Книга - Uma Luz No Coração Da Escuridão

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Uma Luz No Coração Da Escuridão
Amy Blankenship







Uma Luz no Coração da Escuridão

Série o Cristal do Coração Guardião Livro Quatro



Amy Blankenship, RK Melton

Translated by Magda Mendes Marques (https://www.traduzionelibri.it/profilo_pubblico.asp?GUID=550db578e78cae03a4147965e198cb64&caller=traduzioni)



Copyright © 2009 Amy Blankenship

Edição em Inglês Publicada por Amy Blankenship

Segunda Edição Publicada por TekTime

Todos os direitos reservados.




A Lenda do Coração do Tempo


Os mundos podem mudar... mas as lendas verdadeiras nunca desaparecem.

As trevas e a luz lutaram constantemente desde o início dos tempos. Os mundos são formados e esmagados sob os pés de seus criadores, mas a necessidade contínua do bem e do mal nunca foi questionada. No entanto, às vezes, um novo elemento é jogado na mistura... a única coisa que ambos os lados querem, mas apenas um pode ter.

Paradoxal por natureza, o Cristal do Coração Guardião é a única constante que ambos os lados sempre se esforçaram para alcançar. A pedra cristalina tem o poder de criar e destruir o universo conhecido, mas pode acabar com todo o sofrimento e conflito ao mesmo tempo. Alguns dizem que o cristal tem uma mente própria... outros dizem que os deuses estão por trás de tudo.

Cada vez que o cristal apareceu, seus guardiões sempre estiveram prontos para defendê-lo de todos os que o usariam egoisticamente. As identidades desses guardiões permanecem inalteradas e eles amam com a mesma ferocidade, independentemente do mundo ou do tempo.

Uma garota está no centro desses antigos guardiões e é o objeto de suas afeições. Ela mantém dentro de si o poder do próprio cristal. Esta é a portadora do cristal e a fonte do seu poder. As linhas muitas vezes ficam borradas e proteger o cristal lentamente se transforma em proteger a sacerdotisa dos outros guardiões.

Este é o vinho que o coração das trevas bebe. É a oportunidade de tornar os guardiões do cristal fracos e suscetíveis ao ataque. A escuridão anseia o poder do cristal e também a garota, como um homem desejaria uma mulher.

Dentro de cada uma dessas dimensões e realidades, você encontrará um jardim secreto conhecido como o Coração do Tempo. Lá, uma estátua de uma jovem sacerdotisa humana está ajoelhada. Ela está cercada por uma mágica antiga que mantém seu tesouro secreto escondido e bem conservado. As mãos da donzela estão estendidas como se estivessem esperando que algo precioso seja colocado nelas.

A lenda diz que ela está esperando que a pedra poderosa conhecida como o Cristal do Coração Guardião volte para ela.

Somente os Guardiões conhecem os verdadeiros segredos por trás da estátua e como ela surgiu. Antes que os cinco irmãos dessem seu primeiro suspiro, seus antepassados, Tadamichi e seu irmão gêmeo, Hyakuhei, protegiam o coração do tempo durante sua história mais sombria. Durante séculos, os gêmeos protegeram o selo que impediu que o mundo humano se sobrepusesse ao reino demoníaco. Essa tarefa era sagrada e a vida dos humanos e dos demônios tinha que ser mantida segura e em segredo uns dos outros.

Inesperadamente, durante o seu reinado, um pequeno bando de seres humanos atravessou acidentalmente o mundo dos demônios por causa do cristal sagrado. Durante um tempo de tumulto, seus poderes causaram uma fenda no selo que havia separado as dimensões. O líder do grupo humano e Tadamichi rapidamente se tornaram aliados, fazendo um pacto para fechar a fenda no selo e manter os dois mundos trancados um do outro para sempre.

Mas durante esse tempo, Hyakuhei e Tadamichi se apaixonaram pela filha do líder humano.

Contra os anseios de Hyakuhei, a fenda foi reparada por Tadamichi e o pai da menina. A força do selo havia sido aumentada dez vezes, separando o perigoso triângulo amoroso para sempre. O coração de Hyakuhei foi despedaçado. Mesmo seu próprio irmão de sangue, Tadamichi, o havia traído, certificando-se de que ele e a sacerdotisa ficassem separados por toda a eternidade.

O amor pode se tornar a mais perversa das coisas quando está perdido. O coração partido de Hyakuhei se transformou em raiva e ciúmes maliciosos causando uma batalha entre os irmãos gêmeos, acabando com a vida de Tadamichi e dividindo as almas imortais dos dois irmãos. Aqueles fragmentos de imortalidade criaram cinco novos guardiões para assumir a guarda sobre o selo e protegê-lo de Hyakuhei, que se juntou aos demônios dentro do reino.

Encarcerado dentro da escuridão que ele havia se tornado, Hyakuhei expulsou todo o pensamento de proteger o coração do tempo, em vez disso, ele canalizou sua energia para banir completamente o selo. Seus longos cabelos escuros, passando da altura dos joelhos, e um rosto pertencente apenas aos mais sedutores, contradiziam o verdadeiro mal escondido dentro de sua aparência angélica.

À medida que a guerra começa entre as forças da luz e da escuridão, uma luz azul ofuscante é emitida pela estátua santificada, sinalizando que a jovem sacerdotisa renasceu e o cristal ressurgiu do outro lado.

Como os guardiões são atraídos para ela e se tornam seus protetores, a batalha entre o bem e o mal verdadeiramente começa. Então, entra-se em outro mundo onde a escuridão é dominante dentro do mundo de luz.

Esta é uma das suas muitas aventuras épicas...




Capítulo 1


Durante séculos, a lua vermelha sempre foi um sinal do portador da morte. Aqueles que testemunharam a visão mortal se esconderam por medo de perder suas vidas para a poderosa trégua do sono interminável que o portador prometeu. Na distância, um grito de gelar a alma foi ouvido a quilômetros enquanto o símbolo perigoso pairava alto no céu da meia-noite.

Em um clarão na floresta, duas figuras solitárias estavam em pé, uma ferida, respirando pesadamente com uma das adagas gêmeas apertadas em sua mão, a outra ameaçadora olhando de acima, um sorriso malicioso que enfeitava seu rosto desumanamente belo. Olhos de rubi predatórios brilhavam ao luar, aguardando o próximo movimento da vítima. A pele anormalmente pálida de Hyakuhei parecia brilhar na noite, dando-lhe a aparência de um ceifador angélico.

— Você nos matou sem a morte! — rosnou Toya, revelando seus caninos alongados. Seus olhos de pó dourado queimaram em aversão pelo homem que estava diante dele. Uma vez seu amigo... o irmão de seu próprio pai... agora seu inimigo mortal. — Seu desgraçado!

— Agora você diz isso com convicção, mas eu lhe dei uma vida eterna, treinei você e cuidei de você. Amei você e seu irmão como se fossem meus filhos. — Os olhos escarlates brilharam com raiva em direção ao insolente rapaz diante dele.

— Você chama e nos torna monstros... amor? Você roubou nossas vidas! Você me transformou para tentar obrigar meu irmão a se tornar seu! Você mentiu para nós, dizendo que você poderia reverter a maldição se nos juntássemos a você — sua respiração virou um assobio irritado enquanto ele continuava. — Se não fosse pelo seu fascínio doentio por meu irmão, seríamos seres humanos normais, vivendo vidas normais como uma família, e não as criaturas sanguinárias da noite em que você nos tornou! — Lágrimas amargas derramaram dos olhos de Toya devido à raiva e traição... dando-lhes um prateado estranho.

— Você é um idiota em pensar que você era normal! — A voz de Hyakuhei continha o traço malicioso de amargura. — Você e seu irmão choram erroneamente por algo que nunca foi seu. — Sua voz suavizou por um momento enquanto engolia as memórias de seu irmão gêmeo, pai deles. — Não importa — seus olhos queimaram quando ele se concentrou em Toya. — Você é igualzinho ao seu pai: egoísta.

— A morte de seu pai deixou você sob meus cuidados! Você e seu irmão são meus e eu sempre pego o que me pertence. Terei a obediência dele depois de eu ter terminado com você. — A mão de Hyakuhei se curvou em antecipação, ansiosa para sentir o sangue do jovem escorrer de seu corpo. — Foi você que traiu sua própria carne e sangue!

Toya se virou, ouvindo a voz odiada enquanto Hyakuhei tremeluziu e desapareceu apenas para reaparecer do outro lado dele. Ele sabia que o vampiro fatal só estava brincando com ele, mas Toya já não estava com medo. Esse medo morreu com ela.

— Por que você a matou? — Toya ordenou que sua voz fosse um assobio suave, mas cheia de raiva e desespero. — Você achou que, ao matá-la, ganharia o cristal? Nunca! Ela se recusou a dar-lhe esse poder e você ficou enfurecido. Não é, Hyakuhei? — gritou ele enquanto girava, tentando seguir seu inimigo enquanto Hyakuhei o rodeava com uma intenção mortal. — Não era segredo que você a queria para si — A mão de Toya apertou sua adaga com fúria quando se lembrou dos olhares assombrados, a perseguição, a visão do corpo dela sem vida. — Qualquer um poderia ver a maneira como você olhava para ela quando achava que eu ou o Kotaro não estávamos prestando atenção. — Sua respiração virou um soluço enquanto ele se moveu por um momento, sabendo que ele e Kotaro a amavam. Eles haviam lutado contra Hyakuhei e entre si por ela. Ninguém venceu. — Nós vimos você. Kyoko era minha e sempre será! — gritou Toya, enfurecido por perder aquela que ele amava mais do que o ar. Ela se foi. Ela tinha sido a luz na escuridão em que seu mundo se tornara.

Era a razão pela qual ele desafiava Hyakuhei. Agora, seu motivo para o desafio desapareceu e Toya sentiu o fogo em sua alma subir a uma temperatura fatal. Ele a encontrou sem vida, deitada com uma pequena adaga que atravessava seu coração. No fundo, ele sabia, ele e Kotaro sabiam. Hyakuhei de alguma forma a matou.

Os olhos negros de Hyakuhei tornaram-se mais escuros quando olhou com desprezo para o filho mais novo de seu irmão.

— Ah sim, o evasivo Cristal do Coração Guardião. Tal poder não pertence a uma criança tola como você. Os seres mais poderosos procuraram o Cristal do Coração Guardião. Achou que você era o único queridinho? Não só vampiros, mas também imortais e feiticeiros e até lobisomens compartilham desse desejo de reunir tanto poder.

— Não percebe o que aconteceria se o licantropo a tivesse reivindicado primeiro? — Os olhos de Hyakuhei sangraram carmesim ao pensar em Kotaro, líder das tribos dos licantropos, ganhando tal poder. Sua raiva aumentou quando ele lembrou o aroma do licantropo na carne dela nesta mesma noite. Ele não ficaria quieto e deixaria uma coisa tão traiçoeira acontecer.

— Não, menino imprudente, já cuidei da sacerdotisa que carregava o cristal dentro de si. — Os olhos de Hyakuhei se endureceram ao pensar na pequena mentira.

Na verdade, ele não havia matado a menina. Ela se suicidou para evitar que ele obtivesse o cristal. Ele a tinha ao alcance, pronto para reivindicar o poder que ela segurava dentro de si. O poder de que a lenda falava, se tal lenda pudesse ser levada a sério, teria permitido que a escuridão andasse dentro da luz e se alimentasse disso.

Seus dedos ainda formigavam devido ao toque brevíssimo à pele dela. Ele estava parado atrás dela, sentindo o calor do corpo dela com sua mão fria. Seus olhos de esmeralda se viraram e se chocaram com os dele por um mero segundo, desafiando-o. Ele só queria ter um gostinho dela. Tarde demais, ele viu a adaga na mão dela quando desapareceu rapidamente em seu peito. Ele poderia tê-la transformado e compartilhado tudo com ela, mas ela recusou sua oferta generosa.

A corajosa, mas tola mulher acreditava que, ao se matar, ela bloquearia o poder do cristal do alcance dele para sempre. Para sempre foi um longo período de tempo para tentar se esconder dele.

— Ela vai renascer! — Toya gritou de angústia, sabendo que ele falhou em protegê-la da ira de Hyakuhei. Sua culpa por não estar lá para salvá-la estava devorando-o por dentro. Ela sabia que ele era um vampiro, uma criatura da noite e ainda assim não tinha dado as costas para ele. Ela já havia feito amizade com ele. Kyoko confiou a vida dela a ele.

A mente de Toya recuou ao tempo em que a conhecera... ele caiu de joelhos, se agarrando ao chão, observando suas lágrimas caírem. — Não foi tempo suficiente! — gritou silenciosamente em negação.

Só a conhecia por tão pouco tempo; seis ciclos da lua. Quando ele a conheceu pela primeira vez, ele só queria o cristal. O cristal que ela nem sabia que estava carregando no início. Mas ele podia vê-lo brilhando dentro dela, chamando-o. Então algo mudou. Toya se viu tentando protegê-la em vez de tirar o cristal dela.

Como ela tinha adentrado seu mundo sombrio, Toya encontrou a verdade por trás da lenda do Cristal do Coração Guardião, mesmo que Hyakuhei não percebesse. Ele queria contar os segredos ao seu irmão, mas Hyakuhei tinha impossibilitado o encontro dele com Kyou a tempo... agora era muito tarde.

— Você nunca terá a luz do cristal na escuridão. Vou encontrar Kyoko novamente e manter o cristal longe de você! — A voz de Toya era severa devido à necessidade de vingança. — Ela vai viver novamente e eu estarei lá esperando por ela — Uma única lágrima prateada deslizou despercebida pelo rosto enquanto ele gritava: — Juntos! Ela e eu encontraremos outra maneira de libertar Kyou de você!

Hyakuhei aproximou-se de Toya, uma risada sombria vinda do fundo do peito.

— Ah, sim, meu querido Toya, ela vai viver de novo. O cristal voltará a este mundo e eu serei o único a reivindicar não só seu poder, mas também a garota. Quanto ao meu precioso Kyou... estou certo de que posso encontrar algo para ocupar o tempo do seu irmão até esse dia chegar.

Toya rosnou sabendo que era uma faca de dois gumes.

— Guarde suas ideias doentias para si mesmo. Vou encontrar uma maneira de nos tornar normais de novo. E você... vou te fazer morrer! — ele terminou de falar em um grito enquanto o vento começou a ficar mais forte, uivando maliciosamente pela clareira.

O punhal em sua mão brilhou em um arco de luz prateada, mal agarrando a túnica escura que adornava o corpo de Hyakuhei. Toya não conseguia acreditar em quão rápido seu oponente era, mas seu rosto estava franzido com determinação. Uma segunda adaga apareceu em sua outra mão e ele a brandiu, seguida imediatamente pela primeira.

Hyakuhei se esquivou das lâminas mortais devido aos séculos de treinamento que ele já havia suportado. Os seres humanos eram criaturas tão fáceis de derrotar e Toya, embora transformado, ainda era muito humano em seu modo de pensar, ainda uma criança nos olhos de um vampiro.

Ele admitiria que de alguma forma, a proteção de Toya à sacerdotisa tinha envelhecido o poder deste para quase o mesmo nível de um vampiro antigo. Levar a sacerdotisa para longe dele serviu dois propósitos. Sem um motivo para lutar, o poder de Toya diminuiu muito.

A mão esquerda de Hyakuhei atacou, de alguma maneira prendendo os dois pulsos de Toya em um aperto esmagador. Toya não conseguiu se defender quando as garras do vampiro cruelmente laceraram seu rosto.

Os olhos prateados se chocaram com os carmims por um momento suspenso no tempo, enquanto Hyakuhei retraía suas garras. Seus lábios insinuaram um sorriso corrompido enquanto ele esticou a mão para acariciar suavemente a ferida que ele acabara de causar tão cruelmente.

— É uma pena estragar esta perfeição. É muito parecido com seu irmão. — Ele lambeu de seu dedo as gotas de sangue recém-derramado antes de acrescentar: —Mas eu não posso deixar seu amor rebelde distraindo Kyou de mim.

Sentindo seus pulsos serem liberados, Toya deu um passo para trás e tentou bloquear o próximo ataque vindo em direção do seu torso. Ele resmungou de dor quando o sangue derramou dos cortes feitos no seu peito. Pressionando um braço nas feridas, seus olhos dourados se arregalaram quando ele cambaleou para trás e, desta vez, Hyakuhei o deixou.

Toya podia sentir os ossos quebrados em seus pulsos se esmagando uns contra os outros e teve que se concentrar para evitar que suas adagas caíssem no chão. Olhando para o homem que ele odiava mais do que a morte, Toya tentou sacudir a dor sabendo que isso não era um jogo, mesmo os mortos-vivos poderiam morrer.

— Você é uma criança tola. Pensou em salvar seu irmão, me matando? Você mal consegue segurar suas lâminas agora, muito menos tentar tirar minha vida — zombou Hyakuhei, depois seu rosto tornou-se plácido, sua raiva de repente desapareceu. A brisa noturna ergueu as extremidades de seus longos cabelos de ébano, fazendo parecer que estavam vivos.

—Você nunca teve uma chance, garotinho. Vou ajudá-lo a descansar para que você não sinta mais dor — murmurou Hyakuhei, seus olhos se suavizando em direção ao homem ferido como um pai que repreendera uma criança rebelde.

Os olhos prateados ficaram vermelhos de raiva por suas palavras.

— Você nunca terá meu irmão, seu filho da mãe! Enquanto puder respirar, Kyou não o deixará vencer, e eu também não! — gritou Toya, avançando sobre a figura vestida de preto em uma última tentativa de salvar sua alma imortal.

Hyakuhei desapareceu em um piscar de olhos antes que a adaga de Toya pudesse penetrar no coração frio escondido no fundo de seu corpo intemporal. Os olhos vermelhos penetrantes brilhavam, famintos por derramar o sangue do jovem que pensava desafiá-lo.

Sua forma escura levitando lá no alto parou por um momento antes de descer para atacar sua presa.

Os sentidos de Toya estavam alertando o perigo quando ele sentiu a ameaça que se aproximava de seu ser, mas ele não era habilidoso o bastante para determinar de onde o atacante estava vindo. Ele procurou freneticamente, mas com seus sentidos agora adormecidos pela perda de sangue e pela ferida escondida dentro de seu coração, Toya sentiu seu medo aumentar.

Seu coração doía por causa das palavras que o seu próprio "pai" lhe lançara.

— Não posso deixar você ganhar, seu monstro. A vida do meu irmão depende disso — sussurrou Toya através de sua respiração esforçada, fazendo as palavras tropeçarem em seus próprios ouvidos.

Um raio de medo subiu por sua espinha quando ele olhou para o céu noturno. Seus olhos se arregalaram de terror ao ver que ele só sabia o final vindo do ataque, nunca o da vítima. Então... é assim — o pensamento filtrou-se por sua mente atormentada.

Ele tentou se mover, mas foi mantido imobilizado por uma força desconhecida. Seus olhos presos em um olhar mortal. Os olhos vermelhos perfuraram sua própria alma e Toya sabia que a morte estava chegando.

O grito alojado em sua garganta foi substituído por um som balbuciante. Seus olhos prateados voltaram a ser dourados e encontraram os olhos vermelhos de seu assassino, enquanto o tempo parecia parar. Seu corpo começou a ficar entorpecido enquanto ele lentamente olhava para baixo entre seus corpos.

As lágrimas caíram dos olhos de Toya quando sua cor dourada brilhante deles começou a desaparecer. Eu falhei com você, por favor me perdoe... Kyoko... Kyou. Esses foram seus últimos pensamentos quando deu seu último suspiro.

Ele podia sentir seu coração bater cada vez mais longe, à medida que a dor desaparecia. Os mistérios se desdobraram com seus batimentos cardíacos finais enquanto ele silenciosamente sussurrava maravilhado.

— Kyoko... há quanto tempo você está aqui?

Observando com um sentimento de prazer doentio, a figura vestida de preto com olhos vermelhos ardentes sorriu satisfeito. Ele baixou lentamente os olhos para a terra dura. Sua mão de garras ia fundo no peito do jovem com olhos como o sol.

Hyakuhei rasgou violentamente o coração que parara de bater.

Olhando nos olhos sem vida de Toya, ele sussurrou:

— Sempre me perguntei como os olhos de Kyou ficarão quando ele chorar. Aposto que serão lindos — ele se inclinou e beijou a testa de Toya antes de se levantar para se virar e encarar o homem que acabara de chegar a uma curta distância atrás dele.

Um sorriso sádico agraciou seus lábios enquanto ele segurava o coração sangrando e esperava que Kyou fechasse a distância entre eles.

— Para você, meu animal de estimação, agora não há nada entre nós — Sua voz atravessou a brisa noturna.

Os olhos de Kyou se estreitaram de desgosto quando ele olhou para o coração fresco que estava sendo estendido para ele. Hyakuhei viveu tanto tempo sem morrer que a morte agora era um presente para ele?

Enojado, Kyou se afastou da visão perturbadora. Ele sentiu a angústia de seu irmão e tinha vindo investigar. Em vez disso, encontrou o chamado "pai" e ele não podia mais sentir a aura de seu irmão.

Algo estava terrivelmente errado e Kyou podia sentir os nervos dentro de seu corpo pinicarem em sua pele em alerta.

Ele não conseguia ver o dono do coração que ainda goteava sua vida na mão do vampiro antigo, pois Hyakuhei bloqueou sua visão. Isso o irritou, pois fora detido em sua busca por seu irmão mais novo. Ele não via seu irmão há mais de um ano, mas esta noite... ele sabia que Toya precisava dele. Deve ter sido importante, pois Kyou sentiu o chamado com muita força.

Percebendo a antecipação no homem diante dele, os olhos dourados de Kyou se prenderam aos de Hyakuhei.

— Qual alma você roubou desta vez? — perguntou com desprezo em sua voz.

— Por que você não vem ver, meu animal de estimação? Tenho certeza de que você ficará muito surpreso. É meu presente para você — Um sorriso consciente acendeu seus traços sombreados enquanto Hyakuhei se afastava, deixando uma visão clara de sua vítima. Estendendo sua mão vagarosamente em direção a Toya, ele se virou para olhar para o cadáver no chão.

O olhar de Kyou seguiu o de Hyakuhei enquanto ele lentamente se aproximava, confundido com a importância da identidade dessa vítima. Seus olhos dourados se arregalaram diante da forma amarrotada, deitada no chão, enquanto um imenso sinal de alarme subia por sua espinha. Seu coração começou a acelerar quando viu as tão familiares luzes prateadas e brilhantes que atravessavam os cabelos negros, agora emaranhados com sangue e terra, espalhados pelo rosto do homem como se escondessem sua verdadeira identidade.

Ele sentiu todo o seu ser gritando de raiva e negação ao saber que agora estava olhando a forma abatida de seu irmão desaparecido.

— NÃO! — Kyou jogou a cabeça para trás e rugiu. Lágrimas encheram os olhos quando ele se virou para enfrentar o responsável. — O que você fez? — rosnou ele, enquanto avançava, parando a poucos centímetros do assassino de seu irmão. Seus olhos dourados de sol sangraram vermelho, caninos alongados expostos como os de um cão raivoso. Dobrando suas garras, ele esperou a confissão, mal segurando a ira.

— Somente o que eu deveria ter feito desde o início: remover aquele que não lhe apreciou como eu. — A expressão de Hyakuhei suavizou por um breve momento enquanto via seu filho preferido.

Ele deu a Kyou toda a sua atenção e carinho desde que lhe deu o dom da imortalidade das trevas, mas ainda assim Kyou não tinha sido feliz. Era a tristeza no olhar dourado de Kyou que o atraía tanto... a solidão dentro dele era adorável e imitava a própria melancolia de Hyakuhei. Ele então transformou o irmão de Kyou, Toya, na esperança de ganhar a devoção de seu precioso filho. Mas, isso só chateou Kyou ainda mais.

