhou para o telefone. Depois pô-lo de parte. Não parava de tocar. Algum tempo depois, parou. Dez segundos depois, já tocava novamente.

“Não vais atender?” Perguntou Gunner.

O pai abanou a cabeça. “Não. Aliás, até vou desligar o telefone.”

Gunner foi invadido por uma fria sensação de medo no estômago. “Tens que atender pai. E se for uma emergência? E se os maus da fita estão outra vez em ação?”

O pai olhou para Gunner por um momento interminável. O telefone parou de tocar. E recomeçou novamente. Luke atendeu.

“Stone,” Disse.

Fez uma pausa e o seu rosto ficou sombrio. “Olá Richard. Sim, o chefe de pessoal de Susan. Claro. Já tinha ouvido falar de si. Bem, ouça. Sabe que eu não estou disponível, certo? Ainda nem sequer decidi se ainda faço parte da Special Response Team ou como raio se chama agora. Sim, compreendo mas há sempre alguma emergência. Nunca ninguém me liga para casa e me diz que não é urgente. Ok… ok. Se a Presidente quer uma reunião pode telefonar-me pessoalmente. Ela sabe onde me contatar. Ok? Obrigado.”

Quando o pai desligou, Gunner ficou a observá-lo. Não parecia estar divertido e descontraído como há um minuto atrás. Gunner sabia que se a Presidente tinha ligado, o mais certo era o pai ter de fazer as malas rapidamente e partir para algum lado. Outra missão, talvez mais homens maus para matar. E deixaria Gunner e a mãe outra vez sozinhos.

“Pai, a Presidente vai ligar-te?”

O pai despenteou-lhe o cabelo com uma carícia. “Monstro, espero bem que não. E agora, que me dizes? Vamos lá pescar uns robalos riscados.”



*



Horas mais tarde, a Presidente ainda não tinha ligado.

Luke e Gunner tinham pescado três belos robalos riscados, e Luke mostrou ao filho como esventrar, limpar e arranjar o peixe. Já o tinha mostrado anteriormente, mas era através da repetição que se aprendia. Becca juntou-se a eles levando uma garrafa de vinho para o pátio e colocando um prato com queijo e crackers na mesa exterior.

Luke estava a começar a acender o lume quando o telefone tocou.

Olhou para a família. Ficaram estáticos ao primeiro toque. Ele e Becca olharam-se. Já não conseguia ler o seu olhar. Mas o que quer que aquele olhar significasse, não era com toda a certeza aprovação solidária. Atendeu o telefone.

“Agente Stone?” Questionou uma voz grave de homem.

“Sim.”

“Aguarde um momento em linha pela Presidente dos Estados Unidos.”

Permaneceu em pé como que entorpecido a ouvir o vazio.

O telefone emitiu um ruído e ela falou. “Luke?”

“Susan.”

Lembrou-se da sua imagem a liderar e a encorajar todo o país e grande parte do mundo ao cantar “Deus Abençoe a América.” Fora um momento maravilhoso, mas não passara disso, de um momento. E era aquele tipo de coisa que os políticos sabiam fazer muito bem. Era algo que fazia parte da cartilha da classe política.

“Luke, estamos com uma crise em mãos.”

“Susan, temos sempre uma crise em mãos.”

“Neste momento, estou enterrada em merda.”

Lindo. Não ouvia aquela há uns tempos.

“Vamos ter uma reunião. Aqui em casa. Preciso de si aqui.”

“Quando é a reunião?”

Ela nem hesitou. “Daqui a uma hora.”

“Susan, contando com o trânsito, estou a duas horas de caminho. Isto num dia bom. Neste momento, metade das estradas ainda estão encerradas.”

“Não tem que se preocupar com o trânsito. Já vai um helicóptero a caminho. Está aí daqui a catorze minutos."

Luke olhou novamente para a família. Becca servira-se de um copo de vinho e estava sentada de costas para ele, a contemplar o sol de final de tarde que se afundava na água. Gunner olhava para o peixe no assador.

“Ok,” Assentiu Luke.




CAPÍTULO SEIS


18:45

Observatório Naval dos Estados Unidos – Washington, D.C.



“Agente Stone, sou Richard Monk, o chefe de pessoal da Presidente. Falámos ao telefone.”

