Книга - Pickle Pie

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Pickle Pie
George Saoulidis








Contents


Title Page (#u431df553-233d-5f30-b057-9b8a260e82e6)

Copyright (#u9e4ea900-28c0-52b6-b197-c13e64aa62aa)

GOTA UM (#u629e067e-8059-5c7a-ac49-20d8a7e9260e)

GOTA DOIS (#u3cabe227-1870-5c72-ac96-7c0fc914cb31)

GOTA TRÊS (#u0fad8018-169a-5189-b01c-c912d89c759f)

GOTA QUATRO (#u60482ca1-69ff-5abd-bdb9-4d25257f3bfe)

GOTA CINCO (#u595e2999-a27c-5efb-9394-b81917543412)

GOTA SEIS (#u4efab943-74ee-581e-8157-849a677207c5)

GOTA SETE (#uf292d1a9-1f82-51a1-ab23-359e858222e4)

GOTA OITO (#uef19755e-9ba6-5b03-a25b-398f4fef4fa1)

GOTA NOVE (#u42499dfd-ff2a-5edc-9b4f-f80abeac4019)

GOTA DEZ (#ubd2685d2-ee5e-5f5a-b266-6a43292b347d)

GOTA ONZE (#ud923dff2-de80-5f27-b8fd-50dd243d8151)

GOTA DOZE (#u76f7a338-5460-5cda-8ce2-5dbee221b271)

GOTA TREZE (#ud1048c5b-5bcd-5de9-8646-20dc58da77aa)

GOTA QUATORZE (#ua545dbb3-f8ff-5cf1-a9e6-7e36983c2cf3)

GOTA QUINZE (#u80a7ce43-1f8b-5f98-9710-f075439c3d75)

GOTA DEZESSEIS (#uc511f22e-ce87-51c9-9fb6-b11d53c9b2bb)

GOTA DEZESSETE (#u1bdf240f-95f6-50b5-a36e-a839664760a1)

GOTA DEZOITO (#ud03e3dde-a4c1-5f5d-a0aa-db9d0e243964)

GOTA DEZENOVE (#u4da09e16-ca52-5667-b286-330b4b14d67c)

GOTA VINTE (#uafd14ef9-8f0b-504b-b0bd-6d09f40926f7)

GOTA VINTE E UM (#u8c27d3d8-1381-5c14-8f09-39a10ebd10ae)

GOTA VINTE E DOIS (#u58b2a6c3-148b-598b-95fb-ccc4d9da6c08)

GOTA VINTE E TRÊS (#u31391692-97f3-5975-9c2a-42a1cc839f46)

GOTA VINTE E QUATRO (#ud59715c7-534b-5f97-9d99-b091a8cd0bba)

GOTA VINTE E CINCO (#u3163552d-d748-597a-bf7e-e71b450b2549)

GOTA VINTE E SEIS (#u6ffb6e5b-5c78-5d21-9a3c-c64631eb1134)

GOTA VINTE E SETE (#u7982ee68-8d8c-5fba-bc3a-58413986fc29)

GOTA VINTE E OITO (#u93c03480-d897-52af-b028-48a3e4b6df79)

GOTA VINTE E NOVE (#u15fa0cc9-bf7c-55a8-8cc5-3da1579b0124)

GOTA TRINTA (#u879d7509-c538-5c5c-a62d-d77abc07af71)

GOTA TRINTA E UM (#u44ea1557-f003-5586-b384-ccb75a545a40)

GOTA TRINTA E DOIS (#u312ba290-6fd6-56c7-a200-8747d14cfd4a)

GOTA TRINTA E TRÊS (#u56b4b342-9de3-5597-9761-035a7b11be06)

GOTA TRINTA E QUATRO (#u28ea3d92-7315-5ed2-ade4-b3e48a2082ca)

GOTA TRINTA E CINCO (#ubbf7981f-27de-5dae-9a2e-7ae6eff83081)

GOTA TRINTA E SEIS (#ubb62da6d-b9d5-5a77-b666-aecf6563dbae)

GOTA TRINTA E SETE (#u69faaf20-4351-52f0-b7f5-4d0c7d3baa48)

GOTA TRINTA E OITO (#u65942c35-927c-587b-9940-ad01eeadeaec)

GOTA TRINTA E NOVE (#u3643b48a-fb5e-5d28-9283-e2704afa63d4)

GOTA QUARENTA (#u9b9b5688-3ce4-51a9-9ae0-3cbcd1b5b24b)

GOTA QUARENTA E UM (#u7e36b0f4-2033-5ff8-bb7e-4a9a320666fa)

GOTA QUARENTA E DOIS (#ua1f078a6-99c6-57d4-b118-8a14896394b6)

GOTA QUARENTA E TRÊS (#u7800d76b-de6b-52ad-af59-6ebd655c6782)

GOTA QUARENTA E QUATRO (#ua4a550ee-160a-5c8a-bd6b-a1db9923498b)

GOTA QUARENTA E CINCO (#u6f70c97a-b888-5dda-b799-6f4e93e3f7b3)

GOTA QUARENTA E SEIS (#ucaa801f6-01a2-5641-aa98-367e2ef4ed3d)

GOTA QUARENTA E SETE (#u0ae1a720-08eb-559e-b730-49018c0a65ef)

GOTA QUARENTA E OITO (#u7a1aa488-ee99-56eb-89be-9af85e9162ab)

GOTA QUARENTA E NOVE (#u0e88b708-20db-59ac-9c06-7263bc6de66e)

GOTA CINQUENTA (#u23d4b960-95cc-5a5a-8d65-d3b73d254831)

GOTA CINQUENTA E UM (#ue5d0a2db-3b99-531f-acba-0a13287a984b)

GOTA CINQUENTA E DOIS (#u4a423e00-301e-51ac-a5c9-40e50fa19ad5)

GOTA CINQUENTA E TRÊS (#ue2b08557-6e84-59c2-9492-4f5e852035f2)

GOTA CINQUENTA E QUATRO (#ua18f2698-41c4-505a-9740-fb89099aef92)

GOTA CINQUENTA E CINCO (#u46f87c3a-05d9-5c0c-a8d9-83f81b80f964)

GOTA CINQUENTA E SEIS (#u60ba6724-ced5-5b53-bd4e-01d02a50ed4c)

GOTA CINQUENTA E SETE (#u28a11185-e7fd-560e-bf65-84d0f58458b2)

GOTA CINQUENTA E OITO (#u47d20bef-5170-58f7-8b17-12ac3b089aa2)

GOTA CINQUENTA E NOVE (#u5223faaa-103d-5f17-9925-8277ba464b52)

GOTA SESSENTA (#ufa7644e6-5f60-59c6-a7a0-3c0ed4015ca0)

GOTA SESSENTA E UM (#u4b455cff-1a89-5c91-9406-ae04aaeb1f52)

GOTA SESSENTA E DOIS (#u55eacaeb-1a1a-5807-89b1-acc430460df2)

GOTA SESSENTA E TRÊS (#u5e6e3530-f5e7-5789-9837-979d7e2afea1)

GOTA SESSENTA E QUATRO (#uc08b4c7d-b06d-5e1d-a3a7-dc6ccf73d526)

Final (#u200afc1f-0281-5d73-a987-0e6f66ff97bc)


Pickle Pie

Ver 2.0.6



George Saoulidis


Copyright © 2018 George Saoulidis

Publicado por Tektime

Traduzido por Aida Carvalho

Todos os direitos reservados.



Imagem da capa Copyright © João de Souza Antunes Jr AKA Antunesketch


GOTA UM



Patty foi atingida e seu corpo ficou completamente paralisado.

Ela odiava ser atingida, e aquela espada longa estúpida não oferecia proteção alguma. Ela preferia espada e escudo, ter algo para bloquear, algo para cobrir seu corpo. Mas o treinador estúpido a forçou a usar essa arma inútil.

“Uma Pinup Girl caiu, e parece que mais estão prestes a seguir pelo mesmo caminho,” disse o comentarista.

A adversária que a acertou com sua própria espada longa, Echidna era o nome dela, partiu para rasgar mais uma companheira de equipe, depois sua Qwik. Oh, ela bloqueou bem, ambos os braços juntos cobrindo seu corpo, mas a força do golpe a fez tropeçar para trás, deixando-a vulnerável para outra jogadora, Hydra. Hydra era uma Chain e podia alcançar uma longa distância, então tudo o que ela precisava era de uma abertura. Ela foi em frente, seu braço cibernético como um monte de cobras se contorcendo ao seu lado, estendendo-se como um chicote, mandíbulas estalando.

