Книга - Yellow Peril: Aquela Horrível Cara Amarela

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Yellow Peril: Aquela Horrível Cara Amarela
Patrizia Barrera


Dois eventos trágicos, o massacre de Los Angeles em 1871 e o tráfico das pequenas escravas, que resumem a difícil relação entre os Estados Unidos e a China nos anos entre 1820 e 1945. Um livro de críticas espirituosas e inteligentes que expõe verdades ocultas com um estilo simples e eficaz.








Patrizia Barrera




YELLOW PERIL: O PERIGO AMARELO

As Origen







Os Estados Unidos sempre foram racistas. A fim de autorizar e realizar os massacres dos nativos e submeter à escravidão os africanos, era necessário um forte sentimento de prevaricação e uma plena convicção da própria superioridade. É necessário enfatizar que tais sentimentos foram universalmente compartilhados entre os séculos XVIII e XIX e que nenhuma das grandes potências europeias poderia ser considerada isenta. No entanto, nos Estados Unidos, o poder exercido sobre as classes menos favorecidas e os diferentes grupos étnicos alcançaram níveis exorbitantes e, em certo sentido, o racismo tornou-se quase institucionalizado.

A ponto de o linchamento não ser apenas tolerado, mas sim ter se tornado, por muito tempo, um verdadeiro instrumento de justiça utilizado e sugerido pelo governo e pela polícia. Os Códigos Pretos e, mais tarde, as leis de Jim Crow (ver apêndice) são exemplos óbvios e emblemáticos do sentimento racista popular. São exaustivamente citados pela história no tocante aos afro-americanos, que certamente foram os mais afetados pelo sistema legislativo americano.

O público em geral, porém, pouco sabe sobre tal grau (e em muitos aspectos ainda pior) de discriminação dos Estados Unidos contra emigrantes chineses. Originalmente recrutados como trabalhadores de "baixo custo" e usados para os serviços mais cansativos e mal pagos do país durante o período que vai desde o auge da corrida do ouro, em 1848, até 1880.

Neste livro, não vou traçar a história do extremo e conturbado relacionamento entre os Estados Unidos e a China, um discurso longo e ambíguo. Estou convencida de que a clareza reside na simplicidade e na exposição de fatos incontestáveis que, em certo sentido, são capazes de falar por si mesmo. Por essa razão, selecionei duas páginas obscuras da história norte-americana, pouco comentadas, mas exemplares: o episódio de linchamento mais atroz de todos os tempos e a tragédia das pequenas escravas chinesas. Dois eventos ignorados e até agora perdidos no esquecimento, mas que, no entanto, marcam com sangue o livro maldito da história dos Estados Unidos, talvez até mais do que o genocídio dos nativos.

É um período extremamente delicado para os Estados Unidos, que expandem as ferrovias por todo o seu território e, ao mesmo tempo, descobrem os imensos depósitos minerais que os enriqueceriam. Após terem expulsado do campo os nativos, que agora passam fome ou estão envolvidos nas mais recentes guerras indígenas, o Novo Continente deve ser reconstruído à moda dos ianques. Se nos estados do Sul a escravidão começava a tremer sob o impulso ideológico — e político — do abolicionismo, no Norte o número de operários dispostos a enfrentar as jornadas exaustivas de trabalho impostas pelas companhias era muito pequeno. A verdadeira onda de imigração, aquela que levaria milhões de cidadãos de todo o mundo a desembarcar nos Estados Unidos seduzidos pela promessa de uma riqueza hipotética, só aconteceria muito mais tarde, no início do novo século. Portanto o Novo Continente estava, em meados do século XIX, desprovido da mão de obra indispensável para dar um salto de qualidade e colocá-lo em uma posição dominante em relação à Europa. É verdade que a corrida do ouro atraiu centenas de milhares de alucinados ao local, estimulando o crescimento das ferrovias e das importações e exportações, mas ficou logo evidente que se tratava de um fenômeno temporário que esgotaria juntamente com os veios do metal precioso, como de fato aconteceu. As centenas de cidades construídas sobre as areias da noite para o dia não estavam destinadas a durar — e sim, os garimpeiros eram trabalhadores incansáveis, mas só quando trabalhavam para si mesmos. Assim que acumulavam seu ovos dourados, retornavam para suas casas na Europa, um ninho "civilizado" em comparação com a vida dura e perigosa na América. Com a proibição oficial da escravidão, os estados do Norte viram-se necessitados a retornar à servidão e a importar carne fresca que pudesse servir como mão de obra.

Milhares e milhares de chineses foram empregados, a partir de 1848, pelas empresas ferroviárias que os usavam como trabalhadores não qualificados e, portanto, mal remunerados. Eram geralmente fazendeiros pobres que haviam emigrado para se salvar da fome e das pestilências que assolavam a China na época. Adaptaram-se para sobreviver na escassez e dormir no meio do deserto ou nas pradarias e para ganhar os poucos centavos que enviavam às suas famílias em seu país natal.

Mas de onde vinham? Pensou-se quase imediatamente na Ásia e especialmente na China, que vivia um período extremamente conturbado com a queda da dinastia Qing. Agitação interna, guerras e revoltas populares levaram os chineses a fugir de sua terra natal, devastada pela fome e por doenças. Se se voltavam para a América, era apenas por acaso e não por escolha. As fronteiras para a Ásia eram fechadas com frequência e foram controladas pela Inglaterra durante a mais importante das Guerras do Ópio, a que ocorreu entre 1839 e 1842 e que coincidiu precisamente com a onda da imigração chinesa nos Estados Unidos.

Os números não mentem: entre 1820 e 1840, havia ao todo onze emigrantes chineses registrados nos estados do Norte. Em 1848, o número subiu para dois milhões e depois aumentou tragicamente para quatorze milhões entre 1853 e 1873, justamente por causa dos norte-americanos.

Com a primeira onda real de imigração, descobriu-se que os trabalhadores chineses eram uma verdadeira dádiva para a economia norte-americana. Eram descritos como "incansáveis, despretensiosos e capazes de viver com pouco”. Contra um salário médio de dois dólares, os chineses conseguiam sobreviver com 40 centavos, metade dos quais acabava indo para suas famílias na China. Outro ponto positivo era que os chineses emigravam sozinhos, sem uma família a tiracolo e sem muitas distrações, tendo que economizar o máximo possível. Além disso, os séculos da dinastia imperial chinesa forjaram neles uma completa obediência e submissão total ao empregador. Ou seja, eram os escravos perfeitos. E os Estados Unidos tiraram o máximo de proveito da situação.






Um dos trabalhos mais humildes na China era o de puxador de riquixás. Era exercido por homens jovens que acabavam envelhecendo precocemente e que ganhavam a vida trabalhando como se fossem animais de carga. Maltrapilhos, descalços e em troca de uma tigela de arroz por dia, aceitavam essa função humilde por necessidade. Muitos becos chineses, construídos em estilo medieval, eram estreitos demais para a travessia de cavalos. Servos ou escravos eram então usados para transportar os nobres de uma parte a outra das cidades, durante dez horas por dia. A maioria morria de ataque cardíaco antes dos 35 anos.