Luke aterrara no heliporto do Observatório Naval há cinco minutos. Apertou a mão de um homem alto, em forma, provavelmente da sua idade. O homem envergava uma camisa azul com as mangas enroladas. A gravata pendia torta. Tinha um tronco musculado, tal como os homens que surgiam nos anúncios da Men’s Health. Exercitava-se com afinco e trabalhava com afinco – era o que o aspeto de Richard Monk transparecia a quem se desse ao trabalho de o interpretar.

Atravessaram o corredor de mármore da Nova Casa Branca em direção às amplas portas duplas no extremo oposto. “Convertemos a nossa antiga sala de conferências numa sala de emergência,” Informou Monk. “É um trabalho em progresso, mas vamos lá chegar.”

“Tem sorte em estar vivo, não tem?” Interrogou Luke.

A máscara de confiança estampada no rosto do homem vacilou apenas por um segundo. Ele anuiu. “A Vice… bem, ela era a Vice-Presidente na altura. A Presidente, eu e uma grande quantidade de funcionários estávamos num comício na Costa Oeste quando o Presidente Hayes solicitou a sua presença no Leste. Foi tudo muito repentino. Eu fiquei em Seattle com algumas pessoas a tratar de alguns assuntos. Quando aconteceu aquilo em Mount Weather…”

Abanou a cabeça. “É demasiado horrível. Mas sim, eu também podia lá ter ficado.”

Luke concordou. Ainda estavam a retirar corpos de Mount Weather vários dias depois do desastre ter ocorrido. Até agora, trezentos. Entre eles encontravam-se o antigo Secretário de Estado, o antigo Secretário da Educação, o antigo Secretário do Interior, o responsável máximo da NASA e dezenas de Representantes e Senadores dos Estados Unidos.

Os bombeiros apenas tinham conseguido extinguir o fogo subterrâneo central no dia anterior.

“Que crise é esta de que Susan me falou?” Perguntou Luke.

Monk apontou para o fundo do corredor. “Bem, a Presidente Hopkins está na sala de conferências com o pessoal de topo. Vou deixar que sejam eles a dizer-lhe o que se passa.”

Ultrapassaram as portas duplas e entraram na sala. Várias pessoas já lá se encontravam sentadas a uma grande mesa oval. Susan Hopkins, Presidente dos Estados Unidos, estava sentada no extremo mais distante da sala. Era uma mulher pequena, quase despretensiosa, rodeada de homens enormes. Dois agentes dos Serviços Secretos estavam em pé, um de cada lado. Três outros estavam em vários cantos da sala.

À cabeceira da mesa estava um homem com aspeto nervoso. Era alto, quase careca, com uma barriga um tanto protuberante, com óculos e um fato que lhe assentava mal. Luke tirou-lhe a pinta em cerca de dois segundos. Este não era um tipo de espaço ou circunstância a que estivesse habituado e parecia estar metido em sarilhos. Parecia um homem sob imensa pressão.

Susan levantou-se. “Antes de começarmos quero apresentar-vos o Agente Luke Stone que integrava a Special Response Team do FBI. Ele salvou a minha vida há alguns dias e foi fundamental na defesa da República tal como a conhecemos. E não estou a exagerar. Penso que nunca conheci um operacional tão dotado, conhecedor e destemido a enfrentar a adversidade. É uma mais-valia para a nossa nação, para as nossas Forças Armadas e para a nossa comunidade de inteligência identificarmos e formarmos homens e mulheres como o Agente Stone.”

Agora todos aplaudiam de pé. Aos olhos de Luke, o aplauso pareceu cínico e formal. Estas pessoas tinham que aplaudir. A Presidente queria que o fizessem. Ele ergueu uma mão, na tentativa de que parassem. A situação era ridícula.

“Olá,” Titubeou quando os aplausos cessaram. “Peço desculpa pelo atraso.”

Luke sentou-se numa cadeira vazia. O homem à sua frente olhou diretamente para ele. E Luke não conseguiu discernir o que viu naquele olhar. Esperança? Talvez. Parecia um quarterback desesperado prestes a fazer um passe Hail Mary na direção de Luke.

“Luke,” Principiou Susan. “Este é o Dr. Wesley Drinan, Diretor do Laboratório Nacional de Galveston no Departamento Médico da Universidade do Texas. Ele está a informar-nos sobre uma possível falha de segurança ocorrida no laboratório de Biossegurança de nível 4.”