A Qwik também caiu, sangrando. Ela se ajoelhou em uma poça crescente de sangue cor-de-rosa, sua panturrilha mordida, paralisada.

A cabeça de Patty estava em um ângulo estranho e tudo que ela podia fazer era voltar seus olhos para a ação. As Beasties passaram pelo resto de sua equipe, o tambor batendo, devagar, tão lento.

A Qwik das Beasties, uma mulher pequena e ágil chamada Gorgon, tinha o crânio e estava indo em frente, correndo para marcar.

“E a Qwik das Beasties vai para o crânio final. Lá vai ela, meio displicente, já que a partida está praticamente terminada. Acabado, como Acabamento Anglet para madeira, o melhor verniz de acabamento que o dinheiro pode comprar.”

Batida de tambor, a batida final.

Patty voltou a sentir todo o seu corpo novamente, os dedos das mãos e dos pés formigando, mas não havia tempo para se recuperar. Ela cambaleou na direção da Qwik, desviou de uma cobra, deslizou os últimos metros ajoelhando-se no chão e acertou Gorgon na perna. Ela ajoelhou-se e deixou o crânio cair, chutando-o sem querer.

Echidna chegou até ela, sua espada longa numa enxurrada de golpes. Patty mal conseguiu aparar o golpe e ouviu o tambor bater novamente.

Gorgon estava prestes a se recuperar. Patty fez uma finta que, se bem sucedida, lhe daria uma janela de oportunidade.

Echidna deixou-se enganar. Ela deu um passo para trás, esquivando. Patty brandiu sua espada longa e em vez de atacá-la, acertou a Qwik inimiga novamente, desta vez no pescoço.

Seu movimento foi tão rápido que a atingiu com bastante força.

Algo estalou.

“Oh, que golpe de Patty Roo! Foi intencional? Porque se foi, foi bai-xo.”

Gorgon ficou paralisada novamente. A Qwik de Patty se recuperou e foi atrás do crânio, mancando. Um rastro cor-de-rosa atrás dela.

“E nós ainda temos a Qwik das Pinup Girls, ela simplesmente não desiste, não é?”

“Bem, afinal de contas, é o jogo decisivo para a fase preliminar do torneio. As garotas estão dando tudo de si,” respondeu o segundo comentarista.

Patty colocou seu corpo no caminho de sua oponente. “Sem escudo, merda,” ela sussurrou. Ela fez o melhor para cobrir sua Qwik.

Echidna deu um passo à frente, seu movimento foi um golpe incrivelmente rápido, sua espada longa direto nas costelas da Qwik. Ela se dobrou e se ajoelhou, desta vez tanto de dor como da paralisia.

Estava tudo acabado.

Patty olhou para trás, para sua companheira de equipe. Ela não iria se recuperar, não importava quantos estimulantes ou bolsas de sangue ela pudesse receber.

Distraída, Echidna a atingiu no tronco.

Crack.

Outro golpe no braço.

“Falta! O juiz está ficando louco com isso, mas Echidna não parece se importar.”

Outro no rosto. Patty cuspiu sangue cor-de-rosa, os lábios quase incapazes de se mover sob a paralisia.

“Que finalização de Echidna! Finalizando a partida para as Beasties, mas a um preço muito alto realmente. Os médicos estão entrando rapidamente agora, as coisas não parecem boas para a Qwik das Beasties. A percussão parou e Gorgon ainda não está se movendo, pessoal. Podemos já ter uma baixa tão cedo no torneio.”

Patty observou os médicos como um sonho, petrificada. Eles imobilizaram o pescoço de Gorgon, levantaram-na em uma maca, levaram-na embora.

Um rastro de sangue cor-de-rosa pingando pelo lado de sua boca.

Uma Beastie, claro. A inimiga, claro. Mas ela nunca quis machucar ninguém.

“E nós temos os exames preliminares, ela vai sair dessa, gente! Apenas uma lesão na coluna vertebral. Gorgon está fora de jogo, possivelmente para sempre. Uma das Qwiks mais rápidas já vistas no Cyberpink, com um saldo de 452 crânios no monte. Irão as Beasties se recuperar desse sério golpe tão cedo no torneio?”

Um ruído veio dos assentos ao redor do estádio. Vaias para Patty Roo. Muitas e muitas vaias.

Os joelhos de Patty cederam, a adrenalina baixou, os estimulantes seguiram seu curso resultando em uma marca de mijo bem cara. Elas haviam perdido.

Ela viu os médicos sobre sua cabeça e depois tudo ficou escuro.


GOTA DOIS



“O que eu devo fazer com isso?” Hector disse, empurrando o pen drive de volta.

O cliente estava inquieto, para dizer o mínimo. Ele continava lambendo os lábios, coçando o cotovelo até sangrar, e apenas metade desse comportamento era devido ao abuso de substâncias. “Vamos, cara, é uma garantia. Eu vou pagar o resto assim que eu tiver lucro. Eu tenho uma informação privilegiada, cara. Eu tenho uma dica.”

Hector recostou-se na cadeira e suspirou alto. Ele nunca ficava sentado quando havia um cliente presente em sua loja, mas Diego não era mais um bom cliente. Um cliente de longa data, claro, mas bom?

Nah...

Ele pegou uma peça de armadura e continuou trabalhando nela para manter as mãos ocupadas enquanto o viciado se desculpava e continuava falando sobre como finalmente conseguiria sua grande pontuação e quitaria suas dívidas.

Ele consertou uma falha na axila, o cliente havia se queixado de que ela havia fincado em sua pele e o deixado desconfortável. Armaduras personalizadas eram sua especialidade, então ele simplesmente pegou suas ferramentas e consertou. Sim, ele correu os dedos na curva, havia de fato uma borda afiada que poderia agarrar no tecido. Só um pouquinho de preenchimento e uma fita de tecido para deixá-la mais macia. Hector cortou a fita com os dentes e colocou-a no lugar como um expert. Ele a girou contra a luz, alguém dificilmente o notaria.

“O torneio, cara, eu estou te dizendo, nós vamos ficar ricos! Podres de ricos.” Diego colocou o pen drive novamente na mesa. Seus dedos sujos, suas unhas ainda piores, suas roupas fedendo a baseado, ele colocou o pen drive na superfície da mesa com reverência.

Estranhamente, era a única coisa que estava limpa naquele homem.

“Podre, de fato,” disse Hector, erguendo os olhos para o cliente. “Diego,” ele ritou. “Pela última vez, não sou um gerente esportivo. Eu faço armaduras. Eu conserto armaduras. Eu personalizo armaduras. Era tudo o que meu pai fazia e é tudo que sei fazer. Eu não sei merda nenhuma sobre esportes.”

“Mas-Mas é isso, é perfeito, estou te dizendo. As garotas, elas usam armaduras. Você não vê, é a combinação perfeita?” Diego juntou as mãos para salientar seu ponto.

Hector respirou fundo e se arrependeu na mesma hora. O aroma era... intenso. “Diego, apenas penhore isto e me traga pelo menos uma parte do dinheiro que você me deve,” ele disse, o assunto já havia se estendido demais.“Não, cara, eu só confio em você com minha mulher.”

“Isso é… Uau. Vamos apenas dizer, errado, de muitas formas.”

“A casa de penhores vai vendê-la,” disse Diego, de cabeça baixa. Ele limpou as unhas nervosamente. “Pelo menos, com você, eu sei que ela vai ser bem tratada, como eu trato.”

Hector se inclinou para frente e jogou a armadura de peito de lado. “Diego, por favor, não me entenda mal, mas preciso dizer isso a você e tentarei ser o mais claro possível. Eu não dou a mínima para a sua mulher. Eu não dou a mínima para suas apostas. Eu preciso do dinheiro que você me deve. Canvas estará coletando amanhã. Se vire, venda sua conta de criptomoedas, seja o que for.”

Diego mordeu o lábio, os olhos percorrendo o lugar... do lado de fora, bem longe na rua... Hector percebeu que o homem queria correr, mas não o impediria. Era uma causa perdida. Ele deveria pensar melhor antes de trabalhar com um viciado, mas Diego era um cliente de longa data. Seu pai o teria cortado instantaneamente, mas Hector era mole demais para os negócios.

