Книга - Diccionario de João Fernandes

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Diccionario de João Fernandes
Francisco Amorim






Diccionario de João Fernandes Lições de lingua portugueza pelos processos novos ao alcance de todas as classes de Portugal e Brazil





A QUEM LER


Por bem entendido orgulho, resolveu o auctor d'este livro não privar o seu nome da gratidão dos contemporaneos. Honra lhe seja!

Do seu trabalho se póde dizer sem lisonja; que reune o utile dulce. Instrue e deleita, inspirou-lh'o um opusculo francez, de indole similhante, intitulado: Le Carnaval du Dictionnaire.

Pretendeu o nosso auctor demonstrar que tambem a riquissima lingua portugueza se presta a graciosas evoluções, aos traits d'esprit, e ao humour dos idiomas francez e inglez. Ousará alguem dizer que elle se não saiu victorioso da empreza? Estou que ninguem se atreve. Bons ditos, agudezas, epigrammas, finas ironias, satyras, critica de costumes, tudo aqui se encontra, mais ou menos floreado, conforme requer cada assumpto.

É possivel que não falte quem faça má cara ás definições simples e claras da maioria dos vocabulos; e que por essa mesma ingenuidade não as acreditem nem acceitem. O auctor não se desconsola por isso. Elle sabe que quanto mais grosseiro for um erro, mais facilmente será admittido; ao passo que raros crêem na verdade pura. Ha pouco mais de trezentos annos ainda se suppunha que as marrecas (aves similhantes ao patos) nasciam da madeira dos mastros, dos remos e das tabuas de barcos velhos apodrecidos pelas aguas; e quando Childrai asseverou que as tinha visto ao norte da Escocia pôr e chocar os ovos como os outros palmipedes, pouco faltou para que o engulissem vivo! O abbade de Valmont, refutando-o em pomposos discursos, no começo do seculo passado, provava triumphantemente, com applauso de todo o mundo sabio, que, sendo as marrecas «animaes de sangue frio, como os peixes, não podiam chocar», e que as perseves eram larvas de marreca e tambem plantas marinhas, e que d'ellas se formavam as citadas aves!

Nada custa mais a acceitar do que as verdades singelas, sobretudo se ellas não lisonjeiam a tolice humana! Ora o auctor tem a consciencia de não haver commettido esse peccado, assim como a de ter feito uma obra digna do seu tempo. Rôam-n'a, portanto, como podérem: a posteridade lhe fará justiça.

No apimentado da linguagem seguiu-se o systema do sabio Raspail, com o fim de afugentar os vermes… litterarios. Os conceitos, assim temperados, não embucharão tanto os estomagos exquisitos, embora algumas vezes produzam irritabilidade passageira, proveitosa para todos os lymphaticos.

Por entre os gracejos encontram-se muitas verdades instructivas, com applicação ás creaturas hypocondriacas e dyspepticas. Não ignorava o nosso auctor que trabalhava para o futuro, e que o seu livro seria o unico diccionario serio adoptado por vindouros illustrados; mas nem se desvaneceu com essa certeza, nem quiz em monumento de tão sublime lavor titulo de armar ao effeito. Podia ter-lhe chamado, com assás de propriedade, Diccionario de pimenta na lingua, ou, mais cruamente, tira-pelle, escacha-pecegueiros, leva couro e cabello, etc. Preferiu, comtudo, o simples titulo de Diccionario de João Fernandes para o maior padrão da moderna litteratura portugueza. Que modestia, tão digna de elogio no seculo corrupto em que todos se gabam e louvam a si publicamente!

E comtudo o que mais estava aqui a calhar era Diccionario raboleva. Cousa de pôr e tirar, sem a minima idéa de offender, que não faz mal nenhum, e que vem tanto a proposito n'estes tempos de carnaval perpetuo. Raboleva é como quem diz carapuça. Mas a carapuça, no sentido intimo e transcendental, é invisivel para todos e só a sente quem a põe. Ao passo que o raboleva são os outros que o vêem em nós e nos gritam:

– Raboleva!

Que admiravel invenção! É claro que só os tolos lhe não achariam graça. Confessem, porém, todos que o não forem, que o auctor foi o homem mais modesto do seu tempo, privando a sua obra d'esse titulo palpitante de actualidade, e assim provarão que sabem ser superiores a invejas mesquinhas.

O livro porém não carece de nomes pomposos para se tornar celebre. Elle ahi vae, eu acho-o bom, sou de voto que o approvem para os collegios, que o compre toda a gente, e peço a immortalidade que me compete… a seis tostões por cabeça.

João Fernandes

Auctor da dita obra.