“Ah,” Disse Luke. “Muito bem.”

“Agente Stone, conhece os laboratórios de Biossegurança de nível 4?”

“Trate-me por Luke. Estou familiarizado com o termo. Contudo, talvez me possa informar melhor.”

Drinan assentiu. “Claro. Aqui vai a explicação relâmpago. Os laboratórios de Biossegurança de nível 4 são laboratórios com o mais elevado nível de segurança no que concerne ao manuseamento de agentes biológicos. O nível 4 de biossegurança é o nível necessário para trabalhar com vírus e bactérias perigosos e exóticos que implicam um elevado risco de infeções laboratoriais e que podem causar doenças graves ou fatais no ser humano. Tratam-se de doenças para as quais não há vacinas ou outros tratamentos disponíveis. De uma forma geral, refiro-me ao Ébola, ao Marburg e a alguns dos vírus hemorrágicos emergentes que estamos agora a descobrir nas profundezas das selvas Africanas ou Sul Americanas. Por vezes também manuseamos mutações recentes dos vírus da gripe para compreendermos os seus mecanismos de transmissão, taxas de infeção, taxas de mortalidade, e por aí em diante.”

“Ok,” Declarou Luke. “Percebo. E algo foi roubado?”

“Não sabemos. Algo desapareceu, mas não sabemos o que lhe aconteceu.”

Luke ficou calado. Limitou-se a anuir com um movimento da cabeça para o homem continuar a falar.

“Tivemos uma falha de energia há duas noites atrás. Só isso já é raro. Mas ainda mais excecional é o facto de os nossos geradores de reserva não se terem acionado de forma imediata. As instalações foram concebidas para que na eventualidade de um corte de energia, ocorra uma transição sem descontinuidade da fonte de energia principal para a fonte de reserva. Isso não sucedeu. Pelo contrário, transitou-se para as reservas de emergência, um estado de baixo consumo que se limita a manter os sistemas principais a funcionar.”

“Que tipo de sistemas não essenciais foram abaixo?” Perguntou Luke.

Drinan encolheu os ombros. “Coisas normais como luzes, computadores, sistemas de vigilância.”

“Câmaras de segurança?”

“Sim.”

“Dentro das instalações?”

“Sim.”

“Estava alguém no seu interior?”

O homem anuiu. “Estavam duas pessoas lá dentro. Uma delas era um segurança chamado Thomas Eder. Trabalha nas instalações há quinze anos. Estava no posto de vigilância e não dentro das instalações de contenção. Falámos com ele, tal como fez a polícia e o Departamento de Investigação do Texas. Tem cooperado.”

“E quem mais?”

“Bem, encontrava-se uma cientista no interior das instalações de contenção. Chama-se Aabha Rushdie e é proveniente da Índia. É uma pessoa maravilhosa e uma cientista exemplar. Estudou em Londres, fez inúmeras formações de biossegurança de nível 4 e tem todas as autorizações de segurança. Está connosco há três anos e trabalhei diretamente com ela em diversas ocasiões.”

“Ok… “ Disse Luke.

“Quando ocorreu a falha de energia, o ar deixou de bombear para o tubo de ar de Aabha por momentos. Esta é uma situação potencialmente perigosa. Também ficou completamente às escuras. Teve medo e parece que Thomas Eder a deixou sair das instalações sem seguir todos os necessários protocolos de segurança.”

Luke sorriu. Esta era fácil de adivinhar. “E depois alguma coisa desapareceu?”

Drinan hesitou. “No dia seguinte, ao efetuar-se um inventário, descobriu-se que um tubo de um vírus Ébola muito específico tinha desaparecido.”

“Alguém já interpelou essa mulher?”

Drinan abanou a cabeça. “Ela também desapareceu. Um rancheiro encontrou ontem o carro dela num terreno isolado, oitenta quilómetros a oeste de Austin. A polícia estatal acredita que quando um carro é assim abandonado é um sinal estranho. Ela não está no apartamento e tentámos entrar em contato com a sua família em Londres, sem sucesso.”

“Ela teria alguma razão para querer roubar o vírus Ébola?”