No início, os chineses formaram uma comunidade à parte, usada para serviços de lavanderia ou para trabalhos não qualificados na construção de ferrovias. Posteriormente, de 1848 a 1860, as companhias de mineração começaram a solicitá-los com frequência, porque, diferentemente dos demais, os chineses aceitavam trabalhos ingratos e perigosos e, além disso, seus corpos pequenos permitiam que entrassem em túneis estreitos onde apenas uma criança caberia. Posicionar cargas de dinamite ou escorar os tetos de túneis perigosos tornaram-se atividades rotineiras para eles. Vários acabavam morrendo, mas paciência. Por isso muitos outros eram necessários e, como a onda de imigração espontânea parecia esgotada, o governo decidiu recrutar um bom número de chineses, entrando em acordo diretamente com a China. Em 1868, foi elaborado o Tratado de Burlingame, uma das manobras mais sutis e odiosas dos Estados Unidos para obter mão de obra temporária. O documento em questão sancionava o direito inalienável do homem de mudar de casa e aliança e o benefício mútuo da livre expansão e imigração de seus cidadãos por razões de CURIOSIDADE, COMÉRCIO ou como RESIDENTES PERMANENTES, garantindo-lhes os mesmos direitos, privilégios e imunidades que outros residentes, protegendo-os de atos de EXPLORAÇÃO, DISCRIMINAÇÃO e VIOLÊNCIA.








A história das jovens escravas sequestradas de suas famílias, geralmente de camponeses, para serem enviadas à América e usadas como prostitutas começa em 1865. Foi a máfia chinesa nos Estados Unidos, com acordos diretos com o governo chinês, responsável por estabelecer e manter esse tipo de tráfico, a fim de evitar "confusões" entre chineses e norte-americanos. Mais tarde, os serviços foram estendidos aos ianques, que podiam então desfrutar das garotinhas chinesas em lojas especiais por alguns centavos. Ao contrário dos homens do campo, que após dez anos de trabalho duro podiam voltar para casa, as escravas chinesas morriam nos Estados Unidos sem nunca mais ver a luz do dia. Viviam completamente separadas do mundo exterior, em celas isoladas, cuidadas apenas por uma velha matrona, que muitas vezes as ajudava a dar à luz ou a se livrar das numerosas crianças bastardas. Elas só saíam de suas celas após a morte, depois de terem se deitado com milhares de homens. A máfia desfazia-se de seus corpos, despejando-os nos rios à noite ou cimentando-os sob a terra. Na imagem, uma jovem de Hong Kong com roupas tradicionais, na década de 1860.

Na prática, tratava-se de um pacto comercial que a China, que já era obrigada a suportar que a Inglaterra introduzisse ópio das Índias em seu território, foi claramente forçada a aceitar. Toda a ideologia milenar do imperialismo chinês baseia-se na recusa em expandir suas fronteiras ao estrangeiro, a quem só é permitido negociar e, às vezes, viajar em seu território. A ideia de misturar-se com o Ocidente, tanto cultural quanto praticamente, sempre foi impensável para a China, que também impôs vetos inflexíveis à emigração nacional, preferindo sistemas sangrentos de controle demográfico à perda de sua capacidade de regulamentação. As motivações não eram apenas políticas e hegemônicas, mas constitucionalmente religiosas. O Ocidente era considerado um receptáculo de perdição e culturalmente atrasado em relação ao Colosso, que sempre dominou a Ásia.

Foram, portanto, apenas a debilidade interna e a interferência europeia que a levaram a firmar esse tratado, que de fato vendeu seu patrimônio humano, entregando-o em mãos inimigas. Um acordo com uma promessa de bilateralidade, mas que na prática forçou milhões de chineses, por bem ou por mal, a emigrar para a América.

A China ocupou-se inicialmente da realização de recrutamentos forçados, elaborando listas e mais listas de "escolhidos"; depois, muitos foram "sequestrados" ou "desaparecidos", provavelmente sob encomenda. Eram claramente homens jovens e saudáveis arrancados de suas famílias, que permaneciam em casa como reféns para garantir a boa conduta do indivíduo. Uma ameaça implícita que surtiu efeito nos imigrantes e explica o porquê de seu comportamento servil e submisso.

Desde então não demorou muito até o estabelecimento de uma máfia chinesa que controlava o tráfico humano nos Estados Unidos, acobertada pela própria China. Como uma forma de retribuição, ela introduziu ópio, escravos e prostituição, chegando a administrar tais atividades completamente às custas do país americano. Quase como quem diz, "Quem procura acha". No final das contas, todos acabaram perdendo, sem exceção. Mesmo que o prejuízo maior fosse sempre o do mais fraco, começando pelos pobres e miseráveis ex-agricultores, obrigados a trabalhar quinze horas por dia em condições desumanas até morrer. Havia também as pequenas escravas que, aos sete anos de idade, iniciavam uma vida de prostituição e não sobreviviam até os vinte anos.






Essa era a primeira Chinatown, de 1860. Consistia em algumas casas de madeira, alguns empórios e algumas coisas relacionadas à vida cotidiana. Mas em apenas trinta anos o bairro mudou completamente, tornando-se um ponto de referência para as noites insanas dos estadunidenses ricos.

Além de todas as expectativas, os chineses mostraram-se extremamente eficientes, a ponto de, em 1880, suas atividades terem sido difundidas e dado vida à economia norte-americana. Seu comércio florescia e, assim como hoje, eram capazes de cobrar preços extremamente competitivos. Os objetos chineses estavam na moda, assim como suas especiarias, roupas e perfumes. Graças à máfia, eles conseguiam vender frutas e legumes, mesmo do exterior, a preços ridiculamente baixos e suas habilidades estendiam-se a todos os setores, do artesanato à fabricação e até ao serviço privado. Eles também puxaram o tapete dos circos ambulantes nacionais, inventando acrobacias espetaculares que os circenses norte-americanos não eram capazes de reproduzir por serem mais altos. Como trabalhadores, eram impecáveis e não davam ouvidos às ideias liberais que circulavam por volta de 1880 reivindicando redução das jornadas de trabalho e condições de vida mais dignas. Acima de tudo, custavam metade do preço dos trabalhadores europeus, que acabavam sem condições de sustentar suas famílias e rangiam os dentes em protesto contra aqueles que "roubavam seus empregos".

Enquanto esses males diziam respeito aos imigrantes, geralmente europeus, ninguém reclamava; eles que rastejassem entre si, visto que seu baixo custo era uma dádiva para os empregadores.

Mas quando esse fenômeno explodiu entre comerciantes e trabalhadores da "raça pura norte-americana", começaram os problemas. Na década de 1850, os chineses haviam-se reunido em uma área da antiga Portsmouth Square, uma das primeiras a ser estabelecida durante a corrida do ouro. Lá deram início às atividades independentes de lavanderia — um trabalho "sujo" que ninguém na época, nem mesmo a pior lavadeira, queria fazer —, seguidas rapidamente de outras, como floricultura, varejo de frutas e legumes, comércio de arroz e empórios para atender às necessidades diárias de uma cidade em crescimento. Em dois anos, a área, anteriormente denominada "Little Canton” havia-se expandido drasticamente, a ponto de abrigar até 33 lojas de varejo, quinze espaços fitoterápicos e farmacêuticos e cinco restaurantes. Toda a área chinesa estava em pleno desenvolvimento, para o agrado das autoridades locais, que muitas vezes a elogiavam publicamente, apresentando-a como um modelo de seriedade e diligência. Fortalecidos pelo consenso geral, os chineses mudaram o nome da área original para Chinatown e, para muitos deles, era quase como se sentir em casa. Para animar as horas quentes dos desesperados em busca de riqueza, a comunidade chinesa construiu também um teatro que hospedava empresas itinerantes e, gradualmente, a pequena cidade tornou-se um centro de recreação com a ambição de transformar-se na nova São Francisco. Na realidade, o novo nome foi cunhado pela imprensa, para exemplificar um conceito bastante banal, porém, mais tarde, os EUA viram ou quiseram ver nesse gesto um ato de arrogância que afetaria gravemente a comunidade chinesa.

