Книга - Entrevistas Do Século Breve

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Entrevistas Do Século Breve
Marco Lupis







Marco Lupis


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ENTREVISTAS (#u1cb63749-1fe1-5120-bb74-8ddb8b6639e7)

PROPRIEDADE LITERÁRIA RESERVADA (#uf07eb56f-bdbd-547f-86a2-8da37d4dee03)

Introdução (#uffa9c812-251f-5f8a-a33b-a62d78953186)

Subcomandante Marcos (#u4298354a-c01b-5889-ad7f-a487ccfc3930)

Peter Gabriel (#u2e68ff18-2fd6-59dd-b598-2a5ecb92aa9a)

Claudia Schiffer (#ue32eed76-8372-5a48-81ff-6cde2b389427)

Gong Li (#ud56c30a6-0b32-5de1-acab-b8a970f118e3)

Ingrid Betancourt (#u5612c861-029a-522c-b431-b46a2830a13c)

Aung San Suu Kyi (#ud17fd29e-9c30-52f7-824d-6a778e67c58a)

Lucia Pinochet (#u61ba2a5c-5e4d-519a-b822-05a1fc146138)

Mireya Garcia (#ucb7655c2-965f-5b73-b612-8594966918ab)

Kenzaburo Oe (#litres_trial_promo)

Benazir Bhutto (#litres_trial_promo)

Rei Costantino da Grécia (#litres_trial_promo)

Hun Sen (#litres_trial_promo)

Roh Moo-hyun (#litres_trial_promo)

Hubert de Givenchy (#litres_trial_promo)

Maria Dolores Mirò (#litres_trial_promo)

Tamara Nijinsky (#litres_trial_promo)

Franco Battiato (#litres_trial_promo)

Ivano Fossati (#litres_trial_promo)

Tinto Brass (#litres_trial_promo)

Peter Greenaway (#litres_trial_promo)

Suso Cecchi d’Amico (#litres_trial_promo)

Rocco Forte (#litres_trial_promo)

Nicolas Hayeck (#litres_trial_promo)

Roger Peyrefitte (#litres_trial_promo)

José Luis de Vilallonga (#litres_trial_promo)

Baronesa Cordopatri (#litres_trial_promo)

Andrea Muccioli (#litres_trial_promo)

Xanana Gusmao (#litres_trial_promo)

José Ramos-Horta (#litres_trial_promo)

Monsenhor do Nascimento (#litres_trial_promo)

Khalida Messaoudi (#litres_trial_promo)

Eleonora Jakupi (#litres_trial_promo)

Lee Kuan Yew (#litres_trial_promo)

Khushwant Singh (#litres_trial_promo)

Shobhaa De (#litres_trial_promo)

Joan Chen (#litres_trial_promo)

Carlos Saul Menem (#litres_trial_promo)

Pauline Hanson (#litres_trial_promo)

General Volkogonov (#litres_trial_promo)

Gao Xingjian (#litres_trial_promo)

Wang Dan (#litres_trial_promo)

Zang Liang (#litres_trial_promo)

Stanley Ho (#litres_trial_promo)

Pudim Gyatso (#litres_trial_promo)

Gloria Macapagal Arroyo (#litres_trial_promo)

Cardeal Sin (#litres_trial_promo)

General Giap (#litres_trial_promo)

Almirante Corsini (#litres_trial_promo)

Monsenhor Gassis (#litres_trial_promo)

Men Songzhen (#litres_trial_promo)

Epílogo (#litres_trial_promo)

Agradecimentos (#litres_trial_promo)

Notes (#litres_trial_promo)



Os protagonistas





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Do mesmo autor:





Il Male inutile

I Cannibali di Mao

Cristo si è fermato a Shingo

Acteal










A bordo de um helicóptero do exército dos EUA durante uma missão

Jornalista, repórter fotográfico e escritor, Marco Lupis foi o correspondente do jornal La Repubblica de Hong Kong.

Nascido em Roma em 1960, trabalhou como correspondente e enviado especial em todo o Mundo, em particular na América Latina e no Extremo Oriente, para as maiores jornais italianos ( Panorama , Il Tempo , Il Corriere della Sera , L'Espresso e La Repubblica ) e para a rai ( Mixer , Format , TG2 e TG3 ). Trabalhando com frequência na zona de guerra, foi entre os poucos jornalistas a seguir os massacres seguidos à declaração de independência em Timor-Leste, os confrontos sangrentos entre cristãos e islâmicos nas Molucas, o massacre de Bali e a epidemia de SARS na China. Com as suas correspondências cobriu por mais de dez anos toda a área Ásia-Pacífico, com base em Hong Kong, indo até as ilhas Havaí e a Antártida. Entrevistou muitos protagonistas da política mundial e especialmente asiática, como o prêmio Nobel da birmanesa Aung San Suu Kyi e a primeira ministra paquistanesa Benazir Bhutto, denunciando frequentemente nos seus artigos as violações dos direitos humanos. As suas reportagens foram publicadas também por jornais espanhóis, argentinos e americanos .

Marco Lupis vive na Calábria.




ENTREVISTAS


do Século Breve





Marco Lupis













Encontros com os protagonistas da política,

da cultura e da arte do século XX

































































Tektime













PROPRIEDADE LITERÁRIA RESERVADA






Copyright © 2017 by Marco Lupis Macedonio Palermo de Santa Margherita

Todos os direitos reservados ao autor

interviste@lupis.it





































































Primeira edição original 2017

Primeira edição 2018

ISBN:





Esta obra é protegida pela Lei de direito autoral.

É proibida toda duplicação, mesmo se parcial, não autorizada.

















O jornalista é o histórico do instante

Albert Camus





















Para Francesco, Alessandro e Caterina



































Introdução









Tertium non datur






























Era outono em Milão, naquele distante mês de outubro de 1976 quando, caminhando rapidamente ao longo do Corso Venezia na direção do teatro San Babila, estava para fazer a primeira entrevista da minha vida.

Eu tinha dezesseis anos e junto com o meu amigo Alberto conduzia uma transmissão de informações do pouco original título de “Spazio giovani” (espaço de jovens), em uma das primeiras rádios privadas italianas, Radio Milano Libera .

Foram realmente anos fantásticos aqueles, onde tudo parecia que podia acontecer e efetivamente ocorria. Anos maravilhosos. Anos terríveis. Eram os anos de chumbo , aqueles da contestação dos jovens, dos círculos autogerenciados, das greves na escola, das manifestações que acabavam sempre em violência. Anos de enormes entusiasmos, cheios de um fermento cultural que pareciam querer explodir considerando o fato de serem animados, envolventes, totalizantes. Anos de conflitos e também às vezes com assassinatos: de um lado os jovens da esquerda, do outro aqueles da direita. Em relação à hoje, era tudo muito simples: ou se ficava de um lado ou do outro. Tertium non datur .

Mas, sobretudo, eram anos em que cada um de nós tinha a impressão e com frequência muito mais que uma simples impressão, de poder mudar as coisas. De conseguir - dentro das minhas possibilidades - fazer a diferença .

Nós, naquela mistura de excitação, cultura e violência, nos moviam na realidade tranquilos. Navegando à vista. Os atentados, as bombas, as Brigadas Vermelhas eram um fundo constante da nossa adolescência - a juventude, de acordo com a idade - mas tudo somado não nos perturbava tanto. Tínhamos aprendido rapidamente a conviver de um modo não muito diferente daquele que depois, mais adiante, nos anos seguintes, teria encontrado entre as populações que viviam no meio de um conflito ou de uma guerra civil. A sua vida tinha se adaptado àquelas condições extremas, um pouco como a nossa vida na época.

O meu amigo Alberto e eu queríamos realmente tentar fazer a diferença, por isso, armados de entusiasmos sem limites e muita, muitíssima imprudência, em uma idade em que os rapazes de hoje passam o tempo a postar selfies em Instagram e a trocar smartphone, nós líamos tudo aquilo que nos caía nas mãos, participávamos de quermesses musicais - naquele momento mágico no qual o rock nascia e se difundia - aos mega concertos nos parques, nos cineforum.

Por isso, com a cabeça cheia de ideias e um gravador cassete no bolso, nos apressávamos para o teatro San Babila, naquele tarde molhada de outubro de quarenta anos atrás.

O encontro era às dezesseis horas, aproximadamente uma hora antes que começasse o show da tarde. Nos conduziram para baixo, no subterrâneo do teatro onde se encontravam os camarins dos atores, inclusive aquele reservado ao protagonista. E ali nos esperava o nosso entrevistado, o primeiro da minha "carreira" jornalística: Peppino de Filippo.

Não me lembro muito daquela entrevista e, infelizmente as fitas com as gravações das sessões da nossa transmissão foram perdidas, em uma das inúmeras mudanças na minha vida.

Porém, lembro perfeitamente ainda hoje daquela sutil descarga elétrica, aquele arrepio de energia que precede - os teria sentido depois mil vezes - uma entrevista importante. Um encontro importante, porque cada entrevista é muito mais do que uma simples série de perguntas e respostas.

Peppino de Filippo estava no fim - iria morrer dali a poucos anos - de uma carreira teatral e cinematográfica que até então tinha feito história. Ele nos recebeu sem parar de se maquiar, em frente ao espelho. Foi gentil, cortês e disponível e demonstrou não estar maravilhado por se encontrar em frente a dois rapazes cheios de espinhas. Lembro de seus gestos calmos, metódicos, enquanto estendia a maquiagem da cena, que me pareceu pesada, densa e muito clara. Mas lembro, principalmente, de uma coisa: a profunda tristeza do seu olhar. Uma tristeza que me atingiu intensamente, porque a percebi intensamente. Talvez sentisse que a sua vida estava se encaminhando ao fim ou talvez era apenas a prova que desde sempre se fala dos comediantes, isto é, mesmo fazendo rir a todos, são na realidade as pessoas mais tristes do mundo.

Falamos de teatro, de seu irmão Eduardo, naturalmente. Ele nos contou como nasceu no palco e estava sempre rodando com a companhia de família.

Fomos embora depois de quase uma hora, um pouco atordoados e com o cassete do gravador cheio totalmente cheio.

Aquela não foi apenas a primeira entrevista da minha vida. Foi sobretudo o momento em que entendi que a profissão de jornalista teria sido para mim a única opção possível. E foi o momento em que experimentei pela primeira vez aquela estranha alquimia, quase uma magia sutil, que se instaura entre o entrevistado e o entrevistador.

Uma entrevista pode ser a fórmula matemática da verdade ou uma inútil e vaidosa exibição. A entrevista é também uma arma poderosa nas mãos do jornalista que tem o poder de escolher se agradar o entrevistado ou servir e apaixonar o leitor.

Para mim, a entrevista é também muito mais; é um confronto psicológico, é uma sessão de psicanálise. Na qual são envolvidos ambos, o entrevistado e o seu entrevistador.

Como me disse mais tarde o Marquês de Vilallonga, em uma das entrevistas coletadas neste livro, «o segredo está todo naquele estado de graça que se cria quando o jornalista para de ser um jornalista e se torna o amigo ao qual se conta tudo. Mesmo aquilo que não se conta a um jornalista».

A entrevista é aplicação em prática da arte socrática da maiêutica, a capacidade do jornalista de extrair do entrevistado os seus pensamentos mais sinceros, de levá-lo a abaixar a guarda, de surpreendê-lo enquanto conta e conta de si sem filtros.

Não sempre esta magia particular se realiza. Mas quando acontece, então estamos diante de uma bela entrevista. Algo mais de uma pergunta e resposta estéril, nada a ver com a inútil vaidade do jornalista que mira só executar um scoop .

Em mais de trinta anos de atividade jornalística, encontrei celebridades, chefes de estado, primeiros ministros, líderes religiosos e políticos. Mas tenho que admitir que não foi com eles que senti instaurar-se uma verdadeira forma de empatia.

Por formação cultural e familiar, deveria ter-me sentido do lado deles, do lado daquelas mulheres e daqueles homens que lidavam com o poder, que tinham o poder para decidir o destino de milhões de pessoas, da sua vida e, com frequência, da sua morte. Às vezes, do futuro de povos inteiros.

