Книга - Pintar Com O Dragão

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Pintar Com O Dragão
Olga Kryuchkova

Elena Kryuchkova






Pintar com o Dragão

Elena Kryuchkova, Olga Kryuchkova



Traduzido por Bruna Santanita


“Pintar com o Dragão”

Escrito por Elena Kryuchkova, Olga Kryuchkova

Copyright © 2021 Elena Kryuchkova, Olga Kryuchkova

Editora Tektime

www.tektime.it

Traduzido por Bruna Santanita

Design da capa © 2021 Elena Kryuchkova









Kryuchkova Elena

Kryuchkova Olga



Pintar com o Dragão



Género: Fantasia Histórica, Fantasia Urbana, Místico, Aventura, Ambientes Históricos, Japão do século 19.

59000 total de palavras



Sumário:

Japão, finais do séc. XVIII - inicios do séc. IXX na cidade de Edo (atual Tóquio) Katsushika Ōi é a filha do artista Katsushika Hokusai. Desde a sua infância que tem mostrado interesse em pintar e de futuro torna-se uma artista: ela ajuda o seu pai e cria vários projetos da sua autoria.

Mas a vida da Ōi não está limitada à pintura. Ela está destinada a conhecer pessoas peculiares e criaturas místicas.

O seu amigo de infância, Shotaro, morre muito jovem e torna-se um Dragão. Mais tarde, ele volta a reencontrar-se com a Ōi, e juntos começam as suas viagens por mundos misteriosos.

No mundo dos sonhos, eles encontram-se com uma amiga em comum, Satsuki, que caiu no distrito da Luz-vermelha. Juntos eles vivem uma série de fabulosas aventuras...



Sinopse:

Japão, finais do séc. XVIII - inicios do séc. IXX na cidade de Edo (atual Tóquio) Katsushika Ōi é a filha do artista Katsushika Hokusai. Desde a sua infância que tem mostrado interesse em pintar e de futuro torna-se uma artista: ela ajuda o seu pai e cria vários projetos da sua autoria.

Mas a vida da Ōi não está limitada à pintura. Ela está destinada a conhecer pessoas peculiares e criaturas místicas.

Quando era criança, ela entra acidentalmente no Mundo dos Espíritos e vê um casamento de ratos. Isto inspira ainda mais a jovem rapariga a pintar.

O seu amigo de infância, Shotaro, morre muito jovem e torna-se um Dragão. Mais tarde, ele volta a reencontrar-se com a Ōi, e juntos começam as suas viagens por mundos misteriosos.

No mundo dos sonhos, eles encontram-se com uma amiga em comum, Satsuki, que caiu no distrito da Luz-vermelha. É aí que os três iniciam as suas fantásticas aventuras.

Satsuki, sonha em fugir do distrito da Luz-vermelha, Yoshiwara. Mas única forma de sair de lá viva é entregando a sua liberdade ou esperar que um dos clientes pague a sua liberdade.

Yoshiwara também está preenchida com místicismo e acaba por ajudar Satsuki de forma inesperada. Acumular os fundos para o resgate da menina acaba por por ser possível vom a ajuda a sua antiga mentora, Sra. Karen. Contudo, a liberdade não chega tão rápido quanto a menina deseja. E, durante a sua estadia em Yoshiwara, ela terá de superar muitas adversidades e a morte de uma amiga próxima.

Enquanto isso, Ōi continua a crescer e ao contrário de muitas mulheres, prefere não se casar, mas continua o no seu compromisso com a criatividade. A criatividade é o elemento mais importante da sua vida.

Nasce a irmã mais nova de Ōi, que por canta de um infeliz desígnio do destino morre cedo. Tornando-se um sacrifício num ritual mágico de forma involuntária. Mas nada temam! A rapariga, tal como Shotaro, renasce como um Dragão.

Na mesma altura, aparecem em Edo certa Dama Gekko e o Lorde Azayaka. Estão à procura do misterioso óleo da lua para a laterna de lótus. Se acenderes a lamparina com o óleo lunar poderás encontrar qualquer pessoa ou criatura mítica. A Gekko e o Azayaka vieram do Mundo dos Espíritos, e estão à procura da filha do seu Governador, a Princesa Uzuki.

Eles visitaram vários mercados e lojas que vendem óleos em Edo. Uma destas lojas pertence a Minamisawa Tōmei, que está apaixonado por Ōi. O jovem rapaz, é aprendiz do pai de Ōi Katsushika, o Sr. Hokusai.

Por mero acaso, Tōmei entra no Mundo dos Espíritos, onde encontra a Dama Gekko e o Lorde Azayaka, que arquitetam um plano maquiavélico transformando o jovem rapaz na princesa desaparecida.

Será que a Ōi e os seus amigos conseguem salvar o Tōmei? E o que será que o destino reserva de futuro para estes heróis?




Personagens




Ōi — personagem principal

Katsushika Hokusai — pai da Ōi, artista

Okiko — mãe da Ōi

Ohana — irmã mais nova da Ōi

Tatsujo — irmã mais velha da Ōi

Satsuki — filha de um mercador, amiga da Ōi, mais tarde cortesã de oiran

Koshiro — pai da Satsuki

Shotaro — amigo da Ōi, filho do artesão

Karen — alta cortesã, oiran da ‘Peónia’, mentora da Satsuki

Kagero — dona da ‘Peónia’

Ageha — alta cortesã, oiran da ‘Peónia’, amiga da Satsuki

Suigetsu — cortesã de classe de kôshi que adora Minamisawa Tōmei

Haku — espírito da montanha que vagueia sob a forma de monge budista.

Minamisawa Tōmei — proprietário da loja de óleos, futuro marido da Ōi

Minamisawa Mizuno — mãe do Tōmei

Maruo — cliente habitual da Satsuki, comerciante de cosméticos chineses.

Ochiyo — vizinha e amiga de Okiko

Sato Kuranosuke — feiticeiro negro

Uzuki — Princesa do Reino da Lua Nublada

Azayaka — Lorde no Reino da Lua Nublada

Gekko — Dama da corte do Governante do Reino da Lua Nublada

Shirohebi — mulher do Deus Ryūjin




Esta história é ficção e qualquer semelhança com a realidade, pessoas ou acontecimentos é mera coincidência.

Os nomes de pessoas reais que viveram no passado estão marcados em notas de rodapé. Mas a descrição das suas vidas nesta história é fictícia.

Esta história é completamente fictícia.


Capítulo 1. Ōi e o Casamento dos Ratos

No décimo nono ano do reinado do Imperador Kōkaku (1798, reinado do 119 imperador).

Na ilha de Honshu, na sua parte mais a leste está localizada a cidade de Edo


. Tinha uma riqueza histórica. Era uma vez, um terreno pantanoso onde é atualmente a cidade. E sítio onde o Rio Sumida banhava uma baía chamada "Edo", que significa "portão da baía" ou "boca do rio".

No longínquo século XII, há cerca de seiscentos anos atrás, um governante local construiu uma pequena fortificação nesta zona. Contudo, a história oficial da cidade de Edo começou mais tarde, trezentos anos mais tarde (1456). Quando um governante dessa época pertencente ao clã dos Uesugi chamado Ōta Dōkan, ordenou a construção de um pequeno castelo para se defender dos seus inimigos. Foi à data do término da construção deste castelo que se atribuiu a fundação da cidade de Edo.

Gradualmente, a cidade e o castelo foram crescendo. No entanto, doze anos após a sua formação oficial (1468), Ōta Dōkan foi assassinado, e assim Edo rapidamente caiu em desgraça. Pouco transformada, a cidade tinha mais de cem anos.