Em alguns anos, Chinatown cresceu e tornando-se o símbolo de uma cidade dentro de uma cidade e de um povo dentro de outro povo. Das doze casas de madeira chamuscada dos primeiros anos, restava apenas uma vaga lembrança. Em 1880, toda a área havia-se tornado um bairro elegante que acolhia 22 mil pessoas — praticamente apenas homens —, com salões de jogos e casas de ópio onde os norte-americanos ricos e os amantes aflitos poderiam esquecer suas dores. Um mundo multicolorido no qual a "chinesidade" estava em alta, induzindo as famílias burguesas estadunidenses e europeias a entregarem-se ao luxo de porcelanas e espelhos chineses, suas especiarias e até mesmo seus adornos "amadores". Em resumo, tratava-se de uma evidente onda de crescimento que instigou no governo dos Estados Unidos o terror de um futuro capitalismo chinês capaz de tornar-se uma ameaça, pondo em cheque inclusive a moralidade dos costumes norte-americanos. O "perigo amarelo" invadiu o país, que passava por uma situação histórica difícil após as reviravoltas da Guerra da Secessão; a desestabilização econômica do Sul, as reformas políticas, a demanda por mudanças e o desejo de dominação absoluta sobre a Europa produziram um efeito em cadeia totalmente devastador. Grande parte da população norte-americana havia sofrido negativamente com as consequências da "restauração" do sistema, que condenou milhares de famílias à fome. Os comerciantes fechavam suas lojas e os imigrantes morriam de frio nas ruas ou acabavam linchados por multidões ao serem pegos roubando nos estabelecimentos comerciais. As prisões estavam superlotadas e a batalha pela sobrevivência assumia os tons das antigas lutas de classe europeias. O que prosperava era a máfia: em primeiro lugar a irlandesa, que funcionava para "além" do Estado, impondo aos seus "protegidos" a obrigação de votar nas eleições e apoiando as atividades clandestinas relacionadas ao álcool e drogas no país.

Em segundo, a chinesa, que apesar de permanecer "fora" do Estado, ocupava-se de seus compatriotas e agia exclusivamente de acordo com as regras da sua ideologia nacional, que ditava que o inimigo deveria ser combatido com suas próprias armas e que eles deveriam trabalhar incansavelmente para que um dia pudessem tomar o seu lugar.






DidascaliaA mesma Chinatown, ao estilo de São Francisco, em 1872....

O perigo amarelo era uma consequência direta do comportamento norte-americano, que havia explorado seus escravos a ponto de ser dominado por eles. Ao contrário do afro-americano que, por mentalidade e cultura, havia-se integrado ao inimigo, compreendendo e utilizando o que lhe era funcional, o chino-americano expressava unicamente sua natureza imperialista, dominada pelo senso de dever, pela de honra e por um sentimento exacerbado de redenção. Ao adaptar-se às piores condições de vida, esperava por uma melhora da sua própria existência e por uma ascensão social que lhe permitiria colocar-se no mesmo nível de seus empregadores.

Era um sentido inato, consequência de milênios de história que não podiam ser apagados simplesmente com a "deportação" para um país estrangeiro e que se transformou, em vez disso, em uma versão sublime de castidade forçada, solidão e aversão social. Por trás do sorriso inabalável, o povo chinês escondia uma força trágica e uma impressionante teimosia. Seu lema era: "sobreviver a todo custo e prosperar".

Eu poderia ficar aqui por horas discutindo a diferença entre inteligência e astúcia, sem nunca chegar a uma conclusão. Na realidade, existem comportamentos errados que, embora produzam uma vantagem efetiva no curto prazo, são danosos e prejudiciais ao longo do tempo. Se adicionarmos a isso uma motivação egoísta e uma indiferença ao mal a que somos submetidos, acabamos inevitavelmente com um efeito bumerangue, que mais cedo ou mais tarde sairá pela culatra. Se, no final das contas, a natureza da nossa vítima não for inclinada ao perdão fácil, o eco das nossas ações aumentará de forma drástica, com resultados certamente destrutivos. Essa era, de maneira simplificada, a relação entre os Estados Unidos e os imigrantes chineses e, por essa razão, uma vez entendidos os possíveis mecanismos de causa-efeito, o país inteiro gritou diante do "perigo amarelo".



Na turbulência do período de 1880 a 1882, encontrar um bode expiatório foi muito fácil. Como já se podia imaginar, os chineses foram acusados de concorrência desleal, roubo de trabalho e rivalidade social. Surgiu, então, a primeira lei racial, de 1861, que proibia todos os orientais, sob as categorias mal definidas de "chineses" ou "mongóis", de casarem-se com brancos — prática que os próprios chineses abominavam. Outras leis foram promulgadas, restringindo cada vez mais seus direitos humanos e legais. Apesar das Leis de Direitos Civis de 1866, que estabeleceram que "todos os cidadãos de todas as raças e cores nascidos nos Estados Unidos gozavam plenamente da cidadania norte-americana", os legisladores excluíram os chineses. Apelaram para uma manobra jurídica sutil, afirmando que não era possível classificar um oriental de acordo com um padrão fixo. A lei de 1875 de fato definia a diferença entre uma pessoa "branca e uma afro-americana", concedendo direitos iguais a elas e a seus descendentes norte-americanos. No entanto, não foi capaz de definir uma separação substancial entre "branco e amarelo", também porque os orientais tinham cromaticidades mais heterogêneas do que os africanos e traços somáticos menos evidentes. Limitava-se a classificá-los como "não brancos" e, portanto, excluídos do direito de cidadania. Logo, qualquer chinês naturalizado norte-americano continuava sendo um estrangeiro.

Porém, já havia outras leis que limitavam os direitos dos asiáticos nos Estados Unidos, especialmente dos chineses. Por exemplo, em 1858, a Califórnia promulgou uma lei que proibia o acesso a cargos estaduais aos chineses. Também a Califórnia, em 1879, aprovou uma nova Constituição a partir da qual o governo apropriou-se do direito absoluto de determinar os requisitos fundamentais para a residência no estado. Mais uma vez apegando-se à advertência da indeterminação da raça, negou o direito de residência aos chineses, expulsando os que já residiam em seu território. Mas, anteriormente, em 1875, o congresso havia bloqueado a imigração de trabalhadores e prostitutas chineses por uma década, com o objetivo oficial de conter a máfia e reabilitar o território norte-americano. Para resumir, entre 1856 e 1880, até trinta leis diferentes limitaram ou negaram os direitos fundamentais dos chineses em solo estadunidense, contrariando os acordos do famoso Tratado de Burlingame, sem qualquer manifestação da imprensa ou da opinião pública. O descontentamento gerado pela crise econômica abriu um sulco entre os Estados Unidos e os imigrantes chineses, cujas atividades continuaram a florescer. Visados pelo governo e pelo povo, fechados em sua comunidade, apegados aos costumes ancestrais e desdenhosos de misturarem-se com os brancos, logo tornaram-se os bodes expiatórios ideais. Suportando estoicamente as ameaças, o saque e a destruição de suas lojas, o corte de suas tranças em público, as provocações e até os primeiros avisos dos linchamentos que se seguiriam, os chineses continuaram seu trabalho silencioso, conscientes de estarem pisando em um campo minado. A situação degenerou lenta mas inexoravelmente até o golpe de 1871, ano em que se viram protagonistas do maior linchamento em massa da história dos Estados Unidos, que infelizmente ficou conhecido como "O Massacre Chinês de Los Angeles".




