Книга - Razão Para Se Apavorar

a
A

Razão Para Se Apavorar
Blake Pierce


“Uma história dinâmica que te agarra desde o primeiro capítulo e não te solta mais.”--Midwest Book Review, Diane Donovan (sobre Sem Pistas)Do autor número 1 de bestsellers Blake Pierce, essa é a nova obra prima de suspense psicológico—a série AVERY BLACK—que continua agora com RAZÃO PARA TEMER (Livro 6), mais uma obra única. A série começa com RAZÃO PARA SE APAVORAR (Livro 1)—que tem download grátis e conta com mais de 200 avaliações de 5 estrelas!Uma mulher é encontrada morta em seu próprio apartamento, trancada no closet, com seu corpo no chão sob aranhas venenosas, e a polícia de Boston fica perplexa. Sem saber por onde investigar, eles temem que o assassino vá agir novamente. Desesperada, a polícia não tem outra alternativa senão recorrer à mais brilhante e controversa detetive de homicídios da cidade—Avery Black. Agora aposentada, Avery, passando por dias ruins em sua vida pessoal, reluta, mas concorda em ajudar no caso. No entanto, quando outros corpos começam a aparecer, mortos de maneiras grotescas e nada comuns, Avery não pode deixar de se perguntar: um assassino em série está à solta?Com muita pressão da mídia e sob o estresse de ter um parceiro novo e inexperiente, Avery é levada a seu limite para tentar resolver esse caso bizarro—sem se deixar cair em um abismo.Avery encontra-se cada vez mais se aprofundando na mente do assassino, que tem mais segredos do que ela poderia imaginar.O livro mais arrebatador e chocante da série, uma história psicológica com suspense de parar o coração, RAZÃO PARA SE APAVORAR vai fazer você ler páginas e páginas noite adentro.“Uma obra-prima de suspense e mistério. Pierce fez um trabalho magnífico criando personagens com lados psicológicos tão bem descritos que nos fazem sentir dentro de suas mentes, acompanhando seus medos e celebrando seu sucesso. Cheio de reviravoltas, este livro vai lhe manter acordado até que você chegue à última página.”--Books and Movie Reviews, Roberto Mattos (sobre Sem Pistas)







R A Z Ã O P A R A S E A P A V O R A R



(UM MISTÉRIO DE AVERY BLACK—LIVRO 6)



B L A K E P I E R C E


Blake Pierce



Blake Pierce é a autora da série bestselling um mistério de RILEY PAGE, composta por quinze livros (a continuar). Blake Pierce é também a autora da série um mistério de MACKENZIE WHITE, composta por nove livros (a continuar); da série um mistério de AVERY BLACK, composta por seis livros; da série um mistério de KERI LOCKE, composta por cinco livros; da série um mistério dos PRIMÓRDIOS DE RILEY PAIGE, composta por três livros (a continuar); da série um mistério de KATE WISE, composta por dois livros (a continuar); da série um thriller psicológico de CHLOE FINE, composta por três livros (a continuar); série um thriller psicológico de JESSIE HUNT, composta por três livros (a continuar).



Uma leitora ávida e uma fã desde sempre dos géneros de mistério e thriller, Blake adora ouvir sua opinião, pelo que, por favor, sinta-se à vontade para visitar www.blakepierceauthor.com (http://www.blakepierceauthor.com) para saber mais e para se manter em contacto.



Copyright © 2018 por Blake Pierce. Todos os direitos reservados. Exceto conforme permitido na Lei de Direitos Autorais dos Estados Unidos (US. Copyright Act of 1976), nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida de nenhuma forma e por motivo algum, ou colocada em um sistema de dados ou sistema de recuperação sem permissão prévia do autor. Este e-book está licenciado apenas para seu aproveitamento pessoal. Este e-book não pode ser revendido ou dado a outras pessoas. Se você gostaria de compartilhar este e-book com outra pessoa, por favor compre uma cópia adicional para cada beneficiário. Se você está lendo este e-book e não o comprou, ou ele não foi comprado apenas para uso pessoal, então por favor devolva-o e compre seu próprio exemplar. Obrigado por respeitar o trabalho árduo do autor. Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, empresas, organizações, lugares, eventos e acontecimentos são obras da imaginação do autor ou serão usadas apenas na ficção. Qualquer semelhança com pessoas de verdade, em vida ou falecidas, é totalmente coincidência. Imagem de capa: Copyright Karuka, usada sob licença de Shutterstock.com.


LIVROS DE BLAKE PIERCE



SÉRIE UM THRILLER PSICOLÓGICO DE JESSIE HUNT

A ESPOSA PERFEITA (Livro #1)

O PRÉDIO PERFEITO (Livro #2)

A CASA PERFEITA (Livro #3)

O SORRISO PERFEITO (Livro #4)



SÉRIE UM MISTÉRIO PSICOLÓGICO DE CHLOE FINE

A PRÓXIMA PORTA (Livro #1)

A MENTIRA MORA AO LADO (Livro #2)

BECO SEM SAÍDA (Livro #3)

VIZINHO SILENCIOSO (Livro #4)

VOLTANDO PRA CASA (Livro #5)



SÉRIE UM MISTÉRIO DE KATE WISE

SE ELA SOUBESSE (Livro #1)

SE ELA VISSE (Livro #2)

SE ELA CORRESSE (Livro #3)



SÉRIE OS PRIMÓRDIOS DE RILEY PAIGE

ALVOS A ABATER (Livro #1)

À ESPERA (Livro #2)

A CORDA DO DIABO (Livro #3)

AMEAÇA NA ESTRADA (Livro #4)



SÉRIE UM MISTÉRIO DE RILEY PAIGE

SEM PISTAS (Livro #1)

ACORRENTADAS (Livro #2)

ARREBATADAS (Livro #3)

ATRAÍDAS (Livro #4)

PERSEGUIDA (Livro #5)

A CARÍCIA DA MORTE (Livro #6)

COBIÇADAS (Livro #7)

ESQUECIDAS (Livro #8)

ABATIDOS (Livro #9)

PERDIDAS (Livro #10)

ENTERRADOS (Livro #11)

DESPEDAÇADAS (Livro #12)

SEM SAÍDA (Livro #13)

ADORMECIDO (Livro #14)



SÉRIE UM ENIGMA DE MACKENZIE WHITE

ANTES QUE ELE MATE (Livro #1)

ANTES QUE ELE VEJA (Livro #2)

ANTES QUE ELE COBICE (Livro #3)

ANTES QUE ELE LEVE (Livro #4)

ANTES QUE ELE PRECISE (Livro #5)

ANTES QUE ELE SINTA (Livro #6)

ANTES QUE ELE PEQUE (Livro #7)

ANTES QUE ELE CACE (Livro #8)



SÉRIE UM MISTÉRIO DE AVERY BLACK

RAZÃO PARA MATAR (Livro #1)

RAZÃO PARA CORRER (Livro #2)

RAZÃO PARA SE ESCONDER (Livro #3)

RAZÃO PARA TEMER (Livro #4)

RAZÃO PARA SALVAR (Livro #5)

RAZÃO PARA SE APAVORAR (Livro #6)



SÉRIE UM MISTÉRIO DE KERI LOCKE

RASTRO DE MORTE (Livro #1)

RASTRO DE UM ASSASSINO (Livro #2)

UM RASTRO DE IMORALIDADE (Livro #3)

UM RASTRO DE CRIMINALIDADE (Livro #4)

UM RASTRO DE ESPERANÇA (Livro #5)


ÍNDICE



PRÓLOGO (#u2d9b120f-d024-5b0f-9c40-127c24ad0d0c)

CAPÍTULO UM (#ubc5b9fc1-a036-5ad3-a191-95f85934bd59)

CAPÍTULO DOIS (#ub5c6d5bc-115d-5988-af0b-7951964bd970)

CAPÍTULO TRÊS (#u91ab13b3-c435-53a5-9719-d2d040ff341c)

CAPÍTULO QUATRO (#uc90be6ad-c4ed-59e1-a157-f1e403d29ac8)

CAPÍTULO CINCO (#uded1d892-80c6-54c1-925c-e2acb44bc921)

CAPÍTULO SEIS (#u3846cc8c-5783-5f1b-a7e5-8e92c54874d1)

CAPÍTULO SETE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO OITO (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO NOVE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO DEZ (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO ONZE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO DOZE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO TREZE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO QUATORZE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO QUINZE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO DEZESSEIS (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO DEZESSETE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO DEZOITO (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO DEZENOVE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E UM (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E DOIS (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E TRÊS (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E QUATRO (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E CINCO (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E SEIS (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E SETE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E OITO (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E NOVE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO TRINTA (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO TRINTA E UM (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO TRINTA E DOIS (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO TRINTA E TRÊS (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO TRINTA E QUATRO (#litres_trial_promo)

EPÍLOGO (#litres_trial_promo)




PRÓLOGO


Seu nome – Rosie – era a única coisa delicada naquele homem. Roosevelt “Rosie” Dobbs caminhou até a entrada do apartamento 2B com seu habitual andar desajeitado—se alguém estivesse por perto, poderia ter ouvido seus xingamentos, palavras obscenas que o seguiam como uma sombra.

Com seu punho gigante, Rosie bateu na porta. A cada batida, via nela o rosto do homem que morava no 2B. Um cara folgado, chamado Alfred Lawnbrook—do tipo que sempre pensava que era melhor do que todos, mesmo morando em um apartamento simples em uma das piores partes da cidade. Ele nunca pagava o aluguel na data certa. Nos dois anos em que estava morando no apartamento, sempre atrasara ao menos uma semana. Dessa vez, já eram três semanas de atraso. E Rosie já estava cansado daquilo. Se Lawnbrook não pagasse o aluguel é o fim do dia, ele o expulsaria.

Era sábado, logo depois das nove da manhã. O carro de Lawnbrook estava estacionado em sua vaga de sempre, então Rosie sabia que ele estava em casa. Mesmo assim, mesmo batendo na porta, Lawnbrook não o atendeu.

Rosie bateu mais uma vez com força na porta com seu punho e então gritou.

- Lawnbrook, saia daí! E é melhor você estar com o dinheiro do aluguel em mãos quando abrir a porta.

Rosie tentou ser paciente. Esperou dez segundos antes de chamar novamente.

- Lawnbrook!

Ainda sem reposta, Rosie pegou o enorme molho de chaves que carregava no quadril. Ele procurou entre as chaves até encontrar uma onde a etiqueta dizia 2B. Sem dizer mais nada, colocou a chave na fechadura, virou a maçaneta e entrou no apartamento.

- Alfred Lawnbrook! Aqui é Rosie Dobbs, o dono do apartamento. Seu aluguel está atrasado há três semanas e—

Mas Rosie viu imediatamente que não haveria resposta. Havia um silêncio estranho no local, que o fez perceber que Lawnbrook não estava em casa.

Não, não é isso, Rosie pensou. É algo diferente... algo está estranho. Tem algo de errado aqui.

Rosie deu mais alguns passos pelo apartamento, parando ao chegar ao centro da sala.

Foi quando percebeu o cheiro.

Primeiro, o cheiro o lembrou de batatas que haviam apodrecido. Mas tratava-se de algo diferente, mais sutil.