N. B.—P. S. Os artigos desengraçados, ou obscuros, não são meus. Traduzi-os do francez e do chin. Eu só fiz os que teem graça.

J. F.




A


ABA– Diz-se de mesa, em vulgar; mas no estylo poetico toma-se por petala da flor chamada orçamento, onde pousam mais zangãos do que abelhas.

ABADA– Por um singular capricho da lingua dá-se este nome ao corno do rhinoceronte, e ás canastradas de leis mais duras de roer, que os parlamentos approvam sem exame, no fim das suas sessões!

ABAETADO– Panno grosseiro com que alguns grandes homens vestem a sua delicadeza.

ABAFADIÇO– O ar da independencia, para certos patriotas.

ABAFADO– Vinhito soffrivel antes de se ter inventado o oidium, a philoxera, a flor de enxofre, a baga de sabugueiro, o campeche, a anilina, a fuchsina, e outros ingredientes capazes de estoirar o estomago do grande diabo.

ABAFADOR– Sujeito que não deixa fallar os outros.

– Amigo zeloso, que abafa o alheio para que se não constipe.

ABAFAR– O mesmo que atabafar; cobrir ou esconder o que é dos outros, de modo que os donos não vejam.

ABAIXAR-SE– Maneira de poder andar seguro por caminhos difficeis.

ABALISADO– Grande comedor.

ABJECÇÃO– Usar botas sem meias.

ABJURAR– Tem, em politica, muitos significados pittorescos: virar a casaca, mudar de cara, roer a corda, passar o pé, atirar as cangalhas a terra, etc.

Em religião: Deitar um rombo de madeira nova n'um barco podre.

ABSOLVIÇÃO– Dar um bispado in partibus infidelium.

ABUSO– Planta nociva, que gréla e rebenta por toda a parte.

– As verrugas nacionaes.

ACADEMIA– Cozinha litteraria e scientifica, da qual nem todas as comidas são gratas ao paladar.

AÇAMO– Ponto de contacto entre o cão e o jornalista, nos paizes em que a rolha faz parte das instituições.

ACANHADA (MULHER) – Capilé de cavallinho.

ACANHAMENTO– Casaco apertado.

ACCIONISTA– Unica especie de mosca, que se apanha com vinagre… de sete ladrões.

ACEIO– O luxo do pobre… que elle raras vezes tem.

ACTOR– Proteo por conta alheia.

ACTRIZ– Espelho de reflectir paixões.

– Flor artificial.

ADMIRAÇÃO– Sentimento que só nos acommette diante das nossas obras, ou quando nos vemos ao espelho.

ADULAÇÃO– Musica da aria do servilismo.

ADVOGADO– Actor que representa autos.

AFFEIÇOADO– O que apenas diz mal de nós, em vez de tambem nos bater.

AGIOTAGEM– Montado, onde se engordam aves de rapina.

– Monturo, onde os cogumellos são venenosos.

AGUA—Rara avis in Olissipone.

– O sonho de Lisboa.

– Cousa que muitos corpos nunca viram.

– Horror de certas caras.

AJUDA (DE CUSTO) – Clyster que todos gramam com gosto.

ALBUM– Victima que faz victimas. É o caso de exclamar: Abyssus abyssum invocat.

– Machina de achatar poetas.

ALCANCE– Descuido intelligente que faz correr dinheiro dos cofres publicos para os particulares.

ALEGRIA– Premio na loteria da vida.

ALEXANDRINO– Verso: o elephante da poesia.

– Homem: o pigmeu dos Alexandres.

ALGIBEIRA (CHEIA) – Alma nova.

– (VAZIA) Veia sem pinga de sangue.

ALGODÃO– Materia prima da belleza plastica. Tranquillisae-vos, senhoras; todos fazemos de conta que não percebemos.

ALIMENTICIOS (GENEROS) – Misturada infernal, em que todos os artigos teem drogas suspeitas. Ha de vir um tempo em que o consumidor, para se livrar de ser roubado e envenenado, com assentimento da auctoridade publica, terá de ir procurar a subsistencia nas origens de todos os generos. Mais claro: Para comer sem repugnancia e sem perigo, terá que imitar os quadrupedes, e, posto ao lado d'elles, pastar nos campos o trigo infantil e virgem de toda a combinação toxica. Concorrerá com os cães ás vinhas, e ahi se regalará com os puros cachos ideaes (estylo da idéa nova), isentos do mistiforio horrendo que mais tarde lhes mistura no sumo o taberneiro boçal, ou qualquer outro ladrão e assassino da mesma laia. Cortará o seu bife do boi vivo (á moda dos bemaventurados do paraizo scandinavo, que os comem de um javali sempre inteiro), e mamará com os vitellos seus collaços a manteiga e o queijo na fonte original da têta incorrupta (salvo o caso de ter bexiga, o que desde logo nos evitará a vaccina). Emfim, senhores tendeiros, merceeiros, commercieiros, taberneiros, leiteiros, açougueiros, peixeiros e mais varões da magna caterva dos envenenadores publicos (excepções honradas á parte, se ainda as ha), em chegando esse tempo, que os vossos abusos attrahem fatalmente, levar-vos-hão todos os diabos e ás vossas caranguejolas de chimica assassina, o que será de grande allivio para o resto da humanidade e de jubilo para este que vos admira como fluidos, e vos detesta como patifes, se acaso o sois, o que não é licito duvidar. Para esse tempo espero em Deus que a vossa raiva impotente vos faça rebentar como morteiros em arraial saloio. Amen.