O MASSACRE DE LOS ANGELES

A tragédia começa











O triste episódio foi realmente um espelho daqueles tempos e lançou uma luz opaca e terrível sobre a cidade em crescimento. Aconteceu na "Calle de los Negros", o gueto mais pobre de Chinatown, onde, misturados às lavanderias, empórios e pequenas atividades comerciais, mexicanos e chineses, os imigrantes menos apreciados pela população norte-americana, viviam em contato próximo. Os anais da época descrevem-na como “uma zona dura, com uma longa estrada de terra com cerca de doze metros de largura repleta de bordéis, casas de apostas, empórios e residências de lama e palha”. A população era predominantemente masculina, dadas as leis norte-americanas que limitavam a imigração de mulheres chinesas. Porém, a máfia conseguia infiltrá-las, quase sempre com a ajuda das autoridades locais. Desse modo, entre famílias e prostitutas, a população chinesa da Calle de los Negros cresceu cerca de 200 vezes em apenas dez anos e prosperou maravilhosamente. Gerando um forte clima de descontentamento entre a população branca, afligida pela recessão do pós-guerra e ciente de não conseguir acompanhar os preços baixos e as exaustivas horas de trabalho dos comerciantes chineses, que também mergulharam toda a área no vício.

A tragédia batia à porta e estourou pontualmente em 24 de outubro de 1871.

Fontes oficiais relataram a desculpa usual como a causa do linchamento. Ou seja, o assassinato de um xerife local, Robert Thompson, durante um conflito com a máfia chinesa. O que aparentemente despertou a raiva da multidão (!) a ponto de torturar, mutilar e enforcar cerca de vinte pobres miseráveis chineses pegos ao acaso.

As justificativas já não se sustentavam e, se adicionarmos ainda que, após um julgamento ridículo, apenas oito pessoas foram identificadas como culpadas do massacre, inicialmente acusadas de "homicídio culposo" e então completamente absolvidas — embora testemunhas tenham indicado elas e trinta outros sujeitos como responsáveis pelo ocorrido —, fica claro que algo estava errado.

Comecemos dizendo que o massacre não foi um evento repentino, mas sim que alguns fatos anteriores contribuíram para alimentar as tensões e o ódio entre norte-americanos e chineses. Reuni muitas informações do livro The Chinatown War, que recomendo que você leia.

Poucos dias antes, o chefe de um dos vários clãs da máfia chinesa, um certo Yo Hing, havia organizado o sequestro, motivado por dinheiro, de uma das poucas mulheres casadas em Chinatown. Chamava-se Yut Ho e diziam ser belíssima.

Isso foi possível, porque Yo Hing tinha estreitas relações financeiras com as administrações locais, principalmente os xerifes e os oficiais da lei, que não apenas fechavam os olhos aos crimes, como também recebiam uma grande porcentagem dos lucros.

É claro que a facção rival, representada pelo chefe e comerciante de tecidos Sam Yuen, não engoliu o insulto, que minava seu poder local. Com a ajuda de outras autoridades norte-americanas, Yuen conseguiu desembarcar em São Francisco uma gangue de guerreiros Tong recém-chegada da China e armada até os dentes.

Na noite de 23 de outubro, o esquadrão de assassinos liderado por Ah Choy, irmão da mulher sequestrada, iniciou um tiroteio contra Yuen. Sam Yuen saiu ileso, mas Choy foi mortalmente ferido e abandonado em agonia em um dos becos de Chinatown. Apesar de ter ordenado o sequestro com forte apoio da polícia local, Yo Hing denunciou Yuen como o mandante da tentativa de assassinato e o mandou para a prisão. Foi estabelecida uma fiança no valor de dois mil dólares, uma quantia anormal para a época, especialmente para um chinês. A intenção era fazer seu rival apodrecer na prisão pelo tempo necessário para engordar os bolsos de juízes e advogados, condená-lo à morte e apropriar-se de seu território. Mas Yuen percebeu o esquema e alegou ser capaz de pagar a imensa quantia. Ele foi à sua casa acompanhado pela polícia, que descobriu que o dinheiro estava escondido no tronco de uma árvore, onde havia muito mais que o valor da fiança! Uma enorme riqueza resultante do tráfico clandestino, que atraiu não só os oficiais da lei.

Um dos agentes presentes naquela manhã de 24 de outubro de 1874 era um certo Jesus (!) Bilderrain, um policial de reputação macabra conhecido por ser ganancioso, ladrão e profundamente racista. Houve também várias queixas contra ele por crimes de roubo, principalmente de galos de briga. Ele também era um apostador inveterado e, junto com seu irmão Ygnacio, controlou e organizou os famosos blocos eleitorais contra a comunidade latina de Los Angeles em nome do Partido Democrata por anos, evitando assim que a minoria étnica votasse.



No entanto, esse sujeito foi visto como um exemplo de excelência. Jesus foi reverenciado como um herói pelos juízes e pela imprensa quando a investigação sobre o massacre teve início e suas palavras passaram a valer como ouro.






Ao contrário do que se acredita, na China, o ópio não era utilizado com as mesmas finalidades patológicas e viciantes como no Ocidente, mas sim para fins terapêuticos e religiosos. Foi apenas depois da queda do império Qing e das guerras anglo-chinesas de 1830 a 40 que a substância foi deliberadamente distribuída pela própria Inglaterra em grandes quantidades entre a população chinesa, a fim de aumentar seu monopólio e converter a maior parte das safras agrícolas necessárias em plantações de ópio, adequadas para exportação em todo o mundo. A China tentou conter a propagação, mas sem sucesso. Após as migrações para a América, o mau hábito e os tráficos a ele associados desembarcaram no Novo Continente administrados, de comum acordo, tanto pela máfia chinesa quanto pelo próprio governo dos Estados Unidos. Na foto, um salão de ópio chinês clássico de 1890. ia...

Bilderrain afirmou que, na noite de 24 de outubro, havia ido ao Negro Alley com outros homens, porque haviam sido atraídos por alguns tiros. Entrou em um beco, foi ferido e pediu a ajuda do agente Thompson, que foi morto por tiros disparados pelo próprio Yuen. O assassinato a sangue frio parece ter então incitado a multidão, que se organizou em pouco tempo e invadiu a área, levando ao massacre. Embora atroz, todo o episódio foi tratado como uma loucura generalizada causada por uma rixa contra os chineses, que aparentemente afundavam a cidade na fome e no vício, enquanto obtinham quantias fabulosas de dinheiro. Foi inclusive desenterrada a história de que os chineses estavam coletando essas somas em nome de um mandarim que tinha a ambição de tornar-se governador da Califórnia. Uma farsa que remonta à corrida do ouro, mas que foi considerada verdadeira por alguns livros da época e que infelizmente já havia sido usada como argumento para as famosas Leis Raciais, que determinavam que “nenhum chinês poderia testemunhar em julgamento contra um branco" .

Embora o massacre tenha ocorrido praticamente diante dos olhos de todo o mundo, graças também aos relatórios implacáveis escritos em tempo real por H.M. Mitchell, repórter do Star, o julgamento terminou rapidamente, absolvendo a cidade como "vítima do horrendo comércio chinês e do clima de violência de sua máfia". Não há dúvida de que poderes políticos influentes levaram ao arquivamento do caso, os mesmos que mais tarde usaram a memória do massacre para fazer cumprir a infame "Lei de Exclusão Chinesa", de 1882.

A verdade dos fatos, como sempre, é muito mais amarga e até banal. Na origem do massacre, que feriu profundamente a alma estreita e racista dos falsos moralistas da época, há ganância e roubo.