Não era de se admirar que o seu estivesse afundando.

Sua cadeira rangia. Suas prateleiras estavam praticamente vazias. Quase não tinha clientes.

Ele se virou na cadeira e tomou uma decisão. “Diego, dê o fora daqui e me consiga meu dinheiro. Por favor. Agora, deixe-me falar ao telefone com clientes realmente pagantes, quem sabe eu consigo um pedido de última hora.”

Ele virou as costas.

Diego congelou e não disse nada por um tempo. Então, ele se mandou da loja.


GOTA TRÊS



Ele trancou a loja e subiu para seu apartamento. Ele escreveu alguns e-mails, bebeu um pouco de ouzo barato, e os enviou para os clientes por meio de criptografia PGP. Era madrugada, mas sua clientela não trabalhava exatamente das 9 às 5, para dizer o mínimo.

Ele bebeu um pouco mais de ouzo para ficar meio alto, e então saiu para a sacada. Atenas parecia pacífica. A vista não era muito boa, apenas um céu nebuloso, amarelo acastanhado com toda a poluição. Os postes de iluminação LED a pioravam. Ele estava em uma rua paralela à avenida Syggrou. A rua tinha algumas lojas, artesãos como ele, itens especiais. Armas de fogo personalizadas, empunhaduras, equipamentos, brinquedos sexuais. Clientes do tipo 'não pergunte, não conte'. Pseudônimos, negociações em canais criptografados, pagamentos em criptomoeda.

Todas as coisas corriqueiras.

Ele tinha que arranjar 10 mil para o Canvas para amanhã. Ele olhou de canto de olho para ver as horas. Restavam treze horas.

Canvas, o executor local do Ares Defence, aparecia mensalmente e pedia sua porcentagem. Em troca, ele te mantinha seguro, principalmente dele mesmo. Canvas era como um titã, uma torre de músculo e poder. Ele gostava de foder caras. Dois rapazes, em particular, os seus garotos Michael e Angelo. E ele gostava de longas caminhadas pelas lojas, mantendo a paz e drenando o sangue de seus inimigos para tingir seu corpo. Ele gostava que um de seus garotos o tingisse com sangue enquanto ele comia o outro.

Sério, tinha vídeo e tudo mais.

Hector o assistira enquanto cobria os olhos durante a maior parte do tempo. Ele tinha que admitir que era um bom pornô, sob duas condições: Primeiro, que você gostava de trios gays, coisa que Hector não gostava. Segundo, você poderia de alguma forma ver além do fato de que uma pessoa tinha morrido dolorosamente para possibilitar essa adorável peça de pornografia.

E aquele homem estava prestes a bater em sua porta em poucas horas.

Esqueça emails.

Hector voltou para dentro e acessou o aplicativo criptografado. Ele faria algumas ligações e incomodaria algumas pessoas. O que eles fariam? Matá-lo?



“Sim, os detalhes estão no e-mail que te enviei. Faça um pedido agora com pagamento antecipado e você terá 50% de desconto em dez armaduras de corpo. É, digamos que sim. Excelente. Assim que o pagamento chegar, eu entrarei em contato com você para saber as especificações que você quer, ok? Perfeito, bom fazer negócios com você.”

Ele desligou. Sim! Quatro mil euros. Já era alguma coisa.

O resto não respondeu, ou disseram que não precisavam de nada no momento. Hector conferiu as notícias, não havia nada sobre tiroteios, arrombamentos, assassinatos corporativos, nada.

Que merda.

Os negócios disparavam quando havia algo do tipo acontecendo. Ele se sentia como um abutre, mas o que ele poderia fazer? Não se sentir feliz quando um ataque terrorista no centro trazia cinco novos clientes em um dia?

Ele virou o resto de ouzo, de uma vez só. Ele bateu em sua mesa, estava empolgado e meio alto. Sono? Pff. Ele dormiria quando estivesse morto.

Ele carregou o perfil social de Canvas em seu véu e andou pela oficina.

Tinha que ter algo aqui que pudesse salvar sua bunda.

Esta velha e grande armadura de motim? Ele poderia ajustá-la para o grandalhão. Mas era volumoso, feio mesmo. Feito para o máximo de proteção. Claro, era intimidadora, mas o Canvas não precisava de ajuda nesse departamento.

Um capacete? Algo com chamas? Do que os gays gostavam? Flores?

Hector deu uma risadinha, o estresse pela sua morte iminente o deixou zonzo, mas ele não conseguia se conter. Nah, ele se imaginou presenteando um capacete florido ao titã, depois sendo pisoteado ali mesmo em uma poça de sangue, depois Michael mergulhando o pincel e enxugando-o levemente com um floreio.

Não.

Ele precisava de algo que Canvas fosse gostar pra caralho.

Hector parou em frente ao que ele chamava de guarda-vadia. Ele não fazia tanta propaganda disso, mas nessa rua até mesmo isso poderia ser uma boa publicidade.

Era uma armadura transparente, flexível. Um protetor de peito para mulheres, uma armadura líquida que se transformava com o impacto e podia absorver um tiro de bala, transparente para que elas pudessem exibir seu físico e/ou suas roupas íntimas caras. À prova de faca, à prova de água, confortável. Não poderia te salvar de calibres maiores, mas obviamente seria preciso mais reforço para isso. Esta tinha um propósito específico em mente, proteção pessoal com estilo.

Hector levantou-a nos braços. Era pequena, mal conseguiria cobrir o lado esquerdo de Canvas, quanto mais seu peito inteiro.

Era isso! Arte. Ele poderia emendar isso com...

Hector jogou a armadura em sua bancada de trabalho, o sono desapareceu completamente, sua mente estava mais afiada do que nunca. Se safar da morte iminente faz isso com um homem. Ele tinha algumas horas para trabalhar nisso. Ele daria conta. Encomendaria algumas partes, que chegariam até as onze horas...

Ele segurou seu martelo. “Hefesto me conceda forças, eu dedico isso a você como a minha maior peça,” ele murmurou, e começou a trabalhar.


GOTA QUATRO



Canvas chegou pontualmente. Ele veio na frente, seus dois garotos ao seu lado, além de mais dois homens. Caras novos, Hector nunca os tinha visto antes. Eles ficaram do lado de fora formando uma roda descontraída e Hector se aproximou da porta para cumprimentá-lo.

“Canvas, meu homem, parece bem hoje!”

“Você parece uma merda, por outro lado,” disse Canvas. “Eu tenho uma loção para essas bolsas sob esses seus olhos, faz maravilhas.”

“E adoraria experimentar, por favor, me envie uma amostra. Mas venha entrando.”

Canvas ajustou a enorme metralhadora pendurada em seu ombro e suspirou. “Quando as pessoas são tão educadas comigo, eu sei que elas não têm o combinado.”

“Os tempos têm sido difíceis,” disse Hector, balançando a cabeça para cima e para baixo. “Mas eu tenho algo, quatro-k.”

Canvas olhou para Angelo e sacudiu a cabeça. “Quatro-k é algo que eu posso mostrar aos meus superiores, por hoje.”

“Não, não há necessidade-”

Angelo chutou um dos monitores e esmagou-o no chão. Aquela putinha loira. Hector se encolheu, mas ignorou o dano. “E eu tenho algo que eu sei que você vai gostar. Vamos dizer que seja um presente.”

Canvas levantou uma sobrancelha. “Oh?”

“Siga-me até os fundos, está na minha oficina.”

Hector disparou para trás da loja e o titã o seguiu.

“Agora, isso é uma obra de arte. Absolutamente única no mundo, ninguém tem uma igual.”

Canvas franziu a testa. “É estranha. O que é isso, uma meia armadura?”

“É uma armadura sexy, meu homem sexy. Veja só. Por favor, tomei a liberdade de ajustá-la ao seu tamanho, experimente-a.”

Canvas olhou de volta para Angelo e o garoto ergueu o rifle alguns graus, cobrindo casualmente o chefe. Ele se despiu ali mesmo, sua armadura atual caindo em partes e batendo no chão.

“Há um vestiário bem- Oh, certo, com esse físico, você não tem nada de que se envergonhar.” Hector desviou o olhar.

Canvas olhou para baixo, examinando-a. “Como é que eu-”

Hector ajustou as presilhas.

“Agora, imagine andar por aí com isso, com seu peitoral e tanquinho pintados, do jeito que você gosta. Você pode exibí-los, você pode ser o Canvas!”

