Книга - A Casa Perfeita

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A Casa Perfeita
Blake Pierce


Em A CASA PERFEITA (Livro # 3), a especialista em perfis criminais, Jessie Hunt, 29 anos, recém-saída da Academia do FBI, volta a ser perseguida por seu pai assassino, presa em um perigoso jogo de gato e rato. Enquanto isso, ela deve urgentemente parar um assassino em um novo caso que a leva ao subúrbio - e à beira de sua própria psique. A chave para sua sobrevivência, ela percebe, está em decifrar seu passado - um passado que ela nunca quis enfrentar de novo.Um thriller psicológico em ritmo acelerado com personagens inesquecíveis e suspense de cortar a respiração, A CASA PERFEITA é o livro # 3 de uma nova série fascinante que vai fazer você ler pela noite dentro.Livro #4 na série Jessie Hunt estará disponível em breve.







a c a s a p e r f e i t a



(um thriller psicológico de jessie hunt —livro 3)



b l a k e p i e r c e


Blake Pierce



Blake Pierce é a autora da série bestselling um mistério de RILEY PAGE, composta por quinze livros (a continuar). Blake Pierce é também a autora da série um mistério de MACKENZIE WHITE, composta por nove livros (a continuar); da série um mistério de AVERY BLACK, composta por seis livros; da série um mistério de KERI LOCKE, composta por cinco livros; da série um mistério dos PRIMÓRDIOS DE RILEY PAIGE, composta por três livros (a continuar); da série um mistério de KATE WISE, composta por dois livros (a continuar); da série um thriller psicológico de CHLOE FINE, composta por três livros (a continuar); série um thriller psicológico de JESSIE HUNT, composta por três livros (a continuar).



Uma leitora ávida e uma fã desde sempre dos géneros de mistério e thriller, Blake adora ouvir sua opinião, pelo que, por favor, sinta-se à vontade para visitar www.blakepierceauthor.com (http://www.blakepierceauthor.com) para saber mais e para se manter em contacto.



Copyright © 2018 por Blake Pierce. Todos os direitos reservados. Exceto conforme permitido pela Lei de Direitos de Autor dos EUA de 1976, nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, ou armazenada numa base de dados ou sistema de recuperação, sem a autorização prévia da autora. Este e-book está licenciado apenas para seu uso pessoal. Este e-book não pode ser revendido ou cedido a outras pessoas. Se quiser partilhar este livro com outra pessoa, por favor, compre uma cópia adicional para cada destinatário. Se está a ler este livro e não o comprou, ou se ele não foi comprado apenas para seu uso pessoal, por favor, devolva-o e adquira sua própria cópia. Obrigado por respeitar o trabalho árduo desta autora. Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, empresas, organizações, lugares, eventos e incidentes são produto da imaginação da autora ou foram usados de maneira fictícia. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é mera coincidência. Imagem da capa Copyright hurricanehank, usada com autorização da Shutterstock.com.


LIVROS DE BLAKE PIERCE



SÉRIE UM THRILLER PSICOLÓGICO DE JESSIE HUNT

A ESPOSA PERFEITA (Livro #1)

O PRÉDIO PERFEITO (Livro #2)

A CASA PERFEITA (Livro #3)

O SORRISO PERFEITO (Livro #4)



SÉRIE UM MISTÉRIO PSICOLÓGICO DE CHLOE FINE

A PRÓXIMA PORTA (Livro #1)

A MENTIRA MORA AO LADO (Livro #2)

BECO SEM SAÍDA (Livro #3)

VIZINHO SILENCIOSO (Livro #4)

VOLTANDO PRA CASA (Livro #5)



SÉRIE UM MISTÉRIO DE KATE WISE

SE ELA SOUBESSE (Livro #1)

SE ELA VISSE (Livro #2)

SE ELA CORRESSE (Livro #3)



SÉRIE OS PRIMÓRDIOS DE RILEY PAIGE

ALVOS A ABATER (Livro #1)

À ESPERA (Livro #2)

A CORDA DO DIABO (Livro #3)

AMEAÇA NA ESTRADA (Livro #4)



SÉRIE UM MISTÉRIO DE RILEY PAIGE

SEM PISTAS (Livro #1)

ACORRENTADAS (Livro #2)

ARREBATADAS (Livro #3)

ATRAÍDAS (Livro #4)

PERSEGUIDA (Livro #5)

A CARÍCIA DA MORTE (Livro #6)

COBIÇADAS (Livro #7)

ESQUECIDAS (Livro #8)

ABATIDOS (Livro #9)

PERDIDAS (Livro #10)

ENTERRADOS (Livro #11)

DESPEDAÇADAS (Livro #12)

SEM SAÍDA (Livro #13)

ADORMECIDO (Livro #14)



SÉRIE UM ENIGMA DE MACKENZIE WHITE

ANTES QUE ELE MATE (Livro #1)

ANTES QUE ELE VEJA (Livro #2)

ANTES QUE ELE COBICE (Livro #3)

ANTES QUE ELE LEVE (Livro #4)

ANTES QUE ELE PRECISE (Livro #5)

ANTES QUE ELE SINTA (Livro #6)

ANTES QUE ELE PEQUE (Livro #7)

ANTES QUE ELE CACE (Livro #8)



SÉRIE UM MISTÉRIO DE AVERY BLACK

RAZÃO PARA MATAR (Livro #1)

RAZÃO PARA CORRER (Livro #2)

RAZÃO PARA SE ESCONDER (Livro #3)

RAZÃO PARA TEMER (Livro #4)

RAZÃO PARA SALVAR (Livro #5)

RAZÃO PARA SE APAVORAR (Livro #6)



SÉRIE UM MISTÉRIO DE KERI LOCKE

RASTRO DE MORTE (Livro #1)

RASTRO DE UM ASSASSINO (Livro #2)

UM RASTRO DE IMORALIDADE (Livro #3)

UM RASTRO DE CRIMINALIDADE (Livro #4)

UM RASTRO DE ESPERANÇA (Livro #5)


CONTEÚDO



CAPÍTULO UM (#ud0c27812-0f7c-5d50-8c6d-5adb06bd0027)

CAPÍTULO DOIS (#u602d9a5c-25ce-5dec-ae45-d9690fc39517)

CAPÍTULO TRÊS (#ubd6564ee-1095-5817-a8ef-4191a1e6ea17)

CAPÍTULO QUATRO (#u22d8a097-599b-5832-9c37-4afa724928bc)

CAPÍTULO CINCO (#u44b07fd5-b4b2-5fe5-9fa4-19b8c79ad45e)

CAPÍTULO SEIS (#ub18543c1-6bf5-5463-bb6b-ea39fc2bbac8)

CAPÍTULO SETE (#u2d2da4f3-fad6-5e9a-9d3a-13d522e17def)

CAPÍTULO OITO (#uc479ca92-9160-576e-a965-6a1fc2c934d1)

CAPÍTULO NOVE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO DEZ (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO ONZE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO DOZE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO TREZE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO CATORZE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO QUINZE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO DEZESSEIS (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO DEZESSETE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO DEZOITO (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO DEZENOVE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E UM (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E DOIS (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E TRÊS (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E QUATRO (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E CINCO (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E SEIS (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E SETE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E OITO (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO VINTE E NOVE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO TRINTA (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO TRINTA E UM (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO TRINTA E DOIS (#litres_trial_promo)

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CAPÍTULO TRINTA E QUATRO (#litres_trial_promo)

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CAPÍTULO TRINTA E SEIS (#litres_trial_promo)

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CAPÍTULO TRINTA E OITO (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO TRINTA E NOVE (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO QUARENTA (#litres_trial_promo)

CAPÍTULO QUARENTA E UM (#litres_trial_promo)




CAPÍTULO UM


Eliza Longworth tomou um longo gole de café enquanto olhava para o Oceano Pacífico, maravilhada com a vista a poucos passos de seu quarto. Ela às vezes tinha que se lembrar do quão sortuda era.

Penelope Wooten, sua amiga já há vinte e cinco anos, estava na espreguiçadeira ao lado, naquele pátio com vista para o desfiladeiro de Los Liones. Era um dia de março relativamente claro e, à distância, a Ilha Catalina era visível. Olhando para a esquerda, Eliza podia ver as torres reluzentes do centro de Santa Monica.

Era meio da manhã de segunda-feira. As crianças tinham ido para a creche e para a escola e o tráfego da hora de ponta havia diminuído. A única coisa que as amigas de longa data tinham programado até a hora do almoço era aproveitar a mansão de três andares de Eliza, na encosta de Pacific Palisades. Se ela não estivesse tão agradecida por aquele momento, ela poderia até começar se sentindo um pouco culpada. Mas quando tal sensação começou surgindo em seu cérebro, ela imediatamente a tentou contrariar.

Você terá muito tempo para se estressar mais tarde hoje. Apenas permita-se este momento.

“Quer mais café?”, Penny perguntou. “Eu preciso ir ao troninho de qualquer maneira.”

“Não obrigado. Eu estou bem por agora”, Eliza disse, antes de acrescentar com um sorriso travesso, “A propósito, você sabe que pode chamar isso de banheiro quando há apenas adultos por perto, certo?”

Ao se levantar, Penny colocou a língua de fora em resposta, desdobrando suas pernas incrivelmente longas para sair da espreguiçadeira, como uma girafa se colocando em pé depois de uma soneca. Seu longo e lustroso cabelo loiro, muito mais estiloso que o castanho claro de Eliza, estava amarrado em um rabo de cavalo utilitariamente fashion. Ela ainda se parecia com a modelo de passarela que tinha sido durante alguns anos, entre os seus vinte e trinta anos, antes de desistir de tudo por uma vida reconhecidamente menos excitante, mas muito menos maníaca.

Ela se encaminhou para dentro, deixando Eliza sozinha com seus pensamentos. Quase imediatamente, apesar de seus melhores esforços, sua mente voltou à conversa que elas tinham tido minutos antes. Ela a repetiu em sua cabeça constantemente, sem conseguir parar.

“Gray parece tão distante ultimamente”, dissera Eliza. “Nossa prioridade era sempre ter um jantar em família com as crianças. Mas desde que ele se tornou sócio sênior, ele passou a ter todos esses jantares de negócios.”

“Tenho certeza de que ele está tão frustrado quanto você”, Penny garantira. “Quando as coisas assentarem, vocês provavelmente voltarão à antiga rotina.”

“Eu consigo lidar bem com o fato de ele ter que se ausentar mais. Eu entendo. Agora ele tem mais responsabilidade no sucesso da empresa. Mas o que me incomoda é que ele parece não ter consciência disso. Ele nunca expressou qualquer lamento por ter que se ausentar. Nem tenho certeza se ele se dá conta.”

“Tenho certeza que sim, Lizzie”, Penny dissera. “Provavelmente ele simplesmente se sente culpado por isso. Reconhecer tudo o que ele está perdendo tornaria as coisas piores. Aposto que ele está bloqueando esses pensamentos. Eu faço isso às vezes.”

“O quê exatamente?”, Eliza perguntou.

“Finjo que algo pouco admirável que estou fazendo na minha vida não é assim um problema tão grande, porque admitir que é só me faria sentir pior.”

“E o que você faz que é tão ruim assim?”, Eliza perguntou ironicamente.

“Na semana passada, comi meia lata de batatas fritas de uma só vez. E depois gritei com as crianças por quererem sorvete como lanche da tarde. É isso.”

“Você está certa. Você é uma pessoa horrível.”

Penny mostrou a língua antes de responder. Penny era mestre em mostrar a língua daquele jeito.

“Meu ponto é que, talvez, ao contrário do que parece, ele tenha consciência disso. Você já pensou em terapia de casal?”

“Você sabe que não acredito nessa porcaria. Além disso, por que eu deveria ir a um terapeuta quando tenho você? Com a terapia da Penny e a ioga, eu me garanto emocionalmente. Falando nisso, ainda estamos combinadas para amanhã de manhã na sua casa?”

“Absolutamente.”

Pensando nisso agora, brincadeiras à parte, talvez a terapia de casal não fosse uma idéia tão ruim. Eliza sabia que Penny e Colton iam a cada duas semanas e eles pareciam estar mais fortes por isso. Se ela fosse, ela sabia que pelo menos sua melhor amiga não iria mais esfregar isso na sua cara.

Elas davam apoio uma à outra desde a escola primária. Ela ainda se lembrava de quando Kelton Prew puxou suas tranças e Penny o chutou na canela. Isso tinha sido no primeiro dia da terceira série. Desde então elas se tornaram inseparáveis.

Elas tinham ajudado uma à outra a passar por inúmeras dificuldades. Eliza tinha estado lá para Penny quando ela teve bulimia no ensino médio. Em seu segundo ano de faculdade, tinha sido Penny a convencê-la de que não tinha sido apenas um encontro ruim, mas sim que Ray Houson a estuprara.

Penny tinha ido com ela à polícia do campus e esteve na sala do tribunal para oferecer apoio moral quando ela testemunhou. E quando o treinador de tênis quis tirá-la da equipe e terminar sua bolsa de estudos porque ela ainda estava tentando superar a situação meses depois, Penny foi até ele e ameaçou processar o cafajeste para ajudar sua amiga . Eliza permaneceu na equipe e venceu o troféu de melhor jogadora junior do campeonato naquele ano.

