Книга - Alerta Vermelho: Confronto Letal

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Alerta Vermelho: Confronto Letal
Jack Mars


Um Thriller de Luke Stone #1
Quando resíduos nucleares são roubados a meio da noite de um hospital de Nova Iorque por um grupo de jiadistas, a polícia, numa corrida desesperada contra o tempo, chama o FBI. Luke Stone, membro proeminente de um departamento secreto e de elite do FBI, é o único homem que os pode ajudar. Luke chega rapidamente à conclusão de que o principal objetivo dos terroristas é criar uma bomba suja e usá-la num alvo relevante num prazo de 48 horas. Segue-se uma incansável perseguição que opõe os mais perspicazes agentes ao serviço do Governo americano e os mais sofisticados terroristas. Informações fiáveis permitem ao Agente Stone juntar as peças de um intrincado quebra-cabeças e compreender que está perante uma imensa conspiração e que o alvo a atingir é ainda mais relevante do que poderia inicialmente imaginar, numa jornada que o conduzirá até ao Presidente dos Estados Unidos. Com Luke falsamente acusado do crime, a equipa ameaçada e a própria família em perigo, o risco não podia ser maior. Mas enquanto antigo comando das forças especiais, Luke já estivera em situações complexas e não vai desistir de desmascarar os responsáveis pela conspiração, utilizando todos os meios ao seu alcance num confronto que se adivinha letal. As reviravoltas sucedem-se enquanto um homem tem de enfrentar um exército de obstáculos e maquinações, levando-o ao limite e culminando num clímax impressionante. Um thriller político com ação desconcertante, cenários internacionais dramáticos e suspense infindável, ALERTA VERMELHO: CONFRONTO LETAL marca o início de uma nova série explosiva viciante que o vai manter acordado até altas horas da madrugada. O Livro #2 da série Luke Stone estará em breve disponível.





Jack Mars

Alerta Vermelho: Confronto Letal (Um thriller de Luke Stone – Livro #1)




Jack Mars

Jack Mars é um leitor ávido e eterno fã do género thriller. ALERTA VERMELHO: CONFRONTO LETAL é o thriller de estreia de Jack que gosta de interagir com os leitores por isso, não deixe de visitar a página www.jackmarsauthor.com (http://www.jackmarsauthor.com/) e subscreva a lista de e-mail, receba um livro e outras ofertas grátis, ligue-se ao Facebook e ao Twitter, e mantenha o contato!



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PRIMEIRA PARTE





CAPÍTULO 1




5 De Junho, 01:15

Condado de Fairfax, Virginia – Subúrbios de Washington, D.C.


O telefone tocou.

Luke Stone estava meio acordado, meio a dormir. Clarões de imagens assaltavam a sua mente. Era noite numa autoestrada deserta fustigada pela chuva. Alguém estava ferido. Um acidente de carro. À distância, uma ambulância aproximava-se a grande velocidade. A sirene gemia.

Abriu os olhos. Na penumbra do quarto, ao seu lado, o telefone tocava na mesa de cabeceira. Mirou os números vermelhos do relógio digital disposto ao lado do telefone.

“Meu Deus,” Sussurrou. Tinha adormecido há talvez meia hora.

A voz da mulher, Rebecca, soou rouca: “Não atendas.”

Um tufo do seu cabelo louro revelou-se debaixo dos cobertores. Uma luz azul suave proveniente da casa de banho penetrou no quarto.

Ele atendeu o telefone.

“Luke,” Disse uma voz. A voz era profunda e áspera, ligeiramente salpicada pelo tom nasalado típico do Sul. Luke conhecia aquela voz demasiado bem. Era Don Morris, o seu antigo chefe na Special Response Team.

Luke passou a mão pelo cabelo. “Sim?”

“Acordei-te?” Perguntou Don.

“O que te parece?”

“Não te queria ligar para casa mas o telemóvel estava desligado.”

Luke resmoneou. “Porque eu o desliguei.”

“Temos problemas, Luke. Preciso de ti.”

“Conta-me tudo,” Pediu Luke.

Ouviu o que a voz lhe transmitiu. Pouco depois foi invadido por uma sensação familiar – a sensação de que estava num elevador a descer cinquenta andares a alta velocidade. Talvez essa fosse a razão por que tinha deixado aquele trabalho. Não devido às demasiadas situações de risco, não porque o filho estava a crescer a uma velocidade gritante, mas porque não gostava daquela sensação no estômago.

O que o desconcertava era o conhecimento. Saber aquilo de que poucos tinham conhecimento, era um peso demasiado grande. Pensou nos milhões de pessoas que viviam as suas vidas felizes, abençoadamente inconscientes do que verdadeiramente se passava à sua volta. Luke invejava a sua ignorância.

“Quando é que isso aconteceu?” Perguntou.

“Ainda não sabemos nada em concreto. Há uma hora, talvez duas. O hospital detetou a violação de segurança há cerca de quinze minutos. Há funcionários desaparecidos por isso, neste momento, parece ter sido algo com origem lá dentro. Mas à medida que vamos obtendo mais informações, novas hipóteses podem surgir. Por razões óbvias, o Departamento de Polícia de Nova Iorque está à beira de um ataque de nervos. Convocaram mais dois mil polícias para se juntarem à força habitual e não me parece que vá ser suficiente. A maior parte deles nem vai entrar antes da mudança de turno.”

“Quem ligou ao DPNI?” Questionou Luke.

“O hospital.”

“Quem nos ligou a nós?”

“O Comandante da Polícia.”

“Ele ligou a mais alguém?”

“Não, só nos ligou a nós.”

Luke acenou afirmativamente.

“Ok, ótimo. Vamos manter as coisas assim. Os polícias têm que selar o local do crime e mantê-lo seguro. Mas têm que permanecer fora do perímetro. Não queremos que andem por lá a patinhar. Também não podem revelar isto à imprensa. Se os jornais tomam conhecimento disto, vai ser um circo autêntico.”

“Feito.”

Luke suspirou. “Temos que partir do princípio que eles têm duas horas de avanço em relação a nós. É mau, podem estar em qualquer lugar.”

“Eu sei. O DPNI está a vigiar pontes, túneis, metro, os serviços ferroviários urbanos. Estão a atentos às passagens superiores das autoestradas mas é uma agulha num palheiro. Ninguém tem os meios humanos para lidar com algo desta dimensão.”

“Quando é que lá vais?” Perguntou Luke.

Don não hesitou. “Agora. E tu vais comigo.”

Luke olhou mais uma vez para o relógio. 01:23 da manhã.

“Posso estar no heliporto daqui a meia hora.”

“Já vai um carro a caminho,” Informou Don. “O condutor acabou de ligar. Chega a tua casa daqui a dez minutos.”

Luke colocou o telefone na base.

Rebecca estava meio acordada com a cabeça apoiada num cotovelo e a olhar fixamente para ele. O cabelo longo caía-lhe sobre os ombros. Tinha os olhos azuis rodeados por uma moldura de pestanas espessas. O seu belo rosto era agora mais magro do que quando se tinham conhecido na faculdade. Os anos decorridos tinham deixado as marcas do desassossego e das preocupações.

Luke lamentava isso profundamente. Amargurava-o pensar que o que fazia lhe podia ter causado sofrimento. E essa tinha sido outra das razões pela qual ele tinha abandonado aquele trabalho.

Lembrava-se de como ela era quando eram jovens, sempre a rir, sempre a sorrir. Nessa época, ela era uma pessoa despreocupada. Já não se lembrava da última vez que vira esse lado de Rebecca. Pensou que talvez desta vez, longe do trabalho, se pudessem reaproximar mas os progressos eram lentos. Havia momentos em que a verdadeira Becca estava lá, mas eram fugazes.

Ele sabia que ela não confiava na situação. Não confiava nele. Ela estava à espera daquela chamada a meio da noite, aquela chamada que ele tinha que atender. A chamada que, mal desligasse o telefone, o obrigaria a sair da cama e a partir.

A noite tinha sido boa. Durante algumas horas, quase parecia terem recuado no tempo.

E agora isto.

“Luke…” Começou Becca com aspeto carregado. Luke percebeu de imediato que a conversa não ia ser fácil.

Luke saiu da cama movimentando-se com rapidez. Por um lado porque as circunstâncias assim o exigiam, por outro porque queria sair de casa antes de Becca ter tempo de por a cabeça em ordem. Esgueirou-se para a casa de banho, salpicou a cara com água e olhou-se ao espelho. Sentia-se bem desperto mas com os olhos pesados. O seu corpo era sólido e forte – O tempo livre permitira-lhe ir ao ginásio quatro vezes por semana. Trinta e nove anos, pensou. Nada mal.

Tirou da prateleira superior do armário um comprido cofre de aço. De cor, marcou a combinação de dez dígitos. A tampa abriu-se, retirou a sua Glock de nove milímetros e colocou-a num coldre de ombro de cabedal. Agachou-se e prendeu uma pequena pistola de calibre 25 à perna direita. À perna esquerda prendeu uma faca serrilhada com 12 cm de comprimento. O punho também funcionava como soqueira.

“Pensava que já não ias trazer armas para casa.”

Olhou de relance e é claro que Becca ali estava a observá-lo. Tinha vestido um robe bem justo ao corpo. O cabelo estava repuxado para trás. Os braços cruzados. A cara estava contraída e os olhos alerta. Já não era a mulher sensual de há pouco. Nem por sombras.

Luke abanou a cabeça. “Nunca disse isso.”

Começou a vestir umas calças cargo pretas e enfiou algumas revistas nos bolsos por causa da Glock. Escolheu uma camisa justa e prendeu a Glock sobre ela. Calçou umas botas com biqueiras de aço. Fechou a caixa da arma e colocou-a novamente na estante mais alta do armário.

“E se o Gunner encontrasse essa caixa?”

“Está bem lá em cima. Não a vê e não lhe pode chegar. Mesmo que pegasse nela, está fechada com uma fechadura digital. Só eu sei a combinação.”

Pendurado num cabide estava um saco com roupa para dois dias. Pegou nele. Numa das prateleiras, repousava uma pequena mala de primeiros-socorros abastecida com artigos de higiene para viagem, óculos de ler, barras energéticas e meia dúzia de comprimidos Dexedrine. Agarrou nela também.

“Sempre pronto, não é Luke? Tens a tua caixa com as tuas armas, as malas com a roupa e os medicamentos, e estás sempre pronto a partir quando o teu país precisa de ti, não é verdade?”

Luke suspirou profundamente.

“Não sei o que queres que eu diga.”

“Que tal: decidi não ir, decidi que a minha mulher e o meu filho são mais importantes que um emprego. Quero que o meu filho tenha um pai. Não quero que a minha mulher fique acordada noites sem fim a tentar adivinhar se estou vivo ou morto, ou se vou sequer regressar. Podes dizer isso por favor?”

Era em momentos como este que ele sentia a crescente distância que se instalara entre eles. Quase a podia ver. Becca era uma sombra minúscula num vasto deserto, a diminuir à medida que se aproximava do horizonte e ele queria resgatá-la para junto de si. Era algo por que ansiava desesperadamente mas não sabia como o conseguir. Uma missão esperava por ele.

“O Papá vai-se embora outra vez?”

Ambos coraram. Ali estava Gunner, no topo dos três degraus que iam dar ao seu quarto. Por um momento, ao vê-lo, a respiração de Luke suspendeu-se. Parecia o Christopher Robin dos livros de Winnie the Pooh. Tinha cabelo louro, usava umas calças de pijama com um padrão coberto de luas amarelas e estrelas e vestia uma T-shirt da série Walking Dead.

“Vem cá, monstro.”

Luke pousou as malas e pegou no filho ao colo. O rapaz agarrou-se ao seu pescoço.

“Tu é que és o monstro, Papá, não sou eu.”

“Ok, eu sou o monstro.”

“Onde é que vais?”

“Tenho que viajar em trabalho. Talvez um dia ou dois. Mas volto assim que puder.”

“A Mamã vai-te deixar como disse?”

Luke segurou Gunner junto a si. O rapaz estava a ficar grande e Luke teve a noção de que muito em breve já não o ia conseguir segurar daquela forma. Mas esse dia ainda não chegara.

“Ouve-me. A Mamã não me vai deixar e vamos ficar todos juntos durante muito, muito tempo. Certo?”

“Certo, Papá.”

Eclipsou-se pelas escadas acima em direção ao quarto.

Quando ficaram sozinhos, Luke e Becca olharam-se fixamente. Agora, a distância parecia ter diminuído. Gunner era a ponte que os ligava.

“Luke…”

Ele ergueu as mãos. “Antes de falares, queria dizer uma coisa. Amo-te e amo o Gunner mais do que tudo no mundo. Quero estar com vocês todos os dias, agora e para sempre. Não estou a partir porque me apetece. Odeio isto. Mas aquela chamada esta noite… Há vidas em jogo. Em todos estes anos, quando saía de casa a meio da noite as situações eram ameaças de Nível Dois e a maior parte das vezes de Nível Três.”

O rosto de Becca tinha suavizado ligeiramente.

“Que nível de ameaça é este?” Perguntou Becca.

“Nível Um.”




CAPÍTULO 2




01:57

McLean, Virginia – Quartel-General da Special Response Team


“Senhor?” Disse alguém. “Chegámos.”

Luke despertou repentinamente. Sentou-se. Estavam estacionados junto ao portão do heliporto. Uma chuva miudinha caía. Olhou para o condutor. Era um homem jovem com o cabelo cortado à escovinha, provavelmente acabado de sair do exército e sorria.

“O senhor adormeceu.”

“Pois foi,” Respondeu Luke. Mais uma vez, o peso do trabalho exauria-o. Queria estar em casa na cama com Becca, mas em vez disso estava aqui. Queria viver num mundo em que assassinos não roubassem material radioativo. Queria dormir e sonhar com coisas agradáveis. Mas neste momento, não conseguia sequer imaginar coisas agradáveis. O seu sono estava contaminado com o excesso de conhecimento.

Desceu do carro com as malas, mostrou ao guarda a sua identificação e passou por um detetor.

Na pista estava um lustroso helicóptero preto, um grande Bell 430, já com as hélices em movimento. Luke atravessou a pista molhada, agachando-se. Ao aproximar-se, o aparelho dava sinais de que estava pronto para levantar voo. A porta dos lugares destinados aos passageiros deslizou e Luke trepou para o interior do helicóptero.

Já se encontravam seis pessoas a bordo, quatro na cabina dos passageiros e duas no cockpit. Don Morris estava instalado junto à janela mais próxima. O lugar à sua frente estava vazio e Don apontou para ele.

“Ainda bem que pudeste vir, Luke. Senta-te. Junta-te à festa.”

Luke colocou o cinto enquanto o helicóptero subia rumo ao céu. Olhou para Don. O Don que tinha diante de si estava velho, o cabelo liso e a barba já grisalhos. Até a cor das sobrancelhas revelava os efeitos da passagem do tempo. Mas ainda tinha o aspeto de comandante de Força Delta que outrora fora. O corpo era sólido e o rosto granítico – coberto de promontórios rochosos e despenhadeiros íngremes. Os olhos eram argutos e precisos como dois lasers. Segurava um cigarro apagado numa das suas mãos firmes. Não acendia um há dez anos.

À medida que o helicóptero ganhava altitude, Don apontou para as outras pessoas que se encontravam na cabina dos passageiros. Fez as apresentações rapidamente. “Luke, estás em desvantagem porque aqui todos te conhecem, mas tu não os deves conhecer. Conheces a Trudy Wellington, a nossa responsável pela área científica e de informação.”

