Книга - Sete Planetas

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Sete Planetas
Massimo Longo

Maria Grazia Gullo


Sete planetas: num sistema solar paralelo os povos dos sete planetas fazem uma maratona contra o tempo que decidirá os seus destinos. O destino dos protagonistas entrelaça-se entre o ódio, o amor e a ambição, entre a ciência e o mistério, na tentativa de governar ou libertar as populações do sistema solar de Kic. Planetas, raças e culturas imaginárias e originais uniram as suas forças em aventuras para contrastar o desejo da hegemonia de um fascinante inimigo.







Maria Grazia Gullo - Massimo Longo



Sete planetas



O exosqueleto e o objecto de Parius



Traduzido por Aderito Francisco Huo


Copyright © 2017 M.G. Gullo – M. Longo

A imagem da capa e a gráfica foram realizadas e preparadas por Massimo Longo

Todos os direitos reservados.


Índice







Primeiro Capítulo



O Mar do Silêncio



O general Ruegra fixava o espaço fora da enorme vigia da sua cabina, que fascinante era vendo desta forma todo o sistema planetário de KIC 8462852, com os seus sete planetas em orbita. Nesta conjuntura conseguia ver apenas cinco: Carimea, a sua pátria, com a sua atmosfera já cinzenta, destinada por vocação e posição ao comando; Medusa, azul e fascinante, magnética e perigosa como os seus habitantes; Oria, pequeno e árido como uma Lua, de cor branca claro porque nele reflectia-se a nossa estrela; não distante de Oria, o Sexto Planeta, de cor verde brilhante, o mais socialmente e tecnologicamente avançado dos planetas. Eumenide, com a sua atmosfera rósea, repleta de fascínio como os seus terríveis habitantes.

Tudo isto pouco tempo depois teria sido dos Anic e ele teria sido eleito chefe supremo, devia apenas ter paciência e levar a bom termo o seu plano, com o pergaminho nas suas mãos tudo inclinar-se-ia perante a sua vontade.

O general Ruegra fixava o espaço fora através da enorme vigia (janela circular) da sua cabina e dentro de si crescia a fome do domínio em 7692 ano da fundação da civilização Anic. Ruegra despertou dos seus sonhos de glória bruscamente, a nave tinha colidido com alguma coisa, estavam atravessando os anéis de Bonobo, teria sido melhor dirigir-se à ponte de comando, apesar da aproximação ao planeta fosse uma manobra de rotina, podia guardar umas surpresas. À sua entrada na ponte, foi saudado com respeito pelos seus subalternos. Nem tudo corria conforme o plano do voo, como temia algo tinha danificado a nave.

- Sector oito danificado, General, uma rocha nos atingiu – fez de imediato um relatório o comandante.

- Isolem-no imediatamente e procedam a explosão.

O comandante ordenou para iniciar o procedimento de evacuação no sector:

- Evacuação imediata da área...

- Isolem-no! Não percam mais tempo!

O oficial efectuou imediatamente a ordem, ninguém ousou fazer entender a Ruegra que esta escolha significava sacrificar inutilmente alguns soldados.

As anteparas que separavam o módulo do resto da nave foram abaixadas, somente alguns tiveram a prontidão de lançar-se por baixo da antepara que se encerrava para não ser arrastados à deriva, mas não para salvar-se da imagem dos soldados com a qual, um instante antes, tinham partilhado a existência, que desesperados esmurravam a antepara e desmaiavam no vazio.

A separação efectuou-se e o modulo abandonado à deriva no espaço.

Todas as naves Carimeanas eram de combate, em forma de um enorme trilobite e caracterizada por uma acentuada segmentação, já que predispostas para expelir as secções danificadas para preservar ao máximo as suas prestações durante os embates. À excepção da cabina de comando, composta por uma grande placa com contorno variável de semi-elíptico a poligonal e da parte que fazia as funções de coluna vertebral, todas as secções centrais e a cauda, com a forma de concha de ostra, eram expulsáveis.

Em volta deles, havia uma fileira infinita dos enormes anéis cinzentos do planeta Bonobo, formados por enormes detritos da morte negra de um asteróide que se tinha aproximado em demasia a KIC 8462852.

Bonobo, segundo planeta por distancia a partir do nana (corpo celeste de forma esferoidal em orbita em volta duma estrela), possuía uma grande massa que tinha atraído para si os detritos, poupando o mais pequeno Enas e dando desta forma vida a um dos espectáculos mais surpreendentes de toda a galáxia.

Ao centro dos anéis, eis o planeta, maravilhosamente rico e diferente, reserva imperial Anic de caça, de escravos e de aprovisionamento de matérias-primas. A sua população, de forma antropomorfa, estava ainda nos primórdios da civilização, os Bonobianos tinham a postura erecta, pés preênseis e boa parte do corpo recoberto por pelos.

Grandes como gorilas, mas ingénuos e dóceis como crianças, reproduziam-se rapidamente e eram resistentes às fadigas, características ideais, em suma, para fazê-los de escravos perfeitos.

Bonobo era a única conquista dos Anic permanecido sob seu controlo, graças à vizinhança dos dois planetas que descreviam orbitas semelhantes e simultâneas em volta de KIC 8462852.

Carimea conseguira ocupar outros planetas, mas perdia sistematicamente o controlo por causa de revoluções fomentadas pela Coligação dos Quatro Planetas, facilitadas pela distância entre as orbitas.

A nave aterrou em perfeita hora, na base estavam já prontos os aprovisionamentos, Ruegra desceu a terra para falar com Mastigo, o Governador local. O General não gostava daquele Evic, bastante rude, mas os seus métodos com a população local eram eficazes, pertencia a uma das tribos dominantes em Carimea.

Os Evic eram uns enormes répteis cinzentos verdes capazes de caminhar com as atarracadas e pesadas patas posteriores. Ligeiramente baixos do que os Anic, tinham o corpo, excepto o rosto, recoberto de escamas. O rosto deles, ao meio oval, a altura dos furos das orelhas alargava-se para assumir a forma de meio sino, eram desprovidos os ossos malares e com um nariz mal visível como aquele das serpentes. Agressivos, mas com pouco engenho, eram a única etnia, por número e força, para rivalizar aos Anic o poder. Usavam um colete de seda que os cobria até aos joelhos, fechado na barriga com um par de botões. Para garantir-se do seu auxílio Ruegra tinha escolhido um deles como Governador de Bonobo.

O General foi recebido com grande pompa na sala de vidros do palácio do governo da qual admirava-se uma esplêndida paisagem tropical, era uma maravilhosa noite e o céu resplandecia de reflexos dos anéis.



Ruegra reparava através do vidro que reflectia a sua imagem.