ALLOPATHIA– Antiga companhia de pompas funebres, furiosa por lhe terem creado concorrentes ao seu monopolio.

ALMANACH– Pasteleiro sem môlho.

ALVEITAR– Pobres bestas! Não poderem, ao menos como nós, dizer onde lhes doe, para que as matem em regra!..

ALVEITARIA– Arte de estoirar brutos.

ALVIELLA (RIO QUE HA DE TRAZER AGUA A LISBOA) – Um mytho.

AMA– Caricatura da maternidade.

AMABILIDADE– Virtude dos ministros que promettem sem tenção de cumprir.

– Chave de abrir corações.

AMADORES (DE TOURADAS) – Membros das sociedades protectoras dos animaes.

– (DE BELLAS ARTES) Entes inoffensivos, que os artistas fingem tomar a serio para que lhes comprem as obras.

– (DE ANTIGUIDADES) Victimas felizes da industria moderna.

– (DA BELLEZA FEMININA) Idealistas.

– (DE THEATRO) Estomagos de bronze, que digerem desde a lama do lupanar e o opio até o chavelho e o ferro velho.

– (DE BOA MESA) São as pessoas mais rasoaveis, e assim mesmo se lhes impinge a miude gato por lebre.

AMAR– Soffrer, desde a dor de cotovello até á colica do medo.

– Preludio de bebedeira.

AMARGURA– Rua que vae da cadeia ao tribunal.

AMBIÇÃO– A nossa, é sempre nobre. A dos outros, baixa e vil.

AMIGO– Inimigo domesticado.

AMIGOS– Sujeitos de que é bom desconfiar para se não ser logrado.

AMISADE– Pedra philosophal do janota.

– Chapéu de chuva que se volta do avesso logo que ha mau tempo.

AMOLAR– Passar a lingua sobre as manchas da reputação alheia, para as lavar, á maneira do gato.

AMOR– Pedra preciosa, que se dava de graça, e por isso desappareceu ha muito tempo.

– Jovens incautas, desconfiae das paixões a vintem a linha nos annuncios dos jornaes. Se os pretendentes serios falham tantas vezes, que esperaes dos que se vos apresentam a declamar prosa pifia e sem grammatica, entre o bacalhau frescal dos srs. Martins, e os chapéus da sr.ª D. Cecilia?

ANALPHABETO– O mais feliz dos entes. Perdôem os partidistas da instrucção a todo o transe. Antes de se pensar na escola seria util dar pão aos que se pretendem obrigar a frequental-a. Crear-lhes, em vez disso, necessidades que traz a educação, sem lhes proporcionar os meios de as satisfazer, não é beneficial-os, é pervertel-os. Desculpem ss. ex.as a este pobre diabo, que apalpa com frequencia o positivismo da vida por falta de tempo e de pachorra para subir aos mundos ideaes. Peço-lhes, porém, que, antes de legislar, estudem um pouco o homem. As suas illustres pessoas são as que lhes ficam mais á mão. Consultem-se a si proprios, e digam se, conscios como devem ser dos seus merecimentos, os julgam convenientemente reconhecidos e remunerados pela sociedade. No caso de se acharem bem retribuidos, plenamente satisfeitos com a sua sorte, e convencidos de que não teem direito para aspirar a melhor estado, decretem a instrucção obrigatoria; e não só a primaria e secundaria, senão tambem a superior. Se, porém, julgam que a sua intelligencia, os seus talentos e estudos merecem mais alta consideração, os que pretendem educar virão tambem dentro em pouco a ter de si proprios igual opinião. E não tendo ss. ex.as meio de se melhorarem a si, como poderão satisfazer as necessidades que terão creado aos povos, a uma nação inteira? Não citem a Allemanha a proposito de tudo, porque já parece desproposito. A Allemanha, sobretudo a Prussia, onde todos sabem ler, não tem talvez um unico habitante contente com a sua sorte. Despeja-os aos milhares nos Estados Unidos, e como este paiz já rejeita emigrantes, procura no Brazil um ponto, onde caibam 500:000 de uma assentada!