“Não. Não dá para acreditar. Tenho-me debatido com isto nos últimos dois dias. A Aabha que eu conheço não é alguém que… Nem o consigo pronunciar. Ela não é simplesmente assim. Não percebo o que está a acontecer. Receio que ela tenha sido raptada ou caído nas mãos de criminosos. Nem tenho palavras.”

“Ainda nem chegámos à parte mais complicada,” Interviu abruptamente Susan Hopkins. “Pode falar um pouco sobre o vírus ao Agente Stone, Dr. Drinan?”

O incrédulo homem anuiu. Olhou para Luke.

“O Ébola pode ser usado como arma. É semelhante ao Ébola que se encontra na natureza, como o Ébola que matou dez mil pessoas no surto ocorrido na África Ocidental, mas muito pior. É mais virulento, tem uma ação mais rápida, pode ser transmitido mais facilmente e apresenta uma mais elevada taxa de mortalidade. É uma substância muito perigosa. Precisamos ou de a recuperar, ou de a destruir ou ter a certeza absoluta que já foi destruída.”

Luke virou-se para Susan.

“Queremos que vá até lá,” Afirmou Susan. “Ver o que consegue descobrir.”

Aquelas eram precisamente as palavras que Luke não queria ouvir. Ao telefone, a Presidente tinha-o unicamente convidado para uma reunião. Mas ele estava ali para uma missão.

“Será que é possível,” Ripostou Luke, “falarmos sobre isto em privado?”



*



“Quer alguma coisa?” Perguntou Richard Monk. “Café?”

“Obrigado, aceito uma caneca de café,” Agradeceu Luke.

Não se importava de beber café agora, mas aceitara a oferta sobretudo porque pensou que tal faria com que Monk se retirasse da sala. Errado. Monk limitou-se a pedir o café pelo telefone.

Luke, Monk e Susan encontravam-se na sala de estar do piso superior, próximos dos aposentos da família. Luke sabia que a família de Susan não vivia ali. Quando ela era Vice-Presidente nunca lhe tinha prestado grande atenção, mas tinha ficado com a ideia de que ela e o marido tinham uma relação distante.

Luke sentou-se confortavelmente numa poltrona. “Susan, antes de começarmos quero dizer-lhe uma coisa. Decidi retirar-me com efeitos imediatos. Digo-lhe antes de dizer a qualquer outra pessoa por isso, outra pessoa terá que liderar a SRT.”

Susan permaneceu em silêncio.

“Stone,” Reagiu Monk, “o melhor é saber já. A Special Response Team acabou. O Don Morris esteve envolvido no golpe desde o primeiro momento e, como tal, é parcialmente responsável por uma das maiores atrocidades já sucedidas em solo americano. E ele criou a Special Response Team. Tenho a certeza que compreende que a segurança, e sobretudo a segurança da Presidente, é a nossa prioridade neste momento. Não é apenas a SRT. Estamos a investigar subagências suspeitas no interior da CIA, NSA e o Pentágono, entre outros. Temos que eliminar os conspiradores para que algo de semelhante não volte a acontecer.”

“Compreendo as vossas preocupações,” Consentiu Luke.

E compreendia. O governo estava frágil naquele momento, talvez mais frágil do que nunca. O Congresso estava delapidado e uma ex supermodelo tinha ascendido à cadeira de Presidente. Os Estados Unidos haviam demonstrado ter pés de barro e se ainda houvesse conspiradores à solta, nada os impedia de tentar alcançar o poder novamente.

“Se vai suprimir a SRT de qualquer das formas, então esta é a altura ideal para eu sair.” Quanto mais Luke falava em sair, mais real se lhe tornava essa possibilidade.

Chegara o momento de restabelecer a sua vida familiar. Chegara o momento de recriar aquele lugar idílico na sua cabeça, um lugar onde ele, Becca e Gunner estariam sós, longe das preocupações, um lugar em que mesmo que o pior acontecesse, não teria grande importância.

Raios, talvez quando chegasse a casa perguntasse a Becca se se queria mudar para a Costa Rica. Gunner podia crescer como bilíngue. Podiam viver algures na praia. Becca podia ter um jardim exótico. Luke podia praticar surf algumas vezes por semana. A costa ocidental da Costa Rica tinha algumas das melhores ondas das Américas.