A cor do seu corpo possante, recoberto de escamas, variava adaptando à cor do ambiente circunvizinho, com dificuldade agora podia-se distinguir algumas árvores da paisagem externa. Uma coroa rígida de escamas de ceratina, alta com mais ou menos trinta Kidus, ou centímetros, contornava a sua figura a partir da cabeça. Alongada no corpo, abria-se em leque na ocasião de perigo, tornando-se uma carapaça que os Anic utilizavam para intimidar os adversários. No braço, uma vez aberta, vinha ainda usada como protecção.

Nas vizinhanças do rosto oval, as escamas apequenando-se assumiam uma ligeira uniformidade, debaixo da testa alta, as sobrancelhas e as pestanas de ceratina e azuis faziam sobressair os grandes olhos verdes e os ossos malares salientes de uma cor mais tenra, em contraste com o nariz grande um pouco deformado como aquele de certos pugilistas. A boca estava bem proporcionada com os lábios verdes, grandes e carnudos.

OS Anic dominavam por dimensões todos os povos do sistema solar, desde sempre dominavam a pirâmide predatória.

Ruegra, como todos os Anic, vestia um saiote aberto nos lados por causa das escamas que contornavam o seu corpo, nas costas trazia um manto que distinguia casta e papel recoberto, o seu era de ouro, cor do comando, com os contornos cinzento de fumo e um reclame central da mesma cor que figurava um rapace Atrex.



- A minha saudação vai a o mais invencível dos Carimeanos. És sempre bem-vindo, meu General, como é que foi a viagem? – o saudou Mastigo curvando-se ligeiramente.

- Pois bem, a missão procede segundo as minhas expectativas – mentiu Ruegra – preciso apenas de repousar, os anéis nos fazem sempre dançar um pouco – disse para desembaraçar-se do seu interlocutor.

Mastigo, mandou que lhe servisse uma taça de frutos locais para restaurá-lo da longa viagem interplanetário, era melhor que se metesse cómodo porque devia fazer-lhe relatório sobre um insólito facto acontecido.

- Tenho um estranho caso por te submeter – começou a expor Mastigo – há dois dias Bonobianos, foi interceptada uma pequena nave comercial entrando sem autorização, as sentinelas não fizeram a tempo para mandá-la parar, mergulhou no Mar do Silêncio antes que pudesse parecer potencialmente perigosa.

Investigamos e o seu proprietário declarou de tê-la vendido recentemente a uma Eumenide. Mandei alguns soldados em reconhecimento no ponto presumível da sua aterragem, mas sabes como é, a partir do Mar do Silencio não recebemos comunicações, portanto não nos resta que esperar pacientemente.

Incomodado pela insistência do Governador por um facto de nenhuma relevância, perguntou:

- O que há de estranho? Não percebo...

- O Ponto onde se dirigia... olha... – disse Mastigo indicando um mapa do Mar do Silencio.

- Aquela é a área onde surge a velha cidadela sagrada dos Bonobianos... – sussurrou Ruegra quase dentro de si.

- Por isso dei-me a permissão de referenciar-te um facto em si banal. Enviei uma equipa no lugar. Poderia ser um caso mas melhor não arriscar, aquele lugar está cheio de mistérios. Seria ideal para uma base rebelde vista a ausência de comunicações e levantamentos de radar do qual goza, quase que fosse um buraco negro…

- Poderás ter razão, mantenha-me constantemente actualizado Mastigo, agora é melhor que vá descansar, amanhã partiremos outra vez à alvorada.



Naquela noite Ruegra tinha outra coisa a que pensar, recolhendo-se para o seu aposento pôs-se a sentar sobre o macio sofá e serviu-se um copo de Sidibé, um destilado de frutas de cacto do sítio. O seu olhar perdia-se no vazio e os seus pensamentos perseguiam-se como nuvens antes do furacão.

A viagem da qual regressava, ao contrário de como mal declarado ao seu fiel aliado, tinha sido um enorme fracasso.

Tinha-se dirigido à Lua de Enas, à colónia mineira de Stoneblack, famosa pelos seus mármores, para encontrar um homem que o seu pai respeitava, um velho inimigo da Carimea.

A colónia era governada pela tribo dos Trik, como os Anic povo de Carimea, mas com influências secundárias sobre o comando do planeta.

A sua natureza era servil e traiçoeira, tinham-se demonstrado sempre prontos para trair apenas o vento enchia as velas numa outra direcção.

Naquela Lua, mesmo os amigos podiam conspirar contra ele, portanto disfarcei a visita da inspecção de surpresa e pretensões das gotas de Âmbar Lunar ao irmão ao seu regresso.

Ruegra desfilou diante dos oficiais que, trazendo o cotovelo à altura do ombro e a parte lateral da mão diante da boca, paralela ao terreno, lhe saudavam. Aquele gesto da mão estava a indicar o silêncio perante ao comando e obediência absoluta. Mantinham firme o fôlego na presença dele. A colónia mineira utilizava como mão-de-obra os malfeitores condenados aos trabalhos forçados e os prisioneiros de guerra. Um deles era mantido de olho mais que os outros… e era o seu homem. Além de ser o mais alto em grau, gozava do respeito dos seus companheiros e os representava.

O general, ladeado pelo comandante e seguido por alguns soldados incumbidos ao dever, foi feito acomodar-se na sua sala de relaxamento do comando reservada aos oficiais. O comandante da colónia fez as honras da casa e perguntou se podia servir-lhe alguma coisa.

Ruegra não perdeu tempo, rejeitou a oferta e ordenou:

- Quero verificar as condições dos prisioneiros políticos da guerra contra o Sexto Planeta, deixem-me falar com o mais alto em grau entre eles.

- O General Wof?

- Sim, precisamente ele. Levem-me a ele!

- Sim, senhor.

O comandante deu um sinal a dois guardas e, poucos minutos mais tarde, estes voltaram na sala com um homem enfim não mais na flor da idade, com o físico cansado e esgotado, mas que conservava ainda o olhar cruel e indómito do guerreiro nunca vencido.

- Deixem-nos sós – ordenou Ruegra.

Ficou sozinho com o seu inimigo do engenho mais pungente. Recordou que, durante as batalhas, graças à sua habilidade estratégica e com poucos Sistianos ao seu comando, conseguia subverter os prognósticos que o davam por arruinado.

Hesitou um instante antes de dirigir-lhe a palavra, tinha reflectido sobre diversas estratégias durante a longa viagem, sabia que dificilmente teria perdido de repente o seu adversário. Tinha chegado a hora de escolher uma e começar a escaramuça verbal.

Escolheu de usar a adulação, esperando que a velhice e o cansaço tivessem aberto um caminho à vaidade.

- Saudações Wof, posso dizer que não te sentes mal não obstante não te tenha atribuído um tratamento excelente, mas estabeleci que te trouxessem livros e conhecimento.

- Faz muito tempo que não nos vemos - disse Wof fixando-o com os seus profundos olhos pretos – o que te traz neste lugar esquecido pela luz, onde a escuridão é soberana?