Canvas olhou para seu reflexo no espelho.

Angelo se aproximou, sua expressão era luxuriosa.

Sim! Hector conteve sua excitação. Mas ele deu um soquinho no ar.

“Como estou?” Canvas perguntou.

“Durão e sexy,” Angelo assobiou. “Eu adorei. Na verdade, quero trepar com você aqui mesmo.”

“Ótimo. E isso pára balas?”

Hector entrou em modo-vendedor. “Metamaterial de alta qualidade, se transforma sob impacto em melhor do que Kevlar, impermeável a facas. Exibe o seu corpo e o protege ao mesmo tempo. Uma fortuna por centímetro, apenas celebridades e grandes empresários podem pagar por isso.” Então ele se virou e disse casualmente, “Viko usa uma.”

À menção do nome da celebridade, Canvas se animou. “Viko? Sério?”

“Não sai de casa sem ela. Trabalho personalizado, por essas mãos bem aqui.” Hector mexeu os dedos. “Você sabe que eu não cagueto meus clientes, mas sei que posso confiar em você.”

Canvas se olhou no espelho mais um pouco. Ele tinha ficado muito bem, Hector tinha que admitir. Um titã musculoso, inteligente, treinado, blindado até os dentes, mas com partes transparentes entrelaçadas em lugares estratégicos. Durão e sexy de fato.

Hector sentiu-se meio orgulhoso.

Se ele pelo menos pudesse viver para aproveitar o sentimento.

Canvas se aproximou e Hector estremeceu. Ele deu um tapa em seu ombro e mostrou seus dentes perfeitos. “Adorei.”

Hector respirou aliviado pela primeira vez em horas.


GOTA CINCO



Timbo ouviu a voz de deus.

Seus pés descalços batendo no mármore frio, ele deu uma volta na estação de metrô.

“Saia daqui,” disse a voz de deus.

Timbo olhou para cima, checou todos os cantos. O teto era tão alto e ele virou tanto a cabeça que caiu de bunda.

“Eu já disse, saia daqui!” a voz de deus veio de todos os lados.

Timbo fugiu e correu alguns passos, se escondendo atrás de uma esquina. Certamente deus não poderia vê-lo agora.

“Eu ainda estou te vendo,” disse deus, sua voz clara, vindo de todo os cantos. A voz chiava como um rádio ruim, como o que a avó sempre ouvia.

Timbo precisava conseguir algumas moedas para o dia. Ele não sabia realmente o quanto ele tinha, mas ele podia segurá-las na palma da mão e sentir seu peso. Eram definitivamente leves e Phuro iria dar uma coça nele se ele voltasse assim. Timbo descobrira que o melhor lugar para mendigar era ao lado das cabines de recarga. As pessoas colocavam seus passes de metrô na máquina, tocavam em alguns pontos na tela, e depois, ou passavam outro cartão ou colocavam moedas. Aqueles que contavam as moedas enquanto se aproximavam da máquina eram os que Timbo poderia persuadir. Ele ia até eles, cutucava o nariz, mostrava suas pernas imundas e olhava para eles com seus grandes olhos.

Era o que a Família dizia, pelo menos. Que ele tinha olhos grandes. Timbo não podia ver seus olhos para saber o quão grandes eles eram, mas se todos insistiam, devia ser verdade. E Timbo era bom nisso, ele ia até as pessoas e implorava e elas lhe davam algumas das moedas que a máquina cuspia. Elas saíam da abertura com o plástico transparente no fundo, e Timbo tentou uma vez alcançar e pegar mais algumas moedas, mas nenhuma caiu. E a máquina arranhou o braço dele e doeu e Timbo disse “Owie,”.

É por isso que deus estava gritando com ele, por chutar a máquina que soltava moedas.

Timbo olhou ao redor. Por acaso a estação de metrô estava vazia naquele momento. Bem iluminada, tudo funcionava, mas não havia mais ninguém por alí, exceto o pobre e pequeno Timbo. Ele se escondeu atrás da esquina e segurou as moedas na mão. Elas eram muito leves. Ele sabia que Phuro ficaria louco.

Timbo precisava trazer algo de volta. Todos os seus irmãos e irmãs e primos traziam algo de volta todas as noites. Se não, eles levavam uma surra e não comiam e dormiam do lado de fora. Às vezes, as pessoas olhavam para as mãos e pés sujos de Timbo e lhe davam coisas para comer, falando-lhe sobre mendigar e como ele estava sendo usado.

Timbo concordava, sorria e mantinha a palma da mão levantada, mas sabia que não estava sendo usado. A Família era a Família. Você provia para a Família e a Companhia como um todo. Esses gadjes não sabiam disso?

E quando você fica velho o suficiente para ter suas próprias crianças, você fica com parte do espólio do dia delas. Timbo tinha um primo que já tinha idade suficiente para ter duas crianças, que sua esposa levava por todo o sul de Atenas. Timbo os via de vez em quando porque ele andava de metrô o dia inteiro, e ia e vinha e ia e vinha. Eles eram legais com ele e checavam o quão leves eram suas moedas e às vezes davam a ele algumas moedas para trazer de volta ao Phuro.

Seu primo sabia melhor do que ele como alguns dias eram difíceis.

“Cai fora, seu merdinha, ciganinho nojento!” deus disse de todos os lugares.

Timbo começou a correr como um condenado.

Ele correu na contramão da escada rolante, ofegando enquanto era arrastado de volta para baixo. Na pressa, ele esqueceu que este caminho era mais difícil. Timbo só ia na contramão quando estava entediado e queria brincar. Na pressa, ele foi por este caminho mesmo e ficou de quatro para chegar no topo.

Ele chegou ao lado de fora. Seus olhos rapidamente se ajustaram à rua escura. O metrô era tão claro, e o mármore ainda refletia a luz, que poderia muito bem ser dia lá embaixo. Ele andou alguns quarteirões, olhando em volta, esperando para ver se o deus ainda podia vê-lo.

Felizmente, ele não podia.

Timbo dobrou os dedos dos pés. O mármore era agradável e liso, mas a rua era bem diferente. Timbo gostaria de ter sapatos, mas Phuro sempre dizia que ele acabaria crescendo de qualquer maneira e de que serviria? Além disso, ele parecia mais patético assim e as pessoas lhe davam mais moedas.

Mas agora estava frio e Timbo andava sozinho. Ele não estava perdido, sabia o caminho de volta para o beco de Phuro, e mesmo que ficasse muito tarde, ele sabia o caminho de volta para casa. Não estava perdido. Mas ele não se atreveria a voltar só com essas moedas.

Então, ele encontraria algo para levar para casa. Roubo, era como os gadjes chamavam. Sua Família não chamava assim, mas os gadjes ficavam muito bravos quando eles pegavam você fazendo isso. Se eles não te pegassem, então tudo bem.

Então, Timbo só precisava encontrar algo para levar para casa. Algo... como um balão? Não. Como... uma barra de chocolate?

Não, isso também não.

Algo... como a bolsa desse homem? Ele deixou-a apoiada contra um poste de luz. Ele estava sentado no escuro, esperando. Ele continuava coçando o braço e não conseguia ficar parado. Ele deixava Timbo com medo, mas ele tinha outra escolha?

Além disso, o homem não parecia estar muito atento. Ele parecia como outros gadjes pareciam quando falavam com alguém ao telefone, mas ele não tinha telefone, e Timbo tinha certeza de que estava falando sozinho. Sua mente estava longe, definitivamente.

Timbo era pequeno. Era fácil andar em silêncio, escorar na parede, ficar na sombra.

Ele estendeu sua pequena mão em direção à bolsa.

O homem se virou para ele e Timbo se escondeu, certo de que tinha sido pego e ia receber uma surra, e então ele também receberia outra surra de Phuro por não trazer nada de volta.

Mas o homem apenas se contorceu como antes e murmurou.

Quando ele desviou o olhar, Timbo decidiu ir em frente. Ele esticou o braço e pegou a bolsa. Estava cheia de algo que Timbo não podia ver e era muito mais pesada do que Timbo imaginou. Ele grunhiu e ele estava certo de que o homem o ouviria, mas ele não ouviu.

Timbo levou a bolsa, sentindo seu peso, sorrindo largamente.

Ele traria algo para casa hoje.


GOTA SEIS



Diego coçou as crostas nos seus braços. Ele quase podia ouvir a voz de sua mãe dizendo-lhe para parar com isso, mas ele continuou, fazendo-as sangrar.