Luke assentiu na direção da bonita jovem de cabelo escuro e grandes óculos redondos. Tinham trabalhado juntos muitas vezes. “Olá, Trudy.”

“Olá, Luke.”

“Já chega, pombinhos. Luke, este é o Mark Swann, o nosso responsável tecnológico. Com ele está Ed Newsam, especialista em armas e táticas.”

Luke acenou com a cabeça na direção dos dois homens. Swann era um tipo branco, de cabelo arenoso e óculos, com trinta e cinco a quarenta anos. Luke já se tinha cruzado com ele uma ou duas vezes. Newsam era um tipo negro que Luke nunca tinha visto, com trinta e poucos anos, careca, barba rente, peito amplo, com umas enormes pitões tatuadas a destacarem-se na T-shirt branca. Tinha o aspeto de alguém intratável num tiroteio e mais ainda numa luta de rua. Quando Don disse “armas e táticas,”, na verdade referia-se a “músculo”.

O helicóptero já tinha atingido altitude de cruzeiro; Luke supôs que já estariam a uns dez mil pés de altitude. Estabilizou e começou a mover-se. Tudo isto acontecia a 240 Km/h. Àquela velocidade, estavam a uma distância de hora e meia de Nova Iorque.

“Ok, Trudy,” Principiou Don. “O que tens para nós?”

O smartpad que Trudy segurava nas mãos brilhava na escuridão da cabina. Olhou para ele. Dava-lhe ao rosto um aspeto assustador, quase demoníaco.

“Vou partir do princípio que não têm conhecimento de nada,” Afirmou Trudy.

“Muito bem.”

Começou. “Há menos de uma hora, fomos contatados pela unidade de contra terrorismo do Departamento de Polícia de Nova Iorque. Existe um grande hospital no Upper East Side de Manhattan chamado Center Medical Center. Ali é armazenada uma grande quantidade de material radioativo numa caixa-forte de contenção situada seis andares abaixo do nível do chão. Na sua maioria, o material é composto por resíduos provenientes da terapia de radiação utilizada em doentes com cancro, mas também resultam de outros usos, incluindo imagens radiográficas. A dada altura nas últimas horas, pessoas desconhecidas infiltraram-se no hospital, violaram o sistema de segurança e removeram os resíduos radioativos ali armazenados.”

“Sabemos que quantidade levaram?” Perguntou Luke.

Trudy consultou o smartpad. “A cada quatro semanas, os materiais são retirados de camião e transportados para instalações de contenção radioativa no Departamento de Proteção Ambiental da Pensilvânia. A próxima entrega estava agendada para daqui a dois dias.”

“Então quer dizer que levaram vinte e seis dias de lixo radioativo,” Concluiu Don. “Corresponde a que quantidade?”

“O hospital não sabe,” Revelou Trudy.

“Não sabem?”

“Eles inventariam o lixo e monitorizam-no numa base de dados. Quem levou o material radioativo acedeu à base de dados e apagou os dados lá contidos. As quantidades diferem de mês para mês, dependendo dos tratamentos agendados. Podem recriar o inventário através dos registos de tratamentos mas vai demorar várias horas.”

“Não fazem backups à base de dados?” Perguntou Swann, o tipo da tecnologia.

“Fazem, mas o backup também foi eliminado. A verdade é que os registos do último ano foram simplesmente apagados.”

“Então alguém sabe muito bem o que está a fazer,” Sentenciou Swann.

Luke interveio. “Como é que sabemos se isto é uma emergência se nem sabemos a quantidade que levaram?”

“Por várias razões,” Disse Trudy. “Isto foi mais do que um roubo. Foi um ataque bem planeado e coordenado. As câmaras de vigilância de vários locais estratégicos do hospital foram desligadas. Incluindo de várias entradas e saídas, escadas e elevadores de carga, a caixa-forte de contenção e a garagem de estacionamento.”

“Alguém falou com os seguranças?” Questionou Luke.

“Os dois seguranças responsáveis pela consola de vídeo foram encontrados mortos dentro de um armário. Eram Nathan Gold, de cinquenta e sete anos, divorciado, com três filhos e sem ligações conhecidas ao crime organizado ou organizações extremistas. O outro era Kitty Faulkner, uma mulher negra de trinta e três anos, solteira, mãe de uma filha, sem ligações conhecidas ao crime organizado ou organizações extremistas. Gold trabalhava no hospital há vinte e três anos e Faulkner há oito anos. Os corpos foram despidos e os uniformes não foram encontrados. Foram ambos estrangulados mostrando evidente descoloração facial, inchaço, trauma no pescoço e marcas de ligadura associadas à morte por garrote ou técnica semelhante. Se quiserem ver tenho fotos.”

Luke levantou a mão. “Tudo bem. Mas vamos partir do princípio por um momento de que foram homens a matá-los. Será que um homem mata um segurança do sexo feminino e depois veste o seu uniforme?”

“Faulkner era alta para mulher,” Declarou Trudy. “Tinha quase 1,80m e era pesada. Um homem teria facilmente cabido no seu uniforme.”

“É tudo o que temos?”

Trudy continuou. “Não. Temos um funcionário do hospital que estava a trabalhar e está desaparecido. Esse funcionário faz parte do pessoal sob custódia e chama-se Ken Bryant. Tem vinte e nove anos e esteve detido antes de julgamento em Rikers Island, e depois esteve trinta meses detido no Clinton Correctional Center em Dannemora, Nova Iorque. Foi condenado por roubo e assalto simples. Depois de ser libertado completou seis meses no programa jail diversion e um curso de formação profissional. Trabalhava no hospital há quase quatro anos e tem um registo limpo. Nunca teve problemas de assiduidade ou problemas disciplinares.

“Como funcionário sob custódia, tinha acesso à caixa-forte de contenção de resíduos perigosos e teria ainda conhecimento do pessoal e das práticas de segurança do hospital. Teve ligações a traficantes de droga e a um gangue de prisão afro-americano denominado Black Gangster Family. Os traficantes de droga eram traficantes de rua sem grande importância do bairro onde ele cresceu. Provavelmente associou-se ao gangue da prisão apenas para se proteger.”

“É posível que um gangue de prisão ou um gangue de rua esteja por detrás disto?”

Trudy abanou a cabeça. “Nem pensar. Fiz referência às associações do Bryant porque ele ainda é uma ponta solta. Para se aceder e apagar uma base de dados ou para se piratear um sistema de videovigilância, são necessários conhecimentos técnicos que geralmente não estão relacionados com gangues de rua ou de prisão. Julgamos que o nível de sofisticação e os materiais roubados sugerem algo como uma célula terrorista adormecida.”

“O que é que eles podem fazer com os químicos?” Perguntou Don.

“É um dispositivo de dispersão radiológica,” Informou Trudy.

“Uma bomba suja,” Concluiu Luke.

“Nem mais. Não há outra razão plausível para se roubarem resíduos radioativos. O hospital não sabe que quantidade foi levada, mas sabem do que se trata. Os químicos incluem quantidades de irídio-192, césio-137, trítio e flúor. O irídio é altamente radioativo e a exposição prolongada pode causar queimaduras e doença de radiação num espaço de minutos ou horas. Experiências demonstraram que uma pequena dose de césio-137 mata um cão de 40Kg em três semanas. O flúor é um gás cáustico perigoso para os tecidos moles tais como os olhos, a pele e os pulmões. Mesmo com concentrações reduzidas, provoca o lacrimejar ocular. Com elevadas concentrações, provoca lesões pulmonares massivas, paragem respiratória e morte em poucos minutos.”

“Maravilhoso,” Ironizou Don.

“O que é importante reter aqui,” Continuou Trudy, “são as elevadas concentrações. Se és um terrorista, e para que aquilo a que te propuseste resulte, não te interessa uma vasta área dispersa. Isso limitaria a exposição. Queres montar uma bomba com o material radioativo e um explosivo convencional como o dinamite, e queres deflagrá-la num recinto fechado, de preferência com muita gente lá dentro. Um metro apinhado de gente ou uma estação de metro na hora de ponta. Uma plataforma de transporte como o Grand Central Terminal ou a Penn Station. Um grande terminal de camionagem ou aeroporto. Uma atração turística como a Estátua da Liberdade. Um recinto fechado maximiza a concentração de radiação.”

Luke imaginou a escadaria estreita e claustrofóbica que conduzia ao topo da Estátua da Liberdade. Fosse em que dia fosse, estava repleta de pessoas, muitas vezes crianças em viagens de estudo. Visualizou a Ilha da Liberdade atulhada com dez mil turistas, os ferries bloqueados com mais gente ainda, como se fossem barcos de refugiados provenientes do Haiti.

Depois visualizou as plataformas do metro no Grand Central Terminal às 07:30, tão inundada de gente que não há espaço nem para mais uma. Uma centena de pessoas alinhadas nas escadas, à espera que o comboio venha e que a plataforma desanuvie para que o próximo grupo de pessoas possa descer. Imaginou uma bomba a explodir no meio dessa multidão.

E depois as luzes a apagarem-se.

Foi acometido por uma indizível repugnância. Morreriam mais pessoas como consequência do pânico, do esmagamento de corpos, do que na explosão inicial.

Trudy continuou. “O problema é que existem demasiados alvos atrativos para que os possamos vigiar a todos e o ataque não tem que acontecer necessariamente em Nova Iorque. Se o roubo sucedeu há três horas, então já estamos perante um possível raio de operações de pelo menos duzentos e quarenta quilómetros. Isso inclui toda a cidade de Nova Iorque e ainda os subúrbios, Filadélfia, grandes cidades em New Jersey como Newark, Jersey City e Trenton. Se os ladrões continuarem a monte durante mais uma hora, podemos expandir o raio de ação até Boston e Baltimore. Toda a região tem uma elevada densidade populacional. Num raio tão abrangente, temos pelo menos dez mil possíveis alvos fáceis. Mesmo que queiram apenas atingir os alvos mais conhecidos, ainda assim estamos a falar de centenas de lugares.”

“Ok, Trudy,” Disse Luke. “Puseste-nos ao corrente dos factos. Mas o que é que o teu instinto te diz?”

Trudy encolheu os ombros. “Julgo que podemos assumir que se trata de um ataque de bomba suja e que é algo patrocinado por um país estrangeiro ou talvez um grupo terrorista independente como o ISIS ou a Al-Qaeda. Pode haver americanos ou canadianos envolvidos mas o controlo operacional é efetuado a partir de outro local. Definitivamente, não é um grupo doméstico criado aqui como os ambientalistas ou a supremacia branca.

“Porquê? Porque não um grupo doméstico?” Perguntou Luke. Ele já sabia a resposta, mas era importante deixar a pergunta no ar, seguir um passo de cada vez, não descurar nenhuma possibilidade.

“Os esquerdistas incendiam as concessionárias da Hummer a meio da noite. Eles colocam espigões nas árvores para abate e depois pintam-nas para que ninguém se magoe. Não têm um historial de ataque a zonas populosas ou de assassínio de pessoas, para além de que odeiam a radioatividade. Os de direita são mais violentos e em Oklahoma City ficou bem claro que não têm problemas em atacar populações civis e símbolos do estado. Mas nenhum destes grupos tem o treino necessário para perpetrar um ato como aquele que estamos a analisar. E há uma outra razão bem válida para que não sejam eles.”

“Qual?” Perguntou Luke.

“O irídio tem uma meia-vida muito curta,” Disse Trudy. “Dentro de poucos dias não vai ter qualquer utilidade. Para além disso, quem roubou estes químicos precisa de agir rapidamente antes deles próprios ficarem contaminados. O mês sagrado do Ramadão Muçulmano começa hoje ao pôr do sol. Parece-me que temos um ataque concebido para coincidir com o início do Ramadão.”

Luke quase suspirou de alívio. Conhecia e trabalhara com Trudy já há alguns anos. A sua capacidade de reunir informações e de projetar cenários era excecional. Acertava muitas mais vezes do que falhava.

Olhou para o relógio. Eram 03:15. O pôr do sol seria por volta das oito da noite. Fez um cálculo rápido. “Então teremos cerca de dezasseis horas para localizar esta gente?”

Dezasseis horas. Uma coisa era procurar uma agulha num palheiro, mas ter dezasseis horas para o conseguir, mesmo com a tecnologia mais avançada e os melhores operacionais, era outra coisa completamente diferente. Era simplesmente demasiado.

Trudy abanou a cabeça. “Não. O problema do Ramadão é que começa ao pôr do sol mas o pôr do sol de quem? Em Teerão, o pôr do sol desta noite começa às 20:24, ou seja, às 22:54 aqui. Mas e se escolherem o início do Ramadão a nível mundial, por exemplo na Malásia ou na Indonésia? Podemos estar perante um começo às 07:24, o que faz sentido porque coincide com o início da hora de ponta da manhã.”

Luke impacientou-se. Olhou pela janela para a vasta megalópole iluminada debaixo dele. Olhou novamente para o relógio. 03:20. Mais adiante, no horizonte, podia ver os edifícios altos de Lower Manhattan e as luzes azuis gémeas a perfurarem o céu no local onde outrora estivera o World Trade Center. Dali a três horas, os metros e estações de comboio começariam a encher-se de passageiros.

E algures havia pessoas a planear a morte desses passageiros.




CAPÍTULO 3




03:35

East Side de Manhattan


“Parecem ratos,” Disse Ed Newsam.

O helicóptero desceu sobre o East River. A água negra corria logo abaixo deles, e era possível divisar, no seu eterno movimento apressado, pequenas ondas que se erguiam e tombavam. Luke percebia o que Ed queria dizer. A água parecia conter milhares de ratos a correr sob um cintilante manto negro.

Desceram lentamente para o heliporto da 34th Street. Luke observou as luzes do edifício à sua esquerda, um milhão de joias faíscantes na noite. Agora que tinham aterrado, apoderou-se dele um sentimento de urgência. O coração batia a mil. Durante o longo voo tinha-se mantido calmo porque, que mais poderia fazer? Mas o tempo não parava e tinham que se apressar. Se pudesse, teria saltado do helicóptero antes de aterrar.

Tocou no solo com um solavanco e um estremecimento, e de imediato todos tiraram os cintos. Don abriu a porta energicamente. “Vamos,” Instou.

A porta de saída para o exterior ficava a cerca de 20 metros do local de aterragem. Três SUV aguardavam por eles logo a seguir às barreiras de betão. Uma equipa da Special Response Team de Nova Iorque dirigiu-se ao helicóptero e descarregou as malas de equipamento. Um homem transportou as malas de Luke.

“Cuidado com elas,” Advertiu Luke. “Da última vez que cá estive, perderam as minhas malas. Não vou ter tempo para fazer compras.”

Luke e Don subiram para a SUV da frente e Trudy deslizou para junto deles. A SUV estava ampliada de forma a criar uma cabina com lugares virados uns para os outros. Luke e Don sentaram-se virados para frente e Trudy para trás. A SUV começou a andar mesmo antes de estarem sentados. Um minuto depois já circulavam no estreito FDR Drive em direção a norte. Táxis amarelos acercavam-se deles como um enxame de abelhas.

Ninguém falou. A SUV seguiu o seu caminho abraçando as curvas de cimento, passando em túneis situados por baixo de edifícios em ruínas, calcando com força os buracos na estrada. Luke sentia o coração a bater no peito. Não era a condução que provocava a aceleração da sua pulsação, mas antes a expectativa.

“Teria sido agradável cá vir para nos divertirmos,” Gracejou Don. “Ficar num hotel chique, talvez ver um espetáculo da Broadway.”

“Talvez na próxima vez,” Retorquiu Luke.