- Venho para falar contigo sobre o meu pai. Quando era criança recordo de tê-lo ouvido fantasiar sobre um pergaminho do qual tu conhecias os segredos. Agora que envelheço repenso nele e me questiono o que há de real naquela história.

Wof procurou de disfarçar a sua surpresa acariciando a sua madeixa encaracolada já branca que contornava o rosto escuro como o ébano.

- A narração do teu pai corresponde a verdade, mas ao que parece não te considerava à altura de conhecer os pormenores, mesmo ele estava a conhecimento dos segredos dos quais falas. Ruegra pareceu espantado, o seu pai tinha muitas vezes esboçado aquele mistério, mas não quisera por ventura aprofundá-lo.

- O que é que há General, questiono-te porque não te falara por acaso?

- Talvés a minha jovem idade e a minha impulsividade tornavam-me um mau interlocutor.

- Diria mais que as características que sempre te distinguiram são a paixão pelo poder e a conquista.

- O poder é indispensável para a ordem e a estabilidade – fez o ponto da situação o General levantando-se impaciente.

- A tua fé está na ordem ao serviço dum único indivíduo e na estabilidade duma única tribo – refutou Wof.

Ruegra começou a caminhar nervoso, ja tinha perdido há tempo a paciência, mas sabia bem que nada valeria torturas ou chantagens com o homem que estava sentado diante dele, o único indício era tentar conquistar a sua confiança.

Tentou a última cartada e disse, mentindo:

- Sabes que tenho um grande respeito do meu pai, quando era criança dizias que lhe assemelhava, via-te como um mestre então…

- O que te leva a pensar que te possa revelar como achar o pergaminho? A pureza de miúdo em ti desvaneceu rapidamente, Ruegra, e a vontade de ter a primazia deixou o passo à cobiça de poder – disse não tirando o olhar dos seus olhos.

- Não sou mais o Anic que recordas durante a guerra, saberia gerir o poder de forma imparcial, o meu pai falhou por não me ter contado tudo – caiu num ataque de ira o General.

- Se vieste ao meu encontro não eras digno da sua confiança. Que pai oculta ao filho o seu saber? Quanta amargura deve ter havido neste seu gesto, quem melhor dele te conhecia e quem sou eu para revelar-te tudo ignorando inconscientemente a sua avaliação a respeito? Como vês não posso que respeitar o seu desejo para honrar a sua memória – proferiu Wof e levantou-se para despedir-se do seu carrasco.

Aquela cena não largava a mente do general que com o copo na mão continuava a fixar o vazio naquela noite quente de Bonobo.



Na manhã seguinte, Ruegra inspeccionou pessoalmente os trabalhos efectuados ara a substituição do módulo destruído pelo asteróide.

Mastigo, tinha seguido os trabalhos perfeitamente e os seus mecânicos como sempre tinham desenvolvido uma excelente obra de reposição. Partiram à hora prevista de volta a casa.



Os dias passaram lentos a bordo e Ruegra tinha uma tamanha pressa de regressar, temendo conspirações, embora o irmão, cujo tinha a quem tinha deixado o comando do planeta na sua ausência, provia assíduas relações perfeitas sobre a situação, que nada deixavam-no a temer. Carimea era um emaranhamento de raças, diferentes tribos rivalizavam aos Anic a supremacia do comando, mas durante enfim do longo domínio de Ruegra, estes tinham eliminado inúmeros opositores. Tinha sido fundada por grupos provenientes de vários sistemas solares, a maior parte deles eram aventureiros a procura da fortuna ou ex detidos à procura de uma pátria onde recomeçar uma nova vida. Apenas uma única parte deles era originário do planeta, estas populações locais tinham sido barbaramente subjugadas e isoladas.

Na via de regresso, sentado na poltrona de comando em coberta, reflectia sobre as palavras de Wof, “o meu pai sabia” continuava e repetir de si para si.

Depois de um instante pensou em como o pai se distanciasse frequentemente nos períodos de caça e naqueles momentos que antecediam a guerra, e como a meta frequentada com maior assiduidade fosse propriamente a terra dos Bonobianos e em particular o Mar do Silencio.

No momento em que estes pensamentos atravessavam a sua mente, foi atingido por uma fulminação “o que me levou a não pensar nisso antes?” Lá devia encontrar algo ou alguém que poderia fornecer-lhe informações sobre o pergaminho. Ligou esta intuição à relação de Mastigo na pequena nave mercantil, talvés alguém o tinha antecipado.

Ordenou uma brusca mudança da rota. Regressava-se de novo a Bonobo.



Mastigo, espantado pelo regresso, acorreu por baixo da nave para antecipar o seu comandante em chefe.

- A minha saudação vai ao mais invencível dos Carimeanos. General, por que este regresso repentino?

- Reflecti sobre a aterragem da naveta mercantil, isto induziu-me para regressar e me ocupar pessoalmente da situação.

- Uma outra vez não estás a cair no erro, visto que os meus informadores não regressavam resolvi dirigir-me ao local. Descobri que tinham sido eliminados pelos estrangeiros.

Ruegra esperou durante um instante, conhecendo os modos do seu Governador, que não tivesse deitado abaixo todas as possibilidades de receber informações.

- Não ficou mais nada ali – referiu de imediato Mastigo, satisfeito como uma criança sádica que tortura as suas presas.

Ruegra conteve-se ao querer saltar em cima do seu interlocutor e questionou que desfecho tivesse tido a tripulação da naveta.

Mastigo, retomou fôlego, sabendo que não estava a dar uma boa notícia.

- Não conseguimos encontrá-los, devem ter fugido.

- Não só desfez todas as provas, deixou fugir o comando! Foste um incompetente! Leva-me ao local!

Depois, pensando que não fosse o caso de dar a saber a Mastigo o que estivesse à procura, se corresse:

- Prepara uma equipa, partirei sem ti.


Segundo Capítulo



Por cima das suas cabeças pendia uma espada de rocha



- Fiquemos preparados, poderíamos não receber flores à nossa chegada! – Exclamou Oalif, o mais engraçado do grupo.

Este era composto por quatro expoentes dos planetas que se opunham ao domínio de Carimea, escolhidos pela sua história e as suas capacidades psico-físicas. Juntos formavam uma equipa capaz de afrontar qualquer missão, seja sob o ponto de vista físico como estratégico. A sua tarefa era aquela de defender a paz, não apenas militarmente, mas também através de acções de inteligência e de coordenação entre os povos.

O conselho da coligação dos Quatro planetas os tinha condecorado pelo título de Tetramir, em virtude do qual lhes foram reconhecidas, pelos vários governos, autoridades e funções especiais até à conclusão do seu objectivo.

A naveta comercial atravessava os grandes anéis cinzentos de Bonobo e dirigia-se para o Mar do Silêncio.