As autoridades estadunidenses, principalmente a polícia local, sempre mantiveram relações íntimas com a máfia chinesa. Detinham o controle exclusivo não apenas sobre o ópio e especiarias, mas, acima de tudo, sobre o comércio — oficial ou clandestino — de mão de obra e produtos chineses que eram importados para os Estados Unidos a baixíssimo custo. O que afetava negativamente os preços dos produtos nacionais, que, portanto, despencavam. Além disso, os grandes empreendimentos, como as ferrovias, que recebiam enormes subsídios do Estado, costumavam recorrer a trabalhadores chineses, preferindo-os aos americanos e europeus, porque custavam menos e trabalhavam em dobro. Durante a era dos primeiros sindicatos, os chineses foram usados como “fura-greves” pelos próprios empresários para vetar as reivindicações da classe trabalhadora. Tudo isso inflamou enormemente a opinião pública, que passou a ver os chineses como perigosos e inclinados à prática de concorrência desleal. A foto mostra a parte de trás de uma clássica loja de especiarias em Chinatown, na década de 1880. alia...

O escândalo que se seguiu à tragédia evidenciou o quão pobre e cruel era a alma dos protagonistas. Graças às inúmeras investigações e depoimentos de sobreviventes, sobretudo do próprio Hing, que colocou nas ruas provas documentais do conluio e de “favores” entre ele, a máfia e a polícia local. Em seguida, toda a documentação e as peças processuais foram arquivadas e todo a matança foi varrida para debaixo do tapete. Elas só tornariam a aparecer muitos anos depois, graças às pesquisas exaustivas dos historiadores e às conjunções favoráveis, que veem a China hoje como a grande potência econômica do futuro.

Para além de qualquer consideração possível, o interesse principal deste livro é informar e ajudar a tornar conhecidos os grandes acontecimentos do passado, ligados à velha América do Norte e sua relação primitiva com a comunidade chinesa. Portanto, direi apenas como as coisas realmente aconteceram naquela noite de 24 de outubro de 1882 em Chinatown.



Bilderrain e seus companheiros foram ao Negro Alley naquela noite para roubar o ouro de Yuen, um "favor" pedido pelo próprio Hing a fim de acertar as contas com o canalha do Yuen. A aliança e proteção de Hing, no entanto, não foram suficientes para salvar Bilderrain dos tiros dos capangas de Yuen que guardavam o beco. É preciso dizer que Bilderrain não era um xerife oficial, mas um dos muitos vigilantes autorizados pela própria polícia a "manter a ordem" no gueto. Por isso, as autoridades fechavam os olhos para os acordos privados entre os vigilantes e a máfia chinesa. Mais ainda quando tratavam-se de promover o tráfico clandestino ou assassinatos privados. Por outro lado, a polícia recebia grande parte dos lucros e controlava todos os eventos programados, graças a uma densa rede de informantes. Sendo assim, a polícia também havia sido informada das intenções dos vigilantes naquela noite. Sua única tarefa era observar, deixar acontecer e, se necessário, liberar o local de quaisquer obstáculos. O próprio marechal Frances Baker, chefe da polícia de Los Angeles, tinha acordos pessoais com a máfia. Sua especialidade era a recuperação de escravas chinesas que, às vezes, conseguiam escapar e tentavam embarcar clandestinamente rumo à Europa. As recompensas pelo ato heroico de resgate das mulheres pobres, legalmente acusadas de furto, eram muito altas. Assim, a ganância amarrou com um nó duplo a polícia a uma ou outra das gangues rivais, geralmente a que pagasse mais.

Com base nas declarações subsequentes de Yuen, que havia escapado do massacre, Bilderrain estava mesmo na companhia de Hing naquela noite e, por causa disso, abriram fogo contra ele. Em retrospecto, há de se acreditar nele. As duas facções da máfia viram-se então diante de um acerto de contas e a única tarefa da polícia era permanecer neutra.

Para isso, foram postos à espreita dois velhos conhecidos de Los Angeles. Policiais heroicos que já haviam se destacado em ações perigosas durante os distúrbios mexicanos, como a captura e o assassinato do bandido Tiburcio Vásquez. Chamavam-se Emil Harris e George Garde. A tarefa deles era ficar à vista sem se intrometer, aconteça o que acontecesse. Diante da multidão enfurecida, não só não levantaram um dedo, como ameaçaram aqueles que tentaram fazer algo para impedir os linchamentos, conforme testemunhos confiáveis. No entanto, eles nunca sentaram no banco de réus e mais tarde foram promovidos aos cargos mais altos da polícia.

Sabe-se que Thompson foi morto a tiros quase imediatamente. Um evento frequente e nada surpreendente em Chinatown, onde, na semana anterior ao massacre, foram registradas 44 vítimas nos becos, incluindo quatro policiais. Robert Thompson não era nenhum santo. Pelo contrário, a maioria o conhecia como um tratante, vigarista e agiota, bem como o dono do infame salão Blue Wings, cujo imperativo era sexo e drogas. Então O QUÊ desencadeou a ira de 500 pessoas naquela noite? Uma loucura que permitiu ao povo torturar, matar e mutilar a sangue frio dezenove pobres chineses capturados aleatoriamente, além de saquear, demolir e queimar grande parte do Negro Alley diante dos olhos da polícia e da cidade de Los Angeles? O que é surpreendente naquela noite não é apenas o eco de um homicídio cometido à luz do dia, mas também a extrema velocidade com que a multidão se organizou e como um só homem invadiu o bairro e a dividiu em grupos, cada um com uma tarefa específica. Saltou imediatamente aos olhos do mundo o fato de o massacre ter sido um evento premeditado em que várias figuras ilustres da cidade, bem como políticos proeminentes, haviam admitido por conta própria estarem envolvidos. Vamos a alguns nomes. A começar por H.M. Mitchell, repórter do Star, antigo xerife do condado e que depois se juntou à riquíssima família Glassel. Em suma, diz-se que ele havia se tornado líder do Partido Democrata também graças ao seu artigo sobre o massacre, o qual justificava ressaltando que a cidade era "vítima dos chineses e da ilegalidade".

E o que dizer do rico comerciante J.H. Weldon? Que logo após o episódio, foi beber em um bar local com a camisa ensanguentada e gritando de alegria: "Tô feliz! Esta noite matei três chineses”! Harris Newmark, um dos maiores e mais afortunados empresários de Los Angeles, confessou abertamente que viu Thompson no chão e foi para casa festejar. O QUÊ, ninguém sabe. Porém, o empresário não parecia alheio aos fatos. Principalmente quando foi descoberto durante o julgamento que ele tinha relações próximas com os policiais Celis e Kerren, por sua vez suspeitos de terem atirado em Thompson ou o jogado no beco onde sabia-se que os mafiosos estavam escondidos. E o que pensar do chefe de polícia Francis Baker? Afirmou no julgamento que em todo aquele alvoroço de gritos, torturas e incêndios, "naquela noite, depois de ter rodeado o edifício Coronel, onde os mafiosos haviam se refugiado, foi se deitar", deixando a cidade à mercê da multidão.






Uma imagem rara do massacre de Chinatown. As vítimas oficiais dos linchamentos foram dezenove, mas toda a área foi saqueada e queimada e muitos ficaram feridos. a...

A verdade dos fatos, os documentos processuais e toda a documentação de um julgamento simulado que mostrou a alma podre de uma cidade inteira só vieram à tona graças ao árduo trabalho de John Johnson Jr., que, 140 anos após o massacre, conseguiu obter acesso à famosa biblioteca de Hungtington.