- Lawnbrook? – ele chamou novamente, dessa vez com uma onda de medo em sua voz.

Mais uma vez, não houve resposta... não que Rosie estivesse esperando ouvir algo. Ele caminhou pela sala e olhou na cozinha, imaginando que talvez alguma comida tivesse sido esquecida no fogão. Mas a cozinha estava limpa e, por ser pequena, rapidamente ele pode ver que nada estava errado ali.

Chame a polícia, a parte sensata de Rosie pensou. Você sabe que tem algo errado aqui, então chame a polícia e não se envolva nisso.

Mas curiosidade é algo viciante, e Rosie não conseguiu sair dali. Ele caminhou pelo corredor e algo estranho chamou sua atenção no caminho para o quarto. Dando alguns passos pelo corredor, o cheiro ficou mais forte e ele soube exatamente o que iria encontrar. Mesmo assim, não conseguiu parar. Ele precisava ver... precisava saber.

O quarto de Lawnbrook estava levemente desarrumado. Alguns itens haviam sido derrubados do criado-mudo: carteira, livro, porta-retratos. Na janela, a persiana de plástico estava levemente inclinada, com as bordas dobradas.

Ali, o cheiro estava pior. Não era insuportável, mas também não era algo que Rosie queria respirar por muito tempo.

A cama estava vazia e não havia nada entre o guarda-roupa e a parede. Com um nó na garganta, Rosie virou-se para o closet. A porta estava fechada, trazendo uma sensação pior do que o cheiro. Ainda assim, sua curiosidade mórbida o fez seguir até lá. Ele encostou na maçaneta e, por um momento, pareceu sentir o cheiro terrível de algo pegajoso e quente.

Antes de virar a maçaneta, viu algo com o canto dos olhos. Olhou para seus pés, imaginando que seu nervosismo estivesse fazendo-o ver coisas. Mas não... ele tinha mesmo visto algo.

Duas aranhas estavam vindo rapidamente debaixo da porta. As duas eram grandes, uma do tamanho de uma moeda e a outra tão grande que mal passava debaixo da porta. Surpreso, Rosie pulou para trás e soltou um pequeno grito de medo. As aranhas correram para debaixo da cama e, quando ele se virou para olhá-las, havia outras ali. A maioria eram pequenas, mas havia uma maior, do tamanho de um selo postal, andando pelo travesseiro.

Com a adrenalina a mil, Rosie virou a maçaneta e abriu a porta.

Ele tentou gritar, mas seus pulmões pareciam estar paralisados. Apenas um barulho seco saiu de sua garganta, enquanto ele se afastava do que tinha visto no closet.

Alfred Lawnbrook estava jogado no canto do closet. Seu corpo estava pálido e imóvel.

Além disso, completamente coberto por aranhas.

Havia vários fios de teia grossos nele. Um, em seu braço direito, era tão grosso que Rosie nem conseguia ver a pele. A maioria das aranhas eram pequenas e pareciam ser inofensivas, mas assim como as outras que Rosie havia visto, algumas no grupo eram maiores. Enquanto ele olhava apavorado, uma aranha do tamanho de uma bola de golfe desfilava sob a testa de Lawnbrook. Outra, menor, subia em seu lábio.

Aquilo tirou Rosie de seu estado de congelamento. Ele quase tropeçou nos próprios pés ao sair correndo do quarto, gritando, sentindo que milhões de aranhas estavam vindo atrás dele.




CAPÍTULO UM


Dois meses antes...



Ao abrir uma das muitas caixas ainda espalhadas por sua casa nova, Avery Black perguntou-se porque havia esperado tanto tempo para se afastar da cidade. Ela não sentia nenhuma falta e, na verdade, estava arrependida por ter perdido tanto tempo lá.

Ela olhou dentro de uma caixa, esperando encontrar seu iPod. Não havia etiquetado nada ao deixar seu apartamento em Boston. Havia, basicamente, jogado tudo em várias caixas e se mudado em apenas um dia. Aquilo fora três semanas antes, e Avery ainda não havia terminado de esvaziar as caixas. Na verdade, até seus lençóis ainda estavam escondidos em algum lugar nas caixas, e ela havia escolhido dormir no sofá desde então.

A caixa escolhida não continha seu iPod, mas tinha algumas garrafas de licor das quais Avery nem se lembrava mais. Ela tirou um copo da caixa, encheu de whisky e caminhou até a varanda. Fechou os olhos ao se deparar com a luz da manhã e deu um gole em seu whisky. Sentiu a bebida descendo e tomou mais um gole. Depois, olhou seu relógio e viu que eram dez horas da manhã.

Encolheu os ombros e sentou-se na velha cadeira de pedra, que já estava na casa quando Avery a comprara. Olhou em volta e sentiu, novamente, que poderia viver ali o resto de sua vida, totalmente confortável.

A casa não era uma cabana, mas tinha um toque rústico. Tinha só um andar e era moderna por dentro. Seu endereço dizia que Avery agora morava próximo ao lago Walden, mas ela estava longe o suficiente para poder se considerar “no meio do nada”. Seu vizinho mais próximo estava a quase um quilômetro de distância, e apenas árvores podiam ser vistas desde a porta da frente.

Não havia buzinas. Nem pedestres com pressa enquanto mexiam nos celulares. Nem trânsito. Nem cheiro de gasolina saindo dos motores.

Avery tomou mais um gole de seu whisky matinal e escutou em volta. Nada. Absolutamente nada. Bom, quase nada. Ela pode ouvir dois pássaros cantando entre as árvores enquanto sentia a brisa da manhã.

Ela havia feito o possível para que Rose também viesse morar ali. Sua filha havia passado por muita coisa, e só Deus sabia se ficar na cidade a ajudaria a se recuperar. Mas Rose havia recusado. Na verdade, recusado veementemente. Depois que a fumaça do último caso havia baixado, Rose decidira que precisava culpar alguém pela morte do seu pai. E, como sempre, a culpa recaiu sobre os ombros de Avery.

Por mais que doesse, Avery entendia. Ela teria se comportado da mesma forma se os papeis fossem invertidos. Durante sua mudança para a floresta, Rose havia a acusado de estar fugindo de seus problemas. E Avery não havia tido problemas em concordar. Ela estava ali para escapar das memórias de seu último caso—dos últimos meses de sua vida, na verdade.

Elas haviam chegado muito perto de recuperar o relacionamento que um dia tiveram. Mas quando o pai de Rose morrera—assim como Ramirez, o homem que ela tinha começado a aceitar como o novo amor de sua mãe—tudo fora por terra. Rose culpou Avery pela morte de seu pai e, aos poucos, Avery começou a culpar a si mesma também.

Avery fechou os olhos e deu o último gole em seu whisky. Escutou o silêncio da floresta e deixou que o whisky a confortasse. Ela havia feito aquilo várias vezes durante as últimas semanas, bebendo tanto que, em uma das vezes, tinha desmaiado por várias horas. Aquela noite, ela passara debruçada sobre o vaso e chorando, pensando em Ramirez e no futuro que eles poderiam ter tido.

Olhando para trás, Avery sentia-se envergonhada. Aquilo a fazia querer beber para se sentir bem. Ela nunca fora de beber muito, mas nas últimas semanas, whisky e vinho vinham ajudando bastante.

Ajudando a que? Ela se perguntou ao se levantar da cadeira de pedra e voltar para dentro de casa.

Olhou para o whisky, querendo beber mais e pegar no sono antes do meio dia apenas para passar por mais um dia. Mas ela sabia que seria covarde. Precisava passar por aquilo sozinha, com a mente limpa. Então, guardou o whisky e as outras garrafas na cozinha. Depois, começou a mexer em outras caixas, ainda procurando o iPod.

Em uma das caixas, havia vários álbuns de fotos. Por estar pensando em Rose enquanto estava na varanda, Avery decidiu abri-los. Havia três, e um deles tinha fotos de sua época da faculdade. Ignorou-o completamente e pegou o segundo.

Rose apareceu imediatamente. Ela tinha doze anos, e vestia um chapéu coberto por neve. Na próxima foto, ainda com doze anos, Rose estava pintando o que parecia ser um campo de girassóis em seu antigo quarto. Avery folheou o álbum até a metade, onde encontrou uma foto que havia tirado três natais antes. Rose e Jack, o pai de Rose, estavam dançando em frente à árvore de natal. Os dois estavam sorrindo abertamente. O gorro de Papai Noel de Jack estava caindo de sua cabeça e havia outros artigos de decoração nos fundos da foto.

Foi como uma facada no coração. A vontade de chorar apareceu como uma bomba. Avery não havia sentido aquilo desde que se mudara, mexendo nas caixas que continham os objetos de sua carreira. Mas ali, de repente, ela não conseguiu lutar contra seus sentimentos. Começou a chorar como se a faca estivesse, de fato, cravada em seu peito.

Tentou se levantar, mas seu corpo parecia estar paralisado. Não, ele parecia dizer. Você vai se permitir esse momento e vai chorar. Vai chorar muito. Vai sentir o luto. Você vai se sentir melhor depois.

Avery fechou o álbum e o pressionou contra seu peito. Chorou com força, permitindo-se ser vulnerável por um momento. Odiou sentir que era muito bom tirar aquele sentimento de si. Chorou sem dizer nada—sem chamar ninguém nem pedir ajuda divina. Simplesmente, chorou.

Avery sentiu-se bem. Como se estivesse exorcizando seus demônios.

Ela não soube por quanto tempo ficou ali, sentada entre as caixas. Só soube que, ao se levantar, não queria mais depender de algo como álcool para se sentir bem. Ela precisava clarear sua mente e organizar seus pensamentos.

Sentiu uma dor familiar nas mãos, algo mais forte do que a necessidade de beber para afastar suas emoções. Cerrou os dedos e pensou em alvos de papel e na distância entre a arma e seus alvos.

Seu coração então confortou-se um pouco ao pensar em alguns poucos itens que tinha para decorar o quarto nos próximos dias. Não havia muita coisa, mas havia algo do qual Avery quase tinha se esquecido nos últimos dias. Devagar, tentando tomar coragem enquanto caminhava pela sala repleta de caixas, entrou no quarto.

Parou na porta por um momento e olhou para a arma, parada num canto.

O rifle era uma Remington 700 que pertencera a Avery desde sua formatura na faculdade. Durante seu último ano, ela havia feito planos de se mudar para algum lugar remoto, para poder caçar veados no inverno. Era algo que seu pai sempre fizera e, mesmo não sendo tão boa naquilo, Avery gostava. Suas amigas tiravam sarro por conta disso e provavelmente ela havia assustado um ou dois namorados na época da escola por conta de seu gosto pela caça. Quando seu pai morrera, sua mãe havia implorado para que ela ficasse com a arma, dizendo que seu pai gostaria que ela a guardasse.

E a arma a acompanhara, de mudança em mudança, geralmente ficando guardada em um guarda-roupas ou debaixo da cama. Dois dias depois de se mudar para a casa nova, Avery havia levado a arma até uma concessionária para limpá-la. Ao buscá-la, também comprou três caixas de munição.