Mas como todos sabemos, mais tarde ou mais cedo tudo acaba. E pouco mais de um século depois


, estas terras foram anexadas aos títulos de


Tokugawa Ieyasu. À época, o castelo erigido por Ōta Dōkan estava deplorável. Os locais tinham-se fixado em pequenas povoações à volta do castelo. A cidade nem tinha uma muralha para se proteger!

Ieyasu Tokugawa, sendo ele uma pessoa de mente aberta e inteligente, rapidamente percebeu que a cidade de Edo representava grande vantagem económica e estratégica. Assim sendo, começou por impulsionar a cidade e restaurar o castelo.

Nove anos mais tarde, quando no futuro se tornou Tokugawa shogun


a segunda pessoa mais poderosa do país. Edo transformou-se numa cidade cheia de vida. De forma a assegurar o controlo sob os seus territórios, Ieyasu ordenou a construção de cinco estradas principais a partir de Edo. Cada uma destas estradas ligava a cidade às principais estradas do império.

Ao tornar-se num Shogun (em 1603), Tokugawa decidiu fazer de Edo a sua residência. Nos anos seguintes dedicou-se exclusivamente a expandir e a aperfeiçoar o castelo de Edo. O centro da cidade foi construído tendo por base o modelo da capital Heian. Esta por sua vez foi construída seguindo os exemplos clássicos das antigas capitais chinesas.

(Heian era chamada de capital da paz; o seu outro nome é Miyako.) A capital foi desenhada de acordo com o plano urbanístico chinês em "xadrez". Na parte Nordeste, as primeiras linhas de casas de Heian, que estão mais próximas do Mikado (Imperador) pertencem ao tribunal aristocrático. Elas elevam-se entre a primeira e segunda linha onde as ruas de Konoe, Nakamikado e Ōimikado se intersetam juntamente com as grandes estradas de Higashi no Toin, Nishi no Toin e Horikawa. Quanto mais afastadas da primeira linha fossem as casas, menos posses tinha o seu proprietário. Na parte Oriente e Ocidente de Heian havia dois mercados com a mais variada gama de produtos. E ainda havia mais dois templos na parte Sul. As restantes edificações religiosas localizavam-se fora de Miyako. Na parte central da cidade estava a avenida de Suzaku. Se observada pelos olhos de um pássaro durante um voo a cidade assemelhava-se a um retângulo.

Resultante desta situação, a área que envolvia o castelo também sofreu alterações: os pantanos estão cobertos e as colinas niveladas.

Vários materiais de construção foram trazidos através do canal que ligava a baía ao centro da cidade.

Bem como, a ponte de Nihonbashi construída alguns anos mais tarde, que significa "Ponte Japonesa" foi considerada lugar de destaque pelo país. Por ordem dada por Tokugawa, durante séculos todas as distâncias eram calculadas através desta ponte.

Consequentemente, os Shogun atraíram a chegada de cientistas, artesãos, artistas e escritores a Edo. E assim, a cidade foi crescendo e tornando-se o centro cultural do país. Quando comparada à Europa, Edo na sua dimensão superava grandes metrópoles como Londres ou Roma.

Posteriormente (em 1645) foram divididos os vários distritos da cidade. A entrada para cada um dos distritos era feita por vários portões, que estavam fechados desde a meia hora do porco até de madrugada


. O motivo destas medidas era evitar motins durante a noite, mas também para dificultar atividades criminais da máfia que existia em Edo.

Para além disso, tal como qualquer outra cidade com vários edifícios os fogos eram uma recorrente em Edo. Havia sempre um grande incêndio a cada três anos. Deste modo, para resistir ao destrutívo elemento do fogo, formou-se o primeiro grupo de bombeiros durante o reinado do terceiro shogun Tokugawa Iemitsu


. Por fim, os cidadãos começaram a ajudar a apagar os fogos e como resultado surgiram novos grupos de bombeiros rapidamente. No entanto, esta medida não ajudava a solucionar o problema por completo.

A outra patologia, para além dos fogos, que o Japão padecia tal como outras cidades era os sismos. Infelizmente, era impossível as pessoas resistirem ao seu poder destrutivo.

E claro que era em Edo o famoso distrito de Yoshiwara da Luz-vermelha. É de notar que durante o reinado do primeiro shogun Tokugawa Ieyasu, a prostituição de homens e mulheres estava amplamente disseminada pelo Japão. O que levou a que o segundo Tokugawa shogun, Hidetada


, criasse um decreto especial no décimo segundo ano do seu reinado (em 1617). De acordo com este decreto, a prostituição era ilegal fora e em especial dentro dos distritos fechados. Sendo estes Shimabara em Heian, Shinmachi em Osaka e Yoshiwara em Edo. Em Yoshiwara, mais de metade das cortesãs japonesas oficiais pertencentes à corte de yūjo trabalhava em Yoshiwara.

Em Yoshiwara, mais de metade das cortesãs oficiais japonesas de yūjo estavam referenciadas. Muitas mulheres foram parar ao distrito da Luz-vermelha quando eram ainda crianças: foram vendidas pelos pais com idades entre os sete e os doze. Algumas tiveram mais sorte e tornaram-se aprendizas de cortesãs de sucesso de classe alta. E quando as raparigas terminavam os seus estudos, elas próprias tornavam-se cortesãs.

Contudo, muitas mulheres de Yoshiwara sofriam com doenças sexualmente transmissíveis. Muitas das yūjo tinham sífilis entre outras maleitas terríveis.

Para as yūjo, deixar Yoshiwara só era possível de duas formas: ou eram compradas por um homem rico para ser sua mulher ou concubina ou se uma mulher as comprasse. Claro que a última hipótese só acontecia se a mulher fosse uma yūjo muito bem-sucedida. Embora fosse raro acontecer: muitas trabalhadoras dos bordéis morriam cedo devido a doenças sexualmente transmissíveis ou de abortos mal sucedidos antes do final dos seus contratos. Tipicamente, o contrato com um bordel findava em cinco ou dez anos, mas muitas mulheres tinham dividas exorbitantes que as prendiam lá para o resto da vida.

Afinal as raparigas tinham de pagar não só o valor da divida pela qual foram compradas. Tal como o total acumulado dos gastos durante a sua aprendizagem no bordel enquanto eram aprendizas. Até que começassem a trabalhar e dar lucro, as raparigas eram da total responsabilidade do bordel. Era lhes providenciada roupa e comida. E todas estas despesas eram eventualmente somadas à sua divida inicial juntamente com uma taxa de interesse.

Comprar-se a si própria não era tarefa fácil. Para além disso os serviços das cortesãs eram pagos pelos clientes ao proprietário do bordel. Estes por sua vez ficavam com a maior parte dos lucros para si. Visto que, manter um bordel não era tarefa fácil. Era preciso comprar aprendizas, comprar bebidas e comida para os clientes. E ainda pagar todos os gastos com a alimentação das aprendizas e trabalhadoras do bordel. Todas estas despesas eram deduzidas dessa percentagem dos lucros que iam para as raparigas. Deste modo, elas nunca recebiam assim tanto dinheiro como podia parecer à primeira vista. Embora os clientes também podessem dar presentes às cortesãs e deixar gorjetas adicionais. Tudo isso ficava para as raparigas.

Mas por outro lado as cortesãs tinham de comprar cosméticos e quimonos para elas próprias. Mas compensava bastante. E era assim que poucas se conseguiam salvar a si mesmas.

... Quanto às classes sociais, estas não estavam fortemente enraizadas na sociedade de Yoshiwara. Qualquer plebeu com dinheiro suficiente era servido de forma igual a um samurai. A permanência de samurais em Yoshiwara não era aprovada, mas eles iam lá na mesma com alguma frequência. A única coisa que lhes pediam era que deixassem as suas armas à entrada do portão.