Quando Eliza perdeu o bebê depois de tentar engravidar durante dezoito meses, Penny foi visitá-la todos os dias até que finalmente ela estivesse pronta para sair da cama. E quando o filho mais velho de Penny, Colt Jr., foi diagnosticado com autismo, foi Eliza quem fez semanas de pesquisa e encontrou a escola que finalmente o ajudou a começar a prosperar.

Elas passaram por tantas batalhas juntas que gostavam de se chamar ‘Guerreiras de Westside’, mesmo que seus maridos achassem que o nome era ridículo. Por isso, se Penny estava sugerindo que ela reconsiderasse a terapia de casal, talvez ela o devesse fazer.

Eliza foi arrancada de seus pensamentos por um toque no telefone de Penny. Ela se aproximou e o pegou, pronta para deixar sua amiga saber que alguém estava tentando contatar. Mas quando ela viu o nome na tela, abriu imediatamente a mensagem que tinha chegado. Era de Gray Longworth, o marido de Eliza. A mensagem dizia:

Mal posso esperar pra te ver logo mais. Sinto falta do seu cheiro. 3 dias sem vc é muito. Eu disse a Lizzie que tenho um jantar de negócios. Mesma hora e lugar, certo?

Eliza pousou o telefone. Sua cabeça começou subitamente a girar e ela se sentiu fraca. A caneca escorregou de sua mão, bateu no chão e quebrou em dezenas de cacos de cerâmica.

Penny correu de volta lá para fora.

“Tudo bem?”, ela perguntou. “Ouvi algo quebrar.”

Penny olhou para a caneca com café espalhado por toda parte e depois para o rosto aturdido de Eliza.

“O que está passando?”, ela perguntou.

Os olhos de Eliza se moveram involuntariamente para o telefone de Penny e ela observou a amiga rastreá-los com os seus. Pelo olhar de Penny, Eliza notou que sua amiga tinha se dado conta do que havia acontecido, do que tinha espantado a sua mais antiga e querida amiga.

“Não é o que parece”, Penny disse ansiosamente, dispensando qualquer tentativa de negar o que ambas sabiam.

“Como você foi capaz?”, Eliza exigiu saber, mal conseguindo pronunciar as palavras. “Eu confiava mais em você do que em qualquer outra pessoa no mundo. E você faz isso?”

Ela sentiu como se alguém tivesse aberto um alçapão por baixo dela e ela estivesse caindo em um buraco vazio. Tudo em que sua vida se baseava parecia estar se desintegrando diante de seus olhos. Ela pensou que poderia vomitar.

“Por favor, Eliza”, Penny implorou, ajoelhando-se ao lado de sua amiga. “Deixe-me explicar. Aconteceu, mas foi um erro - que eu tenho tentado consertar desde então.”

“Um erro?”, Eliza repetiu, sentando-se ereta em sua cadeira enquanto náuseas se misturavam com raiva, fazendo um caldeirão de bile subir do estômago até à garganta. “Um erro é tropeçar na beira da calçada e derrubar alguém. Um erro é confundir um número numa conta de subtração. Um erro não é acidentalmente deixar o marido da sua melhor amiga entrar em você, Penny!”

“Eu sei”, Penny reconheceu, sua voz sufocando com arrependimento. “Eu não deveria ter dito isso. Foi uma decisão terrível, feita num momento de fraqueza, alimentada por muitos copos de vinho. Eu disse a ele que acabou.”

“'Acabou' sugere que foi mais de uma vez”, observou Eliza, tentando se levantar. “Há quanto tempo exatamente você anda dormido com meu marido?”

Penny ficou ali em silêncio, claramente ponderando se ser honesta faria mais mal do que bem.

“Há cerca de um mês”, ela finalmente admitiu.

De repente, o recente tempo do marido afastado da família fazia mais sentido. Cada nova revelação parecia desferir um novo soco no estômago. Eliza sentiu que a única coisa que a impedia de desmoronar era sua justa sensação de raiva.

“Engraçado”, Eliza apontou amargamente. “Isso coincide com esses jantares de negócios de Grey pela noite adentro, que você me disse que ele provavelmente sentia mal por isso. Que coincidência.”

“Eu pensei que seria capaz de me controlar...”, Penny começou a dizer.

“Não venha com essa”, disse Eliza, interrompendo-a bruscamente. “Nós duas sabemos que você pode ser incansável. Mas é assim que você lida com isso?”

“Eu sei que isso não ajuda”, insistiu Penny. “Mas eu ia acabar com tudo. Não falo com ele há três dias. Eu estava apenas tentando encontrar uma maneira de acabar com ele sem prejudicar você.”

“Parece que você vai precisar de um novo plano”, Eliza disse bruscamente, lutando contra o desejo de chutar os pedaços de xícara de café em sua amiga. Apenas seus pés descalços a impediram. Ela se agarrava à raiva, sabendo que era a única coisa que a impedia de desmoronar completamente.

“Por favor, deixe-me encontrar uma maneira de fazer isso direito. Tem que haver algo que eu possa fazer.”

“Há”, assegurou Eliza. “Saia agora.”

Sua amiga olhou para ela por um momento. Mas ela deve ter percebido a seriedade de Eliza porque sua hesitação foi breve.

“Tudo bem”, disse Penny, pegando suas coisas e caminhando apressadamente em direção à porta da frente. “Eu irei. Mas vamos nos falar mais tarde. Temos passado por tanta coisa juntas, Lizzie. Não vamos deixar isso estragar tudo.”

Eliza se obrigou a não gritar epítetos em resposta. Esta poderia ser a última vez que ela veria sua ‘amiga’ e ela precisava que ela entendesse a magnitude da situação.

“Isso é diferente”, disse ela lentamente, com ênfase em cada palavra. “Todas aquelas outras vezes fomos nós contra o mundo, apoiando uma a outra. Desta vez, você me apunhalou pelas costas. Nossa amizade acabou.”

Então ela bateu a porta no rosto de sua melhor amiga.




CAPÍTULO DOIS


Jessie Hunt acordou sobressaltada, por momentos insegura sobre onde estava. Demorou um momento para lembrar que ela estava no ar, num vôo de segunda-feira de manhã de Washington, DC, de volta a Los Angeles. Ela olhou para o relógio e viu que ainda tinha duas horas antes de aterrissarem.

Tentando não apagar de novo, despertou-se tomando um gole da garrafa de água que estava enfiada no bolso da poltrona à sua frente. Ela bochechou um pouco, tentando se livrar da secura que sentia em sua boca.

Ela tinha bons motivos para cochilar. As últimas dez semanas tinham estado entre as mais exaustivas de sua vida. Ela acabara de completar a Academia Nacional do FBI, um intenso programa de treinamento para policiais locais, criado para familiarizá-los com as técnicas de investigação do FBI.

O programa exclusivo estava disponível apenas para aqueles indicados pelos supervisores para participar. Salvo ser aceita para ir para Quantico para se tornar realmente uma agente formal do FBI, esse curso intensivo era a melhor coisa que podia ter acontecido.

Em circunstâncias normais, Jessie não teria direito a ir. Até recentemente, ela tinha sido apenas uma consultora interina de perfis criminais para o Departamento da Polícia de Los Angeles. Mas depois que ela resolveu um caso de grande relevância, sua importância tinha subido rapidamente.

Em retrospecto, Jessie entendia por que a academia preferia oficiais mais experientes. Durante as primeiras duas semanas do programa, ela se sentiu completamente sobrecarregada pelo volume de informação que estava sendo jogado para ela. Ela tinha aulas de ciência forense, direito, mentalidade terrorista e sua área de foco, ciência comportamental, que enfatizava entrar nas mentes dos assassinos para entender melhor seus motivos. E nada disso incluia o treinamento físico implacável que deixava todos os músculos doendo.

Por fim, ela conseguiu se orientar. Os cursos, que faziam lembrar seu recente trabalho de pós-graduação em psicologia criminal, começavam a fazer sentido. Depois de cerca de um mês, o corpo dela já não estava mais gritando de dor quando ela acordava todas as manhãs. E o melhor de tudo, o tempo que ela passou na Unidade de Ciências Comportamentais permitiu que ela interagisse com os melhores especialistas do mundo em assassinos em série. Ela esperava um dia estar entre eles.

Havia um benefício adicional. Por ter trabalhado tanto, mental e fisicamente, em quase todos os momentos, ela quase nunca sonhava. Ou pelo menos não tinha pesadelos.

Enquanto ela estava em casa, freqüentemente acordava gritando e suando frio quando lembranças de sua infância ou de seus traumas mais recentes se repetiam em seu inconsciente. Ela ainda se lembrava de sua mais recente fonte de ansiedade. Tinha sido sua última conversa com o encarcerado assassino em série Bolton Crutchfield, aquela em que ele disse a ela que iria conversar com seu próprio pai assassino em breve.

Se ela estivesse estado em Los Angeles nessas últimas dez semanas, teria passado a maior parte do tempo obcecada com a dúvida sobre Crutchfiel estar falando a verdade ou manipulando ela. E se ele estivesse sendo honesto, como ele conseguiria coordenar uma conversa com um assassino em fuga enquanto estava sendo mantido em um hospital psiquiátrico de segurança máxima?

Mas, como ela tinha a estado a milhares de quilômetros de distância, concentrada em tarefas implacavelmente desafiadoras em quase todos os segundos que estivera acordada, Jessie não se tinha conseguido focar nas afirmações de Crutchfield. Ela provavelmente focaria em breve, mas não ainda. Agora, ela estava simplesmente demasiado cansada para seu cérebro a desafiar.

Quando Jessie se acomodou em seu assento, permitindo que o sono a envolvesse novamente, ela pensou.

Portanto, tudo o que tenho que fazer para conseguir um bom sono para o resto da minha vida é passar todas as manhãs trabalhando até quase vomitar, seguido por dez horas de instrução profissional ininterrupta. Soa como um plano.

Antes de formar o sorriso que começava a brotar em seus lábios, ela já estava dormindo de novo.



*



Essa sensação de conforto aconchegante desapareceu no segundo em que ela saiu do aeroporto internacional de Los Angeles, logo depois do meio-dia. A partir deste momento, ela precisaria estar em guarda constante novamente. Afinal, como ela já tinha aprendido antes mesmo de partir para Quantico, um assassino em série estava solto e em sua busca. Xander Thurman estava procurando por ela há meses. Thurman por acaso era também o pai dela.

Ela chamou um carro por aplicativo para levá-la do aeroporto ao trabalho, que era a Delegacia Central da Comunidade no centro de Los Angeles. Ela só voltaria formalmente ao trabalho no dia seguinte e não estava com vontade de conversar, então nem sequer passou pelo escritório central da Delegacia.

Em vez disso, ela foi até sua caixa pessoal de correio e pegou sua correspondência, que havia sido reencaminhada de uma caixa postal. Ninguém - nem seus colegas de trabalho, nem seus amigos, nem mesmo seus pais adotivos - conhecia seu endereço real. Ela tinha alugado o apartamento através de uma empresa de leasing; seu nome não estava em lugar algum no contrato e não havia papelada conectando-a ao prédio.

Depois que ela pegou a correspondência, caminhou por um corredor lateral até o pátio de estacionamento das viaturas, onde os táxis estavam sempre esperando no beco adjacente. Ela pulou dentro de um deles e foi até o centro comercial que ficava próximo de seu complexo de apartamentos, a cerca de três quilômetros de distância da Delegacia.

Uma das razões pelas quais ela tinha escolhido este lugar para morar, depois que sua amiga Lacy havia insistido que ela se mudasse, era que era difícil de encontrar e ainda mais difícil de acessar sem permissão. Primeiro de tudo, as garagens do complexo de apartamentos ficavam no subsolo do shopping adjacente, no mesmo prédio, então qualquer um que a seguisse teria dificuldade em determinar para onde ela estava indo de verdade.

Mesmo que alguém descobrisse, o prédio tinha um porteiro e um segurança. A porta da frente e o elevador só eram acionados com um cartão-chave específico. E nenhum dos apartamentos tinha numeração do lado de fora. Os moradores só tinham que lembrar qual era o deles.

Ainda assim, Jessie tomava precauções extras. Ela pagou o táxi em dinheiro e, assim que ele a deixou, ela entrou no shopping. Primeiro ela passou rapidamente por um café, vagando pela multidão antes de tomar uma saída lateral.

Então, puxando o capuz de seu moletom sobre o cabelo castanho na altura dos ombros, ela passou por uma praça de alimentação para um corredor que tinha banheiros ao lado de uma porta marcada como ‘Somente Funcionários’. Ela empurrou a porta do banheiro das mulheres para que qualquer um que a seguisse visse o fechamento e pensasse que ela havia entrado. Em vez disso, sem olhar para trás, ela se apressou pela entrada dos funcionários, que era um longo corredor com entradas pelos fundos para cada loja.