Ele não podia evitar quando estava na fissura assim.

Balançando nas pontas dos pés, ele esperou no beco. Estava escuro e ele não conseguia ver merda nenhuma. Ele procurou nos bolsos por sua fiel lanterna. Levou muito tempo para perceber que ele a havia vendido no dia anterior. A trocou por uma única carreira de cocaína. Ele precisava daquela carreira.

Ele coçou suas crostas através da manga.

Onde estava aquele maldito ucraniano? O cara era sacana pra cacete e não tratava Diego muito bem, mas era sempre pontual. A pontualidade era uma qualidade estranha, comum a todos os bons mafiosos. Se você não chegar na hora combinada, as pessoas ficam ansiosas e se mandam.

Dedos ansiosos sempre acabavam puxando o gatilho e matando alguém. Sempre.

Diego lambeu os lábios, mordendo as feridas secas. Ele olhou para um lado e para o outro na rua escura, estava escuro pra cacete, cara! Quem, em sã consciência, marcaria um encontro neste buraco? Atenas era um poço de merda, mas você poderia encontrar alguma parte iluminada para fazer negócios, cara! E algum lugar onde o vento não soprasse e te congelasse até os ossos.

Ele segurou o casaco mais apertado. Não melhorou quase nada, turco imbecil. Era estilosa e Diego gostava de se vestir bem. Ele precisava de uma boa imagem para seus negócios, cara. De que outra forma ele conseguiria seu próprio time? Ele tinha Patty Roo, o que já era um bom começo. Nem muito barata, nem muito cara. Uma boa atleta mediana. Mano, ele teve sorte nessa aposta ou o quê? A porra do Apostolis precisava de dinheiro rápido e Diego estava lá para apostar? Sortudo, sortudo, sortudo pra cacete. Apostolis, o puto ignorante, perdeu, claro, e entregou a chave da mulher para Diego.

Pelos seios enormes de Deméter, que bênção ela havia lhe dado naquele dia!

Diego coçou as crostas. Elas doeram, mas foi bom sentir alguma coisa nessa noite fria. Se ao menos ele tivesse sua lanterna, cara.

Ele verificou a mercadoria. Quatro coletes HPP de última geração. Lindos, simplesmente lindos, como sempre. Aquele filho da puta do Hector era um artista com essa merda, cara. Diego sempre dizia isso a ele, feliz pra cacete por ele ser seu amigo, cara. Tão orgulhoso. Tão fodidamente orgulhoso.

Diego coçou o braço de novo. Ele olhou para a bolsa. Onde estava aquele ucranianozinho de mer...

Finalmente.

Faróis de carro. Diego levantou o braço, não podia ver nada. Alguém saiu. Baixo e largo, como o ucraniano. “Porra, finalmente, cara, eu tô congelando minhas bolas aqui!”

O homem não disse nada e se aproximou. Diego não conseguia ver o rosto dele.

“Tô com sua merda aqui mesmo. Merda da melhor qualidade, melhor na cidade. Você não vai se desapontar.” Ele encolheu os ombros. “Tive que realmente vasculhar todo o estoque para achá-las, não foi fácil. Mas por você, e pelo preço certo...” ele parou, sua voz soando orgulhosa.

O rosto do ucraniano era feio e marcado como sempre. “Vamos, Diego. Me mostre o que tem.”

“Claro, deixe-me-”, Diego congelou e olhou para o local onde a bolsa estava há um minuto. “Um...” ele coçou a cabeça, arrastando os pés no escuro. Talvez ele tenha chutado pra longe sem perceber? Talvez tenha deixado em outro poste de luz?

“Pare com essa bobagem, você tem ou não? Não me faça perder tempo.”

“Estava bem ali, juro! Apenas um minuto atrás, pouco antes de você estacionar-”

“Malaka prezoni,” o ucraniano xingou em Grego e tirou algo da jaqueta.

Um flash e, por um momento, Diego pôde ver tudo. A rua suja, as lâmpadas queimadas, as persianas fechadas, o carro à frente.

Um pequeno anjo, correndo pra longe com minúsculos pés descalços.

Pôs sua mão sobre sua barriga e ela voltou ensanguentada.

Diego gorgolejou e xingou o ukraniano de volta. O homem ignorou-o e simplesmente o largou lá.

O drogado deitou-se no meio da rua, uma poça de sangue se formando em torno dele.

Não estava tão frio agora. Até os arrepios foram embora.

Diego teve apenas tempo suficiente para enviar uma última mensagem.


GOTA SETE



Diego enviou-lhe uma mensagem de texto estranha. 'Olhe no armário. Cuide bem dela.'

Hector tentou ligar de volta mas seu telefone não completou a ligação. Ele estava muito cansado e abalado para lidar com os pensamentos incoerentes de um drogado agora, então ele os ignorou e subiu para tirar uma soneca. Assim que ele caiu na cama, ele sentiu o sono envolvendo-o todo como um cobertor.



Algumas horas depois ele se sentia melhor. Não exatamente descansado, mas teria que ser o suficiente por enquanto. Por pouco não pisou em Armadillo. Seu animal de estimação olhou-o com raiva pois ele tinha esquecido de alimentá-lo. Ele era treinado a pressionar o autofeeder para conseguir ração, de modo que ele nunca correria o risco de morrer de fome devido à negligência, mas o fresquinho gostava mais das comidas enlatadas.

Hector verificou o armário. “É, desculpe, Armadillo,” disse ele, bocejando, “se contente com a ração. Eu não comprei comida para mim também, eu estava ocupado demais certificando-me de que não fossemos assassinados.”

O Armadillo se animou e mexeu as pernas dianteiras.

“Eu sei que você sobreviveria. Mas e quanto ao velho molenga aqui? Hector acenou em desdém. “Ah... eu vou fazer compras, estamos sem nada de qualquer maneira.”



O dia parecia bom. A cidade ainda era uma merda, mas ter sobrevivido fez tudo parecer saturado demais, as cores, os cheiros, a vida ao seu redor. Ele normalmente pegaria o caminhão, mesmo para uma viagem tão curta, mas hoje ele queria sentir o ar, sabe, sugar o monóxido de carbono? Atravessou a avenida Syggrou, ignorando as prostitutas nas suas esquinas. Ele desviou duas ruas do seu caminho para a boca de fumo habitual de Diego, que ficava atrás de uma casa de apostas.

Hector não era chegado em esportes. Pela primeira vez na vida, ele notou os vários cartazes e estatísticas exibidos para o futebol, basquete e corrida de Fórmula 1, tanto clássicos quanto elétricos, mas seus olhos caíram no torneio Cyberpink. Era meio difícil evitar. A coisa toda era projetada para atrair o olhar masculino enquanto roubava suas economias.

Ele entrou no local de apostas. Telas e mais telas com estatísticas, replays, partidas, todas controladas por realidade aumentada e todas com som holográfico direcional de modo que todos podiam ouvir apenas o jogo que queriam, fazendo com que o local tivesse um estranho efeito de eco como se fosse assombrado. Homens e mulheres apostavam nas equipes, nos resultados, nas jogadoras, nas MVPs e, para o espanto de Hector, nas lesões das jogadoras.

Ele percebeu que não sabia nada sobre Cyberpink. Havia algumas mulheres, em equipes? E algo sobre um crânio? Um crânio de cachorro, por algum motivo? E pontos?

Essa era toda a extensão de seu conhecimento. Seu implante mostrou um resultado de pesquisa em seu dispositivo de realidade aumentada, mas ele o dispensou. Ele se sentia cansado demais para aprender coisas novas agora.

Onde estava o Diego? Esta era sua boca habitual. Ele perguntou ao lojista.

“Oh, cara, ele te devia dinheiro também?”

Hector tomou nota do tempo passado. “Sim, mas não é por isso que estou perguntando. Eu realmente conheço o bastardo há anos.”

“Ah, maaano, sinto muito, então. Meus pêsames.”

Hector deu um passo para trás. “De que porra você está falando?”

“Ele foi pego esta manhã, cara, a duas quadras daqui. Ele estava fraco de tanta droga e se esvaiu em sangue antes que alguém pudesse ajudá-lo. Sinto muito, de verdade. E você não vai receber seu dinheiro de volta, Diego não tinha contas bancárias nem nada. Ele também me devia, eu fiz um hacker verificar.”

Hector forçou um sorriso para o homem. “Que tato pros negócios você tem,” ele brincou.