Os dados mostram inequivocamente que a política, as instituições e os interesses privados estiveram na origem não só do massacre, mas também da crise econômica, do clima de desespero generalizado e do caos total no qual a Califórnia, e sobretudo a cidade de Los Angeles, havia mergulhado. Baseando-se em um substrato de racismo constitucional que privou os chineses de qualquer direito humano e de uma dimensão jurídica, foi fácil identificá-los como inimigos da comunidade e, consequentemente, manipular a opinião pública.




A VERDADE SOBRE O MASSACRE

Os antecedentes







Tudo começou em 1869, quando foi concluída a ferrovia transcontinental de Utah, a Pacific Transcontinental, que estava no centro de um gigantesco plano de reconstrução do governo dos Estados Unidos para impulsionar a economia após o desastre da Guerra Civil.

As transcontinentais, ou seja, a união da costa do Pacífico com o Atlântico, significavam comércio, expansão e riqueza em um período em que as grandes ferrovias começavam a espalhar-se timidamente pela Europa. O setor empresarial norte-americano era, conforme seu histórico, gigantesco e muito respeitado e foi um modelo para o sistema capitalista que se espalhou a partir de então. É claro que para tal negócio era necessário investir rios de dinheiro e o governo contraiu uma enorme dívida pública, contando com o fato de que voltaria a poder gastar com a venda do ouro. Graças ao sistema New York Gold Exchange, que tinha a função não só de favorecer o mercado livre, mas também de controlar o preço do ouro e mantê-lo estável.

Isso atraiu um bando de especuladores, como James Fisk e Jay Gould e outros canalhas como eles, que manipularam o então presidente Ulysses Grant. Fizeram-no confiar a tarefa principal de comprar e vender o metal amarelo a um de seus comparsas, o tal general Daniel Butterfield, que se tornou então o tesoureiro-chefe dos Estados Unidos. Ele convenceu Grant de que era necessário que o governo comprasse o metal, que então deveria ser colocado de volta em circulação para que a economia permanecesse estável. No entanto, Butterfield não o vendeu, mas comprou-o em nome de Gould e Fisk, o que causou uma forte alta dos preços e uma inflação perigosa.

Percebendo o golpe, o governo então vendeu quatro milhões de dólares em ouro em 24 horas, causando o colapso de seu valor. Obviamente, o infame mecanismo é muito mais complicado do que isso, mas espero que essa narrativa simples dos fatos dê uma ideia da tremenda crise econômica que ele gerou. Agravada ainda pelo subsequente escândalo da Pacific Transcontinental Railroad, que se descobriu, por sua vez, ter sido especulada com base em subsídios estatais, inflando absurdamente os relatórios de despesas e estabelecendo um verdadeiro monopólio sobre os territórios de sua competência, dos quais o Estado foi excluído.

A crise atraiu um grande número de investidores, bloqueou indústrias e forçou o fechamento de milhares de empresas. Entre diversos estados, a Califórnia, que havia acabado de concluir sua ferrovia, deixando milhares de desempregados nas ruas, foi um dos mais afetados. A maior parte dessa mão de obra era de chineses, contratados em massa pelas empresas graças às ações do governo, que, como vimos, organizava o tráfico da China, aliciando trabalhadores a preços baixos. Juntamente com os desempregados da ferrovia de Utah, eles amontoaram-se em Chinatown, o único lugar nos Estados Unidos capaz de recebê-los. Ali, a máfia providenciou para que fossem acomodados e passassem a trabalhar para ela. Exceto para o mercado clandestino e a importação de produtos orientais. Entretanto, havia pouco trabalho disponível e os únicos a sobreviver foram mais uma vez os chineses, que se adaptaram a trabalhar quinze horas por dia por alguns centavos.






Didascalia...Inaugurada em 1869, a Pacific Railroad era uma joint venture que envolvia duas grandes empresas criadas para esse propósito: a Union Pacific e a Central Pacific. Havia também um grande envolvimento do governo dos Estados Unidos. A construção da ferrovia, que unia dois pontos estratégicos para o comércio norte-americano, a saber, a costa atlântica com a Califórnia e o Pacífico, representou o início da era moderna não só para o país, mas para todo o mundo, abrindo caminho para o sistema ferroviário. Foi um empreendimento gigantesco, mas o escândalo que se seguiu sobre orçamentos "inflacionados" e subsídios estatais quase causou o colapso do sistema democrático americano, dado o envolvimento comprovado do presidente Ulysses Grant.

Pouquíssimas pessoas nos Estados Unidos estavam cientes das condições terríveis em que esses escravos modernos eram mantidos. Vinham sequestrados de sua terra natal, muitas vezes em nome dos Estados Unidos, ou imigravam para a América para escapar da fome. Com a família refém na China e as leis estadunidenses que, com a desculpa de coibir a introdução clandestina de mulheres

destinadas à prostituição, proibia as esposas de juntarem-se aos maridos, esses pobres coitados não tinham vida própria e estavam à mercê de três inimigos: a pátria, os Estados Unidos e a máfia, que trabalharam em uníssono para melhor explorá-los. A prosperidade das lojas em Chinatown era frequentemente fictícia e pouquíssimos realmente beneficiaram-se delas. Os rendimentos dos jogos de azar, das casas de ópio e das bebidas iam diretamente para as mãos da máfia, que por sua vez pagava uma boa parte às autoridades locais. Os próprios Estados Unidos engordavam os bolsos com o comércio de produtos chineses, que em 1870 passou também a incluir frutas, verduras, peixes e gêneros de primeira necessidade que eram "adquiridos" no exterior a custo baixíssimo. Diversas empresas locais fecharam as portas, porque não podiam competir com esses preços. Por volta de 1880, toda a economia nacional passou a depender das importações e exportações com a China. O país asiático, com base em uma filosofia oriental, segundo a qual “se não se pode derrotar o inimigo por fora, derrote-o por dentro," impôs um comissário para verificar "as condições de seus súditos em uma pátria estrangeira". Na prática, graças a sua máfia, a China garantiu o controle total da imigração chinesa nos Estados Unidos, a fim de superlotá-los com seus cidadãos e manter o país americano em uma espécie de sujeição velada. Para dar fim ao golpe e retomar o controle sem perder os benefícios do tráfico com a China, foram promulgadas as famosas Leis Raciais, às quais seguiu-se toda uma onda de livros, pôsteres e seminários sobre a “ameaça chinesa".






Didascalia...Afiado e incisivo, Thomas Nast criticou abertamente o sistema político norte-americano e suas leis raciais em um dos jornais de maior audiência da época, o Harper's Weekly. Aqui está um de seus desenhos, intitulado Go West Go East, no qual ele expõe as nocivas leis de Jim Crow.

Confiando no desejo inerente de manipulação do povo e e em seu racismo arraigado, o governo norte-americano definiu categoricamente os chineses como "indesejáveis". Privando-os assim de qualquer personalidade jurídica e concedendo total imunidade ao indivíduo, que, portanto, sentia-se autorizado a "fazer justiça por si mesmo".

O massacre de Los Angeles foi uma consequência direta desse mecanismo perverso. Como sempre acontece em tempos de crise, os mesmos governos que apontam um bode expiatório para encobrir seus erros são os únicos que acabam se beneficiando das guerras entre os pobres.