Ela correu pelo corredor curvo até encontrar uma escada com uma placa indicando ‘Manutenção’. Apressando-se degraus abaixo o mais silenciosamente possível, ela usou o cartão-chave que tinha conseguido do gerente do prédio para destrancar aquela porta também. Ela negociou autorização especial para essa área com base em sua conexão com a polícia de Los Angeles, em vez de tentar explicar que suas precauções estavam relacionadas com o fato de ter um pai assassino em série à solta por aí.

A porta de manutenção se fechou e trancou atrás dela enquanto ela caminhava ao longo de uma passagem estreita com canos expostos projetando-se em todos os ângulos e jaulas de metal protegendo equipamentos que ela não entendia. Depois de vários minutos esquivando-se entre os obstáculos, ela alcançou um pequeno nicho perto de uma grande caldeira.

No meio da passagem, a área recuada estava sem iluminaççao e fácil de não ser notada. Ela tinha precisado de orientações na primeira vez que tinha estado aqui. Ela entrou no nicho enquanto tirava a chave antiga que tinha recebido. A tranca daquela porta era um ferrolho de estilo antigo. Ela virou a chave, abriu a pesada porta e rapidamente a fechou e trancou atrás de si.

Agora, na sala de suprimentos no subsolo de seu prédio, ela havia passado oficialmente da propriedade do shopping para o complexo de apartamentos. Ela se apressou pelo quarto escuro, quase tropeçando em um balde com água sanitária no chão. Ela abriu a porta, passou pelo escritório vazio do gerente de manutenção e subiu a escadaria apertada que dava para o corredor dos fundos do piso principal do prédio.

Ela dobrou a esquina para o saguão onde ficavam os elevadores, onde ela podia ouvir Jimmy, o porteiro, e Fred, o segurança, conversando amigavelmente com um residente no saguão da frente. Ela não tinha tempo para conversar agora, mas prometeu a si mesma que se reconectaria com eles mais tarde.

Ambos eram caras legais. Fred era um ex-policial rodoviário que havia se aposentado cedo depois de um acidente de moto no trabalho. Deixou-o com uma perna manca e uma grande cicatriz na bochecha esquerda, mas isso não o impedia de brincar constantemente. Jimmy, com vinte e poucos anos, era um garoto doce e sincero que usava esse emprego para pagar a faculdade.

Passou pelo saguão até o elevador de serviço, que não era visível do saguão, deslizou o cartão-chave e esperou ansiosamente para ver se alguém a havia seguido. Ela sabia que as chances eram remotas, mas isso não a impediu de mudar nervosamente de um pé para o outro até o elevador chegar.

Quando ele chegou, ela entrou, apertou o botão do quarto andar e depois o botão de fechar a porta. Quando as portas se abriram, ela se apressou pelo corredor até chegar ao seu apartamento. Tomando um momento para recuperar o fôlego, ela observou a porta.

À primeira vista, parecia tão comum quanto todas as outras naquele andar. Mas ela tinha feito várias adaptações de segurança quando se mudou. Primeiro, ela deu um passo para trás, ficando a um metro da porta e diretamente alinhada com o olho mágico. Um brilho verde opaco que não era visível de qualquer outro ângulo emanou da borda ao redor do olho mágico, um indicador de que a unidade não tinha sido acessada à força. Se tivesse sido, o aro ao redor do olho mágico teria ficado vermelho.

Além da câmera de segurança na campainha, que envia imagens para o telefone, que ela havia instalado, havia também várias câmeras escondidas no corredor. Uma delas tinha a visão direta para sua porta. Outra tinha em foco o corredor, voltada para o elevador e a escadaria adjacente. Uma terceira apontava na outra direção para o segundo lance de escadas. Ela havia verificado todas as filmagens no caminho e não tinha encontrado nenhum movimento suspeito em torno de sua casa hoje.

O passo seguinte era entrar. Ela usou uma chave tradicional para abrir um ferrolho, depois pegou o cartão e ouviu o outro ferrolho abrir também. Ela entrou quando a advertência do alarme do sensor de movimento disparou, largou a mochila no chão e ignorou o alarme, enquanto fechava de novo as duas portas e puxava a barra deslizante de segurança também. Só então ela digitou o código de oito dígitos.

Depois disso, agarrou o cassetete que mantinha junto à porta e se apressou para o quarto. Ela levantou a moldura removível ao lado do interruptor de luz que revelou o painel de segurança escondido. Jessie digitou o código de quatro dígitos para o segundo alarme silencioso - que iria direto para a polícia se ela não o desativasse em quarenta segundos.

Só então ela se permitiu respirar. Enquanto ela inspirava e expirava devagar, ela andou pelo pequeno apartamento, com o cassetete na mão, pronta para qualquer coisa. A varredura em todo o lugar, incluindo os armários, chuveiro e despensa, levou menos de um minuto.

Quando ela ficou confiante de que estava sozinha e segura, ela checou a meia dúzia de câmeras-de-bebê que havia colocado em toda a unidade. Depois ela verificou as trancas nas janelas. Tudo estava em ordem. Faltava um lugar para revisar.

Ela entrou no banheiro e abriu o armário estreito que continha prateleiras com suprimentos como papel higiênico extra, um desentupidor, algumas barras de sabão, esponjas e produto de limpeza de espelho. Havia um pequeno fecho no lado esquerdo do armário, invisível a menos que se soubesse onde procurar. Ela virou-o e puxou-o, sentindo o estalido do trinco oculto.

A estante se abriu, revelando uma abertura muito estreita na parede atrás dela, com uma escada feita de corda presa à parede de tijolos. Aquela abertura dava acesso a um tubo, que se estendia, junto com a escada, desde o apartamento de Jessie no quarto andar até um espaço rasteiro na lavanderia do subsolo. Foi projetado como sua última saída de emergência caso todas as suas outras medidas de segurança falhassem completamente. Ela esperava nunca precisar daquilo.

Ela recolocou a prateleira e estava prestes a voltar para a sala quando se viu no espelho do banheiro. Era a primeira vez que ela realmente se observava bem desde que tinha partido. Ela gostou do que viu.

Na superfície, ela não parecia tão diferente de antes. Ela tinha feito aniversário enquanto estava no FBI e agora tinha vinte e nove anos, mas não parecia mais velha. Na verdade, ela achou que parecia melhor do que quando tinha partido.

Seu cabelo ainda era castanho, mas parecia de alguma forma mais resistente, menos mole do que quando saíra de LA todas aquelas semanas atrás. Apesar dos longos dias no FBI, seus olhos verdes brilhavam com energia e não tinham mais as olheiras pesadas por baixo que se tinham tornado tão familiares para ela. Ela ainda tinha seumetro e setenta e sete de altura e continuava magra, mas se sentia mais forte e firme do que antes. Seus braços estavam mais torneados e seu abdômen estava definido por causa de intermináveis abdominais e pranchas. Ela se sentiu... preparada.

Movendo-se para a sala de estar, ela finalmente acendeu as luzes. Levou um segundo para lembrar que todos os móveis do espaço eram dela. Ela havia comprado a maior parte antes de partir para Quantico. Ela não tinha tido muita escolha. Ela vendera todas as coisas da casa que possuía com Kyle, seu ex-marido sociopata, atualmente encarcerado. Por um tempo depois disso, ela tinha ficado no apartamento de sua antiga colega de faculdade, Lacy Cartwright. Mas depois de o apartamento ter sido invadido por alguém que queria mandar uma mensagem para Jessie em nome de Bolton Crutchfield, Lacy insistiu em que ela saísse, praticamente na mesma hora.

Então, ela tinha feito exatamente isso, passando a morar em um hotel semanal por um tempo até encontrar um lugar - esse lugar - que atendesse às suas necessidades de segurança. Mas como não estava mobiliado, ela gastou uma boa parte do dinheiro do divórcio de uma só vez em móveis e eletrodomésticos. Desde que ela teve que sair para a Academia Nacional logo depois de comprar tudo, ela ainda não havia tido a chance de apreciar nada disso.

Agora ela esperava poder apreciar. Ela sentou-se na larga poltrona e recostou-se, acomodando-se. Havia uma caixa de papelão marcada ‘coisas para analisar’ no chão ao lado dela. Ela pegou e começou a vasculhar. A maior parte era papelada que ela não tinha intenção de tratar agora. Na parte de baixo da caixa havia uma foto de casamento 8x10 dela e de Kyle.

Ela olhou para a foto quase sem entender, espantada que a pessoa que teve aquela vida era a que estava sentada aqui agora. Quase uma década atrás, durante seu segundo ano na USC, ela havia começado a namorar Kyle Voss. Eles tinham ido viver juntos logo após a formatura e tinham se casado há três anos.

Por um longo tempo, as coisas pareceram ótimas. Eles viviam em um apartamento legal não muito longe daqui, no centro de Los Angeles, ou CLA{1} (#litres_trial_promo), como era frequentemente chamado. Kyle tinha um bom emprego na área das finanças e Jessie estava fazendo seu mestrado. A vida era confortável. Eles iam a novos restaurantes e frequentavam os bares concorridos. Jessie era feliz e provavelmente poderia ter permanecido assim por muito tempo.

Mas depois Kyle conseguiu uma promoção no escritório da empresa em Orange County e insistiu que eles mudassem para uma McMansão lá. Jessie consentiu, apesar de sua apreensão. Foi só então que a verdadeira natureza de Kyle foi revelada. Ele havia ficado obcecado em se juntar a um clube secreto que acabou se revelando uma fachada para uma rede de prostituição. Ele havia tido um caso com uma das mulheres de lá. E quando tudo correu mal, ele a matou e tentou incriminar Jessie por isso. Para completar, quando Jessie descobriu o plano, ele tentou matá-la também.

Mas mesmo agora, enquanto analisava a foto do casamento, não havia indício do que seu marido era capaz de fazer. Ele tinha a aparência de um bonito e amigável futuro mestre do universo. Ela amassou a foto e a jogou na lata de lixo na cozinha. Ela caiu bem no centro, o que lhe deu uma inesperada onda de catarse.

Cesta! Isso deve significar alguma coisa.

Havia algo libertador sobre este lugar. Tudo - o novo mobiliário, a falta de lembranças pessoais, até mesmo as medidas de segurança paranoicas - pertencia a ela. Ela havia conseguido um novo começo.

Ela se esticou, permitindo que seus músculos relaxassem após o longo vôo no avião apertado. Este apartamento era dela - o primeiro lugar em mais de meia dúzia de anos sobre o qual ela podia realmente dizer isso. Ela podia comer pizza no sofá e deixar a caixa por aí sem se preocupar com alguém reclamando. Não que ela fosse do tipo que fizesse isso. Mas a questão era, ela podia o fazer.

Ao pensar em pizza, Jessie ficou repentinamente faminta. Ela se levantou e checou a geladeira. Não só estava vazia como não estava ligada. Só então ela se lembrou de que a tinha deixado assim, não vendo nenhum motivo para pagar pela eletricidade se ela ia ficar fora por dois meses e meio.

Ela a ligou e, sentindo-se inquieta, decidiu dar um pulo até o mercado. Então ela teve outra ideia. Tendo em vista que ela não iria começar a trabalhar antes de amanhã e ainda não era tarde, havia outra parada que ela poderia fazer: um lugar - e uma pessoa – que ela sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria que visitar.

Ela tinha conseguido tirar isso da cabeça durante a maior parte do tempo em Quantico, mas ainda havia a questão de Bolton Crutchfield. Ela sabia que deveria deixar aquilo para lá, que ele tinha estado apenas a provocá-la durante o último encontro deles.

Mas ainda assim ela precisava saber: Crutchfield realmente encontrara uma maneira de se encontrar com o pai dela, Xander Thurman, o Executor de Ozarks? Teria ele encontrado uma maneira de alcançar o assassino de inúmeras pessoas, incluindo o da sua mãe; o homem que a tinha deixado, uma criança de seis anos, amarrada ao lado do corpo para enfrentar a morte certa em uma cabana congelante e isolada?

Ela estava prestes a descobrir.




CAPÍTULO TRÊS


Eliza estava esperando quando Gray chegou em casa naquela noite. Ele chegou a tempo para o jantar, com um olhar no rosto que sugeria que ele sabia o que estava por vir. Uma vez que Millie e Henry estavam sentados ali, comendo seu macarrão com queijo coberto com pedaços de salsichas, nenhum dos pais disse nada sobre a situação.

Foi só depois que as crianças foram dormir que o assunto surgiu. Eliza estava em pé na cozinha quando Gray entrou, depois de colocá-los para dormir. Ele havia tirado o casaco esportivo, mas ainda usava a gravata meio solta e as calças. Ela suspeitava que era para fazê-lo parecer mais crível.

Gray não era um homem grande. Com um metro e setenta e cinco e setenta e dois quilos, ele era apenas uns três centímetros mais alto do que ela, embora pesasse uns 13 quilos a mais. Mas ambos sabiam que ele era muito menos imponente em uma camiseta e calça de moletom. Traje de negócios era sua armadura.

“Antes de dizer qualquer coisa”, ele começou, “por favor, deixe-me tentar explicar.”