Olhando pela janela, apercebeu-se que a SUV já abandonava a autoestrada. Era a saída da 96th Street. O condutor mal parou num sinal vermelho, depois virou à esquerda e desceu a avenida deserta.

A SUV fez a sua aparição na entrada circular do hospital. Era um momento tranquilo da noite. Pararam mesmo em frente das luzes intensas da sala de emergências. Um homem de fato esperava por eles.

“Vestido a rigor,” Disse Luke.

Don tocou Luke com um dedo espesso. “Ouve lá, Luke, preparámos uma coisa especial para ti. Quando é que vestiste um fato hazmat pela última vez?”




CAPÍTULO 4




04:11

Sob o Center Medical Center, Upper East Side


“Não apertes muito,” Disse Luke com o termómetro de plástico na boca.

Trudy tinha colocado o sensor de um monitor portátil de tensão arterial no pulso de Luke. O sensor apertou-lhe o pulso com força e depois ainda com mais força, libertando lentamente a pressão e emitindo ruídos arquejantes ao fazê-lo. Trudy retirou o velcro do sensor de pulso e quase como parte do mesmo movimento, tirou o termómetro da boca de Luke.

“Que tal?” Perguntou Luke.

Trudy olhou para os visores. “A tua tensão arterial está alta,” Informou. “138 de máxima e 85 de mínima. Frequência cardíaca em repouso, 97. Temperatura corporal 38°C. Não te vou mentir Luke. Isto podia estar bem melhor.”

“Tenho andado um pouco tenso ultimamente,” Disse Luke.

Trudy encolheu os ombros. “Os resultados do Don são melhores do que os teus.”

“Pois, mas ele toma estatinas.”

Luke e Don sentaram-se lado a lado num banco de madeira, munidos apenas dos boxers e t-shirts. Estavam numa unidade de armazenamento do hospital bem abaixo do nível do solo, rodeados de pesadas cortinas de vinil que resguardavam a área. O local era frio e húmido, e um arrepio percorreu a espinha de Luke. A caixa-forte de contenção violada estava dois andares abaixo do local em que se encontravam.

Algumas pessoas circulavam por ali. Havia dois tipos da SRT provenientes da delegação de Nova Iorque. Os tipos da SRT tinham montado duas mesas desdobráveis com vários portáteis e leitores de vídeo. Havia ainda o tipo do fato que era um responsável de inteligência da unidade de contraterrorismo do DPNI.

Ed Newsam, o tipo grande das armas e táticas que Luke tinha conhecido no helicóptero, correu as cortinas de vinil com dois tipos da SRT atrás dele. Cada um dos homens da SRT trazia consigo um pacote transparente selado com um material amarelo e luminoso no seu interior.

“Cuidado,” Disse Newsam em voz baixa. Apontou dois dedos para os seus olhos. “Don e Luke, atenção por favor.”

Newsam segurava uma garrafa de água em cada mão. “Eu sei que já fizeram isto antes, mas vamos fazer as coisas como se fosse a primeira vez para que não haja erros. Estes homens atrás de mim vão inspecionar os vossos fatos e depois vão ajudar-vos a vesti-los. São fatos hazmat de Nível A e são de vinil sólido. Vão sentir calor com eles vestidos e isso quer dizer que vão suar. Por isso, antes de começarmos, peço-vos que bebam estas garrafas de água. Vão agradecer-me por isto.”

“Alguém esteve lá em baixo antes de nós?” Perguntou Luke.

“Dois seguranças foram lá depois de descoberta a violação de segurança. Não há iluminação. O Swann tentou resolver o problema mas sem sucesso. Por isso, vai estar escuro lá em baixo. Os seguranças tinham lanternas mas quando descobriram a caixa-forte aberta com recipientes e cilindros espalhados por todo o lado, saíram de lá a correr.”

“Estiveram expostos?”

Newsam sorriu. “Um pouco. As minhas filhas vão usá-los como luzes de presença durante alguns dias. Não tinham fatos vestidos mas só estiveram lá por um minuto. Vocês vão estar por lá um pouco mais de tempo.”

“Vais ver o que nós virmos?”

“Vão ter câmaras de vídeo e luzes LED nos vossos capuzes. Vou ver o que vocês virem e vou gravar tudo.”

Levaram vinte minutos a vestirem-se. Luke estava frustrado. Era difícil mexer-se dentro do fato. Estava coberto de vinil da cabeça aos pés e já estava a sentir calor. A máscara estava sempre a embaciar. O tempo estava a esgotar-se. Os ladrões estavam em vantagem.

Ele e Don entraram juntos no elevador de carga. Chiava à medida que descia lentamente. Don levava o detetor Geiger. Parecia uma pequena bateria de carro com uma pega.

“Ouvem-me bem?” Perguntou Newsam. Era como se estivesse dentro da cabeça de Luke. Os capuzes tinham altifalantes e microfones incorporados.

“Sim,” Respondeu Luke.

“Perfeitamente,” Disse Don.

“Ótimo. Eu também vos ouço bem. Estamos numa frequência fechada. Só têm acesso a ela vocês, eu e o Swann na cabina de controlo de vídeo. O Swann tem acesso a um mapa digital da unidade e esses fatos estão equipados com dispositivos de monitorização. O Swann pode vê-los no mapa e vai orientar-vos do elevador até à caixa-forte. Ouves-me, Swann?”

“Sim,” Confirmou Swann.

O elevador deu um solavanco e parou.

“Quando as portas se abrirem, saiam e virem à esquerda.”

Os dois homens movimentavam-se de forma estranha rumo a uma entrada ampla, guiados pela voz de Swann. As luzes dos capacetes projetavam-se nas paredes, atirando sombras à escuridão. Luke lembrou-se do mergulho que fizera há alguns anos no local de um naufrágio.

Alguns segundos depois, o detetor Geiger começou a dar sinal. Os sinais surgiram, inicialmente de forma espaçada, como um batimento cardíaco lento.

“Temos radiação,” Informou Don.

“Pois é, não te preocupes. Não é mau de todo. Tens contigo uma máquina muito sensível.”

Os sinais começaram a acelerar e a tornar-se mais ruidosos.

A voz de Swann: “Daqui a poucos metros virem à direita, depois sigam essa entrada durante cerca de 10 metros. Vai desembocar num amplo compartimento quadrado. A caixa-forte de contenção está do outro lado do compartimento.”

Quando viraram à esquerda, o detetor Geiger começou a dar estalidos ruidosos e a um ritmo acelerado. Era uma catadupa de estalidos e era difícil distinguir uns dos outros.

“Newsam?”

“Sejam rápidos, meus senhores. Vamos tentar fazer isto em cinco minutos ou menos.”

Entraram no compartimento. O lugar estava completamente revolvido. Espalhados no chão estavam recipientes, caixas e grandes cilindros metálicos. Alguns estavam abertos. Luke apontou a sua luz na direção da caixa-forte do outro lado do compartimento. A porta maciça estava aberta.

“Estás a ver isto?” Perguntou Luke. “O Godzilla deve ter passado por aqui.”

A voz de Newsam surgiu outra vez. “Don! Don! Aponta a tua luz e câmara para o chão, 2 metros mais à frente. Aí. Avança um pouco mais. O que é isso aí no chão?”

Luke virou-se para Don e apontou a luz para o mesmo local. A poucos metros, no meio dos escombros, viram o que parecia ser um monte de trapos.

“É um corpo,” Disse Don. “Merda.”

Luke aproximou-se e apontou a luz. A pessoa era grande e envergava o que parecia ser um uniforme de segurança. Luke ajoelhou-se ao lado do corpo. Havia uma marca escura no chão, quase como uma fuga de óleo debaixo de um carro. A cabeça estava de lado, encarando-o. Acima dos olhos nada restava. A testa era uma cratera. Luke apalpou a nuca e sentiu um buraco pequeno, palpável apesar das espessas luvas que usava.

“Que temos Luke?”

“Um homem de estatura elevada, 18 a 30 anos, de ascendência árabe, persa ou mediterrânica. Há muito sangue. Tem feridas de entrada e saída consistentes com um tiro na nuca. Parece ter sido uma execução. Pode ser outro segurança ou um dos envolvidos que teve uma discussão com os amigos.”

“Luke,” Disse Newsam. “No teu cinto tens um pequeno scanner digital de impressões digitais. Vê se o consegues sacar e tirar uma impressão desse tipo.”

“Acho que isso não vai ser possível,” Afirmou Luke.

“Então, meu. As luvas são pesadas, mas sei onde está o scanner. Posso guiar-te.”

Luke apontou a câmara para a mão direita do homem. Cada dedo era um coto desfeito, inexistente abaixo da primeira articulação. Relanceou a outra mão. Estava igual.

“Levaram as impressões digitais com eles,” Disse.




CAPÍTULO 5


Novamente com as roupas normais, Luke e Don caminharam com rapidez pelo corredor do hospital na companhia do homem bem vestido da unidade de contraterrorismo do DPNI. Luke nem sabia o nome do tipo. Pensava nele como o tipo do fato mas estava prestes a dar-lhe ordens. Era necessário que as coisas começassem a evoluir e para que isso fosse possível precisavam da colaboração da cidade.

Luke estava a assumir a liderança, como aliás sempre fazia. Olhou para Don e Don assentiu com um aceno de cabeça. Era por isso que Don chamara Luke: para assumir o comando. Don sempre dissera que Luke nascera para jogar a quarterback.

“Quero detetores Geiger em todos os andares,” Principiou Luke. Longe da vista das pessoas. Só encontrámos radiação seis níveis abaixo mas se começa a subir, precisamos de evacuar toda a gente daqui rapidamente.”

“O hospital tem doentes ligados a máquinas,” Disse o do fato. “É difícil transportá-los.”

“Certo. Então vamos começar a organizar essa logística.”

“Ok.”

Luke prosseguiu. “Vamos precisar de uma equipa hazmat completa ali em baixo. É preciso recuperar aquele corpo, independentemente do quão contaminado está, e há que fazê-lo rapidamente. A limpeza pode esperar até recuperarmos o corpo.”

“Entendido,” Disse o do fato. “Vamos colocá-lo num caixão revestido a chumbo e levá-lo ao médico-legista num camião de contenção de radiação.”

“Podemos fazer isso sem alarido?”

“Claro.”

“É preciso identificá-lo com base no registo dentário, ADN, cicatrizes, tatuagens, correções cirúrgicas, tudo o que pudermos encontrar. Quando tivermos esses dados, há que transmiti-los à Trudy Wellington da nossa equipa. Ela tem acesso a bases de dados a que mais ninguém tem acesso.”

Luke pegou no telefone e digitou rapidamente um número. Ela atendeu ao primeiro toque.

“Onde estás, Trudy?”

“Estou com o Swann na 5ª. Avenida, nas traseiras de um dos nossos carros a caminho do centro de comando.”

“Ouve, tenho…” Olhou para o do fato. “Como te chamas?”

“Kurt. Kurt Myerson.”

“Tenho o Kurt Myerson do DPNI aqui comigo. Ele integra a unidade de contraterrorismo. Vão trazer o corpo. Preciso que estejas em contato com ele para encontrarmos registos dentários, ADN, qualquer coisa que o identifique. Quando tiveres os dados, quero saber o nome do tipo, a idade, o país de origem, associados conhecidos, tudo. Tenho que saber onde é que ele esteve e o que fez nos últimos seis meses. E preciso de tudo isto para ontem.”

“Entendido, Luke.”

“Ótimo, obrigado. Vou-te passar ao Kurt e ele dá-te o seu número direto.”

Luke passou o telefone a Kurt. Os três homens ultrapassaram várias portas duplas sem estugar o passo. Logo de seguida, Kurt entregou o telefone a Luke.

“Trudy? Ainda estás aí?”

“Onde mais poderia estar?”

Luke assentiu. “Ótimo. Só mais uma coisa. As câmaras de vigilância estão desligadas aqui no hospital, mas tem que haver câmaras na área. Quando chegares ao centro de comando, recruta alguns dos nossos e fá-los passar a pente fino tudo o que conseguirem encontrar num raio de cinco quarteirões e rebobina o vídeo, digamos que das 20:00 até à 01:00. Quero saber que veículos comerciais ou de entregas se aproximaram do hospital nesse espaço de tempo. Especial atenção para pequenas carrinhas de entregas, camiões de pão, de cachorros quentes, qualquer coisa dentro desta linha. Qualquer coisa pequena, conveniente, que possa transportar uma carga escondida. De menor importância são reboques, autocarros ou veículos de construção mas não os descurem. De menor importância são também as RVs, pickups e SUVs. Quero capturas de ecrã de matrículas e quero informação sobre quem são os donos dos veículos. Se descobrires algum que te pareça suspeito, procura mais câmaras em que o veículo surja num raio maior e descobre para onde se dirigiu.”

“Luke,” Disse Trudy, “ Vou precisar de mais pessoal para conseguir isso.”

Luke pensou rapidamente naquilo. “Ok, acorda algumas pessoas, trá-los ao quartel-general da SRT e passa-lhes os dados da matrícula. Podem localizar o proprietário a partir daí.”

“Entendido.”

Desligaram. Luke voltou ao momento presente e ocorreu-lhe algo de novo. Olhou para Kurt Myerson.

“Ok, Kurt. Eis o mais importante. Precisamos que este hospital seja encerrado. Precisamos que os funcionários que estavam de turno esta noite sejam reunidos e detidos. Sei que as pessoas vão falar, mas temos que manter isto longe da imprensa o máximo de tempo possível. Se isto se sabe, as pessoas vão entrar em pânico, vão aparecer milhares de pistas falsas e os maus da fita vão assistir ao desenrolar da investigação na televisão. Não podemos deixar que isso aconteça.”

Atravessaram outro conjunto de portas duplas e chegaram ao átrio principal do hospital. Toda a fachada principal do átrio era de vidro. Vários seguranças permaneciam próximos das portas de entrada fechadas.

Lá fora já se encontrava uma multidão. Uma massa de jornalistas empurrava as barreiras policiais no passeio. Fotógrafos espalmavam-se contra os vidros para tirarem fotos do átrio. Camiões de televisões estavam estacionados um pouco por toda a rua. Enquanto Luke observava o aparato, três jornalistas de TV filmavam peças diretamente da entrada do hospital.

“Dizia?”




CAPÍTULO 6




05:10

Dentro de uma carrinha


Eldrick estava doente.

Estava sentado no banco traseiro da carrinha, abraçado aos joelhos, a pensar naquilo em que se tinha metido. Na prisão, tinha assistido a coisas bastante impressionantes, mas nada como isto.

À sua frente, Ezatullah gritava qualquer coisa em Farsi ao telefone. Há horas que não parava de fazer chamadas. Eldrick não percebia nada. Era tudo uma algaraviada. Ezatullah tinha-se formado como engenheiro químico em Londres mas em vez de arranjar um emprego, foi para a guerra. Tinha pouco mais de 30 anos, uma grande cicatriz numa face e gostava de se gabar de ter participado na jihad em meia dúzia de países. Pretendia fazer o mesmo na América.

Continuou a gritar para o telefone antes de conseguir a ligação. Quando conseguiu finalmente falar com alguém, iniciou a primeira de uma série de discussões violentas. Passados alguns minutos acalmou-se e ouviu. Depois desligou.

A cara de Eldrick estava ruborizada devido à febre. Sentia-a a queimar-lhe o corpo. O coração batia aceleradamente. Ainda não tinha vomitado mas sentia que a qualquer momento o faria. Tinham esperado mais de duas horas no ponto de encontro no cais de South Bronx. Deveria ter sido uma coisa simples. Roubar material, conduzir a carrinha durante dez minutos, encontrarem-se com os contatos e desparecer. Mas os contatos não apareceram.