Em vez disso, nunca foi assim. A empatia, a corrente de simpatia, o arrepio e a excitação os vivi quando encontrei os rebeldes, os lutadores, aqueles que estavam prontos - e o demonstravam - a sacrificar as suas vidas, geralmente tranquilas e favorecidas, pelos seus ideais.

Que fosse um chefe revolucionário com o capuz, encontrado em uma cabana na floresta mexicana ou uma mãe corajosa que procurava digna, mas teimosamente, saber a verdade sobre o fim horrível dos seus filhos, desaparecidos no Chile de Pinochet.

Eles me pareceram os verdadeiros poderosos.

Grotteria, agosto de 2017





*****





As entrevistas coletadas neste livro foram publicadas em um período que vai de 1993 a 2006, nos jornais para os quais trabalhei no curso dos anos, como enviado ou correspondente, principalmente da América Latina e do Extremo Oriente: os jornais semanais Panorama e L’Espresso , os diários Il Tempo , Il Corriere della Sera e La Repubblica e algumas para a rai .

Mantive intencionalmente a forma original na qual foram ao seu tempo escritas, às vezes na estrutura tradicional de pergunta/resposta, outras vezes, naquela mais coloquial do "entre aspas" .

Escolhi antecipar cada uma das entrevistas com uma introdução que ajudasse ao leitor a orientar-se no espaço e tempo em que elas foram realizadas.









1





Subcomandante Marcos









Venceremos! (antes ou depois)






























Chiapas, México, San Cristobal de Las Casas, Hotel Flamboyant .

A mensagem foi inserida por baixo da porta do quarto:



É necessário partir para a Selva hoje.

Encontro na recepção às 19.

Levar sapatos de montanha, uma coberta,

uma mochila e comida em lata.





Tenho só uma hora e meia para juntar estas poucas coisas. A minha meta está no coração da floresta. Na fronteira entre o México e a Guatemala, onde começa a Selva Lacandona, um dos poucos locais no mundo completamente inexplorados. No momento, existe só um, muito especial, “operador de turismo” capaz de me fazer chegar lá em cima. Ele pede para ser chamado subcomandante Marcos e a Selva Lacandona é o seu último refúgio.





*****





Motivo pelo qual, ainda hoje, se estou provavelmente mais orgulhoso na minha carreira é sem dúvida este encontro com o subcomandante Marcos na floresta Lacandona del Chiapas, em abril de 1995, para o jornal Sette del Corriere della Sera; primeiro jornalista italiano a entrevistá-lo (não sei, na verdade, se antes de mim, foi o simpático e onipresente Gianni Minà, a bem dizer, o verdadeiro), mas certamente bem antes que o mítico subcomandante, com o seu eterno capuz preto, fez surgir nos anos seguintes um tipo de autêntica “assessoria de imprensa guerrilheiro” que levava para cima e para baixo do seu refúgio na floresta de jornalistas de cada lugar.





Tinham se passado quase duas semanas de quando, os últimos dias de março daquele dia de 1995, o avião proveniente da Cidade do México tinha aterrissado no pequeno aeroporto militar de Tuxla Gutierrez, a capital de Chiapas. Na pista passavam aviões com os emblemas do exército mexicano e meios militares estacionavam ameaçadores nas bordas. Em um território grande quanto um terço da Itália viviam milhões de habitantes. A maior parte dos quais com sangue índio nas veias: duzentos e cinquenta mil os descendentes direitos dos Maias. Encontram-me em uma das áreas mais pobres do mundo: noventa por cento dos índios não tinha água potável. Sessenta e três em cem eram analfabetos. Tudo me parecia muito claro: por um lado, os proprietários de terras brancos, poucos e riquíssimos. Pelo outro, os camponeses, tantos e que recebiam em média sete pesos: menos de dez dólares por dia.

Para estas pessoas, a esperança de receber tinha começado em primeiro de janeiro de 1994. Enquanto o México assinava o acordo de livre troca comercial com os Estados Unidos e Canadá, um revolucionário encapuzado declarava guerra ao País: a cavalo, armados com fuzis - alguns verdadeiros (poucos), outros falsos, de madeira - dois mil homens do Exército Zapatista de liberação nacional ocupavam San Cristobal de Las Casas, a antiga capital de Chiapas, Palavra de ordem: «Terra e liberdade».

Hoje sabemos como acabou o primeiro round, aquele decisivo: venceram os cinquenta mil soldados mandados com os carros blindados para enfrentar a revolta. E Marcos? Onde estava o homem que de algum modo tinha feito reviver a lenda de Emiliano Zapata, o herói da revolução mexicana de 1910?





*****





Às 19 horas, Hotel Flamboyant: o nosso contato chega pontual. Ele se chama Antonio, é um jornalista mexicano que na Selva tinha ido não uma, mas dez, vinte vezes. Claro, agora não é mais como um ano atrás, quando Marcos ficava relativamente tranquilo com os seus na pequena cidade de Guadalupe Tepeyac, às portas da Selva, munido com um celular, computador, conexão à rede internet, pronto para receber os enviados das tvs americanas. Hoje para os índios não mudou nada, mas para Marcos e os seus mudou tudo: depois da última ofensiva do governo, os chefes zapatistas tiveram que se esconder realmente na montanha. Ali não existem telefones, não existe eletricidade, nem estradas: nada.

O colectivo ( como chamamos aqui estes estranhos táxi-miniônibus) corre rápido entre as curvas, na noite. Dentro sente-se o cheiro de suor e de tecido molhado. São necessárias duas horas para chegar em Ocosingo , um pueblo às portas da Selva. Para as estradas animadíssimas, as garotas com os longos cabelos pretos e com traços indígenas sorriem. E tantos militares, em todo lugar. Os quartos do único hotel não têm janelas, só uma grade na porta. Parece estar em um cárcere. Na rádio ouve-se uma notícia: «Hoje, o pai de Marcos declarou: meu filho, o professor universitário Rafael Sebastian Guillen Vicente, 38 anos, nascido em Tampico, é o subcomandante Marcos».

Na manhã seguinte, temos um novo guia. Chama-se Porfirio. Ele também é índio.

A bordo da sua camionete, são necessárias quase sete horas de buracos e poeira para chegar em Lacandon, o último povoado. Ali termina a terra batida. E começa a Selva. Não chove, mas a lama chega mesmo assim até os joelhos. Dorme-se em algumas barracas na floresta, ao longo do caminho. Depois de dois dias de marcha intensa, cansativa, no meio da floresta inóspita, sufocados pela umidade, chegamos ao povoado. A comunidade se chama Giardin ; estamos na área dos Montes Azules . Vivem aqui quase duzentas pessoas. Todos velhos, crianças e mulheres. Os homens estão na guerra. Fomos bem acolhidos. Poucos conhecem o espanhol. Todos falam o Tzeltal , o dialeto Maya. «Encontraremos Marcos?» perguntamos. «Pode ser», diz Porfirio.

Às três da manhã, nos acordam delicadamente: é preciso ir, não tem lua, mas há muitas estrelas. Meia hora de caminhada para chegar em uma cabana. Dentro se intui a presença de três homens. Está tudo preto, como o capuz deles. No retrato falado do governo, Marcos é um professor formado em filosofia com uma tese sobre Althusser e uma especialização na Sorbonne de Paris. Agora, rompendo o silêncio na cabana, chega uma voz em francês: «Temos só vinte minutos. Prefiro falar em espanhol, se não houver problemas. Sou o subcomandante Marcos. Melhor não usar o gravador porque se a gravação for interceptada seria um problema para todos, principalmente para vocês. Mesmo se oficialmente, estamos em um momento de trégua, na realidade me procuram em todos os modos. Pode me perguntar o que desejar».





Por que se faz chamar de subcomandante?

Dizem de mim: «Marcos é o chefe». Não é verdade. Os chefes são eles, o povo zapatista, eu tenho apenas funções de responsabilidade a nível militar. Eles me encarregaram de falar porque sei espanhol. Através de mim falam os companheiros. Eu só obedeço.





Dez anos de clandestinidade é muito tempo... Como vive na montanha?

Leio. Dos doze livros que levei comigo na Selva um é o Canto Generale , de Pablo Neruda. Um outro é Don Quixote ...





E depois?

E depois os dias, os anos passam na nossa luta. Vendo todos os dias a mesma pobreza, a mesma injustiça... Não se pode ficar aqui sem que a vontade de lutar, de mudar, aumente. A menos que você não seja um cínico ou um filho da puta. Depois existem as coisas que geralmente os jornalista não me perguntam. É que aqui na Selva, às vezes temos que comer os ratos, beber a urina dos companheiros para não morrer de sede nas longas transferências... é isso.





O que lhe falta? O que deixou?

Falta o açúcar. E um par de meias secas. Ter sempre os pés molhados, dia e noite, no frio, é uma coisa que não desejo a ninguém. E depois o açúcar: é a única coisa que a Selva não lhe dá, é preciso fazê-lo vir de longe, pelo cansaço físico seria necessário. Para aqueles de nós que veem da cidade, certas lembranças são uma espécie de masoquismo. Então, nos repetimos: «Você se lembra dos sorvetes de Coyoacàn ? E os tacos da Division del Norte ?». Lembranças. Aqui se captura-se um faisão ou um outro animal, é preciso esperar três ou quatro horas para que fique pronto. E se a tropa está desesperada de fome e o come cru, no dia depois é diarreia para todos. Aqui a vida é diferente, se vê tudo de uma outra forma... Ah, sim, me perguntou o que deixei na cidade. Um bilhete de metrô, uma montanha de livros, um caderno cheio de poesias... e alguns amigos. Não tantos, alguns.





Quando mostrará o seu rosto?

Não sei, acho que o nosso capuz tenha também um significado ideológico positivo, corresponde à concepção desta nossa revolução, que não é individual e que não tem um chefe. Com o capuz somos todos Marcos.





Porém, para o governo, você esconde o rosto porque tem algo a esconder…

Eles não entenderam nada. Mas o verdadeiro problema não é nem o governo, são sim as forças reacionárias do Chiapas, os criadores e os latifundiários da área, com as suas “guardas brancas” privadas. Não acredito que exista muita diferença entre a tradicional abordagem racista de um branco da África do Sul perante um negro e aquele de um proprietário de terras do Chiapas em relação a um Índio. Aqui a expectativa de vida para um Índio é de 50-60 anos para os homens e 45-50 para as mulheres.





E as crianças?

A mortalidade infantil é altíssima. Agora vou lhe contar também a história de Paticha. Uma vez, há um tempo, deslocando-nos de uma zona à outra da Selva, acontecia atravessar uma pequena comunidade, muito pobre, onde sempre nos acolhia um companheiro zapatista com uma menina de três-quatro anos. Ela se chamava Patricia, mas ela pronunciava o seu nome “Paticha”. Eu lhe perguntava o que queria fazer quando ficasse grande e ela me respondia sempre: «guerrilheira». Uma noite, a encontramos com febre alta. Não tínhamos antibióticos e ele deveria estar com quarenta ou mais de febre. Os panos molhados secavam sobre ela como se fosse uma estufa. Ela morreu entre os meus braços. Patricia não tinha uma certidão de nascimento. E nem teve uma de morte. Para o México, nunca existiu, nem a sua morte nunca ocorreu. É isso, esta é a realidade dos Índios do Chiapas.





O Movimento Zapatista colocou em crise Todo o sistema político mexicano, mas não venceu.

O México precisa de democracia e de pessoas acima das partes que a garantam. Se a nossa luta for útil para alcançar este objetivo, não terá sido uma luta em vão. Mas o Exército Zapatista nunca se converterá em um partido político. Desaparecerá. E o dia em que isto acontecer, significará que teremos democracia.





E se isto não ocorrer?

Militarmente, estamos cercados. A verdade é que dificilmente o governo irá querer ceder porque o Chiapas e a selva Lacandona em particular, boiam literalmente sobre um mar de petróleo. E o petróleo do Chiapas é a garantia que o Estado mexicano deu aos Estados Unidos para os bilhões de dólares que os EUA lhes emprestaram. Não pode mostrar aos americanos que não tem o controle da situação.