Luke estava perdido nestes pensamentos quando Susan falou pela primeira vez. “É um péssimo momento para se retirar. O timing não podia ser pior. O seu país precisa de si.”

Ele olhou para ela. “Sabe que mais, Susan? Isso não é bem verdade. Pensa dessa forma porque me viu em ação, mas existem milhões de homens como eu. Há homens mais capazes do que eu, mais experientes, mais sensatos. A Susan parece não pensar dessa forma mas há pessoas que me consideram um fracasso.”

“Luke, não me pode deixar nesta situação,” Suplicou Susan. “Estamos na corda bamba, à beira do desastre. Tive que aceitar um papel para o qual… Não estava à espera disto. Não sei em quem confiar. Não sei quem é bom e quem é mau. Estou quase à espera de virar uma esquina e levar com uma bala na cabeça. Preciso dos meus comigo. Pessoas em quem posso confiar totalmente.”

“Eu sou um dos seus?”

Olhou-o diretamente nos olhos. “Salvou a minha vida.”

Richard Monk irrompeu na conversa. “Stone, o que ainda não sabe é que o Ébola é replicável. Isso não foi mencionado na reunião. O Wesley Drinan confidenciou-nos que é possível que pessoas com os equipamentos e conhecimentos adequados possam produzir mais. A última coisa de que precisamos é de um grupo desconhecido de pessoas às voltas com um vírus Ébola pronto a servir de arma, a tentar armazenar reservas.”

Luke olhou novamente para Susan.

“Aceite esta missão,” Pediu Susan. “Descubra o que aconteceu à mulher que desapareceu. Descubra o Ébola desaparecido. Quando regressar, se ainda se quiser retirar, nunca mais lhe peço nada. Iniciámos um percurso juntos há alguns dias. Aceite esta última missão e nunca mais o incomodarei.”

O olhar de Susan sustentou o de Luke até ao fim. Ela era uma política típica em muitos aspetos. Quando tentava chegar a alguém, tocava-o. Era muito difícil dizer-lhe não.

Luke suspirou. “Posso partir de manhã.”

Susan anuiu em concordância. “Já temos um avião à sua espera.”

Os olhos de Luke dilataram-se, surpreendidos. Respirou fundo.

“Ok,” Conseguiu finalmente articular. “Mas antes tenho que reunir algumas pessoas da Special Response Team. Estou a pensar no Ed Newsam, no Mark Swann e na Trudy Wellington. O Newsam está de baixa neste momento, mas tenho a certeza de que se junta à equipa se lhe pedir.”

Susan e Monk entreolharam-se.

“Já entrámos em contato com o Newsam e o Swann,” Replicou Monk. “Ambos concordaram e já estão a caminho do aeroporto. No entanto, lamentamos, mas a Trudy Wellington não poderá integrar a equipa.”

Luke torceu o nariz. “Ela não aceitou?”

Monk fitou um bloco de notas amarelo que segurava nas mãos. Nem se deu ao trabalho de olhar para Luke. “Não sabemos porque não entrámos em contato com ela. Infelizmente, recorrer à Wellington está fora de questão.”

Luke virou-se para Susan.

“Susan?”

Agora Monk ergueu o olhar. Entremeava o olhar entre Luke e Susan. Falou novamente antes de Susan ter a oportunidade de se pronunciar.

“A Wellington não é de confiança. Era amante do Don Morris. Não há hipótese dela integrar esta operação. Ela já nem vai estar ao serviço do FBI daqui a um mês e pode ter que enfrentar uma acusação de traição até lá.”

“Ela disse-me que não sabia de nada,” Atirou Luke.

“E acreditou nela?”

Luke nem se deu ao trabalho de responder àquela pergunta. Não sabia a resposta. “Quero ela,” Limitou-se a dizer.

“Ou?”

“Esta noite, deixei o meu filho a olhar para um robalo riscado no assador, um robalo que pescámos juntos. Posso retirar-me a partir deste preciso momento. Até que gostei ser professor. Estou ansioso para voltar às aulas. E estou ansioso por ver o meu filho a crescer.”

Luke olhou para Monk e Susan. E eles devolveram-lhe o olhar.

“Então?” Perguntou. “Que me dizem?”




CAPÍTULO SETE


11 de Junho

02:15

Ybor City, Tampa, Flórida



Era um trabalho perigoso.

