Книга - Coisas Perigosas

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Coisas Perigosas
Amy Blankenship


Steven Wilder apaixonou-se pela sedutora manejadora de morcegos em mais sentidos do que ficar apenas de beiço caído… ele queria ficar com ela. Ao descobrir que ela estava prometida à máfia, isso deu-lhe razão mais do que suficiente para raptá-la e fazer dela a sua companheira… para a proteção dela, claro.

Todos dizem que existem dois caminhos na vida, mas para Jewel Scott ambos eram demasiado perigosos. Um levava a Anthony, um lobisomem psicopata e assassino que era também o chefe da máfia da cidade e seu noivo... contra a sua vontade. O outro caminho levava a Steven, um lobipuma que ela tinha atingido com um taco de beisebol no primeiro encontro de ambos. Ele retaliou, sequestrando-a e fazendo dela a sua parceira. Steven Wilder apaixonou-se pela sedutora manejadora de morcegos em mais sentidos do que ficar apenas de beiço caído… ele queria ficar com ela. Ao descobrir que ela estava prometida à máfia, isso deu-lhe razão mais do que suficiente para raptá-la e fazer dela a sua companheira… para proteção dela, claro.

Anthony Valachi tornou-se obcecado por Jewel quando ela ainda era uma criança e, sob o domínio da máfia, conseguiu ter controlo sobre a sua noiva. Se alguém pensasse que podia roubá-la dele, estava enganada… totalmente enganada.







Coisas Perigosas

Saga Laços de Sangue Livro 3



Amy Blankenship, RK Melton

Tradução de Susana Franco



Título original: Dangerous things



Copyright © 2012 Amy Blankenship

Segunda edição publicada por TekTime

Todos os direitos reservados.





Capítulo 1


Envy percorreu o quarto, guardando algumas das suas coisas na mala de couro preta. Parou e olhou para o irmão quando percebeu que ele desempacotava as suas coisas de toda a vez que ela virava as costas para ir buscar mais. Ele respirava no seu pescoço desde que ela chegou a casa e ela começava a ficar realmente frustrada com ele.

"Para com isso," Envy estalou quando puxou um punhado de roupas para longe dele e as atirou de volta para a mala. Atirou os seus longos cabelos ruivos para cima do ombro e lançou-lhe um olhar de advertência.

“Mas ir embora? Conhecê-lo ao quê... uma semana? Tens a certeza de que é isso que queres fazer?” Chad repetiu como se fosse um mantra.

"A resposta ainda é a mesma, Chad," informou Envy com voz firme, imaginando quantas vezes teria que dizer-lhe isso antes que ele realmente a ouvisse. Ela olhou fixamente para ele e, tratando-o como uma criança tola, disse as palavras muito lentamente: "Quero morar com o Devon e é exatamente isso que vou fazer."

"Como podes ter certeza de que daqui a uma semana ou um mês, ele não encontrará outra miúda e deixa-te?" Chad exigiu desesperadamente.

"Ele não vai fazer isso." Ela continuou a fazer as malas, tentando bloquear a sensação incómoda de que estava a abandonar o irmão. Era um homem crescido, pelo amor de Deus, e polícia.

“Não podes ter a certeza disso. Quer dizer, ele dança seminu naquele clube todas as noites e tu ficas presa atrás do bar a servir bebidas a pervertidos," Chad exclamou, pronto para começar a entrar em desespero. O que ele realmente queria fazer era gritar com ela por se envolver em algo tão perigoso... com alguém tão perigoso.

Envy parou de fazer as malas e olhou para o seu único irmão, que amava muito, mas que se preparava para o esganar. “Primeiro, eu tenho certeza. Segundo, ele pode estar seminu, mas fica ótimo assim. Terceiro, vou dançar com ele na jaula. E quarto," ela inclinou-se para mais perto, como se estivesse prestes a contar um pequeno segredo, "precisas mesmo de dar uma queca."

Chad olhou para a irmã: "Eu não preciso de queca nenhuma." Ele rosnou quando ela levantou uma sobrancelha para si.

"Precisas sim." Ela abriu uma gaveta e tirou um punhado de lingerie sensual.

"Não, não preciso." Chad fechou a mala antes que ela pudesse colocá-las lá, rezando para que fosse apenas uma enorme mala para pernoitar.

"Precisas sim." Envy sacudiu a lingerie no rosto dele como se quisesse fazer uma observação.

"Não, não preciso." Ele arrancou-as da mão dela.

"Não, não precisas." Ela estreitou os olhos com raiva.

"Preciso sim." Chad fez uma pausa, em seguida, deu um soco de punho cheio na lingerie pelo ar. "MERDA!"

Devon estava na sala, encostado à parede com os tornozelos cruzados e as mãos nos bolsos das suas calças de ganga... tentando não cair na gargalhada. A discussão deles fê-lo lembrar-se do seu relacionamento com os seus irmãos adoráveis.

Poderia dizer que Chad realmente se importava com Envy, por isso não se meteu entre eles. Chad apenas fazia o que sabia melhor... ser o irmão mais velho de uma ruiva. Não, ele não os impediria, mas pagaria um bom preço só para assistir.

Devon riu alto e tentou encobri-lo com uma tosse falsa. Alguém bateu à porta e os seus olhos azuis gelados se estreitaram a imaginar quem diabos estaria a visitar os irmãos antes do amanhecer.

"Devon, podes abrir para mim?" Chad chamou.

"Claro," respondeu Devon e afastou-se da parede antes de se mover em direção à entrada. Abrindo a porta, não pôde deixar de sorrir para o olhar surpreso no rosto de Trevor. "Olá Trevor, há quanto tempo."

Como prometido, Trevor viera conversar com Chad sobre o que vira na igreja. A última coisa que esperava era que Devon Santos abrisse a porta. Incapaz de controlar a sua reação, Trevor instantaneamente levantou o punho e bateu no nariz do jaguar... com força.

Devon recuou alguns passos e limpou o sangue do nariz. Olhou para Trevor, arreganhando os dentes. Antes que Trevor se pudesse mover, Devon derrubou-o para fora da porta e em direção ao jardim da frente.

As suas roupas rasgaram e caíram quando os dois mudaram para as suas formas animais. Devon circulou em volta do Kodiak e lançou-se com um grito alto de jaguar. Trevor rugiu e levantou-se sobre as patas traseiras enquanto tentava agarrar o jaguar preso às suas costas.

Lá dentro, Chad e Envy ouviram o rugido de Devon e correram pela casa até à porta da frente. Congelaram quando viram Devon a lutar com um urso enorme no seu quintal. O polícia ficou instantaneamente grato por não viverem a pouca distância de vizinhos.

Chad ligou o seu interruptor mental, desligando todas as emoções. Era algo que fazia clique dentro de si que sempre o deixava completamente calmo e frio... mesmo no meio de um tiroteio. Chegando ao coldre no quadril direito, Chad puxou a pistola e atirou uma vez para o ar, tentando chamar a atenção deles. Franziu o cenho quando aquilo nem sequer os perturbou e levou um soco no braço esquerdo.

"Avisa quando fores disparar essa coisa!" Envy exclamou enquanto segurava a mão sobre a orelha direita e se encolhia com o barulho alto.

Zachary afastou-se do carro com um suspiro enorme e olhou para as duas crianças a brigar. Uma vez mais, as cabeças mais frias teriam que intervir. Sorriu para a sua piada interna porque ninguém jamais usaria a palavra calmo para descrevê-lo. Levantando a mão à sua frente, disparou uma onda de calor em direção aos dois transmorfos, fazendo-os pular para trás quando uma única corrente de fogo correu pelo quintal, separando-os.

"Se não quiserem o vosso pelo chamuscado, é melhor transformarem-se em homens e fingirem ter um pouco de bom senso," alertou Zackary quando outra chama começou a crescer na sua mão estendida. "Vão agir como adultos ou crianças? Porque isso não faz nenhuma diferença para mim." Ele sorriu friamente quando a chama aumentou e se inclinou em direção ao alvo.

Sabendo que Zackary o faria, Trevor voltou a mudar de forma e olhou através das chamas para o seu oponente. Só de olhar para o homem que lhe roubara Envy, a sua pressão arterial ficou tão alta que precisou concentrar-se só para manter a forma humana.

Devon voltou a transformar-se, mas manteve a sua postura de luta, não confiando em Trevor, já que ele poderia atacá-lo. Ficou momentaneamente distraído ao ouvir o alto “Santo Deus” de Chad e rapidamente olhou para os irmãos. Vendo Envy de olhos arregalados para Trevor... que agora estava nu, Devon rosnou profundamente querendo a sua atenção de volta aonde pertencia... em si.

Envy esfregou a têmpora agora que os dois homens estavam nus, felizmente apenas com ferimentos leves. Devon mostrara-lhe o quão rápido podem os lobisomens curar-se, então ela sabia que com eles nada era tão mau quanto parecia. O seu olhar viajou por Trevor, ainda chocado por ela estar a namorar um urso maldito há tanto tempo e não saber disso.

Trevor sorriu ao apreciar que o rosnado de Devon indicava ciúmes... serviu bem a carapuça ao jaguar.

Chad pestanejou, imaginando quem lhe havia dado o ácido. Normalmente o mais calmo em más situações, ele inspirou profundamente e então afastou-se da porta para ficar à mesma altura. “Esta casa é minha, por isso jogamos de acordo com as minhas regras. A Envy vai ficar aqui comigo, e todos os que não são humanos vão embora.” Ele tentou fechar a porta, mas Envy impediu-o.

“Não sem a minha companheira,” Devon rosnou a tentar livrar-se do efeito de eco que recebia. Droga, quem diria que Trevor era tão forte? O conhecimento não lhe caiu bem.

“Veste-te,” Envy franziu a testa e lançou os seus olhos curiosos para Zackary. Parecia que ele e Trevor poderiam ser irmãos, a sua cor era tão semelhante. A única verdadeira diferença era que Zackary tinha cabelo curto e era um pouco mais alto. "Ok, eu sei o que eles são..., mas e tu?"

Zackary curvou-se elegantemente. “Podes chamar-me apenas de guardião,” ele sorriu quando as chamas se apagaram. “Um guardião de humanos e criaturas paranormais,” endireitou-se e olhou para Trevor. "Não lhe disseste?"

“Não, não disse,” Envy lançou a Trevor um merecido olhar feio, em seguida, voltou a sua atenção para Zackary. "Guardião? O que isso significa exatamente? Tu e o Trevor são irmãos?" Ela não pôde deixar de perguntar.

“Significa que protegemos os dois lados um do outro,” Trevor respondeu e acrescentou: “E não. No que diz respeito à família, não tenho nenhuma.”

"Ah, agora estás cheio de informações," resmungou Envy.

“Tentei dizer-te,” Trevor relembrou-a enquanto vestia o par de calças extras que Zachary acabara de lhe atirar. "Não tenho culpa que não tenhas escutado."

Os lábios de Envy separaram-se para repreendê-lo, mas parou... lembrando-se com culpa da última noite que realmente vira Trevor. Ele disse-lhe ter algo a ver com a CIA, mas ela não acreditou nele. Até o atacou por pensar que era burra o suficiente para cair numa mentira tão idiota. Mas, novamente, como esperava ele que ela acreditasse em si quando ele dançava provocativamente com outras mulheres?

O outro lado disso era... ele ter-lhe dito que era um disfarce para o seu trabalho. Envy franziu a testa para a dor de cabeça que começava a formar-se e decidiu que Trevor era mais idiota do que ela originalmente pensava que era por fazê-la pensar sobre isso.

Chad olhou para o jaguar antes de entrar. Ele saiu alguns segundos depois com um par de calças de ganga e atirou-as a Devon.

"Não precisamos da tua ajuda," declarou Devon enquanto fechava o zíper das calças, em seguida, foi até Envy e deslizou um braço ciumento em volta da sua cintura.

"Ai é? Salvei a tua irmã enquanto estavas ocupado a roubar a minha namorada," Trevor retaliou antes de direcionar o seu olhar aceso de volta para Envy.

Envy ergueu os olhos e fixou-os nos de prata azulada de Trevor. Ainda podia ver a dor neles e isso fez o seu coração apertar desconfortavelmente. Ela não o odiava de todo. Na verdade, ainda amava Trevor..., mas não como amava Devon. Os seus lábios se separaram para tentar explicar, mas Devon interrompeu-a.

"O que vieste aqui fazer? Seguiste-nos?” Devon perguntou, não gostando do facto de Trevor continuar a colocar Envy na berlinda. Ela fez a sua escolha e Trevor precisava aceitar esse pequeno facto antes que isso o ferisse.