Agora estavam… algures. Eldrick não sabia. Tinha estado desmaiado durante algum tempo e agora já acordado, tudo lhe parecia um sonho vago. Circulavam na autoestrada. Momo estava ao volante por isso devia saber para onde se dirigiam. Momo era o especialista em tecnologia, magro, sem tónus muscular. Era tão jovem que a pele macia do rosto não apresentava uma única linha. Tinha o aspeto de alguém que nunca teria barba.

“Temos novas instruções,” Disse Ezatullah.

Eldrick gemeu, desejando estar morto. Não sabia que se podia estar tão doente.

“Tenho que sair desta carrinha,” Disse Eldrick.

“Cala-te, Abdul!”

Eldrick esquecera-se: agora o seu nome era Abdul Malik. Era estranho ouvir-se chamar de Abdul, ele, Eldrick, um orgulhoso homem negro, um americano orgulhoso durante grande parte da sua vida. Sentir-se tão doente como se sentia fazia-o desejar nunca ter mudado. Ter-se convertido na prisão fora a coisa mais estúpida que já fizera na vida.

Aquela merda estava toda lá atrás. Havia muita coisa em recipientes e caixas. Algum material vazara e estava a matá-los. Já tinha morto Bibi. O palerma tinha aberto um dos recipientes quando ainda estavam na caixa-forte. Era muito forte e arrancou a tampa. Porque o fizera? Eldrick conseguia vê-lo a segurar no recipiente. “Aqui não há nada,” Dissera. Depois segurou-o junto ao nariz.

No espaço de um minuto começou a tossir. E foi-se simplesmente abaixo dos joelhos. Depois não parava de tossir. “Tenho alguma coisa nos pulmões,” Dizia. “Não o consigo expelir.” Começou a faltar-lhe o ar. O som era terrível.

Ezatullah aproximou-se e deu-lhe um tiro na nuca.

“Acredita que lhe fiz um favor,” Declarou.

Agora a carrinha atravessava um túnel longo, estreito e escuro com luzes cor de laranja a dardejar no seu interior. As luzes aturdiam Eldrick.

“Tenho que sair desta carrinha!” Gritou. “Tenho que sair desta carrinha! Tenho que…”

Ezatullah virou-se com a arma em riste apontada à cabeça de Eldrick.

“Calado! Estou ao telefone.”

O rosto deformado de Ezatullah estava corado. Suava.

“Vais-me matar como mataste o Bibi?”

“O Ibrahim era meu amigo,” Disse Ezatullah. “Matei-o por misericórdia. A ti mato-te só para te calares.” Pressionou o cano da arma contra a testa de Eldrick.

“Mata-me. Não me importo.” E Eldrick fechou os olhos.

Quando os abriu, Ezatullah já se tinha virado para a frente. Ainda estavam no túnel repleto de luzes. Eldrick foi acometido por uma náusea súbita e um espasmo abrupto atravessou-lhe o corpo. O estômago apertou-se e um sabor ácido veio-lhe à boca. Curvou-se e vomitou no chão entre os sapatos.

Pairava no ar um odor nauseabundo.

Meu Deus, pediu silenciosamente. Deixa-me morrer, por favor.




CAPÍTULO 7




05:33

East Harlem, Borough de Manhattan


Luke susteve a respiração. Não era fã de ruídos intensos e aproximava-se um ruído bem intenso.

Estava completamente imóvel sob a luz sombria de um edifício devoluto no Harlem. Segurava na arma com as costas encostadas à parede. Atrás dele, Ed Newsam estava na mesma posição. À frente de ambos no átrio estreito, dispunham-se meia dúzia de membros da equipa SWAT devidamente equipados em cada um dos lados da porta de um apartamento.

Não se ouvia uma mosca no edifício. Partículas de poeira pairavam no ar. Alguns momentos antes, um pequeno robô tinha introduzido uma mini-câmara debaixo da porta à procura de explosivos do outro lado. Negativo. O robô já não era necessário.

Dois tipos da SWAT avançaram com um pesado aríete. Era do tipo de balanço com um polícia a segurar uma pega em cada lado. Não emitiram um som. O chefe da equipa SWAT levantou o punho. Surgiu o dedo indicador.

E era um.

Dedo médio. Dois.

Anelar…

Os dois homens recuaram e balançaram o aríete. BAM!

A porta explodiu para dentro enquanto os agentes se agachavam. Quatro esgueiraram-se lá para dentro, gritando subitamente, “Baixem-se! Baixem-se! BAIXEM-SE!”

Algures no átrio, ouviu-se um choro de criança. Portas abriram-se, cabeças espreitaram e depois recolheram-se. Não era novidade nenhuma por ali. Às vezes os polícias apareciam e partiam a porta de um vizinho.

Luke e Ed esperam cerca de trinta segundos até a equipa SWAT dar o apartamento como seguro. O corpo estava no chão da sala, tal como Luke suspeitava que estaria. Mal olhou para ele.

“Tudo ok?” Perguntou ao chefe da SWAT. O tipo encarou Luke por um momento apenas. Tinha ocorrido uma breve discussão quando Luke requisitara esta equipa. Estes tipos eram do DPNI. Não eram peças de xadrez que os agentes federais pudessem dispor a seu bel-prazer. E queriam que Luke o soubesse. Luke não tinha qualquer problema com isso mas um ataque terrorista não era propriamente o capricho de um homem.

“Tudo ok,” Declarou o chefe da equipa. “Este deve ser o teu suspeito.”

“Obrigado,” Agradeceu Luke.

O tipo encolheu os ombros e desviou o olhar.

Ed ajoelhou-se junto ao cadáver. Trazia consigo um scanner de impressões digitais. Retirou impressões de três dedos.

“Que te parece, Ed?”

Encolheu os ombros. “Carreguei previamente as impressões de Ken Bryant a partir da base de dados da polícia. Vamos saber se é ele dentro de alguns segundos. Entretanto, podemos ver óbvias marcas de estrangulamento e inchaço. O corpo ainda está quente. O rigor mortis já se instalou mas ainda não completamente. Os dedos estão a ficar azuis. Diria que morreu da mesma forma que os seguranças do hospital, por estrangulamento há aproximadamente oito a doze horas.”

Olhou para Luke. Um brilho reluzia-lhe nos olhos. “Se não te importares de lhe tirar as calças, posso obter uma leitura da temperatura retal e determinar de forma mais aproximada a hora da morte.”

Luke sorriu e abanou a cabeça. “Não, obrigado. Oito a doze horas está ótimo. Mas diz-me: é ele?”

Ed olhou para o scanner. “O Bryant? Sim, é ele.”

Luke pegou no telefone e ligou para Trudy. Do outro lado, o telefone tocava. Uma, duas, três vezes. Luke olhou em redor observando a desolação sombria do apartamento. A mobília da sala era antiga com estofos rasgados e com o enchimento a saltar dos braços do sofá. Um tapete puído estava aberto no chão e caixas de comida rápida e utensílios de plástico encontravam-se espalhados pela mesa. Pesadas cortinas pretas estavam penduradas nas janelas.

Trudy atendeu com voz alerta, quase musical. “Luke,” Disse. “Quanto tempo passou? Meia hora?”

“Queria-te falar do porteiro desaparecido.”

“Ken Bryant,” Disse Trudy.

“Pois. Ele já não está desaparecido. O Newsam e eu estamos no apartamento dele neste momento e já o identificámos. Morreu há cerca de 8, 12 horas. Estrangulado como os seguranças.”

“Ok,” Afirmou.

“Quero que acedas às contas bancárias dele. Possivelmente tinha um depósito direto do trabalho. Começa por aí e vê o que consegues depois.”

“Hmm, vou precisar de um mandato para isso.”

Luke compreendia a sua hesitação. Trudy era uma boa profissional mas também era jovem e ambiciosa. Quebrar as regras tinha afastado muitos de uma carreira promissora. Mas nem sempre. Às vezes quebrar as regras conduzia a promoções relâmpago. Tudo dependia de quais as regras que se quebravam e os resultados que daí advinham.

“Tens aí o Swann contigo?” Perguntou Luke.

“Sim.”

“Então não precisas de um mandato.”

Ela não respondeu.

“Trudy?”

“Estou aqui.”

“Não temos tempo para pedir um mandato. Há vidas em jogo.”

“O Bryant é um suspeito neste caso?”

“É alguém que pode estar envolvido. De qualquer das formas, está morto. Penso que não estamos a violar os seus direitos.”

“Posso depreender que é uma ordem tua, Luke?”

“É uma ordem direta,” Confirmou. “Isto é da minha responsabilidade. Se quiseres colocar as coisas num outro nível, digo-te que o teu emprego depende disto. Ou fazes o que te peço ou dou início a um processo disciplinar. Compreendido?”

A resposta dela foi petulante, quase infantil. “Está bem.”

“Muito bem. Quando acederes à conta dele, procura qualquer coisa fora do normal. Dinheiro que não devia estar ali. Grandes depósitos ou grandes levantamentos. Transferências bancárias. Se tem uma conta poupança ou investimentos ligados, analisa-os. Estamos a falar de um ex-condenado com um emprego sob custódia. Não deveria ter muito dinheiro. Se tiver, quero saber de onde veio.”

“Ok, Luke.”

Hesitou antes de perguntar. “Como vai isso das matrículas?

“Estamos a trabalhar o mais rápido que podemos,” Disse Trudy. “Acedemos a filmagens noturnas das câmaras da 5ª. Avenida e da 96th Street, bem como da 5ª. Avenida e da 94th Street, e mais algumas da vizinhança. Estamos a monitorizar 198 veículos, 46 dos quais prioritários. Devo ter um relatório inicial do quartel-general dentro de quinze minutos.”

Luke olhou para o relógio. O tempo escasseava. “Ok. Bom trabalho. Vamos para aí logo que possível.”

“Luke?”

“Sim.”

“A história já corre na imprensa. Têm três feeds em direto no placard principal. É a história do dia em todo o lado.”

“Bem me parecia.”

Ela continuou. “O Presidente da Câmara agendou um comunicado para as 06:00. Parece que vai aconselhar toda a gente a ficar em casa hoje.”

“Toda a gente?”

“Quer que todo o pessoal não vital permaneça em Manhattan. Todos os funcionários de escritório, todos os funcionários de limpeza e lojistas. Todas as crianças e professores. Vai sugerir que cinco milhões de pessoas tirem um dia de folga.”

Luke encostou a mão à boca. Suspirou. “Isso vai ser ótimo para o moral,” Declarou. “Se toda a gente em Nova Iorque ficar em casa, os terroristas talvez ataquem Filadélfia.”




CAPÍTULO 8




05:45

Baltimore, Maryland – A sul do túnel Fort McHenry


Eldrick estava sozinho a cerca de 10 metros da carrinha. Acabara de vomitar mais uma vez. Praticamente já só expelia sangue e isso preocupava-o. Ainda tinha vertigens, febre e continuava enrubescido mas, com o estômago vazio, já não se sentia nauseado. Mas o melhor de tudo é que estava finalmente fora da carrinha.

Algures para lá do horizonte sujo, o céu começava a clarear com um tom doentio de amarelo pálido. Ao nível do chão, ainda estava escuro. Estavam estacionados num parque de estacionamento desolado junto a um cais sombrio. A passagem superior de uma autoestrada pairava vinte andares acima das suas cabeças. Próximo do local onde se encontravam estava um edifício industrial de tijolo abandonado com duas chaminés. As janelas partidas eram buracos negros semelhantes a olhos mortos. O edifício estava rodeado por uma vedação de arame farpado com sinais afixados a cada 10 metros: NÃO ENTRAR. A vedação exibia um buraco visível. A área à volta do edifício estava coberta de arbustos e ervas altas.

Observou Ezatullah e Momo. Ezatullah descascava um dos grandes decalques magnéticos da Dun-Rite Laundry Services. De seguida, levou-o até à beira da água e arremessou-o. Depois descascou o outro lado. Eldrick nunca pensou que os sinais pudessem ser retirados. Entretanto, Momo ajoelhou-se em frente à carrinha com uma chave de fendas para remover a matrícula e substituí-la por outra. Logo a seguir, dirigiu-se às traseiras do veículo e repetiu a operação.

Ezatullah gesticulou na direção da carrinha. “Voilá!” Exclamou. “Um veículo completamente diferente. Apanha-me agora, Tio Sam.” O rosto de Ezatullah emanava um brilho púrpura suado. Parecia estar a ficar com pieira. Os olhos estavam injetados de sangue.

Eldrick olhou em redor. O estado físico de Ezatullah tinha-lhe dado uma ideia. A ideia surgira repentina como um relâmpago e desaparecera tão subitamente como surgira. No fundo, era a forma mais segura de se pensar. Algumas pessoas pareciam ter a capacidade de ler os pensamentos através do olhar.

“Onde estamos?” Perguntou.

“Em Baltimore,” Respondeu Ezatullah. “Outra das tuas grandes cidades americanas. E um lugar agradável para se viver, imagino. Baixo índice de criminalidade, belezas naturais e cidadãos saudáveis e ricos, motivo da inveja de todos.”

Eldrick tinha delirado durante a noite. Tinha desmaiado mais do que uma vez. Tinha perdido a noção do tempo e de onde estavam, mas não podia imaginar que tinham andado tanto.

“Baltimore? Porque é que estamos aqui?”

Ezatullah encolheu os ombros. “Estamos a caminho do nosso destino.”

“O alvo está aqui?”

Agora Ezatullah sorria. Um sorriso não condizente com o seu rosto contaminado pela radiação. Parecia a própria morte. Aproximou-se com uma mão trémula e deu uma palmada amigável no ombro de Eldrick.

“Peço desculpa se me descontrolei contigo, meu irmão. Fizeste um bom trabalho. Entregaste tudo o que prometeste. Queira Alá que ainda hoje chegues ao paraíso. Mas não pela minha mão.”

Eldrick limitou-se a olhar fixamente para ele.

Ezatullah abanou a cabeça. “Não. Baltimore não. Vamos viajar para sul para perpetrarmos um ataque que alegrará as multidões que sofrem um pouco por todo o mundo. Vamos entrar no covil do Diabo em pessoa e cortar a cabeça da besta com as nossas próprias mãos.”

Eldrick sentiu um arrepio a percorrer-lhe o corpo. Os braços ficaram eriçados com pele de galinha. Reparou que a sua t-shirt estava alagada em suor. Não gostou do que ouviu. Se iam para sul e estavam em Baltimore, então a próxima cidade era…

“Washington,” Disse.

“Sim.”

Ezatullah sorriu novamente. Um sorriso glorioso, como o sorriso de um santo a quem será concedida a entrada nas portas do céu.

“Corte-se a cabeça e o corpo morre.”

Era claro para Eldrick. O homem estava louco. Talvez fosse da doença ou talvez fosse outra coisa qualquer, mas uma coisa era certa: ele não dizia coisa com coisa. O plano era roubar o material e abandonar a carrinha no South Bronx. Era um trabalho perigoso, difícil de executar e eles tinham conseguido. Mas quem quer que estivesse à frente da operação, tinha alterado o plano ou tinha-lhes mentido desde o início. Agora viajavam rumo a Washington numa carrinha radioativa.

Para fazer o quê?

Ezatullah era um jihadista experiente. Ele tinha que ter a noção de que almejava o impossível. Eldrick sabia que, fosse o que fossem fazer, nem sequer se aproximariam do objetivo. Imaginou a carrinha, cravejada com buracos de balas, a 300 metros da Casa Branca ou do Pentágono ou da vedação do Capitólio.

