Книга - Revelando O Rei Feérico

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Revelando O Rei Feérico
Brenda Trim


Sejam bem-vindos ao Conservatório Bramble’s Edge Academy, a universidade na qual os Feéricos aprimoram seus poderes. Parece exatamente com o que seres poderosos precisam, não é? O problema é que eu sou um deles. Então, quando chegou a minha hora de ir para a faculdade, eu tentei escapar dos Coletadores. Eles acabaram incapacitados e eu com as asas detonadas no meio do grêmio estudantil, e com uma indesejada atração pela Maurelle. Essa fêmea sexy vem com mais bagagem do que eu posso carregar. Minha mãe incutiu em mim a necessidade de ficar na minha e de passar esses três anos sem ser notado. Infelizmente, os sorrisos de Maurelle me fazem esquecer do meu próprio nome. E, para piorar, o destino continua nos puxando um para o outro. E não para momentos sexys, conforme eu esperava. Descobrimos um complô para drogar os estudantes, assim como o grupo secreto de assassinos da Diretora. Que tipo de escola tem assassinos a sangue frio espalhado pelo campus, sem mencionar as conspirações de assassinato? Com um grupo de Feéricos letais à espreita, eu tive que ficar enfurnado no quarto e estudar como os outros estudantes. Mas, eu não sou como eles. E eu me recuso a permitir que o meu povo seja manipulado e que sua magia visceral seja roubada.





Brenda Trim

Revelando o Rei Feérico




REVELANDO O REI FEÉRICO


BRAMBLES EDGE ACADEMY YEAR 1




BRENDA TRIM




Translated by WÉLIDA CRISTINA DE SOUZA MUNIZ ASSUNÇÃO



Copyright © Fevereiro de 2020 por Brenda Trim


Editor: Chris Cain


Capa: Fiona Jayde






Este livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos são produto da imaginação da autora ou foram usados de forma fictícia e não foram construídos como fatos reais. Quaisquer semelhanças com pessoas vivas ou mortas, eventos reais, locais ou organizações é mera coincidência.

AVISO: A reprodução não-autorizada desta obra é ilegal. A violação dos direitos autorais é investigada pelo FBI e é punida com cinco anos em prisão federal e uma multa de US$250.000,00.

Todos os direitos reservados.

Com exceção de breves citações usadas em avaliações, esse livro não pode ser reproduzido ou utilizado no todo ou em partes por quaisquer meios existentes sem a prévia autorização por escrito da autora.




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DEDICATÓRIA


E assim do nada, sabe… é hora de começar algo novo e de confiar na magia dos novos começos. Este livro é para todos os meus fãs. Obrigada por continuarem nesta jornada comigo e por mergulharem neste novo mundo que eu criei.




CAPÍTULO UM







– Você precisa partir, Ryk. Não pode ficar aqui. Se você não for, eles te capturarão – a mãe, Galina, exigiu enquanto enfiava roupas em uma bolsa de lona que ela tinha pegado no fundo do armário dele.

– Do que a senhora está falando, mãe? Não posso te deixar. Não farei como o papai e te abandonar com os humanos – objetou Ryker.

A mãe parou o que estava fazendo e olhou para ele. Odiava ver as lágrimas brilhando nos olhos cor de lavanda. Ela trabalhou duro para sustentá-lo e protegê-lo da sujeirada de Bramble’s Edge.

A vida da maioria dos seus amigos parecia uma partida de queimada enquanto eles percorriam as ruas da Edge tentando arrumar trabalho, comida ou diversão. Não era fácil ser um feérico no reino de Mag Mell. Bem, o reino costumava ser dos feéricos, mas isso foi antes de os humanos o invadirem.

Depois da invasão, os feéricos da idade da sua mãe foram forçados a ir para a pequena Bramble’s Edge. Lá na Edge, todos os feéricos eram controlados e usados para aperfeiçoamento humano. Ryker não sabia como era a vida antes de toda a raça feérica ser mandada para a Edge, e não se importava muito com isso. Tudo o que queria agora era sobreviver e tomar conta da mãe.

– Não é seguro para você continuar aqui. Prometo que ficarei a salvo.

Ryker atravessou o quarto e puxou a mãe para um abraço. Sua altura a deixava no nível de seu peito. A baixa estatura só aumentou o desejo de ser o protetor dela. A mãe já tinha feito muito por ele. E agora ele finalmente poderia retribuir.

Queria envolvê-la com suas novas asas azuis e pretas e protegê-la de todos os maus-tratos. Por cima da cabeça dela, ele tinha a visão perfeita das asas laranja e amarelo. Parte dele estava aliviada por finalmente ter passado pela transição.

Por anos esteve imaginando quando seus poderes apareceriam. Aos vinte e quatro anos, ele estava na média do desenvolvimento. A maioria dos feéricos atingia esse ponto entre os vinte e um e os trinta anos, sendo que a maioria só passava pela transição aos vinte e tantos anos.

A mãe não era velha para uma feérica. Eles não envelheciam como os humanos, o que ele pensava que os deixava muito emputecidos. Por exemplo, o cabelo louro da mãe não entregava a idade como faria com um humano da idade dela. Tinha mais vida nela do que em qualquer humano de sessenta e três anos.

Sua raça vivia por centenas, senão milhares de anos, e tinha habilidades muito superiores às habilidades comuns dos humanos. É claro, havia alguns com habilidade de premonição, telepatia e outras que tinham a ver com a mente, mas não chegavam nem perto de serem tão poderosos quanto os feéricos.

Ryker acreditava que os feéricos não seriam subjugados para sempre. Precisava acreditar que a sua raça ia acabar retomando o poder. As asas se agitaram em suas costas lembrando-o do porquê de eles estarem tendo aquela conversa.

– Você tem que fugir e encontrar o canal subterrâneo – instruiu Galina. – Seus poderes estão se manifestando. – As palavras dela fizeram Ryker olhar para trás, para as brilhantes asas azuis. Parte dele estava animado por descobrir a estirpe dos seus poderes e das suas habilidades, mas o resto dele estava apavorado. Aquilo mudava tudo, e ele não estava pronto para mudanças.

Quando chegavam à sua força total, os feéricos desenvolviam poderes. Eles tinham a habilidade de controlar os elementos. Alguns eram capazes de criar e usar fogo enquanto outros faziam o mesmo com água, terra ou ar. E havia os poucos que podiam controlar todos os quatro, e também a alma.

– Sim, mas eu posso escondê-los. Não vou te deixar. Assim que aprender a controlar os poderes, pretendo trabalhar para que a senhora não tenha mais que limpar casas na zona neutra.

Uma batida na porta da frente ecoou pelo pequeno apartamento antes de a mãe responder. A mão dela foi para a boca e ela olhou pela janela.

– Saia pela janela enquanto me livro deles.

– Como sabia que eles viriam hoje? – imaginou Ryker. Fazia poucas horas que ele soube que seus poderes estavam se manifestando. O repentino influxo de poder fez suas terminações parecerem circuitos elétricos logo antes de a cor inundar suas asas pálidas. Cada feérico nascia com asas da cor pêssego com leves detalhes mais escuros e quando faziam a transição, elas mudavam de cor. Na maior parte das vezes ficavam pretas ou de alguma outra cor escura.

As luzes no banheiro explodiram quando ele tentou tomar banho e a água foi de quente à fria e então quente de novo em uma corrida vertiginosa. A mãe explicou o que estava acontecendo e que ela pensava que ele seria perito em mais de um elemento, e logo começou a arrumar as suas malas.

– Nada passa batido por eles. Você sabe muito bem, Ryk. Vá agora – ela o enxotou para a janela. – Encontre a peridun do outro lado do bordel. Ela te levará até o subterrâneo. Eu amo você.

Ryker jogou a bolsa sobre o ombro e seguiu para a janela antes que pudesse repensar a sua partida. Não desejava ir para o Conservatório Bramble’s Edge Academy. Todo mundo que passava por lá saía como escravo.

– Eu vou voltar – prometeu.

A voz da mãe soou alta na morada humilde enquanto ele erguia a vidraça. Passos ecoaram no segundo em que a janela rangeu em protesto. Ryker saltou pela janela imediatamente. O prédio ao lado estava a pouco mais de um metro de distância e ele quase escorregou no rebordo cheio de fuligem em que pousara.

– Pare. Não tente resistir – ordenou um macho, desde a janela aberta. Ryker ficou de pé na minúscula sacada e abriu as asas em resposta. O feérico xingou e se arrastou pela janela atrás dele. Ryker odiava ficar com raiva ou brigar com os de sua espécie.

Sempre que via a polícia patrulhando a Edge, imaginava quantos deles queriam estar fazendo aquilo. Seu instinto dizia que, agora, nada era o que parecia naquele mundo. Desconsiderou os rumores sobre o estado do resto do reino junto com os de como os humanos chegaram ao poder. Devia ter mais em jogo.

Ryker rosnou e agachou para alçar voo. O som de metal o fez parar antes de sair.

– Puta merda – xingou enquanto batia as asas e tentava voar para longe. Infelizmente, não foi rápido o bastante.

Seus pulsos caíram para a lateral do corpo no segundo em que as algemas mágicas entraram em contato com a pele. Caindo de joelhos, Ryker tentou se livrar das contenções. Precisava se libertar ou iria terminar no Conservatório.

Do canto do olho, notou vários vizinhos pairando dentro de suas casas observando o que se passava. Queria mostrar que os feéricos podiam lutar, mas estava impotente para fazer qualquer coisa, exceto suar enquanto a dor em seu torso aumentava.

A faixa mágica envolvia o seu peito e prendia suas mãos. Quanto mais lutava, mais dor irradiava do metal. Queimava-lhe a pele, fazendo-o imaginar se o aço tinha se fundindo com os seus ossos depois de a eletricidade vir comendo a sua pele.

– É inútil, Ryker. Desista. Será mais fácil se vier por vontade própria – disse o macho.

Erguendo os olhos verdes, Ryker notou que o macho estava mais perto e ficou chocado ao perceber que o conhecia. Não havia como confundir aqueles olhos azuis e o cabelo vermelho, ou as asas rubro-negras.

– Aidan? É você?

– Sim. Sou eu. Olha, você precisa ficar calmo. A mágica vai dissipar se você parar de lutar. O Conservatório não é tão ruim quanto ouvimos quando crianças. Você aprenderá a controlar seus poderes. Sem instruções, você não pode esperar canalizar e dominar suas habilidades.

Ryker quis zombar do amigo de infância. Parecia que ele recitava uma mensagem ensaiada. Era impossível esquecer as histórias que ouviram dos estudantes sendo mutilados pelas práticas de ensino de lá. E, às vezes, até pior.

O problema era que, sem acesso à tecnologia, não havia como saber a verdade, a não ser indo para a escola. A malandrice que o atraíra para Aidan agora estava completamente ausente. Aquilo devia significar alguma coisa, não é?

– Ryker – a mãe soluçou de dentro do banheiro. Outro macho estava com as mãos nos ombros dela, e se erguia acima da pequena forma com ombros fortes e um olhar feio. A ameaça era evidente. E, aquilo fez a náusea agitar as suas vísceras.

Ryker esquadrinhou a área rapidamente, e pesou as opções. A área de pedras em ruínas onde os feéricos viviam era urbana e um anátema para o que dava energia a sua espécie.