Tão perigoso que ele nem sequer gostava de sair do piso onde se encontrava o laboratório.

“Sim, sim,” Disse ao telefone. “Temos quatro pessoas neste momento. Teremos seis quando um novo turno se iniciar. Esta noite? É possível. Não quero prometer demasiado. Ligue-me por volta das 10:00 e aí já teremos uma ideia mais concreta.”

Ouviu por um momento. “Bem, diria que uma carrinha é suficientemente grande. Esse tamanho pode facilmente encostar ao cais de carga. Estas coisas não estão ao alcance do olho humano. Até triliões não ocupam muito espaço. Se tivermos que o fazer, é possível que tudo caiba na bagageira de um carro. Mas sugeria dois carros. Um para a estrada e um para o aeroporto.”

Desligou o telefone. O nome de código do homem era Adam. O primeiro homem porque ele era o primeiro homem a fazer aquele trabalho. Tinha completa noção dos riscos, mesmo que outros não tivessem. Só ele tinha conhecimento da total dimensão do projeto.

Via o chão do pequeno armazém através da grande janela do escritório. Trabalhavam sem parar divididos em três turnos. As pessoas que agora ali se encontravam, três homens e uma mulher, usavam fatos brancos de laboratório, óculos, máscaras de ventilação, luvas de borracha e calçado próprio.

Os trabalhadores tinham sido selecionados pelos seus conhecimentos básicos de microbiologia. O seu trabalho era aumentar e multiplicar um vírus através do meio de alimentação fornecido por Adam, depois liofilizar as amostras para posterior transporte e transmissão pelas vias respiratórias. Era um trabalho aborrecido mas simples. Qualquer assistente de laboratório ou estudante do segundo ano de bioquímica estaria apto para o desempenhar.

O horário de vinte e quatro horas significava que as reservas de vírus liofilizados estavam a aumentar muito rapidamente. Adam fornecia aos seus chefes um relatório a cada seis ou oito horas, e sempre se manifestavam agradados com o ritmo a que o trabalho progredia. No dia anterior, o seu agrado começara a dar lugar a satisfação. O trabalho estaria terminado em breve, talvez ainda hoje.

Adam sorriu ante essa perspetiva. Os seus chefes estavam muito satisfeitos e pagavam-lhe muito, muito bem.

Sorveu café de um copo descartável e continuou a observar os seus trabalhadores. Já perdera a noção da quantidade de café que consumira nos últimos dias. Muito, com toda a certeza. Os dias começavam a distorcer-se numa amálgama comum. Quando ficava exausto, deitava-se na pequena cama do seu escritório e dormia por um bocado. Usava o mesmo equipamento de proteção dos trabalhadores que se encontravam no laboratório. Já não o tirava há dois dias e meio.

Adam dera o seu melhor para construir um laboratório improvisado num armazém alugado. Tinha dado o seu melhor para proteger os trabalhadores e ele próprio. Tinham roupa de proteção. Havia uma sala na qual se despiam no fim de cada turno e havia chuveiros para se lavarem de quaisquer resíduos.

Mas também havia que ter em consideração os recursos e os constrangimentos temporais. Tudo tinha que ser feito rapidamente e claro que ainda se colocava a questão da confidencialidade. Ele sabia que os equipamentos de proteção não estavam de acordo com os padrões preconizados pelos Centros Americanos de Controlo de Doenças – mesmo que tivesse um milhão de dólares e seis meses para construir o laboratório, não estariam conformes.

A verdade é que tinha construído o laboratório em menos de duas semanas. Estava situado numa zona acidentada de velhos armazéns, bem no centro de um bairro há muito procurado pelos imigrantes cubanos e outros que se instalavam nos Estados Unidos.

Ninguém daria qualquer atenção àquele lugar. Não havia qualquer sinalização no edifício e estava amalgamado entre tantos outros edifícios idênticos. A renda estava paga para os próximos seis meses, apesar de só necessitarem de o utilizar por um curto período. Tinha o seu próprio pequeno parque de estacionamento e os trabalhadores chegavam e iam embora como os trabalhadores de qualquer armazém e fábrica – em intervalos de oito horas.