Isto não era uma missão suicida. Nem sequer era uma missão. Era uma afirmação política.

“Não te preocupes,” Tranquilizou-o Ezatullah. “Tens que estar feliz. Foste escolhido para a maior das honras. Vamos conseguir mesmo que não consigamos imaginar como. Tudo se vai tornar claro a seu tempo.” Virou-se e abriu a porta lateral da carrinha.

Eldrick relanceou Momo. Estava a terminar o trabalho de substituição da matrícula. Momo já não falava há algum tempo. Se calhar também não se sentia muito bem.

Eldrick recuou um passo para trás. Depois outro. Ezatullah estava ocupado com algo no interior da carrinha de costas voltadas para Eldrick. Podia não surgir outra oportunidade igual. Eldrick estava num vasto terreno aberto sem ninguém a olhar na sua direção.

Eldrick fora atleta de pista na secundária. E era bom. Lembrava-se das multidões dentro da 168th Street Armory em Manhattan, as classificações no placard, o sinal de partida a disparar. Lembrava-se da sensação de nó no estômago antes da corrida, da velocidade louca na pista nova, gazelas negras e magras a correr, a arrancar de cotovelos elevados, a correrem tão velozmente como num sonho.

Desde essa altura que Eldrick não voltara a correr tão rapidamente mas quem sabe, uma explosão de energia e um objetivo definido, não pudessem ajudar a alcançar a velocidade de outrora. Não valia a pena hesitar ou pensar muito no assunto.

Virou-se e foi-se embora.

Um segundo depois ouviu a voz de Momo:

“EZA!”

Depois qualquer coisa dita em Farsi.

O edíficio abandonado estava à sua frente. A doença regressava em força. Sentiu sangue a escorrer-lhe na t-shirt mas continuou a correr. Já estava sem fôlego.

Ouviu um barulho semelhante ao de um agrafador. Ecoou frouxamente contra as paredes do edíficio. Claro que Ezatullah estava a disparar. E a arma tinha um silenciador.

Uma picada aguda atingiu as costas de Eldrick. Caiu no chão, esfolando os braços no asfalto em ruínas. Um milésimo de segundo depois, novo tiro soou. Eldrick levantou-se e continuou a correr. A vedação estava mesmo à sua frente. Virou-se e dirigiu-se ao buraco.

Foi atingido por outra picada. Caiu para a frente e agarrou-se à vedação. Toda a força parecia agora esvair-se das pernas. Ficou ali pendurado, agarrado apenas aos elos do arame.

“Mexe-te,” Disse num tom esganiçado. “Mexe-te.”

Caiu de joelhos, forçou a vedação destruída e rastejou no buraco. Estava atolado em erva alta. Pôs-se de pé, tropeçou em algo que não conseguia ver e rebolou para um aterro. Nem tentou parar de rebolar. Deixou simplesmente que o ímpeto o conduzisse até ao fundo.

Por fim, parou, respirando com intensidade. A dor nas costas era insuportável. O rosto estava enterrado na lama. O lugar era húmido, lamacento e estava mesmo na margem do rio. Se quisesse podia deixar-se cair nas águas negras mas preferiu rastejar mais profundamente no matagal. O sol ainda não tinha nascido. Se ali ficasse, se não se mexesse e são emitisse um som, podia ser que conseguisse…

Levou uma mão ao peito. Os dedos ficaram cobertos de sangue.


*

Ezatullah estava junto ao buraco da vedação. O mundo girava em seu redor. Ficara atordoado só de correr atrás de Eldrick.

A sua mão segurou num elo da vedação ajudando-o a manter-se de pé. Pensou que ia vomitar. Estava escuro naqueles arbustos. Podiam perder uma hora só a procurá-lo ali. Se conseguisse chegar ao grande edifício abandonado, podiam nunca o encontrar.

Moahmmar estava perto, curvado com as mãos nos joelhos e a respirar com dificuldade. O corpo tremia-lhe. “Devemos entrar?” Perguntou.

Ezatullah abanou a cabeça. “Não temos tempo. Atingi-o duas vezes. Se a doença não acabar com ele, as balas acabam. Deixa-o morrer aqui sozinho. Talvez Alá tenha piedade da sua cobardia. Espero que sim. De qualquer das formas, temos que continuar sem ele.”

Virou-se e começou a regressar à carrinha que parecia estar estacionada a uma grande distância. Estava cansado e doente, mas continuou a caminhar. A cada passo estava mais próximo dos portões do Paraíso.




CAPÍTULO 9




6:05

Centro de Comando Conjunto de Contra Terrorismo – Midtown Manhattan


“Luke, a melhor coisa a fazer é reunir o pessoal e voltar a Washington,” Disse o homem do fato.

Luke estava no meio do caos da sala principal do centro de comando. Já era dia e uma luz fraca entrava vinda das janelas, dois andares acima do andar onde trabalhavam. O tempo não dava tréguas e o centro de comando era uma confusão pegada.

Duzentas pessoas ocupavam aquele espaço. Havia pelo menos quarenta postos de trabalho, alguns dos quais com duas ou três pessoas sentadas em cinco ecrãs de computador. No placard principal, podiam ver-se vinte diferentes ecrãs de televisão e computador. Os ecrãs mostravam mapas digitais de Manhattan, o Bronx, Brooklyn, imagens de vídeo ao vivo de entradas nos túneis Holland e Lincoln, fotos de terroristas árabes que se sabia estarem no país.

Três dos ecrãs mostravam naquele momento o Presidente da Câmara DeAngelo ao microfone pedindo ao corajoso povo de Nova Iorque para ficar em casa e abraçar os filhos. Lia notas previamente elaboradas.

“No pior dos cenários,” Anunciou o Presidente, a voz a elevar-se dos altifalantes colocados em torno da sala, “a explosão inicial mataria muitas pessoas e criaria o pânico na área abrangida. A exposição à radiação espalharia o terror na região e provavelmente no país. Muitas das pessoas expostas no ataque inicial ficariam doentes e algumas morreriam. Os custos de limpeza seriam tremendos mas seriam menores do que os custos psicológicos e económicos. Um ataque de bomba suja numa grande estação de comboios de Nova Iorque afetaria o transporte na costa Leste no futuro próximo.”

“Agradável,” Disse Luke. “Gostava de saber quem lhe escreve os discursos.”

Olhou para a sala. Todos estavam ali representados, todos em busca da melhor posição. Era sopa de letras. DPNI, FBI, NSA, ATF, DEP e até a CIA. Que raio, até a DEA ali estava. Luke não compreendia em que medida o roubo de resíduos radioativos constituía um crime de estupefacientes.

Ed Newsam tinha ido à procura do pessoal da SRT no meio da multidão.

“Luke, ouviste-me?”

Luke regressou ao que interessava. Estava com Ron Begley da Segurança Interna. Ron era um homem careca com cinquenta e muitos anos. Tinha uma barriga protuberante e pequenos dedos rechonchudos. Luke conhecia a sua história. Um homem que tinha trepado na hierarquia através da burocracia governamental. No 11 de Setembro, estava no Tesouro a liderar uma equipa que analisava questões de evasão fiscal e operações fraudulentas. Foi deslocado para o contraterrorismo quando a Segurança Interna foi criada. Nunca tinha feito uma detenção ou disparado uma arma em toda a sua vida.

“Disseste que eu devia ir para casa.”

“Estás a incomodar algumas pessoas por aqui, Luke. O Kurt Myerson ligou ao chefe do DPNI e disse-lhe que estavas no hospital a tratar as pessoas como se fossem teus criados. E que requisitaste uma equipa SWAT. A sério? Uma equipa SWAT? Ouve, isto é território deles. Devias seguir as suas indicações, é assim que se joga o jogo.”

“Ron, o DPNI chamou-nos. Presumo que o fizeram porque precisavam de nós. As pessoas sabem como trabalhamos.”

“Cowboys,” Disse Begley. “Vocês trabalham como cowboys de rodeo.”

“O Don Morris tirou-me da cama para vir para cá. Podes falar com o Don…”

Beggley encolheu os ombros. Uma espécie de sorriso estampou-se-lhe na cara. “O Don foi chamado de volta. Apanhou um helicóptero há vinte minutos. Sugiro que faças o mesmo.”

“O quê?”

“Isso mesmo. Desta vez foi chamado lá acima. Convocaram-no para um briefing no Pentágono. Qualquer coisa mesmo importante. Se calhar não tinham um estagiário para o fazer, então chamaram o Don.”

Begley baixou o tom de voz, apesar de Luke o ouvir claramente. “Um conselho. Faltam ao Don o quê, cerca de três anos antes de se reformar? O Don faz parte de uma espécie em vias de extinção. É um dinossauro e a SRT também. Eu sei-o e tu também. Todas estas pequenas agências dentro da mesma agência surgem à margem. Estamos a consolidar e a centralizar, Luke. Aquilo de que precisamos agora é de análise focada nos dados. É assim que vamos deslindar crimes no futuro. E é assim que vamos apanhar estes terroristas hoje. Já não precisamos de super espiões machões e antigos comandos envelhecidos a fazer acrobacias em fachadas de edifícios. Simplesmente não precisamos. Acabou-se a brincadeira de heróis. Se pensarmos bem nisso, até é um pouco ridículo.”

“Ótimo,” Disse Luke. “Vou ter isso em consideração.”

“Pensava que estavas a ensinar na faculdade,” Continuou Begley. “História, ciência política, esse tipo de coisas.”

Luke assentiu. “Estou.”

Begley pousou uma mão roliça no braço de Luke. “Devias continuar por lá.”

Luke sacudiu a mão e mergulhou na multidão à procura do seu pessoal.


*

“O que temos?” Perguntou Luke.

A sua equipa tinha acampado num compartimento mais afastado. Pegaram em algumas secretárias e construíram a sua própria pequena estação de comando com portáteis e emissores satélite. Trudy e Ed Newsam estavam lá juntamente com mais alguns elementos. Swann estava sozinho a um canto com três portáteis.

“Chamaram o Don,” Informou Trudy.

“Eu sei. Falaste com ele?”

Ela anuiu. “Há vinte minutos. Estava prestes a decolar. Disse para continuarmos a trabalhar no caso até ele pessoalmente o dar por concluído. Devemos educadamente ignorar os outros.”

“Parece-me bem. Então, em que ponto estamos?”

O rosto de Trudy estava sério. “Estamos no bom caminho. Agora já só temos seis veículos prioritários. Todos passaram a um quarteirão do hospital a noite passada e têm pormenores estranhos ou que não batem certo.”

“Dá-me um exemplo.”

“Ok. Um deles é um camião de venda de comida registado em nome de um antigo paraquedista russo. Conseguimos segui-lo através das câmaras de vigilância e tanto quanto podemos saber, andou a circular por Manhattan toda a noite, a vender cachorros quentes e Pepsi a prostitutas, proxenetas e outros.”

“Onde está agora?”

“Está estacionado na 11ª Avenida a sul do Centro de Convenções Jacob Javits. Não circula há algum tempo. Pensamos que pode ter adormecido.”

“Ok, parece que acabou de descer no nível de prioridades. Por via das dúvidas, entreguem-no ao DPNI. Podem tratar dele e descobrir que mais está a vender. Próximo.”

Trudy percorreu a sua lista. Um monovolume funcionava como veículo Uber conduzido por um antigo físico nuclear caído em desgraça. Um reboque de quarenta toneladas com um seguro de acidente destruído e eliminado num acidente. Uma carrinha de entregas pertencente ao serviço comercial de uma lavandaria com matrícula registada em nome de uma empresa de pavimentos de Long Island. Uma ambulância dada como roubada há três anos.

“Uma ambulância roubada?” Perguntou Luke. “Isso parece ser qualquer coisa.”

Trudy encolheu os ombros. “Geralmente este tipo de roubo está relacionado com o negócio de órgãos ilegais. Recolhem de doentes recentemente falecidos poucos minutos depois do óbito. Têm que fazer a colheita de órgãos, acondicioná-los e retirá-los do hospital rapidamente. Ninguém olha com estranheza para uma ambulância em espera no parque de estacionamento de um hospital.”

“Talvez esta noite não estivessem à espera de órgãos. Sabes onde estão?”

Trudy abanou a cabeça. “Não. A única localização confirmada é a do russo. Isto é mais uma arte do que uma ciência. As câmaras de vigilância ainda não estão em todo o lado, sobretudo fora de Manhattan. Vê-se um camião a passar em frente a uma câmara e depois podes não voltar a vê-lo. Ou podes apanhá-lo numa outra câmara a dez quarteirões de distância ou a dez quilómetros. O reboque atravessou a Ponte George Washington para New Jersey antes de o perdermos de vista. A carrinha da lavandaria foi até à Ponte da 138th Street para o South Bronx e desapareceu. Neste momento, estamos a tentar localizá-los recorrendo a outros meios. Entrámos em contato com a empresa de camionagem, a Uber, a empresa de pavimentos e o serviço de lavandaria. Devemos ser informados em breve. E tenho oito pessoas no quartel-general a passar a pente fino horas e horas de feeds de vídeo à procura da ambulância.”

“Ótimo. Mantém-me informado. E as questões bancárias?”

O rosto de Trudy parecia de pedra. “Devias perguntar isso ao Swann.”

“Luke?”

Parou. “Sim.”

Os olhos de Trudy percorreram toda a sala. “Podemos falar? Em privado?”


*

“Vais despedir-me porque não infrinjo a lei por ti?”

“Trudy, não te vou despedir. O que é que te passou pela cabeça?”

“Foi o que disseste, Luke.”

Estavam a conversar numa pequena despensa. Havia ali duas secretárias vazias e uma pequena janela. Os tapetes eram novos. As paredes eram brancas e estavam nuas. Uma pequena câmara de vídeo estava montada num dos cantos, junto ao teto.

Parecia que o compartimento nunca tinha sido usado. O próprio centro de comando só estava em funcionamento há menos de um ano.

Os enormes olhos de Trudy fixaram-no intensamente.

Luke suspirou. “Estava a dar-te uma desculpa. Pensava que tinhas percebido isso. Se surgisse algum problema, podias culpar-me a mim. Terias apenas feito o que eu te tinha pedido. Tinhas medo de perder o emprego se não cumprisses as minhas ordens.”

Trudy aproximou-se dele. No reduzido espaço da despensa, Luke conseguia sentir o odor do seu champô e perfume que usava com frequência. A combinação de odores exercia um estranho efeito nos seus joelhos. Sentiu-os tremer.

“Nem me podes dar uma ordem direta, Luke. Já não trabalhas na SRT.”

“Estou de licença.”

Aproximou-se ainda mais dele. Os olhos estavam centrados nele como dois hipnotizantes lasers. Havia inteligência e calor naqueles olhos.

“E foste-te embora… porquê? Por minha causa?”

Ele abanou a cabeça. “Não. Tinha as minhas razões e tu não eras uma delas.”

“Os irmãos Marshall?”

Encolheu os ombros. “Quando matas dois homens numa noite, poderá ser altura de fazer uma pausa. Talvez de reavaliar o que andas a fazer.”

“Estás-me a dizer que nunca sentiste nada por mim?” Insinuou Trudy.

Ele olhou-a, surpreendido com a pergunta. Sempre tinha tido a sensação de que Trudy o tentava seduzir mas nunca mordeu o isco. Alturas houve em que, bêbado em festas, depois de uma discussão feia com a mulher, tinha estado muito perto de pisar o risco. Mas pensar na mulher e no filho sempre o tinham impedido de fazer qualquer coisa de que mais tarde se arrependeria.