“Na verdade, ele veio aqui para me ver,” Chad disse o mais calmamente possível. Virando-se para a irmã, pegou na sua mão e puxou-a gentilmente enquanto olhava por cima do ombro para Devon. "Se não te importas, gostaria de ter um minuto em particular."

Quando Devon a soltou, Chad puxou-a para dentro da porta e fechou-a. Teve mesmo que se controlar para não trancar o ferrolho. Além disso, depois do que acabara de ver no quintal, não era como se uma fechadura de ferrolho adiantasse.

"Tens a certeza de que não queres cá ficar por mais uma noite? Pela minha sanidade?" Ele implorou, mesmo sabendo que perdera o controlo da vida dela há algum tempo.

Envy colocou os braços à volta do irmão e deu-lhe um abraço mais que merecido, depois deu um passo para trás para olhar para ele. “Não posso. Tu viste o que aconteceu na igreja esta noite. Todos dispersaram, por isso o Warren está a tentar marcar uma reunião para de manhã.”

Ela olhou de volta para a porta quando outro pensamento a atingiu. “Além disso, ficar com eles é provavelmente o lugar mais seguro para se estar agora. Na verdade, vou ligar-te e dizer-te a que horas deves comparecer ao encontro e se é no Moon Dance ou no Night Light. Quero que me faças um favor. Traz o Trevor e o tipo da chama para a reunião, porque se o que ouvi for verdade... vamos precisar de toda a ajuda possível.”

"Vampiros?" Chad perguntou, entrando uma vez mais em modo policial, mesmo enquanto esfregava a nuca onde os pequenos e finos cabelos decidiram ficar permanentemente em pé.

Envy assentiu, franziu a testa e balançou a cabeça. "Vampiros sim, mas há um demónio à solta e..."

Chad estendeu a mão e agarrou-a pelos braços. “Um demónio? Ninguém disse nada sobre demónios!"

Envy inalou, em seguida, acenou com a cabeça, esperando que o que ela estava prestes a dizer o fizesse sentir-se melhor: “Sim, um demónio. A boa notícia é que temos dois anjos do nosso lado.” Deu-lhe um sorriso fraco, esperando que ele não desmaiasse.

"Anjos?" Chad deixou-a ir e apoiou-se pesadamente contra a parede, "Santo Deus."

"Exato," Envy assentiu, vendo-o correr os dedos pelo cabelo como se lutasse contra o desejo de arrancá-lo. “Agora lida tu com o Trevor. Fazes isso por mim? Traz ele e o Zackary à reunião de amanhã.” Mordeu o lábio inferior, não querendo fazer outra cena. "E, em troca, não levo as minhas coisas esta noite... se isso te fizer sentir melhor."

Chad acenou com a cabeça e deu um pequeno sorriso. "Combinado."

Ele abriu a porta para deixá-los sair, mas os dois pararam ao ver Zackary parado entre os dois homens com uma palma em chamas, apontada para os dois.

"Céus, estamos de saída," disse Envy e correu para fora da porta agarrando na mão de Devon enquanto fazia um caminho mais curto em direção ao seu carro.

Trevor começou a segui-la, mas Zackary interrompeu-o: “Espera aí, garanhão. Primeiro temos de lidar com o irmão.”

“Entremos e eu preparo um café para nós,” Chad ofereceu, seguido de um suspiro de agradecimento quando Trevor se voltou com raiva e marchou para dentro da sua casa como um homem em missão. Acenou com a cabeça enquanto Zackary seguia Trevor para dentro, depois fechou a porta perguntando-se em que diabos se havia metido.

Assim que a cafeteira começou a funcionar, Chad voltou-se para os seus dois convidados. Neste momento, tinha mais perguntas do que respostas e isso não ajudava em nada. “Agora, que história é essa da Envy dizer que há um demónio à solta? Ela também disse que o Warren convoca todos amanhã para uma reunião sobre o que aconteceu esta noite e ela quer-nos aos três lá."

Trevor não pôde evitar o pequeno sorriso que apareceu nos seus lábios. Então, a Envy queria-o envolvido... queria mantê-lo por perto. Não podia culpá-la. Ao ritmo que Devon a protegia, ela não podia sentir-se tão segura. Saber que ela precisava de si fez com que a maior parte da sua raiva persistente desaparecesse para segundo plano.

"Teríamos invadido aquela festinha de qualquer maneira." Ele olhou para Zackary, que confirmou a declaração. Sorriu novamente, percebendo que veria Envy em algumas horas. "Acho que está na hora de contar o que se passa."

Encolheu-se interiormente ao ver como usava a sua posição para se aproximar de Envy novamente. Também estava bem ciente de como isso pareceria para todos os outros. Devon presumiria que ele estaria a usar Envy novamente, mas isso estava bem longe de ser verdade. Então, uma vez mais, ele não estava numa de usar o irmão para se aproximar dela e fazer o seu trabalho em simultâneo. Devon teria apenas que aprender no amor e na guerra valia tudo... e que vença o melhor transmorfo.

“Sou todo ouvidos,” Chad resmungou e cruzou os braços sobre o peito para chamar a atenção de Trevor de onde quer que ele estivesse. Nunca se considerou um vidente, mas estava a fazer um ótimo trabalho ao ler Trevor naquele momento.

“Não sabemos muito sobre o demónio, apenas que esteve ali preso por vários séculos. A sua existência é anterior a tudo o que temos em arquivo no PIT, mas ainda estamos à procura de pistas,” Zackary começou por dizer e esperava que Trevor o acompanhasse.

"Então sabias que havia um demónio preso debaixo do cemitério sabe-se lá há quanto tempo e não fizeste nada em relação a isso?" Chad exigiu saber.

Trevor ergueu-lhe uma sobrancelha. “O que esperas que façamos? Ajudá-lo a soltar-se? Ele estava lá preso e nem sequer sabemos como diabos um caído e um vampiro foram capazes de quebrar o feitiço que o prendia."

"Caído?" Chad perguntou. "Queres dizer um dos anjos de quem a Envy me falou?"

Zachary acenou com a cabeça. “Sim, sabemos sobre eles há muito tempo. Sabemos que há outros, mas não conseguimos localizá-los e, ao que parece, os dois caídos que viviam na cidade nem sequer sabiam da existência do outro que estava preso na caverna até que um deles desceu até lá."

“Também temos alguém que sabe como lidar com os demónios,” Trevor ofereceu. "Com alguma sorte, ela será capaz de descobrir assim que a chamarmos."

“Ainda não é tarde para recuar,” disse Zachary a Chad. “Basta dizeres e nós limparemos a tua memória de tudo o que aconteceu.”

Chad franziu a testa e começou a servir café para os três. Fora polícia a vida toda porque queria fazer a diferença. Mais de uma vez, porém, sentiu que não fazia o suficiente. Sempre havia mais um traficante de droga, mais um assassino, mais uma infração de trânsito... simplesmente, às vezes, parecia não valer a pena. Mas o que Trevor e Zachary estavam a fazer, fazia diferença... o tipo de diferença que Chad sempre quis fazer.

Tomando um longo gole do seu café, ele pousou a chávena e acenou com a cabeça uma vez. "Contem comigo!"



*****



Angélica decidiu que os telefones eram piores que os demónios quando o dela começou a tocar às três da manhã. Olhando para o identificador de chamadas, estreitou os olhos e agarrou no recetor. Ligando-o, afastou o seu cabelo negro colocando-o atrás da orelha.

“A menos que o mundo esteja a desmoronar, os mares fiquem vermelhos, as sete pragas do Egito voltem ou estejas a morrer, é melhor que haja uma explicação muito boa para me acordares,” ela rosnou.

"Ah, vá lá, amor... isso são maneiras de falar com o teu ursinho Zachy?"

Angelica desligou e jogou a cabeça no travesseiro. Acabara de voltar a dormir quando o telefone tocou novamente. Sem olhar, atendeu e voltou a falar.

"Vou-te apanhar, Zachary," murmurou ela. "A ti e ao teu cachorrinho."

"Santo Deus, retrospetivas do Feiticeiro de Oz," Zachary engasgou-se e Angélica sorriu secretamente das suas palhaçadas, feliz por ele não poder vê-la.

"O que queres?" Ela sentou-se, tirando o cabelo do rosto.

"Apanhámos-te um super desagradável chamado Misery," Zachary ofereceu.

Angelica saiu da cama e acendeu a lâmpada. "O quão desagradável?"

"Não tenho a certeza, mas acho que de nível sete." Ele sorriu para o telefone sabendo que isso chamaria a atenção dela... e ele adorava chamar a atenção do Boo.

Angelica foi para a sala e ligou o computador portátil. Digitou algumas coisas e franziu a testa.

“Nível sete? Tens a certeza?" Perguntou. Qualquer coisa acima do nível cinco era muito perigoso e extremamente raro.

“É só um palpite,” respondeu Zachary. “Foi capaz de prender um dos dois caídos que andamos a seguir e, aparentemente, havia outro caído lá com ele há muito tempo. Como são considerados de nível sete, assumo que qualquer coisa poderosa o suficiente para prender um seja igual.”

Angelica procurava no seu banco de dados. Mais de três quartos foram obtidos ilegalmente nos cofres do Vaticano, mas ninguém poderia contestar os seus resultados. O facto de um demónio de nível sete ter sido descoberto em Los Angeles era razão mais do que suficiente para acordar não só a ela, mas ao resto da equipa do PIT.

Cada demónio fora colocado numa categoria de um a dez, sendo o nível dez equivalente ao próprio Satanás. Ela odiaria encontrar qualquer um que possuísse magia suficiente para selar um demónio de nível sete... seria preciso o trovão de Deus para retirá-lo.

“Não encontro nada sobre um demónio chamado Misery na área de Los Angeles,” ela disse após uns minutos. “Deixa-me conectar o meu disco externo e dar uma vista de olhos nesses arquivos.”

Ouviu Zachary a falar com alguém ao fundo e percebeu que era Trevor até que ouviu outra voz entrar na conversa.

"Com quem estás a falar?" Ela perguntou curiosamente.

“Com o mais novo membro da nossa equipa, o Chad,” Zachary respondeu. “É um polícia local que sabe demasiado, por isso trouxemo-lo para proteger as massas, e por massas quero dizer os outros idiotas com quem ele trabalha.”

Angélica sorriu. "Eles devem ser piores lá fora."

"Não muito," disse Zachary.

"Ok," disse Angélica. “Já está conectado, vamos lá dar uma vista de olhos e ver tudo o que tenho aqui.”

"Quer dizer que não sabes?" Zachary perguntou surpreso.

Angélica suspirou: “Já sabes como eu sou. Esquecer-me-ia da cabeça se não estivesse ligada ao corpo. Só tive oportunidade de explorar uma fração desta coisa.”

"Pois, transferiste à pressa." Zachary disse e suspirou. "Bons tempos."

Angélica acedeu ao disco rígido, digitou uma palavra no prompt de pesquisa e pressionou enter.

"Presumo que não te tens portado bem." Angélica disse, recostando-se no sofá enquanto o computador fazia o seu trabalho.

"Nem pensar," Zachary riu. "Não me podes levar a lado nenhum, lembraste?"

Angélica estremeceu ao lembrar-se de uns meses atrás, quando foram a uma grande festa de gala enquanto perseguiam um lobisomem de quatro anos que se perdera e que não estava muito feliz com isso. Ao fim da noite, Zachary perdera as calças porque o lobisomem se transformou durante o acesso de raiva de uma criança e rasgou-as em pedaços.

A parte mais engraçada é que Zackary não disse nada, apenas tirou as calças e desfilou de cuecas, smoking e camisa. Angélica não conseguia decidir se ficava envergonhada ou se ria loucamente. Ver as suas pernas com meias até ao joelho e sapatos sociais quase a matou quando várias das jovens se aglomeraram em torno dele, querendo dançar.

O seu portátil apitou e ela sentou-se para ver o que a pesquisa havia encontrado.

“Encontraste alguma coisa?” Perguntou Zachary.

Angélica abriu alguns dos arquivos que continham a palavra Misery e começou a ler. O seu cigarro escorregou dos seus dedos enquanto lia e aterrou no seu pé.

"Ai, merda!" Ela praguejou e apanhou o cigarro, apagando-o rapidamente.

"Está tudo bem?" Zackary franziu a testa, preocupado e ergueu a mão quando Trevor quis saber o que estava a acontecer.

Angélica leu novamente as informações para ter a certeza. “Vou apanhar o próximo voo,” informou-o antes de afastar o telefone da orelha. Desligou após as perguntas de Zachary e olhou para o ecrã. Não foi o que ela leu que lhe assegurou que isto era perigoso... foi o facto de o chefe do PIT, de alguma forma, a ter bloqueado do arquivo.