Eliza, que passara a maior parte do dia pensando em como isso poderia ter acontecido, ficou feliz em deixar sua angústia em espera durante um breve momento para permitir que ele se contorcesse enquanto tentava se justificar.

“Fique à vontade”, disse ela.

“Primeiro. Sinto muito. Não importa o que mais eu diga, eu quero que você saiba que eu peço desculpas. Eu nunca deveria ter deixado isso acontecer. Foi um momento de fraqueza. Ela me conhece há anos e ela sabia das minhas vulnerabilidades, o que despertaria meu interesse. Eu deveria sido mais esperto, mas eu caí na dela assim mesmo.”

“O que você está dizendo?”, Eliza perguntou, estupefata tanto quanto ferida. “Que a Penny é uma sedutora que manipulou você para ter um caso com ela? Nós dois sabemos que você é um homem fraco, Gray, mas você está brincando comigo?”

“Não”, ele disse, escolhendo não responder ao comentário de que ele era ‘fraco’. “Assumo total responsabilidade pelas minhas ações. Eu bebi três copos de whisky sour. Eu olhei para as pernas dela no vestido com a fenda do lado. Mas ela sabe o que mexe comigo. Eu acho que é fruto dessa intimidade que vocês duas têm tido ao longo dos anos. Ela sabia passar a ponta do dedo ao longo do meu antebraço. Ela sabia falar, quase ronronar no meu ouvido esquerdo. Ela provavelmente sabia que você não estava fazendo qualquer uma dessas coisas já há um bom tempo. E ela sabia que você não iria entrar naquela festa porque estava em casa, nocauteada pelas pílulas para dormir que você toma na maioria das noites.”

Aquilo ficou suspenso no ar por vários segundos enquanto Eliza tentava se recompor. Quando ela teve certeza de que não gritaria, ela respondeu em uma voz chocantemente calma.

“Você está me culpando por isso? Porque parece que você está dizendo que não consegue ficar com as calças vestidas porque eu tenho problemas para dormir à noite.”

“Não, eu não quis dizer isso assim”, ele choramingou, não enfrentando o veneno que saía das palavras dela. “É só que você sempre tem problemas para dormir à noite. E você nunca parece assim tão interessada em ficar acordada comigo.”

“Só para ficar claro, Grayson - você diz que não está me culpando. Mas logo em seguida você diz que estou muito apagada por causa do Valium e não dou atenção suficiente para o garotinho grande, e então por isso você teve que fazer sexo com minha melhor amiga.”

“Que tipo de melhor amiga ela é para fazer isso?”, Gray botou para fora desesperadamente.

“Não mude de assunto”, ela disse bruscamente, forçando-se a manter a voz firme, em parte para evitar acordar as crianças, mas principalmente porque isso era a única coisa que a impedia de se descontrolar totalmente. “Ela já está na minha lista. É a sua vez agora. Você não poderia ter vindo até mim e dito: 'Ei querida, eu realmente adoraria passar uma noite romântica com você hoje à noite' ou 'Querida, eu me sinto desconectado de você ultimamente. Podemos nos aproximar esta noite?' Essas opções não existiam?”

“Eu não queria te acordar para te incomodar com perguntas como essas”, respondeu ele, sua voz mansa, mas suas palavras cortando.

“Portanto, você decidiu ser sarcástico agora?”, ela exigiu saber.

“Olha”, disse ele, se contorcendo para encontrar qualquer saída, “já não existe nada entre mim e Penny. Ela quis terminar comigo esta tarde e eu concordei. Eu não sei como vamos ultrapassar isso, mas eu quero, mesmo que apenas pelas crianças.”

“Apenas pelas crianças?”, ela repetiu, atordoada com a quantidade de disparates que ele conseguia dizer a cada instante. “Apenas saia. Estou te dando cinco minutos para arrumar uma mala e estar em seu carro. Reserve um hotel até novo aviso.”

“Você está me chutando para fora da minha própria casa?”, ele perguntou, incrédulo. “A casa que eu paguei?”

“Não só eu estou te expulsando”, ela sussurrou, “se você não estiver saindo da garagem em cinco minutos, eu vou chamar a polícia.”

“Para dizer a eles o que?”

“Me teste”, ela fervia.

Gray olhou para ela. Implacável, ela foi até o telefone e o pegou. Foi apenas ao escutar o som dos números sendo discados que ele entrou em ação. Dentro de três minutos, ele estava passando rápido pela porta como um cachorro com o rabo entre as pernas, a mochila recheada de camisas e casacos. Um sapato caiu quando ele se apressou em direção à porta. Ele não percebeu e Eliza não disse nada.

Foi só quando ela ouviu o carro arrancando que colocou o telefone de volta na base. Ela olhou para a mão esquerda e viu que a palma da mão estava sangrando onde ela havia cavucado fortemente com suas unhas. Só agora ela sentia a dor.




CAPÍTULO QUATRO


Apesar de ter perdido um pouco a prática, Jessie navegou pelo tráfego do centro de LA para Norwalk sem muita dificuldade. Ao longo do caminho, como uma maneira de tirar seu destino iminente de sua mente, ela decidiu ligar para seus pais.

Seus pais adotivos, Bruce e Janine Hunt, moravam em Las Cruces, Novo México. Ele era aposentado do FBI e ela era uma professora aposentada. Jessie passara alguns dias com eles a caminho de Quantico e esperava fazer o mesmo no caminho de volta também. Mas não houve tempo suficiente entre o final do programa e seu retorno ao trabalho, e, por isso, ela teve que abrir mão da segunda visita. Ela esperava voltar em breve, especialmente porque sua mãe estava lutando contra o câncer.

Não parecia justo. Janine lutava contra aquilo há mais de uma década e isso se somava à outra tragédia que eles já tinham enfrentado anos atrás. Pouco antes de levarem Jessie para casa quando ela tinha seis anos, eles haviam perdido seu filho, também com câncer. Eles estavam ansiosos para preencher o vazio em seus corações, mesmo que isso significasse adotar a filha de um assassino em série, alguém que havia assassinado a própria mãe da criança e a deixado também para morrer. Como Bruce estava no FBI, a adoção parecia encaixar perfeitamente para os delegados dos EUA, que haviam colocado Jessie no Programa de Proteção às Testemunhas. No papel, tudo fazia sentido.

Ela tentou não pensar mais naquilo, enquanto discava o número deles.

“Oi, Pa”, ela disse. “Como estão as coisas?”

“Tudo bem”, ele respondeu. “Ma está cochilando. Você quer ligar mais tarde?”

“Não. Podemos conversar. Eu falarei com ela esta noite ou algo assim. O que está acontecendo por aí?”

Quatro meses atrás, ela teria relutado em falar com ele sem sua mãe lá também. Bruce Hunt era um homem de quem era difícil se aproximar e Jessie também não era o melhor exemplo de fofurice. As lembranças da juventude dela com ele eram uma mistura de alegria e frustração. Houve viagens de esqui, camping e caminhadas nas montanhas, e férias em família para o México, apenas a cem quilômetros de distância.

Mas também havia gritos, especialmente quando ela era adolescente. Bruce era um homem que apreciava a disciplina. Jessie, com anos de ressentimento reprimido por ter perdido sua mãe, seu nome e sua casa de uma só vez, tendia a se comportar mal. Durante seus anos na USC e depois, eles provavelmente tinham se falado menos de duas dúzias de vezes no total. Visitas mútuas eram raras.

Mas recentemente, o retorno do câncer de Ma os tinha forçado a falar sem um intermediário. E o gelo tinha de alguma forma quebrado. Ele até tinha viajado para Los Angeles para ajudá-la a se recuperar de sua lesão abdominal, quando Kyle a atacara no outono passado.

“As coisas estão calmas aqui”, disse ele, respondendo à pergunta dela. “Ma teve outra sessão de quimioterapia ontem, e é por isso que ela está se recuperando agora. Se ela se sentir bem o suficiente, talvez a gente saia para jantar mais tarde.”

“Com toda a equipe de policiais?”, ela perguntou brincando. Alguns meses atrás, seus pais haviam se mudado de sua casa para um centro de convivência sénior, ocupado principalmente por aposentados do Departamento de Polícia de Las Cruces, do Departamento do Xerife e também do FBI.

“Não, apenas nós dois. Estou pensando num jantar à luz de velas. Mas em algum lugar que nós possamos colocar um balde ao lado da mesa para o caso de ela vomitar.”

“Você é realmente um romântico, Pa.”

“Eu tento. Como estão as coisas com você? Estou assumindo que você passou no treinamento do FBI.”

“Por que você assume isso?”

“Porque você sabia que eu perguntaria sobre isso e você não teria ligado se tivesse que dar más notícias.”

Jessie teve que reconhecer. Para um cachorro velho, ele ainda era bem afiado.

“Passei”, ela disse a ele. “Estou de volta a LA agora. Começo a trabalhar de novo amanhã e estou... resolvendo algumas tarefas.”

Ela não queria preocupá-lo com o destino para o qual estava indo.

“Isso soa sinistro. Por que tenho a sensação de que você não está comprando um pedaço de pão?”

“Eu não queria que soasse assim. Eu acho que estou apenas cansada de todas essas viagens. Na verdade, estou quase chegando”, ela mentiu. “Devo ligar de novo esta noite ou esperar até amanhã? Eu não quero atrapalhar o seu jantar chique de vômito.”

“Talvez amanhã”, ele aconselhou.

“Ok. Diga um oi para Ma. Eu te amo.”

“Também te amo”, ele disse, desligando.

Jessie tentou se concentrar na estrada. O tráfego estava piorando e a viagem para a instalação da DNR, um trajeto que levava cerca de quarenta e cinco minutos, ainda demorava meia hora.

A DNR, abreviação Divisão de Não Reabilitação, era uma unidade autônoma especial afiliada ao Departamento Metropolitano do Hospital Estadual de Norwalk. O principal hospital abrigava uma ampla gama de perpetradores mentalmente desordenados, considerados inaptos para cumprir pena em uma prisão convencional.

Mas o anexo da DNR, desconhecido do público e até mesmo da maioria dos policiais e profissionais de saúde mental, cumpria um papel mais clandestino. Foi projetado para abrigar um máximo de dez criminosos, secretamente. Neste momento, só havia cinco pessoas sendo mantidas lá, todos homens, todos estupradores em série ou assassinos. Um deles era Bolton Crutchfield.

A mente de Jessie vagou para a última vez que ela tinha estado lá para vê-lo. Tinha sido sua última visita antes de partir para a Academia Nacional, embora ela não tivesse dito isso a ele. Jessie estava visitando Crutchfield regularmente desde o outono passado, quando obteve permissão para entrevistá-lo como parte do estágio de seu curso de mestrado. Segundo os funcionários, Crutchfield quase nunca consentiu em conversar com médicos ou pesquisadores. Mas, por motivos que não tinham ficado claros para ela até bem mais tarde, ele havia concordado em se encontrar com ela.

Nas semanas seguintes, chegaram a uma espécie de acordo. Ele iria discutir os detalhes de seus crimes, incluindo métodos e motivos, se ela compartilhasse alguns detalhes de sua própria vida. Parecia um comércio justo inicialmente. Afinal de contas, o objetivo dela era se tornar uma especialista de perfis criminais especializada em assassinos em série. Ter alguém disposto a discutir os detalhes dos crimes que havia praticado poderia ser de valor inestimável.

E lá, acabou por ter ainda um bônus adicional. Crutchfield tinha a habilidade Sherlock Holmesiana de deduzir informações, mesmo trancado em uma cela em um hospital psiquiátrico. Ele fora capaz de discernir detalhes sobre a vida de Jessie naquele momento só de olhar para ela.

Ele usara essa habilidade, junto com a informação de casos que ela compartilhava, para lhe dar pistas sobre vários crimes, incluindo o assassinato de um rico filantropo de Hancock Park. Ele também dissera que o próprio marido de Jessie poderia não ser tão confiável quanto parecia.

Infelizmente para Jessie, as habilidades de dedução dele também funcionavam contra ela. A razão pela qual ela quis se encontrar com Crutchfield em primeiro lugar foi porque ela tinha percebido que ele havia moldado a forma dos seus assassinatos depois daqueles realizados pelo pai dela, o lendário assassino em série, nunca capturado, Xander Thurman. Mas Thurman havia cometido os crimes dele no interior rural do Missouri mais de duas décadas antes. Parecia uma escolha aleatória e obscura para um assassino do sul da Califórnia.

Mas acabou que Bolton Crutchfield era na verdade um grande fã de Thurman. E assim que Jessie começou a perguntar-lhe sobre seu interesse naqueles velhos assassinatos, não demorou muito para juntar as coisas e determinar que a jovem à sua frente estava pessoalmente ligada a Thurman. Por fim, ele admitiu que sabia que ela era sua filha. E ele revelou mais um petisco - ele havia se encontrado com o pai dela dois anos antes.