Este magno assumpto não é para aqui. Mas, repito, que será bom dar primeiro o pão aos que o não teem, e depois muito embora lhes dêem o ensino. Meus senhores, muito boa noite. Estou a caír com somno, e faço a vv. ex.as a justiça de acreditar que não terão menos do que eu, depois de lerem este artigo.

ANARCHIA– Isso é com os sabios modernos.

ANATOMIA– Arte de aprender a trinchar sem garfo.

ANTECAMARA– Logar onde os que são mais lacaios não usam libré.

ANTHROPOPHAGO– Agiota que faz muito negocio.

ANZOL– Rapariga bonita.

– Velha endinheirada.

APAGADOR (PARLAMENTAR) – Coveiro da eloquencia.

APITO– Grillo, que em vez de estar engaiolado, na maioria dos casos, leva outros para a gaiola.

APOIO– Perguntem aos pobres ministros quanto lhes custa o de certas firmas…

– Muletas de oiro.

APOLLO– Improvisador do fado.

APOLOGO– O alfaiate da verdade.

APOPLEXIA (FULMINANTE) – Premio grande na loteria dos infelizes.

– (PARCIAL) Primeiro aviso para o pagamento da contribuição… á morte.

– Mandado de despejo sem aviso previo.

APOSTASIA– Jogo da cabra cega.

APPARENCIAS– O pudor da sociedade.

– A primeira cousa que se deve salvar em todos os naufragios.

APPETITE– Socio gerente do estomago.

APPROVAR– Serviço das maiorias parlamentares.

ARCO– Dizendo as auctoridades que é monumental, preparem-se para ver uma cousa feia, pesada, que esmaga a vista, o espirito e o gosto, mistiforio de todos os estylos, sem ter nenhum, amontoamento de pedregulhos enormes, um aleijão, emfim, que custa centos de contos de réis e entretem, durante longos annos, os ocios dos basbaques e os dos comedores.

– Sendo arco simples, procurem nas pipas.

ARGUMENTO– Metralhadoras em exercicio.

ARMA– Muleta do absurdo.

ARQUEADO– Sevandija.

ARQUEAMENTO– Estylo das pessoas que teem a espinha dorsal muito elastica e a cabeça com pendor para o lado… da sabujice.

ARREATA– Um artigo de fé absolutista; mais necessario a certos homens do que a certas bestas.

ARREPENDIMENTO– Caldo requentado.

ARSENICO– O vinho que se vende nas tabernas de Lisboa. O povo chama-lhe judiciosamente mata-ratos.

ARTISTA– Pessoa engenhosa, que agenceia a vida nas algibeiras alheias.

– Malandrino, desde que a qualificação se passou das bellas para as malas-artes.

ARVORE– É n'ella que o homem corrige Deus e a natureza, affeiçoando-a de modo que, segundo a sua opinião, fica mais graciosa do que a fizera o Creador.

ASNEIRA– Uns por não ver, outros sem saber e muitos sem querer: todos a fazem viver.

– Cala-te e pára! O que ias dizer, é uma; o que tentas fazer, é outra.

– Sentinella, brada ás armas, que s. ex.ª vae passar.

– Quem poderá gabar-se de não lhe render preito?!

– Divindade que está em toda a parte.

ASNO– Parece que foi aos de dois pés que Deus disse: «Crescei e multiplicae-vos». O seu numero tem encarecido tanto a palha, que já se dá pão a muitos.

– Tão feliz, que até suppõe que o não conhecem!

ASQUEROSO– Escriptor sem vergonha. É o piolho da litteratura.

ASSASSINO– Sujeito que arranja meio de viajar de graça… para a Africa.

ATHEU– Innovador da peior especie. Crê que as machinas precisam de que alguem lhes dê impulso para poderem andar, e duvida de que o universo tenha um regulador supremo! Senhor, Senhor! Para quem creaste a palha?!..

ATTESTADO– Chave falsa, que se dá ao creado despedido para elle se introduzir na casa alheia.

ATRAZADO– Relogio do progresso portuguez. Quanto mais lhe mexem, peior fica e mais vezes pára.

AUCTOR– Ente paradoxal. Acredita no seu talento.

– Parodia de Deus.

AUCTORISAÇÃO (DOS PARLAMENTOS AOS GOVERNOS) – Viagem por mar desconhecido.

AUDACIA—Audaces fortuna juvat. Traduzido em vulgar, quer dizer: Quem for tolo, peça a Deus que o mate e ao diabo que o carregue.