Ao mesmo tempo, Yoshiwara era uma zona de comércio auspiciosa. A moda na cidade estava sempre a mudar, o que criou uma grande necessidade de consumo de novas roupas e joias. Claro que, tradicionalmente, os trabalhadores do distrito da Luz-vermelha estavam autorizados a usar apenas modestas roupas azuis. Esta regra raramente era seguida. Por exemplo, as cortesãs da mais alta classe, oiran e tayu vestiam frequentemente quimonos bastante vistosos, e o seu cabelo adornado com elegantes e ostentosas joias. A moda representava uma importância tal em Yoshiwara que frequentemente servia de palco às novas tendências, que mais tarde eram encontradas em todo o Japão.

A propósito as cortesãs estavam dividadas por classes e estatutos. Estas incluíam: yūjo — "mulheres para prazer" ou simplesmente prostitutas. Também havia jovens aprendizas kamuro, aprendizas mais velhas shinzô, cortesãs de classe mais baixa hashi e cortesãs de classe alta kôshi (este título era considerado um pouco mais baixo que tayu). E por fim, tayu e oiran — as cortesãs da mais alta classe e mentoras de oiran, yarite. Também havia prostituição masculina.

Para além das cortesãs também havia geishas cujo nome significa "pessoas da arte" e as suas aprendizas as maiko. Ao contrário das cortesãs, as geishas estavam proibidas de enveredar pela prostituição. Assim sendo, elas simplesmente entretinham os seus visitantes com danças, canções, cerimónias de chá e conversavam. Contráriamente às cortesãs, que apertavam o obi (sash) com um simples nó à frente, a geisha apertava o nó atrás. E a geisha apenas podia apertar ou desapertar o nó do obi com a ajuda de uma criada.

E é óbvio que, em Yoshiwara, junto com os clientes habituais havia visitas de vários artistas para desenharem os retratos das beldades, bijin-ga.

Um desses artistas foi Tokitarō, mais conhecido pelo seu pseudónimo Katsushika Hokusai.


. Muitas pessoas o tratavam assim.

Hokusai nasceu há trinta e oito anos, num subúrbio pobre chamado Katsushika, na família de um artesão. A sua mãe era uma concubina do seu pai, desta forma, o rapaz nunca poderia ser herdeiro. Quando ainda era muito jovem foi entregue a um homem que fabricava espelhos para os shogun.

Hokusai começou a desenhar muito cedo, pois o trabalho do seu mentor incluía a pintura dos mesmos.

Aos dez anos, com o nome de Tetsuko, o rapaz tornou-se vendedor de livros. Ele deixou o seu mentor anterior pois queria encontrar o seu próprio caminho criativo. Até certo ponto, trabalhar numa livraria ajudou-o — aí aprendeu a ler e a escrever, e aprendeu mandarim.

Contudo, as suas pesquisas criativas não terminaram ali, mas pode dizer-se que foi ali que começaram. A partir dos treze anos, o futuro Hokusai começou a trabalhar no atelier do gravurista. E nas gravuras, enquanto fazia várias experiências de iniciante.

Mas o trabalho de gravurista também parecia bastante limitante para o futuro Hokusai. Estas também eram limitativas das suas próprias visões artísticas. Continuando, aos dezoito anos Hokusai tornou-se aprendiz no estúdio de Katsukawa Shunshō


, o mestre de ukiyo-e — o mundo pairando.

Hokusai provou ser um aprendiz bastante capaz, um trabalho notável segundo o seu professor. Para Shunsyo ele era o seu preferido e distinguia-o do resto dos seus pupilos. Hokusai podia até mesmo assinar os seus trabalhos com o pseudónimo Shunrō, criado pelo próprio professor.

A partir dos vinte e cinco anos, Hokusai obteve autorização para publicar os seus próprios trabalhos. E esta foi a sua primeira experiência pessoal com várias formas gravura teatral. O jovem artista desprezava os retratos dos atores famosos dessa época, a sua popularidade foi comparável à do seu mestre, Shunshō. E assim Hokusai começou o seu próprio estilo de trabalho.

Para além dos retratos de atores de teatro, ele também ilustrava livros. As pluralidades de géneros exigiam que o artista retratasse várias cenas: ambas da vida quotidiana ou da história. Mais precisamente as segundas, pois eram necessárias para retratar a história do Japão.

Shunshō faleceu quando Hokusai fez trinta e dois anos. A escola foi liderada por um antigo aprendiz do artista falecido, Katsukawa Shun'ei. Foi na mesma altura que Hokusai saiu da escola. Sentia um pesar devido aos seus deveres de aprendiz; faltava-lhe liberdade criativa.

Paralelamente, sair da escola foi difícil para Hokusai. Durante os dois anos seguinte (1793-1794), o artista viveu em pobreza e fez alguns negócios dúbios por falta de dinheiro. Contudo, foi estudando outras escolas e estilos artísticos, desenvolvendo um estilo completamente novo. Até certo ponto estes dois anos tornaram-se um ponto de viragem na sua carreira.

E devido a isso a vida de Hokusai ficou mais ou menos estável. Ele criou várias pinturas, desenhou ilustrações para livros. Três anos mais tarde o artista começou a assinar com o seu próprio pseudónimo, Katsushika Hokusai.

Apesar das suas buscas criativas o artista não pôs de parte a hipótese de se casar, por duas vezes. A primeira mulher de Hokusai morreu cedo, deixando-o com duas crianças. A segunda mulher até à data está viva e bem de saúde. Ao todo Hokusai teve cinco crianças: três filhos e duas filhas.

Os seus filhos já eram crescidos e tinham as suas próprias vidas. Mas as suas filhas ainda não eram adultas. A filha mais velha chamava-se Tatsujo, e tinha feito dez anos há pouco tempo. E o nome da sua filha mais nova era Ōi


,e tinha feito sete anos há pouco tempo.

As irmãs não se davam muito bem, brigavam e discutiam com frequência. E naquela manhã de primavera a família Katsushika, numa casa antiga, mas um lar bem apresentável, acordou com uma discussão. No espaço que estava decorado pelo tatami e decoração simplista, ouviam-se os gritos agudos de raparigas. Embora a sala fosse espaçosa, talvez a sala não tivesse espaço para mais nada naquele momento. Nem móveis requintados, nem tão pouco decorações requintadas. A sala era tão comum quanto qualquer outra sala típica nas casas dos cidadãos de Edo. Mas havia duas notáveis pinturas com paisagens nas paredes: uma com macieiras em flor e outra com o mar. Claro que foi Hokusai quem as desenhou.

"Ōi, tu não sabes apertar um obi! já tens sete anos, mas continuas a pedir ajuda à mãe!" Dizia a Tatsujo num tom condescendente. Ela era uma rapariga com a altura certa para a sua idade com longos cabelos negros, elegantemente apanhados, e vestia um quimono rosa-claro. E lançando um olhar presunçoso a Ōi disse: "Mas como tu sabes, se uma mulher não sabe como apertar um obi, é como se não soubesse nada!"

Indignada a irmã mais nova disse: "Eu sei apertar o obi!" Parecia demasiado nova para a sua idade e era mais alta do que a Tatsujo. Ela vestia um quimono amarelo e trazia o cabelo apanhado num rabo-de-cavalo. "Até mesmo com um simples nó eu consigo!"

"Não consigo perceber como, não consigo perceber como!" A Tatsujo continuava a sua provocação.

Um grito de guerra foi solto por Ōi, uma batalha estava prestes a começar. Felizmente, Okiko a mãe elas, interviu a tempo. Rigidamente a mulher disse às suas filhas:

"Vocês são raparigas, mas comportam-se como rapazes! E enquanto forem assim indelicadas. Ou continuarem com este comportamento, nenhuma das duas se casará!"