O homem encolheu os ombros. “É o que é, cara. Se você soubesse quantas vezes eu preciso fazer isso, você não seria tão crítico. Enfim, está afim de fazer uma aposta? As Beasties parecem ter chances de pegar a taça este ano.” Ele levantou um ORA na palma da mão, um Objeto de Realidade Aumentada que poderia ser visto por qualquer um no véu, o que significava praticamente todo mundo no planeta. Uma mulher de armadura, sexy pra caralho, com sua bunda empinada e lábios sedutores. “Essa é a Siren, minha favorita. Linda, não é? De qual delas você gosta mais?”

O homem olhou para cima e parecia que ele realmente queria saber.

“Humm. Eu não sou um cara chegado em esportes. Onde você disse que o Diego foi pego?”

O lojista digitou um número de rua e compartilhou o mapa com Hector.

“Obrigado.”

“Sem problemas. Venha apostar na Siren, hein? Dinheiro garantido!” ele gritou atrás dele.


GOTA OITO



Ninguém havia se incomodado em lavar o sangue.

Hector ficou lá com as mãos nos bolsos da jaqueta. O sangue estava vermelho nas bordas, seco, parecendo marrom-escuro agora. Não era cor-de-rosa. Isto não era um jogo esportivo. Isto não era um show no véu, ou na internet, ou em realidade virtual.

Ele conhecia Diego há mais de 10 anos, e isso é muito tempo quando você tem apenas 30 anos. Praticamente toda a sua vida adulta. Ele não era um amigo de verdade, mas conhecia o bastardo bem o suficiente.

Eles ficaram bêbados algumas vezes juntos, deram algumas risadas. Menos vezes depois que ele se tornou um viciado, desde então, era tudo sobre a próxima carreira para Diego. Ele nunca foi o melhor dos clientes, mas ele sempre pagava suas dívidas com informações da rua e várias oportunidades. A maioria eram tiros no escuro, mas algumas de suas dicas tinham realmente dado certo.

E agora, o que restava dele era uma mancha ao lado da estrada. Uma embalagem de comida descartada ficou presa no sangue ressecado.

Lixo agarrado ao lixo.



Ele passou a próxima meia hora andando de um lado para o outro no mesmo beco, tentando chamar alguém no telefone. O corpo de Diego havia sido recolhido e deveria ser eliminado pela cidade de Atenas. Ele queria ser reciclado, ter uma árvore cultivada a partir dele. Eles informaram a Hector que seu amigo era, aparentemente, um adorador de Deméter.

Hector sorriu surpreso. Ele não conhecia esse lado consciente-ambiental dele. A cidade recusou o pedido no testamento devido à falta de recursos, naturalmente. Mas até mesmo uma igreja corporativa não dava ajuda às pessoas. Especialmente aos mortos.

Hector pensou por um minuto.

“Eu pagarei pelo funeral, de acordo com seus desejos. Envie-me a fatura.” 1200 euros, o email disse.

Ele verificou sua conta bancária. 1700 euros. “Eu vou somar isso ao resto que você me deve, bastardo estúpido,” disse ele para a mancha de sangue.

“Desculpe, senhor?”

“Nada. Eu vou cuidar disso agora mesmo.”

Ele desligou, pagou a fatura eletronicamente e foi fazer as compras, mesmo que o mero pensamento de comida agora o fizesse vomitar.


GOTA NOVE



De volta à sua oficina, Hector teve um pensamento incômodo. Ele leu a última mensagem que Diego havia enviado em voz alta para Armadillo.

“Tem alguma idéia? Não?”

Ele largou as ferramentas e foi para a frente. Ele ficou parado no lugar em que Diego estava na última vez em que o viu. A vez em que ele virou as costas para ele. Olhou ao redor.

O armário à direita, perto da saída.

Ele abriu.

O pen drive estava lá. Limpo. Precioso.

Aquele bastardo astuto. Ele tinha virado as costas, o quê, cinco segundos? Dez, no máximo?

Hector pegou-o com firmeza e foi visitar outro artesão que ele conhecia.


GOTA DEZ



“Uma belezinha o que você tem aqui,” disse o homem acima do peso, rolando a tela de seu computador. O covil do hacker estava cheio de computadores destruídos e refrigerantes.

“Tony, eu ainda não entendi essa coisa de propriedade blockchain.”

“Violator, cara. Meu nome é-” o hacker choramingou.

“Eu nunca vou te chamar assim. Agora pare de desperdiçar meu tempo. Explique,” ele disse parecendo entediado, fazendo sinal para ele ir em frente.

Tony, o hacker, tomou um gole e pensou um pouco. “Olha, a blockchain é pública e imutável. É um registro público de quem enviou o quê.”

“Eu uso criptomoedas, eu meio que entendo isso. Certo. Como esse pendrive me ajuda?”

“Este pendrive simplesmente carrega o paramone, a chave hash de propriedade da atleta designada. Neste caso, de uma tal de Patty Roo,” Tony apresentou a imagem de uma atleta.








Hector se inclinou para a frente, de repente não mais entediado. “4.500 de rendimentos, tipo, em euros por mês?” Ele assobiou. Não era uma fortuna, mas ele precisava de três pedidos completos para chegar a esse nível de renda com sua loja, e também tinha despesas e custos de material para pensar.

“Sim. Deixe-me carregar o Cyberpink Owners App no seu véu...”

Hector apertou o botão de instalação assim que apareceu, seus olhos sem desgrudar da página de estatísticas.

“E agora a chave hash de propriedade...” Tony digitou em seu teclado. “Vamos esperar por alguns segundos. Três confirmações. Sete. Concluído.” Ele virou a cadeira e brindou com um suco de laranja cheio de açúcar. “Você é agora o orgulhoso proprietário de uma atleta Cyberpink. Seu contrato paramone pertence à você.”

Hector recostou-se e respirou fundo. “E eu acabei de me tornar um proprietário de escravo? Fácil assim? Como isso pode ser legalizado?”

“Débito,” disse Tony, pinçando o ar diante dele como se a palavra estivesse pendurada em seus dedos. “Dívida maciça e esmagadora. Não é escravidão, não tecnicamente. É servidão por dívida. As garotas estão apenas pagando de volta o que devem às corporações, produzindo renda. Naturalmente, as lesões e os custos de manutenção continuam se acumulando, junto com os juros e as taxas de atraso. É tudo perfeitamente legal de acordo com os contratos que todos assinamos, e elas simplesmente competem no Cyberpink por anos antes mesmo de chegar perto de pagar suas dívidas.”

“Então, eu não possuo uma escrava, eu apenas possuo sua dívida, então até que ela pague, ela é tecnicamente minha para fazer o que eu quiser.”

Tony lambeu os lábios de uma maneira repugnante. “Tendo idéias?”

“Sim!” Hector cuspiu as palavras, com os olhos arregalados. “Vou colocá-la para trabalhar e pagar minhas dívidas.”


GOTA ONZE



Eles pegaram o caminhão de Hector e chegaram ao estádio Cyberpink. As ruas estavam cheias de pessoas que chegavam, ônibus esvaziavam filas inteiras de fãs, carros estacionados em todos os lugares e em qualquer lugar.

Barulho, música eletrônica, carrinhos de cachorro-quente e de loukoumades, pessoas gritando, excitadas.

“Eu nunca entendi toda essa coisa de ser fã de esportes,” admitiu Hector, acenando ao redor.

Tony comprou um punhado de refrigerantes. “Ah, você está perdendo. Seu pai não te trazia para nenhum jogo?”

“Meu pai me ensinou como fazer armaduras.”

“Parece empolgante. Além de ser um ganha-pão, certo? Vamos lá, portão C, lá estão nossos lugares.”

Hector seguiu o homem acima do peso enquanto ele atravessava a multidão. Ele nunca gostou de multidões, o faziam se sentir desconfortável. Inseguro. Ele poderia se contentar com pelo menos duas de suas armaduras em exibição agora, mesmo as mais leves. O colete que ele usava quase não parecia proteção suficiente. As pessoas caíam sobre ele, um esguichou um pouco de ketchup de seu cachorro-quente nele e nem sequer se desculpou, crianças se debatiam enquanto eram carregadas por seus pais, chutando pessoas ao seu redor, impunemente.

Loucura.