Se Storm andava a guardar segredos... então ela queria saber o porquê.




Capítulo 2


Anthony caminhava incansavelmente pelo chão de mármore do seu escritório. Passou a mão pelo seu cabelo escuro em frustração e raiva. Sabia que perdera a paciência quando matou Arthur e agora também perdera a sua vantagem para vincular Jewel a si como sua companheira... não que isso fosse travá-lo.

Pretendia que a situação permanecesse calma..., mas quando Arthur mencionou o pai de Anthony, a sua parte lobisomem se perdeu. Agora seria forçado a usar um tipo diferente de coerção na sua noiva em fuga. O único problema era que ele tinha que encontrá-la primeiro.

Alguém bateu à porta e Anthony parou de andar, tempo suficiente para endireitar o cabelo e as roupas. Era o alfa, e com isso vinha uma certa medida de compostura.

“Entre,” gritou com uma voz fria.

A porta abriu-se e um dos seus lobos entrou, fechando a porta atrás de si.

"O que descobriste?" Anthony perguntou.

O membro da matilha parecia muito nervoso e pigarreou. “Fiquei para trás como você mandou para ver se o padre voltava para a igreja. Não demorou muito até que o inferno desabasse na igreja e no cemitério atrás dela. As pessoas começaram a aparecer da direita e da esquerda, a maioria delas vindas do nada.” Fez uma pausa e engoliu em seco antes de acrescentar: "Foi quando percebi que a Jewel estava com eles."

"Então onde é que ela está?" Anthony exigiu saber enquanto diminuía a distância entre eles com passos rápidos. "Porque não a trouxeste contigo?"

O lobo recuou com pânico nos olhos, sabendo que trazer más notícias ao seu alfa nunca era uma coisa boa. “Não consegui,” estremeceu.

A mão de Anthony disparou abruptamente e agarrou o subordinado pela garganta, levantando-o no ar. "És um lobisomem. Porque não a apanhaste?"

“Ela estava rodeada de lobisomens... muitos deles,” o lobo explicou, levantando as mãos para tentar aliviar um pouco a pressão em torno da sua garganta.

A mão de Anthony reforçou o aperto e os seus olhos mudaram para uma estranha cor dourada. O seu irmão finalmente voltara de Itália, disso ele tinha a certeza. “Ensinei-te ou não te ensinei como lutar contra outro bando por conta própria? O meu irmão não deveria ser pária para ti." Era mentira. O lobo estaria morto numa vala em algum lugar se tivesse ousado lutar contra Andreas Valachi.

“Nãoooooo eram loooobosssss,” o lobo murmurou enquanto tentava respirar.

Anthony voltou a sua atenção para o homem que estrangulava e afastou a mão, vendo que quase o matara. "Quem foi?" Exigiu saber com uma fúria mal suprimida a amarrar a sua voz.

O lobo estava deitado no chão a tentar recuperar o fôlego. Rastejou de joelhos e mãos antes de deixar cair a testa no chão frio de mármore. Pôs a nuca à mostra em submissão ao seu líder, desejando ter fugido quando teve oportunidade.

"Gatos... Senti o cheiro de gatos,” disse ele após alguns segundos, “pumas e jaguares... muitos deles.” Ergueu a cabeça e viu os olhos de Anthony se estreitarem ameaçadoramente. Rapidamente acrescentou: “Havia um puma na sombra dela a cada passo que ela dava. O lugar também estava cheio de vampiros. Parte da igreja explodiu, depois apareceu um carro da polícia.”

Anthony ficou ali a tentar controlar a sua crescente fúria. No entanto, quanto mais ali ficava, mais furioso se tornava. O seu plano para recuperar a sua companheira fugitiva fora mal sucedido repetidamente pelas suas próprias ações ou pelas ações dos seus subordinados ignorantes.

Fez sinal aos seus guardas pessoais mais próximos. "Levem-no para a cave onde ele pode fervilhar no seu fracasso."

O lobo pôs-se de joelhos com uma expressão suplicante no rosto. Ouvira histórias sobre a cave e o que ela continha. Alguns dos lobisomens que sobreviveram à tortura ainda tinham as cicatrizes nos seus corpos para mostrar. Choramingou lamentavelmente quando os seus braços foram agarrados pelos guardas e foi colocado de pé.

Os guardas não olharam para o seu rosto nem disseram nada reconfortante ou depreciativo. Se pudessem, tê-lo-iam deixado fugir. Para eles, a Srta. Jewel tinha todos os motivos para fugir do seu Alfa. Ela estava infeliz e, apesar das melhores tentativas de Anthony, nunca o amaria. Viver assim, a prosperar com a desgraça alheia não fazia parte dos lobisomens… mas sim da Máfia.

A dada altura, foram eles que protegeram a humanidade do mal que ameaçava dominar o mundo. Agora, à exceção de algumas tribos localizadas nos Estados Unidos e no exterior, eles é que eram o mal. Não era de admirar que os humanos fizessem filmes a retratá-los como cães raivosos empenhados em causar morte e destruição.

Anthony seguiu os seus guardas até à cave e sorriu quando o jovem lobisomem choramingou baixinho. A cave da mansão fora convertida numa grande câmara de tortura subterrânea que cobria vários milhares de metros quadrados. Havia correntes penduradas na parede oposta com algemas presas a ela para manter uma pessoa em pé contra a pedra fria.

À direita havia uma mesa coberta com chicotes de vários tamanhos. Também um caldeirão onde o fogo ardia com alguns ferros a sair dele, usados para marcar, que Anthony raramente usava. Finalmente, na parede em frente, havia uma fileira de celas que abrigava alguns ocupantes.

Alguns lobisomens moveram-se entre as sombras preparando mais equipamento para um convidado especial que Anthony teve a sorte de apanhar há algumas semanas. Pararam e observaram com curiosidade quando o seu alfa entrou na câmara com os seus guardas e um novo lobo para disciplinar.

Anthony recuou enquanto os seus guardas acorrentavam o lobo à parede e os afastava do caminho quando terminaram.

"O que deseja que façamos, Lord Anthony?" O lobisomem mais velho perguntou.

“Quero que tenham a certeza de que dão uma lição a este, Boris,” Anthony respondeu. “Ele falhou em trazer a minha noiva de volta e deve aprender que o fracasso não é tolerado.”

Boris olhou para o rapaz e suspirou interiormente. "É apenas um rapaz."

“Então ele aprenderá cedo,” a voz de Anthony carecia de emoção.

Boris ergueu uma mão com cicatrizes e acenou para dois dos outros lobisomens. Eles aproximaram-se e rasgaram as costas da camisa do jovem lobo. Boris ergueu um dos chicotes, um gato de nove caudas, e fê-lo estalar no ar. O lobo algemado encolheu-se, fazendo Anthony sorrir.

Boris posicionou-se a cerca de um metro e meio atrás do jovem e estalou o chicote para a frente. O jovem lobo gritou com o açoite do chicote nas suas costas. Os gritos continuaram enquanto Boris continuava a golpear a pele anteriormente sem marcas. Finalmente, ele parou e outro lobisomem avançou com uma grande tigela de sal. Mais gritos agonizantes se seguiram quando o sal foi jogado nas feridas a sangrar.

O jovem lobo caiu contra a parede acreditando que a tortura havia acabado, apenas para gritar novamente quando a surra recomeçou... só que desta vez, mais dois chicotes se juntaram a ela.

Anthony ergueu a mão direita para que pudesse ver melhor e franziu a testa quando viu que teria que cortar as unhas novamente. Dando de ombros, afastou-se da surra e aproximou-se da cela mais distante na outra extremidade da cave. Um sorriso apareceu no seu rosto quando as correntes pesadas chacoalharam.

O homem lá dentro estava de repente de pé a lutar contra as amarras para tentar alcançar Anthony.

O mau-humor de Anthony evaporou-se repentinamente ao ver o homem orgulhoso lá dentro. O seu sorriso cresceu quando pensou numa maneira de trazer Jewel de volta para os seus braços e para longe dos pumas com os quais ela procurara abrigo.

“Estou feliz por só te ter atingido uma vez, Micah... ainda me podes dar jeito."



*****



Tabatha olhou em volta para o apartamento que dividia com Kriss e estremeceu. Normalmente não se importava de ficar sozinha, mas por várias razões, esta noite estava a ser difícil. Olhava pela janela sempre que ouvia um barulho, pensando que Kriss havia voltado. Pensou estar bem quando Envy e Devon a deixaram em casa a caminho da casa de Chad, mas agora percebeu o quanto precisava da companhia.

Envy perguntara se ela queria ir com eles apenas no caso de Envy precisar de um esforço de equipa para lidar com o irmão. Mas Tabby pensou que Kriss talvez tivesse voltado logo para casa e queria perguntar-lhe o que aconteceu, por isso recusou... agora desejava não o ter feito.

Pensar em Kriss levou-a a pensar em Dean e em como ele agira na igreja. Ainda podia ver a expressão no seu rosto quando ele viu Kane.

Tabatha abanou a cabeça quando a imagem de Kane surgiu na sua mente numa tentativa vã de não pensar nele. Vê-lo ali deitado a morrer puxou algo do fundo do seu coração e alma. Ela não entendia o porquê, mas aquele pensamento dele a morrer fê-la querer enrolar-se numa bola.

“Controla-te,” sussurrou para quebrar o silêncio. “Precisas é de uma distração.”

Pegando no telefone, decidiu ligar para o trabalho de Jason para saber se acontecera algo incomum quando Kriss a levou de avião para a Flórida.

O telefone tocou três vezes antes de ser atendido.

“Reserva Florestal, fala o agente Fox,” uma voz sexy recitou.

"Olá Jason, é a Tabby." Ela sorriu pela primeira vez desde que entrou pela porta da frente.

"Tabby?" Jason gritou e ela ouviu algo tombar, provavelmente a cadeira, porque normalmente ele estava inclinado para trás num ângulo perigoso sobre as duas pernas da cadeira. "Onde é que te meteste?"

"O Kriss meio que me raptou a mim e à Envy e levou-nos para a Flórida por alguns dias." Tabby respondeu. “Acabei de chegar a casa e pensei em ligar e saber o que perdi.”

Jason suspirou. “Além das coisas estranhas normais, não perdeste muito. A única coisa empolgante que aconteceu foi na outra noite em que recebemos um telefonema para um trabalho incrível.”

Tabby sorriu e sentou-se no sofá. "Conta!"

“O Jacob e eu estávamos apenas sentados, era uma noite calma, e o telefone tocou. Eu atendi e um tipo falava sobre ter visto um jaguar a perseguir um puma pelo centro da cidade com um telemóvel preso a uma das pernas.”

Tabatha não conseguiu evitar e começou a rir. Se tivesse estado no lugar de Jason algumas semanas atrás, teria pensado a mesma coisa. "Merda!" Ela exclamou.

“A quem o dizes,” Jason disse com uma risada. "O Jacob e eu andamos a fazer apostas sobre se haverá ou não mensagens de texto quando eles encontrarem a criatura."

"Tens a certeza de que não andas a beber nenhuma das especialidades da Kat?" Ela perguntou em meio ao riso.

“Eu não bebo em serviço!" Jason exclamou e Tabatha ouviu a risada de Jacob ao fundo. "Então, quando voltas ao trabalho?"

Tabatha encolheu os ombros. “Ainda não sei. Preciso de mais alguns dias e tenho os dias de férias para gozar.”

“Fixe, nós sentimos a tua falta. Mas não é a mesma coisa não ter um rosto bonito para alegrar o lugar. Tudo o que tenho agora é o Jacob, e ele não tem muito que se veja.”

“Também senti a vossa falta,” Tabatha disse, e estava a falar a sério. “Estaremos juntos nos próximos dias.”

Jason ficou quieto por um momento e Tabatha instintivamente sabia o que estava por vir. “Como está a Envy?”

“Também está bem. Tal como eu, ela só precisava de alguns dias de distância.” Mordeu o lábio inferior quando houve vários segundos de silêncio.

"É verdade?" Jason perguntou.

"O que é verdade?" Tabatha indagou, tentando parecer à nora.

“A Envy está mesmo a namorar o Devon Santos?” Os nós dos dedos de Jason ficaram brancos quando ele agarrou no telefone com um pouco mais de força.

Tabatha suspirou, sabia que isto ia magoar muito Jason, mas até certo ponto a culpa era parcialmente dele. Alguém tão fofo como ele nunca deveria ficar tão preso a uma miúda que só pensava nele como o seu melhor amigo e irmão.

"Sim, é verdade." Tabatha disse suavemente. “Eu sei que ela não te queria magoar. Ela ama-te... sabes."