A última frase fez com que Tatsujo voltasse à realidade. A simples ideia de nunca se casar deixava a rapariga estremecida. Por outro lado, a Ōi suspirava com revolta. Era certo que, ela não se queria casar. Em vez disso a rapariga sonhava em tornar-se uma artista, tal como, o seu pai.

A Ōi sempre foi fascinada por pinturas e telas em branco. Ela gostava de ver a forma como o pincel deslizava na tela em branco e criava diversos universos: paisagens, retratos, criaturas míticas, ilustrações para livros fossem quais fossem as imagens. Isto deixava-a hipnotizada.

A Ōi adorava desenhar. Os pais em nada se opunham ao hobbie da filha, embora Tatsujo tentasse pigarrear frequentemente a sua irmã com isso. Ela disse, debatendo um dos seus temas favoritos, a Ōi não sabe fazer nada, incluindo desenhar, e que nunca se iria casar. Tatsujo percebeu que o que realmente ofendeu Ōi, não foi dizerem-lhe que nunca se se iria casar, mas sim que ela não sabia fazer mais nada. Ficou especialmente melindrada relativamente ao desenho! Ōi achou aquele comentário bastante insensato até porque Tatsujo pintava bem pior.

... Depois de uma discussão com a sua irmã, a Ōi decidiu ir dar uma volta. A família Katsushika vivia agora numa zona urbana, calma e bastante decente. Por conseguinte, os seus pais permitiam que as suas filhas andassem sozinhas, desde que não se afastassem muito de casa.

Assim que a Ōi saiu de casa, ouviu logo uma voz ameninada jubilosa:

"Ōi! Vem brincar connosco!"

Quando se virou a menina viu os seus amigos: a filha do mercador, a Satsuki, uma menina bastante bonita que, iria obviamente tornar-se num tipo de beleza rara no futuro. Mas também o filho do artesão Shotaro, um rapaz baixo, forte e com cabelo curto. Os rapazes davam-se muito bem e era comum jogarem juntos, à bola, às escondidas, aos ninjas e muito mais.

Agora foi a vez da Satsuki dizer:

"Ōi, anda estamos a jogar às escondidas!"

"Com todo o gosto! Quem é a contar?" a menina estava contente.

"Shotaro!" exclamou Satsuki.

"O quê? Não é justo! Ainda agora fui eu!" o rapaz estava revoltado.

"Mas as meninas riram-se e respondendo em uníssono, disseram:

"Conta, conta! Conta até cem, nós vamos nos esconder!"

E assim fugiram. O Shotaro respirou profundamente aborrecido, mas cumpriu e começou a contar até cem.

Ouvia-se a voz do menino a contar na rua "Um, dois..."

Entretanto as meninas foram se esconder. A Satsuki decidiu esconder-se atrás de uma barreira numa das casas. A Ōi hesitu um pouco, mas subitamente achou ter uma ideia genial. A menina correu para uma falha entre as casas, decidindo que aquele sério o esconderijo ideal.

A Ōi corria e corria, mas a falha não parecia ter qualquer fim à vista. Subitamente, começou a sentir algo de estranho à sua volta. À sua volta havia vários ratos que apareciam do nada. Porém, o mais estranho é que estes ratos estavam vestidos com quimonos, cada um à sua maneira e.… tinham vozes de humanos!

"Uma pessoa, uma pessoa! Está aqui uma pessoa!" chiava um rato.

"De onde veio esta rapariga?" chiava outro rato.

A Ōi não percebeu de imediato de onde vinham as vozes. Ela parou e olhou à sua volta. Mas quando ela percebeu de onde vinham as vozes, ela sentiu um calafrio, calores frios percorriam-lhe o corpo.

"O que é que se está a passar aqui? Ajuda-me Amaterasu!" a menina começa a rezar ao Deus do Sol.

De repente, um dos ratos que tinha um ar bastante respeitável, parou e disse à Ōi:

"É raro virem aqui pessoas, mas já que vieste não tens nada a temer. Não fazemos mal às pessoas. Pensa: vocês são tão grandes e nós tão pequenos! Porque haveríamos de ofender alguém que nos pode esmagar?"

A menina ficou a olhar incrédula para o rato. Apenas um, não era motivo para ter medo. Mas havia tantos! E se eles a atacassem todos ao mesmo tempo? Entretanto falou outro rato:

"Sim, sim menina, não nos faças mal! E nós também não te tocamos, tu és enorme! E podes ficar para o casamento!"

"Para o casamento? De quem?" esfregando os olhos, que estavam repletos de curiosidade.

"Oh, deixa-me contar-te tudo!" disse o primeiro rato que falou coma Ōi.

E começou a contar a história:

"Um casal de ratos magnata vivem aqui perto. Eles têm uma filha linda chamada Ochyu. Ela não só foi abençoada com beleza, mas também com inteligência e outros dotes. Os pais amam-na muito! Tratam-na como um verdadeiro tesouro! Eles sempre fizeram de tudo para que Ochyu não andasse ao sabor do vento, se era para ler ela apenas lia os melhores clássicos da literatura! Ela também estudou artes! A Ochyu também sabe fazer uma cerimónia do chá e ikebana!

Assim sendo, Ochyu tornou-se uma jovem rato muito bem formada, nenhuma das suas amigas se poderia comparar a ela. Agora ela chegou à idade de casar. E os seus pais começaram a pensar: qual seria o melhor par para a sua preciosa filha? Afinal de contas, ela é linda e tem uma excelente educação. Assim sendo, pensaram por muito tempo, mas no fim os seus pais decidiram casar Ochyu com a criatura mais poderosa que existe no Mundo dos Espíritos! As criaturas mais poderosas deste mundo são o Sol e a Lua. Mas o Sol é demasiado brilhante: tu não te consegues aproximar muito dele! Por outro lado, Lua é meigo e gentil e foi ele quem os seus pais escolheram. Assim sendo, o pai da Ochyu foi ter com Lua. Ele contou-lhe tudo. Lua ouviu ficou impressionado e sem palavras. Mas respondeu-lhe que: 'Sou de facto muito poderoso, mas neste mundo não posso ser genro de ninguém. É claro que estou grato que me ofereças a mão da tua filha em casamento. Desculpa, mas será impossível! Embora te deva dizer: Eu tenho um rival poderoso, Nuvem! Muitas vezes me impede de sair à rua! Vai ter com ele!'

Depois de saber acerca de Nuvem pela boca de Lua, Chyube foi ter com ele. Mas Nuvem disse-lhe: "Sim muitas vezes não deixo Lua sair... Mas eu apenas tenho um rival, Vento. Muitas vezes, quando estou prestes a sair, o vento sopra-me e tenho de me ir embora!"

Ao saber disto, Chyube vai ter com Vento. Depois de lhe contar tudo Vento responde-lhe: ' Obrigada pela tua generosa oferta. Mas será impossível. Sempre que sopro com todas as minhas forças, vou embater no meu adversário, Parede!"

E aí Chyube disse: "Muito bem, vou falar com Parede!"

Então foi ter com Parede e fez novamente a proposta. E recebeu novamente uma educada recusa? E assim sendo, Chyube pergunta o porquê da recusa.

É aí que Parede responde: "Embora eu resista ao vento, não tenho qualquer hipótese contra vocês ratos. Vocês conseguem me morder e fazer buracos." Pensativo Chyube regressou a casa depois de uma série tentativas de casamento mal sucedidas.

À sua espera em casa estava a sua mulher. Ao que ela lhe perguntou: "Encontraste um noivo para nossa Ochyu?"

Chyube disse-lhe: "Alegra-te mulher! No nosso mundo, nós ratos, somos os mais poderosos!" A sua mulher desconfiou: "É mesmo do nosso mundo inteiro?" Foi aí que ele lhe contou tudo sobre as suas aventuras. Depois de ouvir a explicação de Chyube a sua mulher concordou com ele. Foi assim que decidiram, entre todos os ratos, arranjar um noivo para a sua filha.