As velhas lendas diziam que os feéricos criaram Brable’s Edge como uma zona de comércio, mas a área de quinze quarteirões era rodeada por plantas e animais que alimentavam o seu poder. Ryker nunca tinha visto o reino, pois os feéricos não podiam ter acesso a equipamentos ou computadores. Tudo o que sabia era que os humanos viviam de forma muito diferente da deles.

Costumava acompanhar a mãe até as casas que ela limpava para humanos comuns. Eles tinham telas enormes que exibiam filmes e outros equipamentos que ele sequer imaginava o que eram. Diziam que os ricos tinham ainda mais coisas.

Havia apenas uma opção se quisesse escapar e encontrar uma forma de melhorar a posição do seu povo. Ficou de pé. Ryker empurrou o balcão e bateu as asas.

Felizmente, elas estavam abertas quando as algemas de contenção o prenderam ou não teria escolha a não ser a de ir com eles. No ar, ele teve uma visão melhor da Edge. A seção dos centauros era a um quarteirão e meio dali e os condomínios de apartamentos pequenos dos Barghests rodeavam os estábulos do outro lado.

Chamar a área em que os centauros moravam de estábulo era ser bonzinho. Era mais uma ruela cheia de feno e uma área maior para cozinhar. O único abrigo para protegê-los da chuva e da neve era um teto e duas paredes. O prédio dos Barghest servia como os fundos das casas, sendo que a frente era completamente aberta.

Ryker precisou se esforçar muito para voar acima dos prédios altos, mas quando conseguiu, teve um vislumbre do Conservatório e do mar adiante. Se pudesse chegar à água, então talvez fosse capaz de voar pela costa até chegar a uma área livre do controle humano.

Você enlouqueceu? Não há nada além de terra abandonada. Você não é um suicida, seu idiota. A consciência o repreendeu no segundo em que pensou naquilo. Não, não era suicida, mas os outros machos também tinham alçado voo, então não teve muito tempo para mudar de ideia.

Quando passou pela área dos Asrai, pensou que talvez conseguisse fugir. Tentou dar ouvidos ao instinto para decidir o que poderia ser capaz de fazer. Seria ótimo se conseguisse se fundir com as sombras. Não que tivesse muitas sombras naquela hora, disse a si mesmo. A invisibilidade seria perfeita para ajudá-lo a escapar.

– Ryker, você precisa desistir. As autoridades já foram notificadas – Aidan gritou atrás dele. Claro, um segundo depois uma sirene alta soou por toda Edge fazendo duendes e fadas buscar abrigo.

A faixa agora comprimia a sua cintura, fazendo com que fosse difícil respirar. A agonia fez pontos de luz dançarem em suas vistas. Ryker aumentou a velocidade e se esquivou do ataque que Aidan lançou em seu caminho.

A espiral caiu inútil no chão e provocou uma chuva de faíscas.

– Podemos ir ainda mais longe, Aidan. É só você me deixar ir embora.

– Eu não posso. Está claro que seus poderes estão descontrolados e tomando as rédeas do seu comportamento, Ryker. Pare e pense no que está fazendo.

A imensa estrutura de pedra se avultou à distância, distraindo Ryker. Estava longe demais para enxergar os detalhes, mas era óbvio que inúmeros estudantes estavam reunidos no gramado na frente do Conservatório observando o que se passava.

Não havia nada óbvio sobre a instituição para lhe dizer que estaria em perigo caso fosse para lá. Ao longo da vida, a mãe lhe contou inúmeras vezes o que aconteceu durante a guerra contra os humanos e a subsequente ruína.

O pior foi o assassinato do rei e da rainha feérica, o que deixou o povo vulnerável. Sem ninguém para tomar o manto do rei, eles ficaram indefesos. Era comum Ryker imaginar como a vida seria se eles tivessem um soberano. Os humanos não iriam dar meia-volta e fugir, mas precisava acreditar que um rei lhes daria mais uma barreira de defesa.

As asas estavam ficando pesadas com o esforço ininterrupto, mas ele se recusava a desistir àquela altura. Um barulho vindo de trás forçou Ryker a extrair cada grama de energia que ainda tinha e direcioná-la para as asas.

Ele se lançou para a frente e voou mais rápido com o esforço. Balançou no ar como um mosquito bêbado. De repente, facas fatiaram suas asas, roubando toda a sua atenção. Virando a cabeça, notou que não tinha sofrido ferimentos visíveis, mesmo que parecesse ser o caso.

Foi dito a cada jovem feérico que não deveriam voar para longe, porque havia uma barreira ao redor da Edge. Até aquele momento, a informação não passava de uma historinha para os pequenos. À medida que suas asas ficavam dormentes e paravam de bater, Ryker percebeu a dolorosa verdade sobre os poderes controlarem a vida deles.

Aidan e o outro feérico voavam em círculos e observaram enquanto Ryker caía no chão em um emaranhado de asas. Com os braços presos na lateral do corpo, não havia nada para amortecer a queda.

Quando bateu no chão duro, a vista ficou preta por vários segundos. Uma asa ficou debaixo dele enquanto as costelas batiam com força suficiente para estilhaçar as pedras.

O estalo foi logo seguido pela agonia. Cada centímetro do corpo doía, e tinha certeza absoluta de que nunca mais seria capaz de voltar a usar a asa esquerda. Felizmente, a escuridão o emborcou e o engoliu.

Pouco antes de perder a consciência, ouviu os policiais reclamando do quanto os feéricos em transição andavam difíceis aqueles tempos.

Porque estamos cansados pra caralho de ser escravos dos humanos. Pensou.




CAPÍTULO DOIS







O estômago estava revolto, Maurelle se demorou no banheiro para se assegurar de que o resto do que comeu no café da manhã decidisse voltar. Abriu a janela e desfrutou da brisa fresca de outono que soprou no pequeno cômodo. Aquilo recarregou suas baterias de uma forma que não entendeu muito bem, mas que amou mesmo assim.

Apoiando as mãos na pia, ela se encolheu quando viu as olheiras sob os olhos cinzentos e a confusão de nós oleosos que era o seu cabelo cor de rosa. Não parecia nada com a feérica vibrante que normalmente era. Até mesmo as asas rosa e turquesa estavam desbotadas.

Desde que seus poderes se manifestaram um ano atrás, ela foi relegada à casa porque não havia como não reparar na cor berrante das suas asas. Não que o desbotamento momentâneo significasse que ela poderia se aventurar fora do pequeno apartamento da família. Era óbvio que estava em transição, e era seu dever reportar para o Conservatório Bramble’s Edge Academy.

– Já está saindo daí? – chamou a irmã, Nyx, do outro lado, enquanto batia na porta. – Preciso arrumar o cabelo para ir almoçar com o Alek.

Maurelle revirou os olhos para a pressa da irmã e desejou não ter revirado quando o ato enviou uma dor lancinante à sua nuca. Tudo para as irmãs mais novas tinha que ser para ontem, mas especialmente para Nyx, que era quatro anos mais nova que Maurelle. Ela se lembrou de como era sair para almoçar com um macho bonitinho aos dezoito anos.

– Acabei – coaxou Maurelle, ao abrir a porta.

– Eca. Sai para lá. Parece que a peridun da rua dez jogou um feitiço em você. Não quero pegar o que quer que você tenha pegado – informou Nyx, enquanto ela se afastava dela, meio que dançando.

– Valeu, Nyx. Amo você também – murmurou Maurelle, enquanto percorria o curto corredor. Pela centésima vez no último ano, Maurelle estava grata pelo pai ter um trabalho tão bom na Edge.

Na teoria, ele trabalhava em Furness, a área nos limites das favelas da Edge onde os humanos de classe-média viviam. Até mesmo as pessoas mais pobres da Furness levavam uma vida melhor do que qualquer feérico. Eram ignorantes aos sofrimentos dos feéricos. Ajudava o fato de a Edge estar separada dos humanos por arbustos de amoreiras espinhentas tão espessos que grande parte dos feéricos não podia se esgueirar por ali.

Seria bacana se o talento do pai lhes garantisse um imóvel em Furness, ou até mesmo em Dornwich. Infelizmente, não havia a menor possibilidade de o pai conseguir uma loja na área da elite humana em Dornwich, porque mesmo que os opulentos quisessem os relógios de pulso e de parede do pai, eles não o queriam perto deles, sob hipótese alguma.

A renda do pai permitia que vivessem perto de Furness, o que lhe dava uma ótima vista da seção dos humanos além das amoreiras. Partia-lhe o coração saber que os humanos viviam naquelas casas tão boas. A maior parte deles morava sozinho nas casas enquanto os feéricos ficavam entulhados nos prédios lotados que não podiam consertar ou conservar.

Embora os feéricos usassem mágica para fazer o que podiam na Edge, os humanos gostavam do seu setor imaculadamente limpo. Já os feéricos preferiam as coisas um pouco mais selvagens. As pedras lisas das ruas dos humanos eram muito certinhas e pouco atrativas para Maurelle.

Eles podiam não ter muito, mas cada feérico adicionou um pouco da própria magia para delinear as pedras das ruas com grama e flores, dando uma aparência mais bonita ao chão. Os anciãos, como a sua mãe, que eram feéricos da terra, usavam os talentos para conjurar videiras que ajudavam a segurar as paredes dos prédios em piores condições. Vez ou outra, os humanos matavam a grama e as flores e derrubavam as videiras. Maurelle chegou à conclusão de que eles não queriam que os feéricos ficassem confortáveis demais.

Parou à porta aberta do quarto, pensou em se deitar, mas Erlina estava ouvindo música na cama, então Maurelle foi para a sala. A mãe olhou para cima e sorriu para ela.

– Oi, docinho. Como está se sentido?

– Não muito bem – respondeu Maurelle. – Com o meu estômago e minha cabeça, já estou pronta para me deitar toda encolhida.

– Fiz chá de gengibre para você. Posso ir lá embaixo e pegar um pouco de matricária para ajudar com a dor de cabeça – ofereceu a mãe. Não que a botica ficasse muito longe, mas Maurelle odiava ser um fardo maior do que já era.

Sacudindo a cabeça, Maurelle foi até o sofá.

– Está tudo bem, mãe. O chá vai cair muito bem.

Não podia sair de casa agora que estava em transição. Se saísse, acabaria sendo arrastada para o Conservatório. Os pais foram para lá quando os poderes se manifestaram, mas as coisas tinham mudado quando os humanos tomaram o poder.

A mãe e o pai disseram que os feéricos não eram mais os mesmos depois que saíam do Conservatório. Não conseguiam explicar bem, mas não queriam que ela servisse aos humanos e reprimisse os da sua espécie.

Maurelle gemeu enquanto se sentava no sofá. A mãe chegou um segundo depois trazendo o chá.

– Obrigada, mãe – agradeceu e bebericou a mistura quente. Era mais fácil agora ignorar as impressões que teve com a xícara.

Um ano atrás ela não podia tocar nada sem ser bombardeada com visões do passado. Até então, a única habilidade que se manifestou para Maurelle foi a psicometria, e era grata por isso. Não podia imaginar como seria lidar com mais de uma coisa por vez.

E por falar em esquisitice, lembrou… Momentos depois de as asas criarem cor e a eletricidade percorrer o seu sistema, ela tinha ido até a geladeira para pegar uma bebida e teve uma visão do pai dando uns amassos na mãe. Nenhum filho quer ver o pai tendo intimidade com a mãe.