Com alegria na voz, Crutchfield havia dito a ela que seu pai tinha entrado na instalação sob o disfarce de um médico e conseguira ter uma longa conversa com o prisioneiro. Aparentemente ele estava procurando por sua filha, cujo nome havia sido mudado e que havia sido colocada no Programa de Proteção às Testemunhas depois que ele havia matado sua mãe. Thurman suspeitava que ela poderia um dia visitar Crutchfield porque seus crimes eram tão semelhantes. Thurman queria que Crutchfield o avisasse se ela aparecesse e desse a ele seu novo nome e localização.

Daquele momento em diante, o relacionamento deles passou a ter uma desigualdade que a deixava incrivelmente desconfortável. Crutchfield ainda lhe dava informações sobre seus crimes e insinuações sobre outros. Mas ambos sabiam que ele segurava todas as cartas.

Ele sabia o novo nome dela. Ele sabia como ela era. Ele sabia a cidade em que ela morava. Em determinado momento, ela descobriu que ele sabia que ela estava morando na casa de sua amiga Lacy e onde ela estava. E aparentemente, apesar de estar encarcerado em uma instalação supostamente secreta, ele tinha a capacidade de dar ao pai de Jessie todos esses detalhes.

Jessie tinha certeza de que isso tudo era pelo menos parte do motivo pelo qual Lacy, uma aspirante a estilista, havia aceitado um trabalho de seis meses em Milão. Sem dúvidas era uma ótima oportunidade, mas também estava a meio mundo de distância da vida perigosa de Jessie.

Quando Jessie saiu da rodovia, a poucos minutos de chegar à DNR, ela se lembrou de como Crutchfield havia finalmente puxado o gatilho da ameaça implícita que sempre pairava nos encontros entre os dois.

Talvez fosse porque ele sentira que ela estava indo viajar por vários meses. Talvez tenha sido apenas por despeito. Mas, na última vez em que ela tinha olhado através do vidro em direção aos seus olhos desonestos, ele havia jogado uma bomba sobre ela.

“Eu vou ter uma pequena conversa com seu pai”, ele disse a ela em seu sotaque sulista. “Eu não vou estragar as coisas dizendo quando. Mas vai ser lindo, tenho certeza.”

Ela mal conseguiu sufocar a palavra “Como?”

“Oh, não se preocupe com isso, Menina Jessie”, ele disse suavemente. Só saiba que quando falarmos, eu vou dar a ele os seus cumprimentos.”

Ao entrar na propriedade do hospital, Jessie perguntou-se a mesma pergunta que a estivera ruminando desde então, a pergunta que só conseguia tirar de sua cabeça quando estava concentrada em outro trabalho: ele havia mesmo feito aquilo? Enquanto ela estava aprendendo a pegar pessoas como ele e seu pai, os dois tinham mesmo se encontrado uma segunda vez, apesar de todas as precauções de segurança projetadas para evitar esse tipo de coisa?

Ela tinha a sensação de que o mistério estava prestes a ser resolvido.




CAPÍTULO CINCO


Entrar na unidade de DNR foi exatamente como ela se lembrava. Depois de obter autorização para entrar no campus cercado do hospital através de um portão com vigias, ela dirigiu por trás do prédio principal para um anexo, menor e discreto, que ficava nos fundos.

Era uma estrutura sem graça de concreto e aço no meio de um estacionamento não pavimentado. Somente o telhado era visível atrás de uma grande cerca de metal de arame farpado de malha verde que cercava todo o lugar.

Ela passou por um segundo portão com vigias para acessar a DNR. Depois de estacionar, ela caminhou em direção à entrada principal, fingindo ignorar as múltiplas câmeras de segurança que a seguiam a cada passo. Quando chegou à porta exterior, ela esperou para ouvir a campainha de permissão de acesso. Ao contrário da primeira vez que ela tinha vindo, agora ela era reconhecida pela equipe e admitida logo à vista.

Mas isso foi apenas na porta externa. Depois de passar por um pequeno pátio, ela chegou à entrada principal da instalação, que tinha grossas portas de vidro à prova de balas. Ela passou o cartão de acesso à entrada, o que fez a luz do painel ficar verde. Em seguida, o oficial de segurança atrás da mesa, que podia ver a mudança de cor também, fez soar outra campainha de permissão de acesso, completando o processo de inscrição.

Jessie estava em um pequeno vestíbulo, esperando a porta externa se fechar. A experiência lhe ensinara que a porta interna não podia ser aberta até que a externa se fechasse completamente. Só depois que a porta externa fez o som claro de que estava fechada, o guarda de segurança destrancou a porta interna.

Jessie entrou, onde um segundo oficial armado estava esperando por ela. Ele recolheu seus pertences pessoais, que eram mínimos. Ela aprendeu com o tempo que era melhor deixar quase tudo no carro, que não corria perigo de ser arrombado.

O guarda fez uma revista nela e então fez sinal para ela passar pelo scanner de onda milimétrica do estilo da segurança do aeroporto, que dava uma visão detalhada de todo o seu corpo. Depois de passar pelo scanner, seus itens foram devolvidos sem uma palavra. Era a única indicação de que ela estava livre para continuar.

“A oficial Gentry vem me encontrar?”, ela perguntou à policial atrás da mesa.

A mulher olhou para ela, com uma expressão de completo desinteresse em seu rosto. “Ela sairá daqui a pouco. Apenas espere perto da porta da Área Transitória de Preparação.”

Jessie fez o que lhe foi instruído. A Área Transitória de Preparação era a sala onde todos os visitantes tinham que ir para mudar de roupas antes de interagir com um paciente. Uma vez lá dentro, eles eram obrigados a mudar para uma roupa cinza de hospital, remover todas as jóias e tirar qualquer maquiagem. Como ela havia sido avisada, os homens presos ali não precisavam receber nenhum estímulo adicional causado por roupas ou acessórios.

Um momento depois, a policial Katherine ‘Kat’ Gentry apareceu pela porta da sala de preparação para cumprimentá-la. Vê-la era como um colírio para os olhos de Jessie. Embora elas não tivessem começado com o pé direito quando se conheceram no verão passado, agora as duas mulheres eram amigas, ligadas por uma consciência compartilhada da escuridão dentro de algumas pessoas. Jessie tinha passado a confiar tanto nela, que Kat era uma das poucas dezenas de pessoas no mundo que sabia que ela era filha do Executor de Ozarks.

Quando Kat se aproximou, Jessie notou mais uma vez o quanto a chefe de segurança da DNR era dura. Fisicamente imponente, apesar de ter uma altura nada excepcional de um metro e setenta, o seu corpo de sessenta e três quilos era composto quase inteiramente de músculo e de uma vontade de ferro. Ela era uma ex-Ranger do Exército que tinha servido duas vezes no Afeganistão, e trazia no rosto as marcas daqueles dias, queimaduras por estilhaços e uma longa cicatriz que começava logo abaixo de seu olho esquerdo e corria verticalmente para baixo ao lado de sua bochecha. Seus olhos cinzentos eram atentos, examinando tudo o que via para determinar se era uma ameaça ou não.

Ela claramente não considerava Jessie uma ameaça. Kat abriu um sorriso e deu-lhe um grande abraço.

“Há quanto tempo que não vejo você, senhora do FBI”, disse ela com entusiasmo.

Jessie engasgou para respirar com o abraço apertado, conseguindo falar somente depois que ela foi liberada.

“Eu não sou do FBI”, ela lembrou a Kat. “Foi apenas um programa de treinamento. Eu ainda sou afiliada ao Departamento da Polícia de Los Angeles.”

“Seja como for”, disse Kat com desdém. “Você estava em Quantico, trabalhando com as autoridades em sua área, aprendendo técnicas sofisticadas do FBI. Se eu quiser chamá-la de senhora do FBI, é o que farei.”

“Se isso significa que você não vai quebrar minha coluna ao meio, você pode me chamar como quiser.”

“Falando nisso, eu acho que não conseguiria mais fazer isso”, observou Kat. “Você parece mais forte que antes. Eu estou supondo que eles não exercitaram apenas seu cérebro enquanto você estava lá.”

“Seis dias por semana”, Jessie disse a ela. “Longo percurso de trilhas, cursos de obstáculos, autodefesa e treinamento de armas. Eles definitivamente arrancaram meu couro para chegar nessa forma um pouco decente.”

“Eu deveria ficar preocupada?”, Kat perguntou com uma falsa tensão, recuando e levantando os braços em uma postura defensiva.

“Acho que não sou uma ameaça para você”, admitiu Jessie. “Mas sinto que poderia me proteger diante de um suspeito, o que definitivamente não era o caso antes. Olhando para trás, tive a sorte de ter sobrevivido a alguns dos meus recentes encontros.”

“Isso é incrível, Jessie”, disse Kat. “Talvez devêssemos treinar juntas em algum momento, lutar alguns rounds, só para mantê-la em forma.”

“Se por alguns rounds, você quer dizer algumas rodadas de drinks, eu estou dentro. Caso contrário, eu prefiro fazer uma pausa desse negócio de corrida todo dia e dar socos, etc.”

“Eu retiro tudo o que disse”, disse Kat. “Você ainda é a mesma pateta que você sempre foi.”

“Essa é a Kat Gentry que eu conheço e amo. Eu sabia que havia uma razão pela qual você era a primeira pessoa que eu queria ver quando voltei para a cidade.”

“Estou lisonjeada”, disse Kat. “Mas acho que nós duas sabemos que não sou a pessoa que você realmente veio ver. Devemos parar de enrolar e entrar?”

Jessie assentiu e seguiu Kat para a Área Transitória de Preparação, onde a esterilidade e o silêncio puseram fim ao clima lúdico da visita.



*



Quinze minutos depois, Kat levou Jessie até a porta que ligava à ala de segurança da DNR, em direção a algumas das pessoas mais perigosas do planeta. Eles já haviam ido ao escritório de Kat para um interrogatório sobre os últimos meses, o que havia transcorrido surpreendentemente sem quaisquer ocorrências.

Kat informou a Jessie de que, depois que Crutchfield ameaçara fazer uma reunião iminente com o pai dela, a segurança já apertada aumentara ainda mais. A instalação tinha acrescentado mais câmeras de segurança e ainda mais etapas de verificação de identidade para os visitantes.

Não havia indícios de que Xander Thurman tivesse tentado visitar Crutchfield. Seus únicos convidados tinham sido o médico que vinha todos os meses para checar seus sinais vitais, o psiquiatra com quem ele quase nunca falou, um detetive da polícia que esperava, futilmente como se viu, que Crutchfield compartilhasse informações sobre um caso antigo em que estava trabalhando, e seu advogado nomeado pelo tribunal, que apareceu apenas para se certificar de que ele não estava sendo torturado. Ele mal se envolveu com qualquer um deles.

De acordo com Kat, ele não havia mencionado Jessie para a equipe, nem mesmo para Ernie Cortez, o oficial despreocupado que supervisionava seus banhos semanais. Era como se ela não existisse. Ela se perguntou se ele estava chateado com ela.

“Eu sei que você se lembra do protocolo”, disse Kat, quando elas estavam na porta de segurança. “Mas já faz alguns meses, pelo que vamos revisar os procedimentos de segurança como precaução. Não se aproxime do prisioneiro. Não toque a barreira de vidro. Eu sei que este será inútil, mas oficialmente, você não deve compartilhar nenhuma informação pessoal. Entendeu?”

“Sim”, disse Jessie, contente por relembrar as instruções. Foi útil para colocá-la no estado de espírito adequado.

Kat deslizou o distintivo dela no sensor e acenou para a câmera sobre a porta. Alguém lá dentro autorizou a entrada delas. Jessie ficou imediatamente impressionada com a surpreendente onda de atividade. Em vez dos habituais quatro guardas de segurança, havia agora seis. Além disso, havia três homens em uniformes de técnicos andando por ali com vários equipamentos.

“O que está acontecendo?”, ela perguntou.

“Ah, esqueci de mencionar - vamos receber alguns novos residentes no meio da semana. Nós vamos estar totalmente cheios, nas dez celas. Então, estamos verificando o equipamento de vigilância nas celas vazias para garantir que tudo esteja funcionando corretamente. Também aumentamos a equipe de segurança em cada turno, de quatro oficiais para seis durante o dia, não me incluindo, e de três para quatro à noite.”

“Isso soa... arriscado”, disse Jessie diplomaticamente.

“Eu lutei contra isso”, admitiu Kat. “Mas o condado tinha uma necessidade e nós tínhamos celas disponíveis. Era uma batalha perdida.”

Jessie assentiu enquanto olhava ao redor. As características básicas do lugar pareciam iguais. A unidade fora projetada como uma roda com um centro de comando no meio e raios se estendendo em todas as direções, levando às celas dos presidiários. Havia atualmente seis policiais no espaço agora apertado do centro de comando, que parecia um posto de enfermeiras de hospital extremamente ocupado.

Alguns dos rostos eram novos para ela, mas a maioria era familiar, incluindo Ernie Cortez. Ernie era um espécime enorme de um homem, com cerca de dois metros de altura e 113 quilos bem musculosos. Ele estava na casa dos trinta e começava mostrando um pouco de cinza em seu curto cabelo preto . Ele deu um grande sorriso quando viu Jessie.