Imaginando que poderia sentir vontade de atirar a qualquer momento, Avery vestiu suas calças térmicas. Não estava tão frio naquela manhã—um pouco acima de zero—mas ela não estava acostumada a andar pela floresta. Ela não tinha roupas camufladas, então se contentou com um par de calças verde-escuro e um suéter preto. Ela sabia que aquela não era a vestimenta mais segura para caçar veados, mas era o que ela tinha naquele momento.

Avery vestiu um par de luvas finas (tendo que buscar nas caixas para encontrá-las), colocou seu par de tênis mais velho e saiu. Entrou no carro e dirigiu por três quilômetros até uma extensão da estrada que levava a uma enorme floresta, que pertencia ao homem de quem ela havia comprado a casa. Ele havia lhe dado permissão para caçar em suas terras, quase como um bônus aleatório pela compra da casa por dez mil dólares acima do valor pedido.

Ela encontrou um lugar ao lado da estrada onde claramente caçadores vinham passando há anos. Estacionou ali, com o lado do motorista quase dentro da pista. Então, pegou seu rifle e entrou na floresta.

Avery sentiu-se boba desfilando pela floresta. Ela não caçava há pelo menos cinco anos—justamente no final de semana em que recebera a arma de sua mãe. Estava sem o equipamento adequado—botas, aroma de veado para borrifar nas árvores, chapéus ou coletes laranjas. Mas também sabia que aquela era uma manhã de quarta-feira, e que a floresta estaria basicamente sem nenhum outro caçador. Sentiu-se um pouco como aquela criança tímida que só joga basquete sozinha e sai correndo quando as crianças mais talentosas chegam.

Caminhou por vinte minutos e chegou a uma subida. Caminhou em silêncio, com a mesma precaução que tinha enquanto detetive de homicídios. A arma caía bem em suas mãos, ainda que parecesse um pouco estranha. Avery era acostumada a usar armas menores, principalmente sua Glock, e por isso o rifle parecia muito poderoso. Ao chegar ao topo da pequena subida, viu carvalho caído a vários metros. Utilizou-o para se abaixar e se esconder, sentada no chão e encostando-se em uma árvore. Reclinada, soltou o rifle a seu lado e olhou para o topo das árvores.

Avery ficou ali em paz, sentindo-se ainda mais cercada pelo mundo do que quando estivera em sua varanda, um hora antes. Sorriu ao imaginar Rose ali com ela. Rose odiava estar ao livre e provavelmente desaprovaria se soubesse que sua mãe estava sentada em uma floresta, com um rifle, procurando um veado para matar. Pensando em Rose, Avery pode limpar sua mente e focar em tudo a seu redor. E quando pode fazer isso, os instintos de sua carreira apareceram.

Ela ouviu folhas mexendo no chão, assim como nas árvores, enquanto as últimas folhas teimosas teimavam em sobreviver ao inverno. Escutou algo à sua direita, um pouco acima, provavelmente um esquilo. Acostumada com seu entorno, finalmente pode relaxar.

Ouviu tudo aquilo, mas também viu seus próprios pensamentos tomando forma. Jack e sua namorada, ambos mortos. Ramirez, morto. Pensou em Howard Randall, caindo na água, provavelmente também morto. E por fim... viu Rose... como ela estivera constantemente em perigo por conta do trabalho de sua mãe. Rose não merecia aquilo. Ela havia feito o possível para ser uma filha querida até que finalmente chegara a seu limite.

Na verdade, Avery havia se impressionado por quanto tempo Rose havia segurado aquela barra. Especialmente depois do último caso, onde a vida dela estivera literalmente em perigo. E aquela não fora a primeira vez.

O barulho de um galho se quebrando atrás de Avery chamou sua atenção. Seus olhos se abriram rapidamente e, mais uma vez, ela olhou para o topo das árvores. Devagar, pegou o rifle ao ouvir um outro barulho vindo de trás de si.

Aproximou o rifle de seu corpo e lentamente o engatilhou. Levantou-se com cautela. Respirou fundo, cuidando para não mover as folhas. Seus olhos escanearam a área embaixo da pequena subida onde ela estava escondida. Ela viu um veado à esquerda, a cerca de cem metros. Era um macho pelo que ela podia ver. Não era grande, mas já era algo. Avery viu outro mais longe, porém parcialmente coberto por duas árvores.

Voltou a se mexer, colocando o rifle ao lado do carvalho caído. Flexionou o dedo para encontrar o gatilho e firmou a mão. Tentou mirar e teve mais dificuldade do que estava esperando. Finalmente, acertou a mira e disparou.

O barulho do tiro tomou conta da floresta. A arma ricocheteou, mas apenas levemente. Ao atirar, Avery sentiu seu braço desviar para a direita.

Então, viu o veado escapando.

Quando o som da bala encheu seus ouvidos em meio à floresta, algo em sua mente pareceu congelá-la. Em um momento paralisante, Avery não pode se mexer. Naquele momento, ela não estava na floresta, tendo falhado na caça a um veado. Ao invés disso, estava na sala de Jack. Havia sangue por todos os lados. Ele e sua namorada haviam sido mortos. Ela não havia conseguido evitar e, por isso, sentia que ela tinha matado os dois. Rose estava certa. Era culpa dela. Ela poderia ter evitado se fosse mais rápida—se tivesse sido melhor.

Os olhos ensanguentados de Jack a olhavam, mortos e parecendo pedir ajuda. Por favor, diziam. Por favor, volte e faça tudo certo.

Avery largou a arma. O rifle caiu no chão e, novamente, ela viu-se chorando. Lágrimas quentes, abundantes. Pareciam pequenas corredeiras de fogo descendo por seu rosto frio.

- É minha culpa – ela disse, sozinha na floresta. – É minha culpa. Tudo isso.

Não só Jack e a namorada... não. Ramirez, também. E todos que ela não havia conseguido salvar. Ela deveria ter feito melhor, muito melhor.

Avery viu a foto de Jack e Rose na frente da árvore de Natal em sua mente. Ela encolheu-se como uma bola no carvalho caído e começou a tremer.

Não, pensou. Não agora, não aqui. Recomponha-se, Avery.

Segurou a onda de emoções e respirou fundo. Não foi tão difícil. Afinal de contas, ela vinha lidando com aquilo por pelo menos uma década. Devagar, levantou-se, pegando a arma do chão. Olhou rapidamente para o lugar onde estavam os dois veados. Não se arrependeu de ter errado o tiro. Simplesmente, não se importou.

Virou-se para o lado de onde tinha vindo, carregando o rifle no ombro e uma década de culpa no coração.



***



No caminho de volta para casa, Avery imaginou que era algo bom não ter matado o veado. Ela não tinha ideia de como tiraria o animal da floresta. Arrastaria até o carro? Amarraria em uma corda para trazê-lo até em casa? Ela conhecia o suficiente sobre caça para saber que era ilegal deixar um animal morto na floresta.

Em qualquer outro momento, ela teria achado a imagem de um veado no topo de seu carro hilária. Mas, naquela hora, pareceu apenas algo sem graça. Apenas mais um assunto indefinido em sua mente.

Prestes a chegar à estrada, Avery sentiu seu telefone tocando. Pegou-o e viu um número que não reconheceu, mas com um código de área que havia visto durante quase toda sua vida. A ligação vinha de Boston.

Cética, Avery atendeu, sabendo por conta de sua carreira que ligações de números desconhecidos geralmente traziam problemas.

- Alô?

- Olá, é a senhora Black? Senhora Avery Black? – uma voz feminina perguntou.

- Sim. Quem fala?

- Meu nome é Gary King. Sou o dono do lugar onde sua filha está morando. Seu nome está nos formulários dela e—

- Rose está bem? – Avery perguntou.

- Até onde eu sei, sim. Mas estou ligando por outro motivo. Primeiro, ela está com aluguel atrasado. Está duas semanas atrasado e é a segunda vez em três meses. Eu tentei ir até lá e falar com ela, mas ela não atende a porta. E ela não atende minhas ligações.

- Com certeza você não precisa de mim para isso – Avery disse. – Rose é uma mulher crescida e pode lidar com o dono do apartamento onde ela mora.

- Bom, não é só isso. Eu recebi ligações de uma vizinha reclamando de barulhos de choro alto à noite. A mesma vizinha diz ser bem amiga de Rose. Ela diz que Rose anda muito diferente ultimamente. Que ela fica falando que tudo é uma droga e que a vida não faz sentido. Ela diz que está preocupada com Rose.

- Quem é essa amiga? – Avery perguntou. Era difícil negar a si mesma que ela estava praticamente entrando no modo detetive.

- Desculpe, mas não posso dizer. É a lei.

Avery sabia que o senhor King estava certo, então não pressionou.

- Eu entendo. Obrigado por ligar, senhor King. Vou falar com ela agora mesmo. E vou me certificar de que você receba seu dinheiro.

- Tudo bem, obrigado... mas eu estou sinceramente mais preocupado com o que pode estar acontecendo com a Rose. Ela é uma menina do bem.

- Sim, é mesmo – Avery disse e encerrou a ligação.

Naquele momento, ela já estava a menos de um quilômetro de sua nova casa. Discou o número de Rose e telefonou ao pisar mais fundo no acelerador. Tinha certeza que sua filha não atenderia, mas ainda assim tinha uma ponta de esperança a cada toque.

Como esperava, a ligação caiu na caixa de mensagens. Rose havia atendido apenas uma de suas ligações desde a morte de seu pai, e fora quando ela estava muito bêbada. Avery optou por não deixar mensagens, sabendo que Rose não escutaria, muito menos retornaria a ligação.

Avery estacionou na calçada, deixando o motor ligado, e correu para dentro de casa apenas para vestir algo mais apresentável. Voltou ao carro três minutos depois, seguindo na direção de Boston. Ela tinha certeza que Rose ficaria brava com sua mãe indo até lá, mas sabia que não tinha outra escolha, dada a ligação de Gary King.

Quando a estrada começou a apresentar menos curvas, Avery aumentou a velocidade. Ela não sabia o que o futuro a reservava sobre seu antigo trabalho, mas sabia que sentia falta de uma coisa sobre trabalhar nas forças a lei: a permissão para quebrar os limites de velocidade sempre que precisasse.

Rose estava em apuros.

Ela sabia.




CAPÍTULO DOIS


Era pouco mais de uma hora quando Avery chegou à casa de Rose. Ela morava em um apartamento no térreo de um prédio em uma zona boa da cidade. Conseguia pagá-lo por conta das gorjetas que recebia como bartender em um bar chique—um trabalho que havia conseguido antes da mudança de Avery para a floresta. Seu trabalho anterior havia sido um pouco menos glamoroso, como garçonete em um restaurante simples, ao mesmo tempo que editava anúncios para algumas agências trabalhando de casa. Avery queria que Rose apenas estudasse e terminasse a faculdade, mas sabia que quanto mais pressionasse, mais Rose escolheria outro caminho.

Avery bateu na porta, sabendo que Rose estava em casa porque seu carro estava estacionado na rua. Mesmo sem aquela dica, Avery sabia que desde quando fora morar sozinha, Rose escolhera optar por trabalhar com horários à noite, para que pudesse dormir até tarde e ficar em casa durante o dia. Ela bateu mais forte na porta e quase chamou o nome de Rose. Decidiu não falar nada, percebendo que sua voz seria menos bem-vinda do que a do dono do prédio que queria cobrar o aluguel.