Hyakuhei observou as lágrimas agridoces se formando nos olhos de Kyou e sabia que ele estava certo. Kyou foi muito divino quando chorou.

Naquele momento, algo profundo dentro de Kyou disparou quando um grito triste de sacudir a terra rasgou seu corpo. Cego de raiva, ele atacou o assassino de seu irmão, as presas expostas e as garras afiadas.

— Vou arrancar seu coração e deixar seu corpo para ser devastado pelas criaturas da noite pelo que você fez!

Com destreza, o homem perverso esquivou o ataque e em um borrão de preto e prendeu Kyou no chão. Com uma calma que não refletia em seu ser profundo, Hyakuhei inclinou-se para perto, seu olhar fixo no rosto que o assombrara tanto, o rosto de seu próprio irmão.

— Fiz o que era necessário para nós. Toya não queria que você ficasse com meu presente e procurou tirá-lo de você. Você entenderá com o tempo — murmurou ele enquanto seus lábios macios roçavam fugazmente por grunhidos enquanto falava essas palavras.

Com uma força que ele não percebera possuir, Kyou atirou o homem agressor a seis metros de seu corpo trêmulo. Ele passou o antebraço pela boca com desgosto enquanto rosnava perigosamente.

— Calma, criança, acalme-se — falou o homem enquanto se levantava e tirava a sujeira de suas roupas. Seus olhos brilharam com promessas enquanto seu corpo cintilava levemente e então desapareceu na noite. — Vou estar assistindo, esperando por você, meu animal de estimação.

O mundo de Kyou se despedaçou enquanto olhava para o corpo sem vida de seu irmão.

— Vingarei a morte do meu irmão e passarei a eternidade caçando você se for preciso. Quando eu lhe encontrar, você pagará por isso, Hyakuhei.

Ele ficou de joelhos e ergueu suavemente o corpo de Toya em seu peito, encostando sua cabeça suavemente. O cabelo de seu irmãozinho havia se afastado de seu rosto fazendo com que a visão de Kyou nublasse enquanto tentava conter o fluxo de lágrimas, sem conseguir. Parecia que Toya estava simplesmente dormindo, pacífico pela primeira vez em muito tempo.

Ele observava enquanto suas lágrimas escorriam sobre o rosto de Toya e Kyou sentiu seu coração se partir. Apertando seu amado irmão forte contra ele, Kyou sussurrou com uma voz instável:

— Toya, por favor, perdoe-me por não ter chegado aqui a tempo — sua respiração estremeceu quando ele cerrou os olhos diante de tanta dor. — Eu sabia que você precisava de mim. Eu deveria ter salvado você.

A mente de Kyou correu para o dia em que Hyakuhei o transformou no que ele era agora, um dia depois da morte de seu pai. Kyou sabia que Hyakuhei só queria a ele e Toya era apenas uma criança pequena. Então, para proteger Toya, Kyou deixara Toya com seu tio mesmo quando seu irmãozinho tinha chorado, implorando para ele não partir.

Ele ainda lembrava da desconfiança que brilhava nos grandes olhos dourados de Toya quando olhava para Hyakuhei, desafiando-o a tirar seu irmão mais velho dele. Era a lembrança desse olhar assombrado que ajudara Kyou a ficar longe de seu irmão por vários anos para protegê-lo.

Quando Toya ficou mais velho, Kyou se viu ansioso por vê-lo, secretamente visitando-o e observando de longe, observando seu irmão viver a vida que ele não podia. Observar Toya secretamente tinha sido a única felicidade de Kyou durante aqueles dias sombrios. Muitas vezes, ele se escondia no quarto de Toya para vê-lo dormir.

Se ele soubesse que Hyakuhei o seguia e observava enquanto Kyou olhava por Toya, ele nunca colocaria Toya em perigo assim. Seu tio transformou Toya porque ele pensou que era o que Kyou queria. Tinha sido culpa dele que Toya tivesse morrido na primeira vez.

Toya lutou contra seu tio, durante a transformação e depois. À medida que seus argumentos se tornaram mais viciosos, Kyou tentou manter a atenção de Hyakuhei longe de seu irmão. Então Toya começou a falar sobre uma cura para vampiros: o Cristal do Coração Guardião. Ele jurou que iria encontrá-lo e curar os dois.

Toya encontrou sua cura na morte.

Fazendo o que podia para evitar olhar para a cavidade agora vazia onde o coração de seu irmão havia residido, Kyou levantou-se e levou o corpo de Toya longe daquele local para lhe dar um enterro digno.

Ele não podia mais sentir a presença de Hyakuhei, mas sabia que estava perto, observando-o de alguma forma, sempre o observando. Kyou entendeu agora que ele teria que partir, se esconder até ser forte o suficiente para derrotar o mal que havia roubado a única coisa que lhe era mais querida: seu irmãozinho. Ele passou pela escuridão deixando a clareira em total silêncio.

Kamui soltou um suave suspiro de alívio quando os irmãos se foram e abaixou sua barreira de invisibilidade em torno da forma maltratada de Kotaro. Olhando para o Lycan, Kamui sabia que levaria um tempo para que as feridas de Kotaro pudessem curar, não apenas as feridas de seu corpo, mas as feridas que agora estavam profundamente enraizadas no coração também.

— Vamos — sussurrou Kamui, puxando um dos braços de Kotaro nos ombros e ajudando-o a ficar de pé. — Hyakuhei não foi longe e eu preciso tirar você deste lugar desprotegido. — Os olhos dele brilhavam com a cor do pó do arco-íris enquanto tentava reter suas próprias lágrimas. Foi em vão, pois ele podia senti-las escorregando pelo rosto em trilhos quentes.

Muita coisa foi perdida no período de apenas algumas horas mortais... ele agora entendia o que ser mais sombrio do que as sombras realmente significava. Ele não perderia Kotaro também.

Eu não o odiava tanto — sussurrou Kotaro, olhando abatido para onde o corpo de Toya tinha ficado momentos antes. Ambos amaram Kyoko e ela, por sua vez, teve carinho por ambos... nunca escolhendo um em vez do outro quando eles estavam lutando... até hoje à noite. O destino só lhe havia dado poucas horas, pelo menos Toya não sabia disso.

Sua mão se fechou em um punho e ele apertou. Toya teria ficado louco, mas ele estaria vivo. — Preferiria enfrentar a raiva dele... não isso... não isso. — Sua voz vacilou.

Ambos tentaram protegê-la, mas agora Toya... os olhos azuis gelo de Kotaro nadaram com lágrimas não derramadas:

— Eu nunca o odiei.

— Ele sabe que não — disse Kamui, levando o Kotaro na direção do único lugar seguro que conhecia... o mago, a casa de Shinbe. Ele precisava contar para o amigo sobre o destino de Toya e de Kyoko. Shinbe de alguma forma sabia o que fazer, ele sempre sabia.

— Eu vou matar aquele bastardo do Hyakuhei! — rosnou Kotaro enquanto lutava contra a restrição de Kamui, sua natureza de licantropo indo à superfície. — Ele a matou... ele matou Toya por causa dela. Quando eu o encontrar, ele desejará nunca ter nascido humano.

Como se o vento tivesse sido arrancado de si, o corpo de Kotaro estremeceu. Ele sabia que Toya era muito mais forte do que ele jamais reconhecera, mas sem Kyoko para proteger, Toya perdeu a vontade de lutar. Hyakuhei sabia disso antes da luta ter começado.

O sofrimento de Toya o fez ficar irritado, impaciente. — Se ele tivesse esperado mais alguns momentos, Kyou poderia tê-lo salvado. — A tristeza pendia em todas as sílabas enquanto Kotaro limpava as lágrimas com raiva, lágrimas que silenciosamente deixavam trilhas em seu rosto.

— Eu queria salvar os dois... Kyoko. — A dor em seu corpo enfraquecido era demais quando ele fechou os olhos azuis brilhantes e cedeu ao nada que acalmaria a dor por um curto período de tempo.

Kamui assentiu enquanto levantava o corpo mole de Kotaro e o carregava.

— Você já fez o suficiente. Descanse agora — sussurrou ele. — É minha vez de salvar as pessoas.




Capítulo 2


Perto da hora do amanhecer, Kamui pairava acima de uma sepultura não marcada. Os dois homens de cada lado dele eram tudo o que ele tinha. Ele observou Shinbe usar seus poderes telecinéticos para remover a terra do túmulo de Toya e ampliá-lo o suficiente para dois corpos.

Shinbe e Kotaro tinham a mesma expressão agora... tristeza e uma força teimosa. Kamui sabia que eles estavam tentando parecer fortes para ele, mas ele podia ver a melancolia que ambos escondiam.

Todos olharam para o túmulo... a realidade dolorosa de tudo aquilo sendo absorvida. As coisas não deveriam acabar assim... o lado bom não deveria perder... ou morrer. Shinbe os ajudou a tomar uma decisão sobre o que fazer. Buscando o corpo de Kyoko, eles o levaram para o túmulo onde Kyou colocou seu irmão e enterrou-os juntos.

Toya teria querido assim... era a única coisa que fazia sentido.

Kamui tinha sido incapaz de levar o corpo de Kyoko para o túmulo quando o encontraram. O sangue que a rodeava não era o que o incomodava. Era apenas muitíssimo doloroso ver alguém tão gentil e puro, carregando tanta luz dentro de si, estar ali agora, deitada na escuridão, com os olhos abertos, mas vazios. Isso é que doía ver.

Percebendo o choque de Kamui e vendo suas mãos tremendo, Kotaro interveio e ergueu Kyoko amorosamente em seus braços, tentando ignorar a rigidez no corpo dela. Ele não conseguia sentir nada exceto raiva e tristeza naquele momento. Se ele se permitisse sentir o resto das emoções, o quanto ele a amava, seus joelhos se curvariam. A dor pesava muito sobre ele.

Ver o olhar no rosto de Kamui foi suficiente para ajudá-lo a controlar suas próprias emoções e a dormência que havia se estabelecido também ajudou. Kamui não era humano nem era criatura, o que quer que ele fosse, seu coração estava em destroços. Kotaro decidiu que seria sua missão cuidar dele de agora em diante, mesmo que o garoto provavelmente não precisasse disso.

Kamui limpou a trilha de lágrimas de seus olhos, tentando ser forte como Kotaro e Shinbe. Seu cabelo roxo indomado sacudiu ao vento enquanto ele olhava para a terra recém-revirada. Ele tirou seu próprio manto e gentilmente envolveu-os para aumentar o poder do feitiço que ele estava prestes a lançar.

Ao fechar os olhos brilhantes, ele cruzou os dedos enquanto as asas iluminadas brotavam de suas costas em um turbilhão de penas. Elas brilhavam com cores tão intensas que o olho humano desconhecia.

Shinbe e Kotaro, assustados, deram um passo para trás, de repente entendendo o que Kamui era. A palavra anjo pairava em seus lábios, mas ele parecia tão triste. Como um anjo com um coração partido... um anjo caído.

Com dedos gentis, Kamui tirou uma pena de sua asa direita e segurou sua mão com a palma para cima. A expressão triste e serena em seu rosto não vacilou. Seus olhos brilharam com um vislumbre de esperança enquanto ele rapidamente deslizou a pena afiada em sua palma causando um corte raso.

O líquido carmesim se acumulou em sua palma e Kamui fechou lentamente o punho antes de se dirigir ao túmulo não marcado. As gotas sagradas do sangue de sua vida caíram sobre a terra, fazendo o solo brilhar com um poder azul elétrico sobrenatural.

Chocados, Shinbe e Kotaro só podiam ficar de pé e assistir enquanto tudo acontecia. Eles não se atreveram a se mover por medo de perturbar o rito que Kamui estava realizando. Ambos compreenderam que estavam testemunhando algo incrível e, sem dúvida, nunca mais veriam algo assim novamente.

O ar em torno de Kamui girou em um vórtice que o rodeava em uma luz azul fluorescente. Sua voz ecoante deixou seus lábios parecendo mais velhos e sábios do que um dia já foram. A voz ricocheteou pelos céus, um som assustador que viajava por quilômetros, fazendo com que tudo que a ouvia ficasse imóvel em reverência ao seu poder:



Mil anos serão necessários.

Desta vez, obedeceremos para o seu próprio bem.

Quando o sangue de um guardião derrama

É hora desta profecia se cumprir.

Só então duas almas irão reviver.

Trazendo-as para a luz,

Fadadas a combater a magia negra da noite.

Com essa promessa, nós imortais tomaremos as armas,

Protegendo contra o mal aqueles que renasceram.

Nas mãos da pedra e do mármore, ao nosso inimigo daremos

O único desejo que ele anseia... dentro da luz para viver.



À medida que o vórtice circundava Kamui, uma pluma incandescente de cada asa iluminada se soltou e voou para a frente dentro do ciclone, girando como duas pequenas adagas e pousando diretamente no túmulo. As penas brilhantes ficaram presas no solo suave por alguns breves momentos antes de se afundarem na terra para fundirem-se com as almas de seus amigos.

Os joelhos de Kamui se chocaram com o chão quando o feitiço se dispersou, enviando uma onda de choque em todas as direções.

— Até que nos encontremos novamente, Kyoko... Toya — murmurou Kamui ao sentir a solidão lhe cercar. — Talvez a próxima vida seja em um tempo melhor e muito mais iluminado.

Shinbe permaneceu em silêncio ao lado dele, sem querer nada além de derramar suas lágrimas, mas ele não podia se dar a este luxo. Hyakuhei ainda estava por lá e ele sabia que o vampiro de coração negro acabaria por vir atrás dele. O inimigo saberia o que tinham feito. Por enquanto, ele apagaria todos os traços que podia.

Alcançando seu bolso, Shinbe tirou uma pequena garrafa ametista cheia de um pó mágico intemporal. Pulverizando levemente o solo, ele circundou o túmulo para protegê-lo de todos os olhos curiosos. O solo imediatamente se tornou sólido para esconder a localização da nova sepultura.

Os olhos de Shinbe iluminaram-se com a mesma cor ametista, enquanto sussurrava palavras que apenas ele podia entender.

Ele sentiu um velho vínculo entre irmãos que haviam lutado uma batalha eterna contra a escuridão atravessar sua alma para se tornar um símbolo de proteção sobre a sepultura. Acima do lugar de descanso de seus amigos flores surgiram sem que fossem plantadas sementes. Flores de cinco cores apareceram em vinhas espinhosas: prata, ouro, azul gelo, ametista e pó cintilante do arco-íris.

— Estou me despedindo — disse Shinbe depois de um longo silêncio. Ele não queria que sua presença indicasse a localização dos outros e sabia que era hora de seguir em frente. Seu olhar voltou para o arbusto de flores estranhamente colorido. Toya e Kyoko agora estavam protegidos de Hyakuhei e o feitiço não seria perturbado.

Por enquanto, era tudo o que ele poderia oferecer além da tristeza.

Kamui olhou para o mago, chocado com este novo desenrolar.

— O quê? Mas... por quê? — Seus olhos se arregalaram em um momento de pânico... todos iriam deixá-lo agora? Já não era ruim o bastante perder Toya e Kyoko?

Sentindo o medo de Kamui emergir, Shinbe colocou uma mão firme no ombro de seu amigo e tentou explicar:

— Você sabe tão bem quanto eu que Hyakuhei acabará sabendo o que fizemos aqui. — Olhou para Kotaro sobre o ombro de Kamui, sabendo que o licantropo entenderia seu abandono.

— Você será capaz de escapar dos olhos sempre vigilantes de Hyakuhei, mas eu não tenho esse tipo de poder. No entanto, eu poderei me esconder, mas não tenho certeza por quanto tempo. — Shinbe soltou um longo suspiro e olhou para a lua indo baixa no céu. — Meus dias são contados agora... — Um sorriso suave inclinou os cantos de seus lábios como se ele soubesse um segredo. — Então, que seja! Vou embarcar no próximo navio indo para o oeste, sobre o oceano. Lá, terei uma chance melhor de manter minha identidade a salvo de Hyakuhei e talvez até encontre um caminho para a minha própria alma reencarnar ao mesmo tempo que nossos queridos amigos. — Ele esperava que o que ele dizia fosse a verdade. Eles precisariam dele quando chegasse o momento.

Kamui olhou para o túmulo embaixo dele e depois para o amigo com mais calma do que havia sentido desde que esta noite de pesadelo havia começado. Ele não queria que Shinbe fosse a próxima vítima, então, sim, ele entendeu. Gentilmente arrancou uma pena cor de arco-íris de sua asa direita e pressionou-a no pescoço de Shinbe.

Shinbe ofegou quando a pena começou a brilhar intensamente antes de ser absorvida em sua pele. Olhou para baixo e viu o contorno mais suave da pena logo abaixo da gola de seu manto.

— Isso irá ajudá-lo quando chegar a hora — disse Kamui com um sorriso e deu um abraço apertado em Shinbe. Ele não perderia Shinbe durante muito tempo, custasse o que custasse.

— Nós nos veremos novamente, meu amigo — sussurrou Shinbe antes de se afastar do abraço de Kamui. Ele assentiu com a cabeça para Kotaro, sabendo que o licantropo cuidaria de Kamui por todos eles. Shinbe olhou de novo para o túmulo, depois afastou o olhar, deixando sua franja cair no rosto para esconder sua tristeza.

— Então, que seja assim — sussurrou ele novamente, desaparecendo na escuridão.

— Você está pronto, garoto? — perguntou Kotaro baixinho enquanto mantinha as costas para o túmulo. Ele sabia que não poderia ficar. Shinbe estava certo, quanto mais longe ficassem, mais protegido ficaria o feitiço.

Kamui queria se zangar pelo apelido que Kotaro acabara de lhe dar, mas não tinha energia. Seu coração estava sepultado na terra a seus pés e, mesmo se demorasse até o fim dos tempos, ele veria Hyakuhei pagar por seus crimes.

— Sim — disse Kamui, passando o braço nos olhos. — Estou pronto.

Kotaro colocou um braço em volta dos ombros e o conduziu. O licantropo descobriu que não poderia derramar mais lágrimas pela mulher que ele amara com todo o seu ser. Sua alma sentiu como se alguém a tivesse arrancado de seu corpo, rasgando-a em pedaços e só devolvido metade dela.

Se o feitiço que Kamui e Shinbe fizeram funcionasse, ele veria sua amada Kyoko novamente. Ele não podia deixar de sorrir diante das palhaçadas que ele e a reencarnação de Toya iriam inventar para ganhar o afeto de Kyoko. Ele teria prazer em lutar por ela mais uma vez se Toya pudesse voltar. Afinal, ele amava os dois.

Ele lutou contra o desejo de olhar para o túmulo de novo.

— Mil anos é muito tempo para esperar, mas eu estarei lá por você, Kyoko.



*****



Mais de mil anos no futuro.

Dias atuais.



Uma figura solitária estava em um telhado do prédio mais alto, avistando a cidade populosa abaixo. Seus traços nunca traindo a dolorosa lembrança de seu único irmão, deitado sozinho e sem vida na terra fria e dura, séculos atrás. Seu coração, uma vez quente e pulsando, preso pelas garras do monstro sádico que criara ambos os irmãos.

Ele tinha feito tudo o que estava ao seu alcance para se separar do mal que o rodeava silenciosamente. Assim como os humanos deste mundo, ele só se alimentava dos animais que a natureza fornecia. Mesmo que a escuridão fosse tudo o que lhe era permitido, como é a maldição de um vampiro, ele nunca se tornaria o demônio que seu tio tinha pretendido.

Nos últimos anos, algo dentro dele se agitou. Uma saudade que ele não conseguia entender e que não sentia em mais de mil anos.

Memórias nunca esquecidas, relembradas na mente de Kyou, de um jovem inocente, que havia enchido sua vida de felicidade, mesmo dentro de um mundo de trevas. Toya... ele era tão cheio de vida, com olhos dourados risonhos e a ignorância de uma criança. Mais uma vez essas lembranças trouxeram dores de culpa ao seu coração por não ter conseguido proteger seu irmão mais novo.

Olhos dourados que se tornaram endurecidos devido a centenas de anos de solidão, sangraram vermelho com a lembrança de uma promessa que ele ainda não havia cumprido. Kyou ficava cada vez mais forte a cada década que passava. Muitas vezes ele chegou bem perto, mas o objeto de seu ódio e ira o eludia toda vez.

Ele não descansaria até que a vil criatura que procurava se contorcesse em agonia aos seus pés e sua alma fosse lançada ao inferno onde pertencia.

O olhar de Kyou foi atraído para o único lugar sereno em toda a cidade, o parque tranquilo no centro.

— Tais lugares não devem estar perto de tanto mal — murmurou ele na noite.

Saltando do prédio, Kyou continuou sua busca como fazia por tantos séculos. Hyakuhei pagaria com a própria vida por roubar o único ser com quem Kyou se importava e sempre se importaria. Seu irmão estava perdido para sempre e nunca mais retornaria.

— Toya... — sussurrou Kyou enquanto desapareceu na noite, deixando para trás a imagem de um anjo vingador.



*****



O parque era sempre pacífico nesta hora do dia. Ainda era tarde e o sol estava alto no céu. Kotaro passeava vagarosamente pelas árvores perto do centro onde havia um enorme bloco de mármore. Ele não tinha ideia de onde o bloco havia vindo, estava lá desde que ele se lembrava e era ainda mais velho que a própria cidade. Tudo o que ele sabia com certeza era que ele sentia uma sensação de paz cada vez que estava perto dele.

— Quem pensaria que uma pedra quadrada traria pensamentos tranquilos? — murmurou Kotaro para si mesmo.

Tomando outro caminho entre as árvores, ele dirigiu-se até a pedra para que pudesse olhar para ela. Mesmo que ele estivesse completamente feliz naquele dia, só o fato de se certificar que ela ainda estava lá o fazia se sentir melhor.

Kotaro parou quando entrou no centro onde a pedra estava e franziu a testa para o indivíduo que estava sentando no estilo indiozinho no topo dela, com os cotovelos nos joelhos e o queixo preso em suas mãos. Os cabelos curtos e roxos balançavam com a suave brisa, fazendo o jovem parecer muito infantil.

— O que diabos está fazendo aqui? — exigiu Kotaro.

Kamui sorriu sem olhar para ele. Em vez disso, ele assentiu na direção da faculdade à distância.

— Esperando que a aula comece.

Kotaro balançou a cabeça e seguiu em frente antes de parar de novo e virar o rosto para encarar Kamui.

— Do que você está falando? Você nem frequenta aquela escola.

Kamui deu uma piscada de olhos antes de desaparecer lentamente em um turbilhão de pó de arco-íris cintilante.

— Eu sei.

Kotaro olhou para o pó girando antes dele desaparecer completamente.

— Às vezes, esse garoto é um enigma — informou ao espaço agora vazio, depois seus olhos se moveram mais para baixo, como se acariciando a pedra. Ele ouviu o som de pés correndo no pavimento, mas na verdade não notou até que alguém o tocou no ombro. Ele literalmente pulou e girou para ver Hoto e Toki curvados com as mãos apoiadas nos joelhos tentando recuperar o fôlego.

— O que tirou o fôlego de vocês dois? — perguntou Kotaro com um sorriso malicioso enquanto recuperava a compostura.

Hoto acenou com um pedaço de papel na frente dele.

— Para você... da polícia... importante.

Kotaro pegou o papel.

— Da polícia, hein? Deve ser realmente importante para fazer vocês correrem uma maratona.