Jason exalou suavemente e Tabatha sentiu pena dele. Ele perseguira Envy por tanto tempo que ela foi a única rapariga para quem ele já olhou. Agora ela estava fora do seu alcance, mas Tabatha não lhe iria dizer isso. Esse era o trabalho de Envy.

“Eu sei que ela não me ama,” Jason disse depois de um minuto. "Acho que deveria ter percebido quando ela nem sequer se apercebeu que eu estava a flirtar com ela."

“Ela percebeu, Jason,” Tabatha disse. "Ela apenas pensou que isso iria prejudicar a vossa amizade."

Jason cantarolou: "Sim, provavelmente iria, mas não podes culpar um tipo por sonhar, certo?"

“Posso culpar-te por um monte de coisas,” Tabatha ouviu Jacob dizer ao fundo.

“Está calado,” Jason rosnou a brincar e Tabatha o ouviu bater as pernas da cadeira na posição certa. “Tabatha, ligo-te mais tarde. A criança aqui decidiu começar a jogar maços de papel contra mim.”

Tabatha riu e acenou com a cabeça. "Tudo bem, falo contigo mais tarde."

Ela desligou o telefone e deixou-se ficar por um momento antes de colocar o telefone de volta no carregador. Olhando novamente em volta do apartamento, agora já não parecia tão solitário. Jason precisaria da sua amizade agora mais do que nunca e, o facto de ser necessária, ajudava a fazê-la sentir-se mais estável.

Levantando-se e esticando os braços sobre a cabeça, ela caminhou pelo corredor até ao seu quarto. Despiu-se e vestiu uns calções masculinos e um top antes de afundar na maciez fria e familiar da sua cama.

Desta vez, não tentou impedir que a cena se desenrolasse na sua mente enquanto adormecia. Afinal, ela precisava decifrá-lo e aquilo não iria desaparecer até que ela o fizesse... então por que lutar contra isso? Ela mergulhou na escuridão do sono ainda a olhar para a igreja e nos olhos de Kane.



*****



Jewel caminhou pela extensão do quarto de Steven. Os seus braços estavam cruzados sobre o peito e ela começou a roer as unhas, algo que não fazia desde que era criança.

"A culpa disto é minha," disse ela suavemente, tentando afastar a imagem do seu pai crucificado acima do altar da mesma igreja que ele frequentou durante a maior parte da sua vida. Quantas vezes ele orou bem ali, por baixo de onde morreu? Ela sabia que Anthony era perverso, mas aquilo era sádico.

Steven viu a mulher a andar de um lado para o outro e até conseguiu ver os seus lábios moverem-se silenciosamente enquanto ela tagarelava na sua própria mente. Ele estendeu a mão e colocou-a no braço dela suavemente, na tentativa de acalmá-la. "Jewel, não tens culpa de nada."

Ela estreitou os olhos para a mão dele, em seguida, olhou para ele. “Tens uma certa razão. A culpa é tanto tua como minha. E agora que o Pai está morto, já não tenho que casar com o Anthony e definitivamente não preciso continuar casada contigo.”

Jewel afastou-se dele para que a mão dele caísse. A última coisa que precisava agora era ser absolvida dos seus pecados... ela era completamente culpada. Dera a Anthony os pregos para crucificar o seu próprio pai.

Steven não iria admitir, mas as palavras dela o feriram profundamente. Ele respondeu da única maneira que sabia neste momento, já que ela obviamente não queria ouvir palavras de incentivo ou gentileza.

"Achas honestamente que o Anthony vai parar de vir atrás de ti só por matar o teu pai?" Steven gritou. Ele sabia que tinha razão e que ela não iria ouvir uma maldita palavra sobre isso.

“Ele matou o meu pai... eu dançava com o diabo porque queria o meu pai em segurança e vivo. Se o Anthony se atrever a chegar perto de mim agora, eu estouro-lhe os malditos miolos." Jewel sentiu-se tão estranha. Era como se estivesse perfeitamente calma por fora, mas agitada como uma louca por dentro.

Chorou durante horas, mas a raiva finalmente acalmou-a. Já derramara lágrimas suficientes. Agora estava na hora de retomar a sua vida. Arranjou um plano para armar uma armadilha a Anthony e rezou para que Steven estivesse certo... que Anthony viesse atrás dela, porque ela estaria pronta para ele.

“Não te posso deixar ir,” Steven informou. Se ela não ia proteger-se, então como seu companheiro... ele teria que fazer isso por ela. Ele observou os seus olhos avermelhados virarem e se fixarem nos dele.

“Então não és melhor que o Anthony e irei odiar-te para o resto da minha vida,” ela disse teimosamente. Ela queria que Steven ficasse zangado com ela, que a expulsasse e a deixasse de vez. Se ele fizesse isso... então talvez Anthony não o matasse da mesma forma que matou o seu pai. Não queria ser culpada por mais nenhuma morte horrível, a menos que fosse a de Anthony... ficaria feliz em assumir a culpa pela dele.

Steven olhou para ela por um minuto, em seguida, abriu a porta e afastou-se. "Vai em frente, então. Estou a oferecer-me para salvar o teu coiro e queres ir toda animada? Vai em frente e vamos ver o quão longe chegas contra algo que não fazes a menor ideia de como matar.” Steven sorriu maliciosamente para ela. "Só para que saibas, os filmes não são nada além de um monte de tretas."

"Presumo que deverias saber!" Jewel gritou de volta e deu alguns passos em frente. Porque ele ainda tentava salvá-la? Não percebeu que ela só iria fazer com fosse morto?

Steven fechou os olhos e desviou o olhar. "Sim, eu saberia... não saberia?" Ele zombou, depois olhou para trás enquanto Jewel tentava passar por ele. Em pânico, Steven agarrou-a pela cintura e puxou-a para mais perto. "Droga, espera!" Concedeu.

Jewel começou a contorcer-se contra ele, então ele puxou-a com mais força contra o seu peito. “Se queres tramá-lo, tudo bem, mas não podes fazê-lo sozinha. Deixa-nos ajudar-te."

Jewel empurrou o seu peito inclinando-se para trás para que pudesse olhar para ele. "Para quê? Para que vocês também possam ser pendurados numa cruz?” Ela queria gritar quando a visão tomou conta da sua mente. "Não quero que isso aconteça."

Ela não tinha a certeza do que sentia por Steven, mas o pensamento dele a morrer assim fazia-a sentir-se como se tivesse sido apunhalada no peito. "Se me deixares ir agora, ele não terá razão para vir atrás de ti." Ela agarrou a frente da camisa dele com as suas mãos pequenas. "Estarás em segurança... e vivo."

“Ele virá atrás de mim de qualquer maneira,” Steven informou-a, em seguida, traçou o dedo sobre a marca de acasalamento que deu a ela. Sorriu gentilmente quando a sentiu estremecer ao seu toque. “Como eu disse, esta é a vida real. Se voltares para ele e ele vir a marca de acasalamento, ele virá atrás de mim, independentemente do que tu digas ou faças.”

Jewel encostou-se ao calor sólido que ele oferecia e fechou os olhos. Sentiu a sua raiva esmorecer na segurança dos seus braços e quis bater o pé em frustração. A tristeza de perder o seu pai começava a instalar-se novamente, mas ela não iria chorar.

Steven envolveu Jewel num abraço reconfortante. Não podia culpá-la pela maneira como ela agia. Se Anthony tivesse acabado de matar o seu pai, nenhuma força neste mundo ou no próximo seria capaz de detê-lo.

"Olha, o que me dizes a isto?” Ele perguntou afastando-se um pouco dela e inclinando o seu rosto para si. “Teremos uma reunião pela manhã e todos estarão presentes. Vamos ajudar-te a pensar em algo melhor do que simplesmente entregares-te a ele. De qualquer forma, connosco, terás um exército ao teu lado. Sem nós, enfrentarás um exército de lobisomens e não importa o que faças... serás do Anthony.” Ele acariciou a bochecha dela, enquanto procurava os seus olhos. "E eu não quero que sejas do Anthony."

Jewel baixou a cabeça de volta para o peito de Steven e respirou fundo, estremecendo. Ele tinha razão. Ela não queria ficar perto daquele monstro depois do que ele fez. Pressionou o ouvido contra o peito de Steven, ouvindo o seu batimento cardíaco forte e constante. Quantas vezes ele a salvou de vampiros, de Anthony, e agora da sua própria estupidez?

"Vais abraçar-me esta noite?" Jewel sussurrou sabendo que se ele a soltasse, o horror das últimas horas voltaria para assombrá-la. Ela olhou para ele e fixou o seu olhar no dele. Os seus lábios se separaram maravilhados quando uma onda de calor desceu pelo centro do seu corpo.

Como poderia ele acalmar a sua raiva e fazê-la sentir-se como se estivesse a pegar fogo ao mesmo tempo? Ela rapidamente desviou o olhar, não querendo que ele percebesse a sua confusão.

Sem responder, Steven ergueu-a nos seus braços, fechou a porta com o pé e passeou pelo quarto, colocando-a na beira da cama. Tirando os sapatos dela, ele rapidamente se livrou dos seus e deitou-se com ela. Ouviu a inspiração rápida de Jewel enquanto a puxava contra si para que pudesse envolver o seu corpo à volta dela. Ainda levaria tempo... mas estaria condenado se deixasse Jewel ir embora tão facilmente.




Capítulo 3


Kriss entrou no apartamento que dividia com Tabatha e trancou a porta atrás de si. Procurou por Dean de cima a baixo e não encontrou nenhum vestígio dele ou do demónio que ele perseguia.

Uma coisa sobre a sua espécie é que se eles se quisessem esconder, sabiam como desaparecer e sem deixar rasto de onde estavam. Conseguiu sentir o demónio em todos os lugares, embora nunca o tivesse visto. Não até que foi libertado e percebeu que sempre foi capaz de sentir a sua presença. Ainda podia sentir a intenção maliciosa daquela personalidade sombria, mesmo dentro da sua casa… aquilo não lhe caiu bem.

Caminhando pelo apartamento escuro, Kriss voltou para o quarto de Tabatha e sorriu ao ver o seu rosto inocente adormecido na cama. Ela estava enrolada como um gatinho em torno do seu animal de pelúcia favorito... um cão Yorkie com a língua de fora. O bicho de pelúcia era o único resquício da sua infância que ela tinha. Há alguns anos, ela finalmente desistiu e contou-lhe a história de Scrappy e como o cachorro havia desaparecido quando ela foi de férias com os pais pela última vez.

Kriss suspirou e deitou-se na cama ao lado dela, enrolando-se em torno dela como um cobertor de segurança. Assim que o fez, Tabatha aconchegou-se contra ele.

"Encontraste o Dean?" Ela perguntou suavemente.



*****



Kane conseguiu escapar; feliz por Warren ter chamado a atenção de Michael por tempo suficiente para ele fazer isso. O que quer que Michael e Dean tenham feito para consertar o que Misery fez com ele, havia-lhe dado a maior adrenalina. Agora estava impaciente e não iria trabalhar nisso sentado no escritório de Warren, relembrando o demónio sugador de almas que com certeza lhe daria alguns valentes sustos nos seus pesadelos por um tempo.

Olhou para a esmagadora escuridão no céu e soube que os primeiros raios do amanhecer não estavam longe. Querendo afastar-se do coração da cidade, ele movia-se pelas ruas tão rápido que se alguém estivesse a olhar, não o teria notado entre eles. O lado negativo disso era que ele agora estava a quilómetros da casa de Michael.

Queria ver Scrappy e aninhar-se com o cão no sofá com uma boa garrafa de vinho, uma tigela de pipocas absurdamente grande e... um filme de tragédia? Kane abanou a cabeça... em que diabos estava a pensar? Muito provavelmente, Scrappy escolheria o filme, o que poderia ou não ser uma coisa má neste momento. Ambos gostavam de filmes onde os animais podiam falar.

Kane diminuiu a velocidade e olhou ao seu redor quando percebeu que algo o havia atraído nessa direção. A princípio pensou ter sido Misery quem o havia trazido até aqui. Balançou a cabeça novamente e descartou a ideia quando a imagem de Tabatha na igreja passou pela sua mente. Podia sentir a sua presença e, pela primeira vez em toda a noite, Kane esqueceu-se dos monstros a fornicar debaixo da cama e a ter relações sexuais no armário.

Tabatha era a sua alma gémea e, agora que ele tomou o seu sangue, isso apenas amplificara a conexão. A única razão pela qual não notara na semana passada foi por causa do caído... Kriss... a levara para tão longe dele, sacana mesquinho. Ele começava a perguntar-se se sofria de ansiedade de separação.