Ela provavelmente sabe que sou eu porque eu tentei ligar antes, pensou.

Por conta disso, Avery sabia que a melhor opção seria outra: negociar.

- Rose – disse, batendo novamente. – Abra. É sua mãe. Está frio aqui fora.

Avery esperou por um momento e não ouviu nada. Ao invés de bater novamente, ela aproximou-se da porta, o máximo possível. Quando voltou a falar, levantou a voz apenas o suficiente para ser ouvida, mas sem causar uma cena na rua.

- Você pode continuar me ignorando se quiser, mas eu vou continuar ligando, Rose. E se eu quiser fazer disso uma obsessão, lembre-se de qual era meu trabalho. Se eu quiser saber onde você está a qualquer hora, eu posso. Ou você pode facilitar as coisas para nós duas e só abrir a porta.

Ao dizer aquilo, Avery bateu novamente na porta. Dessa vez, foi atendida em alguns segundos. Rose abriu devagar. Ela colocou apenas a cabeça para fora, como se não confiasse na pessoa que estava do outro lado da porta.

- O que você quer, mãe?

- Entrar por um ou dois minutos.

Rose pensou naquilo por um momento e então abriu a porta. Avery fez o possível para não dar muita atenção ao fato de que Rose havia perdido peso. Bastante, na verdade. Ela também havia pintado o cabelo de preto e o alisado.

Avery entrou e encontrou o apartamento totalmente limpo. Havia um ukulele no sofá, algo que não parecia pertencer àquele lugar. Avery apontou para o instrumento com um olhar desconfiado.

- Eu queria aprender a tocar algo – Rose disse. – Violão consome muito tempo e piano é muito caro.

- Você já aprendeu algo? – Avery perguntou.

- Já sei fazer cinco notas. Quase posso tocar uma música.

Avery assentiu, impressionada. Ela quase pediu para ouvir a música, mas percebeu que estaria forçando as coisas. Então, pensou em sentar-se no sofá, mas não queria parecer intrometida. Ela sabia que Rose não estenderia o convite.

- Estou bem, mãe – Rose disse. – Se é por isso que você está aqui...

- É sim – Avery disse. – Eu queria falar com você há tempos. Eu sei que você me odeia e me culpa por tudo o que aconteceu. É uma merda, mas eu posso lidar com isso. Mas hoje recebi uma ligação do dono da casa.

- Senhor – Rose disse. – Esse otário não me deixa em paz e—

- Ele só quer o aluguel, Rose. Você tem? Você tem dinheiro para pagar?

Rose riu da pergunta.

- Eu ganhei trezentos dólares de gorjeta só ontem à noite – ela disse. – E quase o dobro disso no sábado. Então não... não tenho dinheiro.

- Que bom. Mas... bem, ele também disse que está preocupado com você. Que soube de coisas que você falou. Não me engane, Rose. Como você está de verdade?

- De verdade? – Rose perguntou. – Como estou de verdade? Bom, eu sinto falta do meu pai. E quase fui morta pelo mesmo babaca que matou ele. E eu sinto sua falta, também, mas não consigo lembrar de você sem lembrar de como ele morreu. Eu sei que isso é uma merda, mas sempre que eu penso no pai e em como ele morreu, isso me faz te odiar. E me faz perceber que desde que você entrou a fundo na carreira de detetive, minha vida sofreu muito, de um jeito ou de outro.

Era difícil para Avery ouvir aquilo, mas ela sabia que as palavras poderiam ter sido muito piores.

- Como você tem dormido? – ela perguntou. – E comido? Rose... quanto peso você perdeu?

Rose balançou a cabeça e começou a caminhar novamente para a porta.

- Você perguntou como eu estou e eu te respondi. Estou feliz? Não. Mas não sou do tipo que vai fazer algo estúpido, mãe. Quando tudo passar eu vou ficar bem. E vai passar. Eu sei que vai. Mas para passar, você tem que ficar longe.

- Rose, eu—

- Não, mãe... você me faz mal. Eu sei que você tentou e muito deixar as coisas bem entre a gente—você tentou por muitos anos. Mas não está dando certo e eu acho que nunca vai dar, considerando os últimos acontecimentos. Então... por favor, vá embora. Vá e pare de me ligar.

- Mas Rose, isso é—

Rose então começou a chorar, abrindo a porta e gritando.

- Mãe, tem como você ir embora, porra?

Rose então olhou para o chão, soluçando. Avery lutou contra suas próprias lágrimas e obedeceu sua filha. Ao passar por Rose, ela precisou se esforçar para não abraçá-la nem dizer mais nada. Por fim, simplesmente saiu pela porta, em direção à rua fria.

Mas o barulho da porta batendo foi muito mais frio do que a temperatura lá fora.



***



Avery começou a chorar antes mesmo de ligar o carro. Ao voltar à estrada em direção a sua nova casa, fez o possível para controlar seus soluços. Com lágrimas caindo em seu rosto, deu-se conta de que havia chorado mais nos últimos cinco ou seis meses do que no restante de sua vida. Primeiro, a morte de Jack. Depois, Ramirez. E agora isso.

Talvez Rose estivesse certa. Talvez ela fizesse mesmo mal à filha. Porque, lá no fundo, as mortes de Jack e Ramirez eram culpa dela. Sua carreira ambiciosa havia levado um assassino até as pessoas que ela mais amava.

Ao mesmo tempo, ela havia afastado Rose. Sem falar que a carreira em questão havia acabado. Avery aposentara-se logo após o funeral de Ramirez, e mesmo sabendo que Connelly e O’Malley tinham deixado uma porta aberta para ela, aquele era um convite que Black sabia que jamais aceitaria.

Ela estacionou em sua calçada e entrou em casa com lágrimas ainda caindo. A parte ruim era que, ao abandonar completamente a carreira, sua vida estava vazia. Seu futuro marido havia sido morto, seu ex-marido também e, agora, seu único laço com o passado, sua filha, não queria nada com ela.

E ao invés de consertar isso, o que você fez? Alguma parte de Avery a perguntou. Parecia quase a voz de Ramirez, mostrando que ela estava piorando as coisas. Você saiu da cidade e se escondeu na floresta. Ao invés de enfrentar a dor e o que a vida te proporcionou, você fugiu e passou dias bebendo sozinha. E agora, o que você faz? Foge de novo? Ou tenta consertar?

De volta à casa, no entanto, Avery sentiu-se mais segura do que quando estava na frente da casa de Rose. Estar em casa pareceu diminuir a dor por sua filha ter batido a porta em sua cara. Sim, Avery sentiu-se covarde, mas simplesmente não via outra madeira de lidar com aquilo.

Ela está certa, pensou. Eu faço mal para ela. Nos últimos anos eu só deixei a vida dela mais difícil. Começou quando coloquei minha carreira acima do pai dela, e depois tudo piorou. Por mais que eu tentasse, meu trabalho ficou acima dela também. E aqui estamos de novo, mesmo depois da aposentadoria.

Ela me culpa pela morte do pai dela.

E não está totalmente errada.

Avery caminhou devagar até a cama que ainda precisava montar. Seu cofre pessoal ainda estava entre as caixas. Ao abri-lo, lembrou-se de entrar na sala de Jack e encontrá-lo morto. Pensou em Ramirez no hospital, seriamente ferido antes de ter sido assassinado.

Suas mãos estavam sujas com aquelas duas mortes. E ela jamais havia conseguido limpá-las.

Avery abriu o cofre e pegou sua Glock. Em suas mãos, a arma parecia algo familiar, como uma velha amiga.

Lágrimas ainda estavam caindo quando ela encostou-se na cabeceira. Olhou para a arma, estudando-a. Aquela ou outras muito parecidas haviam lhe acompanhado pelas últimas duas décadas, muito mais de perto do que qualquer pessoa. Por isso, sentiu-se muito natural ao colocar o cano da arma em seu queixo. O toque da arma era gelado, porém lhe fez bem.

Avery suspirou ao posicionar a arma de maneira que, ela sabia, faria a bala passar no melhor ângulo. Seu dedo encontrou o gatilho e tremeu.

Imaginou se chegaria a ouvir o som do tiro antes de apagar e, caso ouvisse, se o barulho seria tão alto quanto Rose batendo a porta.

Seu dedo encontrou no gatilho e ela fechou os olhos.

A campainha tocou, lhe fazendo pular.

Seu dedo soltou o gatilho e seu corpo inteiro amoleceu. A Glock caiu no chão.

Quase, Avery pensou ao sentir o coração pulsando de tanta adrenalina. Mais um segundo e meu cérebro estaria espalhado pelo chão.

Ela olhou para a Glock e a jogou longe, como se fosse uma cobra venenosa. Escondeu seu rosto com as mãos e secou as lágrimas.

Você quase se matou, a voz que poderia ou não ser Ramirez disse. Isso não te faz se sentir covarde?

Avery afastou aquele pensamento ao se levantar e seguir para a porta. Ela não fazia ideia de quem poderia estar ali. Ousou esperar que fosse Rose, mas sabia que não seria o caso. Rose era exatamente como sua mãe—teimosa demais.

Ela abriu a porta e não viu ninguém. Viu, no entanto, um carro dos correios indo embora. Olhou para a entrada da casa e viu uma pequena caixa. Pegou-a e leu seu próprio nome e seu novo endereço nela. O lado do remetente não tinha nome, apenas um endereço de Nova York.

Avery abriu a caixa devagar. Não era pesada e, dentro, havia muitos papeis de jornal. Retirou-os e encontrou apenas uma coisa no fundo.

Era um simples pedaço de papel, dobrado ao meio. Ela abriu, e quando leu a mensagem, seu coração parou por um momento.

Instantaneamente, Avery não sentiu mais a necessidade de se matar.

Ela leu a mensagem várias vezes, tentando encontrar algum sentido. Seu cérebro trabalhou, buscando uma resposta. E com algo como aquilo para descobrir, o simples fato de pensar na morte já estava fora de questão.

Sentou-se no sofá e olhou para o papel, lendo várias e várias vezes.



quem é você, avery?

Com amor,

Howard




CAPÍTULO TRÊS


Nos dias seguintes, Avery seguiu tocando a área embaixo de seu queixo onde havia colocado a arma. Sua pele parecia irritada, como quando picada por um inseto. Sempre que se deitava para dormir e seu pescoço esticava quando sua cabeça encostava no travesseiro, aquela área parecia ficar exposta e vulnerável.

Ela precisava encarar o fato de que havia chegado ao fundo do poço. Mesmo que tivesse conseguido escapar, ela havia chegado lá. Para sempre, aquela seria uma lembrança, e parecia que seu corpo não queria que ela se esquecesse daquilo.

Nos três dias seguintes ao seu quase suicídio, Avery esteve mais depressiva do que nunca em sua vida. Passou aqueles dias jogada no sofá. Tentou ler, mas não conseguia se concentrar. Tentou motivar-se para correr, mas sentiu-se muito cansada. Seguiu lendo o bilhete de Howard, segurando-o por tanto tempo que o papel já estava gasto.