“Trudy, nós trabalhamos juntos,” Disse com firmeza. “E eu sou casado.”

Ela aproximou-se ainda mais.

“Eu não estou à procura de um casamento, Luke,” Afirmou, suavemente, debruçada a escassos centímetros de distância.

Agora já estava encostada a ele. Luke sentia o calor que emanava dela e aquele incontrolável desejo quando ela estava perto, a excitação, a energia… a luxúria. Trudy pousou as mãos no peito de Luke e mal as palmas lhe tocaram na camisa, ele soube que tinha que agir rapidamente ou ceder completamente.

Num supremo ato de autodisciplina, Luke recuou e afastou cuidadosamente as mãos de Trudy.

“Peço desculpa, Trudy,” Declarou com voz rouca. “Gosto de ti. Gosto mesmo. Mas isto não é uma boa ideia.”

Ela ia censurá-lo mas antes de conseguir dizer o que quer que fosse, um punho vigoroso bateu na porta de madeira.

“Luke? Estás aí?” Era a voz de Newsam. “Vem cá ver isto. O Swann encontrou uma coisa.”

Olharam um para o outro. Luke a sentir-se culpado apesar de não ter feito nada. Saiu dali antes de algo mais acontecer mas não conseguiu evitar pensar como é que aquela situação afetaria a sua relação de trabalho.

Pior que tudo, não podia deixar de admitir que, no fundo, não se queria ir embora daquela despensa.


*

Swann estava sentado numa mesa enorme com os seus três monitores de vídeo dispostos à sua frente. Swann parecia a Luke, com o seu cabelo escasso e óculos, um físico da NASA no controlo de uma missão. Luke ficou atrás dele com Newsam e Trudy, os três a pairarem sobre os ombros estreitos de Swann.

“Esta é a conta corrente de Ken Bryant,” Informou Swann, a mover o cursor no ecrã central. Luke assimilou os pormenores: depósitos, levantamentos, saldo total, um espaço temporal que ia de 28 de Abril a 27 de Maio.

“Esta ligação é segura?” Interrogou Luke. Olhou em redor da sala e para lá da porta. A sala principal do centro de comando ficava ao fundo do corredor.

“Isto?” Questionou Swann. Encolheu os ombros. “É independente do centro de comando. Estou ligado à nossa própria torre e satélites. Está encriptado pelos nossos. Talvez a CIA ou a NSA pudessem tentar entrar mas porquê? Fazemos todos parte da mesma equipa, certo? Não te preocupes com isso e concentra-te nesta conta bancária. Não reparaste em nada estranho?”

“O saldo ultrapassa os 24,000 dólares,” Constatou Luke.

“Pois,” Disse Swann. “Um porteiro com uma conta bancária razoavelmente recheada. Interessante. Agora recuemos um mês. 28 de Março a 27 de Abril. O saldo sobe aos 37,000 dólares. Há aqui transferências de uma conta anónima de 5,000 dólares, depois 4,000, depois, claro, nem vale a pena pensar no que teria que se reportar às finanças… dá-me 20,000 dólares.”

“Ok,” Disse Luke.

“Recuemos mais um mês. Final de Fevereiro a final de Março. O saldo inicial é de 1,129 dólares. No fim do mês, já é de 9,000 dólares. Recuando mais um mês, fim de Janeiro a fim de Fevereiro, vemos que o saldo nunca atingiu os 2,000 dólares. A partir dali, se recuarmos três anos, constatamos que o saldo raramente subiu para lá dos 1,500 dólares. Aqui temos um tipo que vivia um mês de cada vez e que, de um momento para o outro, começa a receber em Março chorudas transferências.”

“De onde vêm?”

Swann sorriu e levantou um dedo. “Agora a parte mais interessante. Vêm de um pequeno banco offshore especializado em contas bancárias anónimas. Chama-se Royal Heritage Bank e tem sede na Grande Caimão.”

“Consegues pirateá-los?” Perguntou Luke. Captou o olhar desaprovador de Trudy.

“Não tenho que o fazer,” Respondeu Swann. “O Royal Heritage é propriedade de um ativo da CIA chamado Grigor Svetlana, um ucraniano que integrou o Exército Vermelho. Teve problemas sérios com os russos há vinte anos atrás depois de armamento soviético ter desaparecido e aparecido mais tarde nos mercados negros da África Ocidental. E não me estou a referir a armas. Estou a falar de misseis antiaéreos, antitanque e misseis de cruzeiro de baixa altitude. Os russos estavam a postos para o eliminar. Sem ninguém para o amparar, virou-se para nós. Tenho um amigo na Langley e as contas do Royal Heritage Bank estão longe de ser anónimas. Na verdade são um livro aberto para as agências de informação americanas. É claro que isto não é algo de que a maioria dos clientes do Royal Heritage tenham conhecimento.”

“Então quer dizer que sabes de quem é a conta de onde partiram as transferências.”

“Sei.”

“Ok, Swann,” Disse Luke. “Compreendo. És muito espero. Agora diz-me onde queres chegar.”

Swann apontou na direção dos monitores. “A conta era do próprio Bryant. A conta que tenho no meu monitor esquerdo. Como podem ver, neste momento tem 209,000 dólares. Ele estava a transferir aos poucos desta conta para a sua conta corrente local, possivelmente para seu uso pessoal. E se recuarmos uns meses, podemos ver que a conta offshore de Bryant foi criada no dia 3 de Março através de uma transferência de 250,000 dólares de uma outra conta do Royal Heritage, a que tenho no meu monitor direito.”

Luke olhou para a conta à direita. Tinha mais quarenta e quatro milhões de dólares.

“Alguém conseguiu uma pechincha ao contratar o Bryant,” disse.

“Exatamente,” Concordou Swann.

“Quem?”

“Este homem.” No monitor surgiu a foto de um cartão de identificação. Um homem de meia-idade com o cabelo negro a começar a embranquecer. “Este é Ali Nassar, cinquenta e sete anos, cidadão iraniano. Nasceu em Teerão numa família influente e rica. Estudou na London School of Economics e depois na Harvard Law School. Regressou a casa e formou-se novamente, desta feita na Universidade de Teerão. Desta forma, está apto para exercer tanto nos Estados Unidos como no Irão. Ao longo de grande parte da carreira esteve envolvido em negociações de comércio internacional. Vive aqui em Nova Iorque e é atualmente um diplomata iraniano nas Nações Unidas. Tem total imunidade diplomática.”

Luke coçou o queixo e sentiu a barba a começar a crescer. Estava a ficar cansado. “Deixa-me ver se entendi. Nassar presumivelmente pagou a Ken Bryant para aceder ao hospital e obter informações sobre medidas de segurança e como as evitar.”

“Presumivelmente, sim.”

“Então, o mais provável é que esteja a liderar uma célula terrorista aqui em Nova Iorque, seja cúmplice no roubo de resíduos perigosos e de pelo menos quatro homicídios, e não pode ser acusado sob a lei americana?”

“Parece ser esse o caso.”

“Ok. Já estás na conta, não é? Vamos ver para onde tem enviado dinheiro.”

“Vai demorar um pouco.”

“Tudo bem. Entretanto, tenho que fazer um recado.”

Luke olhou para o rosto duro de Ed Newsam.

“Ei, Ed? Não queres vir comigo? Talvez valha a pena fazer uma visita ao senhor Ali Nassar.”

Newsam sorriu.

“Parece divertido.”




CAPÍTULO 10




06:20

Centro de Wellness do Congresso – Washington, D.C.


Não era fácil de encontrar.

Jeremy Spencer estava de pé à frente de um conjunto de portas de aço encerradas numa sub-cave do Rayburn House Office Building. As portas estavam ocultas num dos cantos do parque de estacionamento subterrâneo. Poucas pessoas tinham conhecimento de que este lugar existia. E menos ainda onde ficava. Sentia-se ridículo mas mesmo assim bateu à porta.

Alguém indicou-lhe que entrasse. Puxou a porta, invadido por aquela velha sensação familiar de incerteza no estômago. Sabia que o Ginásio do Congresso estava fora do alcance de todos, exceto dos membros do Congresso dos Estados Unidos. E contudo, apesar da quebra no protocolo, tinha sido convidado a entrar.

Hoje era o dia mais importante da sua ainda jovem vida. Estava em Washington há três anos e ia subindo aos poucos.

Há sete anos, era um saloio proveniente de um parque de autocaravanas de Nova Iorque. Depois, com uma bolsa de estudo, frequentou a State University of New York em Binghamton. Em vez de relaxar e desfrutar da boleia, tornou-se presidente dos Republicanos do campus da universidade e comentador no jornal escolar. Em pouco tempo já escrevia para a Breitbart e para a Drudge. Agora, era jornalista da Newsmax com a responsabilidade de cobrir tudo o que estivesse relacionado com o Capitólio.

O ginásio não era sofisticado. Havia algumas passadeiras, alguns espelhos e alguns pesos numa prateleira. Um homem já com alguma idade, vestido com umas calças suadas e uma t-shirt, com headphones, caminhava numa passadeira. Jeremy entrou no vestiário silencioso. Dobrou uma esquina e à sua frente encontrou o homem com quem se vinha encontrar.

O homem era alto, cinquenta e poucos anos, cabelo grisalho. Estava de pé em frente de um cacifo aberto, por isso Jeremy viu-o de perfil. As costas eram direitas e o grande maxilar sobressaía. Usava uma t-shirt e calções, ambos ensopados do treino. Os ombros, braços, peito e pernas eram musculados e bem definidos. Tinha o aspeto de um líder de homens.

O homem era William Ryan, Representante por nove vezes da Carolina do Norte e Presidente da Câmara dos Representantes. Jeremy sabia tudo a seu respeito. Vinha de uma família com uma fortuna antiga. Tinham sido proprietários de plantações de tabaco desde antes da Revolução. O seu trisavô fora Senador dos Estados Unidos no período da Reconstrução. Tinha sido o melhor da turma na Citadel. Era encantador, delicado e exercia o poder com um sentido de confiança e pertença tão absolutos que poucos dentro do partido consideravam sequer opôr-se a ele.

“Sr. Presidente?”

Ryan virou-se, viu Jeremy e sorriu-lhe. Envergava uma t-shirt azul escura com letras vermelhas e brancas que compunham duas palavras: PROUD AMERICAN. Estendeu a mão para cumprimentar Jeremy. “Desculpe,” Disse. “Ainda estou um pouco suado.”

“Não há problema, Sr. Presidente.”

“Ok,” Disse Ryan. “Acabemos com os senhores. Em privado pode chamar-me Bill. Se for difícil, trate-me pelo título. Mas quero que saiba uma coisa. Chamei-o e vou dar-lhe um exclusivo. Ao final da tarde, devo dar uma conferência de imprensa com todos os órgãos de comunicação social. Ainda não tenho a certeza. Mas até lá, durante todo o dia, o que eu penso sobre esta crise estará somente ao seu alcance. O que lhe parece?”

“Parece-me fantástico,” Confessou Jeremy. “É uma honra. Mas porquê eu?”

Ryan baixou o tom de voz. “É um bom rapaz. Já o acompanho há algum tempo e quero dar-lhe um conselho off the record. A partir de hoje, já não é um cão de ataque. É um jornalista experiente. Quero que publique o que vou dizer palavra por palavra, mas a partir de amanhã quero que seja ligeiramente mais… subtil, digamos. A Newsmax é ótima mas daqui a um ano vou vê-lo no Washington Post. É onde precisamos de si. Mas antes as pessoas têm que acreditar que amadureceu e se transformaste num justo e equilibrado jornalista de primeira linha. Se é verdade ou não, pouco importa. Tudo tem a ver com perceções. Compreende o que lhe estou a dizer?”

“Penso que sim,” Respondeu Jeremy. O sangue fluía-lhe furiosamente nas veias. Aquelas palavras, ao mesmo tempo que o entusiasmavam, também o assustavam.

“Todos precisamos de amigos nos lugares certos,” Rematou o Presidente. “Incluindo eu. Agora podemos começar.”

Jeremy segurou no telefone. “O gravador está ligado… agora. Sr. Presidente, tem conhecimento do roubo de material radioativo que ocorreu de madrugada em Nova Iorque?

“Sim, tenho conhecimento,” Declarou Ryan. “Como todos os americanos, estou profundamente preocupado. Os meus assessores acordaram-me às quatro da manhã com a notícia. Estamos em contato permanente com as agências de informação e estamos a monitorizar a situação de forma muito próxima. Como sabe, tenho trabalhado no sentido de que seja aprovada no Congresso uma declaração de guerra contra o Irão que o Presidente e o seu partido têm bloqueado constantemente. Estamos perante uma situação de ocupação do Irão a um nosso aliado, a nação soberana do Iraque, e o nosso próprio pessoal tem que passar por postos de controlo iranianos para entrar e sair da embaixada lá. Não me lembro de uma série de acontecimentos tão humilhantes desde a crise dos reféns iraniana em 1979.”

“Pensa que este roubo foi levado a cabo pelo Irão, Sr. Presidente?”

“Antes de mais nada, vamos chamar as coisas pelos nomes. Quer uma bomba rebente no metro ou não, estamos a falar de um ataque terrorista em solo americano. Pelo menos dois seguranças foram mortos e a grande cidade de Nova Iorque está em estado de terror. Em segundo lugar, não temos ainda informação suficiente para identificarmos os terroristas. Mas sabemos que certas fraquezas encorajam este tipo de ataques. Temos que mostrar a nossa verdadeira força e temos que nos unir enquanto país, à direita e à esquerda, para nos defendermos. Convido o Presidente a juntar-se a nós.”

“Como pensa que o Presidente devia agir?”

“No mínimo, tem que declarar o estado de emergência em todo o país. Deverá emitir poderes especiais temporários aos agentes da lei até sabermos quem é esta gente. Estes poderes devem incluir vigilância sem necessidade de mandato, assim como buscas em todas as estações de comboios, terminais rodoviários, aeroportos, escolas, praças públicas, centros comerciais e outros pontos de atividade. Também deverá agir com rapidez para salvaguardar outras reservas de material radioativo existentes nos Estados Unidos.”

Jeremy fixou os olhos ardentes de Ryan. O fogo que deles emanava era quase suficiente para o obrigar a desviar o olhar.

“E o mais importante de tudo: se os terroristas forem provenientes do Irão ou apoiados pelo Irão, então deverá declarar guerra a esse país ou retirar-se e deixar-nos fazê-lo por ele. Se se confirmar que se trata de um ataque iraniano, e perante essa informação o Presidente persistir em bloquear os nossos esforços para proteger o nosso país e os nossos aliados do Médio Oriente… então, que me resta fazer? Eu próprio darei início ao processo de destituição.”




CAPÍTULO 11




06:43

75th Street perto de Park Avenue – Manhattan


Luke estava sentado no banco traseiro de uma SUV da agência na companhia de Ed Newsam. Encontravam-se no lado contrário da rua tranquila e bordejada de árvores de onde se erguia um edifício moderno com portas de vidro duplas e um porteiro com luvas brancas à entrada. Observaram o porteiro a segurar a porta a uma mulher loura e magra vestida com um fato branco que saía para passear o cão. Ele odiava edifícios como este.

“Bem, pelo menos há uma pessoa nesta cidade que não parece minimamente preocupada com um ataque terrorista,” Sentenciou Luke.