“Garota da Vogue!”, ele chamou, usando o apelido carinhoso que ele tinha dado a ela em seu primeiro encontro, quando ela apareceu e ele tentara dar uma cantada nela, sugerindo que ela deveria ser uma modelo. Ela o tinha dispensado bem rápido, mas ele não parecia guardar rancor.

“Como vai, Ernie?”, ela perguntou, sorrindo de volta.

“Você sabe; o mesmo de sempre. Certificando-me de que pedófilos, estupradores e assassinos se comportam direitinho. E você?”

“Basicamente o mesmo”, disse ela, decidindo não entrar nos detalhes de suas atividades nos últimos meses com tantos rostos desconhecidos por perto.

“Então, agora que você teve alguns meses para superar seu divórcio, quer gastar um pouco de tempo com o Ernster aqui? Estou planejando ir a Tijuana neste fim de semana.”

“O Ernster?”, Jessie repetiu, incapaz de parar de rir.

“O quê?”, ele disse, fingindo uma defensiva. “É um apelido.”

“Sinto muito, Ernster, mas tenho certeza de que vou ter planos nesse final de semana. Mas você se divirta na trilha do jai alai. Compre alguns chicletes para mim, ok?”

“Ai”, ele respondeu, agarrando seu peito como se ela tivesse disparado uma flecha em seu coração. “Você sabe, meninos grandes também têm sentimentos. Nós também, você sabe… garotos grandes.”

“Tudo bem, Cortez”, Kat interveio, “já chega disso. Você acabou de me fazer regurgitar um pouco na minha boca. E Jessie tem negócios a tratar.”

“Isso magoa”, Ernie murmurou baixinho enquanto voltava sua atenção para o monitor à sua frente. Apesar de suas palavras, seu tom sugeria que ele não estava tão chateado assim. Kat fez sinal para Jessie segui-la até o telefone que ligava à cela de Crutchfield.

“Você vai querer isso”, disse ela, segurando o pequeno chaveiro com o botão vermelho no meio. Era o dispositivo que servia como ‘em caso de emergência, quebre o vidro’. Jessie o considerava uma espécie de cobertor de segurança digital.

Se Crutchfield a provocasse e ela quisesse sair da sala sem deixá-lo saber sobre o impacto que ele estava tendo, ela deveria apertar o botão escondido em sua mão. Isso alertaria Kat, que poderia removê-la da sala por algum motivo oficial e inventado. Jessie tinha certeza de que Crutchfield estava ciente do aparelho, mas estava feliz por tê-lo na mão, mesmo assim.

Ela pegou o chaveiro, acenou para Kat que ela estava pronta para entrar e respirou fundo. Kat abriu a porta e Jessie entrou.

Parecia que Crutchfield tinha previsto sua chegada. Ele estava em pé, a poucos centímetros da parede de vidro que dividia a sala ao meio, sorrindo largamente para ela.




CAPÍTULO SEIS


Jessie levou um segundo para tirar os olhos dos dentes tortos dele e avaliar a situação.

Na superfície, ele não parecia assim tão diferente do que ela lembrava. Ele ainda tinha o cabelo loiro, cortado perto da cabeça. Ele ainda usava o mesmo uniforme azul-marinho obrigatório. Ele ainda tinha o rosto um pouco mais rechonchudo do que se poderia esperar de um homem com cerca de um metro e setenta de altura e setenta quilos. Isso o fazia parecer mais perto de vinte e cinco anos de idade do que dos trinta e cinco que ele realmente tinha.

E ele ainda tinha aqueles olhos castanhos com ar de perseguidores. Eles eram o único indício de que o homem em frente a ela havia matado pelo menos dezenove pessoas e talvez o dobro disso.

A cela não havia mudado também. Era pequena, com uma cama estreita sem lençóis e aparafusada à parede oposta. Uma pequena escrivaninha com uma cadeira presa ao chão ficava no canto traseiro direito, ao lado de uma pequena pia de metal. Atrás, havia um vaso sanitário, colocado atrás de uma porta de plástico deslizante para um mínimo de privacidade.

“Menina Jessie”, ele falou suavemente. “Que surpresa inesperada esbarrar com você aqui.”

“E, no entanto, você estava em pé aí como se esperasse minha chegada a qualquer instante”, rebateu Jessie, não querendo dar a Crutchfield nem um momento de vantagem. Ela se aproximou e sentou-se na cadeira atrás de uma pequena mesa do outro lado do vidro. Kat assumiu sua posição habitual, de pé e em alerta no canto da sala.

“Senti uma mudança na energia dessa instalação”, ele respondeu, com seu sotaque do Louisiana tão pronunciado quanto antes. “O ar parecia mais doce e achei que estava ouvindo um pássaro cantando do lado de fora.”

“Você não costuma ser tão cheio de bajulação”, observou Jessie. “Se importa em compartilhar o que te deixou num clima tão cordial?”

“Nada em particular, Menina Jessie. Não pode o homem apenas apreciar a pequena alegria que vem de ter uma visita inesperada?”

Algo na maneira como ele disse a última frase fez o couro cabeludo de Jessie se arrepiar, como se houvesse algo a mais no comentário. Ela ficou em silêncio por um momento, permitindo que sua mente trabalhasse, sem se preocupar com qualquer tipo de constrangimento. Ela sabia que Kat iria deixá-la conduzir aquele encontro da forma que ela quisesse.

Revirando as palavras de Crutchfield em sua cabeça, Jessie percebeu que elas poderiam ter mais de um significado.

“Quando você fala sobre visitas inesperadas, você está se referindo a mim, Sr. Crutchfield?”

Ele olhou para ela por vários segundos sem falar. Finalmente, lentamente, o largo sorriso forçado em seu rosto transformou-se em um sorriso mais malévolo - e mais crível.

“Nós não estabelecemos as regras básicas para esta visita”, disse ele, de repente virando as costas para ela.

“Eu acho que os dias de regras básicas já passaram há muito tempo, não é, Sr. Crutchfield?”, ela perguntou. “Nós nos conhecemos há tempo suficiente para que possamos conversar, não podemos?”

Ele caminhou de volta para a cama anexada à parede de trás da cela e se sentou. A expressão dele estava ligeiramente escondida na sombra agora.

“Mas como posso ter certeza de que você será tão aberta e sincera comigo, da mesma forma que você gostaria que eu fosse com você?”, ele perguntou.

“Depois que você ordenou a um de seus lacaios que invadisse o apartamento da minha amiga e a assustasse a ponto de ela ainda não conseguir dormir, não tenho certeza se você merece minha confiança ou minha disposição para ser receptiva.”

“Você menciona esse incidente”, ele disse, “mas você não menciona as várias vezes em que eu lhe dei auxílio em casos tanto profissionais quanto pessoais. Para cada suposta indiscrição de minha parte, tenho compensado com informações que se revelaram inestimáveis para você. Tudo o que estou pedindo são garantias de que isso não será uma via de mão única.”

Jessie olhou para ele com intensidade, tentando determinar como ela poderia ser mais aberta e ainda assim manter uma distância profissional.

“O que é exatamente o que você está procurando?”

“Agora mesmo? Apenas seu tempo, Menina Jessie. Eu prefiro que você não seja alguém tão afastada de mim. Já se passaram setenta e seis dias desde a última vez que você me agraciou com sua presença. Um homem menos confiante do que eu poderia ficar ofendido com essa longa ausência.”

“Ok”, disse Jessie. “Prometo visitá-lo com mais regularidade. De fato, vou me certificar de passar aqui pelo menos uma vez mais esta semana. Como isso soa?”

“É um começo”, ele respondeu sem compromisso.

“Ótimo. Então vamos voltar à minha pergunta. Você disse antes que apreciava a alegria que vem de ter uma visita inesperada. Você estava se referindo a mim?”

“Menina Jessie, embora seja sempre uma delícia deleitar-me com sua companhia, devo confessar que meu comentário foi de fato em referência a outra visita.”

Jessie podia sentir Kat enrijecer no canto atrás dela.

“E a quem você está se referindo?”, ela perguntou, mantendo seu nível de voz.

“Eu acho que você sabe.”

“Eu gostaria que você me dissesse” insistiu Jessie.

Bolton Crutchfield levantou-se novamente, agora mais visível sob a luz, e Jessie pôde ver que ele estava enrolando a língua na boca, como se fosse um peixe em uma linha com a qual ele estava brincando.

“Como eu assegurei na última vez que falamos, eu teria uma conversa com seu pai.”

“E você teve?”

“Eu tive, realmente”, ele respondeu tão casualmente como se ele estivesse dizendo a ela que horas eram. “Ele me pediu para passar os cumprimentos dele, depois que eu ofereci os seus.”

Jessie olhou para ele de perto, procurando qualquer sinal que revelasse mentiras em seu rosto.

“Você falou com Xander Thurman”, ela reconfirmou, “nesta sala, em algum momento nas últimas onze semanas?”

“Eu falei.”

Jessie sabia que Kat estava prestes a fazer suas próprias perguntas para tentar confirmar a veracidade da afirmação dele e como isso poderia ter acontecido. Mas para Jessie, isso era secundário e poderia ser tratado mais tarde. Ela não queria que a conversa se desviasse, então seguiu em frente antes que sua amiga pudesse dizer qualquer coisa.

“O que vocês falaram?”, ela perguntou, tentando que sua voz não emitisse qualquer julgamento.

“Bem, nós tivemos que ser bastante enigmáticos, de modo a não revelar a verdadeira identidade dele àqueles que ficam ouvindo. Mas a essência da nossa conversa foi sobre você, Menina Jessie.”

“Eu?”

“Sim. Se você se lembra, ele e eu conversamos um par de anos atrás e ele me avisou que você poderia um dia me visitar. Mas você teria um nome diferente daquele que ele havia lhe dado, Jessica Thurman.”

Jessie se encolheu involuntariamente com o nome que ela não tinha ouvido falar em voz alta por ninguém além de si mesma em duas décadas. Ela sabia que ele tinha visto a reação dela, mas não havia nada que ela pudesse fazer sobre isso. Crutchfield sorriu conscientemente e continuou.

“Ele queria saber como sua filha perdida estava indo. Ele estava interessado em todos os tipos de detalhes - o que você faz para viver, onde mora, como se parece agora, qual é o seu novo nome. Ele está muito ansioso para se reconectar, Menina Jessie.”

Enquanto ele falava, Jessie disse a si mesma para respirar lentamente para dentro e para fora. Ela se lembrou de relaxar o corpo e fazer o melhor para parecer calma, mesmo que fosse apenas uma fachada. Ela tinha que parecer imperturbável ao fazer sua pergunta seguinte.

“Você compartilhou algum desses detalhes com ele?”

“Apenas um”, disse ele maliciosamente.

“Qual?”

“Casa é onde está o coração”, disse ele.

“Que diabos isso significa?”, ela quis saber, com seu coração, de repente, batendo rapidamente.

“Eu disse a ele a localização do lugar que você chama de casa”, ele disse com naturalidade.

“Você deu a ele meu endereço?”

“Eu não fui tão específico. Para ser honesto, não sei seu endereço exato, apesar dos meus melhores esforços para descobri-lo. Mas eu sei o suficiente para ele encontrar o caminho até você se ele for esperto. E como ambos sabemos, Menina Jessie, seu pai é muito esperto.”

Jessie engoliu em seco e lutou contra o desejo de gritar com ele. Ele ainda estava respondendo suas perguntas e ela precisava do máximo de informação quanto pudesse antes de parar.

“Então, quanto tempo eu tenho antes que ele bata na minha porta?”

“Isso depende de quanto tempo levará para ele juntar as peças”, disse Crutchfield com um encolher de ombros exagerado. “Como eu disse, eu tive que ser um pouco enigmático. Se eu tivesse sido muito específico, teria enviado sinais de alerta para as pessoas que monitoram todas as minhas conversas. Isso não teria sido produtivo.”

“Por que você não me diz exatamente o que você disse a ele? Dessa forma, posso descobrir o calendário provável para mim.”

“Mas onde está a graça disso, Menina Jessie? Eu estou bastante comprometido com você. Mas isso me parece uma vantagem irracional. Temos que dar ao homem uma chance.”

“Uma chance?”, Jessie repetiu, incrédula. “Para quê? Para que ele tenha uma vantagem para me esfaquear toda, como ele fez com minha mãe?”

“Isso não me parece justo”, ele respondeu, aparentando ficar mais calmo quanto mais agitada Jessie ficava. “Ele poderia ter feito isso naquela cabana no meio da neve naqueles anos lá atrás. Mas ele não o fez. Então, por que assumir que ele está pensando em lhe causar algum mal agora? Talvez ele só queira levar sua pequena senhora para passar o dia na Disneylândia.”

“Você vai me desculpar por eu não estar tão inclinada a dar-lhe o benefício da dúvida”, ela disse bruscamente. “Isto não é um jogo, Bolton. Você quer que eu te visite de novo? Eu preciso estar viva para fazer isso. Eu não serei muito conversadora se seu mentor esfaquear sua amiga favorita.”

“Duas coisas, Menina Jessie: primeiro de tudo, eu entendo que isso vai soar como uma notícia disruptiva, mas eu preferiria que você não adotasse um tom tão familiar comigo. Me chamando pelo meu primeiro nome? Isso não é apenas pouco profissional, é impróprio para você.”