As navetas deste tipo, projectadas para o transporte de mercadorias, tinham a forma de paralelepípedo com a parte frontal embotada para dar um mínimo de aerodinâmica e das pequenas asas dobráveis assim que necessário para sair da atmosfera. Atrás, um enorme portaló, que se abria como uma flor em três partes, servia para o carregamento e descarga das mercadorias. Lentas embaraçantes, aterravam e descolavam perpendicularmente no solo, sem a necessidade de espaço para a manobra, como todas as outras navetas.

- Identifiquem-se – chegou do rádio a voz metálica das sentinelas do planeta.

- Somos mercantes, senhor - respondeu Oalif.

- Vejamos, mas quem e o que se encontra a bordo? Vocês têm a licença?

- Sétimo de Oria, senhor.

- Número da licença! – Insistiu a sentinela.

- 34876.

- Não constam na nossa lista, mudem imediatamente a rota, nenhuma permissão de aterragem naquela zona.

- O sinal está fraco senhor, não o oiço, número da licença 34876 - repetiu Oalif fingindo de não estar a ouvir.

- Permissão de aterragem naquela zona recusada!

- Não recebemos senhor – insistiu o Bonobiano e depois dirigindo-se aos membros da tripulação – estamos dentro gente! Estamos a atravessar o nevoeiro do Mar do Silêcio!

Piloto de grande experiência e grande conhecedor do planeta natal, Oalif era um Bonobiano, mas não entrava nos cânones de simplicidade e brandura usualmente atribuídos à esta raça. A sua tribo de pertença não se tinha por acaso curvado aos Anic e por isso tinha pagado um preço altíssimo. Durante a última grande guerra, perdeu o controlo do planeta, tinham sido forçados ao exílio e, hospedados pelos planetas da coligação, organizavam a rebelião interna para a reconquista do planeta.

O corpo de Oalif estava recoberto por pelos pretos que deixavam vislumbrar a pele clara, o contorno dos olhos verdes e as maçãs-do-rosto eram lisas, tinha uma barba espessa que terminava pontiaguda no peito, os cabelos compridos e recolhidos em forma de rabo na nunca.

Oalif era perfeito para esta missão mas infelizmente deveria permanecer a bordo para não atrair olhares indiscretos. Era com efeito procurado, o seu rosto era conhecido e não sabiam quem e o que o grupo teria encontrado.

A naveta aterrou numa verdíssima clareira assolada atravessada por um enorme rio das águas baixas e transparentes que deixavam vislumbrar a profundidade composta por uma grande variedade de rochas com cores vivas, como um quadro impressionista.

- A melhor forma para esconder algo é à luz do dia, Oalif assim que descemos activa os painéis de camuflagem e obrigado… Foste magnífico – felicitou Ulica o Eumenide.

- É incrível este lugar, o nevoeiro que o circunda uma vez dentro evapora e os raios de KIC 8462852 aquecem como em pleno verão – chamou a atenção assim que esteve fora da naveta Zàira de Oria.

- Despachemo-nos, temos pouco tempo para achar um refúgio antes de anoitecer, Mastigo não nos vai dar muito tempo para encontrar o mosteiro – ordenou Xam do Sexto Planeta, quarto componente do grupo.

- Avancemos ao longo do rio – propôs Zàira – a floresta que o circunda cobrir-nos-á enquanto avaliamos o melhor percurso.

Entranharam-se na vegetação, Xam e Zàira abriam caminho enquanto Ulica avaliava a direcção por seguir para alcançar uma aldeia Bonobiana onde contavam em restaurar-se e encontrar informações sobre o mosteiro de Nativ, o alvo deles.

Xam, guerreiro do Sexto Planeta, humano, durante as últimas guerras tinha-se distinguido por coragem e humanidade.

Era um jovem adulto, alto e de um físico escultural, tinha a pele clara e os cabelos encaracolados, curtos e bastante pretos como os seus olhos, os seus longos lábios escondiam-se por baixo da espessa barba densa de caracóis. Nos calções aderentes trazia um cinturão multifuncional altamente tecnológico, concebido pelo seu povo para fazer frente às situações de defesa ou sobrevivência. O resto do seu corpo estava coberto por um gel usado por Sistiani para manter a temperatura corporal estável em qualquer condição meteorológica.

Zàira, sua contemporânea, era de Oria, o planeta da atmosfera reduzida. Uma morena couraça natural a recobria, partindo da ponta da testa, para alargar-se ao longo de toda coluna até à cauda, era a feição distintiva da sua raça. Uma curta e densa pelugem branca cobria o resto do corpo, excepto o rosto com feições humanas onde destacavam-se os seus maravilhosos olhos cinzentos verdes. Na testa, nos lados da couraça, tinha dois tufos de cabelos brancos que ligavam-se atrás da cabeça e terminavam numa trança que descia até aos ombros.

Ulica, a mais jovem do grupo, cientista e matemática de alto nível, era de Eumenide. Fina e elegante como uma borboleta… o seu corpo estava recoberto por um véu natural, cor verde de água e transparente como asas de borboleta.

Abrindo os braços desdobrava umas asas verdadeiras que lhe permitiam de pairar. Eriçadas e estendidas nos dorsos de ambas as mãos, por assim dizer parecia uma decoração, subtis línguas de seda alongavam-se à medida dos seus desejos para ser utilizadas como chacota ou chicote.

A procura durou mais do previsto por causa de um mau funcionamento do detector da posição causado pelos estranhos efeitos nos aparelhos que se verificam no Mar do Silêncio. O imprevisto os distanciou do rio despistando-os e causando um atraso dalguns dias ao seu prospecto de marcha.

Apercebendo-se finalmente do problema, recuaram seguindo os seus passos e bordejaram o rio até que avistaram uma clareira. Os seus olhos debruçaram-se sobre uma serie de pequenas cabanas dispostas em círculo, tendo na parte central um cavalete usado para cozinhar em comum a carne de caça. As paredes eram construídas com troncos de bambu gigante, ligados juntos bem lacrados com lama e extractos de capim. As coberturas, constituídas por entrelaçamentos de folhas de palmeira, no topo tinham um furo, que servia em substituição da malha.

Com a sua grande surpresa, aperceberam-se que a aldeia encontrava-se mais próximo do previsto ao lugar onde tinham aterrado.

Todos os habitantes, à vista dos estrangeiros, fugiram por toda a parte, enfiando-se nas suas habitações, pareciam bolas de bilhar batidas pela bolinha no inicio da partida.

Encontravam-se diante de uma das poucas tribos bonobianas que não quisera ceder à vontade dos Anic, refugiando-se naquele lugar impenetrável.

Não escaparam à vista das sentinelas, passou apenas algum tempinho e diante deles apresentaram-se alguns guerreiros armados em lanças.

- Viemos em paz – apressou-se dizendo Xam.

- Nós também queremos a paz – afirmou o mais barrigudo dos guerreiros, que provavelmente era o chefe deles.

- Por isso queremos que vão embora!

- Não estamos arranjar sarilhos, precisamos da vossa ajuda, Oalif nos falou da vossa coragem.