Avery parou de beber tanto após receber a carta de Howard. Devagar, como uma larva, começou a sair do seu casulo de auto-pena. Aos poucos, começou a se exercitar. Também fez palavras cruzadas e Sudoku, apenas para trabalhar a mente. Sem trabalho, e sabendo que tinha dinheiro suficiente para passar um ano sem se preocupar com nada, seria muito fácil tornar-se preguiçosa.

Mas a encomenda de Howard havia apagado sua letargia. Avery agora tinha um mistério para resolver, algo que se tornou uma tarefa. E quando Avery Black tinha uma tarefa, ela não parava até resolvê-la.

Uma semana depois de receber a carta, seus dias começaram a ter uma rotina. Ainda era a rotina de um eremita, mas ela estava se sentindo melhor. Avery estava sentindo que poderia haver algo pelo qual ela poderia viver. Desafios mentais sempre a inspiravam, e estavam lhe inspirando para as semanas por vir.

Suas manhãs começavam às sete. Ela saía para correr, fazendo um trajeto de três quilômetros ao redor da casa na primeira semana. Voltava para casa, tomava café da manhã e relia os arquivos de seus casos antigos. Tinha mais de cem em seu arquivo pessoal, todos resolvidos. Mas ela os relia apenas para se manter ocupada e para lembrar a si mesma que, mesmo com algumas falhas, ela havia tido sucesso na maioria dos casos.

Também passava uma hora por dia tirando suas coisas das caixas e as organizando. Depois, almoçava e fazia palavras cruzadas ou outro tipo de desafio. Então, fazia um circuito de exercícios no quarto—uma sessão rápida de abdominais, flexões, prancha e outros exercícios de core. Passava algum tempo vendo os arquivos de seu último caso—o caso que acabara com a morte de Jack e Ramirez. Alguns dias, olhava-os por dez minutos. Outros, por duas horas.

O que havia dado errado? O que ela tinha deixado passar? Ela teria sobrevivido ao caso se não fosse pela interferência de Howard Randall?

Então, era hora de jantar, ler um pouco, limpar um pouco mais a casa e, então, dormir. Era uma rotina sem muitos acontecimentos, mas ainda assim, uma rotina.

Avery levou dois meses para deixar a casa limpa e em ordem. Por fim, suas corridas de três quilômetros já haviam se tornado oito. Ela já não estava mais lendo os arquivos antigos ou os relatórios do último caso. Ao invés disso, estava lendo livros que tinha comprado na Amazon, com dramas e crimes da vida real e obras policiais de não-ficção. Também havia escolhido alguns livros com avaliações psicológicas dos assassinos em série mais famosos da história.

Avery não estava completamente ciente de que aquela era sua maneira de preencher o vazio que seu trabalho deixara. Quanto mais o tempo passava, mais ela imagina o que seria de seu futuro.

Em uma manhã, enquanto corria em volta do lago Walden, com o frio queimando seus pulmões e trazendo uma sensação mais prazerosa do que qualquer outra coisa, aquele pensamento a atingiu mais forte do que nunca. Sua mente estava cheia de perguntas sobre a encomenda de Howard Randall.

Primeiro, como ele sabia onde ela estava morando? Por quanto tempo ele sabia? Antes da encomenda, Avery imaginava que ele tinha morrido ao cair na água na noite que finalizou aquele terrível caso. Seu corpo nunca fora encontrado, mas a polícia acreditava que ele havia sido atingido por um tiro de um dos policiais antes de cair na água. Enquanto corria, Avery tentou pensar em uma lista de próximas passos para descobrir onde ele estava e porque ele tinha enviado aquela mensagem estranha: Quem é você?

A encomenda veio de Nova York, mas obviamente ele está perto de Boston. Como ele saberia que eu me mudei? Como ele saberia onde ou moro?

Aquilo, é claro, trouxe à sua mente imagens de Randall escondido entre as árvores e olhando para sua casa.

Que sorte a minha, ela pensou. Todo mundo na minha vida morreu ou me expulsou. Faz sentido que um assassino seja o único que pareça se importar comigo.

Ela sabia que a encomenda em si não traria respostas. Já sabia quando e de onde a caixa havia sido enviada. Era apenas Randall a provocando, fazendo-a saber que ele ainda estava vivo, à solta, e interessado nela de um jeito ou de outro.

A encomenda estava em sua mente quando Avery voltou da corrida. Ao tirar as luvas e a touca, com a bochecha rosa do frio, caminhou até onde havia deixado a caixa. Ela já tinha olhado a caixa inteira, procurando por pistas ou por significados escondidos deixados por Randall, mas não encontrara nada. Também não encontrara nada nas folhas de jornal amassadas. Havia lido todos os artigos no papel amassado, e nada parecia fazer sentido. Era apenas papel amassado. Mesmo assim, Avery havia lido e relido cada linha dos artigos várias vezes.

Ela estava mexendo ansiosamente na caixa quando seu telefone tocou. Pegou-o da mesa da cozinha e olhou o número na tela por um momento. Sorriu hesitantemente e tentou ignorar a alegria que tomou conta de seu coração.

Era Connelly.

Seus dedos congelaram por um momento porque, na verdade, ela não sabia o que fazer. Se ele tivesse ligado duas ou três semanas antes, Avery teria simplesmente ignorado a ligação. Mas agora... bom, algo era diferente agora, certo? E por mais que ela odiasse admitir, sabia que precisava agradecer a Howard Randall e sua carta por aquilo.

No último toque antes que a chamada caísse na caixa de mensagens, Avery atendeu.

- Ei, Connelly – ela disse.

Houve um silêncio do outro lado da linha antes que Connelly respondesse.

- Ei, Black. Eu... bom, eu vou ser sincero. Eu estava esperando falar com sua caixa de mensagens.

- Desculpe te decepcionar.

- Não, nada disso. Estou feliz em ouvir sua voz. Já faz um tempo.

- Sim, tem sido estranho.

- Devo entender que você se arrependeu de se aposentar tão cedo?

- Não, eu não diria tanto. Como vão as coisas?

- Vão... vão bem. Digo, tem um vazio na equipe que costumava ser preenchido por você e Ramirez, mas estamos nos virando. Finley está melhorando muito. Ele tem trabalhado muito próximo ao O’Malley. Acho que Finley, cá entre nós, levou a sério quando você saiu. Ele decidiu que se alguém fosse pegar seu lugar, seria ele.

- Bom ouvir isso. Diga a ele que eu sinto falta dele.

- Bom, eu esperava que você pudesse vir e dizer isso a ele pessoalmente – Connelly disse.

- Acho que ainda não estou pronta para uma visita – ela respondeu.

- Bom, eu nunca fui bom em conversa fiada – Connelly disse. – Vou direto ao ponto.

- É o que você faz de melhor – Avery disse.

- Olhe... temos um caso—

- Pode parar – ela disse. – Não vou voltar. Não agora. Provavelmente nunca, ainda que eu não possa negar totalmente essa possibilidade.

- Só me ouça, Black – ele disse. – Espere até ouvir os detalhes. Na verdade, você provavelmente já ouviu sobre ele. Está nos jornais todo dia.

- Não assisto jornal – ela disse. – Cara, eu só uso o computador para entrar na Amazon. Não me lembro da última vez que li uma notícia.

- Bem, é estranho demais e nós não estamos conseguindo entender. Eu e O’Malley bebemos até tarde ontem e decidimos que precisávamos ligar para você. Isso não se trata somente de eu puxando seu saco e tentando te convencer... mas você é a única pessoa em quem nós pensamos que poderia resolver essa. Se você não viu nos jornais, eu posso te contar o que—

- A resposta é não, Connelly – Avery disse, interrompendo. – Eu agradeço a ideia e o convite, mas não. Se um dia eu estiver pronta para pensar em voltar, eu vou te ligar.

- Um homem está morto, Avery, e o assassino pode não ter acabado seu serviço – ele disse.

Por algum motivo, ouvi-lo dizer seu primeiro nome a chamou atenção.

- Desculpe, Connelly. Por favor mande um oi para o Finley.

E então, ela desligou. Olhou para o telefone, perguntando-se se havia cometido um erro. Avery estaria mentindo se dissesse a si mesma que a ideia de voltar ao trabalho não era animadora. Até o fato de ouvir a voz de Connelly a fez ter saudades daquela parte de sua antiga vida.

Você não pode, disse a si mesma. Se você voltar ao trabalho agora, basicamente você estará dizendo a Rose que você não está nem aí para ela. E você estará correndo para os braços da criatura que te colocou onde você está agora.

Avery levantou-se e olhou pela janela. Olhou as árvores, as sombras, e então pensou na carta de Howard Randall.

E na pergunta de Howard Randall.

Quem é você?

Ela estava começando a achar que não sabia a resposta. E talvez estar longe do trabalho fosse o motivo.



***



Avery mudou sua rotina naquela tarde pela primeira vez desde que havia a estabelecido. Dirigiu até o sul de Boston, no cemitério de St. Augustine. Era um lugar que ela vinha evitando desde a mudança, não só pela culpa, mas também porque o destino parecia ter sido manipulado para forçar aquele golpe em sua vida. Ramirez e Jack estavam enterrados naquele cemitério, e ainda que estivesse a várias filas de distância, aquilo não importava para Avery. Para ela, o resultado de suas falhas estava representado no mesmo pedaço de grama.

Por isso aquela era sua primeira visita ao local desde os funerais. Ela ficou no carro por um momento, olhando para a lápide de Ramirez. Saiu do carro devagar e caminhou até onde o homem com quem ela teria se casado descansava. O túmulo era modesto. Alguém havia recentemente colocado um buquê de flores ali—provavelmente a mãe dele. Flores que morreriam no frio em poucos dias.

Avery não sabia o que dizer, mas imaginou que fosse normal. Se Ramirez soubesse que ela estava ali e se ele pudesse ouvir suas palavras (e Avery realmente acreditava naquilo), ele saberia que ela nunca fora a melhor com sentimentos. Provavelmente, seja lá onde ele estivesse, ele estava surpreso por ela estar ali.

Ela colocou a mão no bolso e puxou o anel que Ramirez pretendia entregá-la.

- Saudades de você – disse. – Sinto sua falta e estou... perdida. Não preciso mentir para você... não é só porque você se foi. Não sei o que fazer. Minha vida está destruída e a única coisa que poderia deixar tudo estável de novo—o trabalho—é provavelmente a pior ideia.

Avery tentou imaginar ele ali, a seu lado. O que ele diria? Ela sorriu ao imaginar ele franzindo a testa, de seu jeito sarcástico. Ligue o foda-se e entre nessa. Ele diria isso. Volte ao trabalho e faça o que você quer da sua vida.

- Você não está ajudando – Avery disse com sua própria expressão de sarcasmo. Ela assustou-se um pouco ao perceber o quão natural era conversar com a lápide de Ramirez. – Você me diria para voltar ao trabalho e ver o que acontece, não é?

Avery olhou para o túmulo, como se estivesse esperando uma resposta. Uma lágrima caiu de seu olho direito. Ela a secou e virou-se, na direção do túmulo de Jack. Ele havia sido enterrado no outro lado do cemitério, em uma lugar que ela mal podia ver dali. Caminhou pelo caminho estreito e aproveitou o silêncio. Não deu atenção às outras poucas pessoas que estavam ali, deixando-os também aproveitar sua privacidade.