E vocês?

Nós, em vez disso, não temos nada a perder. E a nossa é uma luta pela sobrevivência e para uma paz digna.

A nossa é uma luta justa.





2





Peter Gabriel









O duende do Rock






















A cada sua (rara) exibição, o lendário fundador e líder dos Genesis confirma que o seu apetite para cada forma de ensaio musical, cultural e tecnológico é realmente ilimitado.

Encontrei Peter Gabriel para esta entrevista exclusiva no curso da manifestação musical «Sonoria», três dias milaneses totalmente dedicados ao rock. Em duas horas de grande música, Gabriel cantou, dançou e saltou como uma mola, envolvendo o público em um espetáculo que, como sempre, foi bem além de um simples concerto de rock.

No fim do concerto me convidou a subir com ele na limusine que o levava embora e enquanto corríamos para o aeroporto, me falou sobre ele, dos seus projetos futuros, do empenho social contra o racismo e a injustiça ao lado da Amnesty International, da sua paixão pelas tecnologias multimídia e os segredos do novo disco, «Secret World Live», que estava para lançar em todo o mundo.





O fim do racismo na África do Sul, o fim do apartheid; foi também uma vitória do rock?

Foi uma vitória do povo sul-africano. Mas acredito que a música rock tenha contribuído com este resultado, tenha de algum modo assistido.





De que modo?

Penso que os músicos tenham feito bastante para elevar o nível de consciência da opinião pública europeia e americana para este problema. Escrevi também canções como "Biko", para fazer com que os políticos de muitos países sustentassem as sanções contra a África do Sul e fizessem pressão. São pequenas coisas que certamente não mudarão o mundo, mas fazem uma diferença, uma pequena diferença que envolve todos nós. Nem sempre são as grandes manifestações, os gestos evidentes, para conseguir o melhor sobre a injustiça.





Em que sentido?

Vou dar-lhe um exemplo. Nos Estados Unidos há duas velhinhas do Meio-Oeste que são o bicho papão de todos os torturados da América Latina. Passam o tempo escrevendo para os diretores dos cárceres, sem trégua. E, sendo muito bem informadas, geralmente as suas cartas são publicadas com grande evidência nos jornais americanos. E, ainda, com frequência acontece que os prisioneiros políticos dos quais difundiram os nomes comecem quase como milagre, a ser deixados em paz. Isso, digo, quando falo de pequenas diferenças. No fundo, a nossa música é como uma carta delas!





O seu empenho contra o racismo liga-se estreitamente à atividade da sua etiqueta, a Real World, a favor da música étnica...

Com certeza. Para mim, foi uma grande satisfação reunir músicos tão diferentes, pertencentes a países tão longínquos, da China à Indonésia, da Rússia à África. Produzimos artistas como os chineses Guo Brothers ou o paquistanês Nusrat Fateh. Nos seus trabalhos, como naqueles dos outros músicos da Real World, senti muita inspiração. O ritmo, as harmonias, as vozes... Já de 1982, do resto, tinha começado a trabalhar nesta direção, organizando o festival de Bath, que era, no fundo, também a primeira aparição pública de uma associação que tinha acabado de fundar e que se chamava “Womad - World of Music Arts and Dance”. Ali, a gente podia participar ativamente do evento, tocando em muitos palcos junto aos grupos africanos. Enfim, foi uma experiência tão exaltante e significativa que, sucessivamente, foi repetida em muitas partes do mundo: Japão, Espanha, Tel Aviv, França...





Por isso, você é considerado o criador da World Music?

Real World e a World Music são principalmente uma etiqueta comercial, que publica música de artistas de todo o mundo para que aquela música possa chegar em todo o mundo, nas lojas de discos, nas rádios... Porém, eu espero que esta etiqueta desapareça logo, quando os artistas que incidem para mim ficarão famosos. Enfim, gostaria que acontecesse aquilo que aconteceu com Bob Marley e a música reggae: as pessoas não dizer mais «é reggae», diz «é Bob Marley». Espero que pouco a pouco ninguém mais diga dos meus artistas «é World Music?»





Ultimamente, você manifestou um grande interesse em relação às tecnologias multimídia. O seu CD-ROM «Xplora 1» despertou um enorme interesse. Como e liga tudo isso à atividade da Real World?

Neste CD-ROM podem ser feitas tantas coisas, entre as quais escolher as músicas de cada um dos artistas clicando na capa do disco. Eu, porém, gostaria de muito mais coisas deste tipo, porque a interatividade é um meio para fazer chegar a música às pessoas que não sabem muito a respeito. No fundo, o que a Real World está tentando fazer é fundir a música tradicional, feita a mão, vamos dizer assim, com as novas possibilidades oferecidas pela tecnologia.





O que quer dizer então, para você, a música rock enfim não basta mais por si mesma, precisa de uma intervenção do ouvinte. Você gostaria que cada um pudesse colocar as mãos no produto - rock?

Não sempre. Eu, por exemplo, a maior parte das vezes ouço música no carro e não quero ter que precisar de uma tela ou de um computador, para poder fazê-lo. Mas, quando me interessa um artista ou quero saber alguma coisa a mais sobre a sua história, de onde vem, o que pensa, então aí é que com o domínio da multimídia disponho de um material visual que me satisfaz. Enfim, gostaria que todos os CDs tivessem, no futuro, estes dois níveis de fruição: ser simplesmente ouvidos ou ser literalmente "explorados". Em “Xplora1”, quisemos construir um pequeno mundo dentro do qual as pessoas possam se mover e decidir, tomar decisões interagir com o ambiente e com a música. Dentro do cd, podem ser feitas várias coisas. Como visitar de modo virtual os estudos de registro da Real World, acessar muitos eventos (a premiação do Grammy Awards ou o Womad Festival, entre outros), ouvir músicas de concertos, repercorrer a minha carreira do Genesis ate hoje e, enfim, remixar a gosto as minhas canções.





E também cascavilhar no seu guarda-roupa, sempre de modo virtual, digamos...

É verdade ( ri ). Pode-se também cascavilhar no guarda-roupa de Peter Gabriel!





Tudo isso parece longe anos-luz da experiência dos Genesis. O que restou daqueles anos? Nunca teve vontade, por exemplo, de fazer outra rock-ópera como «The lamb lies down on Broadway»? E tudo superado?

Não é fácil responder. Penso estar ainda interessado em algumas daquelas ideias, mas de um modo diferente. Em certo sentido, aquilo que eu tentava fazer no último período com os Genesis não é fácil responder. Penso estar ainda interessado em algumas daquelas ideias, mas de modo diferente. De certo modo, aquilo que eu tentava fazer no último período com os Genesis era ligado ao domínio da multimídia. Naquele tempo, a sensibilidade do som era limitada pela tecnologia da época. Agora, gostaria de ir ainda mais adiante ao longo deste caminho...





Voltando ao seu empenho político e humanitário, depois do fim do apartheid, quais são os seus outros projetos neste sentido, as causas de injustiça no mundo contra as quais lutar?

São muitas. Mas, neste momento penso que a coisa mais importante seja ajudar as pessoas a produzir testemunhos. Por exemplo, dar a todos a possibilidade de filmar com uma telecâmera ou dispor de instrumentos de comunicação, como fax, computador, etc. Enfim, acredito que hoje exista a possibilidade de utilizar a tecnologia das redes de comunicação para reforçar a defesa dos direitos humanos.





Muito interessante. Poderia dar um exemplo concreto?

Quero perseguir pequenos objetivos tangíveis. Por exemplo, transformar a vida de um povoado através destes instrumentos de comunicação: ligações telefônicas, vinte ou trinta computadores e assim por diante. “Pacotes” deste tipo podem ser instalados em qualquer povoado do mundo, na Índia, na China, em uma montanha... Assim, no período de três ou cinco anos poderia-se ensinar às pessoas daqueles locais como se tornar criadores de informações, gerenciar e tratá-las. Isso permitiria transformar, com um esforço modesto, a economia de muitos países, dando-lhes a possibilidade de passar da economia agrícola àquela baseada na informação. Seria, sem dúvida, positivo.





Quais são os seus projetos futuros?

Umas férias ( ri ). Há muitíssimos meses que estamos em um tour. Paramos algumas vezes, mas acho que preciso me desligar. No tour, existe sempre o estresse do tempo, da viagem... e depois a impossibilidade de praticar esporte. Eu jogo muito tênis, por exemplo. No que se refere ao trabalho, estou pensando em uma outra coisa como o CD-ROM. Por enquanto, acabei o meu novo álbum “Secret World Live”, um cd duplo gravado ao vivo no curso, exatamente, deste longuíssimo tour. É, na verdade, um resumo do que eu fiz até hoje, uma espécie de antologia com uma só música que poderia ser definida semi-inédita, “Across the River”. No fundo, o álbum é também um modo de agradecer àqueles que tocaram comigo neste tour massacrante. Dos “habitués” como Tony Levin ou David Rhodes à Billy Cobham e Paula Cole, que me acompanharam também para Milão, o primeiro na bateria e o segundo como vocalista.





Tem um desejo, um sonho?

Gostaria que existisse já os Estados Unidos da Europa.





Por quê?

Porque afinal está claro que na economia mundial os países pequenos não podem mais ser importantes. É preciso um organismo que os represente perante o resto do mundo, dos mercados futuros, tutelando a sua identidade cultural. Existe a necessidade de ter uma representação econômica compacta, uma união comercial para sobreviver, para competir principalmente com aqueles lugares onde a mão de obra custa pouco. E depois fazer esta divisão do mundo em dois modelos, o da Europa branca, histórica e aquele dos países pobres a desfrutar. Seria preciso celebrar as diferenças entre as pessoas de cada país, não tentar tornar todos iguais.





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Claudia Schiffer









A mais bela de todas


















Foi a mais bonita do mundo, a mais bem paga e, tudo somado, também a mais castigada. «Sou a única modelo da qual nunca se viu nem o seio» declarava orgulhosa. Até o seu contrato bilionário com a Revlon a proibia de mostrar-se sem véus.

Pelo menos até que dois fotógrafos espanhóis da Agência Korpa derrubaram também este baluarte e o mundo inteiro pode admirar o seio perfeito ao vento da famosa Claudia Schiffer. Aquelas fotos rodaram o mundo inteiro e a imprensa internacional deu amplo espaço ao acontecimento . Só o jornal semanal alemão Bunte a colocou na capa vestida. Salvo depois dedicar-lhe, com hipocrisia, muitas páginas internas, com as fotos com os seios desnudos. E a nova Bardot protestou furiosa, anunciando queixas e pedidos de danos astronômicos.

Graças a alguns contatos privilegiados com o ambiente da moda, decidiu aproveitar a onda de atenção provocada pelas “fotos-escândalo” para tentar entrevistá-la para o jornal semanal Panorama . Foi muito complicado, muitos telefonemas e depois longas tratativas com a sua agente, que impedia cada tentativa de aproximação jornalística. Mas a minha constância é repagada e, finalmente, em agosto de 1993, conseguiu o encontro: Claudia estava de férias com a família, nas Baleares e, deste modo, para entrevistá-la eu deveria ir lá.

Tratava-se de um autêntico scoop , uma entrevista absolutamente exclusiva: a bela Claudia nunca tinha concedido entrevistas à imprensa italiana e, principalmente, nenhum jornalista nunca tinha colocado os pés na sua casa de férias, na intimidade da sua família. Além do mais, exatamente no local onde tinham sido tiradas as fotos-escândalo, Puerto de Andratx , na ilha de Maiorca, uma discreta baiazinha ao sul de Palma onde a família Schiffer possuía, há muitos anos, uma casa de férias.

Aquele ano, Claudia tinha um motivo a mais para ir para lá e repousar. Tinha acabado de gravar a si mesma em um longo filme-documentário dedicado à sua vida: Claudia Schiffer special, dirigido por Daniel Ziskìnd, ex-assistente de Claude Lelouch, e rodado na França, Alemanha e Estados Unidos. As gravações tinham acabado recentemente e todas as televisões do mundo já estavam disputando para adquirir os direitos.