As garotas Cyberpink estavam por toda parte ao redor deles. Em cartazes gigantescos, em projeções holográficas realistas, em ORAs que incluíam um prático botão ‘Comprar Agora’ pra conseguir uma versão animada de alta resolução para bater punheta, tudo.

Cores, carne, seios, junk food, bebida alcoólica, mas tudo ainda permitido para crianças por algum motivo, adequado para toda a família. Traga seu filho para uma partida de Cyberpink, tenha algo para se lembrar quando o pirralho de merda se tornar um adolescente e não quiser mais sair com você.

Excesso.

Pão e circo.

Hector sacudiu a cabeça. A quem ele estava enganando? Ele, no mínimo, era parte do sistema agora, um orgulhoso proprietário de atleta. Ele mal podia acreditar.

“Vamos!” Tony gritou e acenou para que ele subisse as arquibancadas.

O lugar estava lotado. Hector sentou-se, tendo que acotovelar Tony que ocupava muito espaço. O estádio era muito menor que um campo de futebol, uma cúpula fechada, mas com as mesmas luzes ofuscantes que brilhavam na grama, o placar gigante, os fotógrafos e cinegrafistas que flanqueavam o campo.

Claro, você poderia carregar tudo no seu véu e assistir de qualquer ângulo que desejasse. Tudo por uma assinatura baratinha de 14,99 euros. O anúncio explodiu no rosto de Hector, completamente ilegal em outras áreas, você não podia simplesmente invadir os véus das pessoas assim sem a permissão deles, mas eles aceitaram os termos e condições da Dionysos Entertainment ao comprar o ingresso.

Sua casa, suas regras.

Uma atleta Cyberpink peituda agitou os seios em seu rosto, e ele tentou ignorar o irritante ORA.

Tony lhe deu uma cotovelada, sorrindo. “Você acha que isso é bobo.”

“Bem, sim.”

“Mas você também está se empolgando.” Ele ofereceu um refrigerante.

“Eu tenho que admitir que estou. Não, obrigado, eu realmente não quero ter que usar o banheiro aqui. Então, me conte tudo sobre essa porcaria. Eu não sei merda nenhuma sobre isso.”

“Nada? Wow. Ok, vejamos. O Jugger é um esporte simples, mas muito divertido.”

“É como futebol com armas medievais, certo?”

“Bem parecido. Duas equipes de cada lado, cinco atletas em cada equipe. Uma Qwik, uma Chain, três Enforcers.”

“Só isso?”

“Isso é tudo que é preciso. Mas fica complicado rapidinho, então deixe-me explicar.”

A partida estava prestes a começar. Cornetas soaram, a música tocou, fãs se organizavam para se sentar.

“A única que pode carregar o crânio é a Qwik de cada equipe. Então as outras tentam protegê-la, enquanto acertam a equipe adversária.”

O logo da Dionysos apareceu no meio do estádio. Os fãs urraram.

As Pinup Girls correram em uma formação dispersa dentro do estádio. As cores do time delas eram verde e branca. Elas posaram em sincronismo, assim como as Pinups das antigas. Empinando suas bundas, estufando seus peitos, apertando seus lábios.

Os fãs enlouqueceram, gritando de modo selvagem, dando declarações públicas de amor, disparando suas câmeras para conseguir um pedacinho das adoráveis mulheres.

Uma não estava muito alegre. Elas a tinham posto habilmente nos fundos da formação. “Essa é ela?”

“Sim, essa é sua garota. Sem ofensas cara, mas ela parece meio deslocada nas Pinups.”

“Relaxa,” resmungou Hector, mantendo os olhos em seu investimento. Sim, ela era diferente, tudo bem. Cabelos curtos, excessivas modificações corporais, em contraste com o resto das Pinups que só tinham armaduras de verdade no peito, que Hector não podia ver claramente de tão longe, mas já aprovadas. Ela se mantinha em uma estranha 'pose sexy', obviamente se esforçando e obviamente falhando.

O estádio entrou em erupção. Hector achou que tinha ficado surdo. O locutor mal podia ser ouvido. A equipe adversária entrou, e a multidão rugiu, levantando-se, jogando a comida para o alto, sacudindo os portões de metal enquanto os seguranças os derrubavam com armas de choque impunemente.

“Senhoras e senhores e suas variações, apresentando as Daaarlings of Deeestruction!” o locutor disse em sua voz retumbante.

“Eu suponho que essas sejam as favoritas para ganhar esta partida?” Hector gritou para ser ouvido.

“Claro que sim. Cara, eu amaria umas Pinups em qualquer dia da semana, mas as Darlings... Bem, você vai ver.” Ele beijou as pontas dos dedos.

“Oh, uau, essa é uma boa armadura.” disse Hector, avaliando o valor de cada item enquanto as Darlings passavam e as via em um close de realidade aumentada.

Tony se virou para ele. “O que você é, um sem-pinto?”

Hector engasgou. Ele assentiu, explicando, “Não-Sim, elas são gostosas, mas suas armaduras são realmente boas, sem brincadeira.”

Tony gargalhou. “Você está desorientado, meu amigo.”

As duas equipes tomaram seus lugares no campo. Um árbitro colocou um crânio no meio, e elas esperaram em linha nas extremidades opostas. Havia um monte atrás de suas costas feito de algo laranja e macio. Elas seguravam armas, espadas e maças, que pareciam ser de treinamento, com bordas suaves e pontas enormes.

Então um tambor começou a bater profundamente, reverberando pela multidão que clamava.

As atletas correram para a frente, cobrindo a distância em um segundo. Hector não pôde seguir a ação. Alguém bateu em outra, ela se ajoelhou, as menores correram para o crânio, elas foram atingidas, mas uma aparou o golpe com os braços? “Por que as outras não defendem com os braços também?”

“Só as Qwiks podem, agora cale a boca,” disse Tony, concentrando-se na ação e tomando um gole da bebida.

Algo aconteceu no meio, espadas se chocaram, uma mulher caiu de costas, a ação avançou. Uma maça girou em um amplo arco e atingiu uma Pinup Girl, sua cabeça se deslocou pro lado e ela foi jogada para trás com tanta força que voou cerca de cinco metros, sangue cor-de-rosa espirrando no ar, a multidão enlouquecida.

Então uma Qwik bateu o crânio no chão.

Um juiz assobiou. Hector ficou chocado. “Que porra é essa? Onze segundos e elas já pontuaram?”

Os replays passaram em looping, a pobre garota sendo atingida no rosto, sua cabeça deslocando para trás de novo e de novo, sangue cor-de-rosa voando no ar.

“Cyberpink. É o esporte mais rápido de todos os tempos. Você vai se acostumar. Toque nos replays em seu véu. Depois que entender as regras, ficará mais fácil.”

“Ok. E, só uma pergunta idiota, por que o sangue é cor-de-rosa?”

“Ah, isso. É engenhoso na verdade. Como as regras de transmissão exigem que não se mostre sangue na tela, elas têm uma Inteligência Artificial instruída por máquina que muda a cor do sangue na transmissão em tempo real.”

“Mas não estamos assistindo a transmissão. Está acontecendo aqui, ao vivo.” Hector abriu a palma da mão na direção da partida.

Tony acenou. “É uma luz em um comprimento de onda específico, somada a um RA opaco que faz realmente parecer cor-de-rosa, mesmo quando você está aqui no estádio.”

“Wow. Isso é…”

“Brilhante, né?”

“Doente. Isso é… doente.”

“Ah, é? Eu quero ver sua cara quando você coletar o cheque de pagamento da partida, proprietário.” Ele disse a palavra como se tivesse um gosto amargo.

Hector calou a boca. Claro, ele era um hipócrita. O que ele poderia fazer? Seu negócio estava afundando. Não era como se ele tivesse pedido para ter uma atleta, apenas meio que caiu em seu colo. Ele poderia vendê-la o mais rápido possível e obter um bom lucro. Tony ficaria feliz em apresentá-lo aos seus conhecidos do mercado e garantir que tudo desse certo, por uma porcentagem.

Eles carregaram a Pinup Girl em uma maca e uma substituta entrou. Era a Patty Roo. Ela carregava uma espada longa e parecia desconfortável.

E quem não iria? Uma membro da equipe caiu, um ponto perdido já. Este jogo era louco.

O tambor começou de novo e as atletas correram para a frente, mais uma vez uma enxurrada de golpes e defesas e avanços e gritos e…

A qwik marcou.

“Puta que pariu!” Hector exclamou e se levantou, a multidão ao redor murmurando com ele.