Ed recostou-se novamente no banco. Parecia meio adormecido. Com as suas calças bege cargo, a t-shirt branca combinada com as suas feições regulares, a sua cabeça lustrada e a barba cortada rente, Ed não parecia um agente federal. E certamente não se parecia com alguém a quem fosse permitida a entrada no edifício.

Ao pensar em Ali Nassar, Luke sentiu-se incomodado pela circunstância de ter imunidade diplomática. Esperava que Nassar não fizesse disso um cavalo de batalha. Luke não tinha paciência para negociações.

O telefone de Luke tocou. Olhou para ele e carregou no botão para atender.

“Trudy,” Disse. “Em que te posso ajudar?”

“Luke, acabámos de receber uma informação,” Informou. “O corpo que tu e o Don encontraram no hospital.”

“Diz-me.”

“Ibrahim Abdulraman, trinta e um anos, cidadão líbio nascido em Trípoli no seio de uma família pobre. Pouca ou nenhuma educação formal. Alistou-se no exército aos dezoito anos. Em pouco tempo foi transferido para a prisão de Abu Salim onde trabalhou durante vários anos. Esteve implicado em violações dos direitos humanos na prisão, violações essas que incluíam tortura e assassínio de opositores políticos. Em Março de 2011, quando o regime começou a entrar em declínio, fugiu do país. Anteviu o que iria acontecer. Um ano mais tarde, está em Londres a trabalhar como guarda-costas de um jovem príncipe saudita.”

Os ombros de Luke descaíram. “Hmm. Um torturador líbio a trabalhar para um príncipe saudita? Que acaba morto enquanto rouba material radioativo em Nova Iorque? Quem era este tipo?”

“Não tinha histórico de ligações extremistas e não parece ter tido fortes ligações políticas. Nunca foi um soldado de elite e não foi sujeito a qualquer treino mais avançado. Parece-me que era um oportunista, músculo contratado. Desapareceu de Londres há dez meses.”

“Ok, dá-me o nome outra vez.”

“Ibrahim Abdulraman. E, Luke? Precisas de saber outra coisa.”

“Diz-me.”

“Eu não descobri esta informação. Está no grande placard da sala principal. Este Myerson do DPNI não me forneceu as identificações quando as conseguiram e acabaram fazendo a sua própria pesquisa. Forneceram a informação a toda a gente sem sequer nos informarem. Estão a encostar-nos a um canto.”

Luke olhou para Ed e revirou os olhos. A última coisa que queria era envolver-se num concurso entre agências para determinar quem tinha o jato de mijo com mais alcance. “Está bem, então…”

“Ouve, Luke. Estou preocupada contigo. Estás a ficar sem amigos por aqui e duvido que um incidente internacional vá ajudar. Porque é que não lhes passamos os dados da transferência bancária e os deixamos resolver o assunto? Podemos pedir desculpa, dizer que fomos excessivamente zelosos. Se te encontrares com esse diplomata, vais estar a brincar com o fogo.”

“Trudy, já não há maneira de recuar.”

“Luke–“

“Trudy, agora vou desligar.”

“Estou a tentar ajudar-te,” Disse.

Depois de desligar, olhou para Ed.

“Estás pronto?”

Ed mal se movia. Apontou na direção do edifício.

“Eu nasci para isto.”


*

“Posso ajudá-los, cavalheiros?” Abordou-os o porteiro à entrada do edifício.

Pendurado no teto do átrio principal, oscilava um lustre cintilante. À direita, repousava um sofá e um par de cadeiras de design. Um balcão comprido espraiava-se ao longo da parede da esquerda com um outro porteiro atrás dele. Tinha um telefone, um computador e uma série de monitores de vídeo. Também tinha um pequeno aparelho de TV a emitir notícias.

O homem aparentava ter quarenta e cinco anos. Tinha os olhos vermelhos. O cabelo estava puxado para trás. Parecia ter acabado de sair do banho. Luke imaginou que já trabalhava aqui há tanto tempo que podia beber a noite toda e fazer o trabalho enquanto dormia. Provavelmente conhecia de vista todas as pessoas que já tinham entrado e saído deste edifício. E sabia que Luke e Ed não estavam entre essas pessoas.

“Ali Nassar,” Atirou Luke.

O homem pegou no telefone. “Sr. Nassar. Penthouse suite. Quem devo anunciar?”

Sem dizer uma palavra, Ed deslizou até ao balcão e pressionou a pega do recetor, afetando assim a ligação. Ed era grande e forte como um leão mas quando se movia, era ágil e delicado como uma gazela.

“Não queremos ser anunciados,” Disse Luke. Mostrou o distintivo ao porteiro e Ed fez o mesmo. “Agentes federais. Precisamos de fazer algumas perguntas ao Sr. Nassar.”

“Temo que tal não seja possível de momento. O Sr. Nassar não recebe ninguém antes das 08:00.”

“Então porque agarrou no telefone?” Perguntou Newsam.

Luke olhou para Ed. Era uma pergunta genial. Ed não parecia ser do tipo dialogante, mas saírasse bem.

“Tem visto as notícias?” Perguntou Luke. “Tenho a certeza de que já ouviu a notícia dos resíduos radioativos roubados? Temos razões parar crer que o Sr. Nassar está envolvido nessa situação.”

O homem olhou em frente. Luke sorriu. Tinha acabado de envenenar o poço de Nassar. Este porteiro era uma plataforma de comunicação. Amanhã, todas as pessoas do edifício iriam saber que o governo tinha vindo interrogar Nassar por causa das suas atividades terroristas.

“Lamento, Sr.” Desculpou-se o homem.

“Não precisa de se desculpar,” Disse Luke. “Basta dar-nos acesso ao andar da penthouse. Se não o fizer, vou prendê-lo por obstrução à justiça e levo-o daqui algemado. Tenho a certeza de que não quer que isso aconteça. Por isso, dê-nos a chave ou código ou o que quer que seja, e depois continue na sua vida. E se tentar alguma coisa com o elevador quando estivermos lá dentro, não só o prendo por obstrução como o prendo como cúmplice de quatro homícidios e roubo de resíduos perigosos. O juiz vai afixar caução em dez milhões de dólares e vai apodrecer em Rikers Island à espera de julgamento nos próximos doze meses. Parece-lhe um cenário agradável…” Luke relanceou a identificação do homem.

“John?”


*

“Ias mesmo prendê-lo?” Perguntou Ed.

Envidraçado, o elevador movia-se no interior de um tubo de vidro redondo na ala sul do edifício. À medida que subiam, a vista da cidade tornava-se avassaladora até resvalar para a vertigem. Agora a paisagem ampliara-se com o Empire State Building mesmo à sua frente e o edifício das Nações Unidas à esquerda. À distância podia ver-se os aviões a tremeluzir sob o sol da manhã ao efetuarem a sua abordagem ao Aeroporto de LaGuardia.

Luke sorriu. “Prendê-lo porquê?”

Ed deu uma risadinha. O elevador continuava a subir.

“Estou cansado. Quando o Don me ligou, estava a ir para a cama.”

“Eu sei,” Disse Luke. “Eu também.”

Ed abanou a cabeça. “Já não entrava nestas cenas urgentes há algum tempo. E não tenho saudades.”

O elevador chegou ao último andar. Um tom quente soou e as portas abriram-se.

Entraram num átrio largo com chão em pedra polida. Mesmo à sua frente, a dez metros de distância, perfilavam-se dois homens. Eram homens grandes, de fato, cor da pele escura, talvez persas, talvez de outra proveniência. Obstruíam um conjunto de portas duplas. Mas Luke não estava preocupado.

“Parece que o porteiro os avisou da nossa presença.”

Um dos homens acenou com a mão. “Não! Voltem para trás. Não podem estar aqui.”

“Agentes federais,” Anunciou Luke e caminharam na direção dos homens.

“Não! Não têm jurisdição. Não permitimos a vossa entrada.”

“Acho que não vale a pena mostrar-lhes o distintivo,” Concluiu Luke.

“Pois,” Concordou Ed. “Não vale mesmo a pena.”

“Quando eu der sinal, ok?”

“Ok.”

Luke esperou um segundo.

“Vai.”

Estavam a uma curta distância dos homens. Luke aproximou-se de um deles e deu-lhe um soco. Ficou surpreendido com a lentidão do seu punho. O homem era ligeiramente mais alto que Luke e tinha a envergadura de um pássaro grande. Obstruiu o soco facilmente e agarrou no pulso de Luke. Era forte. Puxou Luke para si.

Luke levantou um joelho à altura da virilha mas mais uma vez o homem bloqueou-lhe o movimento. O homem lançou uma mão grande à garganta de Luke. Dedos cerrados como as garras de uma águia a abrir caminho por entre a carne vulnerável.

Com a mão liberta, Luke atingiu-o nos olhos com os dedos indicador e médio, um em cada olho. Não era uma defesa convencional mas servira o seu propósito. O homem soltou Luke e recuou com os olhos a lacrimejar. Pestanejou e abanou a cabeça. Depois sorriu.

A luta ainda agora começara.

E de repente apareceu Newsam, qual fantasma. Pegou na cabeça do homem com ambas as mãos e bateu-a com força contra a parede. Parecia que Ed Newsam queria partir a parede usando a cabeça do homem.

Bang!

O rosto do homem estremeceu.

Bang!

O maxilar deslocou-se.

Bang!

Os olhos reviraram.

Luke levantou uma mão. “Ed! Ok. Acho que arrumaste com ele. Liberta-o devagar, este chão parece de mármore.”

Luke olhou para o outro segurança. Já estava esticado no chão, olhos fechados, boca aberta e cabeça encostada à parede. Ed tinha-os despachado em dois tempos. Luke não tinha feito nada.

Luke retirou um par de algemas de plástico do bolso e ajoelhou-se junto a um dos homens prendendo-o com força nos tornozelos como um vitelo. Alguém acabaria por aparecer e cortar aquilo. E quando o fizessem, o tipo não sentiria os pés durante uma hora.

Ed fez o mesmo ao outro homem.

“Estás um bocado enferrujado, Luke,” Atirou Ed.

“Eu? Não. Eu nem devia lutar, só fui chamado por causa da minha inteligência.” Ainda sentia o ponto da garganta onde o homem tinha apertado. Amanhã ia estar dorido.

Ed abanou a cabeça. “Eu estive na Força Delta como tu. Estive lá dois anos depois da operação Stanley Combat Outpost no Nuristão. As pessoas ainda falam disso. Como vos deixaram lá e como de manhã só três homens ainda lutavam. Eras um deles, não eras?”

Luke pigarreou. “Não tenho conhecimento da existência de…”

“Não me lixes,” Ripostou Ed. “Secreta ou não, eu conheço a história.”

Luke aprendera a viver a vida com pouca margem de manobra. Raramente falava sobre esse incidente. Tinha acontecido há uma eternidade num canto tão remoto do leste do Afeganistão que o simples facto de haver tropas no local deveria ter algum significado. Era passado. A mulher nem tinha conhecimento disso.

Mas o Ed era um Delta por isso… ok.

“Sim,” Disse Luke. “Eu estava lá. Informações incorretas levaram-nos até lá e acabou por ser a pior noite da minha vida.” Fez um gesto na direção dos dois homens no chão.

“Faz isto parecer um episódio de Happy Days. Perdemos nove bons homens. Ficámos sem munições pouco antes de amanhecer.” Luke abanou a cabeça. “A coisa ficou feia e quando amanheceu a maior parte dos nossos já estavam mortos. E os três que sobreviveram… não sei se realmente nos safámos. O Martinez está paralisado da cintura para baixo. A última vez que ouvi falar do Murphy era um sem-abrigo frequentemente internado na ala psiquiátrica da Veterans Affairs.”

“E tu?”

“Tenho pesadelos até hoje.”

Ed apertava os pulsos de um dos seguranças. “Conheci um tipo que esteve lá nas operações de limpeza depois da área estar segura. Disse que contaram 167 corpos naquela colina, sem incluir os nossos. Ocorreram 21 mortes de inimigos em combates corpo a corpo naquele perímetro.”

Luke olhou para Ed. “Porque é que me estás a dizer isto?”

Ed encolheu os ombros. “Estás um pouco enferrujado e não há qualquer problema em admiti-lo. E até podes ser inteligente. E pequeno. Mas também és músculo como eu.”

Luke desatou a rir às gargalhadas. “Ok. Estou enferrujado. Mas quem é pequeno aqui?” Riu, olhando para o enorme corpo de Ed.

Ed também riu. Revistou os bolsos do homem no chão e em pouco tempo encontrou o que procurava. Um cartão para a fechadura digital situada na parede ao lado das portas duplas.

“Entramos?”

“Primeiro tu,” Disse Ed.




CAPÍTULO 12


“Não podem estar aqui!” Gritou o homem. “Fora! Fora da minha casa!”

Encontravam-se numa sala de estar ampla. No canto mais distante estava um baby grand piano branco e as janelas do chão ao teto proporcionavam uma vista panorâmica excecional. A luz da manhã banhava a sala. Próximo estava um sofá branco com linhas modernas e uma mesinha com cadeirões, agrupados em torno de uma televisão de ecrã plano gigante situada na parede. Na parede oposta estava um quadro de grandes proporções com umas manchas loucas e pingos de cor clara. Luke tinha alguns conhecimentos de arte e pareceu-lhe estar perante um Jackson Pollock.

“Pois, acabámos de discutir isso mesmo com os tipos à entrada,” Ironizou Luke. “Não podemos estar aqui e no entanto… aqui estamos nós.”

O homem não era alto. Era compacto e atarracado, e envergava um roupão branco de pelúcia. Segurava nas mãos uma espingarda apontada para eles. Pareceu a Luke uma velha Browning de safari, talvez carregada com cartuchos de uma Winchester .270. Aquela arma abateria um alce a quatrocentos metros de distância.

Luke dirigiu-se para o lado direito da sala e Ed para a esquerda. O homem oscilou a espingarda para trás e para a frente, sem saber a quem apontar.

“Ali Nassar?”

“Quem quer saber?”

“Chamo-me Luke Stone e este é Ed Newsam. Somos agentes federais.”

Luke e Ed acercaram-se do homem.

“Sou um diplomata nas Nações Unidas. Não têm jurisdição aqui.”

“Só queremos fazer-lhe algumas perguntas.”

“Chamei a polícia. Devem estar a chegar dentro de alguns minutos.”

“Nesse caso, porque é que não baixa a arma? Ouça, é uma arma antiga com um ferrolho. Se a disparar uma vez, não terá tempo para a carregar uma segunda.”

“Então mato-o a si e deixo o outro vivo.”

Apontou a arma a Luke que continuou a mover-se colado à parede. Pôs as mãos no ar para mostrar que não era uma ameaça. Já tinha tido tantas armas apontadas que já lhes perdera a conta. Ainda assim, não era uma situação confortável. Ali Nassar não tinha o perfil de um atirador mas se conseguisse disparar, os estragos seriam irreversíveis.

“Se fosse a si, matava aquele homem grande porque se me matar a mim, não sei o que ele será capaz de fazer. Ele gosta demasiado de mim.”

Nassar não hesitou sequer. “Não. Vou matá-lo a si.”

Ed já estava a pouca distância atrás do homem. Percorreu a distância num milésimo de segundo e levantou o cano da arma para cima no exato momento em que Nassar disparou.

BOOM!

Um barulho ensurdecedor invadiu o apartamento. O tiro fez um buraco no estuque branco do teto.

Com um único movimento, Ed arrancou a arma, deu um soco no maxilar de Nassar e encaminhou-o para um dos cadeirões.

“Ok, sente-se e ouça com atenção se faz favor.”

Nassar ficou abalado com o soco. Demorou algum tempo a recuperar. Levou uma mão redonda ao vergão vermelho que já se formava no maxilar.