Uma batida na porta interrompeu os devaneios de Maurelle. Chegando à conclusão de que fosse Alek procurando Nyx, ela continuou bebendo o chá. A cabeça virou de repente quando ouviu vozes masculinas raivosas.

– Sua filha virá conosco! – um macho informou à mãe dela.

O pior pesadelo de Maurelle se desdobrava diante de seus olhos. Pela primeira vez na vida, desejou que os feéricos pudessem ter acesso a equipamentos tecnológicos de comunicação para que pudesse ligar para o pai. O único pensamento que Maurelle teve enquanto olhava para o feérico de cabelos vermelhos foi que ele estava lá para levá-la e que ela deveria fugir.

Não tinha ideia de para onde poderia ir, isso se conseguisse escapar. Todo feérico tinha ouvido os rumores sobre o subterrâneo, mas ela não sabia onde era ou para onde aquilo a levaria. Não havia nada fora de Bramble’s Edge e dos assentamentos humanos.

– Vocês não podem levar a minha filha! Ela está doente e não pode ir para o Conservatório agora – a mãe tentou argumentar com o policial.

Nyx e Erlina vieram correndo pelo corredor e pararam de repente quando viram os policiais. Os olhos verde-claros idênticos encontraram os de Maurelle, mostrando o quanto elas estavam aterrorizadas.

– Voltem – disse a elas, sem fazer som, e fez sinal para elas saírem dali.

– A doença não a dispensa do Conservatório. Ela precisa vir conosco agora! – ordenou o mesmo policial.

Jogando a xícara de chá no macho, Maurelle saiu correndo pelo corredor. Nyx e Erlina saíram da frente quando ela passou. Prosseguiu até o quarto dos pais e pegou um par de sapatos da mãe enquanto passava.

Um grito a fez virar a cabeça a tempo de ver as irmãs paradas no meio do corredor. Nyx tinha aperfeiçoado o olhar esnobe e arrogante enquanto cruzava os braços sobre o peito e olhava feio.

– Deixe minha irmã em paz – gritou ela.

Maurelle quase riu ao ver Nyx ajustar as mãos para fazer com que os seios ficassem mais juntos e empinados. Uma técnica de distração que raramente falhava. Em especial com feéricos machos. A espécie era muito lasciva.

Não foi algo que os pais já tivessem lhe dito, mas não precisavam porque o desejo furioso era o bastante para dizer a Maurelle o quanto o sexo seria importante para ela. Nyx estava naquele estágio, e por isso que estava afoita para ir almoçar com Alek.

Ter o escape do sexo abrandava os feéricos e os ajudava a ficar estáveis. Maurelle tinha certeza de que sua falta de parceiros era uma das razões para estar doente. Não havia escape para equilibrar os seus poderes. Nada para ajudar a liberar a energia.

O queixo caiu quando o policial feérico não prestou a mínima atenção em Nyx. Assim que o macho tirou a irmã da frente, Maurelle se afastou da janela. Jogou um dos sapatos e ele atingiu o macho na cabeça. Erlina começou a chorar e se pressionou na parede de frente para a que Nyx estava.

A cabeça de Maurelle latejou por causa de toda a agitação, fazendo seu estômago embrulhar. Com a bile na garganta, ela correu na direção do macho. Podia ouvir a mãe discutindo com o outro na sala, mas tinha que se concentrar no que estava no quarto com ela.

O olhar de fúria no rosto dele a fez dar um passo para o lado, colocando a cama king size entre eles.

– Você não escapará de nós. É melhor desistir de uma vez.

Balançando a cabeça, buscou uma forma de escapar daquela confusão. Se conseguisse chegar à janela, poderia voar. Não tinha certeza do quão longe poderia ir com a cabeça latejando e o estômago revirado, mas não ia se entregar.

Quando o macho saltou para as suas pernas, ela pulou e gritou quando o desconforto aumentou. Chutou o Feérico por instinto. Devia ser uma cena engraçada, pensou enquanto os braços se agitavam no ar e os cabelos emaranhados giravam ao redor do rosto.

O pé foi de encontro à lateral da cabeça dele e estalou. Seguindo ao ataque incompleto, ela agarrou o cabelo dele. O braço do macho bateu no seu peito e a arremessou pelo quarto.

As costelas bateram na penteadeira com mais força do que Maurelle pensava ser possível. A mão varreu as bugigangas de vidro da mãe e as mandou para o chão. E logo veio o barulho de vidro quebrado. Ela se encolheu por causa do som e da forma como eles se partiram quando foram de encontro ao piso de madeira.

– Maurelle – gritou Nyx.

Maurelle levantou a cabeça e viu o feérico pulando por cima da cama e pousando bem ao lado dela. Ele levou a mão para trás e puxou um gancho de prata. A eletricidade que faiscava do objeto, fez a sua boca ficar seca.

A resolução se renovou quando começou a mover e impulsionar os cotovelos para todos os lados, esperando quebrar o nariz dele. Um dos braços do policial a envolveu pela cintura, pressionando seu estômago com tanta força que ela temeu que fosse acabar vomitando.

Com a mão livre, ele levou a prata até a boca e murmurou uma palavra que a fez tremer. Antes que soubesse o que estava acontecendo, ele a atingiu com aquilo nas costelas. O metal mudou de forma e envolveu o seu torso.

Pelo xingamento, ele esperava que aquilo a prendesse em um lugar diferente. As asas ficaram livres, assim como as mãos. Ela agarrou o metal com a intenção de puxá-lo de si.

No segundo em que a mão tocou o objeto, o quarto dos pais e o feérico em cima dela desapareceram. Como sempre acontecia quando usava os poderes, não pôde se concentrar em nada por vários segundos.

A única coisa que percebeu antes de a visão clarear foi a impressão geral da memória a qual estava tendo acesso. O que quer que a esperasse do outro lado, tinha causado muito medo, e determinação.

Supôs que não deveria ficar surpresa, já que a arma era usada por um coletador. O coletador podia ser feérico, mas agora era óbvio para Maurelle que eles não tinham um pingo de empatia ou até mesmo de identidade individual.

Foi estranho o bastante para fazê-la imaginar o que acontecia no conservatório para apagar completamente a personalidade de alguém. Pela forma que os pais descreveram sua época na universidade, ela não tinha dúvida de que agora o estabelecimento era algo bem diferente.

Quando a neblina deixou a sua mente, ela olhou para o macho feérico mais maravilhoso que já viu na vida. Será que foi a seca ou o desejo sexual desenfreado que a fez achar o macho da sua visão tão bonito?

Não, decidiu enquanto tinha um vislumbre dos traços bem marcados e dos olhos verdes profundos e deslumbrantes. O cabelo negro estava bagunçado em volta da cabeça e um pouco mais longo sobre a testa.

O olhar de determinação ecoava o que ela sentiu no momento em que os policiais apareceram na sua casa. O coração começou a bater com força quando ele rosnou e se elevou no ar um segundo depois. Ela queria gritar um aviso para ele.

Com as mãos presas na lateral do corpo, não havia como ele ir muito longe. O mesmo equipamento brilhava ao redor da cintura dele, fazendo-a perceber que ele tinha sido usado naquele macho pela última vez.

Quanto mais ele se afastava do feérico que a atacou, mais a garganta dela se apertava. Se ele tivesse conseguido escapar, aquela coisa não estaria nela naquele momento. O voo falhou quando ele olhou para trás, para o macho que agora o perseguia pelo céu.

Quando o oceano apareceu, Maurelle prendeu o fôlego. O Conservatório era exatamente como os pais o descreveram. Os enormes prédios de pedra rodeados pela vegetação exuberante com amoreiras espinhentas de um lado e o oceano ao fundo.

A enorme quantidade de fagulhas a distraiu da vista. O olhar foi desviado no minuto em que o macho atraente bateu em uma barreira invisível no céu. Ninguém jamais contou a Maurelle o que aconteceria exatamente caso ela resolvesse voar para longe, só disseram para não tentar, se não ela se arrependeria.

Observou a asa dele acender como se tivesse sido atingida por um raio logo antes de ele cair com força do chão. Aquilo fez a náusea aumentar. Observou com os olhos arregalados e o coração acelerado enquanto ele atingia o solo.

Podia jurar que o impacto estremeceu a terra onde ele pousou. A asa estava dobrada em suas costas e a lateral do corpo sangrava. A cena era tão pavorosa que ela duvidava que o macho fosse se recuperar.

Relutante em ficar tão vulnerável com os dois policiais na sua casa, Maurelle forçou a mente a abandonar a visão e a voltar para casa. A cabeça estava sendo rachada por uma picareta e a bile preencheu as suas narinas.

Foi quase impossível abrir os olhos, já que eles pareciam estar colados. Quando conseguiu, o macho de cabelo vermelho a arrastava do chão. Uma mão segurava o dispositivo e a outra o seu braço.

As irmãs se abraçavam e choravam. Maurelle tropeçou junto com o policial que a segurava. A desorientação causada pela visão durou mais que o normal. Não tinha ideia se era porque tinha sido forçada a abandoná-la ou se era porque estava doente. Podia ouvir a mãe implorar para que eles a deixassem, mas o outro macho se recusava a ouvir.

– Vai cooperar agora?

Maurelle tentou escapar das mãos do policial que apertava o seu braço com força, mas viu a ação interrompida quando a mão se recusou a levantar. Um rápido olhar para baixo lhe mostrou que, de alguma forma, os pulsos tinham sido incorporados pelas algemas.

– Não. Você não vai levar a minha filha – soluçou a mãe, enquanto Maurelle era arrastada pela casa. A mãe atacou o macho que a segurava e, mais uma vez, o tempo passou mais devagar para Maurelle.

No segundo em que a mãe tentou alcançá-la, o outro macho ergueu um longo bastão preto liso e atacou. O objeto entrou em contato com a cabeça da mãe emitindo um ruído alto. As irmãs gritaram com ela enquanto a cabeça da mãe caía para o lado e o sangue espirrava na parede.

– Que porra você fez? – gritou o policial que a segurava.

Aquilo só podia ser um pesadelo, Maurelle pensou enquanto observava a mãe caída no chão. Parte do crânio dela tinha sumido, e os olhos castanhos e inexpressivos olhavam para o nada.

– Mãe – gritou enquanto o estômago revirava com o que via. O chá que bebeu mais cedo subiu correndo por sua garganta e logo saiu pela boca e pelo nariz. Maurelle tentou ver se o peito da mãe subia e descia, mas foi arrastada pela porta antes de poder tomar uma decisão.

– Procurem o papai – gritou para as irmãs, enquanto era arrastada pelas escadas. O brilho forte do sol zombava do pesar que irrompia por seu peito enquanto o feérico a jogava em uma caçamba. Com ela de bruços, o macho pressionou um disco atrás das correntes, e elas caíram com um estalo. Precisava de uma daquelas chaves para algemas.

Rápida, ela lutou para ficar de pé e tentou passar por ele correndo, para que pudesse procurar o pai. Enquanto a porta batia às suas costas, Maurelle olhou para trás e viu as irmãs abraçadas na portaria do complexo de apartamentos que eles chamavam de lar. Aquilo não podia estar acontecendo, disse a si mesma.

Enquanto o coração se partia em um milhão de pedaços, ela chutou as barras que a mantinham afastada das irmãs. Não estaria lá para confortar o pai ou para ajudar a acalmar Nyx e Erlina.