Toki assentiu antes de cair ao seu lado para descansar. Hoto simplesmente afundou em seus joelhos e apoiou a cabeça na grama.

— Vocês são os maiores chorões que já vi - reclamou Kotaro com benevolência.

— Este lado dói — gemeu Toki. — Preciso voltar... para... ar condicionado... escritório.

Kotaro suspirou resignado e deixou-os assarem sob o sol quente antes de abrir o bilhete. Sua mão fechou, enrugando o papel que acabara de receber da delegacia de polícia, não muito longe do campus. Outra menina desapareceu sem deixar vestígios. Ele havia passado muito tempo investigando os desaparecimentos de muitas meninas, que por fim o levaram à faculdade onde agora era chefe de segurança.

Seus pensamentos imediatamente se voltaram para sua amada Kyoko. Ele a encontrou novamente e, assim como esperava, Toya não estava longe. Uma coisa que o surpreendeu foi o fato de Toya ter renascido normal, humano, ou assim parecia.

Às vezes, ele podia sentir o verdadeiro Toya sob a superfície, desconhecendo sua própria existência, mas, até agora, essa parte permanecia adormecida.

— Graças a Deus por pequenos favores. — Kotaro passou uma mão agitada em seus cabelos sacudidos pelo vento.

Era bom para ele que nenhum deles se lembrasse do passado. Era uma lembrança melhor esquecida. Ele desejou ter o mesmo privilégio de esquecer, mas para ele, a lembrança permaneceu, muitas vezes acordando-o de noite com um suor frio.

Deixando o parque, ele viu-se parado na calçada de pedra em frente ao campus. Kotaro ergueu os olhos azuis gelo na direção em que Kyoko morava. Ele franziu o cenho quando a preocupação entalhou seus traços e teve o súbito desejo de ver "sua mulher".

A parte longa de seus cabelos escuros em camadas foi presa para trás em um rabo de cavalo baixo. O resto de seu cabelo, da franja ao topo, ficava em um estado que parecia constantemente esvoaçado pelo vento, dando-lhe a aparência de um menino mau punk, mas isso lhe caía bem. Essa aparência lhe ajudou mais de uma vez nos últimos anos.

Seu corpo era alto com músculos esbeltos, mas as aparências podiam enganar. Ele não tinha um pingo de gordura de sobra e era mais forte do que cinquenta homens humanos juntos. As únicas pessoas que conheciam sua força inumana eram aquelas que escolheram lhe chatear ou ousaram cruzar seu caminho. E aquelas poucas estavam muito amedrontadas para dizer sequer uma palavra. Ninguém no campus conhecia o lado secreto de Kotaro e ele queria continuar assim.

Kotaro era responsável pela segurança de todas as pessoas que caminhavam no campus: visitantes, alunos ou membros do corpo docente. As jovens começaram a desaparecer desta área há cerca de um mês, a um ritmo alarmante e, principalmente, da área que cercava os campos da faculdade.

Um grunhido baixo formou-se profundamente em seu peito enquanto ele inalava os aromas ao seu redor. O ar se contaminou com um cheiro antigo... mal. Ele estava se aproximando daquele que era responsável por mais do que apenas o sumiço das meninas, ele conseguia sentir isso. Deixando esses pensamentos de lado por hora, ele começou a caminhar rapidamente para os apartamentos vizinhos que abrigavam muitos universitários inocentes.

Ele iria ver Kyoko e se ela o deixasse, seus olhos escureceram atraentemente, ele não sairia de seu lado pelo resto do dia, ou da noite. Ele só esperava que Toya não estivesse com ela novamente hoje. Ele a queria toda para si. Afinal, na verdade ela era sua mulher e aquele "menino" teria que se mancar.

Seus passos diminuíram um instante com a ironia disso. Ele estava contente por Toya pelo menos ter vida agora. Um sorriso quase divertido apareceu quando ele mentalmente ameaçou aquela vida se Toya não parasse de perseguir Kyoko o tempo todo.

Só o pensamento dela sentada ao lado dele em seu confortável sofá, comendo pipoca e vendo um filme bobo parecia uma noite perfeita. Eles faziam algo assim pelo menos uma vez por semana e para ele essa era a parte favorita da semana. Ele aproveitava seu tempo ininterrupto com a bela dos cabelos castanhos. Não importava se estavam assistindo um filme ou simplesmente sentados em seu sofá conversando. Ele simplesmente amava a sensação dela estar aconchegada ao seu lado.

Kotaro sorriu para si mesmo com satisfação enquanto se perguntava como seria estar sempre ao lado dela, dia e noite.

O sorriso dele desapareceu com seu próximo pensamento. Kyoko ainda não o escolhera ao invés de Toya. Pelo menos, não durante sua vida.

— Algumas coisas nunca mudam. — Ele olhou para cima como se enviasse um silencioso e sarcástico "obrigado por toda a ajuda com isso" para quem estivesse ouvindo. Algo lhe disse que os deuses deveriam ter o mais perturbador senso de humor.



*****



As provas finais finalmente terminaram e Kyoko passou a tarde cantando essas palavras. Ela tinha sido uma boa garota e estudara até ficar doente, mas tudo valeu a pena. Ela sabia que tinha gabaritado estes testes cruéis. Só de pensar nisto a fazia querer dançar feliz durante todo o caminho de volta para seu apartamento.

De fato, a primeira coisa que fez assim que atravessou a porta foi jogar seus livros pela sala de estar como se estivessem infestados de doenças e, finalmente, sucumbiu à vontade, realizando uma "dança feliz" improvisada na entrada, parecendo que ela tinha talento para dança, afinal.

Isto foi imediatamente seguido por sua própria versão de uma dança que ela tinha visto Toya fazer uma vez, sacudindo o bumbum por todo o corredor até o banheiro, para que ela pudesse tomar um banho quente de espuma. Kyoko então decidiu que, se ia fazer isso, teria que fazer direito, e foi ligar o aparelho de som e pegar algumas velas.

Ela ainda estava fazendo barulhinhos fofos de vitória quando a banheira se encheu e ela mal se deu ao trabalho com suas roupas, tirando-as e jogando-as onde quisesse. Provavelmente vou encontrar minha calcinha pendurada no ventilador de teto quando eu acabar — pensou consigo mesma, depois sacudiu os ombros e entrou na água.

Ela deslizou mais para dentro da banheira para deixar as bolhas flutuantes acariciarem seu pescoço e ombros. Seus olhos verde esmeralda, que às vezes eram conhecidos por se tornarem tempestuosos a cada momento, estavam brilhando de satisfação.

Suas ondas de cabelo castanho-avermelhadas estavam soltas ao acaso e sua pele lisa e sedosa estava escondida agora sob as bolhas. Ela era uma garota feliz e tudo o que realmente queria fazer era relaxar pelo resto do dia. Um pouco de música suave ao fundo, algumas velas com cheiro doce acesas em todo o banheiro e estava pronto o cenário perfeito.

Ela fechou os olhos, sabendo que a imagem dele logo entraria em foco, como se estivesse esperando por ela. Este era seu segredo.

Os olhos azuis gelo a observavam dentro de sua mente. Ela sonhava com ele tantas vezes durante a noite que agora podia convocar estes sonhos, mesmo quando acordada. Quanto mais profundamente ela se engrenhava no sonho, mais real ele se tornava, até parecer que ele estava realmente lá, ajoelhado ao lado da banheira.

Os lábios dele formaram um sorriso sensual ao estender a mão e tirar a toalha dela. Seus olhos se tornando tão brilhantes quanto a chama azul.

— Os sonhos são agradáveis — sussurrou ela enquanto rolava a cabeça para o lado, deixando-o fazer o que ele quisesse.

Trimmm!

Um dos sons mais irritantes do mundo ecoou em todo o apartamento. Kyoko se ergueu na banheira, derrubando a água sobre a borda e sobre o chão de cerâmica. Levantando a mão na bochecha, sentiu o calor e corou quando o telefone tocou novamente.

— Droga!

Ela se levantou rapidamente sabendo que o telefone estava na sala de estar. Saindo da água, ela pegou o robe de seda da bancada e a envolveu enquanto corria para atender.

Percebendo que estava deixando umas pegadas de água, ela fez uma nota mental para lembrar de levar o telefone sem fio ao banheiro na próxima vez.

Na outra extremidade do toque irritante, Suki batucava as unhas na bancada da cozinha, desejando que Kyoko se apressasse e atendesse o telefone. Ela teve aquela sensação inquietante de que Shinbe chegaria a qualquer momento e não queria que ele soubesse nada sobre o que ela estava planejando.

Ela ouviu o clique na outra extremidade.

— Até que enfim!

Kyoko tirou o telefone da orelha para encará-lo com raiva e colocou-o de volta.

— Suki, eu estava no banho! — quase choramingou Kyoko enquanto olhava ansiosamente para a porta do banheiro, onde sabia que a água ainda estava quente e perfumada com jasmim. A banheira a chamava para que ela voltasse e curtisse... e o sonho também. Ela mordeu o lábio inferior enquanto desviava os olhos do que ela ansiava.

— Você está parada aí, nua? — riu Suki sabendo que Kyoko corava facilmente.

— Suki! — gritou Kyoko no receptor. Sua amiga simplesmente tinha um senso de humor pervertido, o que provavelmente se deve ao fato de passar muito tempo com Shinbe. Ela sorriu maliciosamente enquanto respondeu:

— Você precisa de alguma coisa? Estou com uma banheira quente e vaporosa chamando meu nome e você está interrompendo meu pequeno encontro.

— Encontro? — Suki olhou para o telefone e revirou os olhos. — Você definitivamente precisa de ajuda, Kyoko. Quem já ouviu falar em se sentir romântica na banheira sem alguém lá para acompanhar? Pelo menos, tenha uma centelha de imaginação e pense em um homem sexy para lavar as costas quando estiver lá - suspirou ela com um tom exasperado, inconsciente de que acabara de surpreender Kyoko em cheio em quão perto sua imagem mental realmente era.

— De qualquer forma, você e eu vamos ter uma noitada para celebrar o fim das provas — chilreou Suki. Ela não estava querendo deixar Kyoko dizer não. — Também não aceitarei um "não" como resposta, então comece a se arrumar. E use aquela roupa que compramos no último fim de semana. Vou fazer o mesmo. — Suki inalou profundamente e logo começou a falar antes que Kyoko pudesse dar um pio. — Esteja pronta lá pelas 7:30. Te amo. Tchauzinhoooo!

Kyoko piscou quando o telefone desligou. Seus lábios ainda estavam abertos porque ela estava prestes a dizer “não” em sua primeira oportunidade. Ela enviou um olhar silencioso e zangado para a parede mais distante da sala de estar que separava os apartamentos das duas garotas, se perguntando se Suki havia telefonado de lá ou de seu celular em algum outro lugar.

Olhando para a identificação de chamada, ela suspirou.

— Celular, certo. Não preciso ir bater na parede, então. — Mas a imagem de suas mãos em volta do pescoço de Suki trouxe um sorriso para o rosto dela. — Mas, posso fingir.

Lançando o telefone sem fio na bancada, Kyoko olhou para o robe de seda agora agarrando-se ao seu corpo úmido e gemeu. A água morna ainda na sua pele agora tinha ficado fria, causando arrepios. Rapidamente, ela se virou para voltar ao banho.

Trimmm! Trimmm!

Kyoko se contraiu.

Girando enquanto a sobrancelha esquerda se erguia em frustração, disse:

— Espero que seja Suki para que eu possa dizer o quanto gosto de ser incomodada! — Agarrando o telefone, ela falou um pouco mais alto do que o normal.

— Alô.

Toya sorriu com a saudação de Kyoko:

— Qual é? Sua mãe nunca te ensinou a ser educada ao atender o telefone?

Kyoko se sentiu calmamente caminhando até a janela, abrindo-a e deixando o telefone escorregar de sua mão para o desconhecido.

— Por que é que ninguém quer me deixar terminar meu banho? — choramingou ela, batendo os pés, mas sentindo o ar condicionado entrar sob seu robe.

O sorriso de Toya desapareceu quando sua imaginação extrapolou e visões explícitas começaram a dançar em sua mente.

— Você está pelad... — parou, de repente sem fala, antes de perguntar se ela estava lá nua. Sacudindo o pensamento de sua cabeça, Toya respirou profundamente para se acalmar e esperou que seus hormônios agora furiosos ficassem sob controle. — Droga, esta era uma linda imagem...

Kyoko franziu a testa, se perguntando se Toya estava de pé ao lado de Suki naquele momento.

Toya tentou novamente.

— Deixa para lá. Olha, eu estou indo aí para a gente ir ao cinema esta noite, então se arrume.

Kyoko estreitou os olhos, se perguntando sobre quem havia dito que hoje era o "Dia dos Chatos".

— Ah, tenho planos esta noite. — Claro que seus planos tinham sido transformar-se em uma ameixa no banho, ficar no sofá e ver um filme. Talvez até adormecer durante o banho, sem ter ninguém no mundo para incomodá-la dizendo "saia".

— Quê? Cancele tudo, pois você vem comigo! - Toya praticamente ordenou, ficando irritado por ela não estar fazendo o que ele queria que ela fizesse, como se ela alguma vez ela fizesse.

Kyoko fechou os olhos e afastou o telefone, cantarolando:

— Não vou jogá-lo pela janela, não vou jogá-lo pela janela.

Toc, toc.

Kyoko se virou para encarar a porta pensando: — Mas eu vou JOGÁ-LO na cara de quem estiver na maldita porta! Ela podia ouvir um riso demente vindo de algum lugar no fundo, onde residia seu gênio do mal.

Ela calmamente caminhou até a porta e destrancou-a, depois espiou para ver quem era.

— Kotaro — suspirou ela um pouco sem fôlego e depois calou-se com culpa, esperando que ele não tivesse notado.

Os olhos de Kotaro se iluminaram e escureceram ao mesmo tempo quando a porta se abriu. Ele estava feliz em ver Kyoko segura e, obviamente, não totalmente vestida. Ele ergueu uma sobrancelha pelo jeito que ela havia dito seu nome. Pressionando a mão na porta acima da cabeça de Kyoko, ele a abriu totalmente com seu habitual sorriso confiante enquanto passava pela jovem, quase tocando-a.

— Como está a minha mulher hoje? — Kotaro passou por ela e entrou no apartamento como se ele pertencesse ali.

Não vou cometer assassinato, não irei atirar o telefone, não vou... A mente de Kyoko continuou a cantarolar enquanto Kotaro a encarava com seu habitual sorriso de parar o coração. De repente, ela sentiu que o ar condicionado parara de funcionar.

Como esse homem, que só pode ser descrito como sexo ambulante, a afetava assim? Ela sempre sentiu como se estivesse tentando impedir que o jogasse no chão. Balançando a cabeça, ela olhou para baixo e gritou quando viu que o robe dela estava parcialmente aberto. Não dava para revelar muita coisa, mas o suficiente para fazê-la corar.

Toya ficou tenso, ouvindo pelo telefone a batida na porta em segundo plano e, em seguida, a voz de Kotaro. Ele gritou no telefone para chamar a atenção dela.

— Droga, Kyoko! O que diabos Kotaro está fazendo aí? — resmungou ele, irritado com o fato de o segurança ter aparecido no "seu" apartamento de Kyoko novamente.

Kyoko se encolheu quando o grito do telefone pode ser ouvido alto e claro dentro da sala de estar. Olhando sobre o ombro de Kotaro para o relógio na parede, ela sabia que precisava começar a se arrumar ou Suki seria a próxima a bater na porta. Já bastava. Ela se virou e caminhou até a bancada, pretendendo desligar o telefone.

Levantando-o de volta ao ouvido, ela gritou:

— Te vejo mais tarde! Click... um já era, só falta mais um.

Kotaro sorriu sabendo que tinha sido Toya com quem ela gritou. Seus olhos atravessaram a seda que se agarrava a um corpo bem formado como uma segunda pele e ele não conseguiria ter evitado se ele tivesse tentado avançar, mais perto dela. Ele lentamente fechou os olhos por apenas um segundo enquanto inalava profundamente, todo o seu corpo agora a menos de um centímetro do dela. O pensamento de tocar sem fazer contato fazia com que ele curvasse mentalmente seu corpo em torno dela e a abraçasse.

Ele se inclinou para a frente, aproximando os lábios da orelha de Kyoko antes de sussurrar seu nome. Seus lábios suavizaram, assim como seus olhos azuis. Muitas vezes ele se via quase desejando que ela se lembrasse do passado e do quão íntimos eles foram certa vez. O que ela faria se se lembrasse que eles costumavam morar juntos? Ele, ela e Toya, para que pudessem protegê-la.

Kyoko perdeu o fôlego e sentiu a pele ao longo de seu pescoço e bochecha formigar. Era difícil demais pensar direito com ele tão perto, mas agora ela podia sentir que ele a tocava, mesmo que ele não a estivesse tocando. Lembrando o que ela estava fazendo antes do telefone ter interrompido fez um seu calor instantâneo subir ao seu rosto.

Não querendo que ele percebesse sua culpa, ela se manteve de costas para ele e tentou reprimir a memória do banho. Ao fechar os olhos, ela lutou contra o impulso de se recostar nele e teve que agarrar-se à mesa para se estabilizar.

Kotaro queria colocar as mãos sobre a mesa em ambos os lados dela, prendendo-a entre seus braços, mas de repente se acalmou. Ele podia sentir o cheiro dos sabões que ela usara no banho, mas um sabor abriu caminho para ele e sua expressão ficou curiosa: excitação? Ele se afastou dela, se sentindo excitado.

Passando a mão por seus cabelos indomáveis, ele recuou para uma distância mais segura, tentando ignorar a sacudida na boca do estômago. Por que ele havia vindo aqui mesmo? Era importante.

Ele sentiu seus instintos protetores aflorarem pela lembrança dos recentes alertas que ele havia recebido.

— Você vai passar a noite comigo? — A pergunta que soava inocente escondia um duplo significado, enquanto ele provava o desejo.

Kyoko abrandou sua respiração, mais uma vez pronta para lutar contra seus sentimentos. Franziu a testa, sabendo que seria muito perigoso ficar sozinha com ele. De repente, ela queria agradecer a Suki por mandar nela.

Ao vê-la franzida, Kotaro rapidamente acrescentou:

— Nós podemos fazer o que você quiser. Alugar um filme e ficar em casa... ou sair.

— Alugar um filme e ficar em casa... — repetiu Kyoko ansiosamente pensando que era exatamente o que queria fazer. Então, percebendo os olhos de Kotaro se acenderem, ela rapidamente mudou:

— Pelo menos é isso que eu queria fazer e se eu não tivesse sido arrastada para os planos de outra pessoa. Eu adoraria ficar assistindo filme com você. Mas desculpe, Kotaro. Não posso. — Ela deu-lhe um sorriso apologético batendo mentalmente o pé ao pensar em perder uma noite muito quente com o belo guarda de segurança.

Os ombros de Kotaro caíram um centímetro, mas ele sorriu de qualquer jeito, sabendo que ela não estava tentando ferir seus sentimentos. Ele poderia até notar que ela queria que ele ficasse e ele se perguntou sobre a atração daquela vontade. Era o mesmo que ele queria? Para ele, Kyoko era a gema mais preciosa da Terra e ele faria tudo que pudesse para fazê-la sorrir e mantê-la segura ao mesmo tempo.

Afinal, ele esperou mais de mil anos apenas para vê-la novamente.

Precisando certificar-se de que ela estava protegida e fora de perigo, ele perguntou:

— Então, quais são seus planos, talvez eu possa participar da diversão? — Ele deu a ela o seu sorriso mais travesso, esperando que isso funcionasse. Se não, então ele poderia recorrer a persegui-la. Os cantos de seus lábios perfeitos se inclinaram em um sorriso secreto.

Kyoko sabia que Suki nunca aceitaria. A noitada só de mulheres significava "só de mulheres". Ela também sabia que se Kotaro descobrisse que estava com apenas Suki, ele iria junto, de alguma forma aparecendo como se por acaso. Ela o viu fazer isso muitas vezes.

Enquanto Toya era insistente, Kotaro sempre tentava ser sutil, mas se você coloca os dois caras no mesmo ambiente, eles parecem agir de forma muito parecida e se provocam constantemente. Ambos tinham um coração de ouro e ela sabia disso. De certa forma, ela os amava tanto... tanto que era doloroso, e é por isso que ela escolheu não escolher e simplesmente permanecer solteira por enquanto. Honestamente, ela não quis magoar os sentimentos de nenhum deles.

Mas uma coisa que Kyoko sabia com certeza era que se Kotaro pensasse que ela iria sair com Toya esta noite, ele não se incomodaria em seguir. Pelo menos ela esperava que não.

— Desculpe, Kotaro, já tenho planos com Toya, mas prometo que vamos alugar filmes ou algo assim qualquer hora destas. — Kyoko abaixou os olhos, não gostando do fato de que ela estava mentindo para ele, mas era a única maneira de fazê-lo desistir. Observando o chão, ela percebeu que ele deu um passo à frente e ela imediatamente deu um passo atrás mordendo o lábio inferior, quando sentiu a mesa atrás dela.

Kotaro sentiu o ciúme vibrar dentro dele, mas o manteve sob controle. Seu único consolo era que, se ela estivesse com Toya esta noite, pelo menos ele poderia ter certeza de que ela não seria uma das próximas garotas desaparecidas.

Além disso, ele sabia que Kamui estava secretamente vigiando Toya e Kyoko. Mentalmente, ele teve que admitir que Toya era superprotetor em relação a ela e a manteria segura. Ele queria ser o único com Kyoko esta noite, protegendo-a. Mas mesmo que ele não gostasse, Toya não deixaria que nenhum mal acontecesse a ela.

Ele a observou lentamente, levantando os olhos para ele, e ele pode ver a preocupação dela, achando que Kotaro tentaria detê-la. Ele queria impedi-la, mas não faria isso. Com o tempo, ela faria sua própria escolha.

Inclinando a cabeça ligeiramente em uma aceitação relutante, Kotaro pegou a mão dela mão e a segurou por um momento, fixando seus olhos azuis aos de esmeralda dela. Olhando nos seus olhos, ele sabia que ela tivera um dia difícil. Ele sempre podia ler os sentimentos dela através da cor de seus olhos. Ele aprendeu isso há mais de mil anos. Ele só queria que ela se lembrasse.

— Combinado, então, Kyoko. Vejo você amanhã. Tenha cuidado, linda. — Inclinando-se para a frente, ele roçou os lábios sobre a testa dela, depois soltou sua mão, virando-se para sair.

Kyoko sorriu.

— Obrigada, Kotaro. — Sua testa ainda formigava onde os lábios quentes dele a tocaram. Ela estava feliz por ele ser mais fácil de lidar do que Toya. Muitas vezes, ele beijava sua bochecha, testa ou mão, deixando essa sensação formigante e quente.

Ela se perguntava sobre o que ele pensaria se soubesse que ela nunca tinha sido beijada nos lábios. Ninguém jamais acreditaria que, com a idade de dezoito anos, ainda era tão pura, bem, fisicamente pura. Ela corou de novo sabendo que seus pensamentos não eram tão irrepreensíveis. Ela culpava o traidor que vivia dentro de si e acelerava toda vez que pensava nele.

Kotaro abriu a porta para sair, mas não antes de lhe lançar um sorriso sobre o ombro, acrescentando:

— Apenas lembre-se, você ainda é minha mulher. — Ele saiu rapidamente, fechando a porta atrás de si, sorrindo maliciosamente com o comentário.