O incêndio de Chicago de 8 de outubro de 1871 completou o quadro. Foi um dos desastres mais trágicos dos Estados Unidos, em que toda a cidade de madeira foi arrasada, deixando os corpos carbonizados de 300 pessoas, 110 mil desabrigados e 18 mil edifícios, em memória dos quais restou apenas uma parede. A investigação que se seguiu determinou que tratava-se de um daqueles eventos nefastos desencadeados unicamente pela ira de Deus. Após terem abafado o suposto descuido de uma vaca (irlandesa), que dizem ter causado o incêndio ao derrubar uma lâmpada, o caso foi encerrado. Na verdade, boatos afirmavam que NÃO FOI a mão do destino, mas sim a mão humana que causou o incêndio, motivada por dinheiro e poder.

Muitas coisas não batem sobre esse incêndio, como a intervenção do corpo de bombeiros, que era considerado um exemplo de organização e vigilância para os Estados Unidos. Como eram empenhados em defender do fogo uma cidade de madeira em pleno desenvolvimento onde a média de incêndios era de dois por dia! O departamento estava muito bem equipado: em 1866 contava com onze caminhões completos, dois extintores manuais, treze

carrinhos flexíveis, empilhadeira com escada, 120 brigadas em tempo integral, 125 voluntários e 53 cavalos. Em 1871, também foi equipado com o modelo único do elevador de mangueiras Knocke-Pattent, uma torre d'água capaz de disparar e direcionar um jato de alta potência.

Isso mostra o quão experiente e equipado era o corpo de bombeiros, que combateu as chamas do famoso incêndio na noite de 8 de outubro de 1871. No entanto, existem pelo menos dois erros grosseiros e imperdoáveis do departamento, como perder completamente o controle sobre as chamas.






DidascaliaO grande incêndio de Chicago custou aos Estados Unidos cerca de 200 milhões de dólares na época. Aqui está uma imagem do Harper's Weekly de autoria de John Chapin, mostrando a ponte na Randolph Street completamente destruída pelas chamas....

O primeiro diz respeito ao atendimento emergencial: sabe-se que a brigada foi acionada SOMENTE duas horas após a primeira chamada e apenas porque muitas outras vieram em seguida.

O departamento justificou-se dizendo que “pensaram que a nuvem de fumaça relatada pertencia a outro incêndio, que havia sido apagado na mesma área no dia anterior”.

Muito estranho e quase grotesco, para bombeiros experientes. Além disso, nos anuários do departamento não há menção a um incêndio semelhante que, mais estranho ainda, tivesse sido originado em um depósito de madeira.

O erro seguinte foi absurdo: ao perceber que se tratava de um novo incêndio, o departamento enviou o socorro, mas em uma direção completamente diferente! Falou-se de "erro de comunicação" entre os funcionários, o que é incompreensível para pessoas acostumadas a trocar esse tipo de informação com rapidez e precisão! Outro detalhe, e um que não me cheira nada bem, é que o departamento interveio durante toda a manhã para resolver quatro pequenos incêndios criminosos na mesma área. Logo, eles a conheciam muito bem. COMO poderiam não ter pensado que o quinto incêndio do dia também pudesse ter sido originado ALI?

Seja como for, os erros foram fatais e, apesar dos esforços subsequentes e da colaboração das cidades vizinhas, a fúria do incêndio destruiu tudo. Quando inclusive o aqueduto foi queimado, a população percebeu que havia perdido a batalha contra o fogo. Nesse ponto, fica a dúvida: se o incêndio foi realmente criminoso, QUEM e POR QUÊ teria feito isso?






Didascalia..Uma foto rara do corpo de bombeiros de Chicago com uma das várias estações equipadas, em 1871, poucos meses antes do grande incêndio. O equipamento era muito moderno e de última geração para a época. É de se perguntar O QUE poderia ter originado esses erros grosseiros e fatais para a cidade..

Você deve saber que a grande maioria dos prédios no coração da velha Chicago eram decrépitos, formavam guetos e eram ocupados pela chamada escória, ou seja, todas as pessoas pobres de diferentes etnias que haviam encontrado refúgio ali. O vício, a máfia e a prostituição estavam presentes nesses edifícios e muitas vezes por meio dos clãs irlandeses, que eram bastante odiados e temidos.

Frederick Law Olmsted, o pai da arquitetura de Nova York, torcia o nariz para os prédios de Chicago, chamando-a de uma "cidade retrógrada feita de imigrantes, bares e casas de madeira, afogada em seus delírios de grandeza que a levaram a construir gigantescos blocos de apartamentos de estilo grosseiro e questionável“ (the Nation, 1870). Além disso, Chicago estava muito atrasada em seu processo de industrialização, o que prejudicava os Estados Unidos.

Como na era de Nero, o incêndio permitiu varrer tudo de feio, indesejável e promíscuo que atrapalhava Chicago em sua corrida rumo à modernidade e de que ela jamais poderia se ver livre sem aquele acontecimento fortuito. No final, o incêndio representou uma pechincha para a cidade, que se beneficiou da ajuda financeira do Estado e da iniciativa privada, que a reconstruíram da cabeça aos pés e que no mesmo ano sediou a primeira escola de arquitetura dos Estados Unidos — cujas figuras proeminentes haviam atuado como engenheiros militares na Guerra Civil — e finalmente inauguraram o Home Insurance Building em 1885, o primeiro arranha-céu do país!






Didascalia...O primeiro arranha-céu norte-americano em toda a sua majestade, o Home Insurance Building, concluído em Chicago em 1888. A grande obra de William LeBaron Jenney inaugurou a moda de edifícios altíssimos, um símbolo do poder estadunidense.

Em todo o caso, os três infelizes acontecimentos criaram o substrato favorável à tragédia de 24 de outubro de 1871, do qual mais da metade da cidade teve participação ativa, já no limite do descontentamento com os imigrantes chineses, agora taxados de fura-greves pela opinião pública.

Naquela noite, além das declarações de protagonistas como Bilderrain, que se retrataram e modificavam cada

vez mais suas versões, os fatos deram-se da seguinte forma: Bilderrain, armado até os dentes e junto com um pelotão de outros vigilantes — lembre-se, NÃO POLICIAIS, mas sim cidadãos comuns autorizados pelo xerife local a manter a ordem —, esgueirou-se até o beco da Negro Alley em direção à casa e à loja de Yuen. Algumas fontes citam a presença do próprio Hing entre eles, provavelmente como um guia. A intenção clara de Bilderrain era roubar o ouro escondido em um tronco, do qual todos haviam ficado sabendo apenas pela manhã. O esquadrão viu-se diante dos guarda-costas de Yuen, que, como sabemos, era um mafioso. Os guerreiros Tong começaram então a atirar em autodefesa e, de acordo com as regras já definidas entre a máfia e a polícia local, sem nunca sair do beco. Os confrontos privados, aliás, faziam parte da rotina e por isso eram regulamentados. A regra era que podiam “atirar uns nos outros o quanto quisessem, contanto que o fizessem em casa” e, na Negro Alley, isso acontecia TODOS OS DIAS. Havia também uma espécie de toque de recolher para todos os habitantes de Chinatown, que, de qualquer maneira, preferiam ficar bem trancados em casa depois das 20h. Apenas os estabelecimentos voltados aos vícios permaneciam abertos e o acesso a eles também era baseado em outras regulamentações, destinadas a preservar a segurança dos fregueses.

Os chineses, pela paz e porque não eram burros, dificilmente transgrediam essas regras que permitiam a todos uma coexistência pacífica, embora difícil. Não é por acaso que a invasão dos vigilantes organizou-se por volta das 20h30, ainda que durante o julgamento tenha se falado inicialmente de 18h e até 16h. Contudo, a verdade sobre o horário veio à tona quase imediatamente, também graças ao depoimento direto de um repórter e advogado de Los Angeles, um certo Horace Bell. Entretanto, seu testemunho não foi admitido nas atas do processo. Bell escreveu vários artigos sobre o assunto, sempre rejeitados pelos historiadores como "não confiáveis". Dado seu passado, certamente não exemplar. No entanto, Bell continuou a sustentar sua versão, descrevendo em detalhes substanciais o conluio entre o chefe de polícia Baker e a máfia chinesa, bem como a afirmação das autoridades locais quanto a uma política decididamente podre. Seu testemunho só pôde ser respaldado após a documentação ter vindo à tona, 140 anos depois.