Os dedos rodearam as barras e ela gritou para quem quisesse ouvir que ela estava sendo levada à força. Pela primeira vez desde que seus poderes se manifestaram, ela não foi arrastada para uma visão.

A vida real se agarrava com força à sua alma estilhaçada e ela se recusava a soltar. Eles mataram sua mãe de forma cruel porque ela não queria que Maurelle fosse para aquele conservatório maldito. Como poderia seguir em frente quando sua mãe gentil e amorosa não estava mais lá? Nem sequer seria capaz de se despedir dela e de ajudar a enviar o espírito dela para o além.

Não deveria ficar surpresa, não depois da tortura que testemunhou na sua última visão. Qualquer um que permitia uma coisa daquelas acontecer não dava a mínima para quem eles machucavam em sua sede por poder e dominação.




CAPÍTULO TRÊS







A dor agonizante disparou pelo ombro de Ryker enquanto ele repassava as imagens brilhando na mesa a sua frente. Não podia erguer o braço machucado sem sentir uma dor significativa. Depois de recuperar a consciência na enfermaria do conservatório, a vida tinha sido melhor do que esperara.

Foi meio que um alívio ver que, desde que tomaram o poder, os humanos não tinham dado início a um esquema maligno ali no conservatório. Para dizer a verdade, ficou surpreso pelo tanto que o lugar lhe pareceu normal. As crianças feéricas frequentavam a escola por muitos anos para aprenderem a ler e escrever e essas coisas.

Historicamente falando, o Conservatório de Bramble’s Edge servia para ajudar os feéricos a controlar os poderes à medida que se tornavam jovens adultos. O foco ali não era a educação formal, mas o controle das habilidades. Talvez, fosse apenas isso que acontecia lá.

Nada suspeito ou nefasto ocorreu desde a sua chegada e isso fez Ryker questionar toda a sua infância. Especificamente, como a mãe não parava de dizer o quanto os humanos eram criaturas malignas que mantinham o controle sobre o reino deles.

Será possível que um feérico que não se simpatizava com humanos administrasse a escola? Tinha que pensar que era bem provável, dada a forma como tinha sido tratado. A curandeira passou uns dois dias trabalhando no reparo da sua asa, centímetro por centímetro, para que ele pudesse voltar a voar em algum momento.

Alguém que o quisesse sob controle, que ele agisse como um escravo, não tomaria tanto cuidado ao tratar do seu ferimento. Imaginou a mãe dizendo que ele não deveria confiar em ninguém. Que precisava ficar na dele e permanecer fora dos holofotes.

Era como planejava agir no conservatório. Teria que cumprir seu tempo ali sem chamar atenção para si mesmo. Não seria difícil fazer a prova que o ajudaria a descobrir quais eram as suas habilidades, assim como onde sua afinidade estava enraizada. Um dos companheiros de dormitório era um feérico de terra e o outro, da água. E o terceiro mostrou afinidade com dois elementos.

Aquilo nunca tinha acontecido, até onde Ryker sabia. Muitos poucos eram alinhados com mais de um elemento, e quando acontecia, normalmente os elementos eram complementares. Parte dele queria ter mais de um, e ele não tinha ideia do porquê.

Não era como se soubesse o que significaria para ele. Pelo que Sol lhe dissera, havia aulas e treinamentos extras. Ryker gostava de ter tempo para jogar bola no arco, e tempo era algo que Sol não tinha naquele momento.

Depois de fazer suas escolhas, Ryker se virou e examinou o refeitório. Nunca tinha visto um lugar como o Bramble’s Edge Academy. Os dormitórios eram tão grandes quanto o apartamento no qual morava com a mãe, e o refeitório era enorme com inúmeras mesas e bancos preenchendo o local. Os feéricos não tinham acesso à tecnologia, então ficou surpreso pelo pedido de comida ser feito a partir de imagens sobre a mesa, e o botão ainda dava uma tremidinha quando apertado.

Os colegas de dormitório explicaram que o que escolhiam era trazido logo depois que pressionavam o botão com o símbolo da escola. Ryker sempre amou o símbolo do conservatório. Algo nas letras ‘BE’ rodeadas pelos espinhos das amoreiras se conectava com a sua alma. Havia várias coisas na Edge e muitas outras que mexiam com as suas emoções.

Depois de a mãe o encorajar a fugir antes de ele ser coletado, Ryker esperou odiar tudo ali no conservatório, mas não odiou. Na verdade, gostava de muita coisa. As paredes dos prédios mais antigos foram erguidas com magia feérica, e pareciam recebê-lo com alegria. Sim, percebeu que era meio louco pensar daquele jeito, mas era como se sentia.

As salas e as áreas de treino eram tão diferentes das da sua antiga escola. Havia muito lugar para treinar e aprender o que não aprendera antes. Quando criança, foi para uma escolinha que atendia somente os prédios da rua onde morava. As salas da escola primária ficavam no segundo andar de uma padaria e eles almoçavam na própria sala de aula.

A comida no conservatório também estava à altura da da sua mãe. Não que ela fosse a melhor cozinheira da Edge, pensou, mas chegava perto. Havia muitas opções e sempre tinha algum tipo de ensopado, o que caía muito bem no clima mais frio.

O clima em Mag Mell quase nunca era quente, e chovia com frequência, então Ryker preferia as refeições mais robustas. Na Edge era difícil encontrar frutas e legumes frescos, mas o conservatório não parecia sofrer do mesmo problema.

Da primeira vez que pôde sair da enfermaria, Ryker não tinha certeza do que esperar das refeições naquele lugar. Não tinha imaginado as dezenas de opções que teria, já que recebera refeições insossas enquanto estava na área hospitalar.

Pela forma com que a mãe descrevia os horrores do conservatório, pensou que seriam alimentados com coisas desconhecidas, e que não teriam escolha. Muito naquele ambiente não se encaixava com suas imagens preconcebidas do lugar.

Plantas de verdade preenchiam os cantos do salão, e janelas do chão ao teto dava a eles uma vista do oceano à distância. A vista em si era muito serena.

Como um lugar tão mágico seria o lugar errado para ele?

Ryker olhou para cima quando Sol e Brokk se aproximaram da mesa. O terceiro colega de dormitório, Daine, já estava ali com ele.

– Já recebeu notícias sobre a sua avaliação? – perguntou Sol.

Ryker sacudiu a cabeça e agradeceu à fadinha que trouxe a comida.

– Não avisaram nada ainda. Talvez estejam me dando mais tempo para me recuperar.

Brokk lançou um olhar para Sol, um que Ryker não conseguiu entender.

– Como está a sua asa?

Ryker tensionou o músculo que a controlava e ela saltou sobre o seu ombro. Não foi capaz de reprimir o tremor causado pelo movimento.

– Ainda está curando. É melhor agradecer ao curandeiro.

– Ainda não consigo acreditar que você saiu voando com grilhões nas mãos – murmurou Sol, balançando a cabeça com tristeza. – Por que faria uma coisa assim? Odeia a escola a esse ponto?

A pele de Ryker formigou. Aquele era primeiro sinal de que algo não estava muito certo. Era uma pergunta bastante inocente, mas cada feérico da Edge sabia sobre o Conservatório e ninguém queria ir para lá.

A crença popular era de que eles faziam lavagem cerebral e os moldava para servir de escravos para os humanos. Lembrou-se dos amigos contando histórias que tinham ouvido sobre os horrores que se passavam por trás dos portões de ferro que isolavam a escola.

Ryker tinha certeza de que a conversa de a magia dos feéricos ser sugada de seus corpos e engarrafadas para consumo humano era falsa. Tinha certeza de que os prédios seriam desprovidos de vida. E de que os indivíduos naquele refeitório não estariam conversando, mas sentados com os rostos inexpressivos.

Se o que quer que fizesse de Ryker um feérico tivesse sido removido de seu corpo, ele não imaginava que teria mais qualquer força. A pergunta que girava por sua cabeça era até que ponto poderia confiar naqueles machos? Fazia muito pouco tempo que estava ali para que os conhecesse bem.

Não havia como prever o que aconteceria se confessasse a verdade para Sol. Ryker não arriscaria a segurança da mãe, de jeito nenhum. Felizmente, ela manteve a boca fechada depois que os guardas chegaram, então ela não teve envolvimento na sua tentativa de fuga.

– Tira a mão, caralho – a voz de uma fêmea ecoou pelo refeitório, fazendo todo mundo olhar para as portas duplas abertas do outro lado do recinto.

Ryker olhou boquiaberto para a figura ágil se remexendo nos braços de um macho. Não estava lá há tempo o bastante para saber o nome do macho ou o papel que ele tinha na escola. A fêmea tinha cabelos rosas e emaranhados e se contorcia nos braços dele, tentando se libertar.

Foi tudo o que pôde ver de primeira. Quando ela virou o rosto, Ryker notou que as bochechas dela estavam coradas, mas não era de vergonha. Ela estava puta. Olhar para ela era como olhar para uma tempestade no oceano. O fogo desafiador que queimava naqueles olhos cinzentos chegava a brilhar. Mas detectou algo sob aquela fúria.

Não pôde deixar de imaginar qual seria a história dela. Ao contrário de qualquer outro estudante, ela chegou refeitório vestindo calças largas de algodão e uma camiseta amarrotada. Inclinando a cabeça, Ryker notou que ela também estava descalça. Aquela era nova.

Em uma fração de segundo, a fêmea chutou o macho à direita. Ryker se encolheu e segurou a virilha quando o pé dela foi direto para o meio das pernas do guarda. Todo macho na sala se segurou sentindo a dor dele. Bastava um único golpe naquela área para saber a dor que causava.

Ela estava em movimento no instante seguinte, os dedos em riste percorrendo o rosto do outro homem.

– Maurelle – ladrou uma fêmea mais velha.

Quando a fêmea furiosa parou e olhou para cima, ele percebeu que cabelo-rosa se chamava Maurelle. Não pôde deixar de notar que o peito dela estava arfante, e as lágrimas se empoçavam nos olhos enquanto ela parava e olhava feio para a feérica mais velha.

– Quem é aquela? – sussurrou Ryker, não querendo chamar atenção para si, mas ansioso para saber por que a fêmea tinha parado de lutar. Havia uma leve pungência no ar que fez Ryker trincar os dentes.

– Aquela é a diretora Gullvieg. Ela é a manipuladora de mente mais poderosa de Bramble’s Edge – respondeu Sol.

– Vai me matar também? – cuspiu Maurelle, e jogou os ombros para trás para tirar a mão que pousou ali.

A pergunta fez a tensão preencher o recinto. Ryker continuou esperando alguém impedir Maurelle de desafiar a autoridade de Gullvieg, mas nada aconteceu. A diretora estreitou os olhos e se aproximou da fêmea irritada.

– Estive esperando sua chegada para poder fazer meu discurso de boas-vindas. Todo o conservatório está esperando você pegar a sua comida e se acomodar – informou-a a diretora. O tom ríspido com que ela falou o nome de Maurelle há apenas um momento tinha desaparecido. Por tudo o que Ryker sabia, ela poderia muito bem estar falando sobre o tempo. Não havia qualquer sinal de que Maurelle a tivesse aborrecido.

Os dois machos parados um de cada lado de Maurelle fizeram-na enrijecer. Antes que Ryker percebesse, ele tinha ficado de pé. A mão de Brokk em seu antebraço o impediu de ir socorrer a fêmea.