Ele sabia que ela não iria cruzar a linha com Toya e não estava preocupado. Mesmo no passado, quando ele e Toya tinham brigado, ela o escolheu ao invés de Toya. Ela sempre adorou Toya, mas Kotaro sabia que era ele por quem ela realmente estava apaixonada. A velocidade dos batimentos cardíacos dela quando ele estava por perto sempre revelava seus verdadeiros sentimentos... nesta vida e no passado. Ele só tinha que esperar para que ela percebesse mais uma vez.

Kotaro inalou suavemente, saboreando o perfume dela. Mesmo agora ele podia sentir o cheiro de sua pureza e sabia que ela era o tipo de pessoa que levava isso a sério. Ela era muito inocente acerca do mundo real.

O pensamento fez o sorriso de Kotaro desaparecer. Ele não tinha tanta certeza de que queria que ela descobrisse o lado sombrio deste mundo. Não queria arriscar a felicidade dela. Nem mesmo ele era o que ela pensava que fosse. Ele sabia que ela o aceitaria de qualquer jeito, mas a lembrança de tê-la sepultado selava seus lábios, impedindo-os de falar do passado. Era melhor não se lembrar de algumas coisas.

Quando Kotaro saiu do prédio e voltou para a calçada, ergueu os olhos do pátio abaixo para a janela, imaginando o que Kyoko faria quando descobrisse sobre ele. E sim, ele lhe contaria a verdade, mas ainda não. Como você explica que é mais velho do que qualquer ser humano normal e que você tem poderes como ela só viu nos filmes?

Kotaro balançou a cabeça quando começou a voltar para a faculdade, contemplando seu próximo passo em relação às meninas desaparecidas.

Ele sabia o que estava acontecendo com elas e que provavelmente já estavam mortas ou pelo menos mortas-vivas. Seus olhos brilharam com raiva por apenas um momento, revelando o lado mais sombrio de sua alma licantropo. Ele precisava captar o cheiro desses malditos sanguessugas e aquele que os liderava antes que eles pudessem encontrar Kyoko de novo.




Capítulo 3


Kyoko revirou o armário procurando o que Suki a havia convencido de comprar no fim de semana anterior. Ela riu para si mesma lembrando que Shinbe as havia seguido ao shopping, se oferecendo para que desfilassem para ele para saber sua opinião. O ponto alto foi quando ele entrou no vestiário das meninas e ficou conversando com a Suki através da cortina.

Shinbe estava falando com uma voz fina para enganar Suki, se passando pela vendedora do setor, e se ofereceu para ajudá-la a fechar o zíper.

Suki havia aceitado a oferta de ajuda e virou as costas para a cortina. Kyoko quase caiu quando Shinbe saiu voando pelo provador e aterrissou contra a parede do outro lado.

Kyoko perguntou à Suki como ela tinha percebido que era Shinbe e Suki respondeu:

— Não acho que eles iriam deixar uma lésbica trabalhar no provador feminino, então quando ele colocou a mão dentro do meu vestido em vez do zíper, foi tipo uma entrega de jogo.

— Coitado do Shinbe — suspirou Kyoko enquanto tirava uma blusa cropped branca com mangas de seda que tinham forma de sino do cotovelo ao pulso e fluíam bem. Na verdade, ela achava a blusa bem bonita. A fazia lembrar de um manto de anjo, mas sexy. Era curta o suficiente para mostrar a sua barriga e combinava bem com a minissaia preta agarrada no quadril que ela também tinha comprado.

Depois de se vestir e encontrar os sapatos que queria, ela prendeu parte do cabelo ao redor das orelhas e fez um penteado alto atrás, mas deixando o resto do cabelo solto, de forma atraente. Usando um pouco de maquiagem e um colar segurando uma pequena lágrima de cristal, ela se considerou pronta para o que quer que fosse que a Suki estava tramando.

Ela desejou secretamente que pudesse ter dito a Kotaro para onde estavam indo, mas nem ela sabia a resposta para isso. Mordeu o lábio inferior percebendo que já estava sentindo falta dele, então tentou enterrar o sentimento melancólico, sabendo que Suki notaria.

A última coisa que ela precisava esta noite seria sua melhor amiga fazendo um milhão de perguntas que ela não queria responder.



*****



Shinbe passou os dedos pelas mechas azuis que brilhavam por dentro de seus cabelos escuros enquanto se apoiava contra a porta sorrindo. Ele correu para o apartamento da Suki quando ela ligou dizendo que ela iria sair à noite e que não era para ele ir lá.

— Ela está muito maluca se achar que pode se livrar de mim tão fácil — Shinbe ergueu uma sobrancelha enquanto esperava.

Quando Suki abriu a porta com o cabelo ainda enrolado em uma toalha, as primeiras palavras de Shinbe foram:

— Aaah, perdi você tomando banho, Suki? — sorriu ele, vendo a sobrancelha de Suki se contraindo.

Assim que conheceu Suki e Kyoko, ele sentiu a necessidade de ficar perto delas em todos os momentos. Ele e Suki, Toya e Kyoko costumavam sair juntos.

Suki sabia que Shinbe se considerava "seu namorado" apenas porque ele era o único que ela namorava, mas Suki nunca havia concordado em ser sua namorada. Ela tentou esconder o rubor que ameaçava surgir e assumir seu rosto quando retrucou:

— Precisa de água sanitária e uma bola de demolição para limpar sua mente suja.

Ele se aproximou mais dela, bloqueando todo o resto enquanto seus olhos de ametista escureciam atraentemente.

— Se você me deixar entrar, acho que a gente pode encontrar uma razão para você tomar outro banho.

Suki sentiu que seus batimentos cardíacos aceleravam ao som de sua voz rouca e deu alguns passos para trás quando ele deu vários passos para a frente, fechando a porta atrás de si. Decidindo não o deixar tomar vantagem, ela lhe deu seu melhor olhar de advertência e foi recompensada quando ele parou de persegui-la. Se ele descobrisse o quanto ele já a tinha conquistado, ela realmente estaria em sérios problemas.

— Ei, Shinbe, olha, tenho que terminar de me arrumar porque tenho planos esta noite com uma amiga. Já te disse no telefone, lembra? — Ela sabia que ele viria de qualquer jeito, mesmo se fosse para tentar descobrir para onde ela estava indo.

Tirando a toalha da cabeça, os longos cabelos ainda úmidos, Suki dirigiu-se para o banheiro ainda falando alto o suficiente para que ele pudesse ouvi-la.

— A gente pode fazer alguma coisa amanhã à noite, ok?

Shinbe inclinou-se contra o bar que separava a cozinha da sala de estar. Ele estava prestes a começar a expressar suas queixas quando seu olhar caiu sobre um folheto largado na bancada. Pegando-o, ele rapidamente leu a página. Suas duas sobrancelhas se ergueram em entendimento.

A MAIOR E MELHOR BOATE DA CIDADE

CLUB MIDNIGHT

SEXTA-FEIRA ESPECIAL

NOITE DAS MULHERES

As palavras noite das mulheres estavam circundadas. Shinbe ergueu uma sobrancelha enquanto colocava o papel de volta na bancada e andou em direção ao banheiro. Ele escondeu o sorriso quando entrou sem bater e deslizou atrás de Suki enquanto ela estava com a escova prestes a deslizar pelos cabelos.

— Amanhã, então - sussurrou Shinbe sedutoramente em sua orelha e mergulhou seus lábios para baixo para beijar seu ombro. Ele se virou para sair sem dizer outra palavra, escondendo um sorriso travesso.

Suki permaneceu imóvel, olhando para o espelho, sem gostar das vibes que acabara de ter. Não era normal Shinbe não implorar e insistir com ela. Não querendo olhar os dentes de um cavalo dado, ela se apressou e terminou de se arrumar. Com medo agora de que Shinbe tivesse algum plano, Suki decidiu que iria para o apartamento da Kyoko um pouco mais cedo do que o planejado.



*****



Vários quilômetros de distância, olhos vermelhos penetrantes olhavam pela janela de uma suíte de cobertura com vista para a cidade. Ondas longas de cabelo preto e sedoso caíram em cascata pelas costas nuas em contraste com a pele tão pálida quanto a lua. Seu rosto angélico era impressionante, com ângulos bem definidos, e seu corpo era magro e firme como o do deus místico Adônis.

Seu corpo nu brilhava do luar, os músculos dançavam com cada movimento que ele fazia. Ele era lindo para qualquer um que olhasse para ele, mas sua alma escura era mal-intencionada e mortal. Um sorriso agraciou seus lábios perfeitos enquanto seus pensamentos se voltavam para os acontecimentos da noite anterior.

Afastando-se da janela, começou a se preparar para a noite. Seu olhar se desviou para a cadeira estilo Rainha Ann ao lado da lareira e da jovem universitária que estava sentava sem vida nela. Hyakuhei sorriu quando pensou no sangue fresco que ele tinha jantado na noite anterior.

— Pena, ela era uma menina tão linda — lambeu os lábios lembrando o prazer de ter tido a menina e se alimentado dela. Ele nunca iria se cansar das jovens que atraía e tomava para si.

Esta noite, ele visitaria uma boate popular para caçar sua presa e precisava ter certeza de que seus "filhos" estavam ocupados. "Noite das Mulheres" era sempre perfeita para escolher a presa e era um buffet sem fim de carne para os noturnos.

Ele era um poderoso senhor dos vampiros e ninguém ousaria irritá-lo ou questionar sua força. O prazer tinha sido seu único desejo há mais de mil anos, mas agora ele queria mais. Ele queria o que era legítimo dele. Um olhar franzido enfeou seu rosto enquanto ele ponderava sua busca, o objeto que se tornara sua obsessão: o lendário Cristal do Coração Guardião.

Acreditava-se que o cristal sagrado era uma joia que tem o poder de dar a um vampiro a habilidade de caminhar além da noite e sob a luz do dia. Na lenda, diz-se que uma menina com sangue puro e o coração de uma criança possui a joia dentro do corpo. Ela seria uma sacerdotisa do mais alto ranking e poder, a protetora e detentora do Cristal do Coração Guardião.

Seu olhar sombrio voltou para o céu noturno, onde uma lua vermelha de sangue apareceu acima.

— Perdi você uma vez, querida sacerdotisa, mas não se engane, vou encontrá-la novamente. - Seus olhos se estreitaram quando ele prometeu à noite. — Vou possuir tanto você quanto o cristal desta vez...



*****



Suki levou Kyoko ao shopping no fim de semana anterior por esta mesma razão, só que ela não contou à amiga por quê. Suki também comprou uma roupa. Tirando a roupa do armário, ela mergulhou nela com emoção. Era um vestido totalmente preto e muito colado ao corpo. Ela se apaixonou por ele assim que o viu.

Bom, Shinbe não está por perto — pensou Suki com um sorriso contente enquanto olhava o vestido no espelho. Era muito curto, mas não mostrava demais, apenas o suficiente para provocar e deixar a imaginação vagar. Prendendo os cabelos escuros para trás com uma xuxinha também preta, Suki pôs um pouco de maquiagem e pegou suas chaves, indo ao apartamento de Kyoko, logo ao lado.

Kyoko saiu do quarto esperando que tivesse tempo de lanchar qualquer coisa antes de sair, mas antes mesmo de chegar à cozinha, alguém estava batendo na porta.

— Deus, espero que não seja Toya — disse ela e se perguntou se deveria atender. Ela ainda tinha 20 minutos antes que fosse hora de se encontrar com Suki, então Kyoko escolheu ignorar os golpes na porta por um momento com medo de quem estaria do outro lado.

É incrível como o medo faz você se sentir com cinco anos de idade. A sobrancelha de Kyoko se contraiu enquanto ela respirava.

A pancada tornou-se um pouco mais alta, mas desta vez seguida por uma voz.

— Tudo bem, Kyoko, sei que você está aí. Não me faça derrubar esta porta! — disse com uma risadinha.

Kyoko revirou os olhos pensando que Suki parecia ser da polícia. Abriu a porta para sua melhor amiga, que imediatamente agarrou seu braço para tirá-la do apartamento.

— Anda, vamos. Tenho uma sensação ruim se não formos agora, Shinbe aparecerá ou algo assim — Kyoko mal teve tempo de fechar a porta antes que Suki a puxasse para fora.



*****



Kyou abriu as pesadas cortinas escuras da janela, agora que o crepúsculo havia chegado. Seus longos cabelos prateados se curvaram ao seu redor enquanto ele abriu a janela, permitindo que o vento da noite chegasse para acariciar seu rosto angélico. Vestido de preto, ele tinha a aparência de um anjo caído.

O dinheiro lhe trouxe a liberdade de definir suas próprias horas e o poder assegurou que ele não seria perturbado. Comprar todo o andar superior do hotel mais caro da cidade deu-lhe a solidão que ele precisava e a vista que ele queria. Olhando para o outro lado da rua, ele podia ver uma fila que já começara a se formar no Club Midnight, a boate mais popular da cidade. Era o lugar perfeito para as criaturas da noite.

A fila enorme estava repleta de universitárias meio travessas e rapazes interesseiros que as seguiam. Os olhos assombrados de Kyou brilhavam com desprezo quando ele começou a passar a vista na fila, perguntando-se sobre qual das moças chamaria a atenção daquele que ele caçava. Quem seria a próxima vítima de Hyakuhei?

Kyou podia sentir Hyakuhei na cidade e se perguntou se Hyakuhei podia sentir a morte perseguindo-o. Desta vez, as coisas estavam diferentes. Kyou o encontrou com muita facilidade, como se Hyakuhei tivesse deixado uma trilha para ele seguir. As mortes e os desaparecimentos de universitárias locais foram um cartão de chamada flagrante para Kyou, apontando para apenas uma pessoa.

Ele não gostava de pensar que Hyakuhei o estava levando até aqui.

— Não estou mais sob seu controle - rosnou Kyou enquanto o sangue escorria entre seus dedos cerrados e seus olhos manchados de rosa. — Você não tem nenhum poder sobre mim, não mais! — Acalmando sua raiva crescente, Kyou novamente pôs a máscara de indiferença sobre seus traços, escondendo sua aura. Era hora de o predador se tornar presa.

Se ele conseguia sentir a força da vida de Hyakuhei, Kyou precisaria de cautela para evitar que seu criador percebesse a dele também.



*****



Kyoko ficou surpresa com o tamanho da boate. Seus lábios se separaram quando Suki parou o carro no enorme estacionamento. Suki queria chegar lá um pouco cedo para evitar a fila, mas como Kyoko viu, uma fila já havia se formado, então elas correram para fora do carro. Kyoko reconheceu rostos familiares da faculdade que frequentava e sorriu quando notou que Tasuki, seu amigo de longa data, era um deles.

Do seu lugar na multidão, Tasuki viu Kyoko e Suki. Ele havia deixado que suas amigas o convencessem a ir e, não tendo nada melhor para fazer agora que as provas acabaram, ele concordou de bom grado. Ele era bonito e tinha um corpo bem feito, com os cabelos castanhos na altura dos ombros e os olhos cor de chocolate que derretiam o coração de todas as garotas.

Ele também era um dos rapazes mais populares no campus, mas Tasuki era mais conhecido pelas notas altas que tirava em todas as matérias e ele era mais legal do que a maioria dos caras no campus. Claro, ser uma das pessoas mais ricas da faculdade também aumentava seu status, mas ele não era esnobe e nem aparentava ser rico.

Fazendo um ziguezague pela multidão, Tasuki aproximou-se de Kyoko com um sorriso genuíno. Ele a conhecia desde o ensino fundamental e sempre teve uma paixão secreta por ela. Eles haviam saído algumas vezes, mas não era nada sério, eram mais como melhores amigos na verdade, e fazia um tempo que eles não se encontravam para sair.

Ele a convidaria mais para sair, mas aquele tal de Toya ou o chefe de segurança da escola estavam sempre rondando a Kyoko. Ele poderia jurar que tinha ouvido um rosnado na última vez que se aproximou dela enquanto ela estava com um deles.

Com isso em mente, ele olhou nervosamente a área esperando que ela estivesse sozinha. Não que ele tenha medo deles, não, nunca...

Suki viu o nervosismo de Tasuki e riu alto.

- Está tudo bem, Tasuki. Viemos sozinhas.

Ela riu do olhar confuso de Kyoko e agarrou Tasuki pelo cotovelo, puxando-o para a fila. Ela e todos os outros que o conheciam estavam conscientes do fato de que ele tinha uma queda por Kyoko. Bem, todos exceto a Kyoko, claro.

Kyoko corou quando Tasuki virou-se para olhar para ela. Ela não tinha percebido o quanto mais alto ele havia ficado.

— Oi, Tasuki, quanto tempo. Ouvi dizer que você está arrasando com suas notas este ano. — Seu rosto iluminou-se de felicidade, percebendo que havia muito tempo que eles tinham saído juntos. Ela sempre se sentiu muito segura perto dele, como os melhores amigos se sentem. Caramba, ela tinha sentido muita saudade dele.

Um sorriso suave agraciou os lábios de Tasuki, gostando do fato deles não terem perdido contato, mesmo que fosse à distância. Talvez ele ainda tenha uma chance com ela. Ele realmente queria a chance de mostrar a ela o quanto ele ainda se importava com ela e queria estar com ela, que ele não estava "fora de sua alçada" como ela sempre parecia acreditar.

Por algum motivo, ela parecia pensar que ele faria tudo apenas para vê-la só porque eles tinham sido amigos desde o início do ensino médio. Ele pretendia corrigir esse equívoco.

— É, Kyoko, se você precisar de alguma ajuda, eu ficaria feliz em estudar com você, a qualquer hora. — Ele secretamente queria bater sua cabeça contra a parede de tijolos sabendo que estava mais uma vez soando como um melhor amigo em vez de um candidato a namorado.

Suki apenas balançou a cabeça ao ver a tristeza silenciosa nos olhos de Tasuki quando ele sorria para Kyoko.

Coitado — pensou consigo mesma enquanto um sorriso malicioso se espalhava por seus lábios. Ele só precisava de um pequeno impulso na direção certa.



*****



Os olhos de Kyou se estreitaram enquanto a multidão de crianças ingênuas aumentava.

Muitas opções para o Hyakuhei — pensou. Era sempre a mesma coisa: tomar uma vida e ficar impune, assim como o monstro se safou no passado. Frustrado, ele deixou suas garras agarrarem o parapeito da janela, perguntando-se se ele poderia impedir o massacre.

Ele teria que se aproximar e se misturar na multidão. Rindo ao pensar como faria seus cabelos prateados e olhos dourados estranhamente coloridos passarem despercebidos, Kyou voltou sua atenção para a multidão reunida.

Passando a vista pelo estacionamento mais uma vez, sua visão parou quando seu olhar assustado deslizou sobre um grupo de três pessoas bem próximas à frente da multidão. A aura em torno do triângulo era surpreendentemente diferente daquela dos outros humanos. Uma tonalidade suave de luz branca pura que cercava o grupo deslumbrou a visão interna de vampiro de Kyou.

Diminuindo a intensidade de seu olhar, Kyou balançou a cabeça e olhou novamente para o grupo. Mesmo com seus sentidos intencionalmente atenuados, ele conseguiu detectar um leve brilho rodopiante fluindo em torno das três figuras. Um leve brilho de poeira do arco-íris veio diretamente acima deles, sombreando a luz como se alguém estivesse escondendo-a de seus olhos.

Kyou revistou o céu acima deles, mas só viu a noite. Seus olhos se estreitaram compreendendo mais do que ele deveria antes de voltar seu olhar para o grupo.

Ele nunca tinha visto nada parecido em sua vida imortal. Uma leve memória prendeu sua atenção, fazendo com que ele olhasse o grupo com olhos arregalados. Ele estava se lembrando das palavras de seu irmão mais novo antes de Hyakuhei tê-lo assassinado tão cruelmente:

— Se ao menos pudéssemos encontrar o Cristal do Coração Guardião, talvez pudéssemos ficar livres da escuridão, irmão.

Kyou havia zombado, dizendo a Toya que a joia era apenas um mito e impossível de encontrar, mesmo nas lendas. Toya tinha ignorado sua réplica:

— A aura daquela que protege a joia brilhará com luz sagrada. Você não quer ser livre?

Um sentimento melancólico se instalou em Kyou com a lembrança da pergunta de seu irmão. Ele teria dado qualquer coisa para libertar seu irmão da vida que Hyakuhei o dera. A brisa veio pela janela soprando seus longos cabelos no rosto, como se lhe dissesse para ir, como se o próprio Toya lhe pedisse que ele partisse.

Recolhendo a escuridão circundante em torno de seu corpo letal, Kyou emergiu despercebido na multidão de jovens inocentes, seu olhar intenso nunca deixando o local de onde a mais suave e pura luz brilhava.



*****



Kyoko riu quando viu Suki erguer as sobrancelhas por trás de Tasuki. Suki definitivamente estava passando muito tempo com Shinbe ultimamente. Ela ficou vesga e deu a língua fazendo com que Suki quase morresse de rir, mas o olhar desapareceu instantaneamente quando Tasuki se virou para ver do que Suki estava rindo.

Isso fez com que Suki tivesse que se segurar na parede para evitar que seus joelhos cedessem enquanto Kyoko apenas deu de ombros para Tasuki dizendo:

— Quem sabe o que deu nela? Ela nunca foi normal. — Ela ergueu a sobrancelha, acrescentando: — Tenho que tirá-la do manicômio pelo menos uma vez por semana ou ela fica ainda pior e tenta roer as árvores na frente do alojamento.

Tasuki sorriu enquanto se aproximou da orelha de Kyoko como se quisesse sussurrar, mas então disse em voz alta o suficiente para que Suki ouvisse:

— Talvez durante o caminho para casa hoje, você deveria levá-la de volta.

Kyoko assentiu alegremente, então sentiu o cabelo na parte de trás do pescoço se arrepiar como se alguém a observasse. Esperando que não fosse Toya secretamente seguindo-as, ela tentou ignorar a sensação enquanto mantinha sua atenção em Suki e Tasuki.

Suki finalmente respirou o suficiente para lembrar a Kyoko que elas fariam uma festa do pijama na sala acolchoada mais tarde, então perguntou a Tasuki se ele gostaria de se juntar a elas.

— A gente até conseguiu uma camisa de força para a ocasião.

Ela deu a língua para ambos.

— Guarde essa coisa antes de machucar alguém — retrucou Kyoko e foi rapidamente recompensada quando o queixo de Suki caiu.

Quando a fila começou a andar, Kyoko olhou por cima do ombro, imaginando quem a estava observando. Ela viu apenas as luzes do estacionamento e uma horda de pessoas esperando para entrar e então zangou-se com sua própria paranoia. A sensação desconfortável de que havia alguém a observando recusava-se a ir embora e a preocupava. Ela lembrou-se do aviso de Kotaro sobre um maníaco em torno do campus e de repente desejou que ela tivesse insinuado para ele onde elas estariam hoje.

Suki agarrou sua mão e puxou-a, pois Kyoko estava atrasando a fila. Kyoko afastou a sensação ruim enquanto entraram no prédio e sua atenção foi atraída para o interior da enorme boate.

Kyou a viu virar o rosto como se ela estivesse sentindo sua presença e ele ficou surpreso com isso. Os olhos de Kyoko haviam se deslocado muito lentamente para o ponto em que ele estava parado, mas ele sabia que ela não podia vê-lo nas sombras. Sob o manto da escuridão, ele a manteve sob vigilância ao entrar no estabelecimento.

Seu olhar dourado se movia pela sala sabendo que havia mais do que seres humanos dentro dos espaços mal iluminados, mas eram pequenas ameaças e não valiam sua atenção.

Suki levou-os a uma área perto do bar para que eles não tivessem que ir longe demais para pegar bebidas e ainda ter uma boa visão da pista de dança. A música já estava tocando, mas não tão alta que você precisasse gritar para ser ouvido.