Ed mostrou a espingarda a Luke. “Olha só para isto,” estava ornada com madre pérola e cano polido. Há poucos minutos, deveria ter estado pendurada na parede.

Luke concentrou-se no homem sentado no cadeirão. Começou do início outra vez.

“Ali Nassar?”

O homem não falava. Estava zangado como o Gunner, o filho de Luke, se zangava quando tinha quatro anos.”

Assentiu. “Obviamente.”

Luke e Ed agiram rapidamente sem perder tempo.

“Não me podem fazer isto,” Disse Nassar.

Luke olhou para o relógio. Eram 7 da manhã. Os polícias podiam aparecer a qualquer momento.

Levaram-no para um compartimento mesmo ao lado da sala de estar. Tiraram-lhe o roupão e os chinelos. Usava apenas umas cuecas brancas. A barriga protuberante sobressaía. Estava apertada como um tambor. Sentaram-no numa cadeira de braços com os pulsos e pernas atados.

No compartimento havia uma secretária com um computador de torre e um monitor. O processador estava no interior de uma caixa metálica grossa, presa ao chão de pedra. Não parecia haver uma forma óbvia de abrir a caixa. Não tinha fechadura, porta, nada. Para acederem ao disco rígido, um soldador tinha que cortar a caixa e não havia tempo para isso.

Luke e Ed detiveram-se à frente de Nassar.

“Tem uma conta no Royal Heritage Bank na Ilha de Grande Caimão,” Disse Luke. “No dia 3 de Março fez uma transferência de 250,000 dólares para uma conta em nome de um homem chamado Ken Bryant. Ken Bryant foi estrangulado a noite passada num apartamento do Harlem.”

“Não faço a mínima ideia do que estão a falar.”

“Você é patrão de um homem chamado Ibrahim Abdulraman que morreu esta manhã numa subcave do Center Medical Center. Ele foi morto com um tiro na nuca enquanto roubava material radioativo.”

Uma centelha de reconhecimento cintilou no rosto de Nassar.

“Não conheço este homem.”

Luke respirou fundo. Normalmente, teria ao seu dispor horas para interrogar alguém. Hoje só dispunha de alguns minutos. O quer dizer que teria que fazer alguma batota.

“Porque é que o seu computador está preso ao chão?”

Nassar encolheu os ombros. Começava a recuperar a confiança. Luke quase a podia ver a regressar. O homem acreditava em si próprio. Pensava que os iria empatar.

“Há muito material confidencial aqui. Tenho clientes envolvidos em negócios que implicam questões de propriedade intelectual. Também sou, como já referi, um diplomata nas Nações Unidas. Por vezes recebo informações que são… como dizer? Confidenciais. Ocupo os cargos que ocupo porque sou conhecido pela minha discrição.”

“Até pode ser o caso,” Replicou Luke. “Mas tem que me dar a palavra-passe para eu poder confirmá-lo.”

“Lamento, mas tal não será possível.”

Atrás de Nassar, Ed soltou um riso. Quase parecia um grunhido.

“Pode ficar surpreendido com o que é possível conseguir,” Disse Luke. “A verdade é que nós vamos aceder àquele computador. E vai dar-nos a palavra-passe. Podemos fazer isto a bem ou a mal, a escolha é sua.”

“Não me vão magoar,” Disse Nassar. “Já arranjaram problemas que cheguem.”

Luke olhou para Ed. Ed aproximou-se e ajoelhou-se à direita de Nassar. Segurou a mão direita do homem com as suas duas mãos fortes.

Luke e Ed só se tinham conhecido a noite passada mas já conseguiam trabalhar juntos sem comunicarem verbalmente. Era como se conseguissem ler a mente um do outro. Luke já tinha tido essa sensação anteriormente, sobretudo com tipos que tinham integrado unidades de operações especiais como a Delta. Geralmente, essa empatia demorava mais tempo a desenvolver-se.

“Toca piano?” Perguntou Luke.

Nassar anuiu. “Tenho formação clássica. Quando era jovem, fui pianista. Ainda toco um pouco para me divertir.”

Luke agachou-se para que Nassar o olhasse nos olhos.

“Daqui a nada, o Ed vai começar a partir os seus dedos. Vai fazer com que seja difícil tocar piano. E o mais certo é doer bastante. Não tenho a certeza se é um tipo de dor a quem um homem como o senhor esteja habituado.”

“Não se atreveriam.”

“Da primeira vez, vou contar até três o que lhe dará alguns segundos para decidir o que quer fazer. Ao contrário de si, nós avisamos as pessoas antes de as magoarmos. Não se rouba material radioativo com a intenção de se matar milhões de pessoas inocentes. Isto não é nada em comparação com o que faz aos outros. Mas depois da primeira vez, não haverá mais avisos. Olho para o Ed e ele parte-lhe outro dedo. Compreende?”

“Vou fazer com que o despeçam,” Atirou Nassar.

“Um,”

“Você é um grão de areia sem poder nenhum. Vai arrepender-se de aqui ter vindo.”

“Dois.”

“Nem se atrevam!”

“Três.”

Ed partiu-lhe o dedo mínimo na segunda articulação. Fê-lo rapidamente e sem qualquer esforço. Luke ouviu o ruído mesmo antes de Nassar gritar. O dedo dobrou-se de lado. O ângulo era quase obsceno.

Luke colocou a mão debaixo do queixo de Nassar e levantou-lhe a cabeça. Os dentes do homem estavam cerrados. O rosto estava ruborizado e a respiração era irregular. Mas os olhos mostravam dureza.

“Esse foi só o mínimo,” Informou Luke. “O próximo é o polegar. Os polegares doem bastante mais do que os mínimos. E os polegares também são mais importantes.”

“Vocês são animais. Não vos digo nada.”

Luke fitou Ed. O rosto de Ed era uma máscara rígida. Encolheu os ombros e partiu o polegar. Desta vez, o som de algo a estalar foi bem audível.

Luke levantou-se e deixou o homem gritar. O som era ensurdecedor. Podia ouvi-lo a ecoar no apartamento como uma cena de um filme de terror. Talvez devessem procurar uma toalha para usar como mordaça.

Caminhou pela sala. Não gostava deste tipo de procedimento. Era tortura. Mas os dedos do homem iam sarar. Se uma bomba suja explodisse no metro, iam morrer muitas pessoas. Os que sobrevivessem iam ficar doentes. Ninguém jamais se curaria. Pesando as duas situações, os dedos do homem e pessoas mortas no metro, era fácil tomar uma decisão.

Agora Nassar chorava. Escorria muco transparente de uma das narinas. Respirava com dificuldade.

“Olhe para mim,” Pediu Luke.

O homem fez o que Luke mandou. Os olhos já não dardejavam severidade.

“Vejo que o polegar o chamou à razão. Por isso mesmo, de seguida, vai o polegar esquerdo. Depois disso, começamos com os dentes. Ed?”

Ed dirigiu-se à esquerda do homem.

“Kahlil Gibran,” Arfou Nassar.

“O que disse? Não o ouvi.”

“Kahlil underscore Gibran. É a palavra-passe.”

“Como o autor?” Perguntou Luke.

“Sim.”

“E como se trabalha o amor?” Começou Ed, citando Gibran.

Luke sorriu. “É tecer o tecido com fios desfiados de vosso próprio coração, como se o vosso amado fosse usar esse tecido. Temos esta citação na parede da nossa cozinha lá em casa. Adoro estas coisas. Pelos vistos, somos três românticos incuráveis.”

Luke aproximou-se do computador e percorreu o teclado com os dedos. A caixa da palavra-passe surgiu e ele digitou as palavras.

Kahlil Gibran.

E logo surgiu o ambiente de trabalho. A imagem de fundo era uma foto de montanhas cobertas de neve com prados amarelos e verdes em primeiro plano.

“Parece que agora sim. Obrigado, Ali.”

Luke tirou do bolso apertado das calças um disco rígido externo que Swann lhe dera. Ligou-o a uma porta USB. O disco externo tinha imenso espaço. Engoliria sem dificuldade toda a informação contida no computador deste homem. Preocupavam-se mais tarde em desencriptar alguma coisa.

Iniciou a transferência de ficheiros. No monitor, surgiu uma barra horizontal vazia. Do lado esquerdo, a barra começou a preencher-se de verde. Três porcento verde, quatro porcento, cinco. Por baixo da barra, uma enormidade de nomes de ficheiros aparecia e desaparecia à medida que eram copiados para o disco de destino.

Oito porcento. Nove porcento.

Subitamente, ouviu-se agitação na sala principal. As portas de entrada abriram com estrondo. “Polícia!” Alguém gritou. “Larguem as armas! No chão!”

Andaram pelo apartamento derrubando objetos, portas. Pareciam ser muitos. Chegariam ali num instante.

“Polícia! No chão! No chão! No chão!”

Luke olhou para a barra horizontal. Parecia ter parado nos doze porcento.

Nassar fixou Luke. Lágrimas escorriam-lhe dos olhos, os lábios tremiam, o rosto estava vermelho e o corpo quase nu destilava suor. Não tinha uma aparência triunfante.




CAPÍTULO 13




07:05

Baltimore, Maryland – A sul do Túnel Fort McHenry


Eldrick Thomas acordou de um sonho.

No sonho, estava numa pequena cabana nas montanhas. O ar estava limpo e fresco. Sabia que estava a sonhar porque nunca tinha estado numa cabana. Havia uma lareira de pedra com fogo aceso. O fogo estava quente e ele estendia as mãos na direção das chamas. No quarto ao lado, ouvia a linda voz da avó a cantar um antigo hino religioso.

Abriu os olhos e encarou o dia.

Tinha muitas dores. Tocou no peito. Estava viscoso com sangue mas os tiros não o tinham morto. Estava doente devido ao contato com a radioatividade. Disso lembrava-se. Olhou à sua volta. Estava deitado na lama e rodeado de um denso matagal. À esquerda tinha uma grande massa de água, um rio ou porto. Conseguia ouvir o ruído de uma autoestrada não muito longe.

Ezatullah tinha-o perseguido até ali. Mas isso já tinha sido… há muito tempo. Ezatullah já se devia ter ido embora.

“Vamos lá,” Disse. “Tens que te mexer.”

Seria fácil simplesmente ficar ali. Mas se o fizesse, morreria. E ele não queria morrer. Já não queria ser um jihadista. Só queria viver. Mesmo que passasse o resto da vida na prisão. Não se importava com a prisão. Tinha passado muito tempo na prisão e não era assim tão mau como as pessoas diziam.

Tentou pôr-se de pé mas não sentia as pernas. Pareciam não existir. Rolou sobre o estômago. A dor atravessava-o como uma descarga elétrica. Foi para um lugar escuro. O tempo passou. Depois regressou. Ainda ali estava.

Começou a rastejar, as mãos a agarrarem a lama e a impulsionarem-no. Arrastou-se por uma longa colina, aquela por onde tinha caído na noite anterior e que provavelmente lhe tinha salvo a vida. Chorava de dor mas continuou. Não queria saber da dor, só queria chegar ao outro lado da colina.

Decorreu algum tempo. Estava deitado com o rosto colado à lama. Os arbustos eram um pouco menos densos ali. Olhou em seu redor. Agora estava acima do nível do rio. O buraco na vedação estava mesmo à sua frente. Rastejou na sua direção.

Ficou preso na vedação enquanto a tentava ultrapassar. A dor fê-lo gritar.

Não muito longe, dois velhos homens negros estavam sentados em baldes brancos. Eldrick conseguia vê-los com uma clareza surreal. Nunca tinha visto ninguém com tamanha clareza. Tinham canas de pesca, caixas com apetrechos e um grande balde branco. Tinham um grande refrigerador azul com rodas. Tinham sacos de papel brancos e pratos de pequeno-almoço do McDonald’s. Atrás deles, repousava um velho Oldsmobile ferrugento.

As suas vidas eram um paraíso.

Meu Deus, por favor deixe-me ser eles.

Quando ele gritou, os homens correram na sua direção.

“Não me toquem!” Avisou. “Estou contaminado.”




CAPÍTULO 14




07:09

Casa Branca – Washington, D.C.


Thomas Hayes, Presidente dos Estados Unidos da América, estava de calças e camisa no balcão da cozinha da família na Casa Branca. Descascou uma banana e esperou que o café arrefecesse. Quando estava sozinho preferia entrar aqui silenciosamente e preparar um pequeno-almoço simples. Ainda nem tinha posto a gravata. Tinha os pés descalços. E a cabeça repleta de pensamentos negativos.

Esta gente está a comer-me vivo.

Este pensamento era um intruso indesejado na sua mente, o tipo de coisa que ultimamente lhe ocorria cada vez com mais frequência. Outrora fora a pessoa mais otimista que já conhecera. Desde cedo que sempre fora figura de cartaz onde quer que estivesse. Orador no secundário, capitão da equipa de remo, presidente da associação de estudantes. Summa cum laude em Yale, summa cum laude em Stanford. Académico em Fullbright. Presidente do Senado Estadual da Pensilvânia. Governador da Pensilvânia.

Sempre acreditou que seria capaz de encontrar a solução mais adequada para todos os problemas. Sempre acreditou no poder da sua liderança. E mais do que isso, sempre acreditou na bondade intrínseca do ser-humano. Tal já não se verificava. Cinco anos como Presidente tinham sido suficientes para deitar o seu otimismo por terra.

As horas sem fim não eram problema. Os vários departamentos e imensa burocracia, não eram problema. Até há bem pouco tempo, entendia-se perfeitamente com o Pentágono. Podia viver com os Serviços Secretos atrás dele vinte e quatro horas por dia, a imiscuírem-se em todos os aspetos da sua vida.

Até a comunicação social não era um problema, nem os ataques ignorantes que lhe faziam. Não era problema a forma como ridicularizavam a sua “formação de country club” ou a sua “liberalidade de limusina”. O problema não residia nos media.





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Quando resíduos nucleares são roubados a meio da noite de um hospital de Nova Iorque por um grupo de jiadistas, a polícia, numa corrida desesperada contra o tempo, chama o FBI. Luke Stone, membro proeminente de um departamento secreto e de elite do FBI, é o único homem que os pode ajudar. Luke chega rapidamente à conclusão de que o principal objetivo dos terroristas é criar uma bomba suja e usá-la num alvo relevante num prazo de 48 horas. Segue-se uma incansável perseguição que opõe os mais perspicazes agentes ao serviço do Governo americano e os mais sofisticados terroristas. Informações fiáveis permitem ao Agente Stone juntar as peças de um intrincado quebra-cabeças e compreender que está perante uma imensa conspiração e que o alvo a atingir é ainda mais relevante do que poderia inicialmente imaginar, numa jornada que o conduzirá até ao Presidente dos Estados Unidos. Com Luke falsamente acusado do crime, a equipa ameaçada e a própria família em perigo, o risco não podia ser maior. Mas enquanto antigo comando das forças especiais, Luke já estivera em situações complexas e não vai desistir de desmascarar os responsáveis pela conspiração, utilizando todos os meios ao seu alcance num confronto que se adivinha letal. As reviravoltas sucedem-se enquanto um homem tem de enfrentar um exército de obstáculos e maquinações, levando-o ao limite e culminando num clímax impressionante. Um thriller político com ação desconcertante, cenários internacionais dramáticos e suspense infindável, ALERTA VERMELHO: CONFRONTO LETAL marca o início de uma nova série explosiva viciante que o vai manter acordado até altas horas da madrugada. O Livro #2 da série Luke Stone estará em breve disponível.

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