No entanto, ao se aproximar do túmulo de Jack, Avery viu alguém parado ali. Era uma mulher, pequena e com a cabeça baixa. Com mais alguns passos, Avery viu que era Rose. Suas mãos estavam nos bolsos e ela vestia um moletom com touca, que cobria seu rosto.

Avery não queria chamá-la, esperando poder chegar perto o suficiente para que elas pudessem conversar. Mas depois de mais alguns passos, Rose pareceu sentir que alguém estava se aproximando. Ela virou-se, viu Avery, e imediatamente começou a se afastar.

- Rose, não seja assim – Avery disse. – Podemos conversar só um minuto?

- Não, mãe. Senhor, como você consegue estragar até isso?

- Rose!

Mas Rose não tinha mais nada a dizer. Ela acelerou seus passos e Avery fez o possível para não segui-la. Mais lágrimas caíram de seu rosto quando ela virou sua atenção para o túmulo de Jack.

- De quem ela puxou essa teimosia? – Avery perguntou ao túmulo.

Assim como Ramirez, obviamente a lápide de Jack estava em silêncio. Avery virou-se para a direita e viu Rose se distanciando. Ela caminhou rapidamente, até sumir completamente ao longe.




CAPÍTULO QUATRO


Quando Avery entrou no consultório da Doutora Higdon, sentiu-se vivendo um clichê. A doutora em si era muito equilibrada e educada. Ela parecia ter a cabeça sempre levemente apontada para cima, mostrando perfeitamente a ponta de seu nariz e seu queixo. Era uma mulher bonita, talvez até mais do que isso.

Avery havia lutado contra a vontade de ir a uma psicóloga, mas conhecia sua mente o suficiente para saber que precisava daquilo. E era difícil admitir aquilo a si mesma. Ela odiava a ideia de visitar uma psicóloga e não queria recorrer aos serviços fornecidos pela polícia de Boston—com profissionais que ela havia visitado algumas vezes ao longo dos anos em outros momentos difíceis da carreira.

Por isso, Avery escolheu visitar a Doutora Higdon, uma psicóloga de quem havia ouvido falar um ano antes, durante um caso envolvendo um suspeito que visitara a profissional para superar uma série de medos irracionais.

- Agradeço por você me atender tão rapidamente – Avery disse. – Eu estava esperando conseguir um horário só para daqui a algumas semanas.

Higdon encolheu os ombros e sentou-se em sua cadeira. Quando Avery sentou-se no sofá, a sensação de se tornar um clichê ambulante aumentou.

- Bom, eu já vi seu nome algumas vezes nos noticiários – Higdon disse. – E seu nome já apareceu aqui com outros pacientes, pessoas que aparentemente cruzaram seu caminho no trabalho. Então, eu tinha um horário livre hoje e imaginei que seria legal te conhecer.

Percebendo que não era comum conseguir uma consulta com uma psicóloga respeitada apenas dois dias depois de telefonar, Avery sabia que não deveria fazer pouco caso da oportunidade. E, sabendo que não era de rodeios, decidiu ir direto ao ponto.

- Eu quis visitar uma psicóloga porque, sinceramente, minha cabeça está uma bagunça ultimamente. Uma parte me diz que vou melhorar com o tempo. Outra me diz que eu só vou melhorar se fizer algo produtivo e familiar—o que me levaria de volta ao trabalho.

- Eu sei muito pouco sobre a melhora que você está procurando – Higdon disse. – Você pode me explicar melhor?

Avery passou os dez minutos seguintes contando sua história. Ela começou contando como seu último caso havia terminado, com a morte de seu ex-marido e de seu possível noivo. Falou também sobre ter se mudado para longe da cidade e dos episódios recentes com Rose, tanto no apartamento da filha quanto ao lado da lápide de Jack.

A Doutora Higdon começou a fazer perguntas imediatamente, e não parou de tomar anotações durante o tempo todo que Avery falou.

- A mudança para o lago Walden... o que te fez querer isso?

- Eu não queria ver gente. Lá é mais isolado, mais quieto.

- Você sente que é mais fácil ficar bem, emocional e fisicamente, quando está sozinha? – Higdon perguntou.

- Não sei. Eu só... eu não queria estar em um lugar onde as pessoas poderiam vir ver como eu estou centenas de vezes por dia.

- Você sempre teve problemas com as pessoas no que diz respeito ao seu bem-estar?

Avery encolheu os ombros.

- Não mesmo. É mais sobre vulnerabilidade, eu acho. No meu trabalho, vulnerabilidade leva à fraqueza.

- Eu duvido disso. No que diz respeito à percepção, provavelmente—mas não no estado real das coisas. – A doutora parou por um momento e depois continuou. – Eu não vou tentar ficar enrolando com outros assuntos para ir sutilmente ao ponto chave – ela disse. – Eu sei que você perceberia. Além disso, o fato de você admitir um medo de vulnerabilidade me diz muita coisa. Então acho que posso ir direto ao ponto.

- Eu preferiria – Avery disse.

- O tempo que você passou sozinha em casa... você acredita que te ajudou a melhorar ou atrapalhou?

- Acho que é um exagero dizer que ajudou, mas tornou as coisas mais fáceis. Eu sabia que não teria que lidar com o ataque das pessoas perguntando como eu estou.

- Você tentou falar com alguém durante esse tempo?

- Só minha filha – Avery disse.

- Mas ela rejeitou todas suas tentativas de se reconectar?

- Isso. Tenho certeza que ela me culpa pela morte do pai.

- Para ser sincera, provavelmente isso é verdade – Higdon disse. – E ela vai se dar conta disso no tempo dela. O luto de cada pessoa é diferente. Ao invés de fugir para uma casa no meio da floresta, sua filha escolheu colocar a culpa em você. Agora, deixe-me perguntar... por que você saiu do trabalho?

- Porque eu senti que tinha perdido tudo – Avery disse. Ela nem precisou pensar para responder. – Senti que tinha perdido tudo e falhado no trabalho. Não podia ficar, porque aquilo me lembrava que eu não era tão boa.

- Você ainda sente que você não é tão boa?

- Bom... não. Posso parecer arrogante, mas eu sou muito boa no que eu faço.

- E você sentiu falta do trabalho pelos últimos três meses, certo?

- Sim – Avery admitiu.

- Você acha que seu desejo de voltar é só para voltar a ter sua vida de antes ou você acha que pode ter algum progresso a ser feito lá?

- Então, eu não sei. Mas estou chegando ao ponto onde eu acho que tenho que descobrir. Eu acho que tenho que voltar.

A Doutora Higdon assentiu e escreveu algo.

- Você acha que sua filha vai reagir negativamente se você voltar?

- Sem dúvidas.

- Tudo bem, então vamos dizer que ela não está nessa conta. Vamos dizer que Rose não está nem aí se você vai voltar ou não. Você hesitaria em voltar?

A resposta atingiu Avery como uma pontada na cabeça.

- Provavelmente não.

- Acho que sua resposta está aí – Higdon disse. – Acho que, nesse ponto do processo de luto, você e sua filha não podem se intrometer uma no luto da outra. Rose precisa culpar alguém nesse momento. É o jeito dela de lidar com isso... e a relação difícil de vocês deixa tudo mais fácil para ela. E você... eu quero dizer que voltar ao trabalho é o que vai poder te ajudar.

- Você quer dizer? – Avery perguntou, confusa.

- Sim, eu acho que é o que faz mais sentido, dada sua história e seus relatos. No entanto, durante esse tempo sozinha, isolada de todos, você chegou a ter pensamentos suicidas?

- Não – Avery mentiu. A mentira foi fácil e sem arrependimentos. – Eu ando mal, de fato. Mas não tanto.

Sim, ela havia omitido seu quase-suicídio. Também não havia mencionado a encomenda de Howard Randall ao contar sobre seus últimos meses. Ela não sabia porque. Naquele momento, aquilo apenas parecia algo muito particular.

- Se é assim – Higdon disse, - não vejo problemas em você voltar ao trabalho. Mas acho que você deveria ter alguém como parceiro. E eu sei que pode ser difícil, pensando em quem era seu último parceiro. Mesmo assim... você não pode ser colocada em situações de muito estresse sozinha, pelo menos não já. Eu recomendaria que você fizesse um trabalho mais leve por enquanto. Talvez algo de escritório.

- Sendo sincera... isso não vai acontecer.

Higdon sorriu levemente.

- Então você acha que é isso o que você vai fazer? Você vai ver se a volta ao trabalho pode ajudar você a se livrar dessas dúvidas e culpas sobre si mesma?

- Logo, logo – Avery disse, pensando na ligação de Connelly, dois dias antes. – Sim, acho que pode ajudar.

- Bom, te desejo sorte - Higdon disse, estendendo a mão para cumprimentar Avery. - Enquanto isso, sinta-se à vontade para me ligar se precisar de algo.

Avery apertou a mão de Higdon e saiu do consultório. Ela odiava admitir, mas estava se sentindo melhor do que nas últimas semanas—desde quando havia finalmente encontrado uma rotina de exercícios físicos e da mente. Percebeu que, agora, poderia pensar mais claramente, e não porque Higdon tinha descoberto alguma verdade escondida. Avery precisava simplesmente que alguém a dissesse que, mesmo que Rose fosse a única pessoa restante em sua vida fora do trabalho, aquilo não significava que seu medo de como Rose a via deveria ditar como ela viveria o resto de sua vida.

Avery entrou em seu carro e dirigiu de volta até sua casa. Ela viu os prédios altos de Boston ficando para trás. A sede do A1 ficava a cerca de vinte minutos dali. Ela poderia ir até lá, visitar a todos e ser bem recebida. Poderia simplesmente tirar o curativo e ir até lá.

Mas ela não merecia ser bem recebida. Na verdade, ela não sabia o que merecia.

E talvez era daí que vinha sua hesitação.



***



O pesadelo daquela noite não era novo, mas havia apresentado uma mudança na história.

Nele, Avery estava em uma sala de visitação de uma prisão. Não era a mesma onde ela havia visitado Howard Randall algumas vezes, mas sim algo muito maior e quase com aparência grega. Rose e Jack estavam na mesa, com um tabuleiro de xadrez entre eles. Todas as peças seguiam no tabuleiro, mas os reis estavam caídos.

- Ele não está aqui – Rose disse, com sua voz ecoando pela sala. – Sua pequena arma secreta não está aqui.

- É isso – Jack disse. – Já é hora de aprender a resolver seus maiores casos sozinha.

Jack então passou uma mão pelo rosto e, num piscar de olhos, estava exatamente como Avery tinha encontrado seu corpo no dia de sua morte. O lado direito do rosto estava lavado de sangue. Quando ele abriu a boca para falar, não havia língua em sua boca. Havia apenas uma escuridão entre os dentes, um abismo de onde vinham suas palavras e onde, Avery suspeitava, Jack queria que ela estivesse.

- Você não conseguiu me salvar – ele disse. – Não conseguiu me salvar e agora eu tenho que confiar minha filha a você.