Kyoko ficou surpresa em ver como o lugar era legal. Ela estava começando a se sentir feliz por ter deixado Suki convencê-la a vir. Afinal, a vida tinha que ser mais do que estudar, o que era tudo que ela só fazia há mais de uma semana. Toda a energia no lugar era viciante e ela sorriu animada. Foi um daqueles raros momentos em que sentiu que qualquer coisa poderia acontecer.

Em vez de mesas e cadeiras, o estabelecimento tinha sofás bem acolchoados aqui e ali, com pequenas mesas de vidro para apoiar as bebidas. Roxo, azul e preto eram as principais cores da boate, dando-lhe uma pitada de mistério e magia com todas as luzes constantemente mudando de cor e criando uma sensação de pandemônio sensual. A atmosfera da boate era quase intoxicante.

Sombras profundas emprestavam privacidade àqueles que a procuraram e Kyoko corou, pensando em todas as coisas que às vezes aconteciam no escuro, coisas que ela ainda não experimentara. Sua mente voltou a se perguntar o que Kotaro estaria fazendo, antes de voltar sua atenção a seus amigos, se sentindo culpada.

Kyou sentou-se no canto mais escuro, perto da aura intensamente pura. Observando o grupo, ele agora podia ver que o brilho era proveniente de apenas um deles. Seus olhos se suavizaram pela primeira vez em inúmeros anos, por apenas um instante, enquanto a via sorrir, absorvendo a grandeza da boate. Era como assistir o nascer do sol e era algo que ele não fazia há muito tempo.

Ela era linda, com longos cabelos castanhos que fluíam, contrastados com a camisa branca sedosa que ela usava.

Seu olhar percorreu o corpo perfeito dela, absorvendo a pele exposta em sua cintura e olhando a minissaia, seguida de um par de pernas muito bem torneadas, antes de levantar seu olhar ao pescoço, que estava à mostra. Ele seguiu o arco até o rosto dela com um grunhido desaprovador. Ela estava virada em um certo ângulo e ele se viu precisando ver seus olhos, pois os olhos eram o espelho da alma.

Seus instintos estavam reagindo de um jeito que ele nunca experimentara antes. A sensação que ele não conseguia descrever o agitou e, de alguma forma, o fez lembrar de seu irmão. Ele não gostava do desconhecido.

Ele escureceu as sombras ao redor de si enquanto ela se virou, passando seu olhar além dele, mas ele tinha visto os olhos dela. A visão quase lhe tirou a respiração. Ela tinha os olhos de esmeralda envoltos em inocência, mas ele também podia ver a travessura e o poder escondidos lá.

Kyou apertou o punho tão forte que pôde sentir gotas de sangue se formando onde suas unhas afiadas haviam perfurado sua carne. Por que havia tal inocência aqui, em um lugar como este? Isso deveria ser proibido. Ele sentiu um rosnado surgir profundamente em seu peito e tentou suprimi-lo.

Se seu palpite estava correto e Hyakuhei aparecesse, então as coisas poderiam ficar muito perigosas, muito rápido. Será que era ela quem guardava o Cristal do Coração Guardião dentro de si? As palavras de seu irmão voltaram a persegui-lo pela segunda vez.

- Irmão, se acharmos a pedra, podemos ficar livres de Hyakuhei.

Bloqueando os outros sons da boate, Kyou dirigiu todos os seus sentidos para ela, para que ele pudesse saber mais e se preparar. Seus olhos dourados assombrados quase brilhavam enquanto mergulhava nos pensamentos do grupo sentado à mesa. Ouvir o pensamento dos mortais era um recurso que ele não usara há muito tempo.

Tasuki se ofereceu para pegar a primeira rodada de bebidas, já que o barman era seu primo. Ele não iria desperdiçar sua única chance de impressionar Kyoko. Ele sabia que ela pensava nele como um amigo, mas queria ser muito mais. Quem dera que ela abrisse os olhos e visse a devoção que ele lhe oferecia! Nunca haveria um homem que pudesse amá-la mais do que ele. Não era possível.

Suki sorriu ao ouvir que ele conhecia o barman e pediu a Tasuki que trouxesse para todos um chá gelado Long Island. Tasuki deu uma piscadinha envergonhada para Kyoko, balançando a cabeça e dizendo que ele voltaria logo. Ele foi buscar as bebidas das meninas o mais rápido possível.

Os olhos de Kyoko se arregalaram quando ela olhou para Suki.

— Chá gelado Long Island? Mas somos...

Suki acenou, como que para calar Kyoko.

— Qual é, Kyoko? Viva um pouco! As provas acabaram e, além disso, já bebemos antes — Suki tentou animar Kyoko, sorrindo e revirando os olhos. Querendo mudar de assunto, acrescentou:

— Tenho que admitir, Kyoko, que com esta roupa e corpão, você não parece menor de idade. - Ela riu alto do olhar assustado no rosto de Kyoko.

Cética, Kyoko olhou para Suki.

— Duas vezes, Suki. Bebi duas vezes e quase não lembro delas, e não preciso me vestir assim para provar que sou de maior. - Kyoko corou com o que conseguiu lembrar do seu último aniversário. Por causa de Suki, ela não lembrava da sua própria festa de aniversário.

Lembrou-se da tigela gigantesca de frutas que Suki tinha entregue com um sorriso tão inocente. Ela conhecia a queda de Kyoko por frutas e se aproveitou disso. Kyoko tinha comido quase a tigela inteira sem perceber que tinha sido mergulhada em álcool.

— Ela vai me encrencar novamente... tenho certeza! — choramingou Kyoko silenciosamente consigo mesma e mentalmente admitiu sua derrota. Os outros sempre brincavam sobre aquela noite, algo sobre Kyoko se esquecendo de como andar ou falar!

Suki riu, dando de ombros.

— Então, esta é a terceira vez - sorriu feliz para Tasuki enquanto ele trazia as bebidas, agarrando uma ansiosamente para si.

Kyoko mordeu os lábios e depois murmurou algo sobre "três erros e você está fora", mas se virou e sorriu para Tasuki de qualquer maneira. Afinal, havia uma coisa chamada pressão dos colegas, e sendo a otária que era, ela cedeu.

— Três chás gelados Long Island como pedido — Tasuki sentou-se entre as meninas e tomou um gole de sua bebida. Ele sentiu que o calor de repente aumentava no ambiente porque a bebida era muito forte. Olhando por cima de Kyoko, ele avistou o primo atrás do bar. O sorriso malicioso no rosto de seu primo o deixou saber que as bebidas eram mais fortes do que o normal.

Tasuki sacudiu a cabeça e olhou para as garotas.

— Às provas finais, que possamos passar em todas com louvor — brindou. Depois, olhando nos olhos de Kyoko acrescentou: — E que nunca percamos contato uns com os outros, não importa o que aconteça.

Kyoko corou e sorriu timidamente enquanto pegava a bebida da mão estendida dele. Apressadamente tomando um gole, os olhos dela se arregalaram quando decidiu que realmente gostava do sabor.

— Se você não pode vencê-los, junte-se a eles — piscou ela para Suki com bom humor.

Ela colocou um canudo na bebida e, nos próximos dez minutos entre risos e gargalhadas, o chá gelado sumiu. A cor floresceu nas bochechas de Kyoko, pois os efeitos do álcool começaram lentamente a fluir em seu corpo.

Tasuki, tendo bebido o seu tão rápido como Kyoko, agora se sentia mais à vontade e um pouco mais ousado quando perguntou às garotas se queriam dançar. Seus olhos escureceram atrativamente quando ele pegou a mão de Kyoko e a levou para a pista de dança com Suki segurando a outra mão de Kyoko.

Ele sabia que esta noite seria a melhor noite de sua vida na faculdade e nunca esqueceria um único momento.

A poucos metros de distância, Kyou observava o jovem chamado Tasuki se aproximar e pegar a mão da menina de olhos verdes e sentiu a necessidade de arrancar os dedos ofensivos do jovem que ousava tocá-la. Os sentimentos inocentes do homem pela menina podiam ser lidos claramente em seus olhos e pensamentos, mas ele ainda não confiava nele.

Kyou já viu esta história muitas vezes observando a vida noturna. Um jovem que dá uma bebida à garota e depois se aproveita da sua ingenuidade. Seus olhos ficaram carmim enquanto observava o menino levar as garotas para a pista de dança. Kyou sentiu a necessidade de levar a menina de cabelo castanho-avermelhado e escondê-la de qualquer pessoa que a prejudicasse ou desejasse possuí-la.

Ele ficou se perguntando sobre sua própria possessividade em relação à menina. Se ela fosse a que guardava o Cristal do Coração Guardião, o que ele deveria fazer? Uma coisa Kyou sabia com certeza: antes que ele deixasse Hyakuhei tê-la, ele a mataria primeiro com suas próprias mãos.

Se a lenda fosse verdadeira e Hyakuhei pusesse as mãos no poder do Cristal do Coração Guardião, não haveria como detê-lo.



*****



Kamui sentou-se invisível, em cima de um dos grandes alto-falantes em frente ao DJ enquanto observava a pista de dança onde Kyoko e Suki estavam dançando com um jovem. Ele ergueu uma sobrancelha quando percebeu quem o homem era. Um sorriso muito secreto inclinou seus lábios vendo o tom de ametista que se apegava ao menino.

Sua atenção se voltou para o outro homem que estava perseguindo a sacerdotisa. Ele já tentou impedir a atração uma vez antes, quando Kyoko ainda estava na fila, mas o guardião mais antigo era sempre muito teimoso. As vibrações que Kyou estava provocando eram pesadas e ligeiramente tingidas.

— Kyou, no que está pensando? — perguntou Kamui a sim mesmo em voz alta sabendo que não podia ser ouvido ou visto. Observando Kyou olhando para Kyoko, ele reconheceu o destino quando o viu. O destino sempre atraiu os guardiões para a sua sacerdotisa, independentemente de qual mundo ou qual vida.

Ele secretamente desejava que pudesse ter arranjado uma situação em que Toya e Kyou se veriam, mas sabia bem que não poderia usar um de seus poderes em Kyou. Ele sentiu arrepios frios subindo em seu braço ao pensar em irritar o perigoso guardião dourado.

Seu olhar examinou a multidão novamente sabendo que Kyou não era o único com quem deveria estar preocupado. Havia outros na boate que não eram humanos, mas ele pôde sentir a verdadeira treva se aproximando a cada minuto. Ele se perguntou se Kyou também conseguia sentir.

Kamui assentiu para si mesmo. A melhor coisa que ele poderia fazer por enquanto era ajudar a esconder os poderes de Kyoko de olhos curiosos. Com esse pensamento, ele pulou dos alto-falantes, mas seus pés nunca atingiram o chão do clube de dança.




Capítulo 4


Quando o trio entrou na pista de dança lotada, Suki e Kyoko imediatamente começaram a se mexer ao ritmo da música, deixando Tasuki observando com fascínio. Os corpos aquecidos ao redor deles trouxeram rubor aos seus rostos à medida que o álcool fluía por suas veias.

O corpo de Suki aproximou-se do corpo de Kyoko enquanto elas envolviam os braços no pescoço uma da outra e começaram a dançar juntinho. Rindo das travessuras delas mesmas, elas dançaram como namoradas se perdendo no ritmo da música. Elas aprenderam a dançar assim na escola primária há muito tempo.

Mergulhadas no momento de pura e inocente diversão, as meninas logo se esqueceram de seu terceiro companheiro.

Tasuki olhou para as duas amigas dançando apaixonadamente e sentiu o calor aquecer seu rosto.

— Caramba! — Seu corpo estava reagindo à cena diante de si. Sentiu como se a respiração tivesse sido arrancada de seus pulmões. Observar o corpo de Kyoko se esfregar contra o corpo de Suki enquanto as mãos delas alisavam seus corpos era quase mais do que ele podia suportar.

Decidindo que queria entrar na diversão, Tasuki obrigou seus pés a se moverem antes que ele perdesse a coragem.

Parando logo na frente de Kyoko, ele pôde ver seus olhos fechados enquanto ela se movia contra Suki. Seu olhar se fixou em Suki, ela sorriu e foi para trás de Kyoko, lentamente fazendo o caminho de volta, acariciando as coxas de sua amiga. Ela esperava que Tasuki arranjasse coragem suficiente para dançar com Kyoko assim.

— Por que não dança com a gente? É divertido para caramba! — Ela ria enquanto agarrava Tasuki pelo cós do cinto, puxando-o de encontro ao corpo de Kyoko.

Os olhos de Kyoko se arregalaram com o choque de sentir que um corpo firme, definitivamente masculino, encostou no dela de uma maneira muito íntima. Um rubor queimou suas bochechas quando percebeu que Tasuki estava segurando-a bem apertado.

— Ei — sorriu ela timidamente, vendo que gostava da sensação do corpo de Tasuki contra o dela. Ela sabia que poderia confiar, pois ele não passaria dos limites. Ele sempre foi um cavalheiro.

Sentindo-se um pouco ousada, Kyoko continuou a dançar com Suki movendo-se atrás dela enquanto colocava uma mão no ombro de Tasuki, silenciosamente encorajando-o.

Tasuki não precisava de mais incentivo. Segurou os quadris de Kyoko e começou a se mover com o corpo dela. Ele sentiu como se estivesse no céu, tendo a garota de seus sonhos dançando sedutoramente com ele. Sentir cada curva do corpo dela se esfregar contra o dele era uma doce tortura que ele nunca experimentara.

Seus olhos castanhos suavizaram sensualmente enquanto seu corpo inteiro parecia estar em chamas e ele queria sentir a Kyoko o máximo possível. Pressionando seu corpo ainda mais ao de Kyoko, ele começou a se esfregar nela, movendo seu corpo quente com o dela como um amante perdido há muito tempo.

Kyoko olhou nos olhos de Tasuki e percebeu pela primeira vez que havia lindos flocos de ametista polvilhados em seus orbes de chocolate.

— Lindo... — foi a única palavra que veio à mente. Quanto mais ela olhava, mais ele a fazia se lembrar de Shinbe.



*****



O humor de Toya não havia melhorado nem um pouco depois de ir ao dojo da faculdade na esperança de liberar o estresse. Ele decidiu que seria melhor sair rapidamente assim que viu que havia destruído o saco de pancada de quinhentos dólares. Não é culpa dele ter imaginado o rosto de Kotaro enquanto batia nele.

— Garota idiota! — rosnou ele. — Por que ela tinha que ser sempre tão difícil de lidar? — Ele lançou um olhar feroz para nada em particular enquanto pensou no irritante guarda de segurança com o qual Kyoko tinha saído.

Ele ainda se sentia lívido quando ouvira a voz de Kotaro no apartamento de Kyoko mais cedo. Nada seria melhor do que arrancar a cabeça do homem e jogá-la onde o sol nunca alcançaria. Toya sempre teve um sexto sentido sobre as coisas e seus sentimentos lhe diziam que Kotaro não era o que parecia ser.

— Um lobo vestido em pele de cordeiro, isso que ele é — sorriu, depois sentiu um pouco de culpa porque ele também escondeu coisas de Kyoko. Coisas que ele mesmo não conseguia explicar.

Quando criança, ele tinha aprendido a ocultar suas habilidades incomuns dos outros, habilidades como a força e velocidade inumanas, bem como seus sentidos de olfato e visão. O único problema era que os poderes iam e vinham como queriam. Ele não conseguia invocá-los de repente e talvez isso fosse uma coisa boa.

Perdido em pensamentos, Toya sentiu a pele formigar quando viu o guarda encostado na porta do prédio de segurança.

— Falando do diabo e ele aparece — Toya fuzilou o olhar para Kotaro, quase passando por ele, e depois parou de repente. — O que diabos está fazendo aqui? — rosnou ele.

Kotaro ergueu-se a toda a altura e caminhou até onde o suposto acompanhante de Kyoko estava, grunhindo para ele. Olhando ao redor e não a vendo em lugar nenhum, seu comportamento descontraído tornou-se tenso e Kotaro perfurou Toya com um olhar irritado.

— Onde está Kyoko? Pensei que ela estivesse com você esta noite.

Se tinha uma coisa que Toya odiava era ser confundido e agora ele não estava com a mínima vontade de o ser.

— Seu babaca! Pensei que ela tivesse saído com você — falou ele sem pensar.

A paciência de Kotaro agora estava seriamente esgotada. Kyoko disse que iria sair com Toya e ela havia mentido.

— Droga!

Sem nem dar uma olhada para Toya, ele saiu na direção em que Kyoko mora, esforçando-se contra a necessidade de usar sua velocidade sobrenatural. Por que ela mentiu para ele? Se ele soubesse que ela não estava com o idiota, ele a teria seguido.

Toya sentiu um momento de pânico quando viu que a preocupação se infiltrava nos olhos de seu rival e a maneira como ele partira a uma velocidade vertiginosa não o fez se sentir melhor. Algo dentro dele confiava em Kotaro completamente, mas ele nunca lhe diria isso.

Sem sequer pensar no que estava fazendo, ele partiu depois de Kotaro para ver aonde ele estava indo. Facilmente alcançando-o, mas notando a velocidade em que ambos estavam andando, algumas das suspeitas de Toya foram confirmadas. Kotaro era mais do que parecia ser. Eles tinham o mesmo DNA ou algo assim? — rangeu os dentes, detestando esse pensamento.

Dentro de um minuto, Kotaro estava batendo na porta do apartamento de Kyoko esperando com todas as forças que ela estivesse lá. Espancando as duas palmas contra a porta inocente, ele gritou:

— Droga, Kyoko! Onde você está? — O temor e a preocupação se infiltraram em cada poro de seu ser. — Isso não é bom — resmungou.

— O que não é bom? — Toya quis ficar logo atrás de Kotaro.

A intensidade das vibrações que Kotaro estava liberando estava fazendo o peito de Toya doer. Se ele soubesse que Kyoko não estava com Kotaro, ele teria vindo apenas para estar perto dela. Ele deveria ter seguido seus instintos e ido mesmo assim. Ele teria que colocar uma maldita coleira naquela garota mais cedo ou mais tarde.

Kotaro se virou, tendo esquecido completamente de Toya devido à pressa para chegar até Kyoko. Agora, tendo alguém em quem descontar sua raiva, ele atacou:

— Pensei que ela estava com você! — Kotaro apertou o punho e guardou a raiva dentro de si antes de ir longe demais. — E como diabos você conseguiu manter meu ritmo? Não importa, não responda.

Toya olhou para ele, surpreso pelo guarda de segurança ter percebido, mas deu de ombros.

— Sou só um idiota rápido.

Acalmando sua metade dominante, Kotaro abriu os olhos azuis e penetrantes, fixando-os na pessoa que o ajudaria a encontrar "sua Kyoko". Já era ruim o suficiente Toya não ter renascido um vampiro para que pudessem descontar a raiva brigando, mas agora Toya estava recuperando suas habilidades do passado e não tinha ideia do porquê. Para piorar as coisas, o melhor amigo de Toya era Shinbe e Shinbe também não tinha ideia de seu passado.

Kotaro esmagou a palma da mão contra sua testa, perguntando-se por que diabos ele confiou em Toya para cuidar dela, pela segunda vez, quando ele havia falhado na primeira. O fato de Toya não se lembrar de nada impedia que Kotaro desabafasse. Ele inalou profundamente, absorvendo a verdade. Ambos falharam com ela. Seus lábios se estreitaram enquanto ele olhava em silêncio.

Toya deu um sorriso meio sincero.

— Então, ela mentiu para você e te dispensou dizendo que estava saindo COMIGO. Ha! — Mesmo sabendo que ela tinha feito o mesmo com ele, ele não deixaria Kotaro saber disso.

Kotaro respirou fundo novamente, tentando manter seu temperamento sob controle. Era como falar com uma maldita criança.

— Isto não é uma droga de jogo, pirralho. Garotas estão desaparecendo a torto e a direito no campus e na cidade há mais de um mês. Agora, nenhum de nós sabe onde Kyoko está. — Kotaro podia ouvir o pânico em sua própria voz, mas ignorou. — Você tem alguma ideia para onde ela poderia ter escapado?

Toya podia sentir seu peito se esmagando com preocupação pensando que Kyoko estava em perigo.

— Droga! — virou-se para a porta de Suki e começou a bater até que ele ouviu a porta fazer um ligeiro som de quebra, fazendo-o aliviar as batidas. Ninguém atendeu.

— Merda! — Quase em estado de pânico, Toya procurou seu telefone celular esperando que Shinbe soubesse onde as meninas estavam. — Atende, seu tarado! — gritou ele para o telefone que ainda estava tocando. Depois do quarto toque, Shinbe finalmente atendeu.

— Shinbe! Você sabe onde Suki e Kyoko estão? — Ele deu uma olhada para Kotaro quando ele se aproximou como se estivesse esperando para ouvir a resposta.

Na outra extremidade do telefone, Shinbe deu um sorriso esclarecedor.

—Talvez...



*****



Kyou ficou escondido na escuridão enquanto observava a menina com seus amigos. Ele ficou sabendo que seu nome era Kyoko ao ouvir sua conversa. Até o momento, o menino chamado Tasuki tinha mantido as mãos quietas, o que era bom, considerando que Kyou decidiu deixá-lo viver, desde que ele não se aproximasse demais dela. Ele parecia inofensivo o suficiente, mas um pouco apaixonado demais por ela.

Chegaram à pista de dança e a menina e a amiga tinham começado a dançar juntas. A forma como elas estavam dançando era indecente.

— Deve ser o álcool que ela consumiu tão rapidamente — ele teve dificuldade em acreditar o contrário.

Um grunhido baixo vibrou em seu peito quando sua visão foi obstruída por um grupo de malandros humanos. Ouvindo seu aviso e depois vendo o congelante olhar dourado que ele enviou, eles rapidamente foram para o outro lado da boate. Os cantos dos lábios de Kyou indicavam um sorriso divertido quando ele viu o jeito como os malandros saíram em disparada.

Ele voltou sua atenção para a pista de dança, se concentrando na jovem que o deixava perplexo. A visão que teve fez seu sangue ferver com ira. Um grunhido cruel surgiu de algum lugar desconhecido enquanto olhos dourados zangados piscavam vermelho de sangue.

O inofensivo Tasuki estava dançando com Kyoko como se estivesse seduzindo-a.



*******



Kyoko foi se perdendo na sensação das mãos de Tasuki sobre seus quadris, acariciando a pele nua na cintura dela quando ele assumiu o controle da dança. Ele realmente estava sexy com o cabelo desarrumado e com a dança sensual que estavam fazendo. Uma risadinha escapou de seus lábios quando pensou nisso.

Ao senti-lo acariciar sua pele na base de sua coluna, ela notou que os olhos do rapaz estavam quase completamente pura ametista.

Suki, decidindo que precisava de algo frio e molhado, bateu na bunda de Kyoko.

— Ei, vocês dois! Preciso de algo refrescante - riu de sua frase tola enquanto arrastava o casal para a mesa que haviam ocupado anteriormente na esperança de outra bebida.



*****



Kyou estava tentando desesperadamente acalmar seu sangue furioso. Seu nervo de ferro e conduta calma desapareceram completamente ao testemunhar o garoto Tasuki dançando com Kyoko como se ele fosse seu amante.

Nos recessos de sua mente, ele sabia que precisava acalmar-se rapidamente, caso contrário, Hyakuhei sentiria sua presença, se ele ainda não o tivesse feito. Respirando fundo para se acalmar, ele mentalmente repreendeu-se por sua tolice.

Durante séculos, ele havia sido um demônio da noite, frio e indiferente. Sua determinação era como uma montanha que nunca oscilava e jamais poderia ser forçada à submissão. Suas emoções eram mantidas pelo seu exterior frio e inquebrável por uma razão, para que ele pudesse esconder sua aura do verdadeiro inimigo.