- Oalif nos abandonou há muitos anos. O que vieram fazer?

- À procura do mosteiro de Nativ.



- Para quê?

- Estamos aqui por uma missão de paz que envolve todos os povos.

- Muitos celebram a paz mas depois desencadeiam a guerra.

- Mas nós, como podes ver, não somos Anic. Sou Xam dos Tetramir, já ouviram falar de nós…

- Xam do Sexto Planeta?

Xam anuiu.

- Chamem o sábio – ordenou o guerreiro barrigudo.

Xam não estava à espera de ver saindo da cabana um seu companheiro de tantas batalhas e o chamou pelo nome:

- Xeri! Eis onde viste parar, pensava que te tinha feito desaparecer.

- Xam? O quer fazes aqui, meu amigo? Morreu apenas a minha alma de combatente: vi muitos jovens amigos a morrer.

- Rever-te deixa-me feliz - exclamou Xam abraçando o velho amigo.

- Eu também, mas o que vos traz aqui? Onde está Oalif?

- Se tivesse sabido que te encontras aqui não o teríamos retido na naveta.

Procuramos o mosteiro de Nativ.

- Então não vos serve ir longe, basta erguer os olhos. Encontra-se na ilha flutuante.

Os Tetramir ergueram o olhar para cima e viram que, precisamente por cima das suas cabeças, pendia uma espada de rocha enorme contendo no topo umas árvores que ocultavam a vista de toda ilha.

- Como faremos para ali chegar?

- Não fica perto como pode parecer, não se iludam, ninguém conseguiu de maneira alguma alcançá-la. Muitos tentaram inutilmente chegar ali – continuou Xeri – a distância que vos separa da ilha ficará sempre a mesma de todas as formas procurem de alcançá-la, é como se encontrasse numa outra dimensão.

Reparem em volta. Não projecta nenhuma sombra no solo.

Não tiveram o tempo para dirigir de novo os olhos no seu amigo, que um assobio atingiu a sua atenção. Viram cair no chão Xeri, Xam correu para o socorrer mas percebeu que era bastante tarde.

- Todos ao abrigo – Gritou.

- Às armas – gritou o chefe guerreiro.

De novo as bolas de bilhar espalharam-se, mas desta vez os buracos encontravam-se no mato da selva.

A batalha alastrava-se, os soldados de Mastigo tinham chegado mais rapidamente do previsto. Alguns meninos tinham ficado petrificados pelo medo no centro da aldeia.

- Devemos fazer alguma coisa – disse Xam, mas não foi a tempo de terminar a frase que a Oriana já tinha-se precipitado sobre eles para protegê-los com a sua couraça envolvendo-os.

Xam cobriu o seu afastamento abrindo fogo, enquanto Ulica, subida rapidamente numa árvore graças as suas dimensões de seda, planou silenciosa sobre os soldados de Mastigo escondidos entre as moitas, como um falcão sobre a sua presa, e os atacou até a morte.

Cessados os ataques as mulheres correram para recuperar os meninos entre os braços de Zàira, Xam e Ulica precipitaram-se ao encontro dela.

A praça estava vazia, um vento levantou-se fortíssimo, como um pequeno redemoinho dirigiu-se para o centro da aldeia sem destruir nada ao longo do seu trajecto. Zàira, Xam e Ulica sentiram os seus movimentos endurecer-se e, como quem está retido por magia, não conseguiram fugir. Rodopiaram durante vários segundos antes de serem depositados no limite de um grande litoral daquela ilha flutuante.

Durante um tempinho Ulica sentiu-se suspensa no vazio. A cabeça ainda girava como quando desde criança por brincadeira, agarrando pela mão as amigas, rodeava até mais que podia, mas recuperou e procurou os seus companheiros da viagem.

Xam já tinha encontrado Zàira, que tinha perdido os sentidos, e estava ao lado dele de joelhos: os seus olhos escuros estavam cheios de tristeza, um fraco por aquela Oriana o tinha sempre acompanhado.

Ulica aproximou-se a eles e, realista como sempre, começou a controlar Zàira para perceber o que fazer, apalpou-lhe o pulso e disse:

- Batimento lento mas normal, o seu corpo esta a tentar minimizar o esforço para recuperar.

Girou-a lentamente para ver onde a teriam atingida, tirou-lhe o vestido que trazia amarrado atrás do pescoço e deixava descoberta as costas que permitia de se enrodilhar se necessário e a cingia nos flancos nas ilhargas até à metade da coxa.

- Está ferida na ilharga direita, atrás da coluna, felizmente de raspão, a sua couraça lha protegeu.

Não tinha perdido muito sangue, o laser tinha causticado em parte a ferida que não era profunda.

- Não parece que tenha atingido os órgãos vitais ou já estaria morta – continuou Ulica.

Xam a reparava estupefacto, aquele homem indómito que durante a batalha não destilava uma gota de medo e piedade pelos seus inimigos, habituado aos campos de batalha onde o horror da guerra e do sangue eram algo comum, não conseguia falar.

Acenou com a cabeça que concordava.

- Devemos encontrar um lugar para cuidar a ferida – sugeriu Ulica.



Xam já tinha segurado no braço de Zàira e se dirigia para aquilo que parecia um templo, no cume de uma colina verdíssima.

A sua aproximação e o seu cheiro lhe levaram outra vez à razão quando desde menino Zàira tirou-o fora do Canyon dos Cristais sobre Oria, tinha acontecido num dos poucos períodos em que deixava a academia, para ele única família conhecida.

Durante as ferias, quase todos os amigos do curso regressavam às suas famílias. Nem todos os rapazes tinham esta sorte: alguns eram órfãos, como Xam; outros permaneciam porque as suas famílias eram bastante ocupadas pelas suas necessidades laborais; outros ainda, pelo contrário, pertenciam às famílias onde realmente a demasiada carga de trabalho não permitia o seu regresso. Para todos eles vinham organizados alguns campos de verão e muitas vezes o destino era Oria.

Neste planeta, a atmosfera era rarefeito por causa das suas pequenas dimensões que comportavam uma baixa força gravitacional. Todos aqueles que não eram Orianos deviam usar um pequeno compensador de ar para obter uma oxigenação perfeita, sem o tal se sentiria como quem está no cume de uma montanha que supera os oito mil metros.

A estadia no campo estival de Oria era marcada por um monte de tarefas mas no fim das actividades diárias, Xam encontrava-se a mandriar nos arredores do campus, nas quais vizinhanças encontrava-se a fazenda do pai de Zàira e foi ali que a conheceu.

Naquele Verão a amizade deles solidificou-se. Como todos os adolescentes amavam arranjar sarilhos mais ou menos graves. Zàira, efectivamente, naquele Verão contou a Xam sobre um lugar que a ela parecia encantador, não revelou toda a verdade, manteve secreta uma parte para não estragar a surpresa e acima de tudo escondeu que os adultos o proibiam pela sua perigosidade.