Depois de praticamente fuzilar os machos com os olhos, Maurelle ergueu o queixo e entrou no refeitório. O olhar dela se prendeu no de Ryker e ele teve que se esforçar para não demonstrar qualquer reação.

Ela era linda, pensou. O rosto fino estava em total desacordo com o corpo voluptuoso. Ela era alta, mas não tinha o corpo reto que era típico dos feéricos. A camiseta estava esticada sobre os seios maiores que a média, e os quadris balançavam a cada passo que ela dava.

Sendo feérico, Ryker não era estranho ao sexo, mas Maurelle fez sua mente ir direto para o quarto. Imaginou o quanto aqueles lábios eram macios. No momento, eles estavam franzidos e nenhum pouco convidativos, mas aquilo não reduzia o apelo dela.

Ryker caiu no banco e observou enquanto ela cerrava os punhos e olhava feio para a diretora.

A fêmea ficou de pé por vários segundos até seguir para a mesa. O tempo todo com os olhos fixos em Ryker. As asas dela batiam inquietas nas costas. O brilho turquesa e rosa combinava com o que viu da personalidade dela. Ela era uma das fêmeas mais fortes que já vira.

O fato de ela não ter rolado e ficado parada feito uma boneca de trapos o atraiu ainda mais que a aparência dela. O fogo o atraiu para a feérica antes que pudesse vê-la melhor. Depois de pegar um pouco de pão e outras coisas, ela olhou ao redor da sala.

Quando a fêmea veio em sua direção, o coração começou a bater com força e ele quis se levantar para ir até ela. Seu estômago se contorceu e a testa começou a suar. Ele estava tendo dificuldade para ficar sentado ali sem fazer nada. Não era como se ela estivesse vindo para a mesa dele, havia ao menos mais outras dez mesas ao seu redor. A última coisa de que precisava era uma amizade com essa fêmea problemática. Já tinha irritado os poderosos do conservatório quando tentou escapar da coleta.

Forçando o olhar de volta para a comida, Ryker pegou o garfo e começou a comer. Era difícil não olhar para cima e ver onde ela tinha decidido se sentar. Quando uma mão delicada surgiu ao lado dele, a cabeça se ergueu feito um foguete.

Maurelle estava puxando a cadeira ao seu lado. Quando aquele olhar encontrou o dele, não pôde deixar de notar as olheiras dela. O que o fez pensar que ela tinha resistido tanto quanto ele.

– Oi – cumprimentou Brokk, acenando de seu lugar do outro lado da mesa. Maurelle ergueu os olhos e acenou para ele com a cabeça. – Eu sou o Brokk. Ouvi Gullvieg te chamar de Maurelle. É isso mesmo?

– É – respondeu ela, então virou a cabeça para Ryker. – Você é novo, não é? Como está a sua asa?

O queixo caiu por um segundo então ele se recuperou do choque ao enfiar um pouco de comida na boca. Fez que sim enquanto mastigava e engolia.

– Eu sou o Ryker. E, a asa está melhorando. Os curandeiros fizeram um ótimo trabalho ao consertá-la. – Ele voltou a flexionar o músculo da asa, fazendo-a saltar sobre o ombro antes de baixá-la novamente. Não queria ser um idiota, então falou com ela, mas também não queria levar as coisas longe demais.

Já tinha chamado atenção o suficiente com a sua tentativa de fuga e não queria adicionar essa fêmea à sua lista de amigos próximos e acabar atraindo para si o intenso escrutínio de Gullvieg. Esperava ter dispersado quaisquer preocupações que a perversa diretora tivesse sobre ele.

Recostando-se na cadeira, ela ergueu a mão e a esticou como se fosse tocar a sua asa. Ryker ficou congelado por instinto. Provavelmente entendendo a razão por trás do movimento, ela abaixou a mão. Era melhor ficarem afastados um do outro, mesmo apesar da atração abrasadora que sentia por ela.

– Ao menos você ainda está vivo. Temi que também estivesse morto – disse ela, enquanto brincava com a comida no prato, franzindo o cenho.

A diretora ficou de pé e ergueu as mãos.

– Gostaria de dar as boas-vindas para todos em mais um ano aqui no Conservatório Bramble’s Edge Academy. Tenho orgulho por estar no comando desta instituição nos últimos trezentos anos. Vocês não receberão instrução melhor para poder controlar suas habilidades. Temos vários novos estudantes que serão avaliados depois de amanhã.

Ryker ouviu Gullvieg dizer onde as salas de aula estavam assim como sobre os campos de treino. Ele desligou o discurso e se concentrou em Maurelle. Como aquela fêmea tinha sabido da sua tentativa de fuga? Ela o vira tentar voar enquanto estava acorrentado? Os colegas pediram licença assim que o discurso de boas-vindas chegou ao fim, pois eles não precisavam ouvir o que estava sendo dito.

Puxando o assento para mais perto de Maurelle, ele se inclinou para ela e perguntou:

– Como soube o que aconteceu comigo?

Os olhos cinzentos estavam vermelhos nas bordas quando voltaram a focar nele, e o suor despontava na testa dela.

– Ah. O coletador que me capturou usou uma daquelas faixas mágicas…

– Grilhões – interrompeu-a, falando o nome das algemas.

Ela acenou em resposta.

– De qualquer forma, eu te vi tentando fugir e cair depois de bater na barreira no segundo em que toquei naquela coisa.

– Você é psicométrica – disse ele, enquanto pensava no que ela dizia. Não ficou surpreso por ela ter resistido a ser levada. Apesar da decisão de manter as coisas superficiais, temeu que ela não estivesse muito bem. – Você foi ferida quando eles te capturaram?

Os olhos da fêmea voltaram a se encher de lágrimas e ela abaixou a cabeça. A forma como os ombros se curvaram, e como ela perdeu cada grama do espírito combativo de antes, partiu o seu coração. Teve que xingar muito e se passar muitos sermões para ficar parado ali, tentando não confortá-la.

– Não. Eu não fui ferida, mas a minha mãe… ela foi… ela tentou me ajudar.

A voz da fêmea era tão baixa que ele teve que se inclinar para mais perto para ouvir o que ela dizia.

– Espero que sua mãe esteja bem. A minha não fez nada quando eu me atirei pela janela.

– Você tem sorte por ela ter ficado calada. Eles mataram a minha mãe – disse ela, entredentes.

Ficou chocado demais para ficar feliz ao ter outro vislumbre daquele fogo interior.

– O quê? Como você está aqui agora? Eu sinto muito – apressou-se a dizer. O comentário foi completamente insensível. Nunca tinha ouvido qualquer história sobre alguém morrer durante uma coleta. O fato de aquela bela fêmea ter perdido a mãe o fazia querer atravessar a diretoria e fazer um estrago. O que aconteceu era inaceitável, porra.

Aquilo não era ser distante e desapegado, lembrou a si mesmo. A injustiça o atingiu na alma. Nenhum feérico deveria sofrer daquele jeito. Não tinha nada a ver com ela em particular, assegurou a si mesmo.

– Se eu tivesse escolha, teria ficado em casa com meu pai e minhas irmãs, enviando-a para o além. Essas pessoas são monstros.

Ele colocou a mão sobre o ombro dela oferecendo o pouco de conforto que podia dar. Nenhum sorriso brilhou nos olhos dela quando o olhou. Ele ergueu a mão, não querendo se aproximar mais, apesar de o luto dela estar à flor da pele e a cortando em pedaços. E foi então que ele percebeu que aquilo deveria ter acabado de acontecer.

Explicava por que ela vestia o que parecia ser um pijama em vez da roupa preta com o símbolo da escola. Como eles podiam ter tirado e vida da mãe dela e a forçado a ir a um banquete de boas-vindas, como se nada tivesse acontecido?

Ficou claro para ele, naquele momento, que os rumores sobre o conservatório, talvez não sobre o conservatório em si, mas sobre os humanos no poder, fossem verdadeiros. Afinal de contas, toda história de terror tinha um fundo de verdade.

Aquele podia ser um acontecimento isolado. Eles estavam mais do que preparados para fazer aquela fêmea se curvar aos seus desejos. Governar pelo medo mantinha as objeções no mínimo. Havia encantos que poderiam lançar e coisas que poderiam fazer para impedir Maurelle de falar, mas não iriam diminuir a dor que ela sentia.

A cena que ela causara quando entrou no refeitório chamou a atenção de todo mundo. Não havia dúvida de que vários estudantes ao redor tinham ouvido o que aconteceu. O rumor sobre a morte da mãe dela percorreria o campus em um instante.

– Você não está sozinha aqui – prometeu a ela. – Infelizmente, acredito que encontrará outra pessoa que possa se identificar com o que você passou. – A esperança que se acendeu nos olhos dela o fez adicionar a última parte para se assegurar de que ela entenderia que ele não estava falando de si mesmo.

– Sei que você está certo. É por isso que eu… ai – disse ela, enquanto se encolhia e levava a mão à cabeça. A palidez da pele dela assumiu um tom meio esverdeado.

– Você não parece estar muito bem. Já foi ver um curandeiro?

Ela moveu a cabeça de um lado para o outro, fazendo as madeixas rosadas flutuarem pelo ar.

– Estava doente quando eles foram me pegar. Acabei de chegar. Eles me fizeram vir aqui primeiro.

– Você está péssima. A enfermaria fica no segundo andar, na ala leste – ofereceu, enquanto ficava de pé. Era tudo o que podia fazer por ela. Não iria colocar um alvo ainda maior nas suas costas.

– Obrigada – murmurou ela, levantando-se.

Caminhou ao lado da fêmea desejando poder fazer alguma coisa para melhorar a situação. Nenhum deles disse nada enquanto andavam. Ele agiu como um idiota e sequer se despediu quando seguiram por caminhos diferentes e foi até o quarto andar, onde o seu dormitório estava localizado.

O ventre se contorceu ao mesmo tempo que a virilha pensou que seria uma boa ideia se entregar àquela atração. Parecia que um banho frio tinha acabado de virar uma prioridade. Faria isso logo depois que se esfolasse de dentro para fora por ter tratado Maurelle como se ela fosse uma inconveniência.




CAPÍTULO QUATRO







– Os horários aqui são sempre tão cheios? – perguntou Ryker ao colega de quarto. Já estava no conservatório há alguns dias, e eles ralavam mais do que no emprego de meio-período que ele tinha antes de ser levado para lá.

Muitos feéricos jovens tinham empregos para ajudar a sustentar as famílias, mas raramente trabalhavam mais de dez horas por dia, o que não se encaixava com a informação dada a eles durante as aulas de história. Os professores deveriam saber que os alunos não estavam caindo naquela besteira que estavam ensinando. Eram eles que estavam lá trabalhando até cansar para ajudar a fechar as contas do mês.

Ao que parecia, o que era ensinado no Conservatório foi distorcido para favorecer os humanos. Era enfurecedor ouvir os professores falarem como os humanos vieram e salvaram Bramble’s Edge da ruína. E também serviu para abrir os seus olhos.

Quando chegou ao conservatório, quis arrasar com qualquer um que cuspisse aquela merda para ele. Mas, à medida que o tempo foi passando, começou a entender um pouco melhor. Não cairia na história de que os humanos os salvaram, já que foram os humanos que atacaram primeiro.