Em uma noite, a presença de uma jovem, além de inocente e pura, tinha feito ele vacilar pela primeira vez em sua vida de morto-vivo.

Indiferentes ao enfurecido vampiro de cabelos prateados, o trio voltou para suas cadeiras. O riso inocente de Kyoko flutuou para ele, mal acalmando sua raiva. Sua tensão aliviou um pouco e ele se questionou por que havia reagido de forma tão possessiva em relação à garota.

Seu olhar estreitou-se, atirando punhais ao menino com ela, prometendo uma morte lenta e agonizante se ele sequer demonstrasse sair da linha de novo. Ela precisava de um guardião.

Kyou não conseguia entender a imensa força que ela exercia sobre ele, mas observá-la tornou-se um vício. Sua beleza e inocência o hipnotizaram e ele começou a se perguntar se sua pele era tão suave quanto parecia. Se zangou ao ver outro copo de bebida colorida parar diante dela.

Com cada gole que ela tomava, o resplendor da luz pura que a rodeava parecia vacilar e enfraquecer. Já estava bem mais difícil detectá-la. Se ela continuasse a beber a água do diabo diante de si, logo ela iria cair na escuridão.

Como se estivesse desafiando-o, ele viu quando a menina tirou o canudo do copo e drenou o resto do líquido poluído.

Kyou fez algo que não fazia há séculos: sorriu, sabendo agora que o segredo dela estaria a salvo do mal que tinha acabado de entrar na boate. Talvez esconder a aura pura de uma menina tão impossivelmente inocente e linda não era tão ruim, afinal.

Kyou recuou para as sombras assim que seu inimigo emergiu delas.



*****



Hyakuhei atravessou a porta sem dar atenção aos mínios que seguiam em sua sombra. Eles poderiam procurar sua própria diversão hoje. Eles só prejudicariam seus planos se ele permitisse que os mínios se juntassem a ele. Seus olhos carmim avistaram a demonstração de corpos quentes diante de si com interesse.

Ele havia sentido vida aqui, escondida em algum lugar entre os humanos. A vida tinha chamado por ele como um amante que anseia por seu toque, mas agora a sensação de carícia quase acabara, como se fosse extinta.

Ele havia se alimentado bem na noite anterior e não estava sentindo nenhuma necessidade de se alimentar. Não, hoje ele tinha outra coisa em mente. Esta cidade guardava o poder do lendário Cristal do Coração Guardião, ele tinha certeza.

Todas as estradas que ele pegou, buscando a luz escondida, o levaram até aqui. Mesmo agora, ele podia sentir uma luz esquiva escondida sob a escuridão enquanto ele se encostava na parede, observando os humanos.

Vários dos mortais inocentes já o haviam notado e ele sabia que eles iriam até ele, oferecendo suas almas por engano.

A simples atração pelo alto, sombrio e bonito sempre facilitava capturar sua presa. Seus longos cabelos escuros fluíam ao redor dele em ondas, como pano de fundo para sua aparência incomparável. Ele podia sentir a luxúria emanando dos humanos, mas hoje à noite ele não lhe deu atenção.

Às vezes, ele transformava uma alma inocente só para matá-la na noite seguinte. Ele só dava o dom da vida eterna quando lhe era útil e isso acontecia apenas uma vez em cada século. Mas esta noite, ele iria procurar alguém que o ajudaria em sua busca para determinar quem guardava o Cristal do Coração Guardião.

Os olhos do Hyakuhei escureciam com seus pensamentos. A última vez que chegou tão perto do misterioso cristal da lenda, a menina que carregava o cristal poderoso detectou sua intenção. Antes que ele pudesse detê-la, ela se matou, levando o cristal consigo, além do alcance dele mais uma vez.

A mente dele voltou para o presente, com um sentimento de anseio. Tinha sido um grande desperdício, pois a jovem tinha uma beleza e pureza incomparáveis e imaculadas. Seu corpo esguio não fazia nenhum movimento enquanto ele vislumbrava vagarosamente a multidão, com seus olhos da meia-noite.

O cristal só reaparecia a cada mil anos, de acordo com os pergaminhos que ele havia tirado do mago Shinbe, antes de tomar sua vida. Seus lábios insinuavam um sorriso cruel, lembrando-se daquele crime em particular, muito delicioso.

Contando os anos a partir daquele momento, a donzela escolhida que agora guardava o cristal perto de seu coração teria vinte e um anos, possivelmente um pouco mais nova. Hyakuhei sentira isso na vizinhança da universidade e agora aqui na multidão de universitários na boate.

O fato de que esta cidade foi construída no mesmo terreno onde o cristal tinha desaparecido apenas comprovava que seria o mesmo lugar para o seu renascimento.

Se ele não achasse quem guarda o Cristal do Coração Guardião, recrutaria alguém que fosse aceito entre os jovens e o ajudaria em sua procura. Uma pessoa não humana, uma criatura da noite, acima de tudo, poderia detectar o poder que ele queria e desejava para si mesmo.

Um sorriso malicioso agraciou seus lábios perfeitos em antecipação da excitação da caçada. Tendo chamado seus filhos mais favorecidos para se juntarem a ele, desta vez ele teria o que desejava. Ele estava na escuridão tempo demais e até mesmo as coisas mais prazerosas começaram a aborrecê-lo.

Hyakuhei queria algo novo e um desafio era exatamente o que precisava para despertá-lo de sua vida de sono. Ele pôde sentir vagamente uma perturbação no ar e sorriu com entendimento. Não haveria nenhuma pressa, pois o que é o tempo para um vampiro?



*****



Tasuki viu com surpresa Kyoko acabar com o último gole de seu chá gelado. Seus olhos agora castanhos e suaves olharam para sua própria bebida que ainda estava cheia, um olhar preocupado em seu rosto.

— Ah, Kyoko, se você está com sede, posso buscar chá de verdade no bar, se quiser — sorriu ele sorriu ao ver Kyoko corar por ter percebido o que ela acabara de fazer.

Suki ergueu uma sobrancelha quando notou o copo vazio de Kyoko e se encolheu interiormente sabendo que Kyoko a mataria com felicidade por causa da ressaca. Ela deu um encolher de ombros mental, convencendo-se de que esta noite eles estavam comemorando e Kyoko a perdoaria, algum dia.

Olhando para Tasuki com a melhor expressão de "Por favor me ajude, estou com problemas", Suki concordou.

— Acho que pode ser uma boa ideia. — Ela piscou para ele com um ar de travessura, encorajando-o.

Ela sempre gostou de Tasuki e muitas vezes desejava que Kyoko saísse com ele mais vezes, em vez de Toya, de quem ela gostava, mas ele nem sempre tratava Kyoko tão bem como deveria. Ela estava contente por Kyoko receber o que dá e por não deixar Toya oprimi-la.

E também havia Kotaro, que poderia ir embora com a Kyoko e se casar com ela, se tivesse uma chance. Ele era legal e a tratava como uma deusa, mas Suki não estava confortável com a ideia de perder sua melhor amiga também.

Os olhos de Suki iluminaram-se ao pensar em armar para Tasuki e Kyoko ficarem juntos, especialmente depois do jeito como eles haviam dançado agorinha. Ela não se deixaria enganar, pois Kyoko podia ser bem assustadora quando fica muito zangada. A garota teria que ter coragem para namorar dois cabeças quentes como aqueles com que ela convivia. O sorriso de Suki suavizou ao pensar em seu próprio namorado, embora ela nunca admitiria tal título.

Shinbe era tão louco quanto os dois amigos de Kyoko, se não fosse mais louco ainda.

Trazendo seus pensamentos de volta ao presente, Suki levantou-se com um sorriso dissimulado.

— Vou falar com o DJ para tocar minha música favorita, já volto! — Com isto, ela deixou os dois a sós. Secretamente, ela esperava que o tempo a sós acendesse uma pequena chama ardente entre os dois.

Kyoko olhou para Tasuki, se sentindo com a cabeça vazia, e sorriu com culpa.

— Eu adoraria um chá, ou talvez um café seria ainda melhor. Mas, às vezes, a cafeína é quase tão ruim quanto o álcool. — Ela riu de sua própria piada. — Se você não se importa em comprar enquanto vou ao banheiro. — Ela pegou a mão estendida de Tasuki e o deixou ajudá-la a se levantar.

Kyoko piscou rapidamente quando as coisas começaram a parecer um pouco distorcidas e depois deu uma risadinha.

— Já volto. — Ela olhou para as paredes, procurando a direção do banheiro. Ao vê-lo mais perto da porta da frente, ela saiu, esperando não parecer tão bamba quanto sentia. Talvez se ela jogasse um pouco de água fria no rosto e não bebesse mais álcool esta noite, tudo ficaria bem.

O corpo de Kyou ficou tenso quando viu a cabeça da menina ir direto para o último lugar que queria que ela fosse: a entrada e o inimigo. Com seus assombrados olhos dourados matizados de rosa e com um rosnado agravado, sua forma desapareceu, como se ele nunca tivesse estado lá.

A mente enevoada de Kyoko se perguntou por que eles colocaram os banheiros lá na frente, perto da porta, enquanto ela via uma horda de gente que ainda entrava na boate. Alguns dos recém-chegados pareciam já estar em ritmo de festa, e o ruído dentro do salão de dança estava amplificado.

Yohji, um dos caras do campus, veio tropeçando, não vendo para onde estava indo. Seu irmão já o havia convencido a ir a alguns bares no fim da rua mais cedo e eles acabaram de sair do último para tentar este. Quando ele se virou para chamar seu irmão mais novo, Hitomi, ele esbarrou num corpo macio e quente.

Ouvindo um gritinho feminino, Yohji instantaneamente estendeu a mão e a pegou com os dois braços. Quando seus olhos se acenderam no rosto daquela que ele segurava, um sorriso selvagem se espalhou por seus lábios.

— Kyoko?

Quando a boate resolveu parar de girar e ficou nítida de novo, Kyoko olhou para o cara que esbarrou nela e depois deu um de herói tudo ao mesmo tempo.

— Yohji? Oi... — Kyoko corou quando ele a abraçou mais forte e ela imediatamente tentou se esquivar.

Nada bom! Nada bom — repetiu ela em algum lugar dentro de sua cabeça. Ela podia ouvir o alarme interno alto e claro.

Ela já havia encontrado várias vezes com Yohji na escola e, apesar dele ser bastante popular com as garotas, sendo extremamente bonitão e tudo o mais, ela sempre tentou evitá-lo. Ele era muito agressivo para o seu gosto e ela escolheu ficar bem longe dele e do grupo com o qual ele andava.

— Estou bem agora, Yohji, então você pode me soltar — sorriu ela, escondendo sua ansiedade, tentando ficar calma e não fazer cena.

Yohji não cedeu e deu um sorriso corrompido ao ver o desconforto da menina.

— Por que eu te soltaria agora que finalmente te tenho nos meus braços, Kyoko?

Seus olhos já estavam cheios de desejo, enquanto seu rosto tomava ares de um predador. Ele já estava atrás dela há muito tempo e ela nunca lhe dava uma chance. Bem, agora que seus dois guarda-costas não estavam por perto para detê-lo, ela não iria embora tão facilmente.

Hyakuhei viu a cena acontecendo a poucos metros dele com interesse. Ele podia ver o homem perfeitamente, mas só conseguia ver as costas da garota.

— Aquela garota... — Seus olhos ganharam um brilho misterioso enquanto ele a observava. Ele podia sentir tão bem o cheiro do nervosismo e da pureza de Kyoko que isso estava superando seus sentidos.

Quanto ao cara que a segurava, seu desejo era tão espesso no ar que dava até para sentir o gosto. Os olhos de Hyakuhei se estreitaram quando a necessidade de matar o punk começou a queimar dentro de suas veias. Ele começou a avançar apenas para dar de encontro com um escudo de poeira de arco-íris bloqueando seu caminho. O brilho calmante se instalou quando ele se recostou contra a parede mais uma vez estreitando os olhos com desconfiança. Ela foi protegida pelo imortal?

Ele estendeu a mão e tocou o que restava da barreira e deixou que o sentimento calmante o banhasse. Um efeito tão calmo não suprimiria as suas más intenções por muito tempo.

— Garotinhos e seus jogos — sorriu ele quando seus olhos da meia-noite se voltaram para a garota.

A aura dela o pegou completamente desprevenido. Seu olhar percorreu o corpo adorável dela e a pele que brilhava como o orvalho em flor antes da primeira luz do amanhecer. A necessidade de tocá-la sobrecarregou seus sentidos e ele tomou outro passo desconhecido em direção a ela. Desta vez, ignorando o escudo de brilho protetor do imortal.

Quando ele estava prestes a pegar a menina em seus próprios braços, outra onda de possessividade o atingiu como um golpe físico. A aura familiar acariciava seus sentidos, uma que ele não sentira em décadas. Dando uma última olhada na garota que ele havia mentalmente tomado para si, seus olhos escuros se suavizaram brevemente ao tomar uma decisão. Ele a teria, em breve.

Um sorriso inclinou seus lábios astutos enquanto ele recuava na escuridão, fora de vista.

— Então, meu errático Kyou decidiu se juntar ao jogo. Deixe-me ver quais são realmente suas intenções.



******



Toya entrou rasgando no apartamento que ele compartilhava com Shinbe, mas quando ele não viu seu amigo, começou imediatamente a gritar.

— Shinbe, onde diabos você está? — Sua raiva era imensa e, por razões óbvias, ele tinha um mal pressentimento sobre a segurança de Kyoko, especialmente depois que Kotaro o informou sobre as outras garotas desaparecidas, tantas garotas.

Seus nervos já estavam a toda e, se ele não colocasse os olhos em Kyoko em breve, ele iria quebrar alguma coisa. Mas, quando ele colocasse os olhos nela, ela teria muita sorte se ele a deixasse sair de sua vista novamente. Se fosse para ele escolher, ele a amarraria permanentemente para tê-la sob sua custódia.

Shinbe saiu do banheiro abotoando sua camisa azul gelo e estava com ares de que iria para algum lugar.

— Estou aqui, qual é a emergência? — Ele se sentou no sofá e começou a colocar os sapatos como se nada o incomodasse.

Kotaro ficou em pé atrás de Toya esperando para ver se Shinbe tinha alguma informação sobre o paradeiro de Kyoko. Inclinando-se contra o balcão da cozinha, ele observou enquanto Toya se elevava sobre Shinbe.

Se Toya lembrasse o que Shinbe fizera por ele no passado, ele provavelmente demonstraria mais respeito ao homem. Kotaro inclinou a cabeça em um ângulo divertido, repensando nisso. Não, ele não faria — se corrigiu ele. Observar o temperamento do menino explodir teria sido divertido se Kyoko não estivesse desaparecida.

— Perdi Kyoko e agora também não consigo encontrar a Suki! — Toya se contraiu quando Shinbe nem olhou para ele.

O sorriso presunçoso de Shinbe estava definitivamente dando nos nervos de Toya. Se Shinbe já não estivesse com apenas meio cérebro de tanto apanhar de Suki, Toya teria aumentado o dano cerebral. Mas agora ele queria que seu amigo ficasse consciente e respondesse suas perguntas.

Shinbe terminou de amarrar seus sapatos sabendo que Suki o odiaria por isso, mas ele não se importava. Ele a compensaria depois. Eles sempre se divertiram depois de uma briga. Seu olhar se perdeu neste pensamento agradável. Fazer as pazes seria legal...

Ouvindo um grunhido perigoso, Shinbe rapidamente voltou sua atenção para o amigo, levantando uma sobrancelha calmamente.

— Quê?

— Shinbe, que droga! Não estou brincando! Onde diabos estão Suki e Kyoko? — Toya surtou, seus olhos dourados perfurando seu amigo como uma faca. Se Shinbe não o respondesse logo, ele sabia que iria explodir.

Shinbe franziu a testa confuso quando notou Kotaro encostado na bancada. Toya e o chefe da segurança nem se toleravam, muito menos saíam juntos. Seu peito apertou.

— Não sei com certeza, mas Suki me dispensou esta noite dizendo que estava saindo com uma amiga, mas não me disse com quem.

Quando Toya começou a xingar novamente, Shinbe levantou-se.

— Espera, não terminei, então não surte. Enquanto eu estava no apartamento dela antes, vi um folheto em seu balcão sobre a Midnight Club e a data de hoje estava circulada. Ele sorriu lascivamente.

— Eu estava me arrumando para ir lá e ver se eu a encontrava.

Kotaro suspirou enquanto Toya começava a vociferar algo sobre garotas idiotas. Não querendo perder tempo, ele se virou para a porta.

— Obrigado, Shinbe — disse ele sobre o ombro enquanto saía agora mais preocupado do que nunca. Ele só esperava que Kamui estivesse com ela, protegendo-a de alguma forma.

Shinbe inclinou a cabeça para o lado olhando sobre o ombro de Toya quando Kotaro partiu, e então ele se endireitou para franzir a testa para Toya.

— O que está acontecendo e por que Kotaro estava aqui? — A preocupação brilhou em seus olhos de ametista. Ele sempre gostou de Kotaro, mas não podia confessar isso a Toya sem ser rotulado como um traidor.

Toya tirou as chaves do bar enquanto respondeu:

— Vou te contar no caminho.

Ele virou-se e partiu para a porta, sequer se preocupando se Shinbe estava indo atrás. Ele odiava estar sem Kyoko. Isso sempre fazia com que ele se sentisse confuso. Era hora de encontrá-la e colocá-la de volta no seu lugar: ao lado dele.




Capítulo 5


Kyoko não gostou da forma como Yohji estava reagindo ao rubor dela e sentiu seu ressentimento começar a surgir. Empurrando o máximo que pôde com as palmas das mãos pressionadas contra o peito dele, seus olhos dispararam faíscas irritadas enquanto tentava novamente fazê-lo soltá-la.

— Olha, quero que me solte agora, Yohji! Estou aqui com alguém. — Seus olhos se arregalaram quando ele simplesmente deu uma olhada presunçosa e a prendeu de novo.

— Merda! - Kyoko enfureceu-se e pisou forte com o pé, tentando atingir o dedo do pé de Yohji.

Do outro lado do salão, Tasuki levava um chá normal de volta à mesa. Olhando para a porta para ver se ele podia detectar Kyoko, seus olhos escureceram ao notar que Yohji a assediava. A maioria das pessoas que o conhecia acreditava que Tasuki era um típico americano, meigo, companheiro e o mais popular na escola, mas ele tinha um temperamento oculto.

Yohji estava à beira de testemunhar isso se ele não tirasse as mãos de Kyoko.

A ira de Tasuki estava estampada em seu rosto enquanto ele atravessava o salão para resgatar sua doce Kyoko. Ele sabia, depois de ouvir outros conversarem na faculdade, que Yohji e seu irmão eram agressivos com as meninas e até foram acusados de estupro mais de uma vez.

Quando ele se aproximou deles, viu o irmão de Yohji, Hitomi, ao lado dele, mas Tasuki não deixou que isso o impedisse. Aqueles dois caras eram venenosos e ele sabia disso. Os olhos de Tasuki ganharam uma sombra iluminada de ametista enquanto avançava. Sua adrenalina estava alta e ele travou os dentes ao ver Kyoko lutar para se libertar.

A sobrancelha de Kyoko começou a se contrair quando a mão de Yohji percorreu suas costas e segurou sua bunda firmemente, forçando-a a encaixar-se nele. Ela podia sentir sua lascívia enquanto ele sorriu maliciosamente para ela.

— Chega! — Ela ergueu a mão com tanta rapidez que Yohji nem viu, até que ele ouviu o estalar em sua orelha.

O irmão de Yohji, Hitomi, ouviu o som e se virou para olhar o rosto vermelho de seu irmão. Ele sorriu, entendendo, mas depois olhou por cima de Yohji e viu o menino chamado Tasuki vindo em direção a seu irmão com um olhar lívido no rosto.

Sabendo que seu irmão poderia cuidar da menina relutante sozinho, Hitomi deu um passo para frente e ficou diretamente no caminho de Tasuki.

— Onde pensa que está indo, garotinho?

Tasuki olhou além de Hitomi, seus olhos se chocando com os de Yohji. Ele podia ver a mão de Yohji acariciando Kyoko. Sem pensar, ele jogou todo o seu peso no soco dado no estômago de Hitomi. Para seu espanto, o outro menino mal se moveu.

Sendo muito maior do que o calouro da faculdade, Hitomi deu um soco em Tasuki, fazendo-o voar em direção à parede do corredor. Ele encolheu os ombros, imaginando que o garoto não voltaria e se voltou para ver o seu irmão curtir seu novo brinquedo.

Ver a luta da menina para se soltar trouxe um sorriso aos lábios de Hyakuhei.

— Então, essa garota não é fácil de ser domada. Terei prazer em amansá-la. — Olhando para o jovem que tinha vindo defender a honra de Kyoko, Hyakuhei decidiu quem ele queria como seu mais novo recruta.

Ele rapidamente pegou o garoto chamado Tasuki antes que ele se chocasse com a parede.

Seus sentidos lhe disseram que o menino ainda era puro, virgem. Que estranho. Rapidamente escondendo-os na escuridão para evitar que os outros vissem, Hyakuhei olhou para ele. Ele havia observado como Tasuki interagia com esta menina e várias outras. Ele seria uma boa escolha.

— Bem-vindo à escuridão, meu filho — sussurrou enquanto afundava suas presas na veia de Tasuki. Os olhos de Hyakuhei se arregalaram com o sabor do sangue do menino. Um poder escondido? Tinha gosto de ametista. Ele agarrou o menino mais apertado, querendo mais.

Tasuki tomara o golpe no rosto com segurança, já que tinha tanta adrenalina pulsando dentro de si. Ele planejou revidar, mas, como havia braços o envolvendo por trás, tudo ficou escuro e ele se sentiu paralisado por um medo imediato. Uma voz suave e quase sedutora deu-lhe as boas-vindas à escuridão.

Ele ofegou quando sentiu dentes afiados em seu pescoço. À medida que sua vida se esvaía, seus últimos pensamentos foram em Kyoko e o quanto ele precisava chegar até ela. Ele estava estendendo a mão em uma última tentativa de ir até ela quando o esquecimento veio, tomando seu último suspiro.



*****



A mão de Kyoko ainda queimava do impacto que tinha feito com o rosto de Yohji. Ela queria se encolher agora que podia sentir muitos olhos curiosos sobre ela. Não ajudou nada o fato da bofetada ter soado como um tiro.

Dane-se tudo! Isso foi o que ela tentou evitar, mas não, Yohji tinha que ser um idiota. Falando em idiotas, ele ainda não havia tirado as mãos de cima dela. Ela lentamente olhou de volta para ele. Pelo olhar irritado nos olhos dele, ela viu que ele não planejava soltá-la.

Ela devolveu o olhar enfurecido, esperando para ver se ele revidaria ou a soltaria. Se ela fosse apostar, escolheria a primeira opção.

Kyou sabia que o pequeno tapa de uma garota não era compatível com a lascívia que vinha do cara que a segurava com tanta força. Ele mentalmente destruiu o pervertido por ousar tocar o que ele pretendia reivindicar como sua posse. De repente, tomou uma decisão, não se importando mais se Hyakuhei o detectou ou não. Assim que Kyou se moveu para sair das sombras, com a intenção de afastá-la do assediante, ele ouviu um grunhido profundo.

Momentaneamente atordoado, Kyou sabia que esse tipo de rosnado só pertencia a um licantropo. Seus olhos dourados seguiram o som para sua origem. O som continuava a vibrar da entrada, a apenas alguns metros da menina. A raiva do lobo inundou o corredor cheio de gente.