Movendo-se por esta parte da cidade, viu-se na casa dela em poucos minutos. Aterrando silenciosamente no telhado da casa de um vizinho, acomodou-se para observá-la pela janela do quarto. A sua visão aguçada viu a forma como o cabelo dela caia sobre a almofada e como os seus lábios estavam ligeiramente separados enquanto ela respirava profundamente. Ele nunca conhecera tanta paz como agora… só de a ver dormir.

Kane perguntou-se como seria através dos olhos dela. Parecer-se-ia com os outros monstros que ela encontrou ou sonhou? Será que ela sequer percebeu o quão profundas foram as emoções dele por ela?

Quase se ergueu da sua posição agachada no telhado, pronto para ir ter com ela quando a ouviu gritar na sua mente. O som viera dos sonhos dela, mas o som mental fê-lo parar, lembrando-o de como ela gritou enquanto criança há tantos anos. Até agora, tudo o que ele fez foi causar-lhe dor... fazer com que ela sangrasse por ele.

Kane virou-se para ir embora quando viu a porta do quarto de Tabatha abrir-se. Os seus músculos ficaram tensos, prontos para atacar o intruso quando viu o anjo caído, Kriss, entrar no quarto de Tabatha e rastejar para a cama com ela. Kane poderia dizer que o caído estava chateado, mas sentiu a raiva crescer dentro de si quando Kriss colocou o braço em volta dela, abraçando-a como um amante.

Sentiu a sua paz estilhaçar-se e mais raiva tomar conta de si enquanto os observava. Concentrando-se bastante, a sua audição aprimorada começou a captar a conversa sussurrada. Franziu a testa por um momento ao perceber que o seu poder estava mais forte do que antes. Ficou surpreso e a sua carranca se aprofundou quando ouviu os batimentos cardíacos dela, mesmo a esta distância.

“O Dean não quer que eu o encontre,” Kriss suspirou, questionando-se se era o demónio que Dean perseguia ou se era o caído que estava lá em baixo com ele. Desejou que Dean tivesse esperado. Havia algo na aura do outro caído que Kriss não confiava completamente. Ele esperava secretamente que Dean falhasse na sua busca por qualquer um deles.

"Pergunto-me o que aconteceu," Tabby sussurrou. "Pelo que a Envy e o Devon disseram, o Dean ficou lá preso a maior parte do dia." Ela não podia deixar de imaginar Kane, sabendo que ele também lá esteve com o demónio e quase não sobreviveu.

“Perguntar-lhe-ei assim que o encontrar,” respondeu Kriss, incapaz de esconder a preocupação na sua voz.

"O Dean ama-te... ele não vai ficar longe por muito tempo." Tabatha fechou os olhos, esperando pelo bem de Kriss que estivesse certa.

"Agora dorme," Kriss sussurrou de volta, esperando que ela estivesse certa sobre Dean voltar em breve. Ele não viu a aparência do outro caído porque ele movera-se muito depressa, mas sentiu-o por um momento antes que a aura do demónio o dominasse. Se só aquela sensação passageira o assombrava, então ele poderia imaginar o que Dean estava a passar.

Os caídos eram tão raros que perdiam o fôlego quando estavam perto um do outro. A maioria pensava ser os anjos caídos da lenda que foram lançados à terra para ajudar a protegê-la..., mas as lendas são geralmente apenas meias verdades moldadas pelas palavras de homens que desejam um herói ou às vezes um inimigo.

Os caídos vieram para a terra de outra dimensão... a mesma que os demónios. As lendas chamavam essa dimensão de Céu, mas estavam erradas.

Os mitos diziam que eles destroem os demónios... mais uma vez, era apenas uma meia verdade. A Bíblia dizia que os caídos haviam acasalado com as belas mulheres da terra e que foram punidos por isso... e isso foi o mais próximo da verdade que os profetas já chegaram.

A razão pela qual os caídos restantes evitavam o acasalamento com as fêmeas da terra... era porque o produto desses acasalamentos era o nascimento de demónios. Foram os caídos que criaram os demónios.

Quando os primeiros caídos apareceram, havia muitos, mas quando os demónios nasceram e começaram a destruir o que os caídos amavam, eles voltaram-se contra os seus próprios filhos e lutaram. Os números em ambos os lados haviam diminuído e o selo entre as dimensões estava a fechar lentamente.

Alguns dos caídos originais haviam desaparecido, pensava-se que haviam perdido as suas vidas para os demónios que geraram. A maioria dos sobreviventes escolheu voltar para casa para que não fossem tentados pela sedução das fêmeas humanas. Foram esses poucos que enviaram os jovens guerreiros de volta a este mundo para vigiá-lo… para proteger os humanos dos monstros.

Havia apenas uma regra... não podiam acasalar com as fêmeas deste mundo para que não os matassem. Foi colocado um filho da raça verdadeira em cada ponto de energia da terra e apenas alguns deles sobreviveram por tanto tempo. As lendas diziam que eles eram imortais... as lendas estavam erradas.

Os caídos não eram imortais, apenas viviam por longos períodos... milénios se aproximariam da sua expetativa de vida. Também podiam ser mortos pelos humanos e demónios... embora para um humano ter sucesso seria extremamente difícil.

Syn conhecia as verdadeiras lendas e passou-as aos seus 'filhos'. Lembrando-se dessas lições, Kane agora entendia o quanto Kriss amava Tabatha... o suficiente para não a tomar como companheira... e o suficiente para não permitir que alguém que ele pensava que não passava de um demónio a possuísse. Parecia que ele não era o único com segredos obscuros. O canto dos lábios de Kane sugeriu um sorriso conhecedor quando se virou e foi embora.



*****



Envy e Devon esperavam no bar quando as primeiras pessoas começaram a chegar para a reunião. Ela e Kat estavam ocupadas a conversar e a tentar terminar de pôr em dia tudo o que aconteceu, enquanto Devon e Quinn apenas se afastaram e olharam para elas com uma sobrancelha arqueada.

“Que língua estão elas outra vez a falar?” Devon perguntou.

"Não há um nome para isso," afirmou Quinn. “É um ritual em que as mulheres participam regularmente. Começa de forma inocente, então, antes que percebamos, elas estão a fazer compras e nós estamos presos do lado de fora dos vestiários a segurar nas suas bolsas.”

“Também ficas a segurar-lhe na bolsa enquanto ela entra em lojas femininas e compra lingerie que não tens permissão para ver até ao vosso aniversário,” Nick interrompeu com um sorriso.

Warren pôs a mão no ombro de Nick. "Confia em mim, irmão, ficarás feliz em segurar nessas malas quando chegar a hora."

Um par de braços envolveu o pescoço de Warren por trás e o rosto de Michael apareceu entre eles. "Isso significa que me levas às compras?"

"Claro," disse Warren com um sorriso. "Vou-te levar àquela loja de bondage que tanto gostas."

A expressão de Michael tornou-se sonhadora. "Oh sim, chicotes, correntes, estribos, chibatas... couro."

"Mas que..." Nick de repente se levantou e afastou-se deles fazendo Devon bufar.

"Homofóbico," Devon murmurou.

"Cala-te!" Nick rosnou: "Ou eles mentem muito bem, ou é perturbadoramente verdade."

A porta abriu-se e Steven entrou com Alicia e Jewel. Alicia vasculhou o armário e encontrou um lindo vestido de verão roxo para Jewel vestir até que conseguisse arranjar mais algumas roupas. Felizmente, ambas tinham quase o mesmo tamanho e altura, por isso Jewel seria capaz de se conformar por agora. Alicia também disse a Steven que até que ele conseguisse arranjar mais roupas a Jewel, que Jewel seria bem-vinda a vasculhar o seu armário o quanto quisesse.

Steven imediatamente avançou até onde Quinn e Devon estavam sentados com Nick numa mesa em frente à área do bar de Kat.

"Não estamos atrasados, pelo que vejo." Steven disse a sorrir por dentro quando viu Jewel sorrir para Alicia. Ele percebeu que não vira o seu sorriso até agora e imediatamente sentiu uma perda quando este deslizou dos seus lábios.

Warren olhou em volta: "Na verdade, acho que estão cá todos."

"Nem por isso," disse Envy. “Ainda falta o Chad.”

Naquele exato momento, as portas se abriram e Chad entrou com Trevor e Zachary atrás dele.

"O que raio está ele aqui a fazer?" Devon exigiu saber enquanto se levantava.

“O Chad é polícia,” Envy lembrou-lhe. “Ele já sabe um pouco do que se passa e viu o que aconteceu no cemitério. Ele está nisto quer queira, quer não. Além disso," ela continuou, "ele será capaz de manter a polícia longe de vocês por um tempo.”

“Não me referia ao teu irmão,” a voz de Devon assumira um tom perigoso.

Kat acenou com a cabeça, vendo que Envy se preparava para assumir por engano Trevor também. Não querendo que houvesse uma batalha real, ela afastou-se do bar para se meter no caminho deles.

"O Trevor também pode ficar," disse ela com firmeza e cruzou os braços sobre o peito. "Afinal... ele trabalha bem com os outros." Kat terminou com uma piscadela para o homem loiro que lhe deu uma saudação simulada.

Quinn levantou-se da cadeira e foi até Kat, pondo o braço em volta da sua cintura para puxá-la para mais perto de si. "Vou ter que ficar de olho em ti... não vou?" Ele murmurou em jeito de brincadeira, mas os seus olhos contavam uma história diferente.

"Podemos começar?" Kane perguntou das sombras.

Todos, exceto Michael, deram um salto com a voz. Ele estava tão quieto que ninguém sabia que ele lá estava.

“Concordo,” declarou Warren. “Acho que todos sabem porque estamos aqui.” Ele olhou para Chad, que acenou com a cabeça uma vez para indicar que entendia antes de mover o seu olhar para Trevor e Zachary. “Antes de falarmos sobre o que aconteceu no cemitério, tenho uma pergunta para o Trevor.”

Trevor estreitou os olhos. "Tipo o quê?"

"Que raio és tu?" Devon perguntou interrompendo Warren.

“Sou um transmorfo tal como a maioria das pessoas que aqui estão,” Trevor respondeu.

Kane bufou nas sombras fazendo todos olharem na sua direção.

"Sabes algo sobre ele?" Envy exigiu saber. Não era como se ela fosse acreditar na palavra de Trevor para alguma coisa... ele já provara o quão mentiroso era.

"Pode ser, mas terás que ser muito simpática comigo se quiseres saber," disse Kane com diversão na sua voz. Teria culpado o seu mau-humor por se levantar do lado errado da cama, mas merda... ele não esteve a dormir.

Devon estava de pé e tinha Kane içado no ar pelas lapelas do casaco. “Acho que já chega de sermos simpáticos,” o jaguar rosnou.

Kane sorriu para o transmorfo. “Aw, que pena. Já disse ao meu cachorrinho o quão fofo és e ele ficou tão contente por poder conhecer um novo companheiro de brincadeiras.” Ambos sabiam quem seria o perdedor se decidissem envolver-se... e não era o gatinho.

"O teu cachorrinho?" Jewel perguntou, os seus olhos a brilhar com a perspetiva de algo giro e fofinho. O seu lábio se contraiu ao pensar num cão entre todos aqueles gatos ali na sala.

“É um boneco de pelúcia enorme,” resmungou Michael.

Warren beliscou a ponte do nariz e Quinn teve que lutar para não rir do seu cunhado jaguar.

"Devon, põe o Kane no chão e senta o rabo numa cadeira," Warren retumbou. "Acabamos a discussão sobre o Trevor mais tarde."

Nick, Devon e Kat olharam para Warren de olhos arregalados. Se uma pessoa normal não conhecesse Warren, não teria percebido. Warren estava animado com a perspetiva de haver um novo transmorfo na área e queria aprender mais sobre a raça desconhecida.

Devon pousou Kane no chão e voltou para a sua cadeira ao lado de Warren. As portas se abriram e Kriss entrou com Tabatha agarrada ao seu braço. Devon deixou um sorriso lento enfeitar os seus lábios enquanto olhava para o vampiro loiro. Podia não ser capaz de pôr Kane no seu lugar, mas o homem que acabara de entrar podia e ele sabia que Kriss não gostava do vampiro reformado.

"Estamos atrasados?" Tabatha perguntou, feliz por ganhar a discussão com Kriss para vir à reunião. Por vezes Kriss poderia ter um toque protetor demais... um toque duro.

“Não, chegaram na hora certa,” disse Envy. “Ainda nem começámos.”

Tabatha juntou-se às mulheres no bar e sentou-se enquanto Kriss parava perto de Chad.

Kane ficou com o coração nas mãos quando Tabatha entrou e teve que lutar contra o desejo de tê-la nos seus braços e levá-la para longe daqui. Recuou ainda mais nas sombras, de modo a que a sua silhueta mal pudesse ser vista. Os seus olhos se voltaram para o caído e encolheu-se interiormente com o brilho que recebia do homem.