As armas deles superaram as habilidades dos feéricos e debilitaram o reino. A mãe o contou o suficiente para que ele entendesse a estratégia por trás da guerra. Os feéricos tentaram se defender enquanto os humanos trabalhavam para destruir o poder que estabilizava o povo feérico.

Parte do poder do rei e da rainha dos feéricos era o que mantinha o equilíbrio, tanto entre as raças quanto entre os indivíduos. Da forma como a mãe explicou, cada vez que alguém perdia o controle sobre os poderes, o rei aparecia e fazia tudo voltar ao normal. Só a presença deles no reino provia algo que estabilizava toda a raça.

Quando aquele poder desapareceu com a morte do rei e da rainha, a raça ficou devastada e todo o caos que se seguiu permitiu que os humanos avançassem e assumissem o controle.

Era difícil para as criaturas sobrenaturais lidar com tanto poder, principalmente no início, e especialmente os feéricos. Eram uma espécie apaixonada e aquela paixão governava todas as coisas. Ouviu a mãe reclamar uma centena de vezes que o real propósito do conservatório era ajudá-los a aprender a controlar os poderes e os humanos perverteram tudo o que o rei Oberon criou milênios atrás.

Pelo número de vezes que seus novos amigos não foram capazes de vê-lo ou que acordava como se tivesse acabado de dar um mergulho no lago que havia perto do açougue em que sua mãe trabalhava, entendeu exatamente o que ela quis dizer. Não o propósito da escola em si, mas a parte sobre o controle.

Havia uma ou duas coisas que continuava acontecendo com os colegas de dormitório, mas Ryker notou várias coisas que o confundiam. Ainda não tinha certeza de quais eram os poderes. Até mesmo os professores que fizeram a sua avaliação ficaram perplexos e o colocaram na liga do ar.

Ao que parecia, ele demonstrava muitas habilidades associadas àquelas que os feéricos do ar tinham. Não sabia como se sentia quanto àquilo. Tinha visto muito pouco da habilidade de manipular pensamentos ou sonâmbulos ou falar diretamente com a mente de alguém. Ou de qualquer outro poder psíquico, diga-se de passagem.

Estava ansioso para aprender mais sobre o que a mente poderia fazer, mas foi arrastado para a liga do fogo. A forma como a raiva disparava e sua tendência a se meter em brigas fez parecer que o seu elemento seria o fogo. Esses impulsos se mostravam muito mais que suas outras habilidades.

Havia habilidades básicas que todos os feéricos possuíam. Essa foi uma das razões pelas quais Ryker ainda não tinha certeza sobre a veracidade da ameaça que a mãe via nos humanos. Humanos não viviam tanto quanto os feéricos. E eles não tinham força ou audição excepcional. Eles também não se curavam mais rápido.

Os feéricos também podiam, até certo ponto, dar mais glamour à própria aparência. As habilidades menos desenvolvidas eram amplificadas em alguém que possuía um talento extra na área. Aqueles com mais talento para modelar a beleza começavam a vender escudos feitos para disfarçar a aparência dos feéricos para que eles pudessem sair da Edge e ir para algum lugar que não fosse o muquifo onde viviam. Foi por isso que, quinze anos atrás, deram início ao serviço de detetives.

O pai de Eitin era detetive na fronteira, impedindo feéricos e mestiços de irem embora da Edge. A mãe odiava que fosse amigo de Eitin, mas os dois eram inseparáveis. E, a mãe nunca escondeu a opinião que tinha do amigo.

Virou piada entre eles adivinhar quantas vezes ela iria lhe passar um sermão falando que os feéricos não deveriam usar as habilidades para sentir outro feérico e usar isso contra a própria espécie.

Quando os poderes de Eitin se manifestaram, não tinha dúvidas de que ele seria posto na liga do fogo. Aquilo o fez imaginar para onde Maurelle tinha sido direcionada. Não a viu desde aquela caminhada até a enfermaria, mas não conseguia parar de pensar na bela fêmea. Você está caçando problema, disse a si mesmo pela centésima vez naquela semana.

Era uma bênção não ter que vê-la. Fazia com que fosse mais fácil manter-se afastado.

A mente teimosa se recusava a pensar em qualquer outra coisa enquanto imaginava se ela seria ar ou fogo, ou talvez até mesmo terra ou água. Baseado no que viu, duvidava que seria terra, pois ela não tinha causado terremotos ou criado barreiras naquele dia que estava tão puta da vida.

Ela não era da água pelas mesmas razões. Os guardas não começaram a sangrar pelos olhos, nem o mar que ficava perto da escola tinha lançado ondas pelo refeitório. Parte dele esperava que ela fosse colocada na liga do ar com ele, por causa da psicometria, mas ela ainda não tinha aparecido nas aulas. O que era bom, voltou a lembrar a si mesmo. A última coisa de que precisava era mais encontros estranhos com aquela fêmea.

Parou de pensar em Maurelle e na forma como o luto dela quase o fez perder a cabeça. Ryker saiu do quarto e colocou as proteções que conhecia ao redor da porta. Alguns da sua liga não eram capazes de manipular o metal como ele. Aquele era um traço da terra, mas não queria que ninguém invadisse seu território enquanto não estava.

– Ei, Ryk. Está tudo bem? Você perdeu o café da manhã – assinalou Daine, quando ele saiu do quarto. Os dormitórios ficavam em um enorme prédio de cinco andares e a estrutura foi projetada para terem muito mais independência do que ele tinha em casa, o que fazia com que o tempo que passava no conservatório fosse muito mais agradável.

Daine não parecia ansioso para sair do sofá e ir para a aula. Já Sol e Brokk estavam com os livros e os cadernos na mão. Os quartos foram dispostos em volta de uma sala central, onde eles treinavam e estudavam.

– É. Eu dormi demais – mentiu, enquanto arrumava os livros. Não sabia se podia confiar em qualquer um deles para falar das dúvidas que ainda tinha. Admitia que o receio e as objeções quanto ao conservatório diminuíram esses dias, mas não tinham sumido completamente.

Sol riu e balançou a cabeça.

– Eu também não ia querer sair da cama à cinco da manhã. Aquela merda parece ser feita de nuvens. Nunca pensei que uma cama pudesse ser tão confortável.

O rosto dele escondia as emoções caóticas melhor do que pensava. Fazendo que sim, Ryker foi até a porta.

– Concordo. Dormi na mesma cama a vida toda. E talvez minha mãe também tenha dormido nela por muito mais tempo. – Ter uma cama nova ou macia era um luxo com o qual a maior parte dos moradores da Edge não podia arcar. Então ter uma confortável era um puta privilégio.

Ryker desceu as escadas e os ouviu falar sobre as diferenças dos dormitórios e de casa. Estava prestes a concordar com eles, dizendo que o peito doía menos a cada fôlego, e que o estômago tinha se acalmado com o ambiente mais limpo, mas Maurelle saiu aos saltos de um quarto bem abaixo do dele.

Os pés falharam e ele mal conseguiu segurar o corrimão antes de descer rolando o próximo lance de escadas. Deslumbrante era um eufemismo, pensou quando olhou para ela. Com o cabelo limpo e brilhoso, e sem a palidez doentia, a beleza dela era inegável.

Os colegas de quarto perceberam a sua demora e se viraram para ele. Ryker abriu a boca, mas Brokk o interrompeu.

– Oi, Maurelle. Parece que você está se sentindo melhor.

A fêmea em questão se ruborizou levemente e sorriu.

– Obrigada. Eu me sinto bem melhor.

– E, porra, você está muito gata – prosseguiu Brokk, enquanto percorria o corpo dela de alto a baixo. Aquilo fez Ryker querer dar um soco naquele rosto bonito dele. O que era totalmente descabido. Deveria encorajar aquela paquera. Faria com que fosse menos provável que ele mesmo fosse ceder aos seus desejos pela fêmea.

Admitiu que gostaria de beijar aqueles lábios carnudos e sentir o corpo voluptuoso, mas se segurou.

– Chega – ladrou, severo. Com um estremecimento, abrandou a voz e prosseguiu. – Maurelle não precisa ser assediada. Como está se sentindo? Não a vi por aí.

– Meu próprio cavalheiro de armadura brilhante – provocou-o ela. Ele franziu o cenho, embora gostasse daquele humor irônico e que tenha sorriso um pouco demais, diga-se de passagem. – Mas não é necessário. Elogios são uma boa distração da perspectiva de começar a estudar. A escola e eu nunca fomos grandes amigos quando eu era mais nova, então, estou nervosa. Além do mais, eu estou me sentindo bem melhor. Eles me mantiveram na enfermaria até a noite passada e me deram vários tônicos e fizeram outros tratamentos.

Ryker se manteve afastado enquanto todos eles desciam as escadas juntos.

– Como está lidando com a perda da sua mãe? Já que não está gritando nem socando ninguém, acho que está se sentindo melhor.

A cabeça dela se virou meio que bruscamente. Sacudindo a cabeça, Maurelle parou enquanto Sol abria a porta que levava para fora dos dormitórios.

– Está sendo pavoroso. Eu sinto mais saudade dela do que tudo, mas… bem. Queria que ela não tivesse interferido na coleta.

Aquela atitude era diferente demais da raiva que ela vomitou quando chegou. Brokk se moveu para a direita e Sol foi na frente deles. Maurelle era esperta o bastante para não se abrir completamente. Ele gostava o suficiente dos colegas, mas confiar neles era algo completamente diferente. E Ryker nunca tinha dado razão para que ela confiasse nele. Seria melhor mantê-la à distância.








– O que aconteceu com você foi bastante traumático – mencionou Ryker, enquanto eles caminhavam. Chamar a experiência dela de traumática era suavizar demais as coisas. Ela pressentiu sua cautela e a parede que ele construíra entre os dois. Maurelle não tinha certeza do porquê de ele estava agindo daquele jeito, e não tinha energia para tentar adivinhar agora.

Pela primeira vez em quase uma semana, o corpo e o coração não se apertaram com aquela dor insuportável. Inclinando a cabeça para trás, permitiu que o sol aquecesse o seu rosto enquanto a brisa do oceano soprava o seu cabelo. Maurelle amou a área do conservatório. Entre a fauna, o ar puro e a água, sua alma era alimentada com uma abundância de energia que nunca experimentou antes.

Na Edge, os feéricos eram rodeados por pouquíssimas plantas e muitos prédios de pedra. Tudo coberto de sujeira e fuligem. Para coroar, a poluição fazia a pele e os pulmões queimarem. Com a conexão dos feéricos e a dependência que tinham dos elementos, era crucial ter um ambiente livre de poluição e outras toxinas.

Encontrou os lindos olhos verdes de Ryker e afastou rapidamente os dela quando viu a raiva no rosto do macho. Não tinha ideia da razão para ele estar tão bravo, mas já tinha coisa demais para lidar e não iria tentar consertá-lo também.

– Então, em qual ligas vocês estão, meninos? Estou atrás de detalhes e conselhos sobre a liga do ar, para ser precisa – perguntou Maurelle.

Os trabalhos escolares a enlouqueceram quando ela era criança e fizeram parte dos seus pesadelos enquanto crescia. Agora, adulta, estava sendo forçada a reviver os medos. Esperava que Ryker, ou um dos amigos dele, se provasse um aliado, alguém em quem pudesse confiar enquanto estava ali. Embora, pelo desdém com o qual a tratava, duvidava muito de que o macho fosse contribuir com muita coisa.