Foi desta forma que arrastou o amigo naquela aventura no deserto. Pediu a Xam para calçar as botas mais pesadas que possuísse e não quis que levasse alguns amigos consigo, deveria permanecer um lugar secreto.

Caminharam muito, Xam não conseguia perceber o porquê, naquele dia de calor tórrido, Záira lhe tivesse dito para calçar aquelas malditas botas.

Zàira não era por acaso uma grande conversadora, percorreram uma boa parte do troço em silêncio até que Xam cansado lhe perguntou:

- Ainda falta muito?

- Não sejas um zero, estamos quase lá – respondeu Zaíra.

- Espero que valha a pena!

- Verás que será assim. Bastar-nos-á chegar no topo daquela subida.

- Então vejamos quem chega primeiro – gritou Xam começando a correr.

Zàira precipitou-se na perseguição, procurando de todas as formas de fazê-lo parar, mas Xam possuído pela corrida não a ouviu.

Conseguiu aplacá-lo só na parte mais alta do litoral.

Xam, estendido no chão cabisbaixo, maravilhado, dirigiu-se para ela:

- Por que saltaste em cima de mim?

- Não notaste nada? – Disse Záira indicando com o dedo – querias mergulhar dentro?

- Wow, tinhas razão, é incrível!

Diante dos olhos de Xam apresentou-se um panorama fantástico, um grande Canyon abria-se à frente deles.

Não era muito largo, mas não conseguia ver no fundo. Os flancos abriam-se com umas tonalidades horizontais brilhantes, a cor próximo do topo era clara e dourada como a areia, mais se olhava para baixo mais a cor matizava-se aproximando-se ao encarnado granada. Estava dividido em duas zonas: uma, mais distante deles, cheia de grupos de cristais de ametista que reflectiam a cor da rocha, a outra cheia de grandíssimas flores em forma de cálice dentro das quais se poderia deitar comodamente ambos/o casal. Comodamente ambos. Os cálices moviam-se incansavelmente como um fole para permitir à planta de apropriar-se de uma maior disponibilidade de oxigénio, dando vida a um dançante efeito cenográfico.

Xam, estranhamente, sentia o seu corpo mais suave que o normal e observava maravilhado, todo aquele troço lhe tinha causado fome.

- Bem, realmente um lindo lugar para passar uma pequena refeição, espero que na tua mochila haja algo de bom.

- Pensas sempre na comida - Sorriu Zàira, que tirou da mochila uma corda, sentou no chão, desfez-se das botas e as amarrou num arbusto, depois aproximou-se ao Canyon.

Xam não percebia o que a sua amiga estivesse a tramar.

Não teve tempo para lho questionar porque viu Zàira lançar-se no vazio. O terror assaltou-o e correu até à margem do precipício para ver que fim tivesse tomado.

Debruçou-se no litoral e viu Zàira a rir e esvoaçar.

Naquele instante quisera matá-la pelo medo que lhe tinha arranjado, mas ao mesmo tempo se sentiu aliviado e feliz vendo a ela.

Zàira aproximou-se rapidamente à beira e aterrou perto de Xam.

- Mas o que te saltou em mente? Pensava que tivesse sido esmagado nas rochas. Podia advertir-me! – Disse um pouco agastado.

- Se to tivesse dito teria perdido a tua expressão, deverias ver como estás! – Riu divertida.

- Extraordinária! – Respondeu ironicamente Xam sentindo-se ridicularizado.

- Desculpa-me, não queria te assustar – acrescentou Záira dando-se conta que talvés tinha exagerado.

- Deixa estar, antes o que fazes com aquelas garrafinhas de ar na mão? Perguntou Xam sorrindo, pensando em como não conseguisse ficar chateado com ela.

Eram duas garrafinhas de ar comuns utilizadas frequentemente em Oria e serviam para limpar os radiadores dos tractores que se atulhavam de arreia.

- Dão-me o impulso final que serve para o meu regresso. O ar comprimido ajuda-me para acelerar e superar impulsivamente o mínimo acréscimo de atracção gravitacional perto do litoral.

- Como consegues voar?

- Magia…

- Olha, não faça disso uma brincadeira!

- Na verdade, neste ponto do Canyon, a soma entre a atracção gravitacional tão baixa e as correntes ascensional criada pelas flores gigantes, nos permite de voar. Coragem, descalça as botas e siga-me.

- Estás maluca! – Exclamou sabendo que não teria resistido em segui-la naquele voo.

- O importante é ficar longe da zona com os cristais. Não estarás por acaso com medo, pois não? – Espicaçou o orgulho do amigo Zàira.

Xam pôs-se a sentar no chão, descalçou as botas e amarrou-as juntamente com aquelas de Zàira e só naquele momento deu-se conta que estavam a flutuar, sem se sentir ainda mais leve, mal conseguia manter os pés no chão.

- Ponha isto no bolso – disse a Oriana dando-lhe duas garrafinhas extraídas na mochila – numa primeira vez mergulharemos juntos.

Aproximaram-se na margem segurando-se pelas mãos e sem excitações, apenas como os jovens podem fazer, mergulharam.

Voaram durante um tempinho juntos, até que Xam familiarizou-se com o voo, de seguida Zàira revelou uma outra surpresa.

Puxou-o até perto de uma das flores que os absorveu para dentro. Caindo num macio tapete de estames perfumados. As flores, que do exterior eram de um azul intenso, internamente eram amarelos ou cor-de-rosa claro com alguns estames enormes cor de laranja. Xam não levou muito tempo para surpreender-se, porque ambos foram cuspidos para fora da flor. Os dois amigos rebentaram a rir.

Zàira tentou esclarecer, entre uma risada e a outra, que no interior da flor emanava um fluido hilariante.

A partir daí Xam estava pronto para voar sozinho e abandonou a mão de Zàira que um momento antes a apertava fortíssimo.

O divertimento estava ao culmine e Xam continuava a entrar e a sair nas flores.

Zàira procurou aproximar-se a ele, tinha esquecido de dizer-lhe para não exagerar, o fluido hilariante podia fazer-lhe perder o contacto com a realidade.

Não passou muito tempo que isto aconteceu, Xam tinha perdido o controlo e aproximava-se perigosamente à zona proibida.

Zàira pensou em ter que intervir antes que fosse bastante tarde, as pontas dos cristais na parede o tirariam a vida. Xam contudo movia-se à sua mesma velocidade pela qual teria sido impossível alcançá-lo. Assim tirou para fora dos seus bolsos as suas duas garrafinhas e as utilizou para acelerar. Alcançou o amigo, que ria não dando-se conta do perigo, um instante antes que se despenhasse nas paredes e o puxou com ela.

Levou-o novamente para a zona das flores e não o largou mais até ao final do voo, assim que acharam a justa corrente ascensional, pediu em restituição as suas garrafinhas e, segurando-o, levou-o de novo ao abrigo à margem do Canyon.