Os trabalhadores eram bem pagos em dinheiro e poucos falavam inglês. Os trabalhadores sabiam o que fazer com o vírus, mas não sabiam exatamente o que manuseavam ou porquê. Uma rusga policial era altamente improvável.

Ainda assim, deixava-o nervoso estar tão próximo do vírus. Quando esta parte do trabalho terminasse ficaria aliviado, depois receberia o pagamento e evacuaria o local como se nunca ali tivesse estado. Depois disso, apanharia um voo para a costa oeste. Para Adam, este trabalho tinha duas partes. Uma ali e outra… noutro lado qualquer.

E a primeira parte estaria em breve concluída.

Hoje? Sim, talvez hoje mesmo.

Decidira deixar o país por uns tempos. Depois de tudo ter terminado, tiraria umas belas férias. Parecia-lhe bem o sul de França. Com o dinheiro que ganhava podia ir para onde quisesse.

Era simples. Uma carrinha ou um carro, ou talvez dois carros no pátio. Adam fecharia os portões para que ninguém pudesse ver o que se passava. Os trabalhadores carregariam os materiais para os veículos. Ele certificar-se-ia de que teriam cuidado, por isso talvez todo o processo demorasse vinte minutos.

Adam sorriu. Logo depois de concluído o carregamento, estaria a caminho da costa oeste num avião. E pouco depois disso, o pesadelo começaria. E não havia nada que se pudesse fazer para o evitar.




CAPÍTULO OITO


05:40

Nos céus de West Virginia



O Learjet de seis lugares zuniu no céu matinal. O jato era azul-escuro com o símbolo dos Serviços Secretos na lateral. Atrás dele, um raio do sol nascente espreitava acima das nuvens.

Luke e a sua equipa utilizaram os quatro lugares da frente como zona de reunião. Arrumaram as bagagens e equipamentos nos lugares lá atrás.

A equipa estava novamente reunida. No lugar ao lado do dele, estava sentado o grande Ed Newsam, vestindo umas calças cargo caqui e blusa de manga comprida. Tinha um par de muletas encostadas ao seu lado, sob a janela.

Do lado oposto a Luke, à esquerda, estava Mark Swann. Era um homem alto e magro com cabelo louro e óculos. Esticava as suas longas pernas até ao corredor. Usava umas calças de ganga velhas e gastas, e uns ténis Chuck Taylor vermelhos. Aparentava não poder estar mais satisfeito.

À frente de Luke estava Trudy Wellington. Tinha cabelo castanho encaracolado, era magra e atraente com a sua blusa e calças verdes. Usava óculos grandes e redondos. Trudy era muito bonita, mas os óculos davam-lhe o aspeto de uma coruja.

Luke sentia-se bem, mas não propriamente ótimo. Tinha ligado a Becca antes de partirem e a conversa entre eles não tinha corrido bem. Aliás, mal tinha fluído.

“Para onde vais?” Perguntou-lhe.

“Texas. Galveston. Houve uma falha de segurança num laboratório lá.”

“No laboratório de Biossegurança de nível 4?” Inquiriu Becca que era investigadora na área da Oncologia. Trabalhava na cura do melanoma há alguns anos. Integrava uma equipa com elementos provenientes de diversas instituições de pesquisa que tinham alcançado avanços na eliminação de células de melanoma através da injeção do vírus do herpes.

Luke assentiu. “Sim, o laboratório de Biossegurança de nível 4.”

“É perigoso,” Advertiu-o. “Tens a noção disso, não tens?”

Ele quase riu. “Querida, eles não me chamam quando não é.”

Havia frieza na sua voz. “Bem, tem cuidado por favor. Bem sabes que te amamos.”

Amamos.

Era uma forma peculiar de o dizer, quase como se ela e Gunner o amassem em conjunto, mas não necessariamente enquanto indivíduos.

“Eu sei,” Disse Luke. “E eu amo-vos muito.”

Seguiu-se um prolongado silêncio do outro lado da linha.

“Becca?”

“Luke, não te garanto que estejamos cá quando regressares.”

Agora, a bordo do avião, abanou a cabeça numa tentativa de abandonar aquele pensamento. Era parte do trabalho, tinha que segmentar. Era verdade que estava a passar por problemas familiares e não sabia como os resolver. Mas também não os podia levar com ele para Galveston. Iriam distraí-lo da finalidade da viagem e podia ser perigoso para ele e para todos os envolvidos. O seu foco no assunto em questão tinha que ser total.