– Talento dos insignificantes.

AVARENTO– Homem que aferrolha no limbo da arca as almas das algibeiras.

AVENTUROSO– Espirito de gato.

AZEDO– Chefe de repartição que tem a consciencia de valer menos que os seus subalternos.

AZORRAGUE– Instrumento muito eloquente, quando o tocam com alma.

AZUL– A côr do céu, a do mar e a do ministro derrotado pelas côrtes.




B


BABA– Humor que deposita o caracol litterario nas folhas que roe.

BAILARINAS– Illusões pintadas.

BAIXEZA– Meio de elevação.

BALA– Objecção penetrante.

BALANÇA– Salvo-conducto de varios ladrões.

BALÃO– Imitação de certos potentados. É grande, ôco, e não sabe dirigir-se.

– Mineiro do infinito.

BALOFO– Homem sem miolo, ou cheio de palha.

BANANA– Entre os homens, caracol sem casca.

BANCA-ROTA– Phenomeno physico produzido por uma prisão de ventre. Os intestinos não restituem os laxantes, e causam o volvo.

BANCO– O dos réus attrahe as pessoas habeis, que mandam gente para o do hospital, ou que fazem concorrencia ao que emitte dinheiro.

BANDALHO– Bacalhau fresco[1 - Em algumas partes de Portugal chama-se bandalho ao badejo.] e homem podre.

BANQUEIRO– Artista que faz bancos. Cuidado, não cáiam!

BARALHO– Orçamento do estado.

BARBARO– Indigena, que não é applaudido pela sociedade protectora dos animaes, nem sequer por estes.

BARQUEIRO– Caronte peiorado.

BARRIGA– Demonio familiar, que desculpa e justifica tudo.

BASTARDIA– Uma vangloria, quando instituida pelos reis; uma vergonha, quando creada pelo povo.

BASTARDO– Uma letra e uma uva. A affinidade provém de que o sumo da uva se engarrafa, e a letra é garrafal.

– Linhagem com que se embrulham muitas familias nobres.

BATALHA– Maneira de ter rasão, á moda dos brutos.

BATATAS– Genero decadente, desde que os illegiveis as empurram aos eleitores.

BATERIA– As de cozinha são muito mais uteis á humanidade do que as de artilheria. Comtudo é por estas que as nações fazem sacrificios! Este facto, por si só, basta para fazer o elogio da nossa especie!

BATOTEIRA– Viuva de dois ou tres maridos.

BEATA– Emolumento ecclesiastico.

BEIJO– Uma recordação de Judas.

BELISCÃO– A satyra das unhas.

BELLEZA– Flor de um dia, que, apesar da sua pouca duração, explica muitos segredos.

BEMAVENTURADO– O que sente pela primeira vez atrás da sege que o leva o choito cavallar do correio ministerial.

BEMDIZENTE– Genero que se acabou ha muito, e não se manda vir mais. Era da Parvalheira.

BEMFAZEJO– Sabe-se que ainda ha alguns pelo muito que elles se apregoam a si proprios, como é de justiça. Do contrario, acreditariamos que tinham acabado inteiramente.

BEMFEITOR– Pessoa que dá conselhos a quem lhe pede esmolas, em vez de dar bengaladas.

BENEFICENCIA– Uma boa cousa que a vaidade estraga.

BENEFICIO (PRESTADO) – Coices a haver.

– (RECEBIDO) Serviço de que nos esquecemos para não humilhar quem nol-o fez. Oh! humanidade… Quem não te conhecer que te compre, e verá a prenda que leva!

BENEMERITO– Sujeito que não rouba quanto póde.

BENGALA– Tira teimas; pouco usado.

BERNARDA– Rede de pescar empregos e postos.

BERNARDICE– Conceito virado do avêsso.

BESTA– Bicho de varias especies. O que não come palha é dos peiores.

BEXIGA– A deusa da actualidade.

– Discurso laudatorio.

BIBLIOTHECARIO– Um collega da traça.

BICHAS– Prefiram as de rabiar.

BOFETADA– Conclusão, que em alguns casos se torna principio.

– Troco dado sem ser pedido.

– Visita mal recebida.

– Resposta em vulto.

– Eloquencia da mão direita.

– Argumento solido.

BOI– Animal que muda o sexo depois de morto.

BOMBA– Noticia inesperada.

BOMBEIRO– Inimigo de innovações.

BONDADE– Qualidade que attrahe o abuso.

BORBORYGMOS– O gargantear das tripas.