Pouco antes de partir, conversando com um meu caro amigo da época, muito rico , da família proprietária de uma famosa empresa que produz ferramentas de trabalho, deixei escapar (talvez me orgulhar um pouco...) que estava para viajar para Palma de Maiorca para encontrá-la. Quando o meu amigo me disse para não reservar nenhum hotel: «eu tenho lá o meu iate» (um magnífico trinta e dois metros a vela), me disse logo. «Há cinco marinheiros além do cozinheiro sem fazer nada, por minha conta, no porto de Palma. Vá então, os faço trabalhar um pouco’!». «E quando estiver lá, peça para o levarem para Puerto de Andratx de barco, assim vai fazer também um belo cruzeiro!».

Não deixei que repetisse duas vezes e assim no dia acertado para a entrevista desembarquei no pequeno porto, a duas horas de navegação de Palma de Maiorca, descendo do barco do meu amigo. Saudando os marinheiros, fui para o local do encontro previsto para as três e meia, no Cafè de la Vista , em frente ao cais cheio de iates.

Certamente, a entrada em cena mais espetacular da qual tenha jamais desfrutado um jornalista, para fazer uma entrevista!





*****

Um pouco antes da hora marcada, chega um Audi 100 com placa de Düsseldorf: são eles. Na frente, dois homens, no banco posterior, a inseparável agente, Aline Soulier. Um pouco de desilusão: onde está ela? É só um rápido instante. Uma nuvem loura aparece atrás de Aline e se inclina para frente no banco. «Olá, sou Claudia» diz, estende a mão e sorri. Um fascínio que atordoa, entre Lolita e a Madonna.

Ninguém desce do carro. «Os paparazzi estão em todo lugar» sussurra a agente no breve percurso para casa, uma vila baixa, cor de tijolo, de um andar. Começando a falar, Claudia afirma que nenhum jornalista, até aquele dia, tinha entrado na casa Schiffer e faz as apresentações: «Meu irmãozinho, minha irmã Caroline, minha mãe». Uma senhora muito distinta, bem alemã, cabelos louros curtos, superando até o metro e oitenta e um centímetros da filha. No encontro, falto o pai, advogado em Düsseldorf, verdadeiro maestro na sombra e responsável pelo sucesso da filha, dizem os melhor informados que se deve a ele a criação de um tal mito da beleza.





Tudo começou em uma discoteca de Düsseldorf…

Eu era muito jovem. Uma noite, se aproximou o proprietário da agência Metropolitan, pediu-me para trabalhar para ele...





Qual foi a sua reação?

«Se for uma coisa séria» eu lhe respondi, «falarei amanhã com os meus pais». Sabe, existem tantas técnicas de abordagem na discoteca, aquela podia ser uma, nem tão nova...





É ligada à sua família?

Muito. É uma família com os pés no chão. Meu pai e advogado e minha mãe o ajuda na administração. Não se deixaram impressionar pelo meu sucesso. Dificilmente se surpreendem. São muito orgulhosos de mim, isso sim, mas para eles não é nada mais que o meu trabalho e esperam de mim que o faça da melhor forma.





E os seus irmãos não são ciumentos?

Claro que não! São orgulhosos de mim, aliás. Em particular, o meu irmãozinho de doze anos. Depois, tenho uma irmã que tem dezenove e frequenta a universidade, enfim, nenhuma competição entre mim e ela. E por último, tenho um irmão de vinte anos: um amigo.





Vem sempre aqui em Maiorca com eles, nas férias?

Desde que eu era bem pequena. Adoro este lugar.





Agora que cresceu, porém, parece que teve algum problema em passear por esses lados…

Efetivamente, existem os paparazzi em todos os lugares, nas plantas... é embaraçoso. Cada um dos meus movimentos é observado, estudado, fotografado... Não são exatamente férias, sob este ponto de vista! (ri ).





É o preço da celebridade…

Bem, é exatamente assim. Porém, eu saio frequentemente de barco com mamãe, com os meus irmãos. No mar, me sinto tranquila.





Tranquila mesmo?

Ah, pelas fotos em topless? Realmente, não entendo como isso pode acontecer. Estava no barco com a minha mãe e a minha irmã. Estávamos no convés tomando sol. Estava também Peter Gabriel que é um meu caro amigo...





Nós o vimos…

Já, é verdade. Ele está também naquelas fotos. Enfim, prefiro não falar sobre isso... Em todo caso, já encarreguei os advogados pelos danos...





Dizem que quer se tornar atriz.

Gostaria de experimentar, é isso. Eles me propõem alguns scripts e quanto mais os leio, mais tenho vontade de tentar... Hoje, tenho vontade de fazer um filme. Muita vontade.





Mas não irá interpretar para Robert Altman, o próximo ano, em “Prêt-à-porter”, dedicado ao mundo da moda?

É realmente incrível. A imprensa do mundo inteiro continua a falar sobre isso, mas não é realmente verdade. E depois não gostaria de fazer um filme onde interpreto ainda o papel de mim mesma.





Se tivesse que escolher entre a top-model e a atriz?

Ser modelo não é para a vida toda. É um trabalho para garotas bem jovens, que é feito por poucos anos, como jogar tênis ou nadar... Enfim, é preciso aproveitar até onde puder. Em seguida, eu gostaria também de voltar para a universidade e estudar história da arte.





Disse sempre de querer defender a todo custo a sua privacidade. Fazer este filme sobre a sua vida, na sua casa, naquela dos seus pais, não é uma contradição?

Não acho. Os momentos realmente privados ficaram assim. No filme, se vê aquilo eu decidi voluntariamente mostrar ao público: a minha família, os meus amigos, as minhas férias, os meus hobbies... Enfim, as coisas que amo. E depois, as viagens, os desfiles, os fotógrafos com os quais trabalho, as conferências de imprensa...





Você vive entre Paris e Monte Carlo?

Na realidade, moro em Monte Carlo, e não perco a oportunidade para voltar para lá quando não trabalho, nos fins de semana, por exemplo.





Viaja sempre acompanhada com a sua agente?

Normalmente, não. Eu preciso dela quando tenho que trabalhar em países que não conheço. Na Argentina, no Japão, na Austrália ou na África do Sul. Nesses casos, existem muitos fãs e depois jornalistas, paparazzi...





São chatas todas estas viagens?

Não, porque adoro ler e com um livro o tempo passa sempre, mesmo de avião. E depois, é um trabalho, não férias!





Que tipo de livros costuma ler?

Principalmente os livros de arte. Prefiro o Impressionismo e a arte Pop. Gosto muito também da história, as biografias dos grandes homens. Li a de Cristovão Colombo. Incrível!





Disseram que você é na metade Brigitte Bardot e na outra metade Romy Schneider-Sissi. Você se reconhece nestas duas modelos?

Sim. Mas não tanto fisicamente. Acho mais ter em comum com elas alguns aspectos do caráter, o estilo de vida... Acho extraordinária a Bardot, além de belíssima: que caráter! Por Romy Schneider então tenho um espécie de adoração. Vi todos os seus filmes e foi terrível quando morreu. Com uma vida tão infeliz...





À parte as desgraças, você gostaria de ser a nova Romy Schneider?

Vejo um outro belo elogio! Parecer com esta, aquela e aquela outra bela mulher. São todos elogios belíssimos, mas eu quero ser principalmente eu mesma. Faço de tudo para ser eu mesma.





O que queria fazer quando adulta?

Não previa de forma alguma me tornar uma modelo. Teria querido me tornar uma advogada.





Como seu pai?

Sim, teria ido trabalhar com prazer no seu escritório de advocacia. Depois, todos os meus programas foram para o espaço. Quando percebi da sorte que tinha tido, decidi renunciar.





A sua história parece uma fábula dos anos Noventa. E os momentos difíceis?

Existem, claro. Mas, por exemplo, nunca me sinto inadequada...





Qual é o segredo?

Muita disciplina. E depois, a capacidade de estar com os outros. Gosto de ficar no meio das pessoas. Gosto de responder com presteza ao tiro cruzado dos jornalistas nas conferências de imprensa. É como um desafio. Não tenho medo, é isso.





Só uma questão de disciplina?

Também um grande equilíbrio. E nesse sentido, é fundamental a educação recebida em família: isso me ajudou muito. Formou o meu caráter dando-me segurança, praticidade e equilíbrio. E não perder o domínio da situação nos momentos mais complexos. É mérito dos meus pais se agora, por exemplo, sei falar em público sem timidez.





De acordo com a mídia, os seus amores nascem e mudam rapidamente, hoje Alberto de Mônaco, amanhã Julio Boca. Qual é a verdadeira Claudia?

A verdadeira Claudia é uma garota com muitos amigos. O príncipe Alberto é um desses, outro é Julio Boca. Mas depois, há também Placido Domingo ou Peter Gabriel e muitos outros personagens públicos. Assim, quando apareço em alguma fotografia junto a eles, a imprensa de todo o mundo os transforma imediatamente em namorados! Mas não é verdade.





Mas, no seu futuro, existe um namorado, um marido, filhos?

Estou super disposta a me apaixonar e logo ainda. Mas por enquanto não tenho nenhum companheiro pelo simples motivo que não me apaixonei por ninguém.





O que olha mais em um homem?

Não tenho um tipo estético ideal. A primeira coisa que vejo é o caráter e, principalmente, o senso de humor. A um homem peço que tenha fascínio, de me conquistar com a inteligência, com a cabeça, enfim. Que saiba o que e a ironia e que saiba ensiná-la a mim. Se não se consegue rir, na vida…





É difícil ser seu namorado …

Todos os companheiros das pessoas famosas devem ter um caráter forte. Eu gosto dos homens de caráter, mas que sejam também sensíveis. Para andar por aí comigo, é preciso suportar o barulho, as intrusões, as fofocas, os jornalistas...





Tem sentimentos de culpa?

Como assim?





Bem, parece que você tenha tudo: beleza, celebridade, dinheiro…

Eu acho que tenho sorte, isso sim, agradeço a Deus e aos meus pais que fizeram nascer assim. Por isso, quando posso tento fazer algo útil, social.





Na moda, porém, não há só os bons sentimentos. Há também a droga, o álcool, as rivalidades…

Droga e álcool não me interessam. Os ciúmes, esses sim, mas não os entendo. As modelas têm físico, caráter e mentalidade tão diferentes que, ao meu ver, há lugar para todas. E também, sempre há lugar para todas. E depois não é necessário ser belíssimas. Cada mulher tem algo de bonito. É preciso só valorizá-lo.





O que é necessário para conseguir?

Principalmente, caráter, porque existem tantas garotas bonitas no mundo... Depois educação, personalidade e disciplina.





Disciplina alimentar também?

Não demais. Não e não tomo bebidas alcoólicas, mas só porque não gosto. Não como muita carne porque acho que não faz bem à saúde e estou atenta às gorduras. Porém, adoro chocolate... Ah! também a Fanta naturalmente! (ri ).





Que relação tem com dinheiro?

Não é a coisa mais importante, mas me permitirá, no futuro, fazer o que desejo. Dinheiro é liberdade.





O que significa para você a palavra sexo?

Para mim? (parece realmente surpresa ).





Sim, para você

Bem, uma coisa que acontece naturalmente entre duas pessoas apaixonadas uma pela outra. É isso.





Acredita possuir uma grande carga erótica ou, ainda, sensual?

Absolutamente.





Absolutamente não?

Absolutamente sim!









4





Gong Li









Encantada pela lua


















No início de 1996, eu tinha há pouco iniciado o meu encargo de correspondente do Extremo Oriente e com outros amigos jornalistas, saia com colega do Time em Hong Kong, John Colmey. John me colocou em contato com o empresário da belíssima atriz chinesa Gong Li, através da qual consegui ter uma entrevista exclusiva para Panorama , no set do filme que estava gravando, próximo à Xangai.