Jessie fervia em silêncio. Mesmo antes de ele lhe dizer a segunda coisa, ela sabia que ele não lhe diria o que ela queria. Ainda assim, ela permaneceu em silêncio, literalmente mordendo a língua, caso ele mudasse de ideia.

“E segundo”, ele continuou, claramente gostando de vê-la se contorcer, “apesar de eu gostar da sua companhia, não presuma que você é minha amiga favorita. Não nos esqueçamos da sempre vigilante oficial Gentry atrás de você. Ela é verdadeiramente simpática – uma simpatia podre e rançosa. Como eu disse a ela em mais de uma ocasião, quando eu partir deste lugar, pretendo dar a ela uma despedida especial, se você entender o que quero dizer. Então, por favor, não tente invadir a linha da amizade.”

“Eu...”, Jessie começou, na esperança de fazê-lo mudar de ideia.

“Nosso tempo acabou, receio”, disse ele secamente. Com isso, ele se virou e caminhou até o minúsculo nicho da cela com o vaso sanitário e puxou o divisor de plástico, terminando a conversa.




CAPÍTULO SETE


Jessie não parava de virar o pescoço de um lado para o outro, à procura de alguém ou algo fora do comum.

Quando ela retornou ao seu apartamento, seguindo a mesma rota tortuosa que tinha feito no início do dia, todas as precauções de segurança das quais ela se orgulhava há apenas algumas horas agora pareciam insuficientemente inadequadas.

Desta vez, ela amarrou o cabelo em um coque e o escondeu debaixo de um boné de beisebol e do capuz de um moletom que tinha comprado no caminho de volta de Norwalk. Sua pequena bolsa estava presa na frente para que ela a abraçasse em seu peito. Apesar do anonimato extra que eles tinham fornecido, ela não usava óculos de sol por preocupação de limitar sua linha de visão.

Kat prometera rever a fita de todas as visitas recentes de Crutchfield para ver se eles haviam perdido alguma coisa. Ela também disse que se Jessie pudesse esperar até o término do trabalho, ela faria a viagem para o centro acompanhando-a, mesmo que ela morasse na longínqua Cidade da Indústria, para garantir que Jessie voltava em segurança. Ela recusou educadamente a oferta.

“Eu não posso contar com uma escolta armada em todos os lugares que eu vá a partir de agora”, Jessie insistiu.

“Por que não?”, Kat perguntou apenas meio brincando.

Agora, enquanto caminhava pelo corredor até seu apartamento, ela se perguntava se deveria ter aceitado a oferta da amiga. Ela se sentia especialmente vulnerável com a sacola de compras em seus braços. O corredor estava mortalmente quieto e ela não tinha visto ninguém desde que tinha entrado no prédio. Uma ideia maluca invadiu a mente dela, antes mesmo que ela pudesse descartá-la - que seu pai tinha matado todos em seu andar para que ele não tivesse que lidar com complicações quando se aproximasse dela.

Seu olho mágico emanava a luz verde, o que lhe deu uma certa segurança ao abrir a porta, olhando para as duas extremidades do corredor, para flagrar qualquer um que pudesse pular sobre ela. Ninguém pulou. Uma vez lá dentro, ela acendeu as luzes e, em seguida, trancou tudo de novo antes de desarmar os dois alarmes. Imediatamente depois, ela rearmou o alarme principal no modo ‘casa’ para que ela pudesse se mover pelo apartamento sem desligar os sensores de movimento.

Ela colocou a sacola no balcão da cozinha e vasculhou o lugar, com o cassetete na mão. Ela tinha conseguido obter uma permissão de arma de fogo antes de partir para Quantico e deveria pegar sua arma quando fosse à delegacia trabalhar amanhã. Parte dela queria ter pego logo a arma quando tinha ido lá mais cedo para buscar sua correspondência. Quando ela finalmente estava confiante de que o apartamento estava seguro, ela começou a guardar as compras, deixando de fora o sashimi que ela comprara para o jantar, em vez da pizza.

Nada como sushi de supermercado na segunda-feira à noite para fazer uma garota solteira se sentir especial na cidade grande.

O pensamento a fez rir brevemente antes de se lembrar de que seu pai assassino em série tinha recebido orientações para encontrar o apartamento dela. Talvez não tenha sido um roteiro completo. Mas a partir do que Crutchfield dissera, era o suficiente para ele mais cedo ou mais tarde encontrá-la. A grande questão era: quando seria esse ‘mais cedo ou mais tarde’?



*



Noventa minutos depois, Jessie estava socando um saco pesado, com suor escorrendo de seu corpo. Depois de terminar o sushi, ela se sentira inquieta e confinada e decidiu resolver suas frustrações de maneira construtiva na academia.

Ela nunca tinha sido muito viciada em fazer exercício físico. Mas, enquanto esteve na Academia Nacional ela chegou a uma descoberta inesperada. Quando ela treinava até a exaustão, não havia mais espaço dentro dela para a ansiedade e para o medo que tanto a consumiam no resto do tempo. Se ela soubesse disso há uma década, ela poderia ter salvado milhares de noites sem dormir, mesmo as noites cheias de pesadelos sem fim.

Também poderia tê-la salvado de algumas viagens para ver sua terapeuta, Dra. Janice Lemmon. Dra. Lemmon, uma renomada psicóloga forense, era uma das poucas pessoas que sabiam todos os detalhes sobre o passado de Jessie. Ela tinha sido um recurso inestimável nos últimos anos.

Mas ela estava atualmente em recuperação de um transplante de rim e não estaria disponível para sessões por mais algumas semanas. Jessie estava tentada a pensar que poderia dispensar completamente as visitas. Mas, embora pudesse ser mais barato seguir com a terapia de treino sozinha, ela sabia que certamente haveria momentos em que precisaria ver a médica no futuro.

Enquanto começava a desferir mais uma série de socos, ela lembrou como, antes de sua viagem para Quantico, muitas vezes acordava coberta de suor, respirando pesadamente, tentando lembrar-se que estava segura em Los Angeles e não de volta em uma pequena cabana no Missouri Ozarks, amarrada a uma cadeira, vendo o sangue pingar lentamente do corpo gelado de sua mãe morta.

Quem dera que isso tivesse sido apenas um sonho também. Mas tinha sido tudo real. Quando tinha apenas seis anos e o casamento de seus pais estava em ruínas, seu pai levara ela e sua mãe para aquela cabana remota. Enquanto estavam lá, ele revelou que vinha sequestrando, torturando e matando pessoas durante anos. E depois ele fez o mesmo com sua própria esposa, Carrie Thurman.

Enquanto ele prendia as mãos dela nas vigas do teto da cabana e a esfaqueava intermitentemente com uma faca, ele fez Jessie - então Jessica Thurman – assistir tudo. Ele amarrou os braços da criança em uma cadeira e colou as pálpebras dela com fita para os olhos ficarem abertos, e então rasgou o corpo da mãe em definitivo

Depois ele usou a mesma faca para cortar uma grande ferida na clavícula de sua filha, do ombro esquerdo até a base do pescoço. A seguir, ele simplesmente saiu da cabana. Três dias depois, quando estava hipotérmica e em estado de choque, Jessie foi descoberta por dois caçadores que estavam passando por ali.

Depois que ela se recuperou, ela contou à polícia e ao FBI a história. Mas a essa altura, seu pai já há muito que tinha ido embora e qualquer esperança de pegá-lo também já tinha sumido. Jessica foi colocada no programa de Proteção às Testemunhas em Las Cruces com a família Hunt. Jessica Thurman se tornou Jessie Hunt e uma nova vida começou.

Jessie enxotou aquelas lembranças de sua cabeça, trocando de socos para joelhadas, como se estivesse mirando na virilha de um agressor. Ela abraçou a dor que sentia no quadril ao desferir as joelhadas. A cada golpe, a imagem da pele pálida e sem vida de sua mãe desaparecia um pouco mais.

Então, outra lembrança surgiu em sua cabeça, a de seu ex-marido, Kyle, atacando-a em sua própria casa, tentando matá-la e acusá-la pelo assassinato da amante dele. Ela quase podia sentir o ferro do atiçador de lareira que ele encravou no lado esquerdo do abdômen dela.

A dor física daquele momento foi tão grande quanto a humilhação que ela ainda sentia por ter passado uma década envolvida com um sociopata sem nunca ter percebido isso. Ela era, afinal, supostamente especialista em identificar esse tipo de pessoas.

Jessie trocou os golpes de novo, na esperança de afastar a vergonha de sua mente com uma série de cotoveladas para o saco, perto de onde o queixo de um assaltante estaria. Seus ombros estavam começando a gritar, mas ela continuou a esmurrar o saco, sabendo que sua mente logo estaria cansada demais para ficar angustiada.

Essa era a parte de si mesma que ela não esperava ter descoberto no FBI - a durona físicamente forte. Apesar da apreensão normal que sentiu ao chegar lá no curso, ela suspeitava que se sairia bem na parte acadêmica das coisas. Ela tinha acabado de passar os três anos anteriores num ambiente similar, imersa em psicologia criminal.

E ela estava certa. As classes em lei, ciência forense, e terrorismo tinham sido fáceis. Mesmo o seminário de ciência comportamental, no qual os instrutores eram como heróis para ela e ela pensou que ficaria nervosa, decorreu naturalmente. Foi mesmo nas aulas de condicionamento físico e no treinamento de defesa pessoal onde ela mais se surpreendeu consigo mesma.

Seus instrutores haviam mostrado a ela que, com um metro e setenta e sete de altura e sessenta e cinco quilos, ela tinha o tamanho físico para lidar com a maioria dos criminosos se estivesse adequadamente preparada. Ela provavelmente nunca teria as mesmas habilidades de combate um-contra-um de um veterano das Forças Especiais, como Kat Gentry tinha. Mas ela deixou o programa confiante de que poderia se defender na maioria das situações.

Jessie tirou as luvas e foi para a esteira. Olhando para o relógio, ela viu que estava se aproximando das oito da noite. Ela decidiu que uma corrida de oito quilômetros deveria cansá-la o suficiente para deixá-la dormir sem sonhos essa noite. Essa era uma prioridade, já que ela iria voltar ao trabalho amanhã, onde sabia que todos os seus colegas iriam incomodá-la bastante, esperando que ela fosse agora algum tipo de super-heroína do FBI.

Ela estabeleceu o tempo em quarenta minutos, colocando pressão sobre si mesma para completar os oito quilômetros em um ritmo de cinco minutos por quilômetro. Então ela aumentou o volume dos fones de ouvido. Quando os primeiros segundos de ‘Killer’ de Seal começaram a tocar, sua mente ficou em branco, concentrando-se apenas na tarefa à sua frente. Ela estava completamente alheia ao título da música ou quaisquer memórias pessoais que isso poderia evocar. Havia apenas a batida e as pernas trotando em harmonia com ela. Era o mais próximo de paz que Jessie Hunt conseguia.




CAPÍTULO OITO


Eliza Longworth se apressou até à porta da frente de Penny o mais rápido que pôde. Eram quase 8 da manhã, hora em que normalmente a instrutora de ioga aparecia.

Tinha sido uma noite em grande parte sem dormir. Só na primeira luz da manhã ela sentiu que sabia o caminho que precisava seguir. Assim que Eliza tomou uma decisão, ela sentiu um peso sair dos ombros dela.

Ela tinha mandado uma mensagem a Penny para dizer que a longa noite tinha lhe dado tempo suficiente para pensar e reconsiderar se ela tinha sido muito apressada em terminar a amizade delas. Elas deviam fazer a aula de ioga. E depois, quando a instrutora, Beth, fosse embora, elas poderiam tentar encontrar uma maneira de resolver as coisas.

Penny não tinha respondido, mas isso não impedira que Eliza fosse até lá de qualquer maneira. Assim que ela chegou à porta da frente, viu Beth dirigindo pela estrada residencial sinuosa e acenou para ela.

“Penny!”, ela gritou quando bateu na porta. “Beth já chegou. Ainda estamos combinadas para a ioga?”

Não houve resposta, então ela apertou a campainha e balançou os braços na frente da câmera.

“Penny, posso entrar? Devemos conversar por um segundo antes que Beth chegue.”

Continuou sem haver resposta e Beth estava a uns cem metros ao fundo da rua, então ela decidiu entrar. Ela sabia onde a chave secreta era mantida, mas tentou abrir a porta assim mesmo. Não estava trancada. Ela entrou, deixando a porta aberta para Beth.

“Penny”, ela gritou, “você deixou a porta destrancada. Beth já está estacionando. Você recebeu minha mensagem? Podemos conversar em particular por um minuto antes de começarmos?”

Ela entrou no saguão de entrada e esperou. Permanecia sem resposta. Ela foi até à sala de estar onde elas geralmente faziam as sessões de ioga. Estava vazia também. Ela estava prestes a ir até à cozinha quando Beth entrou.

“Senhoras, estou aqui!”, ela gritou da porta da frente.