Os olhos de Kyou se estreitaram na cena, imaginando se ele podia confiar em uma força atemporal estando tão perto da garota. Ele não via um licantropo desde que havia sido transformado pela primeira vez e, depois, ele apenas se distanciou. Se lembrou de ter dito uma vez para Toya que vampiros e lobisomens não se misturavam. Toya perguntou-lhe por que, mas ele não havia respondido porque só estava repetindo as palavras de Hyakuhei e não sabia o motivo.

Kotaro deu uma olhada em Yohji tateando "sua mulher" e enlouqueceu. Num piscar de olhos, Yohji foi arremessado contra a parede com a mão de Kotaro em sua garganta, levantando-o vários centímetros no ar. Ele havia lidado com os irmãos pervertidos antes e onde um estava, o outro sempre seguia.

Seus sentidos estavam em alerta quando sentiu o cheiro de Hitomi e sabia que ele estava vindo por trás. Com um chute bem colocado, Kotaro fez Hitomi voar, para depois cair como um amontoado no chão do corredor. As pessoas se espalharam e o corredor rapidamente ficou vazio.

Kyoko sentou-se no chão com os olhos arregalados, mal acompanhando o que acabava de acontecer, já que foi tudo muito rápido. Seu olhar foi do corpo amassado de Hitomi para a forma furiosa de Kotaro, que segurava o pescoço de um Yohji que estava ficando azul.

Sabendo que ela tinha que parar Kotaro antes que ele realmente machucasse alguém, Kyoko ofegou e começou a se levantar. Ao pressionar as mãos no chão, ela tropeçou atrás de Kotaro, pousando uma mão no ombro dele enquanto tentava acalmá-lo.

— Obrigada, Kotaro, mas estou bem agora, então você pode soltar o Yohji, tá? —Sua voz era suave, mas seu pânico aumentou quando os dedos de Kotaro apertaram a garganta de Yohji. Kotaro virou o rosto para Kyoko e ela deu um passo assustado para trás, vendo o tom vermelho em torno dos olhos azuis dele.

— Vi onde as mãos dele estavam, Kyoko, e acho que é hora de levar o lixo para fora. — Kotaro resmungou quando ele se voltou para Yohji e ouviu com um fascínio mórbido quando o menino fazia sons guturais e assumia uma tonalidade azul assustadora.

O temperamento de Kotaro estava satisfeito com a cor mais escura, dando-lhe o controle suficiente para perceber que Kyoko o estava olhando chocada. Precisando aliviar o medo dela, ele agarrou Yohji pela gola da camisa e se dirigiu para a porta para ensinar ao bastardo alguns bons modos. Ela não precisava ver o resto.

Kyoko piscou quando a porta se fechou atrás de Kotaro. Perplexa, ela ainda estava em um torpor devido ao choque. Nossa! Kotaro podia ser realmente assustador quando estava bravo. Ela até sentiu pena de Yohji naquele momento.

Olhando por cima do ombro, viu o irmão de Yohji, Hitomi, ainda deitado onde Kotaro o tinha deixado no chão. Pela primeira vez, ela não se importou que Kotaro fosse seu protetor. Ela estremeceu e tentou não pensar no que poderia ter acontecido se Kotaro não tivesse aparecido na hora.

Kyou observou ela roer o lábio inferior como se estivesse incerta sobre o que fazer. Quando o olhar dela viajou de volta à porta, ele pensou. Então, ela tem a proteção do licantropo. Ele se perguntou que outros mistérios cercavam a menina. Este não era um lobo normal, aquele que ela chamara de Kotaro, ele podia sentir que era tão velho quanto ele.

Kyoko aproximou-se das portas de vidro olhando para o estacionamento escuro, imaginando onde Kotaro tinha ido. Colocando a mão na maçaneta, ela começou a abrir a porta, mas um jovem entrou na frente dela, bloqueando seu caminho. Ela permaneceu imóvel por um momento quando o garoto fixou seus olhos nos dela. Foi o sentimento mais esquisito que já experimentara.

O menino tinha cabelos brancos sólidos e um tom de pele que era quase igual aos cabelos. Mas essa não era a pior parte. Seus olhos eram tão negros que pareciam continuar para sempre, dando a Kyoko a sensação de que ela estava mergulhando neles. O garoto sorriu suavemente, mal descobrindo suas presas desumanas e por um momento, Kyoko realmente acreditava que as viu.

Uma mão saiu do nada e agarrou o ombro de Kyoko fazendo com que um grito aterrorizado ficasse preso em sua garganta quando ela se virou para ver de quem era a mão.



*****



Kyou saiu da escuridão quando viu o servo de Hyakuhei do outro lado da vidraça. Ele sabia do menino enganador. O mais jovem que parecia tão inocente era muitas vezes o mais mortal.

Avançando atrás de Kyoko, seus olhos sangraram e suas presas se alongaram, deixando o fantasma do menino saber que ele não morderia essa garota sem perder sua própria vida imortal.

A mão de Kyoko se acalmou na porta sem ter certeza se queria abri-la. Algo sobre o jovem estava realmente lhe dando medo. Assim que ela começou a dar um passo para trás, uma mão pesada saiu do nada e agarrou seu ombro. Um grito aterrorizado subiu sua garganta enquanto se virava para ver quem era.

Kyoko esqueceu de respirar quando olhou para os olhos dourados. Os longos cabelos brancos moldavam o rosto e os ombros. Ele era poucos anos mais velho e seu cabelo estava perdendo a cor escura em meio às mechas prateadas, mas ele quase se parecia...

— Toya? — sussurrou Kyoko hesitantemente, sabendo que estava errada, mas o mais importante, por que o salão estava girando?

Assim que seus olhos se chocaram, Kyou sentiu-se atraído por eles. Ela estava olhando para ele como se ela o conhecesse. Mas isso não era tão perturbador quanto ela sussurrar o nome de seu irmão morto. Os braços dele a envolveram, vendo-a ficar tonta sob a influência do líquido contaminado que ela havia consumido anteriormente.

Quando suas mãos deslizaram por sua pele nua, onde sua blusa era muito curta para cobrir, ele sentiu uma agitação dentro de seu sangue de vampiro, sussurrando para que ele a protegesse.

A visão de Kyoko não estava boa o suficiente agora. Parecia desafiar sua vontade quando o homem começou a ficar desfocado enquanto ela olhava para ele com curiosidade. Mesmo não conseguindo ver bem, ela ainda podia sentir o corpo dele apoiando-a.

Elevando os dedos para tocar no rosto dele, ela falou:

— Você não é o Toya. Quem é você? — Antes que ela pudesse obter uma resposta, Buda ou qualquer outro deus que continuasse fazendo piada com ela apagou as luzes e ela mergulhou no inconsciente.

Kyou a apertou fortemente quando o corpo dela ficou imóvel em seus braços. Ela desmaiou, mas pelo menos não foi nos braços de um inimigo. Sua cabeça caiu para trás, expondo a suave curva alva de sua garganta e Kyou lutou contra seus instintos. Ele silenciosamente se perguntou se ela não estava mesmo nos braços do inimigo. Suas presas começaram a alongar-se e ele dominou a tentação. Este era um ser muito puro para aquela escuridão.

Ele então sentiu sua cólera se acender contra a garota ingênua. Se ele não estivesse aqui para protegê-la, o que teria acontecido com ela? Ele, convenientemente, esqueceu seus próprios impulsos apenas alguns momentos antes. Se o lobo tivesse sido um protetor adequado, ele não a teria deixado. Ele olhou em volta percebendo que os amigos com quem tinha estado antes também a abandonaram.

Expandindo seus sentidos, Kyou ainda podia sentir seu próprio inimigo, Hyakuhei, dentro do prédio. Sentindo o mal vindo de algum lugar acima, ele sabia que Hyakuhei estava no segundo andar.



*****



Shinbe saltou do carro ainda em movimento. Uma coisa o empurrou para frente e levou-o direto para a entrada principal da boate em disparada. Ele não conseguiu tirar da cabeça a ideia de Suki e Kyoko se tornando uma dessas garotas desaparecidas e isso estava aterrorizando-o.

Toya havia contado sobre o que Kotaro lhe havia dito e, quando ele pusesse as mãos em Suki, ele não a soltaria nunca mais. Onde no corpo dela ele iria pôr a mão ele não conseguia dizer, mas ele tinha que encontrá-la primeiro.

Shinbe parou de repente quando ele avançou pelas portas da frente da Midnight Club.

No meio do corredor havia um homem segurando Kyoko e ela não parecia bem. Ela estava imóvel e muito pálida. E mais, o homem também não parecia tão normal. Pele pálida era um eufemismo para ele, o que fez Shinbe parar nervosamente quando ele percebeu que o homem o fez se lembrar de seu melhor amigo.

O cabelo prateado e os olhos dourados... os cabelos de Toya eram escuros como a meia-noite, mas dentro deles havia as mesmas marcas de prata, iguais aos do homem à sua frente. Essas eram características muito incomuns e ele sabia que só Toya tinha esse tipo de combinação incomum.

Percebendo o homem se movendo para sair com Kyoko, Shinbe afastou a sensação de desconforto. Toya o mataria se ele não impedisse o sequestro de Kyoko.

— O que diabos você está fazendo com Kyoko? — Olhos de ametista brilhavam quando Shinbe gritou, sentindo que seus pés se moviam de novo sem pensar. Ela pode não ser sua namorada, mas ela era muito querida, mais do que ele admitiria e, além disto, ela era a melhor amiga de Suki. Não havia chance desse cara levar Kyoko em suas garras.

Kyou deslizou o braço sob os joelhos de Kyoko e ergueu-a sem esforço. Ele a embalou como um bebê, debruçando a cabeça dela sobre seu ombro, com cuidado para não a incomodar. No momento em que a cabeça dela tocou seu ombro, ela se aconchegou em seu abraço, suspirando suavemente.

Ele podia sentir a confiança e o contentamento sendo emitidos da aura dela enquanto se acomodava em seus braços. Esta mulher-filha o perturbava muito, e quanto mais ele a observava dormindo, mais ele queria escondê-la de todos. Ele sabia que conseguiria, se ele realmente quisesse, e a tentação era imensa. Ele nunca transformou ninguém no que ele era, mas se ele quisesse, ele conseguiria.

Seu instinto protetor para com a menina, bem como a necessidade possessiva de ficar com ela o surpreenderam e Kyou rosnou suavemente para suas ações. Como essa garota poderia afetá-lo assim? Tirando o olhar de seu rosto angélico, ele olhou para o jovem que gritava com ele. Parece que os homens que a queriam continuavam a entrar em seu caminho.

Olhos de ouro se fixaram com os olhos de ametista e Kyou sentiu uma familiaridade estranha.

— Não é decisão sua, mago — advertiu Kyou em um tom mortal e baixo.

Naquele momento ele sabia que o próprio Hyakuhei não poderia tirá-la dele. Ela pertencia a ele. Seus braços se apertaram ao redor dela, não gostando do amor que ele podia sentir crescendo em relação à menina, irradiando da poderosa aura do outro.

Desviando-se de seus pensamentos rebeldes, Kyou rosnou baixo. Ele não deixaria a menina afetá-lo, mas ele ainda não estava pronto para desistir dela. Ele tinha muitas perguntas e ela as responderia, quer ela gostasse ou não.

Confiante de que estava sob controle, Kyou decidiu que era hora de partir.

Shinbe estava a caminho de Kyoko quando o homem se mexeu. Mexeu? Essa talvez não tenha sido a palavra certa. Tremulou e desapareceu, depois reapareceu do nada, bem na frente dele.

— Mas... — Shinbe parou enquanto olhava para um rosto que tinha a morte escrita por toda parte.

Seus olhos se arregalaram em choque, parecia que seu coração simplesmente tinha parado. Tão perto assim, ele podia ver claramente que o homem tinha praticamente uma pele branca de porcelana e se parecia muito com Toya, como se isso fosse uma piada. Piscando, ele poderia ter jurado que havia presas saindo da boca do homem e um grunhido de advertência ao redor delas.

Shinbe ficou plantado quando o homem estendeu um dedo e empurrou contra o peito dele. A próxima coisa que Shinbe notou foi que estava sentado de bunda no meio do corredor. Piscando novamente, ele ficou confuso quando o homem de cabelos prateados, vestido de preto, simplesmente passou por cima dele e de repente desapareceu.

Suki chegou ao corredor apenas a tempo de ver Shinbe cair no chão, não tão gentilmente, e um homem alto de cabelos prateados desaparecendo com Kyoko. Ela piscou uma vez e eles desapareceram. Um segundo estavam lá, no outro haviam sumido.

Shinbe, que parecia estar na zona do crepúsculo, ficou sentado lá mais um pouco, piscando confuso.

— Que diabos?

Correndo até Shinbe, Suki tremia quando tentou ajudá-lo a se levantar.

— Quem era aquele homem que desapareceu com Kyoko? — Ela olhou para Shinbe preocupada, quando ambos se viraram e correram pela porta para encontrá-los.

— Ele simplesmente desapareceu?

Eles saíram do prédio e olharam freneticamente e não viram nenhum vestígio do homem ou Kyoko em qualquer lugar.

Virando-se para Shinbe, os olhos de Suki marearam. Sentia que estava à beira das lágrimas.

— Cadê eles? Aquele homem sequestrou Kyoko! — Ela estava tremendo de medo. O que tinha começado como uma noite divertida tinha se transformado em um pesadelo.

— Calma, Suki. Vamos encontrá-la. Toya também está aqui. — Shinbe procurou ansiosamente pelo amigo. — Pensei que ele estava logo atrás de mim!

A preocupação rapidamente se transformou em raiva agora que a ficha caiu e ele viu que Suki estava segura e ao seu lado. Uma sombra de piedade cruzou seus olhos assombrados enquanto pensava no passado.

— No que diabos você estava pensando? Algo poderia ter acontecido com você e não dava para eu saber onde você estava! — Ele a agarrou bruscamente pelos braços quando seus olhos de ametista escureceram possessivamente.

Os lábios de Suki se estreitaram com a raiva de Shinbe. Qual é a dele? Não era como se ela nunca saísse com as amigas. Seu olhar se fixou no dele quando sua própria raiva começou a subir.

— O que você quer diz... — suas palavras foram interrompidas quando seus lábios se chocaram contra os dela em um beijo abrasador e de parar o coração.

Shinbe estava tão preocupado com ela que não conseguia impedir os sentimentos que se precipitaram. Ele queria ter certeza de que podia sentir cada emoção que estava percorrendo suas veias naquela hora. Ele a abraçou fortemente, jurando para si mesmo que nunca mais perderia Suki de vista.

Suki gemeu suavemente pela intensidade do beijo de Shinbe. Era como se estivesse descobrindo cada emoção nua e crua dentro de sua alma. Ela poderia praticamente senti-la com a ponta dos dedos quando agarrou os ombros dele, sabendo que se ela soltasse, não conseguiria ficar de pé, pois suas pernas acabavam de se transformar em geleia, então ela se segurou como se fosse para salvar sua vida.

Sua mente ficou em branco por um momento e ela esqueceu que estava brava com ele ou que Kyoko acabara de desaparecer. Tudo o que ela podia sentir era Shinbe e um amor que sem dúvida duraria mais que os dois.

Suavemente, ele relaxou o abraço, terminando o beijo esfregando o nariz contra o dela. Seus olhos se encheram de alívio, mas ainda estavam escuros de desejo. Balançando a cabeça ligeiramente, ele tentou se concentrar na situação em questão e pela primeira vez, sua mente pervertida não vagou pela sensação do corpo macio de Suki em seus braços. Afinal de contas, essa sensação existia durante muitas vidas.

— Algumas coisas estão acontecendo e você precisa saber disto. Não era seguro para você e Kyoko saírem sozinhas esta noite. Vou explicar enquanto procuramos Toya. Acho que Kotaro está aqui também em algum lugar. — Shinbe envolveu um braço protetor ao redor dela enquanto se dirigiam ao estacionamento para encontrar Toya.

Por um momento, Suki ficou atordoada para fazer qualquer coisa, mas acenou com a cabeça.



*****



Toya correu pelo estacionamento, amaldiçoando Shinbe sair correndo na frente. Ele teve que sair do carro no lado do passageiro, uma vez que percebeu que não podia sair do seu lado. Na pressa de chegar a Kyoko, ele havia estacionado muito perto de um muro. Infelizmente, ele também descobriu isso quando tentou abrir a porta e bateu no muro, dando uma amassada no carro.

Isso não foi realmente o que o atrasou. Quando ele saíra correndo do estacionamento a uma velocidade vertiginosa, um garotinho apareceu do nada e colidiu com ele. O impacto foi tão súbito que o derrubou. Quando ele se endireitou o suficiente para ficar de pé, rapidamente ofereceu ao menino uma mão para ajudá-lo a se levantar.

— Ei, garoto, você está bem? — Toya recolheu a mão quando o menino sibilou e correu na direção oposta como se o próprio Satanás o perseguisse.

Toya deixou de lado a sensação assustadora que o menino tinha deixado e olhou para a boate de dois andares. O sentimento estranho voltou dez vezes mais forte quando notou a sombra de um homem que carregava alguém em uma das janelas no último andar. Havia tantas coisas erradas com aquela pequena cena.

Seus olhos brilhavam, prateados, seus sentidos reconhecendo coisas que ele ainda não entendia. Tudo isso o deixou com a sensação de que alguém acabara de pisar sobre seu túmulo.

Quando se aproximou da boate, Toya grunhiu aborrecido ao perceber que havia duas entradas. Uma parecia ser a entrada principal e a outra estava muito lotada. Decidindo ir pela principal, ele abriu caminho entre a multidão.

— É melhor que ela esteja bem... quando eu a encontrar, vou algemá-la permanentemente, ela gostando ou não. Marcas de prata começaram a se fortalecer dentro do ouro de seus olhos enquanto ele procurava Kyoko.



*****



Kyou abriu caminho pelo beco atrás da boate com Kyoko segura firmemente em seus braços. Sua mente estava preparada e ele levaria a garota para sua casa temporária para se recuperar. Ele olhou para a cobertura na rua bem em frente à boate. Ela estaria segura com ele, mas ele teria que ter cuidado. Ele podia sentir o servo de Hyakuhei dentro da escuridão que cercava a boate.

Seu maxilar apertou-se quando ouviu um grito fraco na distância e sabia que outra vítima havia sido encontrada. Olhando para a menina adormecida, seus olhos dourados se suavizaram. Por enquanto, ela seria seu segredo. Ela era leve como uma pluma e parecia tão frágil.

Ele não conseguiu compreender como essa menininha tinha um espírito tão ardente, mas uma alma tão pura. E "Toya", ela falou o nome de seu irmão morto como se ela o conhecesse. Como poderia ser possível?

Seus pensamentos pararam quando ele sentiu uma poderosa criatura noturna à frente, ao mesmo tempo que um cheiro de sangue chegou ao seu nariz. Ficando tenso, ele reconheceu a aura do licantropo que protegera Kyoko mais cedo, mas que depois a abandonara, deixando-a em perigo.

Não querendo que a menina se machucasse se ele precisasse lutar, Kyou a pousou suavemente no beco e seguiu o cheiro de sangue que vinha da esquina. Se o lobo tivesse abatido um humano, a garota pode não estar segura ao redor dele. Sabia-se que alguns lobisomens se perdem quando a ira entra em seu sangue, e ele não permitiria que a garota fosse protegida por uma criatura tão perigosa.

Ao virar a esquina com os pés silenciosos, os olhos de Kyou contemplavam uma cena que ele não tinha testemunhado há séculos. O lobo, ainda em forma humana, estava grunhindo, com as presas descobertas. Os olhos azulíssimos ardiam enquanto ele grunhia violentamente contra o que parecia ser um corpo que ele segurava.



*****



Toya fez uma pausa quando ele se aproximou da porta. Olhando, ele se virou rapidamente e se dirigiu em direção oposta da entrada. Ele conseguia sentir o cheiro dela, embora na parte de trás de sua mente ele não conseguisse descobrir como ou por que ele podia. Saindo em disparada em direção ao beco à esquerda do prédio, seu coração martelou violentamente em seu peito enquanto pensamentos mórbidos voavam em sua mente.

Meninas desaparecidas e lugares escuros... é melhor que Kyoko não tenha um único fio de cabelo fora do lugar ou então...

Entrando nas sombras, Toya parou de repente quando o medo sufocou sua respiração. Lá, deitada contra a parede de tijolos sujos, estava Kyoko. O mesmo medo que o havia congelado agora o fez entrar em ação. Em um segundo, ele estava ao lado dela.

Ajoelhando-se, ele a tocou, procurando a vida que permitiria que seu coração recomeçasse a bater.

Assim que seu dedo tocou o pescoço dela, seu próprio coração bateu ao mesmo tempo que o dela e ele exalou. Graças a Deus ela estava viva. Um momento de déjà vu trouxe uma lembrança indesejável e ele rapidamente a afastou de repente, com medo. Sentindo os outros por perto, ele não perdeu tempo em levá-la em segurança. Ao segurá-la perto dele, Toya usou sua velocidade sobre-humana para tirá-los da escuridão.



*****



Kotaro segurou Yohji contra a parede de tijolos enquanto controlava sua sede de sangue. Continuar o seu castigo já não valia mais a pena, considerando que o menino já havia desmaiado novamente. Deixando ele cair no chão sem nenhuma gentileza, ele sentiu uma perturbação na energia que o rodeava.

Sua cabeça virou para o lado, seus olhos azuis gelo se estreitando.

Kyou observava enquanto o lobo largou o menino de volta ao chão sem matá-lo. Ele imediatamente reconheceu o humano como sendo o assediador de Kyoko. Mudando a opinião de alguns momentos antes, seus lábios se curvaram em um ligeiro rosnado. Se fosse ele segurando o menino pelo pescoço, o garoto não estaria inteiro até agora.

Como se o tivesse percebido, o licantropo virou a cabeça e fixou seu olhar mortal sobre ele. Kyou podia sentir o imenso poder que emanava do lobo. Ele estava mostrando isso em advertência.

No passado, lobos e vampiros sempre se haviam evitado. Sem se preocupar um com o outro, eles escolheram se ignorar. Ambos tinham forças muito parecidas e nem se preocuparam com o domínio de um sobre o outro. Eles apenas existiam juntos no mesmo mundo, mantendo-se reclusos e vivendo suas próprias vidas intermináveis.

Todos os instintos de Kotaro ganharam vida, vendo o vampiro de pé ali nas sombras, observando-o. Ele não podia vê-lo com clareza suficiente para distinguir os traços característicos, mas seu instinto lhe disse que o sanguessuga era uma ameaça. Ele ainda precisava libertar sua própria sede de sangue e estalou os dedos pensando que talvez fosse um dos subjugados de Hyakuhei.

Assim que decidiu se virar e atacar, a imagem ficou mais forte, depois vacilou e desapareceu.

— Olhos dourados? — Kotaro ergueu-se em toda sua altura, percebendo que ele quase atacara Kyou. — O que ele está fazendo aqui? Droga! — Kotaro sibilou e saiu, temendo que Kyoko não estivesse onde ele a havia deixado. Ele tinha que chegar até ela rápido. Havia sanguessugas esta noite e ela não seria uma das vítimas deles. E com Kyou ao redor, não havia como dizer o quão perigosas as coisas poderiam ficar.

Kyou reapareceu de frente para a mesma parede de tijolos onde ele tinha recostado a menina. Vendo que ela não estava mais lá, seus olhos sangraram carmim e um grunhido enraivecido atravessou o beco vazio, ecoando nas ruas circundantes.