*****

Em Suzhou, às margens do Lago Tai, cem quilômetros a oeste de Xangai, Chen Kaige está para gravar uma das últimas cenas do seu esperado filme Temptress Moon , três anos depois do sucesso mundial de Addio mia concubina . Os assistentes correm entre as mais de duzentas participações em trajes dos anos Vinte que enchem o cais do porto, as mulheres usam o característico cheongsam em seda, alguns cavalheiros leem sentados em um banco e, no fundo, os operários do porto carregam as mercadorias no navio. Está sendo gravado um grande adeus: Gong Li, que no filme é Ruyi, a bela e viciada herdeira de uma riquíssima família de Xangai na qual ocorrem incestos, ritos opiácios e traições cruzadas, está para partir para Pequim junto ao prometido cônjuge, Zhongliang: Leslie Cheung, o ator de Hong Kong já ao seu lado em Addio mia concubina .

No banco, está o amigo de infância Duanwu (interpretado pela promessa do cinema de Taiwan, Lin Chìen-hwa), que desde sempre ama Ruyi em segredo: «Deve pensar: é a última vez que a vejo, a última vez! Isso se deve ler no seu vulto, é aquilo que quero ver!» recomenda-lhe Chen Kaige, quarenta e seis anos, casaco de pele e jeans pretos. «Bem... Yu-bei ... (prontos, ndr) ... Action !». Quando Lin Chien-hwa se vira para olhar o navio que parte, nos seus olhos se lê a dor. « Okay! » grita Kaige satisfeito. É a última claquete do dia.

Depois de mais de dois anos passados reescrevendo o roteiro, Kaige está trabalhando duro para preparar o seu filme para a participação do Festival de Cannes, em maio. Número um do cinema chinês dos anos Noventa, filho da arte (seu pai, Chen Huai’ai, era um monumento do cinema do pós-guerra), Chen Kaige é famoso por obter o máximo dos seus atores, colocando às vezes à dura prova a sua paciência. E aquela do governo chinês, que por anos proibiu, cortou e censurou os seus filmes, até que teve que reconhecer, no fim, a estatura de mestre do cinema contemporâneo.

O novo filme Temptress Moon, que custou até agora seis milhões de dólares, representa de certo modo o símbolo da condição hoje do cinema chinês, oscilando entre liberalismo e repressão, projetado nos mercados mundiais, mas com os pés bem no chão no solo da pátria mãe; cosmopolita e provinciana ao mesmo tempo. E o set do filme parece um microcosmo da China contemporânea.

Os protagonistas são o melhor que oferecem, atualmente, «as três Chinas»: Hong Kong (Leslie Cheung), Taiwan (Lìn Chien) e a China popular (Gong Li). O diretor é um intelectual de Pequim e a produtora, Hsu Feng, é uma ex-estrela do cinema de Taiwan, casada com um homem de negócios de Hong Kong, onde nos anos Setenta fundou a Tomson Film (e tinha sido exatamente ela a convencer Kaige, oito anos atrás, a levar para a tela a novela de Lilian Lee, Addio mia concubina ).

Mas se a espera pela nova direção de Kaige é grande, ainda maiores são as expectativas do público e da crítica para a prova de atriz da estrela incondicional da película, Gong Li. Com trinta e um anos, a atriz é com certeza neste momento a mulher chinesa mais conhecida no mundo. No seu passado, há filmes como Sorgo rosso (1987), Lanterne rosse (1991) e Addio mia concubina (1993). É uma longa história de amor recém terminada com Zhang Yimou, seu companheiro por oito anos, o diretor que fez dela uma estrela mundial e com o qual rodou uma última película o ano passado, La triade di Shanghai .

Mas o sucesso junto ao público ocidental não impediu a Gong Li de permanecer chinesa cem por cento.

No fim do dia no set, aceitou falar de si mesma para Panorama , nesta entrevista exclusiva.





Ainda um grande filme, mas ainda uma história antiga que fala dos anos Vinte na China e não dos fatos da história recente...

Penso que isto dependa do fato que a China abriu as suas portas para o resto do mundo só há poucos anos. E desde que isso aconteceu, para nós também o cinema desfrutou de uma maior abertura estilística e cultural. Com certeza, a censura desempenhou, por anos, um papel decisivo ao dirigir os temas e o destino do nosso cinema. Mas, há também um motivo, mais artístico, se pode-se falar assim: muitos diretores chineses pensam que seja bom fazer filmes sobre fatos que precedem a Revolução cultural. É uma forma para reabilitar aqueles fatos e aquele passado. E talvez pensam que seja ainda cedo para levar para as telas, para o público internacional, episódios recentes, que são ainda muito recentes e dolorosos na memória de todos.





Você é a mulher chinesa mais popular no mundo. Sente a responsabilidade deste seu papel de embaixadora?

O termo embaixadora me amedronta um pouco... me parece um título grande demais para mim. Digamos que me sinto, na verdade, através dos meus filmes, uma ponte entre a nossa cultura e aquelas do Ocidente. Isto sim: porque, de fato, penso que entre vocês, não se conhece muito da realidade da China atual. E se um meu filme pode servir para fazer compreender ao Ocidente algo a mais sobre a nossa vida, sobre o nosso povo, sobre nós, então disto me sinto realmente orgulhosa.





Ultimamente, porém, a imagem da China no mundo não é das melhores: execuções em massa, orfanatos da morte... Tudo isto corresponde à verdade?

A China tem muitos problemas, isto é verdade. Principalmente, quando se olham só os eventos negativos, esquecendo aqueles positivos. Se de um país se conhecem só as distorções, é claro que a imagem que se tem é incompleta. O meu país é grande, somos mais de um bilhão de pessoas e por isso existem diferenças enormes no interior da China. E não é fácil fazer julgamentos.





Quando decidiu aceitar o papel de Ruyi em Temptress Moon?

Foi quase um acaso. Ou um destino profético, porque foi uma «tentação» também para mim. Propuseram-me no último momento, com as gravações já iniciadas, depois que uma atriz de Taiwan tinha decidido não continuar. Sabe que os críticos chineses compararam Temptress Moon com O vento levou ?





Ah, e por quê?

Não pelo conteúdo. Pela escolha dos atores. Chen viu dezenas de atores para o meu papel, assim como para O vento levou foi descartada uma atriz depois da outra antes de escolherem Vivian Leigh para o papel de Scarlett O'Hara. Assim, eu cheguei com o filme já iniciado. E não foi fácil. Queriam que interpretasse um personagem completamente diferente daqueles que faço habitualmente: aqui devo ser uma garota rica e viciada.





Hoje, o cinema chinês atravessa um momento mágico. Mérito de diretores como Kaige e de atores como você. Mas também de nomes como John Woo ou Ang Lee, que trabalham em Hollywood .





Penso que a razão esteja no fato que os diretores chineses unem uma técnica cinematográfica irrepreensível àquele fascínio e ao estilo únicos que pertencem à nossa cultura.





Como começou a representar?

Absolutamente, por acaso. Quando eu era pequena, gostava de cantar. Um dia, o meu professor de canto me disse para ir com ele ver as gravações de um roteiro para a televisão em Shandong. A diretora era uma mulher, me lembro. Quando me viu, decidiu que tinha que fazer uma parte, assim me deu para ler o roteiro. Era uma pequena parte. Mas ela disse que eu era uma atriz nata. Disse assim para a minha mãe: «Sua filha deve ser atriz». Conseguiu convencê-la e depois de dois meses entrei na escola de atuação de Pequim. Estudava duro, me lembro, comecei a fazer pequenos papéis e depois...





Você vive entre Pequim e Hong Kong. E os jornais falam da sua nova história de amor com um homem de negócios de Hong Kong. Pensa em se transferir definitivamente para lá?

Não creio. Gosto de Hong Kong porque é frenética. E é bom para fazer compras. Mas a acho aborrecida. Pequim é diferente. As pessoas se encontram pelas ruas e falam com você, conversam. Em Hong Kong, pensa-se só em fazer dinheiro.





O interesse da imprensa pela sua vida particular a incomoda?

Penso que seja inevitável. É, principalmente, a imprensa asiática que escreve com frequência coisas desagradáveis ou inventadas. Os jornais ocidentais são mais corretos.





Na China também é importante ser bonita, para uma atriz?

Você acha que eu sou bonita?





No Ocidente, é considerada um símbolo sexual .

Bem, isso me deixa satisfeita. Eu, porém, não me sinto um símbolo sexual. Talvez, possa representar a personalidade ou o fascínio da mulher chinesa, que são tão diferentes das mulheres ocidentais.





Que projetos têm para o futuro?

Gostaria de me casar e ter filhos, penso que a família seja muito importante na vida de uma mulher. E sem uma família, não se pode levar no próprio trabalho a verdade de cada dia.





E os projetos cinematográficos?

Por enquanto, não. Estou lendo muitos roteiros, mas não encontro nada que me convença. Não acho que se deva aceitar um papel só para fazer alguma coisa.





Trabalharia com um diretor ocidental?

Se tivesse uma parte adequada para mim, adequada a uma mulher chinesa, por que não?





Existe um italiano com quem gostaria de trabalhar?

Claro, Bernardo Bertolucci!





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Ingrid Betancourt









A apaixonada dos Andes










Cara Dina, eis a parte com box a seguir. Espero que tudo esteja bem. Hoje (segunda, 11) tomarei o avião de Tóquio para Buenos Aires, onde chegarei amanhã, 12 de fevereiro. Daí em diante, poderei ser encontrado no satelitar, mesmo nos dias de “navegação” antártica. Estarei de novo na Argentina por volta de 24 de fevereiro, depois seguirei para Bogotá, onde terei que encontrar a Bentacourt nos primeiros dias de março.

Faça-me saber se lhe interessa.

Até logo

Marco





Com este e-mail, que encontrei em um velho computador, no início de fevereiro de 2002 escrevia para Dina Nascetti, uma das minhas chefes no Espresso, para informá-la dos meus movimentos. Tinha estado no Japão para uma reportagem sobre o túmulo de Jesus


e me preparava para enfrentar uma longa viagem, que me teria levado para longe de casa por quase dois meses. O destino final era o limite geográfico extremo: a Antártida.

Ao longo da estrada, previa uma parada na Argentina, para uma reportagem sobre a gravíssima crise econômica que assolava o país sul americano naqueles meses e depois, no caminho de volta, a Colômbia, onde deveria ter que entrevistar Ingrid Betancourt Pulecio, a política colombiana e militante dos direitos humanos. Na realidade, cheguei alguns dias antes do previsto em Bogotá. E foi - pelo menos para mim - uma sorte. Encontrei a Betancourt no dia vinte e dois de fevereiro e, exatamente, vinte e quatro horas depois enquanto viajava de carro para Florença, Ingrid Betancourt desapareceu no nada, pelos lados de San Vicente del Caguan. Sequestrada pelos guerrilheiros das farc , foi mantida como refém por quase seis anos.

Se tivesse chegado na Colômbia só no dia depois, nunca a teria encontrado.





*****

Os cabelos castanhos soltos sobre os ombros. Os olhos escuros, de verdadeira colombiana. No pulso, uma pulseira de âmbar. E os lábios que não sorriem quase nunca.

Tem poucas ocasiões para sorrir Ingrid Betancourt, quarenta anos bem cuidados, cinquenta quilos bem distribuídos em um metro e setenta, hoje candidata ao incômodo cargo de presidente da República do país mais violento do mundo, a Colômbia. Um lugar onde todos os dias se contam em média setenta homicídios. Onde, há quarenta anos, se combate uma guerra que desde 1990 até hoje fez trinta e sete mil vítimas civis. Onde são sequestradas, mais ou menos, dez pessoas a cada vinte e quatro horas. Um país que se orgulha do recorde de primeiro produtor no mundo de cocaína e do qual, nos últimos três anos, fugiu mais de um milhão de pessoas.