A sua mulher respondeu-lhe: "Se assim é, claro que vamos casar a nossa filha com um rato. Mas qual o melhor candidato?"

O marido responde-lhe: "Pensei nisso no caminho. E lembrei-me do Chyumaru, que vive no sótão."

Pensativa a mulher de Chyube disse: "Claro que sim ele é um bom rato. Mas o gato é o seu único vizinho. E se acontece alguma coisa? Preocupamos-nos depois..."

Foi aí que Chyube disse: "E que tal o Chyukuro da lixeira? Mas obteve a mesma resposta da sua mulher: "O furão vive mesmo ao lado dele, sabes o quão perigoso é!"

E o casal pôs-se a pensar quem seria o par ideal para Ochyu? Durante muito tempo pensaram, mas não se conseguiam decidir. De repente lembraram-se do seu mordomo chamado Chyuske. Desde sempre os servira e não notaram qualquer característica maliciosa nele, e era conhecido de Ochyu desde os seus tempos de infância. Chamaram Chyuske de imediato e logo o informaram da sua decisão. A felicidade era clara nas suas expressões. Depois chamaram Ochyu que também foi informada da decisão. Também ela ficou bastante feliz.

Os pais da Ochyu ajudaram o Chyuske a arranjar a sua própria casa e a abrir uma loja. Foi aí que escolheram um dia auspicioso com a ajuda de um astrólogo para celebrar o casamento, onde a noiva passou a integrar a família noivo. É hoje o dia da dita cerimónia! Todos nós fomos convidados para o casamento!"

Foi assim que o rato deu por terminada a sua história. Durante algum tempo Ōi ficou a olhar surpreendida para o animal falante. Mas, entretanto, decidiu dizer-lhe:

"Eu percebo o que me está a contar Sr. Rato... Mas por certo não compreendo como cheguei até aqui! Eu estava a jogar às escondidas com os meus amigos e fui esconder-me num espaço entre duas casas! E do nada, sem qualquer razão, vou dar comigo aqui!"

"Eu ouvi a minha avó contar-me que de tempos a tempos as pessoas caiem no nosso mundo!" respondeu-lhe o rato. "Mas menina já que aqui está, porque não assistir ao casamento de Ochyu e Chyuske? Para nós ratos é considerado um bom presságio um humano testemunhar um casamento de ratos! Eu acho que os pais da noiva também vão ficar muito felizes!"

"Eu adoraria ficar para ver o casamento, mas como é que faço para regressar a casa depois?" Questionou a Ōi que por esta altura já estava um pouco mais calma. "É claro que os meus pais e amigos vão ficar preocupados... Tal como a minha irmã, muito embora ela seja ruinzinha."

"Oh, não te preocupes! Vais regressar em breve! Os humanos não podem aqui ficar muito tempo."

"Então vou assistir alegremente a este casamento de ratos," sorriu a menina.

E assim seguiu o rato falante, que lhe contou tudo. Pouco depois chegaram a uma rua, parecida com Edo, mas sem uma única pessoa. Mas sim vastas populações de ratos lotavam as ruas sem quaisquer pessoas. Todos olhavam para um palanquim que estava nas próximidades adornado com várias joias.

Os ratos olharam para a Ōi com uma surpresa impossível de esconder, o que fez com que a menina se sentisse um pouco desconfortável. Contudo, os pequenos animais não mostravam quaisquer sinais de agressividade. Apenas sussurravam:

"Uma pessoa, uma pessoa! Está aqui uma pessoa!"

"Sim, é uma menina!"

"É um sinal auspicioso, não é?"

Mas em pouco tempo, a atenção dos ratos focou-se na noiva que emergia do buraco dos ratos. Involuntariamente a Ōi abriu os seus olhos maravilhados. Ela não esperava ver um vestido de noiva tão pequenino, mas ao mesmo tempo tão detalhado e elegante! Numa palavra apenas, a noiva Ochyu era deveras lindíssima, parecia-se com um desenho animado de um conto de fadas.

"Eu quero desenhar isto," foi o primeiro pensamento de Ōi. "Quando chegar a casa vou certamente desenhar isto! Eu não sei desenhar tão belas imagens quanto o meu pai, mas vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para enaltecer parte desta beleza!"

A noiva caminhava para o palanquim onde se sentou, enquanto isso, a menina observava-a admirada. Depois disso os ratos carregaram o palanquim para a casa do noivo.

Os ratos começaram a sussurrar novamente:

"Quando as raposas se casam, no céu ou está um calor abrasador ou chove! Mas quando os ratos se casam está bom tempo!"

"É verdade o tempo está ótimo!"

Talvez a Ōi teria tomado mais atenção às conversas dos ratos não fosse o facto dos ratos à sua volta começarem a desaparecer tão subitamente quanto o seu surgimento. E mesmo ela própria se apercebeu de que num piscar de olhos ela já não estava no casamento dos ratos, mas sim na mesma falha onde tinha entrado pra se esconder. Estava de tal forma perplexa que nem se mexia isto até ouvir Shotaro a gritar de alegria:

Encontrei-te Ōi! Onde estavas? Estavas a esconder-te noutro sítio? Já tinha aqui vindo à tua procura antes!"

"Eu estive num casamento de ratos," disse a Ōi orgulhosa.

O Shotaro pensou que ela estava a brincar e apenas abriu os olhos mostrando o seu espanto.

"Mas afinal o que é um casamento de ratos? Estiveste num sítio com muitos ratos? Oh, já percebi! Escondeste-te no celeiro dos nossos vizinhos eles estão sempre a queixar-se dos ratos! Mas como é que lá entraste? Afinal de contas o celeiro está fechado... Onde estiveste? A Satsuki e eu já andámos á tua procura!"

"E por acaso desapareci por muito tempo?"

"Não muito."

"Quem é a contar agora?"

"Provavelmente é a Satsuki encontreia primeiro."

Entretanto apareceu a Satsuki.

"Ōi! Onde estiveste? O Shotaro e eu andámos á tua procura!" exclamou ela.

"Eu estive no casamento dos ratos!" respondeu novamente.

"O quê?" abrindo os olhos de espanto.

Ōi riu-se. Ela já se tinha apercebido que os seus amigos nunca iriam acreditar em si. Então ela disse:

"Quem é que vai contar agora? És tu Satsuki? Então começa a contar que eu e o Shotaro vamos nos esconder!"

Satsuki suspirou tristemente, fechou os olhos e começou a contar. Entretanto a Ōi e o Shotaro foram a correr esconder-se. Mas a filha do artista pensou para si própria que iria certamente desenhar o casamento dos ratos.

E ao anoitecer quando chegou a casa decidiu dar vida á sua ideia. Era mais do que óbvio o que é que a criança estava a pintar. Estava a esforçar-se de tal forma, que Hokusai a elogiou e disse-lhe:

"Ōi um dia serás uma artista fantástica! Podes ajudar-me?"

"Com todo o gosto!" disse ela

Nem ela nem o seu pai sabiam o quão proféticas seriam estas palavras...


Capítulo 2. Encontro com o Dragão

No vigésimo segundo ano do reinado do Imperador Kōkaku.




Passaram-se três anos desde o dia do casamento dos ratos. A Ōi é agora uma menina de dez anos de idade. Neste período muitas coisas mudaram. Pouco depois do casamento dos ratos o Shotaro ficou doente. Pensa-se que foi devido a alguma coisa que estava na água de um ribeiro do qual, o menino bebeu num dia solarengo. Tinha dores de estomago terríveis e vomitava constantemente. Claro que os seus pais preocupados chamaram o médico, mas não havia nada que podesse ser feito. Pouco tempo depois Shotaro morreu...