“Temos de saber mais sobre esse demónio que está preso no cemitério,” continuou Warren. "Temos de saber como ele é e, uma vez que o Dean está ausente, o Kane é o único aqui que o viu."

Kane tirou um cigarro e acendeu o isqueiro. A luz iluminou o seu rosto por um momento para que pudessem ver como os seus olhos estavam preocupados.

Tabatha esqueceu-se de respirar quando o seu olhar se voltou para a pequena chama e viu Kane. Os seus lábios perfeitos estavam ligeiramente curvados enquanto ele acendia o cigarro e os seus olhos estavam ensombrados por cílios escuros. Ensombrados ou não, ela podia sentir o seu olhar tocá-la da mesma forma como se fossem as suas mãos a acariciar a sua pele. Sentindo a distração de algo a roçar o seu braço, ela olhou em volta para encontrar Kriss agora de pé ao lado dela.

"O nome dela é Misery," disse Kane após um momento. "O problema é que... não tenho a certeza de como ela é.”

"Como podes não saber como ela é?" Kriss exigiu com uma carranca profunda no rosto. "Estiveste lá em baixo com o Dean por sabe-se lá quanto tempo."

"Podes deixar-me acabar, Penas?" Kane perguntou num tom sarcástico.

Kriss semicerrou o olhar, ressentido com o insulto.

"Ótimo," Kane respondeu. “A razão de eu não saber realmente como ela é, é pelo facto de ela estar sempre a mudar a sua aparência. Numa altura ela era uma linda menina com uma personalidade assustadora como o raio, noutra, era um cadáver em decomposição, uma nuvem de fumo preta, e a última era uma linda mulher. Essas parecem ser as suas formas favoritas a assumir. Ela é extremamente poderosa se conseguiu manter dois caídos naquela cavidade ao mesmo tempo."

Kriss respirou fundo e acenou com a cabeça. "Alguns demónios são conhecidos por ter esse tipo de poder."

"Temos um especialista em demónios a vir para cá agora." Zachary disse finalmente. “O voo dela deve chegar nas próximas duas horas ou assim. Quando ela cá chegar, seria melhor se todos deixassem a Misery para ela. "

Kane ergueu uma sobrancelha. "Ela?"

"Sim," disse Trevor. “O nome dela é Angelica. Ela tem informações sobre quase todas as lendas, mitos e contos de fadas do mundo. Se houver qualquer tipo de história sobre a Misery, então ela a terá na sua pen drive.”

Alicia suspirou em frustração. “Tudo bem, ela pode ficar com o demónio. Quero saber o que faremos para encontrar o Micah.”

"O Micah pode cuidar de si próprio," Quinn informou-lhe.

A verdade era que durante a última discussão entre ele e Micah, ele ordenou que Micah se afastasse, mas o irmão não tinha obedecido e isso só poderia significar uma coisa... que agora tinham dois machos alfa dentro do clã puma e nunca se ouvira falar em nada assim. No passado, sempre causou uma luta até à morte.

Quinn amava Micah e tinha orgulho nele por ser tão obstinado. A última coisa que queria era que uma das suas discussões ficasse fora de controlo.

“Mas ele não sabe de nada do que aconteceu,” Alicia exclamou, procurando uma razão qualquer para que eles o encontrassem. “E se ele encontrar a Misery e se magoar... ou morrer? Longe ou não, ele faz parte do clã.”

"Não podes argumentar com a lógica dela, meu caro," Kane disse ao ler os pensamentos de Quinn.

Alicia olhou para ele nas sombras e corou antes de desviar o olhar. Foi bom ouvir alguém verbalmente ficar do lado dela pela primeira vez. O que Alicia não sabia era que toda a sua família pensava em Micah e na última vez que realmente o viram; logo depois da briga que ele teve com Anthony.

Kane devolveu-lhe o sorriso, embora ela não pudesse ver. Aparentemente, ela era a única no grupo que tinha coragem.

“A última vez que vimos o Micah, ele estava numa grande discussão aos gritos com o Anthony Valachi e expulsou-o do clube,” Steven disse suavemente. "Isso foi mesmo antes de ele desaparecer."

"O lobisomem?" Trevor perguntou, inclinando a cabeça.

"Sim, além disso, o Steven acasalou com a noiva do Anthony." Quinn informou-lhe e a qualquer outra pessoa que não tivesse ouvido.

Jewel franziu a testa percebendo que Steven estava a dizer-lhe a verdade sobre os laços que talvez ligassem o seu irmão desaparecido a Anthony. Ela mordeu o lábio silenciosamente, perguntando-se se essa era a única razão pela qual Steven a tinha ajudado. Não, isso estava errado. Quando Steven a tirou da igreja, ele nem sequer sabia que Anthony era seu noivo.

Ela ouviu a acusação silenciosa na voz de Quinn e endireitou os ombros. Um instinto protetor brotou dentro dela e ela teve que expressá-lo.

“O Steven não sabia quem era o meu noivo e eu não fazia a mínima ideia de que o Anthony era um lobisomem,” Jewel declarou numa voz firme. “Só quando acasalámos é que eu lhe falei do Anthony. Por isso, se vais culpar alguém por isso, culpa-me a mim.”

Quinn teve a cortesia de parecer um pouco repreendido e Kat levantou o polegar discretamente para ela.

Jewel recostou-se no bar e começou a morder novamente o lábio inferior. Enfrentar o irmão mais velho de Steven, o alfa da tribo puma, assustara-a um pouco.

Ela olhou para Steven e relaxou quando viu o seu orgulho por ela brilhar nos seus olhos. Algo dentro dela amoleceu e ela lutou com todas as suas forças para construir novamente a parede protetora à sua volta. O seu coração bateu mais depressa e ela questionou-se se estava a apaixonar-se por ele.

“O Anthony Valachi está sob suspeita há algum tempo,” Chad falou. “A polícia tem motivos para acreditar que ele não só está envolvido no contrabando de pessoas, como também na escravidão. Há rumores de que os seus homens andam a apanhar prostitutas, sequestrando-as e vendendo-as também como escravas sexuais.”

"Porque é que a polícia não fez nada a respeito, então?" Kat perguntou.

“Disseram-nos para ficarmos fora disso porque o FBI assumira o controlo da investigação.” Chad respondeu. “Infelizmente, quando o FBI aparece, não temos jurisdição e não podemos fazer nada além de ficar fora do caminho deles, a menos que queiramos acabar na prisão ao lado dos bandidos.”

Steven acenou com a cabeça, percebendo que estava na hora de eles saberem tudo. “O pai da Jewel foi investigado aqui pelo FBI há um tempo. Por isso é que a Jewel estava noiva do Anthony, para começo de conversa.” Ele deu a Jewel um sorriso suave antes de se voltar para o grupo.

“O pai dela era o gerente do Palm Springs Resort e o Anthony não ficou contente com o mandado de busca que eles tinham ou com o facto de o Arthur ter permitido que eles circulassem pela propriedade. Percebendo o seu erro, o Arthur matou o agente e foi preso por homicídio. Para que o Arthur salvasse a sua própria pele, entregou a Jewel ao Anthony como pagamento por tirá-lo do envolvimento no crime.”

“Foi ele que matou o meu pai. Tenho a certeza disso,” disse Jewel cerrando o punho ao seu lado. "Então, quando podemos ir atrás dele?"

“Não temos que ir atrás dele,” Chad informou-lhe. “Pensaremos num plano, e depois faremos saber que estás sob a proteção dos Wilder. Quando ele der um passo... nós o apanhamos."

“Acho que isto pode estar um pouco acima da lei,” corrigiu Trevor. “Mantenham a Jewel em segredo por mais alguns dias e deixem que eu e o Zackary garantimos que o FBI não se intromete e transforma tudo numa grande trapalhada.”

"Por que interfeririam?" Kat perguntou. "Fazes parte daquela organização paranormal... eles não estão acima do FBI?"

“Apenas em certas áreas,” Trevor respondeu. “A maior parte do FBI não faz ideia de que existimos. Bolas, nem o presidente dos Estados Unidos sabe sobre nós. Estamos acima deles, por isso, temos que ter provas de que algo paranormal está a acontecer.”

“Isso significa que pelo menos uma parte do governo sabe sobre nós?” Nick perguntou, não gostando da sensação desconfortável que vinha com o conhecimento.

Trevor abanou a cabeça. “Não especificamente cada um de vocês..., mas estão cientes do mais... incomum. Vocês estão protegidos da mesma forma que os humanos... talvez até mais, e com regras mais brandas e por um governo pequeno, mas poderoso, no que toca ao governo.” Ele coçou a cabeça, esperando que todos pudessem seguir aquela versão vaga da verdade.

“A minha preocupação é o FBI cavar mais nisso e descobrir tarde demais que lidam com lobisomens, não humanos,” Chad franziu a testa, entendendo e não gostando do que Trevor acabara de dizer. Deveria ele entender que o paranormal tinha mais direitos do que os humanos? Talvez ele fosse um pouco tendencioso, mas ele era um daqueles humanos inferiores.

Trevor abanou a cabeça. “A máfia não vai ficar toda peluda e atacar o FBI. Além disso, se o mundo soubesse dos lobisomens, seriam os próximos na linha de extinção e os lobisomens sabem disso. A última vez que se revelaram, foram quase caçados até à extinção.”

“Deixem-me fazer algumas ligações e ver se temos jurisdição total sobre o caso Valachi,” Zackary ofereceu. “Se o fizermos, teremos rédea solta e poderemos recrutar qualquer pessoa que consideremos qualificada.” Ele olhou em volta para o grupo sabendo que isso cobriria quase todos na sala e que lhes daria imunidade, não interessava como as coisas aconteciam.

"Alguém sabe o que Micah conduzia no dia em que desapareceu?" Chad perguntou. “Posso localizar pelo meu carro-patrulha e enviar um alerta APB para ele.”

“A mota dele,” Alicia concordou em seguida, os seus olhos se arregalaram quando se lembrou de ter dito a Warren que ela pilotou aquela mesma mota na tempestade da noite anterior. Olhando para ele, ela suspirou de alívio quando ele simplesmente lhe piscou o olho.

Nick acrescentou: "Sou totalmente a favor de ficar longe da Misery, mas os vampiros estão a criá-la e não podemos permitir isso."

“Estão todos encarregues do controlo de pragas,” concordou Warren.

“Nem todos, espero eu,” Trevor olhou para Envy.

Zackary deu discretamente um passo à frente de Trevor para bloquear o olhar fixo que Devon dava ao seu amigo. “Acho que também está na hora de cobrarmos alguns favores e conseguirmos mais da equipa nesta área.”

"Quer dizer que há mais dos vossos a andar por aí?" Steven perguntou.

Zachary enfiou as mãos nos bolsos e inclinou ligeiramente a cabeça. O brilho suave das luzes mostrou o seu cabelo loiro e espetado enquanto sorria. “Desculpa desiludir-te, mas sou só um. Esperava clonar-me a mim mesmo, mas aqui o líder medroso não deixa,” ele terminou, apontando o polegar para Trevor.

"Cala-te e faz essas chamadas," exclamou Trevor. "Se houvesse outro por aí, a Angélica daria cabo dele só para dizer que finalmente conseguiu."

A expressão de Zachary adquiriu uma qualidade vítrea. "Oh, ser espezinhado por aqueles maravilhosos Doc Martin's que ela tem escondidos no armário."

Trevor deu um passo agitado em direção ao seu companheiro de equipa e Zachary imediatamente correu pela área do bar para se esconder atrás de Kane.

"Há alguma razão para me estares a usar como escudo?" Kane perguntou.

"Sim," exclamou Zachary. "Dá-me um minuto e pensarei numa."

Kane sorriu. "Dá-me um minuto e irei para casa o tempo suficiente para encontrar os meus Doc Martin’s."

Zachary recuou para longe de Kane com as mãos erguidas. "Ei, calma aí, eu sou hetero."

"Zachary!" Trevor gritou.

"Ok, ok," disse Zachary e pegou no telemóvel. “Caramba, estou cercado por pessoas sem sentido de humor... Angelica vai adorar este grupo.”




Capítulo 4


Kane encostou-se à cruz vários metros atrás de Michael e olhou para a cidade, perguntando-se onde Misery se escondia ou se ainda estava na cidade. Havia todo um mundo lá fora para ela aterrorizar, mas o carma era lixado, assim como os instintos que diziam que ela não fora muito longe.

Fez uma careta ao imaginá-la a andar pela calçada como um cadáver em decomposição, em seguida, abafou um arrepio com a imagem da miudinha esquisita e decidiu que o cadáver era menos assustador. Ao longo dos séculos, ele viu momentos em que vampiros adultos viraram crianças.