Ele podia ser lindo, mas tinha uma péssima postura. Presumiu que poderiam ser aliados, baseada na tentativa de fuga dele, mas foi ilusão. Doía ser rejeitada por ele, mesmo que não entendesse o motivo.

– Eu também estou na do ar – respondeu Ryker, com uma careta. Por que ele não poderia parecer um trol quando fazia aquela cara? Seria tão mais fácil se não estivesse tão atraída por ele. O macho tinha um temperamento ruim, ao que parecia. E não era lá muito legal.

– Ficará feliz em saber que estou na do ar também – adicionou Brokk.

– Mais para cheio de ar quente – provocou Ryker.

Com um sorrisinho, Maurelle se virou para Sol e Daine.

– E vocês?

– Estou na do fogo. Muito mais do que ar quente – respondeu Sol, agitando as sobrancelhas.

Daine se virou e andou de costas e as asas dele brilharam enquanto falava.

– Eu sou da água, mas acho que podem ter escolhido errado. Comecei um terremoto ontem enquanto voltava para o dormitório quando um dos guardas gritou comigo por eu estar atrasado para o jantar.

– Idiota – xingou Sol. – Eles sentem uma satisfação perversa ao nos atormentar.

– Minha mã… mãe me disse que era comum que os feéricos tivessem habilidades em mais de um elemento – disse Maurelle, tentando afastar a ardência dos olhos e ignorar o nó em sua garganta. A agonia em seu coração estava entorpecida o que a deixou tanto perplexa quando aliviada.

– A minha mãe também disse – concordou Ryker, deixando-a chocada. Presumiu que ele fosse ignorá-la. – E, se tiver esse tanto de poder, acabará chamando mais atenção dos humanos que comandam o castelo.

– Alguém se lembra de como era quando o rei e a rainha viviam e governavam do castelo? – Daine atirou enquanto movia uma pedrinha com um aceno da mão. Todo mundo se encolheu e tentou parecer estar fazendo outra coisa quando a pedra foi de encontro à cabeça de outro estudante.

Felizmente, ele virou para a esquerda e seguiu para o campo de treinamento da terra.

– Cara, foi por pouco – avisou Ryker a Daine.

– Eu sei. Foi sem querer.

Brokk afastou o cabelo da testa.

– Você pode ir ver a Gullvieg e pedir para fazer aula nas duas ligas. Aqui estamos – adicionou e apontou para o prédio à esquerda.

Acenaram para os outros e os deixaram discutindo o que Daine iria fazer quanto ao seu problema. Não soou como se ele fosse pedir à diretora para treinar mais.

– Não fique nervosa demais – encorajou-a Brokk. – Só estamos praticando telecinesia esses dias. – Do canto do olho ela viu as mãos de Ryker se fecharem em punhos na lateral do corpo.

Era mais difícil ignorar o fato de que ele estava puto por Brokk estar sendo legal com ela.

– Parece bem fácil. – O coração de Maurelle acelerou enquanto entravam no prédio lotado.

Para ser da liga do ar, o prédio era muito mais fechado e sufocante do que parecia por fora. Como poderia fazer mágica de forma eficiente quando não havia janelas para abrir e convidar a brisa para entrar? O que aconteceu com as que viu do lado de fora?

Girando em um círculo, ela esquadrinhou as paredes e notou que várias áreas onde viu vidro do lado de fora estavam bloqueadas com painéis de metal. Era como se não quisessem que eles tivessem acesso à energia necessária.

Ryker e Brokk desapareceram na sala, então a cabeça de Brokk apareceu e ele perguntou:

– Você vem?

Não adiantava adiar o inadiável, pensou. Fazendo que sim, ela se apressou em direção a ele e deu uns passos para dentro da sala claustrofóbica. Não pôde ver nenhuma janela naquele cubículo. Painéis de metal cobriam o que ela presumiu ser as aberturas.

E, em vez de ser uma sala de aula normal, a sala de pedras era redonda e os únicos objetos ali estavam alinhados de um lado. Havia uma mesa para o professor e uma maior e mais longa coberta por inúmeros objetos que ela reconheceu de sua época na escola.

– Bom dia, turma – disse alto uma feérica esguia. Maurelle presumiu que era a professora, já que ela estava de pé na frente da sala. A fêmea usava um vestido soltinho que não disfarçava o corpo magro. Maurelle não parecia nada com uma feérica comum. Ela tinha curvas e um corpo lhe rendeu o apelido de Fofuxa quando tinha dez anos.

– Bom dia. Eu sou Aobhel, a professora. Bem-vinda à Telecinesia I. Srta. Longstrom – disse a professora, enquanto sorria para Maurelle. – Fico contente por ter se juntado a nós.

Espantada, Maurelle imaginou como ela sabia o seu nome e o que mais a professora devia saber sobre ela. Sua chegada ao conservatório tinha sido bastante agitada. Ainda estava esperando para ver qual seria a sua punição por causa daquele arroubo.

Por medo de ser isolada, ou pior, cooperou com o pessoal da enfermaria. Após aquele primeiro dia, as emoções e a dor lancinante tinham sido embotadas, deixando as coisas mais fáceis. Em algum lugar da sua mente, sabia que a mudança na atitude e nas emoções não era muito normal, mas o alívio era grande demais para questionar qualquer coisa.

– Obrigada. Eu, é… não me deram nenhum livro ainda – confessou. A sua nuca se eriçou como se alguém a observasse. Virando a cabeça discretamente, Maurelle teve um vislumbre de uma fêmea da sua idade lhe olhando feio. Ignoraria aquilo por agora, o foco permaneceu na professora.

– Não se preocupe. Não precisará deles para a minha aula. Praticamos e polimos habilidades nessa aula. Aedan ensinará a parte teórica, e ele lhe dará os livros. Formem duplas e continuem o treino. Vocês precisarão fazer o lápis levitar – explicou-lhe Aobheal.

Brokk, com Ryker ao seu lado, aproximaram-se dela com um sorriso. Nenhum dos machos notou a fêmea se aproximando deles. Era a mesma que a olhava de cara feia há menos de um minuto. Ótimo, já tinha inimigas, ao que parecia. Não deveria ficar surpresa. O único motivo para os comentários sobre sua aparência não estarem circulando era porque ela estava na enfermaria.

– Podemos treinar aqui – grunhiu Ryker. Tirando os olhos de cima da fêmea raivosa, Maurelle olhou para o macho de relance. Ele era muito lindo. Não era de se admirar que a feérica esguia com seus esplêndidos olhos azuis quisesse formar dupla com ele.

– Você deve ter complexo de herói – frisou ela, enquanto atravessava o lugar e ficava de frente para ele.

A risada dele era baixa e rouca, o oposto de como ele tinha soado um segundo antes. A alegria fez coisas com o seu corpo que ela odiaria que ele soubesse. Enquanto seu ventre se agitava e o resto dela se aquecia, desejou que ele soubesse. Ryker estava sendo legal. Não havia a mais remota possibilidade de ele estar atraído por ela. A péssima postura que o macho teve até então provava aquilo. Mas preferia quando ele era legal.

– Quem disse que eu falei contigo? – rebateu ele, e parou de sorrir.

Brokk deu um tapinha nas costas dele e lhe deu um sorriso sedutor.

– Ignore-o. Quero você no nosso grupo.

O rosto de Maurelle se aqueceu e ela abaixou a cabeça. Gostava da paquera descarada de Brokk e não conseguia entender as oscilações de humor de Ryker. Era óbvio que ele não gostava dela, mas gostava muito quando ele não era totalmente mau com ela.

Um sussurro baixo chegou aos seus ouvidos naquele segundo, fazendo-a erguer a cabeça bruscamente.

– Eu tentaria ir embora, se não fosse por você. – Jurava que foi Ryker quem sussurrou aquela última parte, mas não tinha certeza, já que ele estava lá de pé olhando feio para ela.

– Peguei os lápis – declarou Brokk, quando voltou para o seu lado. Não notou que ele tinha se afastado. O que significava que ele não tinha dito nada.

– O que eu faço? – perguntou, mantendo o foco em Brokk.

– Você faz o lápis levitar – latiu Ryker, e logo sacudiu a cabeça.

– Isso eu entendi, Capitão Óbvio – disse ela, sarcástica.

– O que a professora nos disse é que é para focar no objeto e imaginar que ele está levitando – interveio Brokk, antes de a conversa virar uma briga.

– Caramba! Você deve ter nascido para isso – declarou Brokk, um segundo depois de o lápis estar flutuando sobre a palma da mão dela.

Erro número cem, pensou. Não tinha ideia se o pai se meteria em problemas caso alguém descobrisse que a esconderam por mais de um ano e que ela andou praticando tanto quanto possível.

Não que tenha sido muito, devido ao risco de exposição, mas era muito mais habilidosa do que alguém em sua posição deveria ser.

– O quê? – perguntou, e sacudiu o dedo, atirando o pincel na parede de pedra mais próxima.

Uma rápida olhada lhe mostrou que a professora estava mexendo no tablet. Ficou surpresa ao ver tecnologia. Os feéricos não podiam usar qualquer tipo de tecnologia na Edge. Imaginou milhares de vezes o porquê de os humanos quererem reter os itens para si. Não era como se os aparelhos fossem deixá-los mais fortes. Apostava que os humanos obrigavam os professores a usá-los só para que pudessem monitorar os alunos.

– Parece que não nasceu para isso, afinal das contas – disse Ryker, gargalhando. A risada não alcançou os olhos, mas era melhor que a cara feia.

Maurelle riu com ele, disfarçando o nervoso. Era melhor colocar a cabeça no lugar. Não podia deixar ninguém suspeitar de que seus poderes tinham se manifestado há tanto tempo. O pai era tudo o que ela e as irmãs tinham.

– Agora não há mais dúvidas. Eu sou um desastre de dar gosto. Isso é mais difícil do que parece.

– Com certeza você é de dar gosto – murmurou Brokk, enquanto a olhava da cabeça aos pés. Gostava daquele flerte. Era óbvio que ele estava atraído por ela, e ela não se sentia desconfortável perto dele.

– Se treinar, vai ficar mais fácil – disse Ryker, como se tivesse ignorado totalmente o que Brokk falou.

Aobheal se aproximou deles e cruzou os braços sobre o peito, prendendo o tablet sobre os seios pequenos.

– Telecinesia é um talento que todo feérico tem, então não levará muito tempo para controlá-lo. Você teve o pensamento certo ao imaginar o que queria que acontecesse.

– Quando começaremos a treinar habilidades de ar? – perguntou para a professora. Esperava aprender mais sobre o que podia fazer. Os pais não ousaram encorajá-la ou a permitir que explorasse demais suas habilidades. A única coisa que sabia que tinha era psicometria.

– Em breve – explicou Aobheal. – Primeiro vocês precisam controlar as habilidades básicas. Dessa forma, minimizamos as lesões acidentais.

Fazendo que sim, Maurelle voltou a se concentrar, mais uma vez, nas ferramentas de escrita. Ryker fazia o dele girar no ar. Ela também tinha erguido o dela no ar. Fez o objeto bambear e fazer movimentos bruscos, fazendo-o bater no lápis de Ryker. Ambos foram voando na direção da professora.