BOTAS– Terror dos selvagens. Umas botas apertadas, umas calças com suspensorios e prezilhas, e um collarinho bem teso – eis os beneficios que a civilisação offerece, de envolta com os seus vicios, ao homem primitivo! Entalado, esticado e gemendo dentro d'essas prisões, o pobre diabo, costumado a ter como a sua melhor riqueza a liberdade de movimentos, atira com tudo isso para longe de si, no primeiro ensejo, e foge para os seus bosques, arma o arco e espreita por entre as arvores os inquisidores que o atormentaram para lhes agradecer a judiaria com frechadas. Se estes, porém, o avistam primeiro, e lhe mostram de longe uma bota e um par de calças, o desgraçado larga as armas, e precipita-se no rio, preferindo ser comido pelos jacarés, ou morrer afogado, a dar-se em holocausto áquellas machinas de tratos.

BOTEQUIM– Escola de bellas-letras e de bons costumes.

BOTICARIO– Agente do coveiro.

BRAZÃO– Estudo dos fosseis.

BRUTO– Animal commum: morde e dá coice.

BUGIO– Parodia humana.

BURLESCO– Annuncio em que se promettem enterros pobres fingindo de ricos. É de tentar os defuntos mais exigentes?

BURRA– A personificação do amor moderno. Se Balaam cá voltasse, veria o que é eloquencia! As burras de hoje teem todas o diabo no corpo, um diabo amarello e luzente, que faz dar urros a quem o quer apanhar!

BURRO– Irracional a quem muita gente faz concorrencia.




C


CABEÇADA– Mais vale sentil-a sem a trazer do que trazel-a sem a sentir.

CABELLEIRA– Illusão… para quem a traz.

CABELLO– Uma canção saudosa, cantada em côro por todos os calvos.

CABRESTO– Leme que governa á prôa. Nem sempre se põe a quem mais precisa d'elle.

CAÇA– A mais procurada é a dos grandes empregos; sobretudo da especie sinecura.

CACETADA– Um dos modos de exprimir o pensamento.

CACETE– Uma idéa… politica.

CACHORRO– Expressão affectuosa, no nosso tempo.

CADUCIDADE– Infancia sem mãe nem mama.

CAHOS– Olhae á roda de vós.

CAÍM– Primeiro exemplo de fraternidade, e segunda victoria do mal contra o bem. Desde então teem sido tantos os casos, que já se perdeu a conta d'elles.

CAÍR– Emprestar a caloteiros.

CALÇADO– Flagello que se impõe aos selvagens, a pretexto de os civilisar.

CALLO– Perdão, minhas senhoras! É com o mais profundo respeito, e por interesse vosso, que vos aconselho a não coxear. Não ha paixão que lhe resista. Um pé pequeno é bello. Não deixeis suspeitar que elle se parece com um banco de ostras. Cautela com a baixa-mar! Não consintaes sequer que o vosso King Charles vos veja tirar as meias. O diabo ás vezes arma-as!

CALOTE– Ferida ruim.

CALOTEIRO– Ente feliz, que achou quem lhe fiasse.

CALUMNIA– Nodoa, que se chega á pelle nunca mais se tira.

CALUMNIADOR– Sujeito que atira pedras a uma sombra, e consegue por vezes acertar-lhe.

CALVA– Solidão melancolica.

– Terreno esterilisado pelos annos.

– Arvore, d'onde cairam as ultimas folhas.

– Pedra tumular, em cuja superficie pallida e lustrosa se reflecte a morte… dos cabellos.

CALVO– Audacioso, que ainda falla verdade… com a cabeça.

CAMELLO– O mais injuriado dos animaes. Até confundem certos homens com elle!

CAMISA– Uma convenção social.

CAMISEIRO– Aio da pudicicia.

CANADA– Uma das nossas glorias passadas, que o litro assassinou.

CANALHA– Tomado á franceza, é gallicismo; porém a abundancia de genero nacionalisou-o.

CANÇÃO– O chiar lyrico da frigideira, onde bailam as pescadinhas de rabo na bôca.

CANDIDATO (A DEPUTADO) – Projecto de caustico no paiz.

CANEIRO– O cocyto de Alcantara. Desemboca no Phlegetonte, vulgo Tejo, que é outro lameiro pestilento, nas praias de Lisboa.

CANGA– Benção matrimonial.

CANNA (DA INDIA) – Materia prima das azas de pau.

CANNIBAL– Grande mamador da teta do orçamento.

CANO (DE DESPEJO) – Fornecedor dos cemiterios de Lisboa.

– Um socio da medicina.

CANONISAR– Fingir que se abre aos outros uma porta de que não se tem a chave.

CANTO– A alma buscando outra patria.

CANTORA (CELEBRE) – Prodigio de aluguel.

– Escandalo ambulante, á moda Patti.