O que muitos deles nunca aprenderam é que as crianças costumam ser mais cruéis do que os seus 'pais' adultos e acabam mortas pelas mãos do adulto ou a criança mata aquele que os transformou. Ele tinha que admitir que a mulher que escreveu os livros de vampiros teve a ideia certa.

Ele esperava que quem quer que fosse a especialista em demónios que Trevor mencionara soubesse o que estava a fazer..., mas tinha as suas dúvidas.

Foi a memória do demónio que o levou a tomar conta de Michael... isso e o facto de impedi-lo de perseguir Tabatha agora que ela estava de volta à cidade. Era preciso muita força de vontade para não o fazer. Só de estar na mesma sala que ela já foi uma dor física... dor que ele sabia que não poderia ter aguentado por muito mais tempo se eles tivessem ficado. Os seus olhos se voltaram para o amigo e ele apoiou-se mais pesadamente na cruz.

Tinha que admitir que se se quisesse ficar sozinho e ainda assim estar rodeado por humanos, então o telhado da maior igreja da cidade era um lugar intrigante para se fazer isso.

Curiosamente, ele sabia que Michael não vinha para aqui em busca de paz e serenidade. Este era o lugar para onde o vampiro vinha preocupar-se e meditar. Não importava que estivessem ao ar livre porque Kane tinha a sensação de que, se Misery quisesse encontrá-los, quatro paredes não os salvariam. Ele nunca se escondeu de um inimigo antes e não ia começar a fazê-lo agora. Obviamente, Michael sentia o mesmo.

Ele sorriu quando um pensamento estranho cruzou a sua mente. Assim que se voltasse a cruzar com Dean, pediria um favor ao caído. Queria um punhado daquelas penas com um feitiço qualquer que Dean usara nas penas das catacumbas. A cabra não gostou muito daquilo. Ele colocou a palma da mão no ombro, lembrando-se de toda a carne perdida que, de alguma forma, reapareceu enquanto estava fora dela. Michael disse-lhe que Dean o curou.

Kane não conseguia lembrar-se de grande coisa daqueles momentos após o desmoronamento. Lembra-se de ter ouvido a voz de Michael a chamar por si da escuridão, mas não muito mais. A próxima coisa que se lembrou foi de acordar numa igreja cheia de pessoas e Michael pairar sobre ele como uma mãe galinha.

O rosto de Tabatha apareceu na sua mente. Passou as últimas horas a tentar desesperadamente não pensar nela, mas na maior parte das horas, não se ouviu a si próprio.

Michael podia sentir a presença de Kane algures atrás de si, mas em vez de ficar irritado com a distração indesejada, sentiu-se acalmado pelo olhar vigilante do amigo. Pelo menos se Kane estava preocupado com ele, ele poderia dar um tempo à sua própria paranoia. Além disso, ele amava Kane como um irmão... a palavra irmão ecoou na sua mente enquanto os seus pensamentos escureciam e se voltavam para Damon. Como poderiam irmãos verdadeiros estar tão errados um sobre o outro?

Tentando esvaziar a mente das memórias perturbadoras, Michael deitou-se e deixou-se levar pela exaustão. Sabia que era seguro dormir... Kane estava a cuidar de si.

Kane questionou-se sobre o pensamento sussurrado de Michael. Não sabia que Michael andava a ter problemas para dormir. O que fazia o seu amigo sentir-se tão ameaçado ao ponto de ter medo de fechar os olhos? Sabia que, aos poucos, a falta de sono poderia levar-nos à loucura... ainda assim, também descobriu da maneira mais difícil que dormir demais era ainda mais prejudicial.

Ele olhou para o outro lado da estrada, para o prédio de Michael, aninhado entre outros prédios da cidade. Pela aparência da sala circular no topo, era um design vitoriano. Ele concordou em morar com Michael, mas parecia que agora teria que convencer Michael a viver consigo próprio em vez de dormir no telhado do outro lado da rua.

Ergueu uma sobrancelha para o seu velho amigo. A casa tinha todos os confortos modernos que alguém tão velho quanto eles poderiam imaginar, incluindo proteções para afastar os demónios, então, qual era a necessidade repentina de ar fresco que cheirava a chuva?

Ele sabia que Michael ainda se sentia culpado por não estar por perto quando foi enterrado. Embora Kane tivesse tentado ficar fora da sua cabeça, ele ainda não dissera a Michael que, se tentasse, poderia ler a sua mente. Apenas era algo que um amigo não queria realmente saber... além disso, ele tinha a sensação de que era o único com esse poder.

Abandoná-lo não era o que Michael estava a pensar esta noite... o que chamou a sua atenção foi ele ter deixado o país da primeira vez... Damon, o irmão de Michael. Kane não via Damon desde que voltou aos seus sentidos... ao que restou deles, mas as memórias que tinha eram principalmente boas. Damon tinha um génio forte e os dois deram a Michael uma baita dor de cabeça ao tentarem acompanhá-lo.

Kane olhou para baixo e notou que Michael brincava com o anel no seu dedo enquanto pensava em Damon. Não demorou muito para que o sono tomasse conta de Michael e os sonhos vívidos começassem. Quanto mais os sonhos duravam, mais Kane aprendia o que Michael escondia. Ele fechou os olhos, bloqueando a cidade e concentrando-se realmente na dor de outra pessoa pela primeira vez.

Ficou surpreso ao encontrar-se não apenas a ouvir os sonhos, mas também a captar flashbacks visuais de há quarenta anos. Viu tudo se revelar da perspetiva de um estranho enquanto se desenrolava como um filme trágico.

Michael sentiu o desejo de ir ver Damon pela primeira vez em mais de um século. Quando encontrou o irmão, tudo parecia bem. Damon vivia no centro das atenções sociais de Londres e Michael juntou-se a ele por um tempo. Divertiram-se muito até conhecerem uma rapariga... Katie.

Os solteiros mais cobiçados foram todos convidados para a sua festa de aniversário de dezoito anos, incluindo os irmãos. Ela era realmente a beldade do baile. O que começou como uma simples competição fraternal, rápido se transformou num perigoso jogo de ciúme. Com eles, tudo parecia transformar-se numa competição. Passaram semanas a travar uma guerra silenciosa um contra o outro para ganhar o seu afeto.

Damon disse-lhe para ir embora... para voltar para o outro lado do oceano, mas Michael não foi capaz. Não deixaria Damon vencer por expulsá-lo. À medida que a rivalidade entre irmãos aumentava, eles brigavam pela mesma rapariga. Não que ela fosse a alma gémea deles ou qualquer coisa assim, embora os dois tivessem ficado encantados com ela. Parecia predestinado que Katie tivesse o mesmo problema... apaixonou-se por ambos e não optaria por escolher.

O que era ainda mais distorcido sobre o triângulo amoroso era que Katie pensava que os irmãos eram humanos... eles nunca lhe deram uma razão para pensar o contrário.

Levaram Katie para dançar à noite, mas isso fora um erro mortal. A tensão entre os homens era muito alta. Após uma hora a morrer lentamente por dentro enquanto o outro dançava com ela, os irmãos finalmente começaram a brigar. Não perceberam o quanto haviam perdido o controlo até que os seus olhos mudaram de cor quando as suas mãos envolveram as gargantas um do outro e os seus pés deixaram o chão.

Nem a viram correr. Michael e Damon perderam a raiva quando ouviram o barulho dos pneus e o barulho de metal do lado de fora da pista de dança. Quando a alcançaram... ela já tinha sido assassinada.

Quando Damon correu em direção a ela com a intenção de tentar reanimá-la com o seu sangue de vampiro, Michael impediu-o, já que uma multidão já se havia reunido ali. Damon voltou-se realmente contra ele, culpando Michael por não ter ido embora quando mandou.

Depois disso, eles lutaram durante meses... pedindo tréguas às vezes por palavras com sentimento, mas isso sempre levava a outra luta. Michael sabia que Damon estava a ficar cada vez mais sombrio e que Damon queria matá-lo. Se ele tentasse, Michael se defenderia e um deles morreria.

Foi então que Michael fez algo que jurou que não faria... foi ver Syn. Syn foi o primeiro vampiro. Adormeceu e não acordou durante séculos, mas Syn não estava morto porque não podia morrer... pelo menos não que alguém soubesse. Eles não tinham a certeza porque é que ele escolhera dormir nos últimos séculos de distância, mas parecia que Syn estava à espera de algo que ainda não havia acontecido.

Michael andou à volta da estátua que marcava o lugar de descanso de Syn no mausoléu. Sabia que Syn estava bem por baixo de si. Falou com a tumba vazia, ouvindo as suas palavras ecoarem à sua volta... por vezes em sussurros e às vezes em gritos ensurdecedores.

Lutar com Damon estava a enlouquecê-lo, ele não queria que as coisas fossem tão longe. Nem sequer tinha a certeza se algum dos dois realmente amava a rapariga. Sentiu o coração transbordar devido à dor que causou ao irmão... e a Katie. Não sabia se Syn estava a ouvir, mas era o suficiente para pelo menos dizer a verdade a outra pessoa.

Os olhos da estátua moveram-se, observando-o. Era como Syn, mas sem coloração. As velas que foram acesas à volta dele brilharam e diminuíram, em seguida, aumentaram enquanto a estátua se movia. Palavras foram sussurradas do solo numa linguagem há muito esquecida.

O silêncio que se seguiu foi como um trovão reconfortante e Michael soube que Syn o perdoara, mesmo que Damon não. Esfregou as palmas das mãos nos braços tentando afastar os calafrios. Syn era um homem de magia e Michael perguntou-se que feitiço havia rastejado profundamente dentro de si.

Levantou-se e foi das catacumbas para o mausoléu apenas para ver que Damon estava lá à sua espera. Novamente, trocaram-se palavras suaves que transmitiam emoção, mas não demorou muito para que se agravassem. Michael só queria que aquilo tudo terminasse... queria abraçar o irmão e começar do zero.

Damon interpretou literalmente a primeira parte da sua declaração e, antes que Michael pudesse impedi-lo, puxou uma lança de madeira do interior do casaco. Michael sentiu a madeira penetrar no seu coração e caiu de joelhos. Olhando para Damon, abriu a boca para dizer algo, mas tudo o que conseguiu foi um gorgolejar.

Michael caiu ao seu lado, sentindo o sangue parar nas suas veias e transformar-se em cinzas enquanto que a sua visão escurecia lentamente.

Com lágrimas nos olhos, Damon cambaleou, sabendo que agora estava condenado. A voz de Syn começou a ecoar na sua mente fazendo-o gritar. Ele agarrou-se à cabeça e dobrou-se, tentando silenciar a voz, mas era impossível silenciar Syn.

Naquele momento, tudo dentro de Michael rugiu de volta à vida com uma vingança. Sentindo a dor excruciante da estaca no peito ainda a matá-lo, ele estendeu a mão e puxou a madeira do seu coração. Doeu tanto ao sair como ao entrar.

"Damon!" Michael gritou enquanto lutava para se levantar e foi à procura do irmão. Valeu a pena cada grama de dor para ver a expressão no rosto de Damon quando percebeu que Michael estava vivo.

Michael deixou a estaca sangrenta deslizar da manga e num instante, esfaqueou Damon. “Sente isto, irmão!” Ele gritou ao devolver o favor. Matou uma parte de si, mas isto tinha que parar de alguma forma.

Quando Damon ressuscitou, Michael sentou-se no chão para tentar recuperar o fôlego. Michael entendeu o que Syn fez... o que foram as palavras proferidas nas catacumbas. Era um feitiço que apenas Syn poderia fazer e que impossibilitaria Michael e Damon de se matarem um ao outro... talvez até os impossibilitasse de morrer. Oh, eles poderiam matar-se um ao outro..., mas só iria doer.

Morreram várias vezes depois daquela noite, sempre nas mãos um do outro. Michael finalmente desistiu e voltou para casa, deixando o irmão do outro lado do mundo. Ele sabia que era inútil alcançar o irmão e embora o seu coração gritasse que nem tudo estava perdido, Michael ainda estava inseguro.

Kane manteve-se sabiamente calado enquanto Michael se afastava do seu pesadelo de lembrança. Pestanejou, questionando-se se mergulhar a fundo na mente de Michael o fez reviver a memória tão nitidamente. Nesse caso... arrependeu-se imediatamente quando sentiu o cheiro de sal no ar. Desapareceu antes que Michael se virasse para olhar para a cruz assim que o sol começou a nascer.