“Oi, Beth”, disse Eliza, virando-se para cumprimentá-la. “A porta estava destrancada, mas Penny não está respondendo. Eu não tenho certeza do que está acontecendo. Talvez ela tenha dormido demais ou esteja no banheiro ou algo assim. Eu posso verificar lá em cima se você quiser pegar algo para beber. Tenho certeza que vai ser apenas um minuto.”

“Não há problema”, disse Beth. “Meu cliente das nove e meia cancelou, então não estou com pressa. Diga a ela para não se apressar.”

“Ok”, disse Eliza enquanto começava a subir as escadas. “Apenas nos dê um minuto.”

Ela estava a meio caminho do primeiro lance de escadas quando se perguntou se não deveria ter pegado o elevador. O quarto principal ficava no terceiro andar e ela não estava entusiasmada com a caminhada. Antes que ela pudesse reconsiderar seriamente, ela ouviu um grito lá embaixo.

“O que está acontecendo?”, ela gritou enquanto se virava e corria de volta para baixo.

“Depressa!”, Beth gritou. “Ai meu Deus, depressa!”

Sua voz vinha da cozinha. Eliza começou a correr quando chegou lá em baixo, atravessando a sala e dobrando a esquina.

No chão da cozinha de cerâmica espanhola, deitada em uma enorme piscina de sangue, estava Penny. Seus olhos estavam congelados em terror, seu corpo contorcido em um horrível espasmo de morte.

Eliza apressou-se em direção à sua mais antiga e querida amiga, escorregando no líquido espesso quando se aproximou. Seu pé escorregou e ela caiu com força no chão, todo o seu corpo espirrando sobre o sangue.

Tentando não vomitar, ela se arrastou e colocou as mãos no peito de Penny. Mesmo com roupas, ela estava fria. Apesar disso, Eliza sacudiu-a, como se isso pudesse acordá-la.

“Penny”, ela implorou, “acorde.”

Sua amiga não respondeu. Eliza olhou para Beth.

“Você sabe fazer respiração boca a boca?”, ela perguntou.

“Não”, a mulher mais jovem disse com uma voz trêmula, sacudindo a cabeça. “Mas acho que é tarde demais.”

Ignorando o comentário, Eliza tentou se lembrar da aula de primeiros socorros que havia frequentado anos atrás. Tinha sido voltada para tratar crianças, mas os mesmos princípios deviam ser aplicados nessa situação. Ela abriu a boca de Penny, inclinou a cabeça para trás, apertou o nariz dela e soprou com força para dentro da boca da amiga.

Então ela montou sobre a cintura de Penny, colocou uma mão em cima da outra com as palmas das mãos para baixo e começou a bombear sobre o esterno de Penny. Ela fez isso uma segunda vez e depois uma terceira, tentando entrar em algum tipo de ritmo.

“Oh Deus”, ela ouviu Beth murmurar e olhou para cima para ver o que estava acontecendo.

“O que está acontecendo?”, ela exigiu duramente.

“Quando você bombeia, o sangue escorre do peito dela.”

Eliza olhou para baixo. Era verdade. Cada compressão causava um pequeno vazamento de sangue do que pareciam ser grandes cortes na cavidade torácica de Penny. Ela olhou para cima novamente.

“Ligue para o 911!”, ela gritou, embora soubesse que seria inútil.



*



Jessie, que se sentia inesperadamente nervosa, chegou cedo ao trabalho.

Com todas as precauções extras de segurança que tinha, decidira partir vinte minutos antes para seu primeiro dia de trabalho em três meses, para ter certeza de que chegaria às nove da manhã, o horário que o capitão Decker lhe dissera para aparecer. Mas ela devia estar a ficar melhor em passar por todas as curvas e escadas ocultas no seu prédio, porque não demorou tanto tempo quanto pensava para chegar à Delegacia Central.

Enquanto caminhava do estacionamento para a entrada principal da delegacia, seus olhos se moviam para frente e para trás, procurando por algo fora do comum. Mas então ela se lembrou da promessa que tinha feito para si mesma antes de adormecer na noite passada. Ela não permitiria que a ameaça de seu pai a consumisse.

Ela não fazia ideia de quão vagas ou específicas tinham sido as informações que Bolton Crutchfield passara para o pai dela. Ela não podia sequer ter a certeza de que Crutchfield estava dizendo a verdade. Independentemente disso, já não havia mais muita coisa que ela pudesse fazer a esse respeito, além daquilo que ela já estava fazendo. Kat Gentry estava verificando os videos das visitas de Crutchfield. O apartamento onde vivia era basicamente um bunker. Ela iria receber sua arma oficial hoje. Além disso, ela precisava viver a vida. Caso contrário, ficaria louca.

Ela voltou para o principal escritório da delegacia, apreensiva com a recepção que receberia depois de tanto tempo. Além disso, quando ela tinha estado aqui pela última vez, ela era apenas uma consultora interina e junior de perfis criminais.

Agora, a etiqueta de ‘interina’ havia desaparecido e, embora tecnicamente ainda fosse consultora, ela era paga pelo Departamento de Polícia de Los Angeles e recebia todos os benefícios correspondentes. Isso incluía seguro de saúde, do qual, se a experiência recente fosse um exemplo, ela precisaria muito.

Quando ela entrou na grande área de trabalho central, composta por dezenas de mesas, separadas por nada mais do que quadros de cortiça, ela inspirou e esperou. Mas não aconteceu nada. Ninguém disse nada.

Na verdade, ninguém pareceu nem notar sua chegada. Algumas cabeças estavam baixas, estudando arquivos de casos. Outros colegas estavam presos às pessoas do outro lado da mesa, na maioria dos casos testemunhas ou suspeitos algemados.

Ela se sentiu um pouco desanimada. Mas mais que isso, ela se sentiu boba.

O que eu estava esperando - um desfile?

Não é como se ela tivesse ganho o mítico Prêmio Nobel de resolução de crimes. Ela foi para uma academia de treinamento do FBI por dois meses e meio. Era bem legal. Mas ninguém ia explodir em aplausos para ela.

Ela caminhou em silêncio pelo labirinto de mesas, passando pelos detetives com quem trabalhara anteriormente. Callum Reid, com quarenta e poucos anos, levantou os olhos do arquivo que estava lendo. Quando ele acenou para ela, seus óculos quase caíram de sua testa, onde eles estavam apoiados.

Alan Trembley, de vinte e poucos anos, com seus cachos loiros bagunçados como de costume, também usava óculos, mas os dele estavam na ponta do nariz enquanto ele questionava um homem mais velho que parecia estar bêbado. Ele nem percebeu Jessie quando ela passou por ele.

Ela chegou à sua mesa, que estava embaraçosamente arrumada, jogou a jaqueta e a bolsa e sentou-se. Ao fazê-lo, viu Garland Moses saindo devagar da sala de descanso, com o café na mão, enquanto subia as escadas para o escritório do segundo andar, que era essencialmente um pequeno armário de vassouras.

Parecia um espaço de trabalho bastante inexpressivo para o especialista em perfis criminais mais célebre que a polícia de Los Angeles tinha, mas Moses não parecia se importar. Na verdade, ele não se incomodava com muita coisa. Com mais de setenta anos de idade e trabalhando como consultor para o departamento principalmente para evitar o tédio, o lendário especialista podia fazer praticamente o que quisesse. Ex-agente do FBI, ele tinha se mudado para a Costa Oeste para se aposentar, mas foi convencido a prestar consultoria para o departamento. Ele concordou, contanto que ele pudesse escolher seus casos e trabalhar as horas que quisesse. Considerando seu histórico, ninguém se havia oposto na época e ninguém havia questionado até hoje.

Com um monte de cabelos brancos desgrenhados, pele com uma textura de couro e um estilo de se vestir típico de 1981, ele tinha a reputação de ser rabugento na melhor das hipóteses e francamente grosseiro na pior. Mas na única interação significativa de Jessie com ele, ela o tinha achado, se não simpático, pelo menos conversativo. Ela queria aprender mais com sua inteligência, mas ainda estava um pouco receosa em se dirigir a ele diretamente.

Enquanto ele subia as escadas e desaparecia de vista, ela olhou ao redor, procurando por Ryan Hernandez, o detetive com quem ela trabalhava com mais frequência e com quem se sentia quase à vontade para chamar de seu amigo. Eles até tinham recentemente começado a usar o primeiro nome um do outro, uma coisa pouco frequente nos círculos policiais.

Na verdade, eles se tinham conhecido em circunstâncias não profissionais, quando o professor de Jessie o convidara para fazer uma exposição para a turma de psicologia criminal, em seu último semestre na UC-Irvine, no outono passado. Ele apresentou um estudo de caso para a turma, e Jessie foi a única na sala capaz de resolvê-lo. Mais tarde, ela soube que tinha sido apenas a segunda pessoa desde sempre a descobrir o desfecho.

Depois disso, ela e Hernandez permaneceram em contato. Ela o tinha chamado para pedir ajuda depois de começar a desconfiar dos motivos do marido, antes de ele tentar matá-la. E depois que ela tinha se mudado de volta para o centro de LA, acabou sendo designada para a Delegacia Central, onde ele estava baseado.

Eles trabalharam em vários casos juntos, incluindo o assassinato da filantropa de alta sociedade Victoria Missinger. Foi em grande parte a descoberta de Jessie do assassino que a fez conquistar o respeito dos seus pares e que garantiu a ela o treino no FBI. E isso não teria sido possível sem a experiência e os instintos de Ryan Hernandez.

Na verdade, ele era tão bem cotado que havia sido designado para uma unidade especial da seção de Roubos e Homicídios, chamada Seção Especial de Homicídios, ou SEH, abreviado. Eles eram especializados em casos de alta relevância que geravam muito interesse da mídia ou escrutínio público. Isso geralmente significava assassinatos, assassinatos com várias vítimas, assassinatos de pessoas notáveis e, é claro, assassinos em série.

Além dos dons dele como investigador, Jessie era obrigada a reconhecer que não era nada desagradável passar um tempo com Ryan. Os dois tinham um relacionamento fácil, como se eles se conhecessem há mais tempo do que aqueles seis meses. Em algumas ocasiões em Quantico, quando sua guarda estava em baixa, Jessie se perguntara se as coisas poderiam ter sido diferentes se eles tivessem se conhecido em outras circunstâncias. Mas na época, Jessie ainda era casada e Hernandez e sua esposa estavam juntos há mais de seis anos.

Nesse momento, o capitão Roy Decker abriu a porta do escritório e saiu. Alto, magro, quase careca, salvo por alguns cabelos soltos, Decker ainda não tinha sessenta anos. Mas ele parecia muito mais velho do que isso, com um rosto amarelado que sugeria um estresse constante. Seu nariz tinha uma ponta aguda e seus pequenos olhos estavam em alerta, como se estivessem sempre a investigar. Jessie supunha que ele estava realmente sempre a fazê-lo.

Quando ele entrou no escritório, alguém apareceu depois logo atrás dele. Era Ryan. Ele estava exatamente como ela se lembrava. Com pouco mais de um metro e oitenta de altura e noventa quilos, com cabelo preto curto e olhos castanhos, ele usava um casaco e gravata que escondia o que ela sabia ser uma estrutura bem musculosa.

Ele tinha trinta anos, jovem para ser um detetive completo. Mas ele subiu rapidamente na carreira, especialmente depois de ter ajudado a pegar um notório assassino em série chamado Bolton Crutchfield, quando ainda era policial de rua.

Quando ele e o capitão Decker saíram, algo que o chefe disse o fez mostrar aquele sorriso caloroso e fácil, capaz de desarmar qualquer um, até mesmo os suspeitos que ele interrogava. Para surpresa de Jessie, a visão daquilo causou uma reação inesperada nela. Em seu peito, ela teve uma sensação estranha que não sentia há anos: uma palpitação diferente no coração.

Hernandez a viu e acenou enquanto os dois homens se aproximavam. Ela se levantou, incomodada por ter tido aquela sensação inesperada e torcendo para que o movimento interrompesse aquilo. Forçando seu cérebro a entrar no modo profissional, ela tentou discernir sobre o que eles poderiam estar falando em particular, com base em suas expressões. Mas os dois homens pareciam usar máscaras, o que sugeria que estavam tentando manter o conteúdo da discussão deles em sigilo. Jessie notou algo, no entanto: Ryan parecia cansado.





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Em A CASA PERFEITA (Livro # 3), a especialista em perfis criminais, Jessie Hunt, 29 anos, recém-saída da Academia do FBI, volta a ser perseguida por seu pai assassino, presa em um perigoso jogo de gato e rato. Enquanto isso, ela deve urgentemente parar um assassino em um novo caso que a leva ao subúrbio – e à beira de sua própria psique. A chave para sua sobrevivência, ela percebe, está em decifrar seu passado – um passado que ela nunca quis enfrentar de novo.Um thriller psicológico em ritmo acelerado com personagens inesquecíveis e suspense de cortar a respiração, A CASA PERFEITA é o livro # 3 de uma nova série fascinante que vai fazer você ler pela noite dentro.Livro #4 na série Jessie Hunt estará disponível em breve.

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