CAPACHO– Limpa-botas, que ss. ex.as elevam às vezes até á altura de poder limpar tambem as algibeiras á mãe patria.

CAPADO– Mortal do genero neutro.

CARA– Desconfiae das taboletas.

CARACOL– Coração de mulher leviana. Por mais que se lhe corte a cabeça, revive sempre, e apega-se a todas as plantas.

CARACTER– Torneira que só quando serve se vê se está rota.

CARANGUEJO– Exemplificação dos nossos systemas de viação accelerada. Isto é: progresso do retrocesso, segundo a feliz expressão de um sabio frade bernardo.

CARAPUÇA– Barrete que se põe dando urros intimos.

CARESTIA– Synonymo de subsistência, em Lisboa.

– Doença que não convem curar para não offender Nosso Senhor Monopolio.

CARICATURA– O retrato dos nossos amigos.

CARIDADE– Virtude, que deixa de o ser quando se mostra.

– Flor do céu, desabrochando no coração humano.

CARNAVAL– Tempo em que toda a gente finge doudejar, para fazer suppor que é séria no resto do anno.

– Sujidade que se cobre com cinza.

CARRUAGEM– Desespero dos que andam a pé, e que se não lembram que as suas pernas não correm risco de tomar o freio nos dentes, como as parelhas dos trens.

CARTA (AMOROSA) – Folha da arvore do amor. Amarellece com o casamento.

CARTAZ– Programma de governo. Diz sempre a mesma cousa, e nem sequer os que o fazem acreditam n'elle.

CASADO– Boi de canga.

CASADOS– A ostra e a perola.

CASAMENTO– Prisão cellular perpetua.

CASAR– Bolo de amor, que todos querem comer, salvo os que teem medo de indigestões.

CASPA– A fina flor mais palpitante[2 - Deixem passar o gallicismo.] da actualidade, que orna as cabeças modernas. Substitue quasi as idéas e os cabellos.

CATAVENTO– Pára-raios politico.

– Um gastronomo philosopho. Acha todas as comidas boas, e só exige que outros as paguem por elle.

CAVALLEIRO (FIDALGO) – Pessoa que, em geral, não usa cavallo.

CELEBRIDADES– Pessoas a quem a fama põe chocalhos, ás vezes muito bem merecidos, mas muito mal postos.

CENSURA– Unico prazer dos deuses… invejosos.

CEPA– Tronco genealogico do fidalgo que mais alegra a gente.

CHAPÉU (DE CHUVA) – Symbolo da amisade. Falha-vos sempre em occasiões de tormenta.

CHARUTO– Uma ladroeira e um envenenamento.

– Arte de aniquilar mais depressa a especie humana.

– A mais estupida de todas as distracções.

– Prova mais generalisada da tolice humana.

CHEFE– Ha muitos, de familia, que antes quereriam ser chefes de ladrões.

CHEIRO– Guai de quem aspira o de Lisboa!

CHICANA– Papel de apanhar moscas, já muito servido.

CHICOTE– A unanimidade de opiniões vae tornando o seu uso inutil. Cada vez ha mais quem precise e menos quem dê. Pois é pena!

CHIMPANZÉ– Animal que póde intentar ao homem processo de contrafeição.

CHISPE– Uma invenção dos grellos de nabo, para se tornarem mais amados e mais caros.

CHORO– Carimbo que a dor nos põe amiudadas vezes, para que não passemos por falsos infelizes.

– Carantonha da alma.

– Armadilha de apanhar mama.

CHUMAÇO– Segredo que convem não devassar, sob pena de tristes desapontamentos.

CINTRA– A mais má lingua que eu tenho conhecido, dizia, com assás de indelicadeza, fallando da gente e da terra: – «É uma cabeça formosissima, coberta de piolhos!»

CITAÇÃO (HISTÓRICA) – Bordão de cego.

– (JUDICIAL) Cabresto posto ao homem para o levar onde elle não quer ir.

– (LATINA) Condecoração do espirito.

CIVILIDADE– Archaismo.

CIVILISAÇÃO– Luz que quanto mais intensa mais vicia e devora os pulmões das cidades.

– Graxa de lustro dada nos povos. Quanto maior e mais repetida for a dóse, mais depressa se estraga o cabedal.

CIVILISADO– Traste polido de que convem desconfiar. O polimento encobre muitas mazellas, e até, ás vezes, madeira podre.

CHLOROPHORMIO– Amigo que mata.

COELHO– Ingenuo dos matos.

COICE– A idéa em acção.

COLERA– Nuvens agglomeradas, que podem produzir chuva de sangue.

COLICA– Cousa que dá na gente em dia de letra vencida, não havendo dinheiro em caixa.

COLLEGA– Amigo de Peniche. Por causa d'elle, convem jantar na gaveta.