Tony sorriu e tomou um gole. “Você já está viciado?”

“Qual é, mal passou um minuto e já estamos perdendo?”

“Não se preocupe, as atletas recebem mesmo assim, ganhando ou perdendo. As vencedoras recebem os bônus, é claro,” ele murmurou para si mesmo, assentindo. “e os patrocínios, o merchandising, e o sexo e o-”

Hector acenou para ele se calar. “Já entendi.” Ele sentou-se novamente, afundando em seu assento. “Eu ganhei uma perdedora.”

“Sim. Cara, você está esquecendo quem era o dono anterior. Diego, cara.”

“Sim,” ele suspirou.

“Uma pausa comercial, vou dar uma mijada. Eu deveria ter te escutado sobre os refrigerantes.”


GOTA DOZE



Hector puxou os cabelos.

Isso era tão estressante. A partida continuou, ele mal conseguia acompanhar. Espadas e bastões e maças voavam e batiam em todas ao redor.

Ele não tinha ideia do que estava acontecendo. Ele rodou replays e assistiu Patty Roo.

Ela parecia boa nisso, mas algo estava errado. Ela girou sua espada longa com precisão, ela esquivou de tantos golpes, evitando-os por uma polegada. Mas a equipe adversária como um todo parecia melhor.

Muito melhor!

Tudo o que as Pinup Girls tinham para mostrar eram seus peitos. Hector verificou suas estatísticas. Sensualidade, 3. Sensualidade, 2. Sensualidade, 3. As habilidades úteis eram todas 1. Claro, deixavam as propagandas bem atrativas, mas não iam ajudá-las a ganhar nenhuma partida. Com bunda ou sem, isso ainda era um esporte, porra!

Ou talvez nem importasse?

Hector estava quase arrancando um punhado de cabelos. Do ponto de vista comercial, era insano. As Pinup Girls usavam uma armadura minúscula que mal as cobria, priorizando a sensualidade ao invés da proteção. Capacetes estavam fora de questão, claro.

Não era de se admirar que elas estivessem sendo massacradas. Duas atletas feridas, com semanas de recuperação pela frente e possíveis danos permanentes?

Insano.

Ele sentou-se na beira do assento, quase pronto para dirigir de volta à loja e pegar uns equipamentos adequados para essas pobres garotas. Quer dizer, porra, até mesmo o equipamento mais barato que ele tinha teria segurado aquele último golpe debilitante que lhes custou um ponto.

As armas deveriam ser de treinamento, macias, de espuma, plásticas. Mas força é igual à massa vezes uma aceleração da porra, e quando você tinha braços cibernéticos balançando-as com tanta força, não importava se elas eram de espuma ou não. Elas ainda eram capazes de arrancar seus dentes.

Sangue. Esse era o jogo. Correção, esse era o show.

Mas o desperdício por trás disso tudo era enlouquecedor. Essas pessoas não se importavam nem um pouco com essas pobres mulheres? No mínimo, eles poderiam proteger seu investimento. Comprar uma atleta não era barato, mesmo nesta merda de terceira divisão.

Tony voltou, empurrando os fãs com a barriga, e sentou-se. “Cara, levou uma eternidade para mijar. Acabei mijando numa barraca ao lado dos banheiros.”

“Obrigado pelos detalhes,” Hector estremeceu.

“O que eu perdi? Oh, dez pontos à frente? Sinto muito, cara, sem bônus hoje.”

“Parece que não. Mas...”, ele se perdeu em pensamentos. “Quero dizer, elas...”

A batida de tambor começou novamente e Patty atacou. Ela estava lenta, claramente ainda se recuperando de uma lesão anterior a essa partida. Ainda assim, ela era boa. Ela atingiu duas oponentes, paralisando-as por algumas batidas do tambor. Hector percebeu isso por conta própria. Ela manteve as duas no chão, deixando uma abertura para a sua Qwik e a Chain para alcançar mais longe e cobrir ela. Elas correram juntas, indo para o monte.

Elas foram bloqueadas, e ambas caíram de joelhos, o crânio rolando no chão. Estava coberto de sangue cor-de-rosa. Patty avançou e cobriu sua Qwik enquanto ela se recuperava, mas era demais, todas se juntaram nela.

Ela se afastou de uma Darling, mas o resto a derrubou. Os microfones do estádio pegaram um estalo audível de suas costelas. Outro golpe de bastão, e Patty caiu, sangue espirrando cor-de-rosa cobrindo a Darling. A multidão reagiu com um estremecimento coletivo.

As Darlings of Destruction continuavam chutando Patty no chão, e o árbitro as empurrou para trás, gritando na cara delas.

Hector se pegou sentindo-se preocupado. “Essas malditas cadelas!”

“Totalmente,” Tony concordou.

“Isto é permitido?”

“Na verdade não. Elas vão receber uma advertência,” ele disse simplesmente. Ele então esmagou uma lata na mão e jogou no chão.

“Uma advertência?” Hector gritou. “Elas acabaram de a mandar pro hospital!”

Tony se virou para ele e encolheu os ombros. “O que você quer que eu diga, cara?”

Hector ficou sem palavras.


GOTA TREZE



A ambulância iluminou a rua em tons azuis. Era tarde da noite. As pessoas espiavam pelas janelas, curiosas para ver o motivo da agitação.

“O curioso é que, em seu bairro, geralmente estamos fazendo um resgate, não uma entrega. Assine aqui, por favor,” o médico disse e apresentou um tablet para ele assinar digitalmente.

“Você não pode simplesmente deixá-la aqui,” reclamou Hector.

O médico olhou para o rosto dele. “Você não é o proprietário registrado desta atleta?”

“Sim… Mas-”

“Então é problema seu, não meu. Eles a estabilizaram no pronto-socorro e agora ela só precisa se recuperar. Você pode procurar um FAQ em nosso site para obter instruções e suprimentos que você possa precisar.”

“Qual site?”

“Basta olhar em Cyberpink Common Questions no site da Apollo Medical”.

Hector piscou e apontou para baixo. “Então isso é comum?”

“Mais do que você imagina,” disse o médico, checando a papelada. Ele pareceu satisfeito e chamou seu parceiro, que se preparou para empurrar a maca da parte de trás da ambulância. “Então, onde você a quer?”

























































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Quando um armeiro falido se vê dono de uma jogadora de Jugger de segunda classe, ele decide ir em frente. Mas conseguirá ele obter lucro, quando ele sabe pouco sobre o jogo e seu mundo decadente, quando os adversários jogam sujo dentro e fora de campo, e quando a popularidade do jogo aumenta com cada lesão e morte de jogadoras? Você quer assistir ao jogo sangrento de Cyberpink? Você quer conhecer Pickle Pie? Então leia esta história emocionante onde a popularidade é soberana e o sangue corre cor-de-rosa. Blood Runs Pink Rollerball encontra GLOW na confusão sangrenta desta história esportiva. Quando um armeiro falido se vê dono de uma jogadora de Jugger de segunda classe, ele decide ir em frente. Mas conseguirá ele obter lucro, quando ele sabe pouco sobre o jogo e seu mundo decadente, quando os adversários jogam sujo dentro e fora de campo, e quando a popularidade do jogo aumenta com cada lesão e morte de jogadoras? Você quer assistir ao jogo sangrento de Cyberpink? Você quer conhecer Pickle Pie? Então leia esta história emocionante onde a popularidade é soberana e o sangue corre cor-de-rosa. Este é o livro 1 da série Cyberpink. ADVERTÊNCIA: ”Pickle Pie” contém uso de drogas, pouca inibição, xingamentos em vários idiomas, ortografia britânica, o ”politicamente correto” europeu, uma tonelada de coisas medidas no sistema métrico, sangue rosa, sangue vermelho, sangue seco, adoração a deuses corporativos inventados, referências a partes do corpo masculino e feminino, bebida, abuso, assassinato por esporte, assassinato de aluguel, tentativa de homicídio, fanboys lascivos diretamente do 4chan, poliamoria, gangsterismo, servidão por dívida (o tipo de escravidão não-sexual), transumanismo, citações imprecisas do Doctor Who, personagens LGBT, diversidade, consumo de picles em grandes quantidades, consumo de ouzo em grandes quantidades, coisas mal nomeadas, cenas de banheiro (Hitchcock ficaria orgulhoso) e a história de um herói que está apenas tentando fazer a coisa certa enquanto reclama disso.

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