Com os lábios franzidos, Aobheal moveu a mão e os dois lápis pousaram na mesa da lateral da sala. Maurelle olhou para Ryker, mas ele já estava indo para a mesa, então voltou os olhos para Brokk. Quando o olhou nos olhos, ambos caíram na gargalhada.

– Eu quero ser poderoso assim – confessou ele.

Eu também. Pensou. As emoções podiam estar em guerra. A necessidade de ver a família era maior do que nunca, e só poderia ir para casa quando não fosse mais considerada um perigo para a sociedade.




CAPÍTULO CINCO







– Hey, Ryker. Está indo jantar?

Ryker virou a cabeça bruscamente ao ouvir a voz feminina e familiar. Quando pôs os olhos na fêmea sexy, o nó que se formava em seu estômago nas duas últimas horas ficou mais apertado. O maior responsável era o fato de ele estar dividido entre ficar feliz por vê-la e precisando fugir dela, mas o menor era porque ele estava começando a suspeitar que havia algo podre se passando ali no conservatório.

– Estou. Quer ir comigo? – A pergunta saiu antes que ele percebesse.

Fazendo que sim, ela se apressou para acompanhá-lo.

– Claro. Onde está a matilha?

A risada o surpreendeu. Levando em consideração o que estava pensando, não deveria estar sorrindo. Não tão cedo.

– Eles já estão comendo. Não puderam me esperar.

A cabeça de Maurelle se inclinou para o lado e o longo cabelo rosa caiu sobre o ombro.

– Você está bem?

A pergunta o pegou de surpresa e o fez franzir o cenho. Pensou que estivesse escondendo a perturbação, mas ao que parecia, não estava se saindo muito bem. Com um sorriso, ele fez que sim.

– Sim. Estou bem.

– Por que será que eu não acredito? – perguntou ela, enquanto o cutucava com o ombro.

Era um gesto que normalmente só era feito por amigos próximos ou pela família. Mal conhecia Maurelle, mas a conexão entre eles era inegável. Ainda assim, deu um passo e colocou um pouco de distância entre eles.

Presumiu que estava sendo conduzido pela atração que sentia por ela e por seu desejo de ficar o mais longe possível. Não estava fazendo um bom trabalho para manter a distância, mas ficou aliviado porque, naquele momento em particular, não estava pensando em beijá-la ou em puxá-la para os braços, esperando que pudessem passam tempo juntos, e nus. Ok, agora ele estava, mas só porque sua mente conjurou as imagens daquela boca macia pressionada na dele.

Antes daquilo, pensou em contar a ela sobre as suas suspeitas. Ela pensaria que ele era louco? Inferno, ele temia pela própria sanidade. Especialmente por estar pensando em falar de suas dúvidas com ela.

– Eu estou, é, bem. Não sei com certeza – confessou, enquanto parava do lado de fora do refeitório.

– O que está rolando?

– Talvez nada, mas… se eu estiver certo, temos problemas maiores por sermos uma raça que está sendo governada pelos humanos.

O olhar de Maurelle percorreu os arredores, verificando se eles estavam mesmo sozinhos.

– Eu não tenho ideia do que você está falando, mas posso garantir que os feéricos têm problemas maiores. Um da nossa espécie estava bem ali, e ele não fez nada quando um humano matou a minha mãe.

Foi por isso que quis contar para ela o que se passava por sua cabeça, pensou. Maurelle entenderia o que se passava na sua cabeça como ninguém mais ali no conservatório. Poderia confiar nela? Imaginou enquanto esperava que ela ficasse com raiva e começasse a rebater as coisas, mas ela falou daquilo como se estivesse falando sobre o tempo.

– Quando disse que viu minha coleta depois de tocar as algemas, eu imaginei qual macho fez aquilo com a sua mãe.

– Foi um guarda humano. Se o macho feérico não estivesse por perto assistindo a tudo antes de sair me puxando, então poderíamos ter dominado o humano juntos, apesar das armas que ele carregava. Os feéricos são bem mais poderosos que os humanos.

– Você está certa. Ouvi minha mãe reclamar um milhão de vezes sobre os humanos e sua habilidade de nos controlar. Isso a deixa mais puta que qualquer outra coisa. Ela reclama sobre a necessidade de nos unirmos para lutar e reassumir o controle sobre Mag Mell. Pensei que ela estivesse exagerando, mas só porque baseei a crença em ignorância. Nunca imaginei que as coisas fossem tão ruins – confessou.

Um grupo de estudantes entrou no prédio, cortando o que ele estava prestes a dizer. Maurelle ergueu o livro que levava nas mãos e o abriu, então começou a lhe fazer perguntas sobre a matéria de matemática que foi dada na aula daquele dia.

Assim que o grupo passou, Ryker secou o suor da testa.

– Boa – comentou ele. – Tem alguma opinião sobre essa situação?

– Você quer dizer além do fato de que fomos forçados a vir para o conservatório?

– Bom ponto – respondeu, pensando que não deveria estar surpreso por descobrir que os feéricos trabalhavam com os humanos. – O que estou pensando agora é sobre tudo o que se passa aqui. Você, por exemplo, não é a mesma fêmea que chegou à escola uma semana atrás.

– O que quer dizer? Sou tão desenvolta quanto sempre fui.

– É isso. Você não era quando chegou. Você estava irada e pronta para matar a Gullvieg. Agora, você fala do que aconteceu como se fosse só uma reles inconveniência.

Os lábios de Maurelle franziram enquanto ela pensava no que ele disse.

– Mantive um pouco do que eu sentia por causa da forma como fui tratada. Sei que não posso confiar em ninguém, mas deveria estar doendo muito mais do que agora.

A diretora se levantou e olhou pelas portas por um momento. Ryker abaixou a cabeça e fez sinal para Maurelle ir em frente.

– Vamos entrar. Estamos chamando atenção. Quando pegar a comida, me fala se viu algo estranho nela.

– Por quê? – perguntou ela, enquanto o seguia até a mesa onde os colegas estavam.

– Notei um gosto estranho na manhã depois da sua chegada. Pode ter sido só eu – confessou. Ela fez que sim e prosseguiu em silêncio.

– Oi, linda – chamou Brokk, cumprimentando-a enquanto eles se aproximavam da mesa.

Ela se sentou ao lado dela, deixando-o levemente desconfortável. Fez o pedido enquanto ela cumprimentava seus colegas. Gullvieg, a fêmea no comando do conservatório, estava bem na sua linha de visão.

Ryker continuou ignorando Maurelle, não gostando da atenção que a mesa recebia. Decidindo que precisava espantar as suspeitas, Ryker virou a cabeça para Danielle e deu uma piscadinha. A fêmea sorriu e corou furiosamente, então acenou para ele.

Paquerar Dani quando não gostava muito dela fez com que sentisse culpa por estar passando a impressão de estar interessado. Mas algo lhe dizia que se Gullvieg acreditasse que ele estava a fim de Maurelle, aquilo só causaria problemas. E ele não queria atrair mais problemas.

Maurelle notou o seu comportamento e franziu a testa para ele antes de pedir a comida e se virar novamente para Brokk. O vislumbre de dor que viu no rosto dela o fez se arrepender da atitude. Gostava demais de Maurelle e não sabia como não querer mais que amizade com ela, então era melhor agir assim.

A mentira embrulhou o seu estômago. A resolução de não se apaixonar por ela não seria fácil, pensou. Naquele momento, queria tomá-la nos braços e pedir desculpas.

– Bem, você só está tentando puxar-saco – Maurelle provocou Brokk.

O macho arquejou e levou a mão ao peito.

– Assim você fere os meus sentimentos. Como estão os estudos? Eu poderia ter me juntado a você.

Ryker fez ainda mais careta, e estava pronto para dar um soco na cara de Brokk. Ele precisava flertar de forma tão descarada com ela? Estava sendo injusto, já que decidiu que seria amigo dela, mas não podia parar suas reações.

Concentrou-se na mesa principal para ver se estavam sendo observados. A diretora parecia ter esquecido a conversa deles. Era mais provável que Brokk tivesse alguma coisa com Maurelle do que Ryker, e a coleta dele foi pacífica, então não haveria nenhuma suspeita.

– Eu me virei muito bem sem você hoje à tarde – Maurelle disse a Brokk. – Gosto de aprender a identificar quais elementos eu posso invocar e usar e, principalmente, o que sou capaz de fazer.

Desviou o olhar, algo no prato de Maurelle chamou a sua atenção. Ryker poderia jurar que a comida emitiu um brilho verde, mas quando virou a cabeça, ela não parecia diferente da de qualquer outra pessoa. O coração começou a acelerar dentro do peito e a nuca ficou eriçada, indicando que estava sendo observado. Quando olhou para cima, notou que tanto Danielle quanto Gullvieg o observavam.

Deu um sorriso forçado para Dani e ignorou a diretora solenemente. Não querendo chamar mais atenção, ele pegou o garfo, espetou um pedaço do rosbife e o enfiou na boca. Nenhum traço de gosto ruim, nem um pingo de magia foi sentido enquanto mastigava e engolia. Ainda assim, a carne caiu feito uma pedra no estômago agitado, dando-lhe ânsia de vômito.

– Bem, então, parece que os professores estão fazendo o trabalho deles, já que o propósito do conservatório é nos ensinar a controlar nossos poderes. Ao que parece, foi por isso que o rei o criou séculos atrás – adicionou Ryker, transmitindo a informação que a mãe lhe dera.

– É. Meu irmão mais velho me disse que aprenderemos isso nas aulas de história – adicionou Daine enquanto enfiava mais comida na boca.

Dando uma mordida na dela, Maurelle se virou para Brokk.

– Na época da escola, eu odiava estudar história. Espero que as daqui sejam mais informativas. Então, quem são aqueles caras ali?

Todo mundo na mesa seguiu a direção da mão dela e viram o grupo de machos que estava se mostrando aos berros enquanto a maioria das pessoas dava atenção a cada palavra que eles diziam. Ryker admitiu para si mesmo que eles eram mais fortes que ele naquele momento e que não havia como competir com o poder e o controle deles. Os machos atiravam bolas de fogo e água de uma mão para a outra com grande facilidade, enquanto as fêmeas eram só aaahhhh e ohhhh para eles.





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Sejam bem-vindos ao Conservatório Bramble’s Edge Academy, a universidade na qual os Feéricos aprimoram seus poderes. Parece exatamente com o que seres poderosos precisam, não é? O problema é que eu sou um deles. Então, quando chegou a minha hora de ir para a faculdade, eu tentei escapar dos Coletadores. Eles acabaram incapacitados e eu com as asas detonadas no meio do grêmio estudantil, e com uma indesejada atração pela Maurelle. Essa fêmea sexy vem com mais bagagem do que eu posso carregar. Minha mãe incutiu em mim a necessidade de ficar na minha e de passar esses três anos sem ser notado. Infelizmente, os sorrisos de Maurelle me fazem esquecer do meu próprio nome. E, para piorar, o destino continua nos puxando um para o outro. E não para momentos sexys, conforme eu esperava. Descobrimos um complô para drogar os estudantes, assim como o grupo secreto de assassinos da Diretora. Que tipo de escola tem assassinos a sangue frio espalhado pelo campus, sem mencionar as conspirações de assassinato? Com um grupo de Feéricos letais à espreita, eu tive que ficar enfurnado no quarto e estudar como os outros estudantes. Mas, eu não sou como eles. E eu me recuso a permitir que o meu povo seja manipulado e que sua magia visceral seja roubada.

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