Rose levantou-se nesse momento e começou a se afastar da mesa. Avery levantou-se também, certa de algo muito ruim aconteceria se Rose saísse de seu campo de vista. Ela tentou seguir sua filha, mas não conseguiu se mover. Olhou para baixo e viu que seus dois pés estavam pregados no chão com pregos de estradas de ferro. Seus pés estavam machucados, uma mistura de sangue, ossos e carne.

- Rose!

Mas sua filha apenas olhou para trás, sorrindo e acenando. E quanto mais longe ela ia, maior a sala parecia. Sombras vinham de todas as direções enquanto Rose diminuía.

- Rose!

- Tudo bem – uma voz disse atrás de Avery. – Eu vou cuidar dela.

Ela virou-se e viu Ramirez, segurando sua arma e olhando para as sombras. Ramirez começou a seguir Rose, e as sombras vieram atrás dele.

- Não! Fique!

Avery tentou sair do chão, mas seus pés seguiam trancados. Ela pode apenas ver as duas pessoas que mais amava no mundo sendo engolidas pela escuridão.

E nessa hora ela começou a gritar, fugindo da sombra, com Rose e Ramirez sumindo da sala, tomada por gritos de agonia.

Ainda à mesa, Jack disse:

- Pelo amor de Deus, faça algo!

Foi nesse momento que Avery pulou na cama, com um grito saindo de sua garganta. Ela acendeu o abajur com as mãos tremendo. Por um momento, não pode entender o quarto enorme a sua frente, mas logo seus olhos se acostumaram com a luz. Olhou em volta pelo quarto e, pela primeira vez, perguntou-se se um dia se sentiria em casa ali.

Avery encontrou-se pensando na ligação de Connelly. E depois na encomenda de Howard Randall.

Sua antiga vida estava a assombrando, claro, mas além disso, estava invadindo a nova vida, isolada, que ela estava tentando construir.

Parecia não haver escapatória.

Então talvez—apenas talvez—fosse hora de escapar.




CAPÍTULO CINCO


Ao decidir parar de beber muito durante o período mais triste de seu processo de luto, Avery havia começado vagarosamente a trocar o álcool por cafeína. Suas sessões de leitura geralmente eram acompanhadas de duas xícaras de café com uma Coca Diet entre elas. Por conta disto, ela havia começado a sentir pequenas dores de cabeça quando passava mais de um dia sem café. Não era a maneira mais saudável de viver, mas com certeza era melhor do que ingerir álcool todos os dias.

Por isso Avery foi até uma cafeteria depois do almoço no dia seguinte. Ela havia saído de casa para ir à mercearia porque estava sem café em casa, mas como só havia tomado uma xícara no dia, decidiu ir à cafeteria para solucionar o problema rapidamente. Ela tinha um livro para terminar de ler, mas também pretendia ir à floresta para mais uma caça aos veados.

A cafeteria era um local popular na localidade, e quatro pessoas estavam trabalhando em seus MacBooks por lá. A fila no balcão era grande, mesmo ainda sendo bem cedo. O burburinho das conversas tomava conta do local, misturando-se ao barulho da máquina de café e ao volume baixo da TV, nos fundos do estabelecimento.

Avery foi até o caixa, pediu seu café expresso e escolheu um lugar na área de espera. Passou o tempo olhando para o pequeno quadro de cortiça, repleto de fliers de eventos locais: shows, corridas, eventos beneficentes, etc.

Então, percebeu uma conversa a seu lado. Fez o possível para não parecer óbvio que ela estava prestando atenção, mantendo seu olhos focados no quadro de eventos.

Havia duas mulheres a seu lado. Uma tinha vinte e poucos anos e tinha um sling no peito. O bebê descansava tranquilamente no aconchego da mãe. A outra mulher era um pouco mais velha e tinha um café em mãos, mas não parecia estar prestes a sair da cafeteria.

As duas estavam prestando atenção à TV. Elas conversavam em voz baixa, mas Avery pode entender com facilidade.

- Meu Deus... você soube dessa história? – a mãe da criança dizia.

- Sim – a outra mulher respondeu. – Parece que as pessoas estão encontrando novas maneiras de machucar umas às outras. Que tipo de mente doente você precisa ter para simplesmente pensar em algo assim?

- Parece que ainda não encontraram o maluco – a mãe disse.

- Provavelmente nem vão encontrar – a outra respondeu. Se fossem pegar esse cara, eles já teriam pelo menos pistas. Senhor... imagine a família desse pobre cara, tendo que ver todas essas notícias.

A atenção de Avery voltou-se então para a barista, que chamou seu nome e a entregou o café no balcão. Avery o pegou e, agora olhando para a TV, permitiu-se assistir ao noticiário pela primeira vez em quase três meses.

Uma morte havia acontecido nos arredores da cidade uma semana antes, em um complexo de apartamentos simples. Não fora uma morte qualquer, e sim um assassinato bizarro. A vítima fora encontrada em seu closet, coberta de aranhas de várias espécies. A polícia estava trabalhando com a hipótese de que o ato fora intencional, já que metade das aranhas eram de espécies que não eram nativas da região. Mesmo com muitas aranhas na cena do crime, apenas duas picadas haviam sido encontrados no corpo, e nenhuma fora venenosa. De acordo com o noticiário, até então, a polícia estava trabalhando com a hipótese de que o homem havia sido morto ou por estrangulamento, ou de ataque cardíaco.

São duas causas bem diferentes para uma morte, Avery pensou ao começar a se virar.

Ela não pode deixar de imaginar se aquele era o quase para o qual Connelly havia lhe chamado três dias antes. Um caso totalmente bizarro e, até então, sem respostas concretas. É, provavelmente é esse o caso, ela pensou.

Com seu café em mãos, Avery saiu. Ela tinha o resto da tarde pela frente, mas já sabia onde deveria ir. Gostando da ideia ou não, provavelmente ela ficaria de frente com muitas aranhas.



***



Avery passou o restante da tarde se familiarizando com o caso. A história em si era tão mórbida que ela não teve dificuldades em encontrar muitas informações. Ao realizar sua pesquisa, encontrou onze fontes confiáveis que contavam a história do que havia acontecido com um homem chamado Alfred Lawnbrook.

O dono do apartamento onde Lawnbrook morava havia entrado na casa querendo cobrar um atraso de duas semanas no aluguel e notara que algo estava errado imediatamente. Ao ler aquilo, Avery não pode deixar de comparar a situação com sua recente experiência com Rose e o dono do apartamento que sua filha alugava e, na verdade, assustou-se muito com isso. Alfred Lawnbrook havia sido encontrado em seu closet. Ele estava parcialmente enrolado em pelo menos três diferentes teias de aranha, com duas picadas diferentes—picadas que, pelo que o noticiário havia dito, não haviam causado muitos danos.

Mesmo sendo impossível ter um número exato, a estimativa era de que entre quinhentas e seiscentas aranhas haviam sido encontradas na cena. Algumas delas eram exóticas e não fazia sentido que elas estivessem em um apartamento em Boston. Uma aracnóloga havia sido chamada para ajudar no caso e encontrado pelo menos três espécies que não eram nativas dos Estados Unidos, muito menos de Massachusetts.

Então foi algo intencional, Avery pensou. Muito. Tão intencional que faz pensar que esse cara vai agir de novo. E se ele vai agir de novo da mesma maneira, tem que ser possível encontrá-lo e pará-lo.

O relatório do legista dizia que Lawnbrook havia morrido de ataque cardíaco, provavelmente pelo medo sentido diante da situação. Claro, já que ninguém havia presenciado a cena do crime, havia muitos outros cenários possíveis. Ninguém poderia ter certeza.

Era, de fato, um caso interessante... e um tanto quanto mórbido. Avery não tinha muito medo, mas aranhas gigantes certamente estavam no topo de sua lista de Coisas Para Ficar Longe. E mesmo que imagens do crime não tivessem sido divulgadas pela mídia (ainda bem!), Avery podia imaginar a cena.

De posse de todas as informações, Avery olhou pela janela por um bom tempo. Depois, foi até a cozinha e moveu-se em silêncio, como se estivesse com medo de ser flagrada. Pegou uma garrafa de whisky pela primeira vez em meses e serviu uma dose a si mesma. Tomou-a rapidamente e pegou seu telefone. Procurou o número de Connelly e apertou em LIGAR.

Ele atendeu ao segundo toque—algo muito rápido para os padrões de Connelly. Avery imaginou que aquilo queria dizer algo, dada toda a situação.

- Black – ele disse. – Eu não esperava que você ligasse.

Avery ignorou as formalidades e disse:

- Então, esse caso pelo qual você me ligou... Era esse envolvendo Alfred Lawnbrook e as aranhas?

- Sim – Connelly respondeu. – A cena já foi analisada, o corpo também, e não temos absolutamente nada.

- Eu vou entrar nessa – ela disse. – Mas só nesse caso. E eu quero fazer isso nas minhas condições. Não quero ninguém atrás de mim só porque passei por momentos difíceis. Pode ser?

- Vou fazer o possível.

Avery suspirou, resignada ao perceber como era bom se sentir útil e como sua vida em breve voltaria a ser como antes.

- Tudo bem – ela disse. – Vejo você no A1 amanhã cedo.




CAPÍTULO SEIS


Avery não sabia ao certo o que esperar quando voltou à sede da polícia pela primeira vez depois de mais de três meses. Talvez algumas borboletas no estômago ou uma onda de nostalgia. Talvez uma sensação de segurança, que a faria pensar em porque ela achou que seria uma boa ideia se demitir.

O que ela não esperava era não sentir nada. Mesmo assim, essa foi a sensação. Ao voltar ao A1 na manhã seguinte, não sentiu nada especial. Parecia quase que ela havia apenas perdido um dia de trabalho e estava voltando para outro dia—um outro dia comum, exatamente como antes.

No entanto, aparentemente, ela era a única no local que estava se sentindo daquele jeito. Ao entrar no prédio e caminhar em direção a sua velha sala, Avery percebeu que a movimentação típica das manhãs ia ficando em silêncio quando ela passava. Era quase como se uma onda de silêncio estivesse lhe seguindo. As recepcionistas ao telefone ficavam quietas, os murmurinhos de conversa eram interrompidos. Todos pareciam estar vendo uma celebridade entrando no prédio. Os olhos se arregalavam e as expressões eram de incredulidade. Avery perguntou-se por um momento se Connelly havia se preocupado em avisar a alguém que ela estava voltando.

Ao caminhar pela parte central do prédio em direção aos fundos, onde ficavam os escritórios e as salas de reunião, tudo pareceu mais natural. Miller, um funcionário de relatórios e pesquisa, acenou para ela. Denson, uma agente mais velha, prestes a se aposentar, sorriu, a cumprimentou e disse:

- É bom ter você de volta.

Avery retribuiu o sorriso, pensando: Eu não voltei.

No entanto, logo depois, outro pensamento veio à tona. Enfim. Minta para si mesma se quiser. Mas tudo parece muito natural. Parece a coisa certa.