Deram-se conta de ter arriscado a vida mas não conseguiam parar de rir. Permaneceram deitados no chão agarrados, próximos um de lado ao outro e felizes esperaram o fim do efeito do fluido hilariante antes de regressar a casa.


Terceiro Capítulo



As rugas que se apresentavam eram os olhos e a boca do ser



No momento era Zàira a estar em perigo e a distância que os separava do cume da colina para Xam parecia eterna. Ali sobressaia uma abobada branca, parecia uma colmeia, tinha uns espelhos hexagonais que contornavam todo o edifício, reflectindo a luz do sol quase cegante.

Mais se aproximavam ao mosteiro, mais um sentimento de serenidade infundia-se nos seus corações.

Xam, esgotado pelo peso da companheira, continuou caminhando até que, chegados ao templo, viram-se diante de um arco aberto que levava ao seu interior.

Assim que estiveram dentro, o corpo de Zàira ergueu-se flutuando entre os braços de Xam, que não se opôs, sentia que não havia ameaça naquilo que estava a acontecer.

Foi transportada para um largo corredor e desapareceu lentamente da sua vista.

Centenas de subtis pilares laterais sustinham uma imensa abobada transparente que se apresentava no universo, como se o mosteiro se encontrasse no espaço, Ulica e Xam viram um estranho ser com as formas um tanto insólitas no fundo da nave e aproximaram-se.

O corpo, cinzento - violeta e aproximadamente cilíndrico, era constituído pela cabeça e por quatro secções que lavavam duas patas cada uma, aquilo que parecia um nariz em forma de uma pequena tromba era preponderante no rosto mas parecia que algo ou alguém o tivesse puxado com força para dentro, as rugas que se demonstravam eram olhos e boca do ser. O seu corpo não era mais grande que um saco cheio de farinha.

- Sinto em vocês uma energia positiva, desculpem se vos arrastei até aqui, mas o gesto da vossa companheira afectou-me.

- O gesto da nossa companheira não nos maravilhou, conhecemos a sua generosidade.

Não devíamos arrastar aquelas criaturas inofensivas num embate, perdemos muito tempo vagueando pela selva, consentindo a Mastigo para intuir onde nos tivéssemos dirigido e levando os seus guardas para aquele lugar doce e sereno, erro imperdoável – esclareceu Ulica.

- Teria sido impossível para os Tetramir chegar até aqui sem arrastar aquelas pobres criaturas para um embate.

- Como sabes quem somos?

Tentou perguntar Ulica, mas Xam a interrompeu bruscamente enquanto instintivamente lhe agarrava o antebraço:

- Onde foi parar Zàira? – Perguntou ao frade, ainda que sentia que nada de mal pudesse acontecer à sua amiga naquele lugar.

- Não te preocupes, está seguro. Está a recuperar, brevemente estará aqui entre nós.

A resposta pareceu-lhe vaga, mas continuava a sentir aquela sensação de bem-estar e serenidade.

- Como sabes quem somos? – Repetiu Ulica que queria perceber quem estivesse à frente deles.

- Sou Rimei - proferiu o ser sem fazer caso à questão – estou aqui para a meditação. As vossas almas e as vossas acções, mesmo a beleza da Eumenide da qual me escapa o nome – parecia que estivesse a rir disfarçadamente satisfeito pela malandrice – têm, pois trezentos anos, atraído a minha atenção.

- Ulica – o seu rosto com traços doces não se descompôs pelo elogio.

Grácil e fina, sabia que era muito linda e não escondia, a população da qual fazia parte não estava inclinada aos galanteios, nem a ocultar as próprias opiniões e emoções. Reproduziam-se, como as borboletas, por um casulo de cor que teria espelhado aquela criatura que estava para nascer. As Eumenides eram de tantas cores, todas em tonalidade a pastel.

Ulica fazia parte das novas gerações, criadas geneticamente. No planeta, um estranho acontecimento ocorrido durante a última grande guerra, ainda em estudo pelos geólogos mais experimentados, tinham feito deslocar ligeiramente o eixo, criando alguns desequilíbrios ambientais e magnéticos que tinham eliminado a população masculina.

Para evitar e extinção da sua espécie, as Eumenides tinham recorrido à multiplicação dos genes masculinos in vitro (processos biológicos laboratoriais) à utilizar para a fecundação artificial.

Vinham geneticamente criados apenas embriões de sexo feminino, para evitar que nascessem outros machos que teriam ido ao encontro da morte segura. Jamais dispostas em ceder a uma derrota, procuravam novamente no seu ADN tal gene que tinha a eles permitido de sobreviver para implantá-lo no ADN masculino, de forma a torná-lo invulnerável às novas características ambientais de Eumenide.

- Não me disseste ainda como fazes para saber quem somos – insistiu Ulica com o frade.

- Porque eu vejo muitas coisas. Esperava já há muito tempo que viessem pôr-me as vossas questões.

- Que questões? – Perguntou confuso Xam acariciando a densa barba preta e encaracolada.

- Aquelas relacionadas com o Kirvir – antecipou-o Ulica – antes, do que estas a falar? – Perguntou pois dirigindo-se ao frade – O que consegues ver?

- Consigo ver tudo aquilo que acontece nos planetas, mas as informações às vezes ficam em mim durante um tempinho.

- Quanto tempo?

- Depende das informações, às vezes para sempre, outras não mais que um dia ou algumas horas.

- O que podes nos dizer sobre Kirvir? – Perguntou Xam.

- Kirvir é tudo: nos circunda, nos une e nos divide, se estimulada transforma-se, parece que se possa governar na verdade é efémero, pode ser sabia ou terrivelmente perigosa.

- Não estás a dizer-nos nenhuma novidade – comentou Ulica.

- Não há nada de novo, tudo já está à nossa volta – respondeu o frade – basta deixar-se transportar por ela para a direcção certa.

- Se vês tudo, já sabes qual é o nosso escopo, ajude-nos a controlá-la, isto restabeleceria o equilíbrio – declarou Xam.

- Lógico que nos quer ajudar – fez o ponto Ulica – ou não nos teria levado até aqui, o problema é como.

- Não tenha pressa minha querida, esperei muito tempo para este momento, são trezentos anos que não converso com ninguém, não me tira o privilégio de conversar. O tempo é uma dimensão dos vivos não da Kirvir, no fundo a escolha de trazer-vos até aqui foi muito meditada.

- Mas nós vivemos o nosso tempo e temos a responsabilidade de outros como nós, a guerra é iminente – afirmou Xam.

- Ficarão aqui em cima até que será necessário, se quiserem respostas às vossas questões. Não depende de mim, a decisão virá da Kirvir o tempo necessário para mostrar-vos o caminho por percorrer.



Aos Tetramir tinha parecido que tivessem passado poucos minutos, todavia viram surgir Zàira através de um largo corredor de luz.

Xam caminhou velozmente para com ela, tentando ocultar as suas emoções.