Os pais do menino, Ōi e Satsuki, bem como outros amigos prantearam amargamente a morte da criança. Mas todos sabem que de nada servirão as lágrimas de tristeza...

Um ano depois da morte de Shotaro acontece outro terrível acidente. O pai da Satsuki, o mercador, ficou na falência, por conta de um negócio que correu mal. Ao tentar melhorar o seu negócio, pediu dinheiro emprestado a uns agiotas, esperando melhorar as suas contas e conseguir pagar a dívida. Contudo, ele não foi bem-sucedido...

Por forma a conseguir pagar as suas dividas, para conseguirem ter dinheiro para dar de comer aos irmãos mais novos da Satsuki tiveram de tomar uma decisão terrível. Vender a sua única filha Satsuki para o distrito da luz-vermelha. Pela formosa menina de oito anos de idade e letrada, pagaram um valor avultado.

Quando levaram a menina de casa, ela chorava desesperadamente, ao mesmo tempo sabendo que a sua família não tinha alternativa. Ōi, sem suspeitar de nada, tinha ido à procura dela para brincar, e involuntariamente assistiu a tudo. Um calafrio percorreu-lhe todo o corpo, ao aperceber-se do que se estava a passar. Ela apressou-se a implorar ao esclavagista para deixar a Satsuki ficar. Claro que a única coisa que as tentativas de Ōi para salvar a amiga alcançaram foi um sorriso de condescendência do esclavagista.

"Não te preocupes, estou certo de que a tua amiga será comprada por um bordel de renome, e tornar-se-á tayu ou oiran no futuro. As meninas bonitas são sempre mais populares," disse ele.

"Qual é o valor da divida da Satsuki? Eu pago, mas deixem-na ir!" A Ōi tirou do cabelo um travessão caríssimo e deu-lhes, tinha-lhe sido oferecido pelos seus pais no seu dia de aniversário. E deu-o ao homem.

"Ōi a divida é demasiado alta," murmurou Satsuki por entre as suas lágrimas. "Nem uma dúzia de travessões chegariam para tal."

Ao presenciar isto, o austero coração do esclavagista estremeceu um pouco. Raramente testemunhava tamanha determinação. E disse a única coisa que poderia dizer naquele momento:

"Menina, o teu travessão não é suficiente, a divida é muito alta. A Satsuki será uma aprendiza de tayu ou oiran, eu prometo."

Ōi incapaz de conter as suas lágrimas desfez-se num pranto. Era um chorar de amargura tão forte que nem os pais de Satsuki conseguiram conter as suas próprias lágrimas. Embora o pai ainda se conseguisse conter, a sua mãe, pálida que nem um fantasma, desatou a chorar.

Finalmente depois de se conseguir acalmar um pouco, Ōi abraçou a sua amiga, Satsuki despediu-se e foi-se embora juntamente com o esclavagista. Ōi ficou a vê-la durante muito tempo até que ela desaparecesse por completo. E foi aí que se virou e olhou com crueldade para os pais da sua amiga.

"Como é que conseguiram fazer isto à vossa própria filha?" gritava a menina revoltada. "Pediram demasiado dinheiro ao agiota não foi?"

"Tens toda a razão," concordou o pai da Satsuki. O remorso estava-lhe espelhado na face. "Não tivemos escolha..."

"Há sempre uma escolha!" gritou novamente Ōi enraivecida. Ela estava revoltada com os pais da amiga. "Vocês não podiam fazer um empréstimo! Ou vender a Satsuki, mas sim um dos vossos filhos mais novos! Nas casas de chá em Kagema, os prostitutos são sempre precisos!"

Os pais da Satsuki olhavam estupidificados para si próprios. Não lhes ocorreu venderem um dos seus potenciais herdeiros. Mais ainda eles não faziam ideia como é que uma menina de oito anos sabia tais detalhes. De facto, ela ouvia falar constantemente sobre prostitutos através do seu pai, este ia com regularidade a Yoshiwara para pintar não só para pintar bijin-ga com cortesãs famosas, mas também retratos de Kagema.

Entretanto, a Ōi voltou a desfazer-se em lágrimas e correu para a sua casa, deixando os pais da Satsuki a sofrer sozinhos. Sentia uma indignação e sofrimento que só queria gritar, uivar e bater a quem quer que cruzasse o seu caminho. A menina lutava por conter esse impulso.

O caso da Satsuki fê-la pensar bastante. De repente ela apercebeu-se do quão desprotegidas estavam as mulheres na sociedade, a situação era ainda mais precária do que ela tinha imaginado. E jurou para com a sua consciência de que iria fazer de tudo para ser independente. E que se algum dia tivesse filhos, nunca os venderia, como se fossem gado. Seria melhor viver em pobreza com eles. E certamente irá reencontrar e resgatar a Satsuki. A Ōi ainda não sabia que o seu rendimento nunca lhe iria permitir realizar tal façanha.

Passaram-se dois anos desde esses eventos (e três desde o casamento dos ratos). Era um verão quente e abafado. A Ōi não sabia quase nada da Satsuki. Embora Hokusai tenha dito à sua filha que tinha visto uma menina parecida com ela em Yoshiwara, próxima de uma oiran. Aparentemente, Satsuki é uma sortuda, e tornou-se aprendiza de uma cortesã da classe alta, isto se podemos chamar sorte a este destino. Mas o artista não a voltou a encontrar, pois quando voltou para pintar um bijin-ga, ele falou mais com aprendizas mais velhas e as próprias cortesãs. Era muito difícil este conseguir falar com as aprendizas mais novas.

... Nessa noite, como era seu costume, a pequena Ōi de dez anos dormiu no seu quarto. Próxima dela num outro futon


, Tatsujo dormia pacificamente. Ōi, pensando para si mesma sobre várias coisas, sobre ela própria, e a sua irmã, com quem continuava a ser um pouco traquinas.

Vale a pena lembrar que durante os três anos que se passaram, para além da morte de Shotaro e a partida da Satsuki, muitas coisas mudaram na vida das duas irmãs.

Deveras mais bonita, mais crescida e em tudo a aparentar os seus quinze anos. Também ela se interessou pela pintura e claramente que obteve sucesso nesta área. Mas não era ao desenho que ela queria dedicar a sua vida. Em vez disso, a rapariga que no ano passado celebrou a maioridade sonhava em casar-se. Escolhendo até um candidato decente para tal, o irmão mais velho do Shotaro, Sotaro. Que fez este ano quinze anos, e recíprocava os sentimentos de Tatsujo.

Os pais de Sotaro, bem como, Hokusai e Okiko estavam bastante felizes com o par. Concordavam plenamente em como os seus filhos formavam um par perfeito. Com a maior brevidade decidiram contactar um astrólogo para escolher uma data auspiciosa para a cerimónia do casamento. Para além disso, o vestido de noiva também já estava pronto.

Também a Ōi cresceu durante esse tempo. Por enquanto, não eram claros os traços femininos, mas deixou crescer um longo e esplêndido cabelo. Quando não o usava apanhado, deixava-o cair pelas costas como se fosse um rio negro com vida própria. Quando iluminada pela luz das velas a menina assemelhava-se a uma criatura mítica ou sobrenatural. Ela não suspeitava o quanto a sua irmã Tatsujo a invejava pelo seu belo cabelo, pois ela própria não o conseguia colocar do mesmo jeito.

A Ōi também aprendeu a dominar vários tipos de laços para laçar o obi. Mas contrariamente à Tatsujo, ela nunca sonhou em casar-se. Em vez disso, a menina estava cada vez mais convencida de que iria dedicar toda a sua vida à pintura. Não importa como: Seja apenas a ajudar o seu pai para que dê andamento aos seus trabalhos, ou a desenhar as suas próprias obras.