Avery viu Connelly saindo de sua sala no fim do corredor. O homem que havia sido o motivo de várias de suas dores de cabeça ao longo dos anos. Mesmo assim, Avery estava feliz em vê-lo. O sorriso no rosto dele mostrava que a felicidade era mútua. Ele a encontrou no corredor e Avery pode ver que o capitão do A1—geralmente um durão de mão cheia—estava se segurando para não abraçá-la.

- Como foi entrar aqui de novo? – ele perguntou.

- Estranho – Avery disse. – Estão olhando para mim como se eu fosse uma celebridade ou algo do tipo. Não consegui decifrar se eles querem me matar com os olhos ou me aplaudir.

- Na verdade, eu estava preocupado, achei que eles iam se levantar e te ovacionar quando você entrasse. As pessoas sentem sua falta aqui, Black. Bom... sua e do Ramirez também.

- Agradeço, senhor.

- Bom. Porque eu estou prestes a te mostrar algo que vai te irritar. Olhe... lá no fundo, eu tinha a esperança de que você voltaria algum dia. Mas nós não poderíamos deixar o A1 inteiro parado, esperando esse dia chegar. Então você meio que não tem mais uma sala.

Connelly explicou aquilo a Avery enquanto a levava pelo corredor, na direção de sua antiga sala.

- Isso não é importante – Avery disse. – Quem ficou com aquela sala?

Connelly não respondeu. Ao invés disso, ele deu os últimos passos até a antiga sala de Avery e acenou com a cabeça para ela. Avery aproximou-se da porta e colocou a cabeça para dentro. Seu coração se aqueceu ao ver quem estava ali.

Finley estava sentado à mesa, tomando um gole de uma xícara de café e lendo algo no notebook. Quando ele viu Avery, seu rosto demonstrou várias emoções: susto, felicidade e um pouco de vergonha.

Ele não teve a mesma restrição de Connelly. No mesmo momento, levantou-se e encontrou Avery na porta com um abraço. Ela havia subestimado o quanto sentia falta dele. Mesmo os dois nunca tendo trabalhado de fato juntos, Avery havia gostado de ver Finley, aos poucos, crescendo como agente. Ele era engraçado, leal e tinha um coração genuinamente bom. Avery sempre o vira como um irmão distante no trabalho.

- É bom ter você de volta – Finley disse. – Sentimos sua falta por aqui.

- Eu já disse tudo isso para ela – Connelly disse. – Não vamos fazer ela ouvir tudo de novo no primeiro dia de volta.

Cara, eu não voltei, Avery pensou. Mas seu pensamento pareceu mais falso do que cinco minutos antes.

- Você quer que eu a leve até lá? – Finley perguntou.

- Sim, e logo. O’Malley vai querer conversar com ela depois e eu quero que ela saiba de tudo quando ele chegar aqui. Leve ela lá e conte tudo o que nós sabemos. Tente sair em menos de dez minutos, se você puder.

Finley assentiu, visivelmente feliz com a tarefa que lhe foi dada. Enquanto ele voltava para seu computador, Connelly voltou a falar com Avery.

- Venha comigo – ele disse.

Avery o seguiu pelo corredor, até a grande sala nos fundos. A sala de Connelly não havia mudado muito desde que Avery saíra. Ainda era desarrumada, mas de um jeito bom. Ele abriu a primeira gaveta de sua mesa e pegou duas coisas das quais Avery sentia mais falta do que provavelmente todas as pessoas naquele prédio.

Sua arma e seu distintivo. Ela sorriu ao pegá-los.

- Eu já preenchi os formulários para você – Connelly disse. – São seus. E sobre pagamentos e o tempo que você vai trabalhar, já estou lidando com a papelada também.

Avery realmente não se importava com o pagamento ou com o período que ela deveria ficar no caso. Quando seus dedos tocaram o distintivo e a Glock, ela sentiu algo voltando para o lugar certo em seu coração.

Por mais triste que fosse, o distintivo e a arma eram algo familiar.

Ela se sentia em casa com eles.



***



O crime havia acontecido seis dias antes e, portanto, a cena já estava vazia quando Avery e Finley chegaram ao local. Eles passaram por baixo da fita amarela e Avery viu Finley destrancar a porta do apartamento de Alfred Lawnbrook com uma chave que estava no envelope no bolso de sua camisa.

- Você tem medo de aranhas? – Finley perguntou quando eles entraram.

- Um pouco – Avery respondeu. – Mas essa informação não sai daqui, pode ser?

Finley assentiu, com um leve sorriso.

- Só pergunto porque mesmo que os aracnólogos tenham vindo e tirado elas daqui, pode ser que tenham sobrado algumas. As mais comuns, nada perigoso.

Finley levou Avery pelo apartamento. Era bem simples, e o design fez Avery pensar que Lawnbrook era ou divorciado, ou solteiro.

- Mas havia algumas que não eram espécies comuns aqui, certo?

- Com certeza – Finley disse. – Pelo menos três espécies. Uma era originária da Índia, eu acho. Eu tenho as anotações detalhadas no meu telefone se você quiser. O especialista em aranhas que analisou o local disse que havia pelo menos duas espécies na cena do crime quando o corpo foi encontrado que devem ter sido encomendadas de um traficante. E que elas devem ter sido difíceis de conseguir.

- Alguma era muito grande? – Avery perguntou.

- Acho que eles falaram que a maior tinha o tamanho de uma bola de golfe. E, para mim, isso já é grande demais.

Eles entraram no quarto e Avery fez o possível para não começar a procurar aranhas nas paredes e no chão. Ela escaneou o local rapidamente e o encontrou muito limpo. A porta do closet estava aberta, o que permitiu que Finley entrasse e acendesse a luz. Ele o fez rapidamente e saiu com a mesma velocidade.

- Lawnbrook estava caído aqui, no canto esquerdo – Finley disse. – Temos as fotos no A1 e tenho certeza que O’Malley vai querer analisá-las com você. Esse cara está fascinado com esse caso.

Avery parou na porta do closet. Além de algumas teias de aranha perdidas, não havia nada para ser visto.

Depois, ela saiu do quarto e começou a caminhar pela apartamento procurando sinais de entrada forçada. Finley a seguiu, mantendo distância e deixando-a trabalhar. Avery procurou por qualquer sinal de algo fora do lugar, mesmo alguma foto na sala, mas não encontrou nada. Ela analisou os livros na pequena prateleira ao lado da TV e não encontrou nada que conectasse Lawnbrook a aranhas.





Конец ознакомительного фрагмента. Получить полную версию книги.


Текст предоставлен ООО «ЛитРес».

Прочитайте эту книгу целиком, купив полную легальную версию (https://www.litres.ru/pages/biblio_book/?art=51923570) на ЛитРес.

Безопасно оплатить книгу можно банковской картой Visa, MasterCard, Maestro, со счета мобильного телефона, с платежного терминала, в салоне МТС или Связной, через PayPal, WebMoney, Яндекс.Деньги, QIWI Кошелек, бонусными картами или другим удобным Вам способом.



“Uma história dinâmica que te agarra desde o primeiro capítulo e não te solta mais.”–Midwest Book Review, Diane Donovan (sobre Sem Pistas)Do autor número 1 de bestsellers Blake Pierce, essa é a nova obra prima de suspense psicológico—a série AVERY BLACK—que continua agora com RAZÃO PARA TEMER (Livro 6), mais uma obra única. A série começa com RAZÃO PARA SE APAVORAR (Livro 1)—que tem download grátis e conta com mais de 200 avaliações de 5 estrelas!Uma mulher é encontrada morta em seu próprio apartamento, trancada no closet, com seu corpo no chão sob aranhas venenosas, e a polícia de Boston fica perplexa. Sem saber por onde investigar, eles temem que o assassino vá agir novamente. Desesperada, a polícia não tem outra alternativa senão recorrer à mais brilhante e controversa detetive de homicídios da cidade—Avery Black. Agora aposentada, Avery, passando por dias ruins em sua vida pessoal, reluta, mas concorda em ajudar no caso. No entanto, quando outros corpos começam a aparecer, mortos de maneiras grotescas e nada comuns, Avery não pode deixar de se perguntar: um assassino em série está à solta?Com muita pressão da mídia e sob o estresse de ter um parceiro novo e inexperiente, Avery é levada a seu limite para tentar resolver esse caso bizarro—sem se deixar cair em um abismo.Avery encontra-se cada vez mais se aprofundando na mente do assassino, que tem mais segredos do que ela poderia imaginar.O livro mais arrebatador e chocante da série, uma história psicológica com suspense de parar o coração, RAZÃO PARA SE APAVORAR vai fazer você ler páginas e páginas noite adentro.“Uma obra-prima de suspense e mistério. Pierce fez um trabalho magnífico criando personagens com lados psicológicos tão bem descritos que nos fazem sentir dentro de suas mentes, acompanhando seus medos e celebrando seu sucesso. Cheio de reviravoltas, este livro vai lhe manter acordado até que você chegue à última página.”–Books and Movie Reviews, Roberto Mattos (sobre Sem Pistas)

Как скачать книгу - "Razão Para Se Apavorar" в fb2, ePub, txt и других форматах?

  1. Нажмите на кнопку "полная версия" справа от обложки книги на версии сайта для ПК или под обложкой на мобюильной версии сайта
    Полная версия книги
  2. Купите книгу на литресе по кнопке со скриншота
    Пример кнопки для покупки книги
    Если книга "Razão Para Se Apavorar" доступна в бесплатно то будет вот такая кнопка
    Пример кнопки, если книга бесплатная
  3. Выполните вход в личный кабинет на сайте ЛитРес с вашим логином и паролем.
  4. В правом верхнем углу сайта нажмите «Мои книги» и перейдите в подраздел «Мои».
  5. Нажмите на обложку книги -"Razão Para Se Apavorar", чтобы скачать книгу для телефона или на ПК.
    Аудиокнига - «Razão Para Se Apavorar»
  6. В разделе «Скачать в виде файла» нажмите на нужный вам формат файла:

    Для чтения на телефоне подойдут следующие форматы (при клике на формат вы можете сразу скачать бесплатно фрагмент книги "Razão Para Se Apavorar" для ознакомления):

    • FB2 - Для телефонов, планшетов на Android, электронных книг (кроме Kindle) и других программ
    • EPUB - подходит для устройств на ios (iPhone, iPad, Mac) и большинства приложений для чтения

    Для чтения на компьютере подходят форматы:

    • TXT - можно открыть на любом компьютере в текстовом редакторе
    • RTF - также можно открыть на любом ПК
    • A4 PDF - открывается в программе Adobe Reader

    Другие форматы:

    • MOBI - подходит для электронных книг Kindle и Android-приложений
    • IOS.EPUB - идеально подойдет для iPhone и iPad
    • A6 PDF - оптимизирован и подойдет для смартфонов
    • FB3 - более развитый формат FB2

  7. Сохраните файл на свой компьютер или телефоне.

Книги автора

Аудиокниги автора

Рекомендуем

Последние отзывы
Оставьте отзыв к любой книге и его увидят десятки тысяч людей!
  • константин александрович обрезанов:
    3★
    21.08.2023
  • константин александрович обрезанов:
    3.1★
    11.08.2023
  • Добавить комментарий

    Ваш e-mail не будет опубликован. Обязательные поля помечены *