Entretanto, não se passaram muitos anos desde quando a mesma mulher que hoje se senta em frente a mim, em um anônimo apartamento super secreto e super blindado no centro de Bogotá, colete a prova de balas e olhar nervoso, sorria serena, deitada em uma praia das Seychelles, sob o olhar indulgente do padre Gabriel de Betancourt, diplomático francês belo, culto e inteligente, enviado para trabalhar naquele canto do paraíso depois dos anos difíceis passados na Colômbia.

Exatamente vinte e quatro horas depois desta entrevista, enquanto viajava para Florença, Ingrid Betancourt desapareceu, pelos lados de San Vicente del Caguan, no limite da área mais avançada de penetração das tropas colombianas contra os rebeldes da farc . Junto a ela, desapareceram uma cinegrafista e um fotógrafo franceses que a acompanhavam para documentar a sua arriscada campanha eleitoral. E tudo deixa pensar que se trata de um rapto.

Uma representação dramática que, paradoxalmente mas não demais em um país cruel como a Colômbia, «aumenta de vez as possibilidades da sua eleição», como observa pragmaticamente um que entende de acontecimentos colombianos, Gabriel Marcela, professor na Escuela de Guerra.





Ingrid Betancourt Pulecio, tinha voltado para este inferno, espontaneamente. E não ao ocaso da vida mas, com trinta anos, em 90.

Ex-deputada, atualmente senadora, funda um partido que se chama Oxigeno Verte , «para levar ar limpo para a política colombiana, doente de corrupção», explica séria. O slogan diz: «Ingrid es oxigeno». E na foto, está ela, com uma máscara antipoluição e calças coloridas. Com cento e sessenta mil preferências, é a mais votada do País. Ninguém porém, talvez, falasse hoje dela se não fosse pela autobiografia que sai exatamente nestes dias também na Itália. O título não deixa dúvidas sobre o caráter da autora: «Provavelmente amanhã, irão me matar».





Um tanto teatral, talvez?

«A edição francesa se intitulava La rage au coeur – La rabbia nel cuore » ela se defende. «Mas os editores italianos queriam um título mais forte, assim escolhemos este. De resto é assim que me sinto e é isto que penso todas as manhãs, quando me acordo e todas as noites, antes de adormecer. E não acho que existe nada de especialmente heroico. A probabilidade de ser mortos amanhã é uma perspectiva muito real e muito presente para uma grande parte da população deste país».

Os jornais a descreveram quase como uma santa. Paris Match a chamou “A mulher na mira”. Libération “Uma heroína”. Le Figaro , “A Apaixonada dos Andes”. Le Nouvel Observateur escreveu que «se Simon Bolívar, o libertador da América Latina, tivesse podido escolher um herdeiro para ele, a teria escolhido».

Os jornais colombianos, em vez disso, zombaram dela um pouco. A Semana , primeiro jornal semanal de informações do País, a colocou na capa com o título “Juan de Arco” (Joana D'Arc) e uma fotomontagem onde aparece na versão de Donzela de Orleans, cavalo, armadura e lança em riste. Na realidade, o livro é muito mais comedido e seco do título que leva e nas suas críticas. Ingrid não esconde ser uma privilegiada. Filha da elite, conservou certos luxos: andar a cavalo uma vez por semana em uma fazenda, colocada à disposição por amigos, por exemplo.

De resto, porém, as ideias não lhe faltam, e não tem papas na língua para exprimi-las. «A farc , Fuerzas Armardas Revolucionarias de Colombia, primeiro grupo guerrilheiro do país, em 1998, de acordo com cálculos prudentes, podia contar com financiamentos anuais iguais a trezentos milhões de dólares, na maioria proveniente dos “financiamentos” de narcotraficantes e das rendas dos sequestros de pessoas e das extorsões. Hoje sabemos que podemos contar com um valor anual que chega quase a meio bilhão de dólares, enquanto os seus quadros passaram de quinze mil a vinte e um mil. Esta situação» ele explica, «coloca o estado colombiano em uma situação de total desnível de forças nos confrontos da guerrilha. Para obter resultados decisivos calculamos que o governo deveria poder colocar em campo de três a quatro militares bem treinados para cada guerrilheiro, enquanto hoje pode ao máximo mobilizar uma proporção de um, no máximo, dois soldados para cada membro da farc . E tudo isso com um esforço econômico que, ainda, para o meu país, é quase sobre-humano. Calcula-se que desde 1990 o custo da repressão quase que foi decuplicado. E, se no início, representava um por cento do produto interno bruto, hoje supera a cota de dois por cento e alcançou, afinal, o astronômico valor de mil milhões de dólares norte-americanos».

Uma exaltada, como a descrevem os seus inimigos ou uma mulher que quer fazer alguma coisa para o seu País, como diz ela? Os círculos da política em Bogotá esnobam da sua candidatura. Mas, lá no fundo, a temem. Omar, o chefe dos seus gorilas, diz: «Neste país, quem é honesto arrisca-se pagar com a morte.» E ela responde: «Não tenho medo de morrer. O medo a torna mais aguçada».

O primeiro ponto da sua campanha eleitoral é a luta contra a corrupção. O segundo, há a guerra civil: «O Estado deve tratar com os guerrilheiros de esquerda sem sujeições», conclui «tomando distância das AUC, os paramilitares de direita, que são responsáveis pela maior parte dos homicídios no País».

Mas como se faz para conviver todos os dias com as ameaças e o medo?

«Talvez se torne também este um hábito. Um hábito horrível. Outro dia» conclui tranquila, «abrindo a correspondência, encontrou a foto de um menino esquartejado. Embaixo, estava escrito: “Senhora senadora, para a senhora, os assassinos já os pagamos. Para o seu filho, reservamos um tratamento especial…”».

















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Aung San Suu Kyi


Prêmio Nobel da Paz 1991




Livre do medo


















No dia seis de maio de 2002, em seguida às fortes pressões da onu , foi liberada Aung San Suu Kyi. A notícia rodou o mundo, mesmo se a sua liberdade foi de breve duração. Em trinta de maio de 2003, enquanto estava a bordo de um trem com muitos apoiadores, um grupo de militares abriu fogo massacrando muitas pessoas e foi só graças à prontidão de reflexos do seu motorista o Kyaw Soe Lin que Aung San Suu Kyi conseguiu se salvar, mas foi de novo colocada em prisão domiciliar.

No dia depois da sua liberação de maio de 2002, através de alguns contatos que tinha com a dissidência birmanesa, conseguiu fazer-lhe chegar uma série de perguntas para uma entrevista “à distância” via e-mail.





*****

Às dez da manhã de ontem, silenciosamente, os guardas que estacionavam em frente à residência de Aung San Suu Kyi, líder da dissidência democrática birmanesa, voltaram ao seu quartel. Assim, com um movimento de surpresa, a junta militar de Rangoon revogou as restrições à liberdade de movimento da líder pacifista, “a Senhora” como a chamamos simplesmente na Birmânia, prêmio Nobel da Paz em 1991, em prisão domiciliar do distante vinte de julho de 1989.

Das dez da manhã de ontem, então, depois de quase treze anos, Aung San Suu Kyi está livre para sair da Casa no lago, de se comunicar com qualquer pessoa, de fazer política, de ver os seus filhos.

Mas, realmente acabou o terrível isolamento da “apaixonada birmanesa”? A oposição no exílio não acredita ainda às altas declarações da junta militar que declarou liberá-la sem condições.

Incrédulos, os exilados birmaneses esperam. E rezam. Desde ontem, de fato, a diáspora birmanesa convocou manifestações de orações em todos os templos budistas da Tailândia e da Ásia Oriental.

Ela, a Senhora , assim que voltou em liberdade não perdeu tempo. Alcançou logo de carro o quartel geral do seu partido, aquela Liga nacional pela democracia ( lnd ), que nas eleições de 1990, obteve uma esmagadora vitória (oitenta por cento dos votos), enquanto o Partido do governo da unidade nacional se adjudicou apenas dez cadeiras de 485. O governo militar anulou o resultado das eleições, proibiu as atividades da oposição, reprimiu violentamente as manifestações das praças e os líderes da oposição foram presos ou exilados. O parlamento nunca foi convocado.





A edição italiana da sua autobiografia se intitula “Libera dalla paura”. Sente-se assim, agora?

Agora, pela primeira vez há mais de dez anos, me sinto livre. Fisicamente livre. Livre principalmente para agir e pensar. Como explico no meu livro, são muitos anos afinal que me sentia "livre do medo". De quando tinha entendido que os abusos de poder da ditadura aqui no meu país podiam nos ferir, humilhar, até nos matar. Mas não podiam mais nos amedrontar.





Hoje, assim que foi libertada, logo declarou de não ter sido submetida a condições e que a junta militar no poder a autorizou a ficar também no exterior. Acredita nisso realmente?

Um porta-voz da junta, em um comunicado por escrito anunciado ontem à noite, anunciou a abertura “de uma nova página para o povo de Myanmar e para a comunidade internacional”. Nos últimos meses, foram liberados centenas de prisioneiros políticos e os militares me garantiram que continuarão a liberar aqueles que - eles dizem – «não representam um perigo para a comunidade». Todos aqui querem acreditar, querem esperar que isto seja realmente o sinal da mudança. A retomada daquele caminho para a democracia interrompida bruscamente com a violência com o golpe de Estado de 1990. Mas nunca esquecida no ânimo do povo birmanês.





Agora que foi liberada, não teme ser expulsa, afastadas pelos seus sustentadores ?

Deve ficar claro que eu não irei embora. Eu sou birmanesa, renunciei à cidadania britânica exatamente para não oferecer desculpas ao regime. Não tenho medo. E isso me dá força. Mas o povo tem fome, por isso tem medo e assim se torna fraca.





Você, por mais vezes e com força, denunciou as intimidações dos militares contra os simpatizantes da Liga para a democracia. Tudo isso continua ainda hoje?

De acordo com os dados em nossa posse, só em 2001 o exército deteve mais de mil militantes da oposição por ordem dos generais do slorc . Muitos outros foram obrigados a demitir-se da Liga depois de ter sofrido intimidações, ameaças, pressões ilegais para as quais não existe nenhuma justificação. A estratégia de ação é sempre a mesma, capilar: unidade de funcionários estatais espalhados em todo o território nacional vão “porta à porta” para as casas pedindo aos cidadãos para deixar a Liga . As famílias que se negam são chantageadas com o espectro da perda do trabalho e, com frequência, com ameaças explícitas. Muitas seções do partido foram fechadas e todos os dias os militares controlam o número de quantos se demitiram. Isto demonstra quanto medo ele têm da Liga . A esperança neste momento é, para nós todos, que tudo isso tenha realmente acabado.





A virada de hoje, o acontecimento da sua liberação, a colheu de surpresa ou se tratou de algo atentamente preparado e estudado pelos militares por questões de “imagem” internacional?

De 95 até hoje, o isolamento da Birmânia pouco a pouco se desfez, o Ateneu de Rangoon foi reaberto e talvez o nível de vida melhorou levemente; mas a história da Birmânia continua a se desenvolver no quotidiano feito de violências, ilegalidades e abusos tanto contra os dissidentes quanto contra as minorias étnicas (Shan, We, Kajn) na busca de autonomias e, em geral, contra a maior parte da sua população. Os militares estão sempre mais em dificuldades, tanto no plano interno quanto naquele internacional. Neste ínterim, continuam a traficar droga, a menos que não consigam substituir esta rentável fonte de renda com uma outra, igualmente lucrativa. Mas qual? A nação é praticamente um imenso cofre do qual só o exército conhece a combinação. E não será fácil convencer os generais a dividir esta riqueza com os outros cinquenta milhões de birmaneses.





A este ponto, quais são as suas condições para começar o diálogo ?

Não aceitaremos nenhuma iniciativa - fala-se também de eleições convocadas pelos generais - até que seja reunido o Parlamento eleito em 90. O meu País continua dominado pelo medo. Não haverá paz verdadeira até que não existirá um verdadeiro empenho que honra todos aqueles que lutaram por uma Birmânia livre e independente, mesmo se com a grande consciência que paz e reconciliação não possam ser alcançadas uma vez por todas e por isso é necessária uma vigilância sempre mais atenta, maior coragem e a capacidade de desenvolver em nós mesmos a verdadeira resistência ativa e não violenta.