Olhou pela janela. O jato tracejava o céu, movendo-se velozmente. Abaixo deles, nuvens brancas flutuavam. Respirou fundo.

“Então Trudy,” Principiou Luke. “O que tens para nós?”

Trudy segurou o tablet para que todos pudessem ver. Irradiava alegria. “Devolveram-me o meu velho tablet. Obrigado, chefe.”

Ele abanou a cabeça e sorriu ligeiramente. “Trata-me por Luke. Agora venha de lá o que interessa por favor.”

“Vou partir do princípio que não têm conhecimento prévio de nada.”

Luke anuiu. “Muito bem.”

“Ok. Estamos a caminho do Laboratório Nacional de Galveston situado em Galveston, Texas. É uma das quatro instalações de Biossegurança de Nível 4 conhecidas em território dos Estados Unidos. Trata-se das instalações de investigação em microbiologia com o mais elevado nível de segurança e com os mais extensos protocolos de segurança para os trabalhadores. Estas instalações lidam com alguns dos vírus e bactérias mais letais e infeciosos conhecidos da comunidade científica.”

Swann levantou uma mão. “Dizes uma de quatro instalações. Há instalações desconhecidas?”

Trudy encolheu os ombros. “Algumas empresas que se dedicam às ciências da vida, sobretudo aquelas com capital fechado, podem ter instalações de Biossegurança de nível 4 sem que o governo de tal tenha conhecimento. Sim. É possível.”

Swann acenou com a cabeça.

“O que é diferente nestas instalações de Galveston é o facto de as outras três instalações de Biossegurança de nível 4 estarem situadas em edifícios governamentais de alta segurança. Galveston é a única que se encontra num campus universitário, um aspeto que foi repetidamente apontado como preocupante em termos de segurança antes de ter sido inaugurada em 2006.”

“E o que fizeram a esse respeito?” Perguntou Ed Newsam.

Trudy sorriu novamente. “Prometeram que teriam cuidados redobrados.”

“Fantástico,” Sentenciou Ed.

“Passemos ao cerne da questão,” Apressou-a Luke.

“Ok. Há três noites ocorreu uma falha de energia.”

Luke derivou um pouco enquanto Trudy fornecia as informações a que Luke já tivera acesso na noite anterior através do Diretor do Laboratório na reunião ocorrida na Nova Casa Branca. O guarda-noturno, a mulher, o tubo de Ébola. Luke ouviu o relato, mas mal o escutou.





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O PREÇO DA LIBERDADE é o 2º livro da série de sucesso de Luke Stone que começou com ALERTA VERMELHO: CONFRONTO LETAL (Livro #1) com download gratuito disponível. Um agente biológico é roubado de um laboratório de alta segurança. Preparado para ser usado como arma de destruição maciça, poderá matar milhões, sendo encetada uma desesperada caça por toda a América para capturar os terroristas antes que seja tarde demais. Luke Stone, responsável de um departamento de elite do FBI que vira a sua própria família numa situação de risco, prometera afastar-se, mas quando a nova Presidente lhe pede ajuda, não consegue recusar. Segue-se um cenário de devastação total que atinge a Presidente e a sua família. Com a sua força testada até ao limite, a nova Presidente dos Estados Unidos surpreende até os seus conselheiros mais próximos com a sua determinação na preservação dos valores da liberdade. O confronto torna-se pessoal quando membros do gabinete da Presidente querem Luke e a sua equipa fora de ação, obrigando-o a defender a nação à sua maneira. Mas nada dissuade Luke Stone de lutar por aquilo em que acredita. Luke compreende rapidamente que o alvo final dos terroristas é mais assustador do que ele próprio poderia imaginar. Com apenas alguns dias para evitar uma catástrofe global, o mais provável é nem Luke conseguir parar o diabólico plano gizado pelos terroristas. Um thriller político com ação desconcertante, cenários internacionais dramáticos, reviravoltas inesperadas e suspense infindável, ALERTA VERMELHO: O PREÇO DA LIBERDADE é o 2º livro da saga de Luke Stone, uma nova série explosiva que o vai manter acordado até altas horas da madrugada. O Livro #3 da série Luke Stone estará em breve disponível.

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