*****



Alicia passou mais batom tentando livrar-se do rosto inocente que a encarava no espelho. Estava zangada, não com Kane por levar o seu livro de feitiços... afinal, o livro era de Kane. Mas estava com raiva de todos porque a tratavam como se fosse um bebé. Pelo amor de Deus, ela morava num clube noturno.

Pode ter estado num colégio interno, mas não era uma creche. Afinal, ela era um puma e poderia muito bem cuidar de si. Devido às regras rigorosas e aos olhos vigilantes dos professores, Alicia dominou a arte de se esgueirar para ganhar a sua liberdade. O seu lado animal nunca gostou de estar numa gaiola.

Agora que estava em casa e a sua família precisava de proteção, não era justo que todos se unissem e a deixassem de fora. Se Micah estivesse aqui, teria entendido as suas necessidades e, tão protetor como ele era, nunca teria tentado retirar-lhe a sua liberdade. Isso era algo que ela definitivamente apreciava em Kane... Ele tirou partido dela hoje como se entendesse o que ela estava a passar.

Aí é que está o grande problema. Micah estava desaparecido e ela iria mesmo encontrá-lo nem que tivesse que enfrentar todos os seres paranormais da cidade para isso... começando pelos vampiros e lobisomens.

Ela franziu a testa para si mesma no espelho sabendo que dera cabo de tudo ao tentar usar um feitiço no cemitério. Até àquele ponto, ela não tinha percebido que havia dois tipos completamente diferentes de vampiros.

Aliás, ao longo das suas curtas visitas a casa, ela nunca conheceu Michael, ou qualquer outro vampiro, e o único que ia visitá-la à escola regularmente era Micah. Ele costumava ir à escola e deixá-la sair ao fim de semana e feriados. Foi quando foram para a floresta onde ele lhe ensinou a lutar com e sem armas.

Quando não estavam a treinar, mudavam de forma e corriam, aproveitando a liberdade. Graças a Micah, ela era mais inteligente, mais rápida e mais resistente do que a maioria dos transmorfos femininos. Micah sempre foi o seu herói e era o único na família que não achava que ser uma menina fosse uma deficiência.

Ela ainda se lembrava da primeira vez que Micah a tirou da escola no fim de semana. Foram para as florestas e montaram acampamento antes de Micah lhe dizer que iam para uma corrida. Alicia nunca teve uma oportunidade dessas antes e estava tão animada que, quando se transformou, saiu a correr a alta velocidade e fez três circuitos de corrida completos à volta do acampamento.

Quando parou, olhou para Micah que se encolhia e ria. A princípio ela pensou que ele ria dela, mas parece que ele estava a rir de como o resto da família era estúpido. Nenhum deles teve tempo de lhe ensinar nada sobre a sua herança puma, nem permitiram que ela corresse muito. Só de ver a sua demonstração de liberdade deu-lhe a impressão de estar a ver um gatinho a sair de casa pela primeira vez.

Ela cresceu a pensar que todos os vampiros eram monstros, porque foi isso que Nathaniel ensinou aos seus filhos. Nathaniel estava errado. Se Kane não fosse libertado do túmulo a que o pai dela o havia condenado, então ela certamente teria morrido no cemitério na noite passada.

Estava grata por Kane ter lá estado e por a ter salvado, mas não ia parar de procurar pelo seu amado irmão. Seria mais cuidadosa desta vez. Poderia agradecer a Kane por mais uma coisa... foi por causa dele que Michael a beijou. Ela perguntou-se se Michael só via uma criança quando olhava para ela. De alguma forma, teve as suas dúvidas. Sorriu para si mesma no espelho. Foi um beijo e tanto.

Virou-se à frente do espelho, certificando-se de que não parecia a criança que todos achavam que era. A saia de couro preta tinha um fecho-de-correr que ia da bainha até ao meio da coxa e ela deixou-o propositadamente aberto até a metade. A camisa preta era feita principalmente de um material leve e transparente com uma pequena camisa de seda curta por baixo.

Prendeu algumas mechas de cabelo loiras, perdidas sob a peruca Cleópatra que encontrou num baú de fantasias de Halloween guardadas no sótão. Tinha que admitir que aquela roupa provocante fazia-a parecer sexy como o raio.

Apostaria em dinheiro que se Quinn ou alguém que ela conhecesse a visse agora, que não fariam a mínima ideia de que era ela. Quinn estava tão ocupado a perseguir Kat e a tentar agir como se não estivesse, que não prestava atenção em Alicia de qualquer maneira. Agora que ele e Kat estavam juntos... ele estava completamente focado na sua companheira. O máximo que ele fez foi arranjar dois guardas transmorfos a Alicia e ordenar que ela ficasse longe até que decidissem que era suficientemente seguro para ela aparecer.

Os seus guarda-costas eram burros que nem pedras, todos musculados e nada inteligentes. Não demoraria muito para os enganar e escapar da sua pequena prisão. Ela iria caçar Micah esta noite com ou sem a aprovação deles.

Quinn disse-lhe que Micah os deixara pelos seus próprios pés e que sabia o caminho de volta se quisesse voltar para casa, mas ela sabia que Micah não iria embora... pelo menos não sem ela. Micah estava em apuros... ela sentia-o. Alicia endireitou os ombros e ergueu o queixo em desafio.

Com toda a pele exposta, felizmente pareceria uma prostituta para ser raptada por lobisomens ou servir de jantar a algum vampiro insuspeito. Ela tinha a certeza de que se se pudessem enfrentar, poderia fazê-lo falar antes de o matar.

Espionara o suficiente para descobrir o que realmente se passava e não culpava Kane de forma alguma. Contanto que o vampiro não fosse Michael ou Kane, então era mortal. Quanto aos lobisomens... Se estivessem no comércio de escravos ou tivessem Micah, então não eram melhores que os vampiros sem alma.

Ela deslizou o pequeno cristal em forma de coração em torno do pescoço. Era mais que uma simples bugiganga. Estudara magia desde que se lembra e este cristal impossibilitaria colocá-la sob a escravidão de um vampiro desta vez... até mesmo um vampiro poderoso como Kane ou Michael. E ela também se lembrou de alguns dos feitiços mais simples do livro que Kane lhe tirou.

Esta noite, ela descobriria como era realmente fazer parte desta família... lutaria nesta guerra, quer os seus irmãos e as onças gostassem ou não.



*****



Damon recostou-se na cadeira estofada e olhou para a lareira, observando as chamas acasalarem com as sombras que se lançavam dentro do seu recinto de tijolos. Pegando na taça de vinho tinto, observou-o girar e sentiu a sua total calma afastar-se de si. Conseguia ouvir Syn sussurrar-lhe novamente.

Quando o vidro se quebrou contra o tijolo, pressionou os dedos contra a têmpora esquerda sabendo que acabara de acordar o seu petisco noturno.

A morena sedutora sentou-se na cama à sua esquerda e fez beicinho ao ver que estava sozinha nos lençóis. Saindo de debaixo dos cobertores, fingiu rastejar sensualmente em direção a ele pelo colchão, mas ele não lhe deu tempo para pensar que aquilo iria funcionar. Mais rápido do que o olho humano poderia detetar, Damon estava ao lado da cama com os dedos firmes à volta da sua garganta.

Não era para estragar a sua beleza ou magoá-la, apenas mantê-la imóvel enquanto as suas pupilas se expandiam e ele colocava-a completamente sob o seu feitiço. Até agora, ele não tinha necessidade de o fazer. Ela foi uma parceira muito disposta, mas agora estava na hora de terminar a sua adorável amizade. Abrindo lentamente a boca, ele revelou as presas aguçadas. Não sabia porque o fazia, as raparigas reagiam sempre da mesma forma.

Os olhos dela se arregalaram de horror e ele rapidamente sufocou o grito que passava pela sua mente turva. As raparigas mortais eram inúteis... tal como Katie havia sido. Ele ainda podia ouvir o barulho do metal e isso piorou o seu humor.

"Vou-te fazer um favor, miúda." Um canto do seu lábio se ergueu numa sugestão de sorriso sarcástico. “Vieste para LA para seres modelo, mas esta cidade está cheia de outras miúdas que querem o mesmo, por isso é o que farás. Confia em mim... é melhor assim.”

Ele puxou-a para mais perto e olhou no fundo dos seus olhos. “Odeias isto. Odeias Los Angeles e queres voltar para seja lá qual for a cidade pequena de onde saíste. Se ficares aqui, os monstros vão-te usar-te tal como eu fiz. Vai para casa e procura o rapaz a quem partiste o coração quando deixaste a cidade e implora-lhe pelo seu perdão porque ninguém nunca te vai querer aqui.”

Ele largou o pescoço dela vendo-a pestanejar para conter as lágrimas enquanto caía no colchão. Ele não estava com vontade de a ouvir chorar. "Tens de ir embora... agora." Virou-lhe as costas e atravessou a sala para olhar pela janela. No que lhe dizia respeito, acabara de fazer a boa ação do dia. Esta cidade estava uma confusão de qualquer maneira.

Pelo canto da sua visão, ele viu alguns jovens vampiros virarem a esquina de um prédio e entrarem num beco. Perguntou-se de onde todas aquelas criaturas sem alma haviam saído, já que LA parecia estar infestada delas.

Esquecera-se completamente da rapariga que estava na sua cama até que ouviu a porta do apartamento bater... sim, fez-lhe um favor. Ela teve sorte de ser ele a encontrá-la e não os monstros que agora rastejavam pelas ruas de LA... e ele não estava só a falar do paranormal. Abriu as portas da varanda e saiu para o ar da noite respirando profundamente.

Deixou as colinas ondulantes da calma cidade quando sentiu Syn começar a agitar-se na sua sepultura. Estando tão perto do vampiro, ele sentiu o despertar de Syn há meses e não queria estar por perto para a reunião. Syn tinha pouca tolerância com os sem alma e agora Damon estava bem ciente de que a sua alma era fraca. Teve um flashback de como a alma de Kane parecia na igreja e perguntou-se se a sua própria alma estava assim tão mal.

Observou Michael à distância por várias vezes desde que chegou a LA e o facto de a alma de Michael ser tão forte ao ponto de poder ser vista na sua aura deixou-o irritado. Ele viu a alma de Michael na igreja quando o caído agarrou na mão de Michael. Michael era feliz aqui e estava cercado de amigos enquanto Damon tinha-se cercado de amigos interesseiros e de casos de uma noite.

Estava na hora de Damon enterrar o passado... se conseguisse evitar enterrá-lo bem fundo nas costas de Michael. Não se incomodaria, mas agora que Syn estava completamente acordado, teria que jogar pelas regras... algo em que nunca foi muito bom, mesmo antes da sua guerra com Michael. Damon sentiu a desilusão de Syn quando vasculhou as suas memórias.

Só havia um ser neste mundo de quem Damon tinha realmente medo... Syn. Syn era um enigma mesmo com o paranormal. E aqui estava ele, pronto para perdoar Michael apenas para manter Syn fora da sua cabeça. Receber ordens também nunca foi um dos seus pontos fortes.

"Usa a raiva livrando a cidade do teu irmão dos perversos antes de te tornares um deles," a voz de Syn sussurrou através da sua alma em advertência, fazendo Damon cerrar os dentes.

“Eu sei, ama o teu irmão e protege os inocentes. Já percebi." Damon pulou para a grade realmente ansioso por matar algo. Sentindo o cheiro de magia e sangue no ar, ele caiu do seu poleiro para as ruas abaixo.





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Steven Wilder apaixonou-se pela sedutora manejadora de morcegos em mais sentidos do que ficar apenas de beiço caído… ele queria ficar com ela. Ao descobrir que ela estava prometida à máfia, isso deu-lhe razão mais do que suficiente para raptá-la e fazer dela a sua companheira… para a proteção dela, claro.

Todos dizem que existem dois caminhos na vida, mas para Jewel Scott ambos eram demasiado perigosos. Um levava a Anthony, um lobisomem psicopata e assassino que era também o chefe da máfia da cidade e seu noivo… contra a sua vontade. O outro caminho levava a Steven, um lobipuma que ela tinha atingido com um taco de beisebol no primeiro encontro de ambos. Ele retaliou, sequestrando-a e fazendo dela a sua parceira. Steven Wilder apaixonou-se pela sedutora manejadora de morcegos em mais sentidos do que ficar apenas de beiço caído… ele queria ficar com ela. Ao descobrir que ela estava prometida à máfia, isso deu-lhe razão mais do que suficiente para raptá-la e fazer dela a sua companheira… para proteção dela, claro.

Anthony Valachi tornou-se obcecado por Jewel quando ela ainda era uma criança e, sob o domínio da máfia, conseguiu ter controlo sobre a sua noiva. Se alguém pensasse que podia roubá-la dele, estava enganada… totalmente enganada.

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