Didascalia...Horace Bell em 1880. Trata-se de um personagem realmente interessante. Indico a leitura de sua história na internet.

Bilderrain foi então atingido no ombro e caiu de joelhos, chamando ofegante por reforços, mas o grupo havia recuado dada a recepção pouco convidativa. Mesmo para homens treinados, não era aconselhável ficar cara a cara com os guerreiros Tong, especialmente em seu território.

No entanto, Bilderrain afirmou que Thompson, empunhou heroicamente a pistola e como o "carrasco da noite" parece ter dito "Lá vou eu”! Enquanto, na esquina do edifício Coronel, o policial Celis gritava: "Cuidado, eles estão armados”! Assustado com o perigo, Thompson entrou SOZINHO no beco escuro, abriu a porta da casa de onde vinham os disparos e lá levou um belo tiro no peito, que o levou à morte cerca de duas horas depois.

Nesse ponto, os policiais Celis e Kerren, abrindo caminho em meio às balas, puxaram o corpo sem vida de Thompson para fora do beco e levaram-no para a rua a fim de prestar-lhe cuidados pífios. A notícia do ferimento do homem e sua subsequente morte parece ter exacerbado a multidão que deu então início ao massacre. O resto é história.

Essa foi a versão oficial levada a julgamento, e a ÚNICA a que os juízes deram crédito, embora muitos depoimentos de cidadãos respeitáveis a tenham negado várias vezes.

É evidente que se trata de um laudo cômodo, que justifica plenamente a atuação dos policiais e exonera a fúria assassina da multidão, permitindo que o infeliz acontecimento seja considerado “uma loucura coletiva resultante da gravidade do período de crise econômica e da concorrência desleal dos chineses”.

Mas é tão fácil provar que as coisas ocorreram de modo

muito diferente.

Em primeiro lugar, os testemunhos. O protagonista absoluto e herói público foi Bilderrain, que durante o julgamento afirmou ter “visto claramente Thompson abrir a porta e cair no chão com a bala no peito”. Nada poderia ser mais falso. Segundo seu próprio depoimento, posteriormente modificado, Bilderrain estava na entrada do beco quando pediu socorro, enquanto a casa de Yuen, de onde começaram os tiros, ficava dentro do Negro Alley, em uma área invisível do beco. Além disso, a menos que Bilderrain estivesse equipado com visão infravermelha, não era fisicamente possível ver nada no Negro Alley, porque a área não tinha iluminação. Também por essa razão, a polícia tinha muito cuidado em intervir em casos de tiroteio e, quando o fazia, ia equipada com luzes.

O que parece muito estranho é a intervenção de Celis e Deck, que foram ordenados a não se mover do edifício Coronel. Poderia se dizer que transgrediram a ordem para salvar o amigo, mas mesmo assim não faz sentido. Em geral, os guardas atingidos eram abandonados por terra, principalmente se houvesse tiroteio na área. Além disso, não esqueçamos que Thompson NÃO ERA um policial, mas sim um vigilante — e um canalha, aliás — e, normalmente, havia rixas entre a polícia e os cidadãos que faziam a vez de combatentes improvisados. Geralmente, a polícia fazia questão de manter uma certa distância deles, e com grande desprezo. É, portanto, impensável que os dois tivessem violado uma ordem, arriscando a vida para salvar um homem que, provavelmente, também não deveria estar ali. Só para levá-lo para a rua e vê-lo morrer. Em vez disso, presume-se que os dois assassinaram Thompson ou que o empurraram em direção aos mafiosos, disparando primeiro para estimular o fogo direto sem lhe dar cobertura. Alguns depoimentos também mencionaram um terceiro policial, chamado Richard Kerren, que parece ter sido posicionado no beco em frente à loja de Yuen. Mais tarde, quando o processo foi arquivado, muitas testemunhas oculares lembraram-se de tê-lo visto pular para fora do beco logo após os primeiros tiros gritando: “Eles mataram Thompson"! Alguns momentos depois, Celis e Deck apareceram carregando o homem gravemente ferido. Portanto, os dois estavam DENTRO do Negro Alley e, logo, não entraram correndo APÓS terem ouvido os tiros, como testemunharam. Por fim, não podemos esquecer que os heroicos policiais Harris e Gard também estiveram presentes na área e que tinham como tarefa ficar de guarda no prédio. Como é possível que cinco deles não tenham conseguido defender Thompson, que levou dois tiros no peito à queima-roupa?

Sendo assim, tudo sugere que o assassinato de Thompson foi um pretexto para justificar um massacre premeditado e organizado, que certamente envolveu também uma multidão de bandidos que agiu sob o olhar atento da polícia e de muitas figuras influentes do país. Que, naquela noite, estavam em suas posições e, de uma forma ou de outra, guardavam velhos rancores contra os comerciantes chineses. Muitos empresários foram acusados pelo juiz de terem participado ATIVAMENTE no massacre e, entre eles, havia homens proeminentes, como o vereador George Fall, que foi visto quebrando uma mesa de madeira e, em seguida, uma clava de ferro nas cabeças de dois chineses. A multidão enfurecida era composta principalmente de pais de família honestos que praticavam as profissões mais díspares e de maior concorrência com os chineses, como fazendeiros, criadores de bicho-da-seda, comerciantes de especiarias e agricultores. Mas não faltaram ferreiros, carpinteiros, açougueiros e gerentes de salões que, de uma forma ou de outra, tiveram relações comerciais diretas com os mafiosos chineses. Estima-se que cerca de 500 pessoas participaram do massacre, um décimo da cidade. As ações conduzidas têm um quê vagamente militar. Não se tratou de um grupo exaltado que, armado de fuzis e forcados, entrou em massa no Negro Alley, arrancando à força os chineses, mas sim de um assalto organizado e dirigido por poucos indivíduos. Os quais, portanto, poderiam ter sido facilmente reprimidos pela polícia, ao contrário do que o comandante Baker declarou em julgamento.

Imediatamente após a morte de Thompson, que NÃO FOI socorrido, mas apenas levado em agonia para a rua para que todos o vissem, um esquadrão de homens experientes penetrou no Negro Alley atirando para chamar a atenção da máfia, porém mantendo uma distância segura. Isso permitiu que outros escalassem o telhado do edifício Coronel para posicionar pranchas de madeira. Dessa forma, os tiros de rifle puderam perfurar o alcatrão e almejar diretamente os chineses do lado de dentro, que foram rapidamente exterminados pela chuva de projéteis. Os disparos contínuos duraram cerca de dez minutos, até que alguém gritou do telhado: “Está feito, vamos entrar"! Com esse sinal, a multidão precipitou-se para dentro do edifício e através dos becos fracamente iluminados por lâmpadas chinesas, arrombando à força as portas das casas onde a população amedrontada tinha se barricado.





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Dois eventos trágicos, o massacre de Los Angeles em 1871 e o tráfico das pequenas escravas, que resumem a difícil relação entre os Estados Unidos e a China nos anos entre 1820 e 1945. Um livro de críticas espirituosas e inteligentes que expõe verdades ocultas com um estilo simples e eficaz.

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