- Como estás? – Perguntou-lhe.

- O que aconteceu? – Perguntou Zàira.

- Feriram-te, não te lembras? – Disse Xam dando-lhe o braço para segurá-la.

- Estou bem não te preocupes – tranquilizou-o a Oriana aceitando a ajuda – lembro-me, mas onde é que estamos?

- Estamos no mosteiro, na ilha flutuante.

- Como chegamos até aqui?

- O teu gesto afectou o frade que com um turbilhão que nos levou no braço até ao mosteiro – acrescentou Ulica.

- Obrigado – respondeu Zàira reparando nos olhos Xam que embaraçado ficou cabisbaixo – me parece que tenham passado meses da ferida até às costas.

- Exacto – intrometeu-se atrevido Rimei – foste alojada e cuidada no quarto do tempo, de forma que se pudesse acelerar a tua cura, sentir-te-ás apenas alguns meses mais velha.

- Obrigada - disse Zàira que era sempre de poucas palavras.

Ulica tomou a palavra:

- Fala-nos mais profundamente da Kirvir, ou seja da energia que se desencadeia durante os alinhamentos, queremos usá-la para pô-los ao nosso favor, evitando as guerras de conquista que naqueles períodos desencadearam-se.

- Gerir a Kirvir é difícil mas antes de vos dizer isto, tenho de vos contar dalguns sábios – começou o frade – sábios como vocês procuravam a paz. Eles reuniram-se para perceber o seu funcionamento. Cada um deles estava a conhecimento de um pormenor do segredo e graças à união das suas forças conseguiram reconstruir o comportamento dos fenómenos com os quais se manifesta, transcrevendo-os sobre um pergaminho.

Então Xam, espantado, perguntou-lhe:

- Portanto o pergaminho não possui poderes?

- Próprio assim – continuou Rimei – mas é fundamental conhecê-lo para guiar a Kirvir. Indispensável é, pelo contrário, o ser que consegue dirigi-lo. Ele tem desde o primórdio dos tempos, ameno e inconsciente é a sua essência, nada pode destrui-lo, pode dissolver-se e renascer, tende confiar-se a um custódio. É conhecido como o Tersal. Existe ainda mais seis objectos que com o ser interagem, o motivo pelo qual a Kirvir é tão poderoso durante os alinhamentos é dado pela aproximação de todos estes elementos com o Tersal.

Os atinados puseram-se à procura dos objectos, estes encontravam-se nos seis planetas do sistema solar. Uma vez achados, os atinados tentaram de traduzir em realidade aquilo que tinham citado sobre o pergaminho, mas lhes foram impedidos por uma das guerras de alinhamento mais terríveis desencadeados naquele período. Portanto, estabelecido que a sua junção fosse impossível, cada um deles escondeu no seu planeta o objecto do qual estava em posse, para que não caíssem nas mãos inimigas. Como sabem, ciclicamente, alguns ou todos os planetas do nosso sistema solar percorrendo as suas orbitas, podem-se encontrar em linha, gerando alinhamentos parciais ou totais. Maiores são os planetas envolvidos, maior será a influência da Kirvir que provocará uns estranhos fenómenos físicos e influenciará sobre a estabilidade emotiva dos seus habitantes. Naturalmente, se terá o pico com o alinhamento total. A aproximação dos planetas, associada a estes fenómenos, mais de uma vez incitou as almas desencadeando guerras entre raças. Com o passar do tempo a consciência de muitos povos evoluiu-se e amadureceu os conceitos de paz, estabilidade, direito de cada raça e para crescer segundo os seus usos e costumes. Isto favoreceu o nascimento da coligação que vocês representam. Apenas Carimea e Medusa enfim ficaram fora: um porque povoado por predadores, o outro porque na mão de uma raça ávida que sobre o sangue e exploração fundou a sua prosperidade.

- Onde é que se encontra o pergaminho? – Perguntou Ulica.

- Não sei onde é que se encontra, mas posso dizer-vos quem o possuiu por último, o seu nome é Wof.

- Wof o herói do Sexto Planeta? – Interrogou Xam.

- Sim.

- Conheces a ele pessoalmente? – Procurou saber Ulica dirigindo-se a Xam.

- Foi o meu comandante quando comecei a combater. Foi capturado durante uma das mais épicas batalhas, conseguiu com poucos homens refrear estrategicamente as forças dos Anic, permitindo às nossas armadas de reposicionar-se e vencer uma guerra que parecia perdida.

- Das últimas informações sabemos que encontra-se na Lua de Enas – disse Ulica – esperamos que esteja ainda lá, Ruegra o faz transferir ciclicamente para evitar que venha libertado, era um dos seus piores adversários,



- Não será fácil libertá-lo – comentou Zàira.

- O que se pode nos dizer do Ser? – Perguntou Ulica.

- Não sei onde possa estar o Tersal, ele revelar-se-á a vocês durante a vossa permanência na ilha se o vosso coração é puro, mas posso dar-vos umas indicações sobre os objectos. São de uso comum, dentro de cada um deles está engastada uma pedra, estas pedras derivam de uma única grande gema que constituía a Kirvir em toda a sua potência, ela foi dividida nos primórdios dos tempos para evitar que uma tão grande concentração de poder pudesse parar nas mãos de um único indivíduo. Cada um destes objectos é muito venerado. Não aprofundando o conhecimento dos seus verdadeiros poderes, que variavam ou se dissolviam com a aproximação ou a distância entre os planetas, no tempo foram esquecidos. De todas as maneiras foram conservados por quem neles propunha de novo uma devoção.

- Não tens como dar-nos indicações mais específicas? – Perguntou Ulica.

- Agora é noite, é melhor descansar, sigam os pontos de luz, mostrar-vos-ão os vossos aposentos. Dos membros superiores levantados do sábio surgiram três flocos de luz que se posicionaram diante de cada um deles.

Os três foram conduzidos aos quartos separados, das celas de monges, com as paredes completamente brancas e mobiladas somente por uma cama e por uma pequena escrivaninha. Em cima, no sótão em arco, uma janela hexagonal trazia para dentro a luz.

Ulica põe-se na escrivaninha, tirou do pulso o seu computador que ligou e o colocou na escrivaninha, este projectou o teclado na superfície e perpendicularmente o ecrã e começou as suas pesquisas.

Xam atirou-se na cama e adormeceu num instante esgotado, enquanto Zàira relaxou-se orando antes de adormecer.





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Sete planetas: num sistema solar paralelo os povos dos sete planetas fazem uma maratona contra o tempo que decidirá os seus destinos. O destino dos protagonistas entrelaça-se entre o ódio, o amor e a ambição, entre a ciência e o mistério, na tentativa de governar ou libertar as populações do sistema solar de Kic. Planetas, raças e culturas imaginárias e originais uniram as suas forças em aventuras para contrastar o desejo da hegemonia de um fascinante inimigo.

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