O que pode fazer a União Europeia para ajudar o povo birmanês?

Continuar a fazer pressão, porque os generais devem saber que o mundo olha para eles e que não podem cometer impunemente outros atos vergonhosos.

*****

Finalmente, no dia treze de novembro de 2010, Aung San Suu Kyi foi definitivamente solta. Em 2012, obteve uma cadeira no parlamento birmanês e no dia dezesseis de junho do mesmo ano, pode receber o prêmio Nobel pela Paz. Como o governo lhe concedeu finalmente a permissão de ir para o exterior, foi para a Inglaterra, para se encontrar com o filho que não via há anos.

Em seis de abril de 2016, se tornou Conselheira de Estado (Primeira Ministra) de Myanmar.

A Birmânia, hoje Myanmar, não é ainda um país completamente livre e o passado ditatorial pesa na história e no futuro da nação. Mas algo mais de uma esperança de liberdade e democracia se abriu afinal no país dos Mil Pagodes.





7





Lucia Pinochet









“ Asasinar, torturar y hacer desaparecir ”


















Santiago do Cile, março 1999 .

«Pinochet? Para os clientes é como um câncer. Um mal obscuro..., doloroso. Nós sabemos que o temos, mas temos medo até de falar nele, pronunciar o seu nome. Assim acabamos em fazer de conta que não existe. Talvez esperamos que ignorando-o, este mal vá embora sozinho, sem termos que enfrentá-lo...». A moça que serve às mesas do Cafè El Biografo , ponto de encontro de poetas e estudantes, no Barrio pitoresco de Bellavista em Santiago, o bairro dos artistas e dos velhos restaurantes, com as suas casas coloridas, terá um pouco mais de vinte anos. Talvez ainda nem tivesse nascido quando o general Augusto Pinochet Ugarte, o “Senador vitalício”, como o chamam aqui, ordenava “asasinar, torturar y hacer desaparecir” os seus opositores - como gritam os familiares dos mais de três mil desaparecidos - ou enquanto providenciava com punho de ferro “liberar o Chile da ameaça do bolchevismo internacional”, como garantem os seus admiradores. Porém é ela mesma a querer falar-me de Pinochet e tem as ideias claras: «Tudo aqui é Pinochet. Prós ou contras, mas em cada aspecto da vida do Chile existe ele, o general. É na política, claro. É na memória de todos, nos contos dos meus pais, nos discursos dos professores na escola. E é nos romances, nos livros... no cinema. Sim também o cinema, aqui no Chile, se faz prós ou contras Pinochet. E nós continuamos a fazer de conta que não existe...».

Já, este ancião senhor obstinado, que enfrenta “com dignidade de soldado” a justiça britânica («...pobre velho!» sussurrou-me no ouvido o porteiro do “Circulo de la Prensa”, onde os fidelíssimos do Senador vitalício , nos anos obscuros da ditadura militar, vinham “retirar” os jornalistas irritados, exatamente atrás do palácio da Moneda onde morreu Salvador Allende, perseguido pelo golpe do General), esse “pobre velho” que aliás, no Chile do Terceiro milênio, se torna um colosso incômodo, que ocupa com os seus cais cada bairro, cada esquina, cada rua dessa cidade, Santiago, que aparece como incerta, dobrada sobre si mesma.

E depois é ele a memória vívida deste País, uma memória imensa, invasora, embaraçosa para os seus sustentadores e que incomoda aos seus difamadores. Uma memória que se expande pegajosa como um blob nas vidas, nas esperanças e dores, no passado e no futuro dos chilenos.





Em outubro de 1998, ao se tornar senador, poucos meses depois do abandono do papel de chefe do exército, enquanto estava em Londres para alguns tratamentos médicos, Pinochet é preso e colocado em prisão domiciliar. Antes na clínica, na qual tinha acabado de sofrer uma intervenção cirúrgica na coluna, depois em uma residência em locação.

O mandato de prisão internacional foi assinado por um juiz espanhol, Baltasar Garzón, por crimes contra a humanidade. As acusações incluíam quase cem casos de tortura contra cidadãos espanhóis e um caso de conspiração por cometer tortura. A Grã Bretanha tinha recentemente assinado a Convenção internacional contra a tortura e todas as acusações eram por fatos ocorridos nos últimos quatorze meses do seu regime.

O governo do Chile se opôs logo à prisão, à extradição e ao processo. Foi iniciada uma dura batalha legal na Câmara dos Lordes, o órgão máximo jurisdicional britânico, que durou dezesseis meses. Pinochet reivindicou a imunidade diplomática como ex-chefe de Estado, mas os Lordes a negaram em consideração à gravidade das acusações e concederam a extradição, mesmo com vários limites. Pouco tempo depois, porém uma segunda pronúncia dos mesmos Lordes permitiu à Pinochet evitar a extradição por causa das suas precárias condições de saúde (tinha oitenta e dois anos no momento da sua prisão), por motivos definidos “humanitários”. Depois de alguns acertos sanitários, o então ministro do exterior britânico Jack Straw permitiu à Pinochet, depois de quase dois anos de prisão domiciliar ou na clínica, voltar para o seu País, em março de 2000.





Durante este intricado caso legal internacional, no fim de março de 1999, fui à Santiago para acompanhar a evolução da situação para o jornal Il Tempo , e para encontrar a filha mais velha do Senador vitalício , Lucia. A Câmara dos Lordes tinha acabado de negar a imunidade à Pinochet e o avião que – na esperança da família e dos apoiadores do general - deveria levá-lo de volta ao Chile, chegava sem ele.

A reação pelas ruas de Santiago foi imediata. Em vinte e quatro de março a capital chilena tinha esperado a sentença com a respiração suspensa, mesmo se não como uma cidade blindada. Enquanto uma discreta presença de “Carabineros”, controlava os pontos quentes da capital chilena - o palácio presidencial da Moneda, as embaixadas da Grã Bretanha e Espanha e as sedes das associações pró e contra o Senador vitalício - os chilenos acompanhavam minuto a minuto o ocorrido através da cobertura maciça que todas as redes nacionais lhe dedicavam. A atenção era aquela dirigida a um evento histórico, com conexões diretas via satélite de Londres, Madri e diversos pontos de Santiago, iniciados perto das sete da manhã e que continuaram por todo o dia. Pouco menos de uma hora depois da decisão dos Lordes, por volta de meio-dia local, dois jornais da tarde já estavam prontos com uma edição extraordinária. Um deles trazia o título assim, eficaz, na primeira página: «Pinochet perdeu e venceu».

Nos momentos cruciais da manhã muitos santiaguinos tinham se juntado em torno às televisões instalados um pouco em todos os locais públicos, dos McDonald's aos bares menores. Em uma grande loja do centro tinha se reunido uma multidão revoltada de clientes quando, furiosos, forçaram verbalmente o gerente para obrigá-lo a sintonizar a televisão na transmissão direta de Londres.

No fim da tarde a situação que até então tinha se mantido calma, começava a mostrar os primeiros sinais de tensão. Às dezesseis, hora de Santiago, ocorriam os primeiros confrontos entre estudantes e polícia no centro da capital, no cruzamento entre a Alameda


e a calle Miraflores, com um balanço de uma dezena de feridos e uns cinquenta estudantes presos.

Muitos os apelos à calma, principalmente por parte dos expoentes do governo. Também as declarações ameaçadoras do general Fernando Rojas Vender, (o piloto que bombardeou o palácio presidencial da Moneda), comandante da Força Aérea Chilena, a fidelíssima FACH, que na terça-feira antes tinha sustentado publicamente que no País estava se preparando um clima «parecido com aquele do Golpe de Estado de 73», tinham sido asperamente censuradas pelo Governo, que tinha até forçado Rojas a uma retificação pública.

Agora, a atenção se deslocava para a decisão do Ministro britânico da justiça, Straw. E em torno à sua figura já tinham se colocado em movimento todos os aparatos publicitários dos apoiadores de Pinochet, que apontavam «fazer com que Straw tivesse o mesmo fim do Lord Hofmann», desacreditar o Ministro britânico acusado de ter manifestado, na juventude, fortes e públicas simpatias pela esquerda chilena, no curso de uma sua viagem ao Chile com a idade de trinta e três anos. Havia até quem sustentasse poder fornecer provas de um encontra amigável entre o jovem Straw e o então presidente Allende, que o teria convidado para tomar um chá.

Enfim, os assuntos a enfrentar, eu pensava, enquanto caminhava para a casa de Lucia Pinochet, não faltavam.





*****

Inés Lucia Pinochet Hiriart é a filha mais velha. Uma bela senhora, que traz muito bem a sua idade e ainda melhor o seu sobrenome. Um gesso banal a impediu de estar ela também, como os seus irmãos, ao lado do pai, em Londres. Assim, sem poder ajudá-lo, coube-lhe na sorte permanecer aqui em Santiago, para representar, e principalmente defender, a figura do Senador, em um momento certamente não fácil.

Pelas janelas abertas da sua bela casa nos bairros altos, onde nos chegam as vozes dos manifestantes que gritam slogans a favor de seu pai, com os seus três rapazes ao lado, Hernan, Francisco e Rodrigo, falamos por quase uma hora dos temas “quentes” do caso que envolve o destino de seu pai e, inevitavelmente, o futuro de todo o Chile.





O que pensa da decisão “humanitária” aplicada em relação ao seu pai?

Teria preferido que tivesse sido reconhecida ao meu pai aquela imunidade completa que lhe cabia como ex Chefe de Estado de um país soberano. Em vez de um processo penal passou-se a uma discussão política sobre presumidos casos de tortura, vários crimes e genocídio, cedendo às pressões dos socialistas e de gente que diz querer defender os direitos humanos.





Falou com o seu pai? Como ele reagiu?

Meu pai não está contente com a solução. Tinham-no avisado antes sobre a possibilidade de uma decisão “humanitária”. E claro, não ficou contente pelo dato que tudo tenha sido confiado ao Ministro Jack Straw...





Aquele mesmo que visitou o Chile em 1966 e, se diz aqui, foi tomar chá com Salvador Allende?

Exato, e isso já sabíamos a tempo. Basta dizer que quando prenderam meu pai, em Londres, Straw declarou que tinha sido realizado o sonho da sua vida.





Assim, agora, do plano jurídico passou-se àquele humanitário...

Tudo sempre foi um fato político! Falar de um processo judiciário queria dizer fechar os olhos porque em Londres não tinha que se discutir de tortura, mas apenas de imunidade presidencial e de soberania territorial.





Muitos comentaristas observaram que se trata de uma sentença histórica, que constitui um precedente jurídico de notável importância. Está de acordo?

Certo, visto que é a primeira vez que se enfrenta uma situação como esta. Deve considerar que há muitos anos existiam convenções internacionais mas não existia nem um procedimento judicial, nem um tribunal de justiça que tivesse que julgar e, eventualmente, punir os crimes contra os direitos humanos. Assim, o experimento está sendo feito na pele do meu pai!





Como está o estado de saúde do general?

Não devemos esquecer que ele tem oitenta e três anos e que acabou de passar por uma cirurgia dificílima. Está se recuperando aos poucos, mas o diabetes não o deixa tranquilo e todos os dias deve se submeter a cuidados e controles médicos.





Teme pela sua saúde, se for extraditado?

Sim, porque poderá lhe causar uma notável piora. E temo principalmente pela saúde da minha mãe. Não sentiu seguir as fases mais dramáticas deste caso. Por exemplo, quando ouviu a sentença dos Lordes, na televisão, teve um mal estar e os médicos tiveram que aplicar diversas injeções para atenuar as oscilações de pressão a ser submetida...





A justiça inglesa a desiludiu?

Não, porque acho que este caso não seja um caso ligado em geral aos ingleses. E mais, partiu daqueles que estão no governo, neste momento, na Grã Bretanha. Os quais, come se sabe, são da esquerda...





Acredita que também na Inglaterra existem adeptos à sua causa?