A opinião de Hokusai, era de que a sua filha mais nova fazia um enorme sucesso no meio artistico, especialmente a desenhar mulheres.

"A Ōi já desenha mulheres muito bem. Se assim continuar, em poucos anos chegará ao meu nível, e mais tarde irá superar-me por completo," o seu pai sorria de felicidade.

Hokusai costumava ficar triste ao pensar que nenhum dos seus filhos se tinha tornado artista. Era por esse motivo que ficava bastante orgulhoso pelas suas duas filhas mostrarem interesse na pintura, em especial a mais nova.

Ele já confiava bastante na Ōi, ao ponto desta o ajudar nos seus trabalhos. Claro que não lhe entregava trabalhos difíceis, mas confiava-lhe sem problema a tarefa de misturar as tintas, e deixava-a fazer os esboços de detalhes secundários.

... A Ōi suspirava. Estava uma noite de verão abafada, e não conseguia dormir. Olhava com inveja a sua irmã a dormir, a menina pensava:"Também gostava de ser assim, de adormecer rapidamente a qualquer altura sem qualquer problema independentemente do clima. A Tatsujo dorme que nem uma pedra faça chuva ou faça sol! Como é que ela consegue?"

A Ōi tinha um olhar saudoso ao observar o quarto, iluminado apenas pelo luar, que conseguia passar pelo shogi entreaberto


. Com o passar dos anos pouca coisa mudou na casa: o interior continuava a ter uma natureza mais do que modesta e a única decoração que embelezava as paredes eram as pinturas de Hokusai. No quarto das raparigas, duas pinturas adornavam as paredes uma com borboletas e pássaros, pintadas pelo seu pai.

Claro que a Ōi gostaria de ter um quarto e roupas mais luxuosas, isto é para além das pinturas. No entanto, a sua famíla não tinha possibilidades para mais. Obviamente que a família não vivia em pobreza, mas também não podiam exceder-se.

E foi com estes pensamentos que Ōi se deixou dormir. E que sonho estranho ela teve. Foi como se de repente se tivesse levantado do seu futon e se visse a ela própria. Por um momento ficou petrificada devido à sua confusão, ao tentar perceber o que estava diante dos seus olhos. Olhou cuidadosamente à sua volta: estava no seu quarto, onde a Tatsujo dormia e murmurava em sonhos:

"Sotaro, fico bonita neste vestido de casamento?"

Isto era algo que a sua irmã faria. Já estava a sonhar com o casamento, tanto em sonhos como na realidade.

Ōi, ao ver tudo isto, disse atarantada:

"Que estranho, está tudo como sempre esteve. Então porque é que me vejo a mim mesma?"

De repente a menina sentiu um calafrio. Sentiu-se assustada, e sentiu o interior do seu corpo a gelar desconfortavelmente.

"Será que morri mesmo no meu sonho?" murmurou ela.

"Ōi não te preocupes estás viva," disse uma voz do lado de fora do shogi. "Neste momento estás no Mundo dos Sonhos."

"No Mundo dos Sonhos? Quem está aí?" a menina ficou curiosa e amedrontada ao mesmo tempo.

Ela espreitou para o lado de fora, mas não viu ninguém.

"Quem és tu?" ela repetiu a pergunta.

E veio a seguinte resposta "Sou eu o Shotaro,".

"Shotaro? Eu estou a sonhar contigo? Onde é que tu estás?" A Ōi animou-se.

O seu falecido amigo nunca antes lhe tinha aparecido em sonhos desde a sua morte. E a Ōi estava um pouco zangada.

"Eu estou aqui em cima," suou a voz.

A menina olhou à sua volta, como se não acreditasse. Mas continuava a não encontrar ninguém, olhou para cima e gritou surpreendida.

"Tu, tu!" murmurava ela, bastante confusa.

Claro que estava surpreendida... Em vez do rapaz, a Ōi viu um pequeno dragão. Como era de esperar, o corpo era alongado, coberto por escamas brancas e prateadas, da cabeça saíam uns chifres, e um longo bigode adornava a sua face. Os olhos eram enormes e cheios de significado, como se fossem humanos.

"Shotaro? Tu tornaste-te um dragão?" disse a menina depois de conseguir controlar a sua excitação.

"Sim," confirmou o dragão com a voz do menino. "Depois de morrer, fui parar ao Submundo. É aí que as almas dos falecidos são julgadas: as más vão para o inferno, renascem como animais, ou pobres, isto dependendo da gravidade dos seus pecados. As pessoas boas, vão respetivamente para o céu ou renascem como outras pessoas em boas famílias ou ainda outros seres conscientes. No tribunal decidiram que eu fui uma boa pessoa, por isso renasci como um dragão. Ōi não vais acreditar, mas nesta vida o deus dragão Ryūjin é o meu pai.

Claro que a menina já tinha ouvido falar do deus dragão Ryūjin. Este era considerado uma divindade de boa índole, governava o elemento água, patrono do Japão. Por vezes, para defender o Japão ele iniciava furacões para destruir exércitos inimigos.

Quando o Ryūjin se transformava num ser humano, ela mostrava-se como um homem de idade vestindo roupas de um imperador chinês. Para além disso de acordo com a lenda, ele tinha uma pérola mágica que controlava as ondas. Muitas vezes era retratado juntamente com a sua pérola. Mas ao mesmo tempo, a imagem de Ryūjin era sempre um pouco diferente da anterior. Neste caso era retratado com uns longos cabelos e barbudo. E nos seus ombros estava um polvo ou então um pequeno dragão.

Também se pensava que Ryūjin tivesse poderes sob dragões marinhos e outras criaturas aquáticas. Acredita-se que é detentor de uma enorme fortuna e é a criatura mais abastada do mundo. Ryūjin vivia num lindo palácio de cristal, Ryūgū-jō, que se encontra no fundo do mar.

Por vezes, Ryūjin vinha até à superfície transformado num homem. E era bastante atencioso para as lindíssimas mulhes que viviam na terra. Como resultado destes encontros, nasceram crianças com cabelos negros, olhos verdes e habilidades mágicas.

Embora o Lorde dos mares fosse chamado de Ryūjin, o seu verdadeiro nome era Ōwatatsumi. Foi através destes nomes que surgiram as lendas da antiguidade "Kojiki" e "Nihon Shoki". Só muito mais tarde as pessoas o começaram a chamar de Ryūjin.

Havia várias lendas relacionadas com o Deus do Mar. Por exemplo, uma delas conta como dois dos netos do supremo Deus do Sol, um pescador e um outro caçador, decidiram trocar os seus ofícios. Mestre eles querem trocar será que podem?

O caçador tentou pescar, mas perdeu o anzol encantado do irmão no mar. Como forma de recompensar o seu irmão pela sua perda, ofereceu-se para forjar quinhentas espadas iguais à sua, e depois mil anzóis. Mas o pescador não concordou com tal decisão.

Entristecido o caçador sentou-se à beira-mar, sem saber bem como recuperar o anzol do seu irmão do leito marinho. Subitamente, o Deus das Marés apareceu e perguntou-lhe o que o tinha deixado tão aborrecido? Ele contou a sua história ao Deus das Marés. Ao ouvi-lo ele encontrou uma solução de imediato. O Deus das Marés acenou-lhe com um cesto especial, lá colocou o caçador pouco afortunado, e deixou-o cair até ao fundo do mar.

Na sua caminhada pelo fundo do mar chegou até ao palácio do Deus do Mar. Onde conheceu a filha deste, a lindíssima Princesa Toyotama. E apaixonaram-se. Ao saber disto o Deus do Mar anunciou o casamento. Mandou colocar centenas de mesas e convidou todos os habitantes marinhos para a festa.