COLLEGIO– Machina de estragar creanças.

COMMERCIO– Compra e venda, em que raro não é lograda uma das partes.

COMPANHIA– Especie de jacaré voracissimo; ás vezes devora os proprios filhos.

– D'antes dizia-se francamente «quadrilha». Hoje, pelas naturaes evoluções da lingua, e pela suavidade dos costumes, chama-se-lhe cortezmente «seguro de vidas», á maneira de certo paiz que nos ama.

COMPRAR– Verbo activo em tempo de eleições.

CONCUSSÃO– Emolumento de certos magistrados.

CONDECORAÇÃO– Penduricalho que os homens põem ao peito, para que os tomem a serio.

CONFEITEIRO– Perverso, que expõe bonitas goloseimas á nossa vista, e pede dinheiro por ellas.

– O unico productor que não tem direito de se azedar, se quizer vender doce.

CONFESSOR– Vasculho de varrer consciencias.

– Saca-rolhas celeste.

CONFISSÃO– Lavatorio das almas.

– Contrato em que uma das partes despeja sobre a outra as sujidades intimas, e lhe compra a bemaventurança por meio tostão.

CONSCIENCIA– Importuna, a quem muitos voltam as costas.

CONSIDERAÇÃO– Singular cousa! Não se dá senão a quem a tem!

CONSOLAÇÃO– Cataplasma que se põe na dor alheia. Ha muito quem se engane com as farinhas, e applique a de mostarda em logar da de linhaça.

CONSULTA (MEDICA) – Tres contra um! É impossivel escapar.

CONSUMIDOR– Ovelha infeliz, a quem todos cardam, até quando ella não tem lã!

CONTINUO– Y de secretaria.

CONVALESCENÇA– Lua de mel da saude.

COPISTA– Espelho que felizmente não reflecte.

COPO– Perdição de muita gente boa.

CORAÇÃO– Cavallo que quando nos leva por bom caminho nos faz apanhar coices dos outros.

– Cabide de pendurar affectos.

CORAL– Planta que, depois de colhida, se rega com oiro.

CORRUPTO– Homem que se põe a par do goraz condemnado na Ribeira Nova, mas que não tem o mesmo destino, infelizmente!

CORTADOR– Membro da sociedade de liquidação social, quando tira modestamente cem grammas em cada peso.

CÔRTES– Inferno dos ministros, que são ali atormentados pelos que pretendem ser grandes diabos como elles.

COSTELLA– Mãe do genero humano. Eu amo as de vitella, assadas na grelha; mas não me opponho a que o leitor ou a leitora prefira as de carneiro.

COSTUMES– Façam idéa! As elegantes que no ultimo outomno se refrescavam nas praias de Mattosinhos, estabeleceram um premio para o tiro aos pombos! Era uma medalha: de oiro, tendo de um lado uma corôa de louro (!) e a seguinte inscripção: —Premio das Senhoras.– No reverso dizia: —Tiro aos pombos no hippodromo de Mattosinhos, outubro de 1877[3 - Diario Illustrado de 17 de outubro do mesmo anno.]. – Não se dizia se tambem ellas atiravam, mas facilmente se calcula o que a sociedade tem a esperar d'essas passadas, presentes ou futuras mães de familia. Quando as pombas se fazem milhafres é porque já não podem ser nada melhor. Ai de vós, gaviões de frak e chapéu alto da sociedade protectora dos animaes! D'esta vez podeis gritar: «Aqui d'el-rei!» – As matronas do hippodromo são capazes de vos trucidar, e a nós todos tambem.

COVARDIA– N'outro tempo davam-se dois pontapés em quem a tinha; hoje, todos os covardes são valentes… comedores.

COVEIRO– O mais lugubre dos semeadores. Nunca germina a semente que elle deita á terra.

– Encarregado de esconder os segredos do boticario e as asneiras do medico.

CRANEO– Gaveta das idéas.

CREAÇÃO– Gallinhas… e tudo mais, incluindo as grandes obras dos genios demolidores.

CREADO– Pessoa a quem pagâmos para que diga mal de nós.

– O mais proximo dos nossos inimigos.

– Doença interna.

CREANÇA– Flor da humanidade. É livrar que n'ella pouse insecto venenoso, porque lhe converterá o bom e franco riso da innocencia em tregeitos ferozes de maldade e de hypocrisia.

– Phosphoro que ha de produzir incendios.

CREANCICE– Ensaio para a maroteira.





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notes



1


Em algumas partes de Portugal chama-se bandalho ao badejo.




2


Deixem passar o gallicismo.




3


Diario Illustrado de 17 de outubro do mesmo anno.



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