*****



Suki e Shinbe encontraram Kotaro na porta da boate. Agarrando Shinbe pelo ombro, Kotaro perguntou urgentemente.

— Kyoko ainda está lá dentro? — Seus sentidos sobrenaturais haviam entrado em pico e seus instintos lhe diziam que ela não estava perto.

Suki avançou para agarrar a camisa de Kotaro e confirmar suas suspeitas.

— Um homem a levou cerca de dez minutos atrás, você tem que encontrá-la! — Seus olhos se encheram de lágrimas quando ela falou com ele. — Não conseguimos encontrá-la em lugar nenhum!

Sem estar pronto para soltar a Suki ainda, Shinbe pegou sua mão, colocando-a no peito. Ele a envolveu em seus braços como uma tira de aço. Olhando para Kotaro, ele acrescentou:

— Alguma "coisa" acabou de levá-la daqui.

Shinbe olhou para a forma agora trêmula de Suki e tentou acalmá-la. Ela nunca permitiu que ele fizesse o que ele queria sem discutir.

— Vamos encontrá-la. Prometo. — Com a promessa feita, ele se virou para falar com Kotaro mais uma vez, mas o segurança já havia desaparecido.

— Aaa... aonde é que ele foi? — gaguejou Shinbe olhando ao redor, mas não encontrando nenhum vestígio do guarda de segurança. Balançando a cabeça, ele suspirou. Já tinha visto muita coisa estranha por uma noite.

Saindo de seu estado perdido e sem esperança, Suki resmungou aborrecida.

— Acho bom ele encontrar a Kyoko, senão vou fazer macarrão de Kotaro pro jantar. — Arrastando Shinbe atrás dela como se tivessem mudado de papel de repente, ela acrescentou:

— Meu carro, agora, vamos!

Shinbe olhou ao redor do estacionamento como se de repente lembrasse de algo importante.

— Falando em carros... o do Toya sumiu.




Capítulo 6


Hyakuhei colocou o jovem que ele escolheu para se tornar um de seus filhos em um quarto escuro acima dos sons da boate. Tirando o cabelo castanho e macio de seus olhos fechados, ele ainda podia sentir cheiro da garota que emanava da pele do menino.

- Tasuki - ele tinha ouvido os outros chamá-lo.

- Bem, Tasuki, quando você acordar, terá um presente muito precioso de mim: o dom da vida eterna. Ele deu um sorriso solidário, como se estivesse falando com uma criança. - Mas terá que entender que sua vida é minha.

Os olhos de Hyakuhei se tornaram vermelhos quando sentiu que um de seus filhos o chamava. Ele não gostava de ser perturbado enquanto aguardava um despertar, mas um dos seus favoritos havia chamado por ele. Sabendo que o subordinado nunca o chamaria, a menos que fosse importante, ele respondeu seu pedido.

Olhando mais uma vez para o garoto que ele havia transformado, Hyakuhei tremeluziu e desapareceu, deixando Tasuki sozinho dentro dos limites do quarto trancado.



*****



Yohji podia sentir as pontadas de dor forçando-o à consciência. Nossa, tudo nele doía! Ele lembrou lentamente o que aconteceu e por que se sentia tão mal agora. Ele tinha encontrado Kyoko e decidiu brincar com ela, quando este estúpido guarda de segurança havia aparecido.

Como alguém poderia ser tão forte? Quando tentou lutar, não teve a mínima chance. Era como se ele tivesse tentado ir contra uma matilha de lobos famintos e agora estava sofrendo duramente pelo esforço.

Finalmente, ousando abrir os olhos, Yohji ficou surpreso ao encontrar um jovem garoto parado lá, observando-o. Ele parecia ter cerca de 12 anos e poderia ser considerado albino, se seus olhos não fossem tão pretos e vazios.

Atraído pelo cheiro de sangue fresco, Yuuhi apareceu ao lado do menino ferido. Observando-o de perto, ele ficou imóvel como uma estátua, tocando-o brevemente com sua aura, antes de assentir uma vez. O menino tinha a mácula do mal já dentro dele, mas havia um perfume de pureza que se apegava à sua energia negativa.

Aqueles restos de energia pura pareciam estar vivos com um poder que não morreria.

- Inesperado...

Quando os olhos do menino machucado se abriram, Yuuhi sussurrou suavemente:

-Pai, ele tocou a menina pura, a energia dela ainda persiste, atacando a dele. - As presas da criança brilharam na escuridão com um sorriso fingido. - Devemos ficar com ele?

Os olhos de Yohji se estreitaram com as estranhas palavras do menino e, em seguida, olharam em volta para quem a criança estava se dirigindo, apenas para ver um homem vestido de preto sair das sombras para a fraca luz do beco. Ele era alto e o poder emitido de sua forma era como se ele fosse uma divindade vingadora.

Os olhos aterrorizados de Yohji se arregalaram, fixando-se nos olhos vermelhos cor de sangue e, desta vez, ele definitivamente viu presas. Ele pressionou seu corpo dolorido contra a parede. Ele nunca teria chance se ele tentasse correr no estado em que ele já estava.

Hyakuhei olhou para o jovem que havia assediado a garota que ele agora considerava sua. Este menino tinha ousado tocá-la e agora pagaria por sua insolência. Ele inalou e sentiu os restos do lobo que já tinha batido no menino gravemente e seus olhos de meia-noite entrecerraram-se em fendas.

- Kotaro esteve aqui! Como ele se atreve a interferir nisto? Seria ele a razão pela qual a menina tinha desaparecido de repente sem deixar vestígios? – resmungou Hyakuhei ao pensar que o licantropo esteve tão perto do Cristal do Coração Guardião e da garota mais uma vez. Só porque a menina o escolheu não a fazia realmente pertencer a ele. Nunca havia sido a decisão dela. Será que ele não aprendeu a lição no passado?

Ele pensou que havia matado a vil criatura junto com Toya há anos por ousar ficar contra ele e tentar proteger a garota de sua posse.

- Não importa -, os pensamentos de Hyakuhei ficaram melancólicos por um momento - você já lançou Toya e a sacerdotisa contra mim, Kotaro, e veja o que você me fez fazer.

Uma sombra de piedade cruzou seus olhos assombrados enquanto pensava no passado. Se Toya não tivesse tentado se tornar um guardião da sacerdotisa e afastar Kyou dele, Toya não estaria no mundo inferior agora, mas aqui, ao seu lado, junto com o belo Kyou. O único culpado por encher Toya de mentiras equivocadas foi Kotaro.

Kotaro também foi o único que havia avisado a sacerdotisa de sua verdadeira intenção. Era estranho como o tempo poderia deformar até mesmo as mentiras que foram ditas.

- Então, Kotaro - sussurrou ele - você a encontrou novamente.

Ele foi trazido de volta ao presente pelo gemido que veio do menino agachado contra a parede. Ele precisaria de mais de um novo recruta para encontrar sua sacerdotisa desaparecida se Kotaro também estivesse com ela. Hyakuhei a queria e a teria.

Ele pretendia reivindicá-la com a ajuda deste imbecil que pensou em contaminá-la. A corrupção de tal criatura servia para ele apenas. Ele tinha muitos planos para sua sacerdotisa, afinal, mil anos era muito tempo para formular novas formas de torturar alguém.

Voltando para as sombras, seus olhos brilharam enquanto ele assentiu ligeiramente com Yuuhi.

- Faça com que doa bastante. Torture a carne dele, mas não o mate. - Ele queria que esse menino sofresse um pouco mais por suas ações para que ele entendesse nunca desafiar seu novo mestre e nunca mais tocar na garota.

A cabeça de Yohji se voltou para a criança e seus olhos se arregalaram de medo. O jovem estava sorrindo para ele, mas não era um bom sorriso, era mortal. Nos cantos de seus lábios pálidos, o menino tinha longas presas afiadas e seus olhos não eram mais pretos, mas um vermelho escuro.

Aqueles olhos vazios eram um contraste estranho com a pele e os cabelos de alabastro. Ele parecia uma criança, mas era um demônio disfarçado e Yohji estava aterrorizado.

Ele observou com horror quando seus pés deixaram o chão e o menino se atirou nele, arrastando um grito aterrorizado de sua garganta já seca. Ele nunca soube o que o atingiu quando os dentes e as garras rasgavam sua carne, causando dor como nunca tinha imaginado.



*****



Toya olhou para a menina deitada no assento do passageiro ao lado dele.

- Droga, Kyoko, nunca mais me assuste desse jeito! - Ele sabia que ela não conseguia ouvi-lo, mas isso não impediu que ele desabafasse. - Sua bobinha, você poderia morrido ou coisa pior! - Ele se virou para o prédio onde ela morava.

Mesmo que ainda tivesse com uma cara amarrada, ele a carregou como se ela fosse a gema mais preciosa da terra e a levou até as escadas. Encontrando a porta trancada, ele xingou, virando a maçaneta, esperando não causar muito dano ao ouvir o barulho da porta se quebrando e depois a abrindo.

- Bem, ela precisava de uma tranca melhor mesmo, com um assassino à solta. - Toya usou essa desculpa, arquivando-a para quando ela acordasse e gritasse com ele por quebrar sua porta. - Pelo menos ainda está presa pelas dobradiças - resmungou ele ao entrar no apartamento mal iluminado.

Permanecendo imóvel no meio da sala de estar, ele olhou para Kyoko e ergueu uma sobrancelha, enquanto ele inalava o álcool misturado com seu aroma natural.

- Ah, vejo como você é, Kyoko - sussurrou ele. - Não é justo, nem me levou para beber com você. O que você estava pensando?



*****



Kyou lutou para manter sua compostura, o que parecia estar acontecendo muito esta noite. Incapaz de guardar tudo dentro de si, sua mão em punho avançou e atingiu a parede com tanta força que pedaços da alvenaria saíram voando em todas as direções. Ele deu um grunhido irritado e seus olhos coloriram de rosa enquanto ele cheirava o ar.

Ninguém ficaria com o que lhe pertencia sem pagar por esta interferência.

Ele imediatamente identificou o aroma de Kyoko misturado com outro que parecia estranhamente familiar e masculino. Kyou soltou um grunhido, afastando a sensação enquanto levitava do beco e seguia o aroma que se tornara imerso em seu próprio ser.

Sua figura solitária desapareceu nas sombras enquanto caçava por sua presa. Ele a encontraria e a tiraria das mãos do ladrão que a roubara. Os músculos do maxilar de Kyou se tensionaram com raiva. Como ela se atreveu a falar o nome de seu irmão para confundi-lo. Como se ela o conhecesse?

De alguma forma, a mulher-filha tinha lançado um feitiço sobre ele, ele tinha certeza disso. Ele podia sentir na ponta de seus dedos a presença dela e sentiu o desejo de tocar a pele dela mais uma vez. Ele precisava saber como que ela era tão pura e qual era a luz que emanava de seu corpo.

- Foi isso o que Toya estava procurando? Se foi, então esta garota é culpada pela morte de Toya? O que isso significa? - Ele desejava respostas. Essa luz o atraiu como uma mariposa para a luz e agora, ele descobriu, não podia apenas deixá-la ir. Era como se ela o tivesse chamado inconscientemente e ele não tivesse escolha senão responder.

Kyou rosnou baixo enquanto seus olhos brilhavam com sangue. Esta menina era perigosa. Ele não era do tipo que precisa ou quer alguma coisa, não durante séculos. Ele existia apenas para vingar-se. Ele teria que lidar com ela com cuidado. Ele não confiava em si mesmo em torno dela. De alguma forma, ela o capturou e o que o irritava imensamente era que esta menina tinha, de alguma forma, o tornado fraco.



*****



Murmurando algo sobre reuniões de alcoólatras anônimos, Toya levou Kyoko para o quarto dela e gentilmente colocou-a na cama. Voltando rapidamente para a porta da frente, ele a trancou usando o trinco, já que ele quebrou a fechadura normal.

- Ainda bem que ela só tinha trancado a maçaneta - ele encolheu os ombros e olhou em volta para a solidão do apartamento. Era muito diferente do rugido ensurdecedor que estava na boate. Estava quase calmo. Tirando os sapatos, ele suspirou:

- Que noite. - Ele deixou seus ombros relaxar pela primeira vez o dia todo enquanto caminhava silenciosamente para onde sua Kyoko estava deitada.

O luar fluía na janela, lançando um brilho etéreo sobre seu corpo. O rosto de Toya se suavizou ao olhar o rosto dela. Seu corpo magro pousava na cama com as mãos meio relaxadas em cada lado da cabeça. Parecia um anjo, tão em paz e tão inconsciente do perigo que passou. A mão de Toya se apertou ao pensar nisto. Ele teve vontade de sacudi-la e acordá-la para lhe dar alguns bons conselhos, mas ele não faria isso.

Um franzir marcou o rosto de Toya, enquanto pensava em como ela foi parar naquele beco, sozinha, desmaiada, mas ilesa. Sem querer olhar um cavalo dado nos dentes, ele decidiu agradecer aos guardiões que cuidavam dela, quem quer que fossem.

Pelo resto da noite, Kyoko estaria segura com ele. Isso era tudo o que importava.

Um brilho travesso cintilou em seus olhos quando ele tirou os sapatos dela e puxou as cobertas sobre a sua forma adormecida. Ela provavelmente o matará amanhã, mas ... Toya engatinhou na cama e puxou o corpo dela contra o dele.

Normalmente, pensamentos ligeiramente sujos preenchiam sua mente como muitas vezes acontecia quando ele estava em casa sozinho. No entanto, por algum motivo, esses pensamentos pareciam errados no momento. Havia algo sobre ficar aqui com ela, que parecia ... inocente? Ele balançou ligeiramente a cabeça e se aconchegou perto dela.

Segurando-a firmemente, ele agradeceu a qualquer deus que estivesse no céu por ela estar sã e salva, e no lugar a que ela pertencia. Tê-la em seus braços parecia tão certo que ele decidiu saborear o momento. De manhã, isso poderia ser fatal, mas se ele morresse, pelo menos morreria feliz.

Kyoko suspirou em contentamento, aconchegando-se mais perto do calor protetor que cercava seu corpo.

Um sorriso suave enfeitou os lábios de Toya enquanto ele gentilmente beijou a testa dela e acabou caindo no sono também.



*****



O corpo de Kyou levitou até a janela, onde ele sentia o aroma dela ficar mais forte. Os orbes de ouro fundido se abriram com o choque da cena que se desenrolava bem diante de seus olhos. Lá, no quarto onde Kyoko estava deitada, entrou um jovem com olhos dourados e longos cabelos da meia-noite repletos de mexas prateadas que combinavam com os de Kyou.

Ele sentiu como se o ar tivesse sido roubado de seus pulmões enquanto a imagem espelhada de seu irmão assassinado estava ao lado da cama, olhando para a garota adormecida que ele vira para sequestrar.

Sua máscara gelada desapareceu completamente à vista desse menino que se parecia com seu amado irmão.

- Como isso é possível? - Lembrar a primeira palavra que ela falara com ele fez seu peito doer. Ela o chamou de Toya por engano e agora, aqui em seu quarto, estava a imagem de Toya?

Kyou tentou captar um perfume, tentando provar o que seus olhos lhe diziam, mas sua mente não conseguia compreender. O cheiro de seu irmão estava ligeiramente misturado com o cheiro desse menino, mas antes que ele pudesse contemplar mais sobre isso, o menino engatinhou para a cama e passou seus braços possessivamente em torno dela.

Um tiro de ciúme disparou pelo corpo inteiro de Kyou enquanto a garota se aconchegava no abraço do jovem. Um grunhido de advertência vibrou dentro de seu peito quando seus olhos brilharam vermelho brevemente. Irmão ou não, ele não permitiria isso.

Ele tentou alcançar a janela ao mesmo tempo em que uma cascata de brilho a cobriu, fazendo com que ele recolhesse a mão. Ao ver o pó de arco-íris se instalar no peitoril da janela como se fosse para protegê-la, ele rosnou novamente. A menina parecia estar cercada por tudo o que era sobrenatural e o imortal estava com os nervos à flor da pele.

Seus olhos se estreitaram ao se perguntar se era apenas um feitiço de um mago que lhe permitia ver seu irmão. Será que ela tinha lançado o feitiço sobre ele quando ela sussurrou o nome de seu irmão morto?

Sua atenção se afastou da janela para olhar para o chão abaixo dele. O lobo estava chegando. Ele enviou mais um olhar assassino ao quarto antes de levitar rapidamente para o telhado.

Toya tinha acabado de adormecer quando ouviu um grunhido animalesco que parecia estar vindo da janela de Kyoko.

- Isto não está certo. Ela está no segundo andar. - Os olhos de Toya se abriram ao ouvir o som novamente.

Levantando a cabeça levemente para não perturbar Kyoko, ele olhou para a janela de onde o som estava vindo. Todo instinto em seu corpo lhe dizia que alguém ou alguma coisa estava lá, observando-os.

Seu olhar se fechou na sombra do que parecia ser um homem. Parecia que ele estava de pé na janela, mas no segundo andar? Um contorno de prata ondulava em torno de sua forma e o fazia parecer quase fantasmagórico. Toya tinha visto essa aparição antes, em pesadelos.

Olhos dourados de sol estavam concentrados no chão, mas Toya podia vê-los reluzir vermelhos por apenas um momento e ele poderia jurar que ele também viu o brilho das presas. A imagem tremeluzia à medida que flocos metálicos de pó multicolor choveram na janela como se estivessem bloqueando a vista.

Toya sacudiu a cabeça e piscou rapidamente antes de olhar para a janela mais uma vez, apenas para encontrá-la agora vazia.

— Que merda foi essa?

Sentindo-se mais do que um pouco enervado, ele saiu da cama e foi até a janela. Olhando para fora, ele foi saudado com apenas sombras e escuridão. Inalando profundamente, ele franziu a testa percebendo um perfume incomum persistente que ele não reconhecia.

Um grunhido irritado escapou de seus lábios enquanto tentava identificá-lo. Decidindo que talvez fosse apenas a sua imaginação exagerando devido aos eventos daquela noite, ele verificou uma vez mais para ter certeza de que não era nada.

Temporariamente satisfeito de que era mesmo desvanecimento, ele se arrastou de volta para a cama com Kyoko, mantendo um olho aberto por um tempo, só para garantir.



*****



Kotaro ficou embaixo da janela de Kyoko sentindo a presença do vampiro que ele encontrou no beco ao lado da boate. Embora ele não tenha dado uma boa olhada no andarilho noturno, ele tinha certeza de que era Kyou. Ele podia sentir o poder frio e silencioso de Kyou e era algo que ele não queria que estivesse em nenhum lugar perto de Kyoko. Kyou era um enigma e não podia ser confiável.

Com um grunhido, sua velocidade inigualável levou-o ao segundo andar, do lado de fora da porta de Kyoko, em um piscar de olhos.

Olhando, ele se acalmou um pouco quando sentiu o perfume de Kyoko, forte e recente. Ele confirmou "sem sanguessugas dentro de casa", mas um grunhido irritado escapou de seus lábios quando captou o aroma de Toya, tão fresco quanto o de Kyoko. Toya também entrou no apartamento, mas não voltou. Colocando a mão na maçaneta da porta, Kotaro virou-a e descobriu que estava quebrada.

Quebrada, mas aparafusada. - Mas que... rosnou ele com raiva da evidência de que a porta fora forçada.

Kotaro segurou sua mão em sua frente, observando enquanto as garras se estendiam e diminuíam nas pontas. Não existia fechadura que ele não pudesse abrir e a fechadura de Kyoko não era nada adequada. Kotaro sorriu arrogantemente enquanto colocava sua garra na fechadura. Mexendo ligeiramente, ele ouviu um clique satisfatório.

Com o sigilo de uma sombra, ele entrou no apartamento, fechando a porta suavemente.

Ouvindo nada além de silêncio, seguiu o caminho que o aroma de Kyoko tinha deixado para ele. Um momento depois, ele encontrou-se de pé na porta do quarto. Seus olhos azuis e abrasadores, afiados como uma lâmina, concentraram-se na sensação desconfortável que atravessou seu corpo.

Não sabendo o que acharia do outro lado, ele lentamente abriu a porta.



*****



Kamui decidiu ficar invisível enquanto via Kotaro entrar no apartamento de Kyoko. Não era como se estivesse se escondendo de seu amigo, não, não era isso de jeito nenhum. Mas sabendo quem estava na cama de Kyoko no momento, bem ... ele achou melhor ficar invisível em vez de se tornar um alvo se a casa caísse.

Ele tinha feito o que podia para manter Kyoko segura durante toda a noite, mas no que tangia Toya, o guardião de prata estava sozinho nessa. Kamui silenciosamente se contorceu quando Kotaro abriu a porta do quarto.

A visão que cumprimentou Kotaro era quase mais do que ele podia compreender. Deitado na cama estava aquele cão imundo, Toya! Segurando-a como se ela pertencesse a ele e a ninguém mais. Seus braços estavam bem envoltos no corpo inconsciente dela e um sorrisinho satisfeito enfeitava seus lábios.

Um grunhido escapou de Kotaro enquanto avançava sobre o casal perdido em seus próprios sonhos.

- Seu ladrão sem vergonha! - Os pensamentos de Kotaro rugiram em sua mente e seus olhos começaram a sangrar com raiva. Quase perdendo controle, ele agarrou e jogou seu rival para fora do quarto sem acordar Kyoko.

Toya não sabia o que pensar quando foi arrancado da cama pela gola de sua camisa e literalmente jogado para fora do quarto para aterrissar bem na sala de estar. Antes mesmo de ter tempo de recuperar seus sentidos adormecidos, Toya foi mais uma vez apanhado pelo pescoço.

Desta vez, ele sabia quem ele estava enfrentando. Olhos dourados furiosos se fixaram nos azuis gelados enquanto seu corpo era rebocado quase sem esforço no ar.

Ainda invisível, Kamui correu do sofá enquanto observava Toya pairar sobre ele. Ele agora se instalou na bancada da cozinha para assistir a diversão. Olhando para a porta de Kyoko, ele acenou com uma mão naquela direção, colocando um escudo lá para evitar que o ruído a acordasse.

Ele voltou sua atenção para seus dois amigos que estavam prontos para arrancar a cabeça um do outro.

- Assim como nos velhos tempos - Kamui sorriu secretamente desejando que houvesse uma pipoca para o show. - Tudo o que preciso agora é uma tabela de apostas e dinheiro. - silenciosamente arqueou uma sobrancelha, perguntando-se sobre em qual deles apostaria.

Kotaro resmungou, tentando evitar que a sede de sangue entrasse em seus penetrantes olhos azuis de cobalto.

- O que diabos você achou que estava fazendo na cama de Kyoko? - Sua voz tinha uma pitada de morte como se a resposta de Toya decidisse se ele mais tarde seria encontrado vivo ou não. Os modos de Kotaro prometiam retribuição se a resposta provasse ser uma que ele não achasse aceitável.

- Droga, seu imbecil. Me larga! - Toya agarrou os dedos apertados em torno de seu pescoço com uma mão, e com a outra ele atacou com um golpe que deveria ter abalado o crânio de Kotaro.





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Para Kyoko, criaturas míticas são algo que você vê em filmes que assiste no sábado à noite com seus amigos. Quando um misterioso perseguidor transforma as sombras em volta dela em cantos com pontas afiadas e fatais, será que ela conseguirá se esconder do passado? A escuridão caiu novamente sobre o mundo e os guardiões estão esperando a ressurreição. Apesar de acreditar-se que eles são criaturas míticas, nesta realidade eles são muito mais reais do que as pessoas pensam. Somente quando a lua estiver alta essas criaturas, esses guardiões lutarão contra o mal que busca dominar o mundo e a garota que tem o poder maior: a luz no coração da escuridão.

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