Depois disso o caçador viveu com a sua amada mulher num clima de amor e harmonia durante três anos, esquecendo-se completamente do porquê que o levou até ao fundo do mar. Foi então que se lembrou de tudo e contou toda esta história ao Deus do Mar. Que a ouviu e ordenou aos peixes que o encontrassem e devolvessem. Rapidamente encontraram o tão estimado artefacto.

Foi aí que o Deus do Mar lhe entregou duas pérolas ao seu genro: que controlavam as marés. E ensinou-o a usá-las. Também ensinou ao Caçador um feitiço especial que este poderia usar para reassegurar o seu irmão caso alguma coisa corresse mal.

Depois disto o Caçador montou-se nas costas de um crocodilo e foi para casa. Ao chegar a terra, o caçador fez as pazes com o seu irmão o Pescador. Pouco depois chegaram a mulher do Caçador, a princesa Toyotama, juntamente com uma criança. E viveram felizes para sempre.

...E isto era tudo o que Ōi sabia sobre Ryūjin. Agora preocupavam-na perguntas mais importantes. Mais precisamente, uma curiosidade que nunca tinha sentido antes.

"Shotaro," perguntou ela, ao olhar atentamente o seu amigo, "mas se tu renasceste, não era suposto esqueceres a tua vida anterior?"

"Isso é o que acontece por norma," respondeu calmamente. "Mas eu lembro-me de tudo da minha vida anterior. A única coisa da qual me esqueci foram alguns detalhes relacionados com o submundo. Exatamente como o meu pai, Ryūjin, já me explicou, algumas crianças que renascem como dragões muitas vezes lembram-se das suas encarnações anteriores. Isto deve-se ao facto de que algo durante o processo de renascimento é desrespeitado. Pois considera-se que renascer como um dragão é considerado difícil e muitas vezes falha e não ocorre. Por falar nisso nesta vida o meu nome também é Shotaro."

"Um, ok," disse a Ōi pensativa.

E a rapariga pensou:"Enganaram-se em todo o lado até mesmo no Submundo. Quem podería imaginar tal coisa!"

De facto, este erro involuntario acontecer animou-a mais do que nunca, e sorria de felicidade. Estava deveras feliz por Shotaro se lembrar dela.

"Estou tão feliz que não te tenhas esquecido de mim," disse ela ao abraçar o dragão que descia até ao chão pela sua cabeça gigantesca. "Também te lembras da Satsuki?"

"Claro que sim eu disse que me lembrava de tudo exceto do Submundo. Também já visitei os meus pais da minha vida anterior. Provavelmente vão pensar que foi apenas um sonho."

"Sim, os adultos têm menos fé em milagres... Sabias que a Satsuki foi vendida ao distrito da luz-vermelha para pagar dividas?"

Por momentos o dragão ficou petrificado. Ele não sabia dessa parte. Uma tristeza desmedida estava espelhada nos seus enormes olhos negros que mais tarde se alastrou a toda a sua face.

"Eu não sabia," disse ele. "Hoje foi o primeiro dia que tive autorização para sair do reino Submerso e vir até aqui, ao Mundo dos Sonhos, foi para te visitar a ti Ōi e aos meus pais. Também queria visitar a Satsuki, mas agora já não sei onde ela está."

"Em Yoshiwara, onde mais é que ela podia estar?" suspirou a menina. "É pouco provável que a tenham levado para o distrito da luz-vermelha em Kyoto ou Osaka - eles ficam muito longe."

As memórias do triste destino que a sua amiga teve magoavam-na profundamente. Muitas vezes sentia-se ressentida consigo própria e perguntava-se qual o porquê dos pais venderem a sua filha. Pois se amassem todos os filhos por igual nunca o teriam feito.

Entretanto o Shotaro disse:

"Ōi, eu só consegui vir até aqui porque sabia exatamente onde tu moravas. Para encontrar a Satsuki temos de saber ao certo onde é que ela está em Yoshiwara. Achas que a conseguimos encontrar?"

"Claro que sim! A propósito o que farias se eu tivesse me mudado?" Era uma pergunta lógica da parte da menina.

Ela estava super curiosa sobre qual seria o próximo passo do dragão. Depois de uma curta pausa, Shotaro respondeu:

"Não sei; Não pensei sobre isso. Apenas acreditei que te iria encontrar."

Subitamente as suas expressões iluminaram-se quase como se de um despertar se tratasse.

"Claro!" exclamou ele. "Existe uma solução!"

"Qual?" Ōi estava espantada.

Shotaro, com o auxílio da sua pata, removeu cuidadosamente uma escama que entregou à voz que o indagava.

"Fica com ela," disse ele. "Esta escama é parte de mim, e desde que a tenhas, eu vou sempre conseguir encontrar-te."

A Ōi recebeu cuidadosamente a escama prateada translúcida, um pouco mais pequena que a sua mão de criança. Olhou surpreendida para o seu amigo.

"Desta maneira eu vou sempre conseguir encontrar-te onde quer que estejas," explicou Shotaro. "Agora vamos procurar a Satsuki em Yoshiwara! Eu também lhe vou dar uma escama, e assim vamos sempre conseguir encontrar-nos no Mundo dos Sonhos!"

"Sim!" Ōi apoiava-o alegremente.

Tinha apenas um pensamento na sua mente:"Vou ver a Satsuki de Novo! Espero que ela esteja bem!"

A Ōi sentia-se alegre e excitada ao mesmo tempo. Mas e se a Satsuki não a reconhecer? Ou se lhe aconteceu alguma coisa? Não pode ser, ela vai estar a são e salvo! Não poderá ser de outra forma!

Entretanto o Shotaro estendeu uma pata a jeito de convite e disse:

"Sobe para as minhas costas Ōi. Vamos voar até Yoshiwara!"

"Sim!" respondeu a menina, que se apressou a subir para as costas do dragão.

E poucos minutos depois estavam a voar pelos céus literalmente. A Ōi sentia a força do vento. Ela estava assustada, fechou os olhos e agarrou-se com as suas mãos à juba do dragão. A menina estava cheia de medo de abrir os olhos e olhar para baixo. Mas momentos mais tarde ela ouviu a voz de Shotaro:

"Ōi, olha para a vista fantástica que estamos a deslindar durante o nosso voo!"

A menina abriu os seus olhos incrédulos e olhou cuidadosamente para baixo. No minuto seguinte, os seus olhos abriram-se ainda mais devido ao espanto e regozijo. A vista de Edo a partir dos céus era deveras maravilhosa! A cidade apresentava-se-lhe como se estivesse na palma da sua mão. Os edifícios ficaram mais pequenos pareciam casas de bonecas esculpidas por um artesão bastante habilidoso. Apesar de ser de noite havia luz suficiente e parecia que em muitas das casas de bonecas havia pequenos pirilampos.

A menina que antes estava cheia de medo estava agora enfeitiçada e olhava entusiasticamente para a imagem diante dos seus olhos.

"Esta vista é impressionante!" foi a única coisa que foi capaz de dizer.

O dragão anuiu. Embora o Shotaro tenha ganho autorização para visitar a sua amiga de infância apenas neste dia, ele já tinha conseguido ver a vista de Edo de cima quando voou até à casa dos seus pais e depois para a da família Katsushika.

"Brevemente chegaremos a Yoshiwara," disse ele. "Certamente que vamos encontrar a Satsuki!"





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Uma artista feminina no Japão do século XIX e as suas místicas aventuras.

Japão, finais do séc. XVIII – inícios do séc. IXX na cidade de Edo (atual Tóquio) Katsushika Ōi é filha do artista Katsushika Hokusai. Desde a sua infância que tem mostrado interesse em pintar e de futuro torna-se uma artista: ela ajuda o seu pai e cria vários projetos da sua autoria.

Mas a vida de Ōi não está limitada à pintura. Ela está destinada a conhecer pessoas peculiares e criaturas místicas.

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