Muitos ingleses estão conosco. Mas percebi quando fui lá, recentemente. Muitas pessoas se aproximaram para me manifestar a sua solidariedade. E a sua oposição em relação ao fato que, além do mais, o caso que envolve meu pai está custando, também aos cidadãos ingleses, muito dinheiro público.





Segundo você, o ex presidente Frei agiu com energia suficiente?

Teria preferido uma ação mais enérgica. Entretanto, fez bastante, isto reconheço e aprecio. Claro que gostaria de tê-lo visto agir para impor à Comunidade Internacional o respeito que o nosso País merece. Não é aceitável que detenham no exterior um ex Chefe de Estado, Senador da República e ex Comandante em Chefe do Exército.





Se seu pai voltar para o Chile, como pensam em comemorar isso?

Ficando em família. A sua volta para a Pátria, essa será a maior festa.





Ao voltar, irá logo ao Senado ou, como alguém sustenta, para fazer acalmar as águas se afastará, por algum tempo em uma das suas m muitas residências em Bucalemu, El Melocoton ou Iquique?

Veja, eu sinceramente não consigo entender porque o seu caso esteja agitando tanto os ânimos, aqui no Chile. O menos o meu pai deseja é se deparar com problemas. E de divisões e lacerações na sociedade chilena. A única coisa que em vez disso deseja é que o Chile possa se dirigir finalmente a uma definitiva pacificação e reconciliação nacional, prosseguindo assim na difícil estrada do desenvolvimento econômico. Por isso, se o considerar útil para tal fim, poderia também decidir não voltar imediatamente ao Senado.





Ele falou com você?

Não, é uma minha convicção. O que me repetiu porém é que deseja muito voltar, porém sem ser fonte de problemas. Meu pai quer representar um fator de união, não de divisão.





Acredita que seu pai esteja disposto a se submeter à justiça chilena?

Estou absolutamente convencida que esteja pronto a responder a qualquer pergunta que a justiça chilena quisesse lhe fazer. Isso não quer dizer que se sinta culpado. Porém repito, ele respeita e sempre respeitou a justiça chilena.









Concorda com o que declarou seu irmão Marco Antonio, isto é que, durante o governo de seu pai, foram cometidos abusos?

Às vezes com meu irmão usamos palavras diferentes, ma sempre sustentei que, em algumas ocasiões, ocorreram abusos. Não se deve esquecer, porém, que naquele período assim difícil na história atormentada do Chile, estava em curso uma verdadeira guerra, uma luta subterrânea entre dois lados. Por isso, ocorreram excessos por ambas as partes.





Considera que seu pai deva pedir perdão?

Meu pai não se sente culpado. E uma pessoa que se sente inocente, de que pode pedir perdão?





Compartilha com as afirmações recentes do General Fernando Rojas Vender segundo o qual o Chile está preparando uma atmosfera semelhante àquela dos tempos do Governo da Unidade Popular?

O General Rojas disse apenas a verdade. E é verdade que o País está se separando, com a possibilidade de ir ao encontro - a passos de gigante - de um futuro muito incerto e dramático.





O que pensa da abordagem das Forças Armadas em relação à detenção de seu pai. Fala-se de um crescente nervosismo...

Se eu fosse um militar e prendessem no exterior um ex Comandante em Chefe do Exército do meu País, me sentiria extremamente indignado. Acho que viveria o fato como um atentado à soberania da minha pátria e uma falta de respeito em relação ao Exército. E acredito também que, até aqui, os militares tenham dado prova de uma grande paciência. Mas se eu fosse uma deles, talvez teria tido tanta.





O que espera do Exército?

Não espero nada. Se não que ajam de acordo com a consciência.









8





Mireya Garcia









Perdoar é impossível






















Enquanto no Palácio presidencial da Moneda estava ainda em curso a reunião do Conselho de segurança nacional, convocado com urgência pelo presidente Frei, uma notícia terrível tinha percorrido o Chile, já agitado pelos póstumos da contraditória sentença londrina sobre Pinochet, contribuindo a aumentar a já alta tensão geral: a notícia da descoberta de um novo centro de detenção ilegal remonta o período da ditadura militar, graças às revelações do bispo de Punta Arenas, monsenhor Gonzales, onde já tinham sido identificados os restos de centenas de desaparecidos.

O centro de detenção se encontrava no extremo norte do Chile, a cento e dez quilômetro da cidade de Arica, em uma região desértica onde, há muito tempo, se suspeitava a sua existência. Foi assim que se tomou conhecimento que a magistratura local, de diversas semanas e no mais absoluto segredo, investigava no centro. Apesar da reserva mantida no caso do juiz da terceira seção penal de Arica, Juan Cristobal Mera, e graças às declarações do governador local, Fernando Nuñez, se sabia que estava a par que restos humanos se encontravam em uma área costeira no distrito de Camarones. Muito próximo ao antigo cemitério da cidade definido “de fácil acesso” pelas autoridades.

«É preciso esclarecer» tinha prontamente declarado o governador Nuñez aos jornalistas, «que as coordenadas geográficas não são tão precisas, mas sabemos que o juiz já verificou a existência de pelo menos duas delas. Assim, no momento da eventual exumação dos restos dos desaparecidos, pediremos a presença do ministro Juan Guzan Tapia».

As indicações que tinham permitido identificar este centro de detenção nasciam de algumas revelações do bispo Gonzalez, que teria recebido as informações do caso «sob o segredo da confissão» como ele mesmo tinha declarado. Não estava ainda claro a quantos centros de detenção essas notícias se referiam.

Decidi então aprofundar a terrível realidade dos desaparecidos chilenos, encontrando a líder da Associação dos familiares dos desaparecidos.





*****

Presa, torturada, exilada. Mireya Garcia não perdeu pelo caminho apenas a sua juventude com o golpe de Estado de Pinochet. Seu irmão desapareceu, afinal há mais de um quarto de século. Hoje, Mireya é vice-presidente da Associação dos familiares dos detentos “desaparecidos” e nunca parou de combater para a busca da Verdade.

A sede onde se reúnem, dia após dia, há anos afinal, essas mães, essas avós, cada uma com a sua carga de dor, cada uma com a sua fotografia de um filho, um irmão, um marido ou um sobrinho, desaparecido, é um prédio azul próximo ao centro de Santiago. As paredes do pátio são recobertas com fotografias dos desaparecidos, para cada um deles uma foto desbotada e uma frase, que repete ao infinito a mesma pergunta: Donde estan? » «Onde estão?». De vez em quando, tanto o muro de fotos e de perguntas todas iguais, todas sem resposta, é interrompido por uma rosa, por uma flor.





Que lembrança tem daqueles anos, do Golpe de Estado?

Uma lembrança muito vaga. Estava em casa e lembro simplesmente de ter ouvido músicas militares na rádio. Depois, muitos homens, de farda, pelas ruas. Não conseguia ainda perceber que, naquele dia, a história do meu país, o Chile, tinha sofrido um golpe duríssimo...





Quantos anos tinha então?

Fazia parte da juventude socialista de Concepcion, uma cidadã a algumas centenas de km ao sul de Santiago. Eu gostaria de ter estudo, casado, ter uma família e filhos... Em vez disso, tudo caiu. Rapidamente, muito rapidamente. Agora consigo falar de tudo isso com a relativa tranquilidade. Mas por anos não fui capaz de lembrar daqueles dias. Nem com a minha família...

Uma noite, vieram nos pegar. Em casa, estava só eu e o meu irmão... Fui presa (se pode-se dizer assim), depois torturada. Ainda hoje, sinceramente, não consigo falar daquelas humilhações...

Não vi mais meu irmão. Mais tarde, quando conseguimos, com a minha família, fugir para o exterior, no México, soube que Vicente tinha desaparecido definitivamente. Lembro com uma angústia terrível, saber que talvez ainda estava vivo, em algum lugar, e eu estava lá, longe a milhares de quilômetros, sem poder voltar para o Chile, sem poder procurá-lo, ajudar.





Foi então que teve a ideia de fundar essa associação?

Sim. No México estamos em tantos, exilados, com parentes que foram feitos desaparecer pela ditadura de Pinochet. Organizamos cortejos pelas estradas. Uma arma muito débil, contra uma ditadura tão feroz, mas pelo menos as pessoas começaram a se interessar por nós. Começou a saber.





Quando conseguiu voltar para o Chile?

Foram necessários quinze anos. E ainda hoje me sinto uma exilada. Uma exilada no meu País.





O que conseguiu saber da sorte de seu irmão?

Muito pouco. Apenas que tinha sido deportado para um centro clandestino de detenção, de tortura, que se chamava Cuartel Borgoño e que hoje não existe mais. Destruíram tudo, com os bulldozer, para fazer desaparecer os vestígios e as provas.





Acredita que as responsabilidades sejam todas de Pinochet?

Não. E é este o aspecto incrível do Chile. Nos arquivos dos tribunais há procedimentos judiciários abertos, pelo menos contra uns trinta pessoas, generais, coronéis, políticos e simples “trabalhadores” da morte, que se tornaram responsáveis de tortura, assassinatos e violências de todo gênero. Mas o aspecto absurdo do meu País é que todos sabem que desapareceram no nada pelo menos três mil pessoas, enquanto é certo pelos tribunais o desaparecimento apenas de onze deles. É como se todo um País soubesse, mas girasse a cabeça para o outro lado...





Alguns dizem que a Justiça não é um conceito universal, mas relativo ao momento histórico, às condições de um País... está de acordo?

Não, eu acho que a dignidade, o respeito e a justiça são conceitos universais. De outro modo, por que assinar declarações solenes para os direitos humanos ou tratados contra a tortura?





Como viveu o fato da prisão de Pinochet?

Foi uma contínua montanha-russa de esperanças e desilusões. O que aconteceu em Londres, colocou em destaque que o Chile é até agora um País profundamente dividido. Onde os militares exercem ainda um forte poder, decisivo no plano dos equilíbrios políticos e institucionais. Por um outro ponto de vista fique ainda chocada. Pinochet, nestes anos, tinha construído a sua impunidade com uma atenção quase maníaca. Tinha até feito modificar a Constituição para que ninguém pudesse atingi-lo. E se não for julgado no Exterior, estou certa, Pinochet, aqui, no Chile, nunca será levado em frente de um tribunal. Nunca no Chile.





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Nos dez anos de atividades como enviado especial e correspondente no exterior para as maiorias dos maiores jornais italianos e para a RAI, Marco Lupis encontrou-se de perto com muitos protagonistas do nosso tempo.

Neste livro, que reúne os encontros mais relevantes da sua carreira, falam não apenas tantas ”celebridades” da nossa época – prêmios Nobel, chefes de Estado, estrelas do rock e top models – mas também, e principalmente, mulheres e homens corajosos que na luta pela injustiça e no exercício do poder usado para fins errados, dedicaram as suas vidas totalmente.

Cinquenta personagens que, com título variado, fizeram a história da segunda metade do século vinte (o ”Século Breve”), vistos de perto nas entrevistas exclusivas realizadas pelo repórter Marco Lupis nos decênios de atividades como enviado especial e correspondente da América Latina e do Extremo Oriente para os maiores Jornais e emissoras italianas: Il Corriere della Sera, Panorama, L'Espresso, La Repubblica e a RAI.

Uma viagem através dos testemunhos dos protagonistas da cultura, da política e da arte dos últimos decênios, da estrela do rock Peter Gabriel ao compositor Franco Battiato à top model Claudia Schiffer; do Subcomandante Marcos à líder birmanesa e prêmio Nobel Aung San Suu Kyi; da colombiana Ingrid Betancourt ao presidente argentino Menem, do Prêmio Nobel japonês Kenzaburo Oe ao chinês Gao Xingjian ao Nobel da Paz Ramosh Orta.

Um olhar de vez em quando dramático ou leve, sempre pontual e aprofundado, através das vozes dos protagonistas dos grandes temas dos nossos tempos: a guerra, a liberdade, a luta contra a injustiça, a busca da verdade na política, na literatura, na arte ou no cinema.

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